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Resumo
INTRODUÇÃO
As práticas na atenção ao parto e ao nascimento ao longo da história da humanidade
sofreram reveses associados aos contextos históricos, culturais, ideológicos, políticos e
econômicos, e neste revés histórico da parturição se observou que o ciclo gravídico traz consigo
singularidades e demandas específicas na vida de cada mulher. É um momento único, que
configura um novo modelo de necessidades biopsicossociais.
Para Maldonado (1997) o período do pré-parto tem particularidades muito marcantes, a
mulher sente muita ansiedade, o que afeta em especial três componentes: físicos, emocionais e
cognitivos, estes componentes estão intrinsecamente relacionados. O início do trabalho de parto
se constitui em um momento crítico por vários motivos: é sentido como uma situação
fronteiriça, entre quem ela é e quem será após a concretização do nascimento do filho, com
isso, demarca o início de diversas mudanças significativas e envolve vários níveis de
simbolização. Sua principal característica é a irreversibilidade, o aumento da ansiedade ao se
aproximar o momento do nascimento e a insegurança referente à incapacidade de controlar o
desenrolar do trabalho de parto.
Segundo Iaconelli (2012), é habitual que durante a gravidez e, principalmente, o parto
em si seja movido por fatores emocionais que permeiam as expectativas das futuras mães e da
família como um todo. Esses medos e expectativas geralmente estão relacionados com o
processo de desenvolvimento do bebê, com o momento do parto e com a perspectiva de ser uma
boa mãe.
Por esta razão, o acompanhamento psicológico, bem como uma escuta especial a todo
esse contexto, pode auxiliar a mulher e sua família neste novo mundo de mudanças e de
adaptações. O papel do psicólogo na maternidade é propiciar um espaço de escuta para que a
família possa nomear e atribuir significados àquela situação. A importância deste lugar de
escuta deve ultrapassar as fronteiras do contexto hospitalar, os serviços psicológicos e sociais
devem facilitar o caminho para que as mulheres possam pedir ajuda para lidar com os
fragmentos, “buracos” da história de cada gestação e maternagem (IACONELLI, 2012).
A psicologia, na sua atuação em obstetrícia, busca, segundo Santos (2013) proporcionar
as mães e familiares um espaço de escuta, de acolhimento, de compreensão dos sentimentos,
das fantasias e temores, decorrentes deste período transitório. A atuação do psicólogo
proporciona um espaço ativo, em que a mulher pode compensar os momentos de preocupações
e reveses emocionais maternos, abrindo espaço também para o favorecimento da promoção do
bem-estar da mãe e do bebê (SILVA, 2013).
A configuração de medos, angústias e fantasias da mulher nos momentos que antecedem
o processo de parto, como medo de perder o bebê, medo de não sobreviver, receio de ter uma
infecção, etc., que devem ser trabalhados da melhor maneira possível, visando um parto com
menos dor e sofrimento pelo psicólogo. Além disso, Oliveira (2015) mostra que algumas
intercorrências podem ocorrer, como óbito fetal, natimortalidade e má formação do feto, que
trazem grande sofrimento à mãe, necessitando esta, muitas vezes, de apoio psicológico, para
uma melhor elaboração da perda.
Oliveira (2015) relata que, para as mulheres que estão em situação de gestação, o
acompanhamento psicológico representa uma ferramenta facilitadora para a aceitação e melhor
convívio com esta condição e o que dela decorre. O psicólogo possibilitará ao sujeito um
questionamento sobre si próprio e ao mesmo tempo sobre o que o cerca. É uma forma de intervir
para direcionar o indivíduo. Dentro desta atuação, a prática pode ser guiada pela teoria da
Psicoterapia Breve, e técnicas como a Psicoprofilática, de Dessensibilização e Intervenção
Psicológica-Educacional, em paralelo ao uso das PIC´s.
