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Brazilian Journal of health Review

A percepção das mulheres sobre a participação do acompanhante no


trabalho de parto

Women’s perception about patient escort in labor

DOI:10.34119/bjhrv3n4-377

Recebimento dos originais: 30/07/2019


Aceitação para publicação: 31/08/2020

Ananda Gomes Nogueira


Enfermeira Obstétrica pela Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ. Enfermeira Obstétrica
no Hospital Albert Schweitzer (Rio de Janeiro/RJ). Rua Carlos Palut, 510 Bloco 10 Apto 206
– Taquara – Rio de Janeiro/RJ, 22710-310
Email: anandagn@gmail.com

Carla Luzia França Araújo


Diretora da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ, doutora em Saúde Coletiva pela
Universidade Estadual do Rio de Janeiro. R. Afonso Cavalcanti, 275 - Cidade Nova, Rio de
Janeiro - RJ, 20211-130
Email: araujo.ufrj@gmail.com

Luiziane de Oliveira Geraldo da Silva Correia


Mestrado em Enfermagem. Enfermeira Obstétrica na Maternidade Alexander Fleming.
Universidade Estácio de Sá. Av dos Mananciais, Bloco Apto - Taquara – Rio de Janeiro/RJ,
22720-400
Email: luizianegeraldo@uol.com.br

RESUMO
O objeto do estudo foi a percepção materna acerca da participação do acompanhante durante o
trabalho de parto. Objetivos: Identificar as expressões verbais das puérperas sobre a
participação do acompanhante durante o trabalho de parto; e Analisar as expressões maternas
sobre a participação do acompanhante durante o trabalho de parto. Método: pesquisa qualitativa
utilizando a metodologia de narrativa de vida. Foram entrevistadas 20 puérperas de parto normal
que contaram com a presença do acompanhante no trabalho de parto, parto e nascimento.
Resultados: as puérperas entrevistadas verbalizaram sua satisfação e gratidão pela presença do
acompanhante durante o processo de parturição, estes realizaram medidas de cuidado, atenção
e auxílio. A presença dos pais dos bebês como acompanhantes foi maioria e se mostrou
relevante às puérperas entrevistadas. Conclusão: a presença desse agente interfere muito no
sentimento de solidão e desamparo das mulheres, sendo ele importante fonte de cuidados físicos
e apoio emocional, o que influencia positivamente no processo.

Palavras-chave: Parto humanizado, acompanhantes de pacientes, trabalho de parto,


enfermagem obstétrica

ABSTRACT
The object of the study was the maternal perception of the companion's participation during
labor. Objectives: To identify the mothers' verbal expressions about the companion's

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participation during labor; and Analyze maternal expressions about the companion's
participation during labor. Method: qualitative research using the life narrative methodology.
20 postpartum women of normal delivery were interviewed who had the presence of the
companion in labor, delivery and birth. Results: the women interviewed expressed their
satisfaction and gratitude for the presence of the companion during the parturition process, they
performed measures of care, attention and assistance. The presence of the babies' parents as
companions was majority and was relevant to the interviewed mothers. Conclusion: the
presence of this agent interferes a lot in the feeling of loneliness and helplessness of women,
being an important source of physical care and emotional support, which positively influences
the process.

Keywords: Humanized childbirth, patient’s companions, labor, midwife, obstetric.

