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curso de capacitação

em atuação contra

Violência A Violência
Obstétrica no

Obstétrica
Sistema Jurídico
Brasileiro

por Priscila Cavalcanti


Atuar contra a violência é indissociável
da defesa dos direitos humanos.
Pequeníssimo glossário de intervenções
Episiotomia: corte na vagina, em
linha médio-lateral ou mediana
Apressaria ou facilitaria a saída do
bebê.
Prática questionada pelas evidências:
não ajuda, não evita incontinência e
ainda causa danos à mulher

(Carroli G. Mignini L. Episiotomy for vaginal birth. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane
Library, Issue 9, 2014, Art. No. CD000081. DOI: 10.1002/14651858.CD000081.pub2 2009; Hartmann K, Viswanathan
M, Palmieri R, Gartlehner G, Thorp J Jr, Lohr KN. Outcomes of Routine Episiotomy, A Systematic Review. JAMA, May
4, 2005—Vol 293, No. 17 (Reimpresso). Disponível em http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15870418
Carla Raiter, 1:4 Retratos da Violência Obstétrica; carlaraiter.com
Pequeníssimo glossário de intervenções
Manobra de Kristeller: pressão
no fundo do útero, para apressar
o nascimento do bebê.

Associada a maior lesão do


períneo. Manobra proscrita pela
OMS e contraindicada pelo MS.
Causa dor, desconforto, vem sendo associada à ruptura de
fígado e baço da mãe; também associada a baixo índice de
APGAR do bebê ao nascer.
Verheijen EC, Raven JH, Hofmeyr GJ. Fundal pressure during the second stage of labour. Cochrane database of Systematic
Reviews. Issue 4 Art No : CD006067 DOI: 10 1002/ 14651858 CD006067 pub2 2009. Usandizaga, De la Fuente. Obstetricia y
Ginecología. Ed. Marban. Madrid, 2010
Breve Histórico

➢ Humanização - termo de sentidos diversos. Fernando Magalhães


(Pai da Obstetrícia Brasileira, início do século 20) e professor
Jorge de Rezende (segunda metade do século): a narcose e o
uso de fórceps humanizaram a assistência aos partos (Rezende,
1998).
➢ Uso irracional das intervenções = malefícios - há 25 anos, início
de movimento internacional. No Brasil: "Humanização do Parto".
-Teóricos: Sheila Kitzinger (1985), Michel Odent (2000),
Janet Balaskas (Parto Ativo, 1996).
H -Movimento Feminista: assistência / conceitos de direitos
I
reprodutivos e sexuais como direitos humanos (CLADEM,
S
T 1998, RNFSDR, 2002).
Ó -Protocolos de assistência baseada em direitos (OMS, 2005).
R -Estudos de eficácia e segurança na assistência à gravidez,
I parto e pós-parto, apoiado pela OMS. Movimento pela
C medicina baseada em evidências, MBE (Cochrane, 1989;
O OMS, 1996; Wagner, 1997)
-Brasil - ReHuna - Rede pela Humanização do Parto e do
Nascimento - 1993 - Carta de Campinas (SP) - Parto
H
I vaginal marcado pela violência, "não surpreende que as
S mulheres introjetem a cesárea como melhor forma de dar à
T luz, sem medo, sem risco e sem dor" (Rehuna, 1993).
Ó
R -Brasil - fim da década de 1990, virtualmente através de
I listas eletrônicas como Parto Natural, Amigas do Parto,
C Rehuna, Materna, Parto Nosso, Parto do Princípio
O
Fonte: Diniz, Simone. "Humanização da assistência ao
parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento"
-Início anos 2000 - Casas de Parto - resistência da
H
comunidade médica e hospitalar; fechamento da Casa de
I
S Maria (SPaulo).
T -Rio de Janeiro - apenas uma. A primeira proposta da
Ó vereadora Marielle Franco aprovada na Câmara Municipal
R do Rio, em setembro de 2017, previa a ampliação da rede.
I -Juiz de Fora/MG - Casa de parto da Universidade Federal
C fechada em 2007.
O - Hoje: Casa Angela e Sapopemba (SPaulo),
David Capistrano Fº (RJaneiro) e Sofia Feldman (BH).
Abusos continuaram acontecendo. 2012: primeiras ações
judiciais pedindo indenização por Violência Obstétrica

Início: violência institucional.


