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VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
SÃO PAULO
2023
CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA PAULA SOUZA
ESCOLA TÉCNICA DOUTORA MARIA AUGUSTA SARAIVA
SERVIÇOS JURÍDICOS
VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
SÃO PAULO
2023
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“A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta,
é sempre uma derrota.”
Jean-Paul Sartre
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 5
2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................................... 7
3. CONTEXTO HISTÓRICO ................................................................................................... 8
4. VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA .............................................................................................. 10
5. OS MÉTODOS DA VIOLÊNCIA ...................................................................................... 12
6. COMO A SOCIEDADE ENXERGA A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA .......................... 15
7. POR TRÁS DA CORTINA ................................................................................................. 17
8. CASO GIOVANNI QUINTELLA ...................................................................................... 20
9. CASO KLARA CASTANHO .............................................................................................. 23
10. CASO SHANTAL VERDELHO ....................................................................................... 28
11. A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA SEGUNDO O JUDICIÁRIO
BRASILEIRO ........................................................................................................................... 31
12. A JURISPRUDÊNCIA E OS PROJETOS DE LEI ........................................................ 37
13. A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E AS ESFERAS JUDICIÁRIAS ................................ 45
13.1. A VIOLÊNCIA NA ESFERA PENAL ............................................................................. 45
13.2. A VIOLÊNCIA NA ESFERA CÍVIL ............................................................................... 47
13.3. DO CÓDIGO DE ÉTICA DA MEDICINA ...................................................................... 51
13.4. LESGISLAÇÕES ESTADUAIS E MUNICIPAIS SOBRE VIOLÊNCIA
OBSTÉTRICA ........................................................................................................................... 51
14. LEI 11.108/2005 .................................................................................................................. 53
15. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 56
16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 58
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1. INTRODUÇÃO
O assunto é pouco falado, não há divulgação, no entanto, é uma prática de atos violentos,
agressivos, imprudentes ou negligentes, assim como omissões, que atentem contra a dignidade e
integridade da gestante, em trabalho de parto, ou no período puerperal.
Vale ressaltar que a dignidade é um princípio constitucional, elencado no inciso III do artigo
1º da Constituição Federal, que tem como objetivo assegurar à pessoa humana um mínimo de
direitos que devem ser respeitados pela sociedade e pelo Estado, preservando então, a liberdade
individual e a personalidade.
Logo, os casos de Violência Obstétrica variam desde práticas e métodos degradantes a saúde
da gestante, no parto e no pós-parto, podendo se exteriorizar de forma verbal, física, moral,
emocional e psicológica.
Ademais, existem alguns tipos de violências clássicas na história da medicina. Nesse sentido,
a tentativa de facilitar o parto é uma das maiores causas de Violência Obstétrica no mundo.
Assim, por muito tempo, houve uma naturalização de manobras evasivas, agressões às
mulheres no parto, mutilações na região da vulva, além do desrespeito ao corpo dessas pacientes.
Para situações como esta existem algumas convenções internacionais que são muito
importantes para embasar não só o conceito de Violência Obstétrica, como também a segurança e
proteção das mulheres.
Entretanto, elas parecem não ser muito conhecidas e necessariamente aplicadas aos casos
concretos, sendo elas a Declaração Sobre a Eliminação da Discriminação Contra Mulher (1967),
Convenção Sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher – CEDAW
(1979), Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher
(Convenção de Belém do Pará, 1994), e Declaração sobre a Erradicação da Violência Contra a
Mulher (1993).
O processo de parir é um dos momentos mais especiais da vida de uma mulher, onde ela tem
o direito de participar ativamente do mesmo. A mulher não pode ser excluída desse momento, ela
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tem o direito de opinar e resolver o que é melhor para ela, tendo assegurados seus direitos sexuais e
reprodutivos.
O presente trabalho visa analisar a Violência Obstétrica nos setores públicos e privados a luz
do direito brasileiro, violência essa, que já é tratada como uma questão de saúde pública, e que foi
se alastrando rapidamente na sociedade brasileira e em boa parte do mundo, vitimando mulheres e
recém-nascidos no momento tão delicado e especial do parto. Nessa perspectiva, objetiva-se em um
primeiro momento, uma explanação, conceitual e exemplificativa desse tipo de violência, pontuando
sobre o direito material violado ao viés da Constituição Federal, as garantias protecionistas das
vítimas, bem como dos direitos tutelados atingidos pela Violência Obstétrica.