1 INTRODUÇÃO
O parto é um evento marcante na vida da mulher e de sua família, muito influenciado pelo
seu contexto sociocultural. Esse processo conta com a concepção, o nascimento e o puerpério,
composto de transições que podem demandar assistência profissional à família que vivencia
esses eventos. Os profissionais de saúde atuam nessa transição, contribuindo no
desenvolvimento dos seres envolvidos de forma mais saudável possível, dando ênfase no parto,
evento abrupto e cheio de mudanças intensas na mulher, fisiológicas e psicológicas, que
propiciam a vinda da criança ao mundo.¹
Sendo o parto um evento fisiológico e natural, costumava ser realizado em ambiente
doméstico, em companhia de pessoas da confiança da mulher, comumente assistido por outras
mulheres, um evento feminino. À luz da evolução da medicina, este se tornou um evento
hospitalar, encarado patologicamente e assistido por equipes de profissionais de saúde. Hoje
culturalmente, o parto cirúrgico é apresentado como uma prática segura e com menor dor física,
o que o torna primeira escolha da mulher quando se descobre gestante². A cultura da nossa
sociedade influencia diretamente no comportamento da mulher no trabalho de parto, pois este
é visto como sinônimo de dor e sofrimento e a cesariana é rápida e indolor, onde o profissional
de saúde é o protagonista3.
É importante que haja a desmedicalização do parto, pois o cuidado evidencia redução da
mortalidade materna e neonatal e diminui riscos de complicações para a mãe e o bebê. Porém
atualmente, a mulher torna-se agente passivo no seu próprio processo de parir. Quando deveria
receber assistência que proporcionasse bem-estar físico e emocional, capaz de reduzir as
complicações do evento.4

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Segundo a OMS (1996), o parto deve ser iniciado de maneira espontânea, sem indução,
em que a parturiente tenha a liberdade de movimentação e que receba suporte contínuo durante
o trabalho de parto. Dentre eles, monitoração dos batimentos cardiofetais, alimentação,
liberdade para assumir as posições que desejar, privacidade, evitar intervenções e escolha do
acompanhante.5
Em 2000, ocorreu uma campanha nacional incentivando o direito à mulher de ter um
acompanhante ao seu lado durante o trabalho de parto, respeitando as indicações da OMS. Este
movimento contou com a presença de redes feministas, entidades populares e associações de
enfermeiras obstetras. Recebeu o apoio dos profissionais de saúde que atuavam em
maternidades, que passaram a permitir a presença do acompanhante neste momento único na
vida da família6. Tendo em vista a importância do suporte físico e emocional à mulher, a figura
do acompanhante durante o trabalho de parto passa a existir como um aliado, inclusive da
equipe de enfermagem. Sua presença se mostra cuidadosa, pois reflete as necessidades da
parturiente e ajuda na observação da mesma e de seu estado geral7.
Resultando desses movimentos sociais, em 07 de abril de 2005 foi aprovada a Lei nº
11.108, garantindo à parturiente a escolha de um acompanhante durante o trabalho de parto,
parto e pós-parto imediato nas maternidades conveniadas ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Frente ao exposto, este estudo teve como objeto a percepção materna acerca da
participação do acompanhante durante o trabalho de parto.
Para tanto, objetiva-se: Identificar e analisar as expressões verbais das puérperas sobre a
participação do acompanhante durante o trabalho de parto; E analisar as expressões maternas
sobre a participação do acompanhante durante o trabalho de parto.

2 MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa descritiva, exploratória, com abordagem qualitativa, utilizando
o método de narrativas de vida. A pesquisa foi realizada com puérperas no puerpério imediato,
assistidas pela enfermagem obstétrica no Centro de Parto Normal (CPN) e Alojamento
Conjunto de uma maternidade pública da cidade do Rio de Janeiro. O número de participantes
foi definido pela saturação dos dados, sendo suspensa a coleta quando os dados apresentaram
repetição.
Os critérios de inclusão respeitados foram: maiores de 18 anos; assistidas pela
enfermagem obstétrica, com nascimento de filho por parto vaginal na unidade em questão com
puerpério de até 48 horas e que tiveram a presença de um acompanhante no momento do parto.

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Foram excluídas as puérperas que se recusaram a participar de qualquer etapa da pesquisa; ter
algum déficit que impeça a resposta do questionário.
A coleta foi realizada de setembro de 2016 a janeiro de 2017, com uma entrevista
semiestruturada com questões para delinear o perfil das participantes e com uma pergunta aberta
a fim de responder a proposta do estudo. As entrevistas foram gravadas em MP3 e
posteriormente transcritas na íntegra para melhor aproveitamento do material. Os dados foram
tratados e analisados utilizando-se análise temática de Bardin.
O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da EEAN/HESFA/UFRJ
e da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro – SMS/RJ. Todos os participantes
assinaram e receberam o TCLE.
Com a finalidade de garantir o anonimato das participantes, foram utilizados nomes de
P1 (puérpera 1) a P20. Considerando o que preconiza a Resolução n. 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde sobre Diretrizes e Normas Regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres
humanos, os princípios éticos foram respeitados em todas as fases da pesquisa 8.

