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CARIACICA
2023
BIANCA GOBBO DIAS
DÉBORAH ROSA
RENATA JANUÁRIO SANTOS GOMES
CARIACICA
2023
RESUMO
A violência obstétrica representa uma séria violação dos direitos humanos, que afeta a
dignidade, autonomia e integridade física e psicológica das mulheres, esta forma de violência,
caracterizada por práticas desrespeitosas e abusivas durante o parto, não só desumaniza a
experiência do nascimento, como também pode desencadear profundos impactos psicológicos.
Diante disso, este estudo buscou investigar as consequências emocionais e psicológicas que a
violência em questão pode causar nas mulheres. A metodologia utilizada para tanto, foi a
revisão integrativa de literatura. O processo se deu a partir de pesquisas em bases de dados
cientificos, o que permitiu a seleção de 12 artigos de caráter experimental, não experimental e
relatos de casos, que atendiam aos critérios de inclusão. Após a análise do material, observou-
se impactos relevantes na saúde mental das mulheres e um aumento significativo nas práticas
de violência obstétrica. Espera-se que esses resultados desempenhem um papel fundamental
na prevenção, conscientização e no combate à violência obstétrica.
1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………..05
2. MÉTODO………………………….………………………………………......07
3. RESULTADOS……………………………………..……………………...…..09
4. DISCUSSÃO……………………………………………………………...…....17
5. CONCLUSÕES……………………………………………………….……….23
6. REFERÊNCIAS……………………………………………………………….25
5
1. INTRODUÇÃO
A violência obstétrica constitui uma grave violação dos direitos humanos, impactando
diretamente a dignidade, autonomia e integridade física e psicológica das mulheres, tal
violência se manifesta através de práticas desrespeitosas e abusivas durante o parto, incluindo
a invasão da privacidade, desconsideração da intimidade e imposição de intervenções médicas
sem o consentimento informado (MARQUES, 2020). Essas práticas não apenas desrespeitam
os direitos das mulheres, mas também têm o potencial de desumanizar a experiência do parto,
focando no controle do processo muitas vezes em detrimento do bem-estar da parturiente.
Os efeitos psicológicos decorrentes da violência obstétrica são profundos e duradouros,
conforme aponta Grobério (2022), mulheres submetidas a essas práticas abusivas podem
desenvolver sintomas de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, entre outros transtornos
psicológicos. O sentimento de angústia, medo e a sensação de desamparo vivenciados durante
o parto não só afetam a saúde mental das mulheres, mas também podem repercutir de maneira
significativa em suas vidas pessoais, relações interpessoais e na capacidade de cuidar do recém-
nascido.
A violência obstétrica abarca um espectro amplo de práticas abusivas e desumanas que
transgredem os direitos fundamentais das mulheres, afetando-as tanto fisicamente quanto
psicologicamente. Entre suas diversas manifestações, destaca-se o abuso verbal por parte dos
profissionais de saúde. Este tipo de violência envolve a utilização de linguagem inadequada,
humilhante ou discriminatória durante o atendimento, gerando consequências emocionais
profundas, como a erosão da autoestima e a diminuição da confiança das mulheres em si
mesmas e no sistema de saúde (GRÓBÉRIO, 2020).
Outro aspecto preocupante da violência obstétrica é a negligência, que se caracteriza
pela falta de cuidado adequado e atenção às necessidades das mulheres durante o processo de
gestação, parto e pós-parto. Tal negligência pode manifestar-se na forma de monitoramento
inadequado, demora na prestação de assistência médica, recusa de analgesia ou métodos
efetivos de alívio da dor e falha em proporcionar um ambiente seguro e acolhedor (MARQUES,
2020).
Adicionalmente, a coerção representa uma grave violação dos direitos das mulheres,
caracterizando-se pela imposição de procedimentos médicos invasivos ou intervenções
desnecessárias sem o consentimento informado. Essas práticas usurpam a autonomia e a
6
capacidade de decisão das mulheres sobre seus corpos e processos reprodutivos, culminando
em sentimento de impotência e desrespeito (LANSKY, 2019).