Em seguida, pontuar sobre a responsabilidade dos agentes como o direito civil, o código de
defesa do consumidor e o próprio código de ética dos profissionais de saúde se debruçam sobre a
prática delituosa da Violência Obstétrica, assim como o entendimento dos tribunais superiores
brasileiros sobre o tema. Finalmente, verificar a possibilidade de responsabilização penal dos
agentes que comentem as práticas consideradas como violência obstétrica no ordenamento jurídico
brasileiro, haja vista os projetos de lei que tramitam há algum tempo no Congresso Nacional, tendo
como objetivo combater a Violência Obstétrica, seja por meio da implantação de políticas públicas,
quer seja pela sua criminalização. A construção metodológica utilizada valeu-se de pesquisas
bibliográficas ou descritivas, a partir de livros, artigos, dissertações, teses e pesquisas estatísticas.
Finalmente, diante da pesquisa feita, percebeu-se uma falha legislativa na proteção das vítimas de
violência obstétrica, uma vez que a inexistência de um tipo penal específico sobre o tema tem
provocado nas vítimas uma sensação de insegurança e impunibilidade.
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2. JUSTIFICATIVA
O assunto “Violência Obstétrica” foi escolhido para ser abordado, pois o tema ainda é pouco
discutido no Brasil, de forma que boa parcela da população desconhece seu conceito, abrangendo,
inclusive, muitas mulheres que já foram vítimas dessa violência e não têm conhecimento deste fato.
Temos o intuito de verificar a possibilidade de responsabilização penal dos agentes que comentem
as práticas consideradas como violência obstétrica no ordenamento jurídico brasileiro, por se tratar
de tema de relevância social e de conduta médica.
Esses tipos de conduta por parte de profissionais da saúde causam graves consequências tanto
no parto, como para além dele, haja visto os possíveis danos emocionais e psicológicos à mãe e ao
bebê. Houve uma evolução ao longo do tempo no processo de parir, mas ainda há muitas formas de
violência obstétrica sendo cometida pelos profissionais da saúde, a negação em aliviar a dor,
xingamentos, entre outros tipos de violência.
A Violência Obstétrica é um termo recente para falar de um tipo de agressão que há muito
tempo está no cotidiano da sociedade. Apesar de o termo ter sido criado em 2010, e ainda sofrer
represálias de diversos órgãos no mundo, a Violência Obstétrica é um mal que possui números
assustadores, sendo possível e viável a pesquisa que abordará a relação médico e paciente e
consequentemente a relação médico e vítima.
Os crescentes casos que viralizaram nas mídias sociais, casos estes de violência psicológica
e física sofrida por gestantes, além de um crescente volume de pesquisas sobre as experiências das
mulheres durante a gravidez, e em particular no parto, descreve um quadro preocupante no mundo
inteiro.
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3. CONTEXTO HISTÓRICO
A partir do século XVIII, o parto, que outrora era um evento adstrito às mulheres auxiliadas
por parteiras, passou a ser realizado por médicos na Inglaterra. Mulheres e filhos foram separados,
e a mulher passou a se adequar a parir em função da conveniência médica. Dessa forma, tal
incursão histórica desencadeou outros vários procedimentos para corrigir o corpo da mulher,
tratado como incapaz de parir autonomamente .
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4. VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
O parto é um tema importante nos estudos sociais, é um evento social, que envolve diversos
contextos e ações e por se tratar de um momento muito específico que se passa com as mulheres e
por meio de seus corpos. As experiências vividas pelas mulheres no parto podem ser positivas e
benéficas, ou negativas e com consequências por vezes severas. E ambas as experiências dependem
em grande medida da assistência prestada.
