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UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA – UVA

GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA

SARA TOTELOTI (20151112366)

VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA

DISCIPLINA: TÓPICO ESPECIAL EM PEDAGOGIA NA ERA DO


CONHECIMENTO
PROF.ª MARY LANE CRUZ MADUREIRA

CABO FRIO
2022.2
A violência é um grave fenômeno que está em expansão todos os dias, em
diversas áreas da sociedade e de diversas formas, de modo especial, contra a mulher,
os desdobramentos dessa violência podem ser vistos ao longo de toda história da
humanidade e vem se perpetuando até os dias de hoje.
Partindo de um olhar pessoal, quero destacar a violência obstétrica, que até
poucos meses atrás era um assunto totalmente desconhecido por mim. Após a
descoberta da minha gestação, comecei a me debruçar sobre o tema para entender
melhor as suas especificidades, foi então que percebi a dimensão do
desconhecimento de boa parte da população sobre as condutas da violência
obstétrica e de como tais práticas acarretam consequências que afetam a saúde
mental, física e emocional de grande parte das mulheres quando passam por esse
período.
Alguns atos que são praticados naturalmente, por serem considerados
corriqueiros das profissões que prestam assistência a mulher no período da gestação,
na verdade, culminam na prática da violência obstétrica. Dessa forma, muitas
gestantes e parturientes não percebem que estão sendo vítimas dessa violência, bem
como os agentes praticantes não notam que estão cometendo uma prática abusiva.
Sendo assim, é de suma importância que sejam citadas e abordadas algumas dessas
condutas para que a sociedade adquira o conhecimento sobre suas causas e
consequências.
Reconhecer a violência obstétrica é o primeiro passo a ser dado na luta contra
a transgressão de diretos fundamentais da mulher. Sendo assim, é necessário
caracterizá-la de forma que as gestantes e parturientes consigam identificar quando
estão sendo vítimas dessa violência.
No século XVII, o parto era realizado em casa, junto a família e com a ajuda de
uma parteira. Neste período, o parto era um momento a ser assistido apenas por
mulheres, o que levava em consideração toda a subjetividade envolvida nesse
processo, bem como as crenças e medos da parturiente. Era algo que acontecia de
forma natural, sem a intervenção de outras pessoas, ou de mecanismos que
pudessem “facilitar” o ato de parir, assim explica Melo (MELO et al., 2013).
Naquela época, no momento do parto as mulheres se isolavam e se ajudavam,
levando com elas apenas seus conhecimentos a partir de suas próprias vivências e
de uma prática obstétrica baseada no senso comum e exercida por repetição. Os
médicos eram chamados apenas em casos de partos difíceis, mas, ainda assim, nesta
época, o poder de decisão, o protagonismo da situação continuava sendo da mulher,
sua família e/ou amigas.
Com o avanço da tecnologia no campo da medicina o parto foi
institucionalizado, e começou a ser visto como uma patologia que precisa de
tratamento médico. Com o interesse da medicina pelo parto, as práticas foram se
modificando, e o que antes era protagonizado pela mulher, agora era protagonizado
pelo médico, que não auxiliava a mulher durante o trabalho de parto e sim o realizava.
Dessa forma, os saberes das parteiras foram sendo excluídos e substituídos pelos
saberes médicos, de acordo com Melo (MELO et al., 2013).
A padronização e institucionalização do parto gerou consequências na vida das
mulheres. Algumas das consequências da institucionalização do parto são apontadas
por Diniz (DINIZ et al., 2015), tais como abuso físico e imposição de intervenções não
concedidas. Essas e outras práticas realizadas contra as mulheres antes, durante e
depois do parto dentro das instituições, ferem o direito da parturiente de estar livre de
maus tratos e o direito à informação. Assim como qualquer ato contra a mulher
grávida, que a exponha a riscos físicos, humilhações e/ou que exponha sua intimidade
e fira sua privacidade são Violência Obstétrica.
O conceito de violência obstétrica busca caracterizar os tipos de agressões a
mulheres gestantes, seja no pré-natal, no parto ou pós-parto, e no atendimento de
casos de abortamento. Tais como físicos, psicológicos, verbal ou até mesmo sexual,
explicitas ou ocultas, de caráter violento cometido contra a mulher grávida e sua
família, por profissionais em instituições de saúde.
Como a grande parte das mulheres desconhecerem o processo fisiológico e
práticas de assistência durante o trabalho de parto e parto; e por acreditarem que o
médico e/ou a equipe de saúde sejam detentores de conhecimentos e habilidades
técnicas naquela situação. Pesquisas coordenadas pela Fiocruz, através do projeto
Nascer no Brasil, apontam que uma em cada quatro brasileiras que deram à luz foram
vítimas de violência obstétrica.
Algumas condutas que caracterizam violência Obstétrica:
• Violência de Caráter Psicológico: Ocorre quando o médico, o enfermeiro,
a equipe do hospital, um familiar ou o acompanhante ofenda
verbalmente a gestante ou parturiente, gerando nela sentimentos como
de inferioridade, instabilidade emocional, medo, insegurança ou
quaisquer sensações que a fragilizem e a deixem vulnerável nesse
momento, causando danos ao seu psicológico. Essas práticas
geralmente se concretizam com humilhação, piadas, ameaças, omissão
de informações, grosserias e desrespeito com a mesma, que tem sua
dignidade violada.
• Violência de Caráter Sexual: Ocorre quando violam a intimidade da
mulher, atuando sobre sua integridade reprodutiva e sexual. O artigo 5º,
X da Constituição Federal tutela esse direito dispondo que “são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”. Dentre as condutas têm-se o assédio,
exames de toque invasivos, cesariana sem consentimento informado,
dentre outras.
• Violência de caráter Institucional: Ocorre quando acontece o
impedimento do acesso aos serviços de atendimento à saúde, a
proibição da amamentação, a existência de protocolos institucionais que
impeçam ou contrariem as normas vigentes, dentre outras. Sendo assim,
pode-se observar que esse tipo de prática se dá com ações que violem
direitos da mulher no decurso de seu período de gestação, parto e
puerpério, seja em instituições públicas ou privadas.
• Violência de caráter midiático: São aquelas praticadas por profissionais
da comunicação com o propósito de denegrir a mulher que está em
processo reprodutivo, violando sua integridade psíquica. Isso ocorre
também na divulgação e apoio a práticas que são cientificamente contra-
indicadas com a finalidade de obter vantagem econômica ou social.
Como exemplo têm-se a apologia à cirurgia cesariana por motivos
vulgarizados e sem indicação científica, ridicularização do parto normal
e incentivo ao desmame precoce.