É crucial reconhecer que a violência obstétrica não se limita a ações individuais isoladas,
ela é frequentemente, o reflexo de um sistema de saúde desigual e insensível às necessidades
das mulheres. De acordo com Gróbério (2020), práticas institucionais que priorizam o controle
do processo de parto em detrimento do bem-estar, preferências e direitos das mulheres
contribuem para a perpetuação dessa forma de violência. Portanto, a compreensão aprofundada
da violência obstétrica, seus mecanismos e impactos é fundamental.
A identificação e a classificação das suas variadas manifestações são essenciais para a
elaboração de políticas públicas eficazes e para a promoção de práticas de saúde mais
humanizadas e respeitosas. Estas devem estar centradas na mulher, respeitando seus direitos
fundamentais e garantindo que a assistência obstétrica seja segura, digna e empoderada
(MARTINS, 2020). A mudança desse paradigma é vital para assegurar que a violência
obstétrica seja efetivamente enfrentada e erradicada, contribuindo para o bem-estar e a saúde
de todas as mulheres.
Diante da seriedade e complexidade dessa questão, o presente trabalho tem como
objetivo central investigar os impactos psicológicos que afetam a saúde mental das mulheres
vítimas de violência obstétrica. É imperativo que profissionais de saúde e toda a sociedade
reconheçam a gravidade dessa forma de violência e se mobilizem ativamente na sua prevenção.
A promoção de práticas mais humanizadas no parto, que respeitem os direitos e garantam um
ambiente seguro e acolhedor, é crucial. Paralelamente, é fundamental o desenvolvimento de
políticas públicas robustas que não apenas protejam as mulheres, mas também incentivem a
denúncia e o enfrentamento da violência obstétrica.
Partindo do pressuposto de que a violência obstétrica pode gerar traumas e afetar
negativamente a saúde mental, hipotetiza-se que as vítimas apresentarão maior prevalência de
sintomas de estresse pós-traumático, depressão, baby blues, ansiedade e outros transtornos
psicológicos. A pesquisa proposta visa a análise detalhada dos impactos psicológicos da
violência obstétrica, contemplando tanto as consequências imediatas quanto aquelas de longo
prazo. Através deste estudo, espera-se contribuir significativamente para a sensibilização da
sociedade e o aprimoramento do sistema de saúde, assegurando assim um ambiente mais seguro
e acolhedor para as mulheres no período do parto e pós-parto. Os resultados esperados deste
estudo têm o potencial de serem fundamentais na prevenção e combate à violência obstétrica,
promovendo mudanças significativas no cuidado e no respeito às mulheres durante um dos
momentos mais importantes de suas vidas.
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2. MÉTODO
artigos que formaram o embasamento teórico necessário para este trabalho. Essa revisão
integrativa, portanto, se propôs a consolidar e analisar criticamente os achados literários sobre
as repercussões psicológicas e emocionais da violência obstétrica em mulheres cisgênero,
proporcionando uma compreensão abrangente e atualizada sobre o tema. Na figura 1,
apresentada abaixo, é possível analisar o procedimento de pesquisa e seleção dos artigos.
3. RESULTADOS
Este capítulo analisa e discute os resultados obtidos a partir de uma revisão da literatura
sobre a violência obstétrica e seus impactos na saúde psicológica materna. O estudo abrange
doze artigos de pesquisa conforme tabela 1, que abordam diferentes aspectos da violência
obstétrica, desde suas causas e manifestações até as consequências psicológicas para as
mulheres afetadas.
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Tabela 1 – Artigos
MOREIRA,
L. D.; Pesquisa Reflexões Compreender a Avaliação dos danos Violência obstétrica afeta significativamente a
SOUSA, T. quantitativa, sobre direito e incidência de causados por práticas vida das mulheres; necessidade de informação
S.; SILVA, pesquisa de igualdade Violência Obstétrica invasivas e negligentes
L. C. P. P. campo em Juazeiro Bahia
da, 2023
SANTOS, E. Pesquisa Revista Analisar relatos de A Violência obstétrica é Necessidade de mudança das práticas
V. de L.; descritiva, Contemporâna mães que sofreram um tema relevante de assistenciais; violência obstétrica como
GUEDES, qualitativa, violência obstétrica na saúde pública, refletindo violação dos direitos humanos
N. R. de C. Entrevistas Paraíba tanto na
A. 2022. saúde da mulher, como na
da criança
11
SANTOS, A. Metodologia Revista Discorrer acerca da Achados científicos e Possibilidade de aplicação da Lei Maria da
P.; observacional Direito e vivência realizada em contribuição para o Penha para casos de violência obstétrica
QUADROS, Sexualidade uma roda de conversa empoderamento feminino
C. de, 2020. cujo tema tratou da
violência obstétrica
FLEURY, S.; Criação de Saúde Debate Apresentar as formas Repertório amplo de A mobilização de apoios externos e ações
MENEZES, categorias de ação e tipos de ações coletivas para de organização interna
P. 2020. analíticas organizações enfrentamento da
mobilizados em pandemia
favelas
MATOS, M.