A gravidez é um momento muito especial para a mulher e seus familiares. É um período que
deve ser levado com muito cuidado e atenção. No entanto, muitas mulheres passam por experiências
traumáticas, que podem ocasionar em abalos emocionais e mentais, depressão, ansiedade,
dificuldade na vida sexual, entre diversos outros possíveis problemas.
A violência obstétrica não diz respeito apenas a uma agressão clara. Muitas vezes ela
acontece de forma sutil. Portanto, a melhor maneira de evitar esse tipo de situação, é saber o que é
violência obstétrica.
Dessa maneira, qualquer ato que faça a mulher sofrer desnecessariamente ou que lhe cause
algum dano, seja físico ou psicológico, é considerado uma violência obstétrica.
De acordo com a OMS, os casos de violência obstétrica no Brasil e no mundo são mais
comuns do que se pode imaginar. No mundo inteiro, muitas mulheres experimentam abusos,
desrespeito, maus-tratos e negligência durante a assistência ao parto nas instituições de saúde. Uma
a cada quatro mulheres são vítimas de violência obstétrica, de acordo com o estudo Mulheres
brasileiras e gênero nos espaços público e privado, realizado pela Fundação Perseu Abramo, em
2010.
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por diferentes pessoas, aceitando diversas situações incômodas sem reclamar. Segundo a OMS
(2014), gestantes do mundo todo sofrem abusos, desrespeito, negligência e maus-tratos durante o
parto nas instituições de saúde. Essas práticas podem ter consequências adversas para a mãe e para
o bebê, principalmente por se tratar de um momento de grande vulnerabilidade para a mulher.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) aponta que todas as mulheres têm direito a uma
assistência digna e respeitosa, durante todo o período de gestação e parto, independentemente da
classe social, ou nível educacional. Qualquer ato desrespeitoso, abuso ou maus tratos equivale a
uma violação dos direitos fundamentais das mulheres (OMS, 2014). De acordo com a Estumano V.
C.K. (2017), grande parte das mulheres não tem conhecimento de que estão sofrendo violência
obstétrica durante o parto, seu direito de escolha não é respeitado nem garantido, a mulher então
torna-se mais vulnerável, ficando expostas às intervenções do profissional.
Geralmente, as reportagens e notícias que são divulgadas nos jornais, são contando casos
isolados, tratando o assunto de modo superficial e raso, como se eles não fossem frequentes. Não
mostrando a realidade sobre essa violência que atinge as mulheres diariamente dentro dos hospitais
no momento do seu parto e do pós parto, é divulgado apenas os casos que ganham mais repercussão.
Os casos de Violência Obstétrica usualmente só são divulgados pela mídia, quando há uma prática
extrema de má conduta médica.
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5. OS MÉTODOS DA VIOLÊNCIA
De acordo com o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), uma das
formas mais vistas de violência obstétrica no Brasil são as realizações de cesarianas sem indicação
clínica. Nesses casos, são recorrentes as justificativas infundadas.
Embora não seja considerada um crime, a Violência Obstétrica fere os direitos da mulher,
pode e deve ser denunciada para que outras medidas sejam tomadas. Dessa maneira, qualquer ato
que faça a mulher sofrer desnecessariamente ou que lhe cause algum dano, é considerado uma
Violência Obstétrica.
Realizar episiotomia rotineira, que é quando no parto vaginal é realizado o “pique”, corte da
musculatura perineal da vagina até o ânus ou em direção à perna, com o objetivo de aumentar a área
de acesso do obstetra ao canal vaginal de parto, a prática é recomendável entre 10 a 25% dos casos;
O ponto do marido durante a sutura, onde é realizado um ponto mais apertado, que tem a
finalidade de deixar a vagina bem apertada para “preservar” o prazer masculino nas relações sexuais,
depois do parto;
O soro com ocitocina é utilizado para acelerar o trabalho de parto por conveniência médica,
fazendo com que aumente as contrações quando o parto não está evoluindo adequadamente, isso
ocasiona contrações dolorosas na mulher;
A Manobra de Kristeller consiste na aplicação de pressão sobre a parte superior do útero com
o objetivo de “facilitar” a saída do bebê. Além de não ser eficiente pode ocasionar danos a mulher
como fraturas na costela, hematomas e hemorragia e não só na mulher mais também no bebê;
A lavagem intestinal ou enema, era indicado antes do parto ou logo após a mulher entrar em
trabalho de parto, justamente para não ocorrer evacuação no momento do nascimento da criança.