Violência Obstétrica foi termo consagrado legislativa e
judicialmente quando a Lei de Diadema (Lei Municipal
3363/13) assim a definiu como diversos atos infligidos à
gestante, parturiente e puérpera.
Fundamentação Primária: Objetivos do Milênio

ONU - Organização das Nações Unidas - 2000 - para até 2015!


O que é violência contra a Mulher, para a nossa
legislação?
• Convenção de Belém do Pará:

Artigo 5º: exercício pleno dos direitos


civis, políticos, econômicos, sociais e
culturais.
Os Estados Partes reconhecem que
a violência contra a mulher impede e
anula o exercício desses direitos.
Constituição Federal de 1988
Direitos feridos pela Violência Obstétrica
-Artigo 5º - II - princípio da legalidade - vedação a direito
garantido por lei; III - tratamento assemelhado a tortura,
desumano e degradante; X - violação da intimidade e da vida
privada; XXXII - defesa do consumidor - todos os institutos a
serem interpretados favoravelmente à consumidora dos
serviços em saúde;
-Art. 196. Direito à saúde.
-Art. 197. Dever do Poder Público fiscalizar o cumprimento da
lei de saúde;
-Art. 226. Proteção à família.
Violência obstétrica
Tratados Internacionais ratificados pelo
Brasil
(condição de norma constitucional, art. 5º,
§ 2º, CF)
Convenção Interamericana de Direitos Humanos
(Brasil/OEA, 1969) (Pacto de San José da Costa Rica)

art. 7º. - direito à liberdade pessoal;


art. 12 – direito à liberdade de consciência;
art. 17 – direito à proteção da família.
Violência obstétrica
Convenção Interamericana para
prevenir, punir e erradicar a Violência
contra a Mulher - "Convenção de Belém
do Pará" (Brasil/OEA. 1994).
A violência contra a mulher é: “ofensa à dignidade humana e
uma manifestação de relações de poder historicamente
desiguais entre mulheres e homens” (Considerandos) e
”qualquer ação ou conduta, baseada no gênero, que cause
morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à
mulher, tanto no âmbito público como no privado (Artigo 1º)
Legislação

-Acompanhante/ Federal - Lei 11.108/2005, regulada pela Lei


12.895/2013
-Diadema / SP - Lei Municipal 3363/13
-Municipal / SP - Lei Municipal 15894/2013
-Ribeirão Preto – SP: Lei 13.885/2016 (Pacto Municipal Social
para a Humanização da Assistência ao Parto)*
-Estadual / SP - Lei Estadual 15759/2015
-Doulas RJ - Lei Estadual 7314/2016
-Doulas SP - Lei Municipal 16602/16
-Estadual / SC - Lei Estadual 17097/17
dentre outras.
Legislação