3 RESULTADOS
Participaram deste estudo 20 mulheres, na faixa etária entre 18 e 37 anos; a maioria era
solteira, primípara, com ensino médio. Dos acompanhantes presentes, o maior número foi o de
companheiros (maridos/parceiros). (Quadro 1).
A análise das falas nos permitiu a criação de quatro categorias temáticas: a satisfação das
mulheres quanto à participação do acompanhante durante o trabalho de parto, parto e
nascimento; ações desenvolvidas pelo acompanhante durante o trabalho de parto, parto e
nascimento; a importância da participação do pai no momento do parto e nascimento;
comparando experiências anteriores: a fala das mulheres.

Categoria 1 - A satisfação das mulheres quanto à participação do acompanhante durante o


trabalho de parto, parto e nascimento.
O(a)s acompanhantes das participantes do estudo foram de livre escolha das mesmas para
acompanhá-las durante o trabalho de parto e parto. E relataram satisfação da participação dessas
pessoas no processo de parturição, expressaram sentimento de gratidão e relevância da presença
deles, como podemos observar nas falas:

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Eu já “tava” desistindo e aí elas chegaram e meu marido junto. [...] É basicamente isso, é
o suporte mesmo, porque a gente fica muito fragilizada né. [...] e ter pessoas ali do meu lado
dizendo 'não, vamos continuar, que você consegue'. A gente perde completamente o foco, o
controle quando tá em trabalho de parto, serviu pra me centrar. [...] Então assim, é o acolhimento
mesmo. [...] E é esse incentivo, essa força né, e de principalmente, de ser uma pessoa que você
confia. (P4)
Ah, foi muito bom. O apoio né, emocional. Me ajudou bastante, me deu força, me
incentivou. Acho que se não fosse ela, a acompanhante, acho que não ia ter tanto sucesso como
eu tive. [...] Eu acho importante o apoio emocional né, que a gente tem, que é importante a gente
ter de uma pessoa, dá força pra gente. Me ajudou muito, só tenho a agradecer a ela. Ela foi uma
boa pessoa. Acho que tem que te incentivar, te apoiar, te dar apoio, né, nessa hora. Te confortar
com palavras, com gestos. (P11)
Fundamental, porque o acompanhante passa mais segurança, passa mais tranquilidade e
facilita na hora da saída do bebê. Foi muito bom mesmo. Mais pela tranquilidade mesmo, que
passa pra mãe, porque a gente tá ali com muita dor, tá fraca, fica tonta. (P13)

Categoria 2 – Ações desenvolvidas pelo acompanhante durante o trabalho de parto, parto e


nascimento.
As puérperas entrevistadas, em sua maioria, detalharam ações desenvolvidas pelos
acompanhantes no trabalho de parto e parto. Entre elas, destacam-se: incentivar e dar segurança,
segurar a mão, dar atenção, fazer massagem, ajudar nas tarefas cotidianas como banho e
alimentação, diminuir estresse:

Se não fosse ele na hora das dores, na hora de tudo, me ajudando em tudo, pegando na
minha mão, me fazendo carinho, não sei o que seria de mim não.(...) Ele cuidou de mim, ficou
perto de mim direto, não me largou um minuto. Deixou de tomar café, deixou de almoçar, tudo
pra ficar perto de mim. (P6)
[...] porque o meu marido ficou fazendo massagem em mim, ficou me acompanhando o
tempo todo, eu gostei. Aí tive companhia, gostei. Ele me ajudou a tomar banho, fez massagem,
ficou o tempo todo me abraçando, fazendo carinho, até a hora do parto. (P12)
Minha mãe me deu força, como sempre. Fez massagem nas costas né, sentou atrás, me
amparou. Ter ela perto, só de ter ela perto já me sinto bem. (P15)

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[...] eu fiquei apertando a mão dela e ela ajudou bastante. Fez massagem, não foi igual da
moça não, mas foi boa. Aliviou bastante. [...] Ter alguém pra conversar, te aliviar, falar pra você
respirar, foi diferente. (P16)

Categoria 3 – A importância da participação do pai no momento do parto e nascimento.