Mas esse método já caiu em desuso por não ser necessário e muito menos recomendado;
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não acontece na realidade, muitas vezes o procedimento é realizado sem o consentimento da gestante
e sem necessidade;
Muitas mulheres são amarradas e obrigadas a ficarem deitadas durante o trabalho de parto,
porém para minimizar os incômodos das contrações, a mulher deve se movimentar e ficar na posição
em que se sente mais confortável para parir, algo que não lhes é permitido;
Não permitir que a mulher escolha sua posição de parto, obrigando-a a parir deitada com a
barriga para cima e pernas levantadas também um tipo de Violência Obstétrica, além da posição não
ser a mais recomendável, a escolha da posição do parto deve ser um direito de decisão da gestante,
pois a melhor posição é aquela em que a gestante se sinta confortável;
O exame de toque deve ser realizado por um médico ginecologista e/ou obstetra onde é
introduzido dois dedos, geralmente o indicador e o médio, no canal vaginal com o objetivo de tocar
o fundo do colo do útero. O exame de toque é sempre feito com luvas esterilizadas para não haver
risco de infecção. Muitas vezes a realização deste exame ocorre de maneira negligenciada, sendo
realizada por enfermeiros, de maneira errônea, aumentando o desconforto da gestante e em muitos
casos ocorrendo graves sangramentos e aumentando as chances de ser contraídas infecções durante
o parto;
Após o nascimento, é primordial que o contato “pele a pele”, da mãe com o seu bebê exista.
Em muitas situações, o bebê é simplesmente retirado da barriga e encaminhado para que seja
realizado os primeiros exames no recém-nascido. O contato pele a pele faz parte de um conjunto de
ações que possui este paradigma de cuidado. Olhar a mulher e o bebê como protagonistas de um
evento. Nesse sentido, o contato pele a pele é consequência do conjunto de práticas de cuidado que
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reverte a situação da mulher enquanto um objeto submetido a normas exteriores para uma mulher
vivenciando, em primeira pessoa, o seu parto e o nascimento do seu filho;
O parto deve ser realizado de acordo com a escolha da gestante, sendo respaldada pelo seu
obstetra, de acordo com seu estado de saúde, primeiramente, e seu direito de escolha. O parto
humanizado acontece quando a mulher não é submetida a violências, nenhum procedimento é
rotineiro, as intervenções acontecem somente quando necessárias e a mulher participa das decisões
em parceria com os profissionais que a assistem. A gestante não deve ser submetida a um
procedimento cirúrgico estando em plena condição de realizar um parto normal e não havendo risco
de morte a ele e ao bebê;
Deixar a gestante nua, exposta, sem amparo emocional, sem poder se comunicar com pessoas
próximas, isolada, com dor e sem nenhum apoio durante o trabalho de parto;
Recusar admissão da gestante em maternidade e/ou hospital, mesmo quando ela informa que
está com dor, alegando que a mulher não está em trabalho de parto e a mandando de volta para casa,
é infringir a lei 11.634/07, que dispõe sobre o direito da gestante ao conhecimento e a vinculação à
maternidade onde receberá assistência no âmbito do Sistema Único de Saúde;
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6. COMO A SOCIEDADE ENXERGA A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA
Através de uma pesquisa realizada de forma anônima na plataforma Google Forms, buscamos
entender como os cidadãos compreendem a Violência Obstétrica e qual o nível de conhecimento eles
possuem sobre o assunto.
Foi notado na pesquisa, que a maioria entende por violência obstétrica, a violência ocorrida
no momento do parto ou na gravidez, ou um tipo de procedimento especifico ocorrido no momento
do parto, como maus-tratos, falta de respeito, agressão física e psicológica.
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a enfermeira gritando, vem , vem logo , já tá chegando, e eu sem poder Andar
direito, enfim... foram algumas situações, seria muita história”.