-Lei nº 10.843, de 18 de setembro de 2015 - Belo


Horizonte/MG - humanização do parto
-Lei 23175, de 21/12/2018 - Estado de Minas Gerais
garantia de atendimento humanizado à mulher em situação
de abortamento
-Projeto de Lei Federal, protocolado pelo Dep. Federal Jean
Wyllys/PSOL, por ação da ONG Artemis, apoiada pelo
Movimento do Parto Humanizado (PL 7633/2014, apensado
ao PL 6567/13, do PTB) - tramitando.
*Ribeirão Preto - Lei 13.885/2016
Prefeito de Ribeirão Preto ingressou com ADI nº
2123158-68.2017.8.26.0000 - Deferida Liminar que suspende
a vigência da Lei 13.885/2016. ADI nº
2123158-68.2017.8.26.0000 - Julgou a ação procedente
declarando a Lei inconstitucional. Decreto Legislativo nº
11/2018 - suspende a execução da Lei 13.885, de 2018,
publicado no Diário Oficial do Município do dia 004/04/2018.
Norma geraria gastos, sem indicar fonte de custeio e
ingerência do Legislativo sobre o Executivo.
Lei de Diadema (Lei Municipal 3363/2013)
• Cuida de gestação, pré-parto, trabalho de parto, parto e
pós-parto imediato (até 10 dias após o parto).
• Definição de V.O. (art. 2º): “todo ato praticado pelo médico,
pela equipe do hospital, por um familiar ou acompanhante que
ofenda, de forma verbal ou física, as mulheres gestantes, em
trabalho de parto ou, ainda, no período de puerpério”.
• V.O.:Agressividade, grosseria, zombaria, diminutivos;
procedimentos desnecessários, humilhantes

• Deixar de dar analgesia, quando solicitada


Lei de Diadema (Lei Municipal 3363/2013)

• Fazer a mulher acreditar que precisa de uma cesariana


quando esta não se faz necessária, utilizando de riscos
imaginários ou hipotéticos não comprovados e sem a devida
explicação dos riscos que alcançam ela e o bebê;
• Impedir acompanhante de preferência;
• Proceder a episiotomia “quando esta não é
realmente imprescindível”;
• Fazer qualquer procedimento sem consentimento
informado;
Violência obstétrica
• Ainda a Lei de Diadema: é V.O. submeter o bebê
saudável a intervenções na primeira hora de vida, sem
que antes tenha sido colocado em contato pele a pele
com a mãe e de ter tido a chance de mamar

Depois, publicada Portaria do MS


nº 371, de 7 de maio de 2014:
institui diretrizes para recepcionar
o RN no ambiente do SUS;
Constituição Tratados
Federal Internacionais

Violência
Obstétrica

Leis
Outras específicas
Normas
Lei do Acompanhante
• Lei 11.208/2005 – Art 19-J
• Indicação pela parturiente: § 1º
• Pós-parto imediato = até 10 dias depois do parto
• Estabelecimentos tiveram SEIS meses para adaptar-se
• Resolução 36/2008, da ANVISA
• Lei 12.895/13 - hospitais do SUS ou conveniados
devem manter, em local visível, aviso de que as
gestantes têm direito a acompanhante durante o
trabalho de parto, parto e pós-parto
Carla Raiter, 1:4 Retratos da Violência Obstétrica; carlaraiter.com/lem4
LEI ESTADUAL DE SANTA CATARINA Nº
16.869, DE 15 DE JANEIRO DE 2016:
dispõe sobre a presença de doulas
durante todo o período de trabalho de
parto, parto e pós-parto imediato, e
estabelece outras providências
PREVÊ SANÇÃO: Art. 3º, I - advertência
por escrito, na primeira ocorrência; II -
sindicância administrativa; e III - multa de
R$ 2.000,00 (dois mil reais) por infração,
dobrada a cada reincidência
Outros Dispositivos Legais Invocados
Artigo 19-Q, parágrafo 2o, inciso I, da Lei 12.401/2011:
obrigatoriedade de considerar as melhores evidências para
intervir;
Código de Ética Médica: RESOLUÇÃO CFM 1931/2009
(sofrendo revisão desde 2016). Arts 1º, 14, 22 e 34;
Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal 8.078/90)
Código Civil (obrigações, responsabilidade civil: profissional de
saúde, hospital, mantenedora, convênio)
Outros Dispositivos Legais Invocados
-Artigos 138 e 139, do Código
Civil (atos jurídicos anuláveis,
erro substancial)
-Art. 132, do Código Penal (Crime de
“Perigo para a Vida ou Saúde de Outrem”)
-Art. 146, do CP (Constrangimento
Ilegal)
-Art.129 CP - lesão corporal -
episiotomia manifestamente recusada
pela mulher
Política Nacional de Humanização no Brasil
Portarias MS*
-Portaria 985/99 - Criação de Centros de Parto Normal (Casas
de Parto
-Portaria 466/2000 - Pacto pela Redução das Cesarianas
-Portaria 569/2000 - Institui o Programa de Humanização no
Pré-Natal e Nascimento
-Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna e
Neonatal em 08/03/2004
-Portaria 1067/2005 - Política Nacional de Atenção Obstétrica e
Neonatal
-Portaria 399/2006 - Pacto pela Saúde
Política Nacional de Humanização no Brasil
Portarias MS*
-Portaria 699/2006 - Pacto pela Vida e de Gestão
-Portaria 4279/2010 - Organização da Rede de Atenção à
Saúde para redução da mortalidade materna e infantil
-Portaria 1459/2011 - Institui a Rede Cegonha
-Portaria 2799/2008 - Institui a Rede Amamenta Brasil
-Portaria 1153/2014 - Redefine os critérios de habilitação da
Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), garantindo o
contato pele a pele e a amametação na 1a. hora de vida
-Portaria 371/2014 - Atenção Integral e Humanizada ao
Recém-Nascido *Valeria Souza; "Violência Obstétrica"; Artemis/SP
Violência que embasou as Primeiras Ações (+50)