G. de; Estudo de caso Psicologia: Investigar a Falta de suporte Procedimentos médicos rotineiros sem
MAGALHÄ coletivo. Ciência e experiência de ambiental como fator compartilhamento de decisões constituem
ES, A. S.; Profissão violência obstétrica no constitutivo da violência violência
FÉRES- relato de mães obstétrica
CARNEIRO
, T. 2021.
12
TEIXEIRA, Estudo descritivo, Revista Identificar o Conhecimento limitado Por meio dos resultados obtidos pela
P.C. 2020. exploratório, Nursing conhecimento das sobre violência obstétrica pesquisa, é possível concluir que o
quali- parturientes sobre relacionado à falta de conhecimento das mulheres sobre a
quantitativo, violência obstétrica informação violência obstétrica é limitado, isso pode
formulário estar relacionado a falta de informação
eletrônico
Estudo
LIMA, L. C. qualitativo, Revisa Descrever a influência Criação de 3 categorias Violência obstétrica vivenciada em
de. 2022 descritivo, da violência obstétrica de discussão sobre diversos momentos; necessidade de
questionários via no puerpério violência obstétrica cuidados de enfermagem
Google Forms
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OLIVEIRA, Estudo descritivo, ABCS Health Analisar experiências O estudo verificou que as Conclui-se que é necessária uma
M. do S. S. transversal, Sciences de trabalho de mulheres se sentiram assistência qualificada e humanizada para
de et al. qualitativo, inseguranças e assustadas as mulheres neste período do parto que é
2019. entrevistas em estar no ambiente da tão delicado e importante em suas vidas.
maternidade. Além disso,
notou-se que as mesmas
não souberam identificar
o que é violência
obstétrica e nem de que
forma sofreram essa
violência.
Com o estudo conduzido por Moreira, Sousa e Silva, pode-se apreciar a meticulosidade
com que abordaram um tema tão complexo e perturbador quanto a violência obstétrica. A
pesquisa, conduzida em 2023 em Juazeiro, Bahia, tinha como foco principal aferir a frequência
e as consequências deste tipo de violência, um problema grave e ainda subnotificado no campo
da saúde pública, revelando que práticas invasivas e negligentes na assistência obstétrica afetam
significativamente a vida das mulheres, destacando a necessidade de informação e
conscientização sobre o assunto.
Segundo Moreira, Sousa e Silva (2023), estas práticas incluíam, mas não se limitavam
a procedimentos realizados sem o devido consentimento da mulher, falta de empatia e apoio
durante o parto, uso excessivo de intervenções médicas como cesáreas e episiotomias sem
necessidade clínica, e uma comunicação deficiente que deixava as mulheres desinformadas
sobre seus direitos e opções.
Paralelo ao trabalho de Lansky et al (2019), em que uma análise de perfil e experiências
de parto de 555 mulheres que visitaram a exposição "Sentidos do Nascer" foi realizada e
permitiu a constatação de que 12,6% das participantes reportaram ter sofrido violência
obstétrica, relacionando-a com fatores como estado civil e renda. Destaca-se que a exposição
ajudou a aumentar o conhecimento sobre a violência obstétrica, evidenciando o papel de
iniciativas culturais na ampliação da compreensão social sobre as práticas na assistência ao
parto e nascimento.
Em 2022, Santos e Guedes realizaram uma pesquisa descritiva e qualitativa baseada em
entrevistas para analisar os relatos de mães que sofreram violência obstétrica na Paraíba. Os
resultados indicaram que a violência obstétrica é um tema crucial de saúde pública, impactando
a saúde da mulher e da criança. Os autores enfatizaram a necessidade de mudar as práticas
assistenciais e reconhecer a violência obstétrica como uma violação dos direitos humanos.