“Eu já presenciei um caso com minha irmã mais nova. Ela chegou
quando iniciou o trabalho de parto, fizeram descaso por mais de 12 horas,
minha mãe só foi atendida porque estava quase tendo a criança no banheiro e
meu pai foi na diretoria do hospital São Paulo, para que fosse realizado o
parto imediatamente”.
“Eu durante uma cesárea do meu ultimo filho, o médico deixou resto
de placenta dentro de mim... quando voltei pra casa tive dores horríveis e
muitas secreções, fui ao pronto socorro próximo da minha casa os
profissionais falaram que era gases, fizeram o transvaginal mesmo assim não
identificaram, voltei no hospital onde ganhei meu filho depois do exame
identificaram q tinha resto de placenta....foi muito humilhante, profissionais
falaram que eu estava com manha!!”
Na pesquisa feita de forma verbal, conseguimos avaliar que a maioria das pessoas do gênero
masculino não possui nenhuma percepção sobre o assunto, a grande maioria não entende o que seria
a Violência Obstétrica, mesmo depois de uma breve explicação sobre o tema, eles ainda não
conseguem definir o que seria Violência Obstétrica.
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7. POR TRÁS DA CORTINA
Os critérios de seleção consistiram em: estarem publicados em blogs pessoais, elaborados por
pais e mães que desejaram compartilhar on-line suas experiências referentes à gestação, ao parto e à
parentalidade. Outro critério estabelecido foi que não fossem descritivos, mas transmitissem a
percepção e os sentimentos singulares de cada pessoa no momento do parto.
Foram selecionados somente relatos postados no período entre 2010 e 2017.A proibição da
entrada de acompanhantes vai contra a lei 11.108/2005, que garante às gestantes o direito à presença
de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato no sistema de saúde pública.
Mesmo assim é um ato que acontece de maneira comum, seja nos hospitais públicos, particulares ou
conveniados.
Entre os diversos casos relatados que ocorreram de episiotomia no Brasil, o famoso “pique”,
esses foram os que mais nos chamaram a atenção.
“Senti muita dor com uma manobra de ‘massagem perineal’ que foi feita
durante o parto e pedi para a médica tirar a mão dali. Ela respondeu ‘Quem manda
aqui sou eu’. Logo em seguida, foi feita uma episiotomia sem aviso. Até hoje tenho
sonhos e flashs dos momentos que passei na sala de parto, chorei muito, e até hoje,
choro porque dói dentro de mim, dói na alma.”. Elis Almeida, atendida no Hospital
da Mulher em Santo André-SP
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nessa vida de gado. [...]. Chorei muito, sentia dor, vergonha da minha perereca com
cicatriz, vergonha de estar ligando para isso, sentia medo, medo de não consegui mais
transar. Tenho pavor de cortes, tinha medo de que o corte abrisse quando fosse
transar. Demorei uns cinco meses para voltar a transar mais ou menos relaxada,
sentia dores, chorava quando começava, parava. Me sentia roubada, me tinham
roubado minha sexualidade, minha autoestima, me sentia castrada”. Jacqueline Fiuza
que foi atendida na rede pública na Casa de Parto São Sebastião em Brasília-DF
“Você não sabe nem se limpar direito”. É um dos comentários mais comuns de profissionais
que atendem mulheres que retornam ao serviço de saúde quando estão com a cicatriz da episiotomia
infeccionada.
“Num determinado momento da sutura, ele disse que ia dar dois pontos que
iam doer um pouco mais, depois comentou que era o “ponto do marido”. Perguntei a
ele o que era isso e ele disse que era um ponto que era dado para que “as coisas
voltassem a ser parecidas com o que era antes” e que, se eles não fizessem isso, depois
o marido voltava para reclamar. Como a referência ao marido é uma constante,
perguntamos se eles já viram um marido reclamar, ao que responderam que não, uma
vez que esse ponto era sempre feito.” (DINIZ)
Em hospitais escola, é comum ter várias pessoas juntas ou em sequência para realizar exame
de toque vaginal. A mulher não é informada dos nomes, da qualificação, da necessidade e riscos do
procedimento, ou mesmo das informações sobre a progressão do seu próprio trabalho de parto. Ela
também não é consultada a permitir ou negar o procedimento.