Quanto ao vínculo, observamos predominância dos pais dos
bebês/companheiros/maridos/parceiros, solicitados por 13 mulheres entrevistadas. Apenas 3
mães das puérperas, 3 sogras e 1 tia, e uma nova figura no contexto, 1 doula, o que nos leva a
crer que o parto não é mais um evento estritamente feminino, e sim familiar.
Podemos observar a importância da figura do pai do bebê/ companheiro nas falas:

Meu acompanhante foi bom, graças a Deus. Bem atencioso. [...] A melhor opção pra mim
foi ele ter vindo para cá [o pai]. Ele mesmo que segurou o neném, né. Estamos felizes, graças a
Deus. [...] Ele ajudou bastante, me deu bastante força. (P3)
E principalmente por ele ser o pai, né. É importante quando é o pai, o pai da minha
princesa. Sempre quis que fosse ele, só que eu “tava” pensando que ele não queria, porque todo
mundo falava que ele não ia ter coragem. Corajoso até demais. Muito. (P6)
[...] eu acho que toda mulher deveria, principalmente, trazer o seu esposo. Tudo bem que
algumas não tem essa oportunidade, acabam vindo com a mãe ou com outro parente, alguém
mais próximo. Mas que, se pudesse ser o pai da criança, ainda melhor, porque é um momento
dos dois e ele poder participar daquilo, passa mais tranquilidade e faz com que ele também já
crie um laço com o filho à partir daquele momento, “né”? Não é ser pai, não é só fazer o filho,
é ser pai de verdade, né? É mais especial, com certeza. Ele ficou nervoso porque ele ficou
apreensivo, porque ele me viu sentindo muita dor. (P13)

Categoria 4 – Comparando experiências anteriores: a fala das mulheres.


Conforme demonstrado no Quadro 1, contamos com 7 entrevistadas com a experiência
do parto normal anteriormente. O que nos chama atenção foi a satisfação das puérperas no relato
da presença do acompanhante no parto atual em comparação à partos anteriores em que essa
“tecnologia” ainda não era permitida. E também como a escolha do acompanhante pode
impactar na evolução do trabalho de parto, e como a presença dele impacta nas próprias decisões
dessas mulheres à cerca de ações realizadas pelos profissionais durante o trabalho de parto,

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tendo papel fundamental no incentivo e segurança da mulher. Essas diferenças se mostraram
reais, evidenciadas pelas falas:
[...] Eu, pelo menos, adorei minha companhia. Tive outro parto normal e meu
acompanhante foi mais ou menos. É importante escolher o acompanhante certo, se escolher
errado a pessoa vai te passar ansiedade e não vai dar muito certo na hora do trabalho de parto.
(P2)
Porque meu primeiro filho eu tive em outra maternidade (particular) e mais ou menos foi
assim, eu sentindo dor, “ah, você quer anestesia”, “claro!”, aí não tinha ninguém comigo, era
eu e a obstetra. O meu primeiro bebê, apesar de ter sido também um parto normal, mas foi
assim, um parto com intervenção, teve anestesia, “episio” e tal. E eu não queria repetir né. E
quando eu entrei no trabalho (de parto) ativo né, a primeira coisa que eu pedi foi anestesia, foi
tudo. E se elas não estivessem comigo, as meninas [enfermeira obstetra e doula] e o meu marido
também, eu ia me deixar conduzir pela equipe assim. [...] Eu senti uma pessoa que falava assim
“olha, não precisa, você vai conseguir”, [...] “calma, você vai conseguir, já tá quase”. (P4)
Nossa, foi muito importante. Porque assim, nos meus dois primeiros filhos não teve. [...]
Foi muito ruim, nos meus dois mais novos, ficar sozinha, e agora com o acompanhante foi
muito bom, foi muito tranquilizante pra mim, entendeu? [...] que assim, é um momento tão
sozinho, que só a gente que sente a dor que é, a gente tem uma pessoa que acompanhou a gente
todo momento. Por exemplo, minha mãe foi muito, muito importante. Seria bem difícil [se não
tivesse ninguém], porque a gente se sente mais desamparada do que o normal, a gente já tá já
fragilizada por causa da situação de tá quase dando à luz, “né”? (P20)