Finalmente, o estudo de De Vasconcelos e colegas em 2023 descreveu os transtornos
psiquiátricos associados em mulheres que sofreram violência obstétrica e estudou alterações de
comportamento. Os resultados mostraram prevalência de depressão moderada a extremamente
grave em 95% das participantes, ansiedade extremamente grave em 90% e estresse em todas.
Apesar de a amostra ainda ser insuficiente para concluir uma relação direta da violência com
quadros psiquiátricos crônicos, fortes evidências apontam para um impacto significativo.
Esses estudos, em conjunto, destacam a gravidade e as amplas repercussões da violência
obstétrica, tanto em termos de saúde física e psíquica quanto em aspectos sociais e de direitos
humanos. Eles sublinham a necessidade urgente de mudanças nas práticas de assistência ao
parto e uma maior conscientização sobre os direitos e o bem-estar das mulheres.
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No contexto da luta contra a violência obstétrica, um estudo notável foi realizado por
Santos e Quadros (2020), publicado na "Revista Direito e Sexualidade". Através de uma
metodologia observacional, o estudo apresentou a experiência singular de uma roda de conversa
sobre a violência obstétrica. Nesta roda de conversa, participantes discutiram abertamente suas
experiências, o que proporcionou achados científicos significativos e contribuiu para o
empoderamento feminino. Importante ressaltar que os resultados deste estudo sugerem a
possibilidade de aplicar a Lei Maria da Penha aos casos de violência obstétrica, um avanço
potencial no amparo legal às vítimas deste tipo de violência.
Paralelamente, Fleury e Menezes (2020) em seu trabalho publicado na revista "Saúde
Debate", desenvolveram categorias analíticas para apresentar as formas de ação e os tipos de
organizações mobilizados em favelas, especialmente durante a pandemia. O estudo destacou
um repertório amplo de ações coletivas, evidenciando como a mobilização de apoios externos
e ações de organização interna foram essenciais para o enfrentamento dos desafios impostos
pela crise sanitária.
Outra pesquisa relevante no campo da psicologia foi conduzida por Matos, Magalhães
e Férres-Carneiro (2021), e divulgada na "Psicologia: Ciência e Profissão". O estudo de caso
coletivo investigou a experiência de violência obstétrica a partir do relato de mães, concluindo
que a falta de suporte ambiental é um fator constitutivo da violência obstétrica. A análise
apontou que procedimentos médicos rotineiros, quando realizados sem compartilhamento de
decisões ou amparo psicológico, podem constituir formas de violência obstétrica.
Os estudos refletem uma crescente consciência sobre a violência obstétrica e a
necessidade de abordagens multidisciplinares para combatê-la, valorizando o suporte
ambiental, o empoderamento feminino e a adequação das práticas médicas a um modelo de
cuidado mais humanizado e respeitoso com as decisões das mulheres.
Em um estudo profundo e revelador, Nascimento et al. (2019) empenharam-se em
desvendar o conhecimento e vivências de violência obstétrica em parturientes, através de uma
pesquisa descritiva e qualitativa, utilizando entrevistas semiestruturadas. A pesquisa lançou luz
sobre uma realidade alarmante: o desconhecimento generalizado do termo violência obstétrica
entre as mulheres, apesar dos frequentes relatos de violência verbal e não verbal durante o parto.
Essa lacuna no conhecimento sublinha uma necessidade crítica de assistência humanizada e o
desenvolvimento de estratégias para o empoderamento das mulheres, para que possam advogar
por si próprias e receber o cuidado respeitoso e digno que merecem.
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Estes estudos convergem para uma única diretriz clara: a violência obstétrica é um
problema sistêmico que requer uma resposta abrangente, com foco na educação, no
fortalecimento das mulheres e na reforma das práticas de assistência à saúde. A integração
desses esforços é essencial para garantir que cada mulher tenha uma experiência de parto
segura, respeitosa e empoderada.