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8. CASO GIOVANNI QUINTELLA
Giovanni Quintella Bezerra, 31 anos, na época do crime, formado pela UniFOA - Centro
Universitário de Volta Redonda, tinha o sonho de ser médico anestesiologista desde criança. Chegou
a passar por cerca de 10 hospitais, no Rio de Janeiro, entre públicos e privados, e compartilhava sua
rotina hospitalar nas redes sociais.
Além de fotos com uniforme e colegas de trabalho, ele postava imagens de terno ou praticando
atividade física.
Em um dos posts nas redes sociais, Giovanni diz: “Vocês ainda vão ouvir falar de mim.
Esperem!”
Em julho de 2022 tornou-se de conhecimento público que o médico havia estuprado uma
paciente enquanto ela estava dopada para a realização de uma cesariana no Hospital da Mulher
Helonei da Studartem Vilar dos Teles, São João de Meriti, município na Baixada Fluminense.
Após o flagrante, o médico foi preso, e qual foi sua surpresa ao ser informado de que era pelo
crime de estupro que ele estava sendo preso - e ao tomar conhecimento de que tinha sido gravado
abusando da paciente. “Há um vídeo?”, foi tudo o que questionou.
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abriga presos de nível superior, o médico anestesista ficou em uma cela sozinho. Um dia após ser
detido, a prisão em flagrante do anestesista foi convertida em preventiva, durante audiência de
custódia na Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica.
Cinco dias antes, o anestesista virou réu pelo mesmo crime, em decisão do juiz Luís Gustavo
Vasques, também da 2ª Vara Criminal de São João de Meriti, que recebeu denúncia do Ministério
Público do Rio de Janeiro (MPRJ) contra o médico.
Os promotores apontaram na denúncia que “o crime foi cometido contra mulher grávida e
com violação do dever inerente à profissão”. O Ministério Público pediu ainda que fosse decretado
sigilo no processo, para preservar e resguardar a imagem da vítima.
Os promotores, que ofereceram a denúncia, entenderam que Giovanni Quintella Bezerra agiu
de forma livre e consciente. “Com vontade de satisfazer a sua lascívia, praticou atos libidinosos
diversos da conjunção carnal com a vítima, parturiente impossibilitada de oferecer resistência em
razão da sedação anestésica ministrada”, indicaram.
Em novembro de 2022 foi negado, pela justiça do Rio de Janeiro, o pedido de liberdade para
Giovanni. A decisão foi do juiz Carlos Marcio da Costa Cortazio Corrêa, da 2ª Vara Criminal de São
João de Meriti, na Baixada Fluminense.
Durante a primeira audiência de instrução o advogado da vítima afirmou que iria buscar a
condenação pelo crime de estupro de vulnerável com pena máxima para o réu, que é de 15 anos de
reclusão.
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Em 28 de março de 2023, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro
(Cremerj) cassou de forma definitiva o registro de Giovanni Quintella Bezerra. A sentença foi
determinada, por unanimidade, durante plenária de julgamento. Com esta decisão, o anestesista fica
totalmente impedido de exercer a medicina no Brasil.
No início de maio de 2023, foi retomada a audiência de instrução e julgamento, do agora ex-
anestesista. A sessão ocorreu na 2ª Vara Criminal de São João de Meriti, na Baixada Fluminense,
onde foram ouvidas testemunhas. O juiz Carlos Marcio da Costa Cortazio Corrêa, determinou que
Quintella participasse da audiência por videoconferência da Cadeia Pública Pedrolino Werling de
Oliveira, conhecida também como Bangu 8, onde está preso desde o flagrante do crime. O caso
tramita em segredo de justiça.
Observando o caso, podemos notar o seguinte tipo de Violência Obstétrica: física, notada no
momento em que o médico abusa da vitima enquanto ela estava em trabalho de parto, o caso além de
ser considerado como violência obstétrica, também é considerado como estupro de vulnerável,
levando em conta o momento e o ocorrido.