● Desrespeito à Lei do
Acompanhante (Lei 11.108/2005)
● Episiotomia sem fundamentação
(nunca há!)
● Cesárea sem indicação
● Kristeller
● "Vagina escola"

Sucesso apenas em um caso de Kristeller, de falta de


manobra adequada e um de acompanhante
M.A.. 30 anos, 40 semanas, colo grosso, só ocitocina
M.A.
M.A.
Não há anotações no partograma
Enfermagem: FCF 123 bpm, movimentação fetal presente,
dinâmica uterina ausente e colo uterino grosso, posterior
e impérvio.
Ocitocina sintética iniciada às 9:30 horas. Monitor fetal para
realização de cardiotocografia instalado às 14:40h,
tranquilizador. Às 17:30h, a parturiente foi encaminhada
para o Centro Obstétrico. Não foram registrados outros
exames pela equipe de enfermagem ou pelo médico.
M.A. - Laudo em processo judicial

N TE
DE
C E
R O
IMP
A :
N Ç
N T E
SE
Nesse meio tempo...
Médica obstetra que avaliou
unicamente o prontuário

SOFREU SINDICÂNCIA E
SUBSEQUENTE PROCESSO
ÉTICO NO CRM, que ainda não
terminou.

Não obtivemos mais sucesso em conseguir médico(a)


obstetra que possa avaliar ou trabalhar como assistente
técnico das mulheres em processo algum.
L.L., transferência de casa de
parto. Desrespeito à Lei do
Acompanhante, bebê desassistido
Processo judicial
Hospital alegou não ter instalações que permitissem
acompanhante.

Mesmo a lei sendo de 2005 e o parto tendo acontecido em


2012.

Sentença acolheu argumentos do Hospital, dizendo que


a transferência foi de emergência e não houve "tempo de
cumprir a lei" (!!!!)

SENTENÇA: IMPROCEDENTE
J.A., 29 anos. Na primeira filha, "Cristeler"
J.A. Lesão do plexo braquial
J.A. - Processo judicial

Ainda tentando citar a


médica. CRM?
D.T., 30 anos,
segundo parto.

Sofreu todas as
intervenções.
AGUARDANDO PERÍCIA HÁ DOIS ANOS!
Ações Judiciais
A pergunta é: está no prontuário? Como provar?
F.A., 36 anos, segundo filho. VBAC. Plano de parto,
obstetra bacana...

Analgesia apesar da
negativa

Bebê descendo

Kristeller violento,
aplicado pelo
anestesista
F.A. - Declaração do proctologista.
F.A. - Anotação em prontuário

Episio com bom aspecto… ???