Como dito anteriormente, as práticas que caracterizam violência obstétricas


precisam ser amplamente conhecidas, assim como também os direitos das gestantes
e parturientes necessitam ser abordados, para que não sejam transgredidos. O
conhecimento acerca de suas garantias legais é essencial para o combate à violência
obstétrica, já que as mulheres que já gestaram e sofreram práticas abusivas podem
reivindicar e lutar por seus direitos, assim como aquelas que ainda não vivenciaram o
momento gestacional, ao gestarem, já saberão quais são seus direitos e garantias
legalmente garantidos.

Algumas leis e projetos de lei de garantia dos direitos da gestante e parturiente:


• ECA, em seu art. 8º: É assegurado a todas as mulheres o acesso aos
programas e às políticas de saúde da mulher e de planejamento
reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, atenção humanizada à
gravidez, ao parto e ao puerpério e atendimento pré-natal, perinatal e
pós-natal integral no âmbito do Sistema Único de Saúde. (BRASIL,
1990)
• Lei nº 11.108/2005: Conhecida como lei do acompanhante, inseriu na
Lei Orgânica da Saúde, Lei n° 8.080/90, o direito das parturientes à
presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-
parto imediato, no SUS. Apesar de ser descumprida em diversos
hospitais e maternidades, a lei também representa uma conquista em
prol do direito das mulheres.
• PL 7.633/2014: Sobre a humanização da assistência à mulher e ao
neonato durante o ciclo gravídicopuerperal e dá outras providências.
• PL 2.693/2019: Busca instituir uma ampla política de atendimento às
mulheres no ciclo gravídico-puerperal, prevendo a integração com ações
de combate à violência doméstica, humanização no atendimento das
gestantes e da família, entre outros princípios.
• PL 3.310/2019: Apresenta-se para, exclusivamente, obrigar os
estabelecimentos de saúde que prestam atendimento obstétrico a
permitir e facilitar às pacientes o registro de som e imagem durante as
próprias consultas pré-natais, o trabalho de parto e o parto.

Por fim, cabe salientar que a mulher tem direito a uma vida livre de violências e de
discriminação, bem como deve ter sua autonomia e sua dignidade humana respeitada,
tendo seus direitos devidamente resguardados pelo poder público.
Referências bibliográficas:

FIOCRUZ. Nascer no Brasil. Rio de Janeiro, 2012.Disponível em:


https://nascernoBrasil.ensp .Fiocruz.br/?us_portfolio=nascer-no-brasil/. Acesso em:
23 de novembro de 2022.

MELO, Camila Pimentel Lopes de. (Des) Hierarquizando os saberes: o protagonismo


da mulher no parto. Anais... IV Reunião Equatorial de Antropologia e XIII Reunião de
Antropólogos do Norte e Nordeste. 04 a 07 de agosto de 2013, Fortaleza-CE. Grupo
de Trabalho n. 24: Partos, maternidade e políticas do corpo: saberes locais e
experiências transnacionais.

DINIZ. S. G. et al. Violência obstétrica como questão para a saúde pública no brasil:
origens, definições, tipologia, impactos sobre a saúde materna, e propostas para sua
prevenção. Journal of Human Growth and Development, 2015.

DOSSIÊ DA REDE PARTO DO PRINCÍPIO PARA A CPMI DA VIOLÊNCIA


CONTRA AS MULHERES. Violência obstétrica: “Parirás com Dor”. 2012. Disponível
em:
https://www.senado.gov.br/comissoes/documentos/SSCEPI/DOC%20VCM%20367.p
df. Acesso em 23 de novembro de 2022.

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