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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE DIREITO

OS CONTORNOS JURÍDICOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL


EM DECORRÊNCIA DA VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
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Carlos Sávio Vasconcelos Silveira


Orientadora: Profa. Dra. Gretha Leite Maia de Messias

Fortaleza
2022
A escolha da temática “violência obstétrica”
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Motivos subjetivos Importância do tema

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Experiência prévia com ● Existência de inúmeros relatos
ações judiciais nas quais se na mídia;
pretendia a reparação de ● Prática reiterada de danos;
danos pela ocorrência da ● Necessidade de compreender o
violência obstétrica; fenômeno e pensar mecanismos
para enfrentá-lo.
● Resistência do Ministério da
Saúde e do CFM em
reconhecer a terminologia;

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“Uma a cada quatro mulheres sofre violência no parto.”

Fonte: FUNDAÇÃO PERSEU ABRAMO. Violência no parto: Na hora de fazer não gritou. 2013. Disponível em:
<https://fpabramo.org.br/2013/03/25/violencia-no-parto-na-horade-fazer-nao-gritou>. Acesso em: 20 de nov de 2022.

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A escolha da perspectiva da responsabilidade civil
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● Possibilidade de “olhar para os direitos da vítima”, ao contrário do Direito


Penal que naturalmente possui o enfoque do sujeito ativo.

● Necessidade de compreender os mecanismos jurídicos para garantir a


reparação dos danos causados.

● O efeito inibitório de conduta causado pela responsabilidade civil.

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Objetivo Geral
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Compreender se há possibilidade jurídica da pretensão de reparação dos


danos causados pela violência obstétrica e quais os seus contornos ou
aspectos, a partir do conceito e legislação.

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Objetivos específicos
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● Compreender a disputa discursiva em torno da violência obstétrica;

● Contextualizar o problema histórico de opressão às mulheres.

● Analisar os elementos fundamentais da responsabilidade civil à luz da


violência obstétrica;

● Compreender a sistemática de responsabilização em razão de danos


causados na prestação de serviços de saúde no Brasil.

● Discutir a aplicação do modelo do “erro médico”.

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A mudança no caminho metodológico
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Inicialmente, a ideia era discutir a aplicação dos aspectos jurídicos ao fenômeno da


violência obstétrica. Todavia, a verificação da existência de uma disputa em torno
do conceito e da utilização da terminologia gerou a necessidade dos dois primeiros
capítulos.
Contexto histórico (opressão às
mulheres e atendimento ao parto)
Parte
inicial { Discussões sobre o conceito do
fenômeno

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Metodologia
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Revisão bibliográfica do tipo narrativa. Busca nas plataformas Scielo, Biblioteca


Virtual de Saúde – BVS, Google Scholar, além dos repositórios institucionais da
UFC e USP, utilizando ainda os operadores de data.

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Resultados: A disputa discursiva
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● Evidenciou-se a existência de divergência na formulação conceitual do


fenômeno;

● O dissenso conceitual como fator prejudicial à abordagem científica e jurídica


(estudos de prevalência e reconhecimento, pela vítima, das violações);

● Disputa pelo direito de dar nome às coisas;

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Violência Desrespeitos e Maus tratos
obstétrica abusos
Criado em 2007 na Criado em 2010 por Bowser Criado em 2015 por Bohren
Venezuela. Previsão no art. e Hill, pesquisadoras ligadas et al. na tentativa de
13, nº 13, da Lei orgânica à Universidade de Harvard. aprimorar a classificação
sobre o direito das mulheres anterior.
a uma vida livre de violência. Tentativa de classificação
das condutas abusivas. Tentativa de sistematizar as
condutas.

● Estabelece 7 categorias;
● Texto legal; ● Decompõe as 7 categorias em
● Serviu de base para a
● Baseado na Convenção de sub-categorias;
declaração de 2014 da OMS
Belém do Pará; ● Inclui o momento do pré-natal e
“prevenção e eliminação de
● Não elenca condutas; pós-parto.
abusos, desrespeitos e maus
tratos”

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Violência obstétrica na legislação venezuelana

“A apropriação do corpo e processos reprodutivos das mulheres por


profissionais da saúde, que se expressa em um tratamento
desumanizado, em um abuso da medicalização e patologização de
processos naturais, trazendo com isso a perda de autonomia e
capacidade de decidir livremente sobre o seu corpo e sexualidade,
impactando negativamente na qualidade de vida das mulheres.”
(VENEZUELA, 2007, artigo 13, n.13, tradução nossa)

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Resultados: A resistência institucional do Brasil
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● O Ministério da Saúde (2019) e o CFM (2018) firmaram posição contrária ao


uso da terminologia “violência obstétrica”.

● Defesa da classe médica, pelo CFM e argumentação de imprecisão conceitual


do termo “violência”, pelo MS.

● A convenção de Belém do Pará de 1994 e o foco na vítima para a definição de


violência.

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Resultados: A ausência de legislação específica
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- No Brasil, ainda não existe legislação federal específica como na Venezuela e


Argentina, por exemplo;

- Inexiste reconhecimento legal da violência obstétrica, muito embora


existam leis difusas, como a Lei nº 11.108/2005, que garante o direito a
acompanhante e orientações técnicas oriundas do movimento de
humanização do parto.

- Os processos de responsabilidade adotam as normas gerais do CC e CDC,


conforme o tipo de prestação.

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A incorporação dos procedimentos técnicos
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● Um dos motivos de divergência é a inclusão, como violência obstétrica, de


determinadas práticas técnicas que são encaradas como rotineiras pelas
equipes de saúde.

● O movimento de humanização, utilizando a MBE, já questionou diversas


práticas que não demonstraram eficácia.

● Na sistemática tradicional, a discussão, ainda que mínima sobre determinado


aspecto científico, pode descaracterizar o erro médico.

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A inadequação do modelo do erro médico
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● A sistemática atual de responsabilidade civil adota o modelo do “erro médico”,


que consiste na conduta inadequada do profissional que, por inobservância
técnica, produz dano à vida ou à saúde do paciente (FRANÇA, 2020).

● Esse modelo ignora os fatores estruturais da violência, como a formação


médica e a própria estruturação do sistema.

● Nesse modelo, as violações aos direitos das mulheres não são indenizadas,
visto que a reparação só ocorre em casos de danos severos à mãe ou à
criança.

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Considerações finais
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● Existe possibilidade de reparação por danos em razão de violência obstétrica,


muito embora tenha que se recorrer a normas gerais;

● A falta de reconhecimento legal é fator contribuinte para a má compreensão da


extensão do problema (estudos de prevalência) e acesso à jurisdição.

● Atualmente, no panorama brasileiro, o processo indenizatório é extremamente


dificultoso em razão do arcabouço jurídico aplicado.

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Considerações finais
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● É preciso que se reconheça legalmente o problema da violência obstétrica;

● A ausência de uma legislação voltada à proteção, ainda que servisse apenas


como guia interpretativo se traduz em uma enorme barreira à efetiva reparação
dos danos (ex. valoração das provas);

● É preciso abandonar o modelo do “erro médico” nos casos de violência


obstétrica, uma vez que o fenômeno é complexo e envolve uma série de
fatores;

● A Responsabilidade civil pode exercer papel inibitório relevante;

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Obrigado pela
atenção!

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