F.A. (...) tudo ia bem, quando o anestesiologista subiu na barriga
da parturiente, pressionando-a para baixo com tanta força, que
atrapalhou a respiração! (...) A força aplicada sobre a barriga
(...) fez com que o feto descesse violenta e rapidamente, além
do que seria fisiológico. Isso acabou (...) provocando uma
laceração gigantesca, que se estendeu desde o colo do útero
até a região anal. O excesso de força provocou, ainda, a
eclosão de hemorróidas. (Anotação do Obstetra)
Mulher com incontinência fecal até hoje (processo iniciado em
2010), impedida de trabalhar como deveria, tendo de comer
alimentos obstipantes.
F.A. -
Acórdão

"Empurrão na barriga" considerado "desnecessário"!


C.M. - 2018

Acompanhante banido, mesmo a mulher estando em TP para PN em


sala separada (provado).
Argumentação do hospital em audiência: não vexar outras mulheres.

Sentença: "...haja vista a presença de outras parturientes no local, sendo


necessário preservar a privacidade destas. Por mais que caiba à paciente
a escolha de quem deve acompanhá-la, é completamente plausível que
se restrinja, nesse contexto de superlotação em um hospital, a presença
de um acompanhante do sexo masculino, tendo em vista a presença de
outras mulheres em situação íntima que merece ser preservada".
Filme "Parto-me"
curso de capacitação
em atuação contra

Violência
Obstétrica
A Violência Obstétrica
no Sistema Jurídico Brasileiro
Parte 2
Prevenção possível

-Termos de recusa

-Planos de parto

-Diretrizes Antecipadas de Vontade e Ação judicial


Termo de Recusa
-Constar ciência das evidências

-Especificar o que se recusa

-Deixar clara a consciência das exceções da lei

-Protocolo no estabelecimento de saúde antes da internação

Não tem efeito vinculante!


Plano de Parto
-Ideal: discuti-lo com o/a profissional de saúde durante o
pré-natal

-Especificar situações e desejos

-Buscar equipe e estabelecimento de saúde que possibilite

-Protocolar no estabelecimento de saúde com antecedência

Não tem efeito vinculante!


Diretrizes Antecipadas de Vontade
-Fundamentação: teoria do Testamento Vital
-Diretrizes para atendimento em saúde em *Pro: Pode ter
cuidados paliativos efeito vinculante!
-Princípio da autonomia do paciente: aquele
*Contras: 1. Ainda
que já foi autônomo e tomou decisões não foi tentado; 2.
enquanto o era Fase bastante
-Documento de manifestação de vontade: conservadora do
levar a registro, protocolar no hospital, iniciar Judiciário.
ação judicial com o objetivo da concessão
de liminar e confirmação da mesma
Acompanhante