4 DISCUSSÃO
Todas as puérperas entrevistadas verbalizaram sua satisfação e gratidão pela presença do
acompanhante durante o trabalho de parto, parto e nascimento, o que nos leva à reflexão diante
da importância e diferença da presença dos mesmos nesse cenário. Para a Organização Mundial
de Saúde, o acompanhante no trabalho de parto e parto contribui para segurança e tranquilidade
das parturientes, assim como diminui o tempo de trabalho de parto, número de cirurgias
cesarianas, analgesia epidural, medicações intraparto e menos escores de Apgar abaixo de sete 5.
O Dossiê “Parirás com Dor” também reconhece que a presença do acompanhante de sua
escolha nesse momento é, para a mulher, a melhor “tecnologia” para que um parto seja bem-
sucedido. Elas informaram maior satisfação com a experiência do parto, tendo estudos que
comprovaram que há a diminuição do trabalho de parto e dos níveis de dor além de reduzir

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exaustão e pânico, aumenta a confiança da mulher no processo, enfatizando que o
acompanhante tem importância durante toda a gestação 9.

 Quanto às ações realizadas pelos acompanhantes, foram destacadas medidas de


cuidado, atenção e auxílio.
 Em estudo semelhante, evidenciou-se que os acompanhantes proporcionavam
apoio físico, confortando as gestantes por meio de massagens e auxílio aos
exercícios pélvicos, contribuindo para alívio das dores no trabalho de parto.
Assim como auxiliavam nas tarefas cotidianas, como “ir ao banheiro” ou
“auxiliar no banho”, de grande utilidade para as gestantes, que se sentem
impedidas de realizar essas atividades sozinhas por conta das dores e do medo10.
 Porém, em outro estudo10, percebeu-se que as principais atividades realizadas
pelos acompanhantes foram as de apoio emocional, sendo o apoio físico
limitado por conta dos próprios acompanhantes. Sendo assim, houve a
necessidade de ferramentalizar esses acompanhantes para que possam
desempenhar essas funções, ativamente, como oferecer oficinas, manuais, entre
outros. Estes dados corroboram com os resultados desta pesquisa.
 Percebemos também a diferença no perfil dos acompanhantes. Em um estudo
de 2009, feito com 14 puérperas, 10 delas foram acompanhadas por pessoas do
sexo feminino, comprovando que o cenário de parto era caracterizado
originalmente como um evento feminino 11. No presente estudo, a presença dos
pais dos bebês como acompanhantes foi a maioria e se mostrou relevante às
puérperas entrevistadas.
 Podemos observar que além de proporcionar o cuidado, o pai do bebê como
acompanhante contribui para diminuir a solidão das mulheres, pois elas
apresentam demandas que podem ser atendidas por seus companheiros (sua
presença na sala de parto e sua sensibilidade para com elas). Esta afirmativa
pode ser reafirmada por outros estudos que comprovam a experiência paterna
no nascimento, favorece o companheirismo, solidariedade, afeto e carinho entre
os envolvidos12.
 As mulheres veem a participação do pai no parto como um evento do casal, em
que os dois participaram da concepção e devem participar também do parto
juntos, para que o pai “crie laços com o bebê à partir daquele momento”.