4. DISCUSSÃO
Esta etapa do trabalho compreende uma discussão mais aprofundada sobre os achados
na literatura a respeito da violência obstétrica e seus impactos na saúde mental das mulheres. A
interpretação desses resultados é fundamental para a contextualização e entendimento das
implicações que estas práticas podem causar. Para isso, optou-se por dividir os temas em 4
tópicos diferentes: o primeiro que aborda a contextualização da violência obstétrica, com olhar
voltado para a integridade e a dignidade da mulher, o segundo que enfatiza os impactos
psicológicos ocasionados pela violência obstétrica, o terceiro que discorre sobre a
vulnerabilidade e a necessidade de proteção das vítimas e por último, não menos importante, as
estratégias de prevenção, intervenção e combate à violência obstétrica.
violando a dignidade das mulheres, ferindo sua autoestima e seu direito a um tratamento
respeitoso e compassivo (SARLET, 2015).
Da mesma forma, a negligência no cuidado com as mulheres durante a gestação, parto
e pós-parto é uma forma de desconsideração que desvaloriza a dignidade humana, pois ignora
as necessidades vitais, o sofrimento e os direitos das mulheres a um atendimento seguro e
acolhedor (MARTINS, 2020). Além disso, conforme destaca Sarlet (2015), a coerção e a
imposição de procedimentos médicos sem consentimento informado são atitudes que usurpam
a autonomia das mulheres, um pilar fundamental da dignidade humana. Essas práticas privam
as mulheres da capacidade de tomar decisões informadas sobre seus próprios corpos e processos
reprodutivos, subjugando-as a uma posição de vulnerabilidade e desrespeito.
Reconhecer a violência obstétrica como uma afronta à dignidade humana é essencial
para entender a gravidade dessa questão. As práticas institucionais que perpetuam tal violência
refletem uma desvalorização da dignidade das mulheres dentro do sistema de saúde. Assim,
para combater efetivamente a violência obstétrica, é imperativo adotar políticas e práticas que
estejam firmemente alicerçadas no respeito à dignidade humana. Isso significa garantir que a
assistência obstétrica seja não apenas segura e de qualidade, mas também empoderadora e
respeitosa, assegurando que cada mulher seja tratada com a compaixão, o respeito e a dignidade
que merece (MARTINS, 2020).
médica (Gróbério, 2022). A violência obstétrica pode intensificar emoções negativas, aumentar
o estresse e a sensação de violação de direitos. A falta de comunicação, apoio emocional e
respeito às decisões da mulher são fatores que exacerbam o trauma e os transtornos psicológicos
relacionados.
Transtornos como o Estresse Pós-Traumático (TEPT), depressão pós-parto e ansiedade
podem ser desencadeados ou agravados pela violência obstétrica. Essas condições não se
restringem apenas ao período imediato do evento traumático, podendo persistir e afetar a saúde
mental e emocional da mulher a longo prazo. Os efeitos desses traumas e transtornos se
estendem para além da esfera individual, afetando as relações familiares e a dinâmica familiar,
interferindo na capacidade da mulher de se relacionar com o parceiro, outros membros da
família e cuidar do recém-nascido (Nunes; Marchetto, 2022).
Portanto, é essencial uma abordagem integrada e multidisciplinar no acolhimento e
suporte a mulheres que vivenciaram violência obstétrica. A inclusão de profissionais de saúde
mental, como psicólogos e psiquiatras, trabalhando em conjunto com profissionais de saúde
obstétrica, é vital para fornecer o apoio emocional necessário e promover a recuperação da
saúde mental das mulheres afetadas (MARTINS, 2020).
A violência obstétrica, um fenômeno que transcende o meramente físico, impondo-se
de maneiras sutis e profundas na psique das mulheres, tem sido cada vez mais reconhecida
como uma questão crítica de saúde pública. Amaral, Klein e Grunewald (2021) destacam que a
violência obstétrica não só viola os direitos das mulheres, mas também provoca danos severos
à saúde psicológica, incluindo trauma, depressão pós-parto, ansiedade e estresse pós-
traumático. Estes autores ressaltam a necessidade de reconhecimento dessa violência para a
formulação de políticas de saúde mais efetivas.
Martins et al. (2020) contribuem para este diálogo, enfatizando que a violência
obstétrica no Brasil é um conceito ainda em construção. No entanto, mesmo sem uma definição
absoluta, suas consequências são tangíveis e devastadoras. Ribeiro et al. (2020), ao explorarem
as percepções das multíparas, desvelam a prevalência do trauma psicológico que muitas vezes
permanece oculto sob a superfície das interações no cenário obstétrico.