Polícia?
Advogada(o)?
Violência obstétrica que já aconteceu, o que
fazer?
-Hospital
-CFM/COREN
-Secretaria de Saúde
-Ministério Público Federal (http://www.mpf.mp.br/para-o-
cidadao/sac – sala de atendimento ao cidadão e Estadual
-Mediação e Conciliação
-Ação judicial
A Ação Judicial por Violência Obstétrica hoje
Prescrição: Código Civil (dano moral/3 anos) e Código de
Defesa do Consumidor (5 anos)
Ação de cunho indenizatório (danos morais, eventualmente
estéticos e até materiais)
Saúde como direito a ser protegido pelo Estado – direito
social e direito do consumidor: CDC, art 6º, I, saúde como
direito básico do consumidor
Efeito prático: inversão do ônus da prova ou teoria das cargas
probatórias dinâmicas
A Ação Judicial por Violência Obstétrica hoje
JEC X Justiça Comum: experiência prática
JEC:
• prós = gratuidade em primeiro grau; celeridade
• contras = falta de aprofundamento;
impossibilidade de perícia (questionável);
improcedência ou julgado extinto sem apreciação
do mérito
Justiça Comum:
• prós: aprofundamento; perícia; discussão;
contraditório com mais fases;
• contras: valores; lentidão
A Ação Judicial por Violência Obstétrica hoje
Justiça Gratuita
-CF: (XXXV, do artigo 5º) e inciso LXXIV, mesmo artigo:
Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos
que comprovarem 'insuficiência de recursos’”
-Parágrafo único do artigo 2º, da Lei Federal 1060/1950,
necessitado: situação econômica não lhe permita pagar as
custas do processo e os honorários de advogado, sem
prejuízo do sustento próprio ou da família.
-Declaração de pobreza bastaria
-É bom juntar outras provas: quais?
A Ação Judicial por Violência Obstétrica hoje
Pólo passivo Profissional de saúde –
responsabilidade subjetiva: Vale a pena?
Estabelecimento de saúde –
responsabilidade objetiva (alguns
reputam solidária, concomitante)
Seguro saúde / convênio –
responsabilidade objetiva
Mantenedora de hospitais – consulta
ao CNES do DATASUS
A Ação Judicial por Violência Obstétrica hoje
Pólo Ativo
Desrespeito à Lei do
Acompanhante: a Mulher
O pai da criança (quando era
esse o acompanhante de
escolha):
"Pela afronta à dignidade do autor, que perdeu momento único
de sua vida", em Apelação Cível nº 70074397753, Comarca de
Caxias do Sul, os julgadores arbitraram o valor da indenização
em R$ 10 mil, para o pai (25.10.2017)
A Ação Judicial por Violência Obstétrica hoje
Espécies de ilícito:
• Acompanhante
• Indução falaciosa; indução não
autorizada
• Episiotomia sem fundamentação
• Kristeller
• Desnecesárea (cesariana
desnecessária ou sem
fundamentação)
• Violência verbal
• Impedimento de movimentação
ou de posicionamento, etc.
Prontuário
"qualquer nota"!
Provas documentais
Documentação acostada à inicial
- Prontuário e a zona do agrião
- Pré-natal
- Avaliação obstétrica
- Avaliação psicológica
- Avaliação de períneo e laudos médicos
- Documentação de pré-natal saudável
- Eventuais provas de sequelas (erro médico)
- Filmes e fotos do parto
-Usamos as recomendações da
E
OMS para as intervenções no
V
parto.
I
D
-Evidência científica recente:
Ê
ECR. Melania Amorim -
N
episiotomia (Selective episiotomy vs.
C implementation of a non-episiotomy
I protocol: a randomized clinical trial)
A “com ou sem episio, os resultados
S foram os mesmos”
-Mestrado e o pavor dos
médicos
Contestação: o que alegam?
Detratores da humanização como "doutrina hippie"
Que a mulher escolheu a cesariana
Que a indução foi tentada
Que o APGAR foi 9 e 10 porque a intervenção (cesariana,
episiotomia, fórceps) foi feita e "salvou" o bebê
Desautorizam a mulher (ridicularizam, juntam postagens,
etc)
Desautorizam o pai, laudos, psicólogas, doulas
Todos os motivos para uma cesariana
Motivos "nada a ver" para indicação de cesariana
Adolescência
Alergia à placenta
Ameaça de chuva/temporal na cidade
Aniversário da gestante ou de qualquer parente próximo
Barriga “sarada”, porque a musculatura pode prejudicar
Bebê "pequeno demais"
Bebê cabeludo
Bebê desocupado: tudo pronto (tamanho e peso) e ele não
vai ganhar mais nada ficando lá dentro
Motivos "nada a ver" para indicação de cesariana
Cegueira materna
Cirurgia na orelha, anterior ao parto, estouraria o tímpano
Constipação (prisão de ventre)
Convulsão febril na infância
Criança chupando dedo na barriga (“risco de quebrar o
braço durante o parto)
Data provável do parto (DPP) próximo a feriados
prolongados e datas festivas (incluindo aniversário do
obstetra)
Enxaqueca materna
Motivos "nada a ver" para indicação de cesariana
Evolução tornou o corpo feminino incompatível com o parto
Feto com “unhas compridas”
Gestante saudável demais, podendo parir antes de chegar ao
hospital, com risco de morte do bebê
Hemorroidas
História de depressão pós-parto
Idade materna “avançada” (limites bastante variáveis, pelo que
tenho observado, mas em geral refere-se às mulheres com
mais de 35 anos.
(contribuições compiladas por Gisele Leal e organizadas por
Melania Amorim, no blog "Estuda, Melania, Estuda!"
http://estudamelania.blogspot.com/2012/08/indicacoes-reais-e-ficticias-de.html
A indicação de cesariana precisa estar
clara e fundamentada no prontuário!