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 Nesse contexto, em um estudo de 2011, foi verificada a importância do pai
vivenciar o nascimento do filho, sendo este um momento de transição para o
“papel de pai” e concretização da espera da gestação e materialização do próprio
bebê. Esses autores também enfatizaram a preocupação dos pais em relação às
suas companheiras, tanto com o fato de elas ficarem sozinhas e se sentirem
abandonadas, o que contribuiria negativamente com o processo do parto.
Quanto à sua própria presença na cena, que os deixaria tranquilos vendo que
tudo deu certo e o bem estar da mãe e do bebê, que tudo transcorreu com
normalidade. Pelas falas deles, concluiu-se que a experiência foi importante
com um significado especial para suas vidas13.
 A partir falas das mulheres entrevistadas, observa-se que a diferença entre
partos anteriores onde não houve a presença da figura do acompanhante com os
partos atuais, onde o acompanhante estava presente e se mostrava agente
auxiliar do próprio processo de parir. Embora nem sempre com apoio ativo ou
mostrando insegurança, sua presença foi notável e admirada. Como evidenciado
em estudo anterior9, onde a maioria das mulheres entrevistadas considerou o
parto atual (com presença do acompanhante) melhor que o anterior (onde o
acompanhante não estava inserido), pois sua participação e as ações que
realizavam foram favoráveis, por demonstrarem proteção, auxílio e diminuição
dos sentimentos negativos da mulher nesse período. Sendo assim, a experiência
foi positiva para a maioria delas e reforça a importância dessa figura durante o
trabalho de parto, parto e nascimento.
 Em outro estudo, as puérperas que contaram com a presença de acompanhante
de sua escolha tiveram maior satisfação à respeito do trabalho de parto do que
as que não tiveram esse personagem no cenário de parto, este foi um preditor de
satisfação. Podemos afirmar que o acompanhante durante trabalho de parto,
parto e nascimento não gera ônus para a instituição ou para a gestante, sendo
uma “tecnologia” global que todas as mulheres podem ter acesso, independente
de sua situação socioeconômica6.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa analisou a percepção das mulheres a cerca da presença do acompanhante no
trabalho de parto, parto e nascimento. Desta forma, o estudo permitiu concluir que a presença

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desse agente interfere diretamente na desconstrução do sentimento de solidão e desamparo das
mulheres no momento do parto, sendo ele importante fonte de cuidados físicos e apoio
emocional, o que contribui positivamente no processo. As puérperas valorizaram muito o
acompanhante como um familiar. E esse estudo trouxe maior destaque para os próprios pais dos
bebês, seus companheiros, presentes na maior parte dos partos das entrevistadas. Tal dado nos
leva a crer que o parto como evento feminino está sofrendo mudanças e segue em direção à
nova configuração, onde o casal/família, independente do sexo, segue junto e divide as
experiências, fator esse que contribui para a evolução e companheirismo do casal.
Conclui-se que os apoios físico e emocional prestados pelos acompanhantes promoveram
segurança e conforto, assim como incentivo para as parturientes. Com esse estudo podemos
interpretar as demandas das mulheres e contribuir ainda mais com as particularidades da família
integrada na assistência da enfermagem obstétrica, atendendo esse público de maneira holística
e contribuindo para a humanização do parto e nascimento.
Como intervenção, propomos ações interdisciplinares à cerca da compreensão do
acompanhante sobre como o processo de parto se desenvolve, levando em consideração o
trabalho da enfermagem obstétrica desde o pré-natal com os acompanhantes de escolha das
mulheres, para que se preparem desde o início e saibam lidar com a dor do ente querido e
contribuir para um ambiente satisfatório no trabalho de parto, parto e nascimento.

REFERÊNCIAS

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acompanhante para a humanização do parto e nascimento: percepções de puérperas. Esc. Anna
Nery [Internet]. Jun 2014 [citado 03 Jul 2016] ; 18( 2 ): 262-269. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
81452014000200262&lng=en. http://dx.doi.org/10.5935/1414-8145.20140038.

2. Teles LMR, Americo CF, Pitombeira HCS, Freitas L, Damasceno AKC. Delivery
accompanied in the perspective of whom experienced. Rev Enferm UFPE on line. 2010; 4(2):
49-54. Disponível em
<http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/download/643/1294
>. Acesso em 03 de julho de 2016.