Observando as necessidades de acolhimento e humanização nos serviços de saúde, a
Política Nacional de Humanização (PNH) criada em 2003, busca pôr em prática os princípios
do SUS no cotidiano dos serviços de saúde, bem como na maternidade, produzindo mudanças
nos modos de gerir e cuidar. Traz como uns de seus princípios a transversalidade, bem como
protagonismo, corresponsabilidade e autonomia dos sujeitos e coletivos. Princípios estes que
estão em consonância com o que se preconiza no Programa de Humanização do Pré-Natal e do
Nascimento (PHPN), que veio abarcar a saúde da mulher em seus aspectos globais, focando
aspectos sexuais e reprodutivos, análise das necessidades de atenção à gestante, recém-nascido
e à mãe no puerpério, melhorando o acesso, cobertura e qualidade no atendimento (BRASIL,
2002). Ambos buscam o acolhimento do sujeito na unidade de saúde, e esse acolher, para a
Política Nacional de Humanização (PNH), é reconhecer o que o outro traz como legítima e
singular necessidade de saúde (BRASIL, 2000).
Lançada em 2011 pelo Ministério da Saúde (MS), a Rede Cegonha (RC) é uma
estratégia instituída no Sistema Único de Saúde que vem fortalecer a humanização da saúde
materno-infantil, com objetivo de reduzir a morbimortalidade materna no Brasil. É de
competência dos Estados e municípios sua execução, e vem organizada a partir de quatro
componentes: Pré-Natal, Parto e Nascimento, Puerpério e Atenção Integral à Saúde da Criança
e Sistema Logístico: Transporte e Regulação (BRASIL, 2011).
De acordo com o Relatório 211 da Diretriz Nacional de Assistência ao Parto Normal da
CONITEC, de 2016, os profissionais de saúde devem refletir como suas próprias crenças e
valores influenciam em suas atitudes em lidar com a dor no parto, garantindo que seus cuidados
apoiem a escolha da mulher. Para Daher (2016) as estratégias e métodos não farmacológicos
de alívio da dor no trabalho de parto devem ser implementados e sempre que possível ser
oferecido às mulheres, proporcionando condições para o redesenho das unidades de assistência
ao parto. Vários métodos terapêuticos podem ser implementados para o alívio da dor e redução
da ansiedade durante o trabalho de parto, para que assim a mulher tenha o seu lugar de
protagonista do parto e o profissional de saúde deve auxiliá-la neste momento.
Rabello e Rodrigues Neto (2012) apontam que na assistência ao trabalho de parto e
nascimento, o movimento de humanização vem se destacando no cenário internacional e
nacional de várias maneiras, com ênfase na legitimidade científica e defesa dos direitos das
mulheres, e como braço deste grande movimento tem-se a Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares (PNPIC), aprovada em 2006 com a portaria GM/MS Nº 971, de
3 de MAIO de 2006. O documento traz o desenvolvimento da PNPIC em caráter
multiprofissional para as categorias presentes no SUS como um campo das Práticas Integrativas
e Complementares que contempla sistemas médicos complexos e recursos terapêuticos, os
quais são também denominados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de medicina
tradicional e complementar/alternativa (MT/MCA) (BRASIL, 2006).
Tais sistemas e recursos envolvem abordagens que buscam estimular os mecanismos
naturais de prevenção de agravos e recuperação da saúde por meio de tecnologias eficazes e
seguras, com ênfase na escuta acolhedora, no desenvolvimento do vínculo terapêutico e na
integração do ser humano com o meio ambiente e a sociedade, como também a visão ampliada
do processo saúde-doença e a promoção global do cuidado humano, especialmente do
autocuidado (BRASIL, 2006).
Sobre isto, Borges et al., (2011) apontam que as Práticas Integrativas e Complementares
em Saúde (PIC´s) são inseridas como métodos terapêuticos que se embasam em tecnologias
leves, estas, por sua vez vem sendo inseridas nos serviços de saúde por Emerson Merhy, e,
segundo Coelho (2009), a adoção das tecnologias leves no trabalho em saúde perpassa os
processos de acolhimento, vínculo e atenção integral como gerenciadores das ações de saúde
(MERHY, 2006).
Logo, se apresentam de baixo custo financeiro, com evidência cientifica, ressaltando o
conceito de a visão holística humanizada, na qual o usuário, neste caso, a mulher, é vista como
ser biopsicossocial inserida em um meio, e que traz consigo valores singulares que são levados
em conta. Para Bento (2017) algumas Práticas Integrativas e Complementares em Saúde têm
sido usadas de modo complementar à Medicina Tradicional Ocidental, com o objetivo de
implementar a humanização durante o trabalho de parto através das doulas, que tem inserido
em seus planos terapêuticos os recursos da Medicina Tradicional Chinesa entre os quais:
massagens, cromoterapia, florais, hidroterapia, musicoterapia, entre outros.