Além disso, a relação entre violência obstétrica e depressão pós-parto é enfatizada no
estudo de Cardozo et al. (2022), que revela como a violência durante o parto pode ser um gatilho
significativo para o desenvolvimento da depressão puerperal. Esse achado é corroborado por
Leite, Pereira, Leal e Silva (2021), que, através do estudo “Nascer no Brasil”, demonstram uma
correlação direta entre experiências de violência obstétrica e o aumento dos casos de depressão
pós-parto.
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disponíveis, muitas vezes se encontram em uma posição vulnerável. Essa falta de conhecimento
pode deixá-las menos capacitadas para advogar por si mesmas ou para questionar práticas
inadequadas por parte dos profissionais de saúde (NUNES; MARCHETTO, 2022).
Identificar esses fatores de risco é crucial para a criação de estratégias eficazes para
combater a violência obstétrica. Compreender quem está em maior risco e por quê permite aos
formuladores de políticas, aos profissionais de saúde e às comunidades focar seus esforços de
prevenção e intervenção de maneira mais eficaz. Além disso, capacitar mulheres com
informação, apoiar a igualdade socioeconômica e combater os preconceitos são passos
fundamentais para garantir que todas as mulheres tenham experiências de parto dignas e
respeitosas (CASTRO; ROCHA, 2020).
Na vivência da violência obstétrica, identificar os elementos que ampliam o risco de
uma mulher sofrer esse tipo de agressão é tão crucial quanto reconhecer os fatores que podem
prevenir ou atenuar seus impactos negativos. Entender esses aspectos é fundamental para
assegurar um atendimento mais eficaz e alinhado às necessidades femininas (LANSKY, 2019).
A necessidade de abordagens holísticas e empáticas no cuidado obstétrico é, portanto,
fundamental. Como Martins et al. (2020) salientam, a compreensão e o reconhecimento da
violência obstétrica como uma questão de saúde pública são essenciais para garantir o direito
integral à saúde das mulheres. Estas medidas não apenas melhorariam a qualidade do
atendimento, mas também mitigariam os impactos psicológicos profundos que muitas mulheres
enfrentam como resultado dessa forma de violência.
2020). A capacitação contínua dos profissionais de saúde é crucial. Eles devem ser treinados
em boas práticas obstétricas, comunicação empática, consentimento informado e em uma
abordagem centrada na mulher. A formação deve também abordar questões de gênero, etnia e
cultura para prevenir práticas discriminatórias (NUNES; MARCHETTO, 2022).
Nesse sentido, Marques (2020) revela que, protocolos e diretrizes claras são necessários
para prevenir a violência obstétrica. Tais diretrizes devem ser alinhadas com as legislações
vigentes e devem promover o consentimento informado e desencorajar práticas abusivas,
contribuindo para a padronização da assistência. É fundamental encorajar a participação ativa
das mulheres nas decisões relativas à sua saúde.
Promover o protagonismo feminino, incentivando-as a expressar suas preferências e
envolver-se ativamente nas decisões sobre seu cuidado, é crucial para evitar a imposição de
procedimentos desnecessários e violações de direitos (Sens & Stamm, 2019; Castro & Rocha,
2020). Para tanto, é importante que os serviços de saúde devem oferecer um ambiente físico e
emocional seguro, promovendo canais de denúncia e apoio para prevenção e resposta à
violência obstétrica (NUNES; MARCHETTO, 2022).
A implementação de políticas públicas que protejam os direitos das mulheres é vital. Os
governos e instituições de saúde devem se comprometer a combater a violência obstétrica,
desenvolvendo políticas e programas que garantam o respeito aos direitos das mulheres durante
a gestação, o parto e o pós-parto, conforme as normativas legais (CASTRO; ROCHA, 2020).
A ampliação do acesso a serviços de saúde sexual e reprodutiva e estabelecer serviços
especializados para vítimas de violência obstétrica também são medidas importantes.
Segundo Castro (2020) essas ações visam oferecer suporte emocional, informacional e
jurídico às mulheres, promovendo sua recuperação e empoderamento. Por fim, a pesquisa
científica é essencial para embasar políticas públicas e práticas baseadas em evidências. Estudos
que investigam os impactos da violência obstétrica são fundamentais para a compreensão mais
profunda do fenômeno e para a implementação de estratégias eficazes de prevenção e
intervenção (CASTRO; ROCHA, 2020).
5. CONCLUSÃO
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