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3. Rodrigues DP, Oliveira ASS, Guedes MVC, Felipe GF. Percepção das mulheres sobre a
vivência do trabalho de parto e parto. Rev. Rene, 2010; 11:32-41. Disponível em:
<http://www.revistarene.ufc.br/edicaoespecial/a04v11esp_n4.pdf>. Acesso em 26 de maio de
2017.

4. Ministério da Saúde (BR). Parto aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher.


Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2003.

5. OMS (Organização Mundial da Saúde). Tecnologia apropriada para partos e nascimentos.


Recomendações da Organização Mundial de Saúde. Maternidade Segura. Assistência ao parto
normal: um guia prático. Genebra; 1996.

6. Brüggeman OM, Parpinelli MA, Osis, MJD. Evidence on support during labor and delivery:
a literature review. Cad Saúde Pública [periódico na internet]. 2005 [acesso em 2016 Jul 02];
21(5):1316-327. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/csp/v21n5/03.pdf>

7. Bruggemann OM, Osis MJD, Parpinelli MA. Apoio no nascimento: percepções de


profissionais e acompanhantes escolhidos pela mulher. Rev Saúde Pública [periódico na
internet]. 2007 [acesso em 2016 Jul 02]; 41(1):44-52. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/rsp/v41n1/5409.pdf>

8. Ministério da Saúde (BR). Conselho Nacional de Saúde. Diretrizes e normas


regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Resolução n. 196, de 10 de outubro
de 1996. Brasília; 1996.

9. Parto DP. Dossiê da Violência Obstétrica “Parirás com dor”. 2012.


<https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.pdf>
Acesso em 14/03/2017.

10. Teles LMR, Santos Pitombeira HC, de Oliveira AS, Freitas LV, Moura ERF, Castro
Damasceno AK. Parto com acompanhante e sem acompanhante: a opinião das puérperas.
Cogitare Enfermagem, v. 15, n. 4, 2010.

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11. Oliveira ASS et al. "O acompanhante no momento do trabalho de parto e parto: percepção
de puérperas." Cogitare Enfermagem 16.2 (2011).

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Northeast Network Nursing Journal, v. 10, n. 3, 2016.

13. Perdomini FRI, Bonilha ALL. A participação do pai como acompanhante da mulher no
parto. Texto and Contexto Enfermagem, v. 20, n. 3, p. 245, 2011.

ANEXO

Quadro 1 – Caracterização das puérperas. Rio de Janeiro, 2017


Puérpera Idade Raça/Cor Escolaridade Situação Conjugal Paridade Acompanhante
P1 22 Branca 2º grau Casada Multípara Companheiro
P2 25 Parda 1º grau União consensual Multípara Companheiro
P3 20 Parda 1º grau Solteira Primípara Companheiro
P4 37 Parda Pós-graduação Casada Secundípara Companheiro, doula
P5 20 Parda 2º grau União consensual Primípara Companheiro
P6 22 Parda 2º grau Casada Primípara Companheiro
P7 31 Parda 2º grau Casada Primípara Companheiro
P8 22 Amarela 1º grau Solteira Primípara Companheiro
P9 23 Parda 1º grau União consensual Multípara Mãe
P10 21 Branca 1º grau Casada Primípara Companheiro
P11 20 Parda 2º grau Solteira Primípara Sogra
P12 29 Parda 2º grau Solteira Multípara Companheiro
P13 27 Parda Superior Solteira Primípara Companheiro
P14 23 Preta 1º grau Solteira Multípara Sogra
P15 18 Parda 2º grau Solteira Primípara Mãe
P16 18 Preta 2º grau Solteira Primípara Tia
P17 27 Parda Superior União consensual Primípara Companheiro
P18 18 Parda 1º grau Solteira Primípara Sogra
P19 19 Amarela 2º grau Solteira Primípara Companheiro
P20 25 Parda 2º grau Solteira Multípara Mãe

Braz. J. Hea. Rev., Curitiba, v. 3, n. 4, p. 11316-11327 jul./aug.. 2020. ISSN 2595-6825

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