Dentre os recursos propostos no campo das PIC’s, tem-se a Ambiência, com a produção
de espaços saudáveis e acolhedores, a protagonização dos sujeitos que neles convivem e se
relacionam: os trabalhadores, os usuários e os gestores, pois o conjunto de fatores que englobam
a ambiência funcionam como catalisadores na percepção do ambiente, quando se está
consciente, e foi alcançado com uso de essências no difusor elétrico (BRASIL, 2003).
De acordo com o Ministério da Saúde, a cromoterapia pode ser definida como a
utilização de cores para o tratamento de doenças e harmonização do corpo (BRASIL, 2017),
ela pode ser utilizada para harmonizar o ambiente, tornando-o acolhedor e dessa forma,
proporcionar conforto e tranquilidade. As cores, para Katzer (2016), têm o poder de influenciar
o ambiente e alterar através de seu efeito, as reações, sentimentos e percepções, devido a ação
que elas exercem sobre as pessoas. É usada de acordo com a demanda e com o objetivo a ser
alcançado (HELLER, 2009). Seus elementos repercutem na atividade muscular, mental e
nervosa, além dos efeitos psicológicos desencadeando excitação, calma, melancolia, segurança,
entre outros (MERENDA, 2013).
Na Músicoterapia/Biomúsica, Tabarro et al., (2010) trazem apontamentos de que a
musicoterapia consiste em uma ciência organizada que estuda os efeitos “terapêuticos da
música nos seres humanos”. Já a biomúsica se aplica as pessoas consideradas saudáveis,
contribuindo no reequilíbrio comportamental destas, diante das pressões e imposições no
contexto da sociedade moderna. A eficácia, para Katzer (2016), da musicoterapia como um
recurso não-farmacológico de intervenção para a redução da dor e ansiedade e para a melhoria
de sentimentos de controle e bem-estar, tem sido amplamente testada e discutida pela literatura
especializada (CAMPOS, 2016).
Deste modo, conforme contribuições Borges et al., (2011) a música, a ambiência, e a
cromoterapia contribui significativamente no processo de alivio da dor, o fortalecimento do
vínculo mãe-bebê, redução da ansiedade e manejo do medo, possibilitando uma conexão não
verbal entre os sujeitos ativos desse processo: mãe e filho.
A política Nacional de Humanização (2003), o Programa de Humanização no Pré-natal
e Nascimento (2002) e a Rede Cegonha (2011) e a Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde da Mulher (2004) orientam quanto à assistência ofertada às parturientes em trabalho de
parto, como também os procedimentos a serem adotados durante este processo. Entretanto,
diante da realidade de muitos hospitais e maternidades no Brasil, percebe-se que essas
orientações e diretrizes não tem sido realizadas na prática, trazendo prejuízos, algumas vezes
irreversíveis, tanto a mulher quanto ao bebê, abarcando desde o descaso no acolhimento,
violência obstétrica, deficiência na assistência ofertada, incentivo a passividade da mulher
durante o trabalho de parto e parto, procedimentos invasivos desnecessários como o
descumprimento de leis que asseguram os direitos que as mulheres têm durante este processo,
dentre outros (LEISTER, 2013; SANFELICE et al., 2014; ZANARDO et al., 2017).
Além disso, as instituições hospitalares tendem a voltar sua assistência para a esfera
biológica, ficando os aspectos emocionais e sociais, por vezes, a margem. Para Borges et al.,
(2011), o ambiente em que as mulheres dão à luz, em muitas maternidades do interior do
Nordeste, é geralmente hostil e desagradável, não proporcionando a mulher o conforto,
emocional e psicológico, fundamentais para preparar a mulher para o momento do parto.
Deste modo, faz-se necessário pensar a prática do Psicólogo frente às questões
supracitadas, desde sua intervenção clínica tradicional hospitalar, até as práticas
complementares integrativas, partindo do questionamento: Como atua o Psicólogo frente às
demandas de desumanização e passividade da mulher no pré-parto e parto? Para o alcance da
resolução deste questionamento, traçou-se objetivos. O objetivo geral visou evidenciar e relatar
a possibilidade de atuação prática do psicólogo na maternidade junto as PIC´S.