Lei Estadual São Paulo

LEI Nº 15.759, DE 25 DE MARÇO DE 2015


Artigo 13 - Será objeto de justificação por escrito,
firmada pelo chefe da equipe responsável pelo parto,
a adoção de qualquer dos procedimentos que os
protocolos mencionados nesta lei classifiquem como:
A Ação Judicial por Violência Obstétrica hoje

Perícia física, perícia de prontuário


• IMESC (para justiça gratuita)
• Perito de confiança do Juiz (honorários)
• Verificar onde o perito atua como obstetra ou ginecologista
(suspeição)
• Quesitos para laudo
Outras provas orais
Prova testemunhal: quem?

Informantes do Juízo: quem?


Acordo?
Jurisprudência
-Indenização só com comprometimento de função
-Danos: tratados como decorrentes de risco inerente ao
parto, sem culpa do profissional, que tem obrigações de meio e
não de resultado.
-Complicações são tratadas como causa de dor, incômodo,
tristeza, mas não gerando compensação por danos morais.
(pesquisa de julgados compreendidos entre 2009 e 2016)

Julgados silenciam sobre direito à integridade corporal,


autodeterminação da paciente, consentimento informado,
mas tratam da apreciação técnica.
Jurisprudência
• Kristeller – caso com reversão no Tribunal de
Justiça de São Paulo – reconhecimento do
malefício causado pela manobra
• Ação Civil Pública - MPxANS, na Justiça
Federal em São Paulo, em 2010 – caso
fundamentado no dossiê “Parirás com Dor”, da
Rede de Mulheres Parto do Princípio: sentença
de 50 páginas, muito bem fundamentada e
mostrando aprofundamento por parte do Juiz.
“Embora se busque obstinadamente convencer do contrário,
a mulher não perdeu sua capacidade natural de parir e
apenas mercê do emprego de um artificialismo, que não
deixa de representar mais uma forma odiosa de submissão
da mulher, e da pior maneira, pois conduzida de forma sutil e
disfarçada, como ocorrendo no seu interesse, atualmente o
que se verifica é que estamos deixando de receber,
condignamente, nossos semelhantes quando de seus
nascimentos”.
(Juiz Federal Victorio Giuzio Neto;
Ação do Ministério Público Federal x ANS)
Casos Práticos
Ativismo O que fazer?

- Informação para as Mulheres


- Assessoria de imprensa
- Advocacy legislativo
- Rua
- Medidas administrativas
- Ações judiciais

Por que não houve mudanças


significativas?
Os Juízes ainda não têm a menor ideia do que estamos falando!
O que sugerimos?

*Iniciativa educativa junto ao Poder


Judiciário
*Distribuir DVDs "O Renascimento do
*Parto" ou organizar sessões para os
juízes e desembargadores
*Palestras, dinâmicas
*Brochuras, livros, panfletos
Perguntas? Dúvidas? Sugestões?
Obrigada!

Priscila Cavalcanti de Albuquerque


Ramos
pcar.advocacia@gmail.com
(11) 99466-7740

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