Os objetivos específicos, propuseram: 1. Relatar a atuação prática do psicólogo na
maternidade com o uso das PIC´s; 2. Ampliar a assistência Psicológica ofertada durante o
trabalho de parto e parto 2. Relacionar a teoria e prática psicológica, com a atuação em
ambiência, no que tange a aromatização do ambiente, a Cromoterapia e a
Musicoteria/Biomúsica, previstos na Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (2006); 4. Ofertar métodos que proporcionam a redução das intervenções
medicamentosas desnecessárias no trabalho de parto e parto.
No que tange os resultados esperados com a implementação das PIC´s, destacam-se:
ampliar a atuação psicológica com uso das PIC´s, estabelecer um equilíbrio entre as demandas
obstétricas, por exemplo, manter a pressão arterial estável antes do parto, preparar para o parto,
com as demandas da mulher, manter-se ativa na parturição; a redução da carga de estresse; o
manejo da ansiedade; a diminuição da inibição; o aumento da capacidade expressiva; o
investimento no sentimento de acolhimento e segurança no espaço; o aumento da confiança na
autoimagem, e sentimento de estar ativa e explorando suas potencialidades maternas, bem como
o fortalecimento do vínculo e manejo para redução da dor (SILVA, 2016; SILVA, 2013;
BORGES et al., 2011; MAFETONI, et al., 2014).
Assim, a escolha deste hospital-maternidade para a intervenção se justifica por ser
cenário de prática do programa de pós-graduação que contempla a instituição, a saber,
Residência Multiprofissional em Saúde Materno-Infantil pela Escola Multicampi de Ciências
Médicas da UFRN. Optou-se por elaborar um relato de experiência diante da carência de relatos
sobre os modos de fazer prático do psicólogo frente as grandes demandas de desumanização na
assistência a mulher no pré-parto e parto.
Evidencia-se aqui, também como justificativa, que o Hospital Regional, referência na
assistência materno infantil na região do Seridó/RN, não possui experiência como hospital
escola, não dispõe de equipe multiprofissional atuando de forma integrada, e conta com forte
resistência dos profissionais para a absorção de novas práticas. Concentra uma alta demanda de
parturientes, e estas, vivenciam contradições em sua assistência.
Vale salientar ainda que, a atuação prática da residente psicóloga na maternidade
perpassou a esfera interventiva convencional, e vem contemplando a inserção das técnicas
humanizadoras presentes nas Práticas Integrativas e Complementares – PIC´S. Esta esfera de
atuação, embora venha ganhando espaço, ainda traz consigo uma carência de produções
científicas do modo de fazer prático do psicólogo junto a mesma, bem como no trabalho
multidisciplinar. Os resultados obtidos com o uso das PIC´s na assistência psicológica no pré-
parto e parto, vem como impulsionador da prática profissional humanizada e descentrada do
modelo clínico tradicional. Deste modo, esse relato de experiência faz-se importante, pois com
sua divulgação, nortear-se-á a prática do psicólogo que atua na área materno-infantil, e que
busca ampliar sua assistência com o uso das PIC´S.
METODOLOGIA
ENTRANDO NA
EQUIPE
PSICOLOGIA
INTERVENÇÃO
MULTIDISCIPLINAR
1.Acolhimento 7. Momento 1:
5. Escuta psicológica Estabelecimento do
foco;
2. Breve anamnese
6. Estabelecimento
do contrato Momento 2: Escolha da
3. Triagem obstétrica técnica;
terapêutico
RESULTADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVA, D. A. de O. et al. Uso de métodos não farmacológicos para o alívio da dor durante o
trabalho de parto normal: revisão integrativa. Rev. Enferm. UFPE online. Recife, v.7(esp),
p.4161- 70, maio, 2013. Disponível em:
https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/ Acessado em 29 de Maio de 2018.
SILVA, E. A. T;. Gestação e preparo para o parto: programas de intervenção. IN: O Mundo
da Saúde, São Paulo-SP, 2013;37(2):208-215. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/artigos/mundo_saude/gestacao_preparo_parto_programas_inter
vencao.pdf Acesso em: 29 de Maio de 2018.