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9. CASO KLARA CASTANHO
Ainda criança, Klara iniciou sua carreira como atriz, participando de séries no canal GNT e
em novelas da tv aberta, no SBT e Rede Globo, respectivamente.
Klara manteve ao longo dos anos uma carreira sólida, se tornando protagonista de filmes do
serviço de streaming Netflix, onde também ganhou destaque ao participar da adaptação literária “Bom
dia, Verônica”.
Na segunda temporada da série, Klara vive a personagem Ângela, que mantém uma relação
“estranha” com seu pai Matias, vivido pelo ator Reynaldo Gianecchini. Ao longo dos episódios
descobrimos que a personagem sofre abuso sexual de seu próprio pai.
O que veio à tona pouco antes de sua estreia, foi que durante as gravações da série, a atriz foi
vítima do mesmo crime sofrido por sua personagem. Em meio a boatos nas mídias socias, a atriz
Klara Castanho, com então 21 anos, veio a público relatar que sofreu um estupro.
Em 25 de junho de 2022, após ter sido exposta num vídeo da apresentadora Antônia Fontenelle
e, posteriormente, numa coluna de Léo Dias no portal Metrópoles, a atriz afirmou em uma rede social
que foi vítima de um estupro, e que desse crime, acabou engravidando. Na mesma publicação, a atriz
confirmou que havia entregado a criança à adoção ainda no hospital e esse fato foi tornado público
pela enfermeira que a atendeu. Klara considerou a exposição do caso como "uma violência" e
classificou o comportamento de profissionais envolvidos no caso como antiético e desrespeitoso.
Diante da repercussão, o portal Metrópolis publicou uma nota de desculpas à atriz e removeu a
matéria da coluna de Léo Dias.
Em investigação feita pelo programa da Rede Globo, Fantástico, foi revelado que o jornalista
Matheus Baldi foi o primeiro a expô-la em um post realizado no dia 24 de maio do mesmo ano. Após
ser contatado pela equipe de Klara, Matheus apagou sua postagem e posteriormente pediu desculpas
e disse que não sabia do estupro quando publicou a informação.
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O hospital onde foi realizado o parto publicou uma nota solidarizando-se com a atriz e seus
familiares, e afirmando que iria abrir uma sindicância interna para apurar as responsabilidades pelo
ocorrido. O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) também publicou uma nota em
solidariedade à atriz e que iria apurar os fatos, afirmando que após ter sido vítima de violência sexual,
Klara teve o seu direito à privacidade violado durante o processo de entrega voluntária para adoção,
conforme assegura o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A entidade afirmou ainda que iria
tomar todas as providências cabíveis para identificar os responsáveis pelo vazamento das informações
sigilosas.
Após grande repercussão do caso, em 26 de junho de 2022, Klara publicou uma carta aberta
em seu Instagram, onde conta detalhadamente a violência sofrida, de maneira a tentar esclarecer e
mostrar ao público a sua verdade.
No início de seu relato Klara diz “Pensei que levaria essa dor e esse peso somente comigo.
(...) É algo que me apavora e remexe dores profundas e recentes”. A atriz menciona que não poderia
se calar após ver pessoas conspirando e criando versões sobre a violência que ela sofreu, o estupro.
Ao longo da carta Klara assume que não registrou um boletim de ocorrência por sentir vergonha e
culpa. Apenas sua família sabia o que tinha acontecido.
Klara conta que meses depois do estupro começou a se sentir mal e ao realizar uma tomografia,
que foi interrompida às pressas, foi informada que gerava um feto em seu útero. A gestação já estava
em seu final quando Klara tomou conhecimento dela. Seu ciclo menstrual e seu corpo estavam
normais. Não houve ganho de peso ou barriga.
Em consulta médica Klara contou que havia sido estuprada. No entanto, a postura do
profissional que a atendeu se tornou uma outra violência. “O médico não teve nenhuma empatia por
mim. Eu não era uma mulher que estava grávida por vontade e desejo, eu tinha sofrido uma violência.
E mesmo assim esse profissional me obrigou a ouvir o coração da criança, disse que 50% do DNA
eram meus e que eu seria obrigada a amá-lo. Essa foi mais uma da série de violências que
aconteceram comigo”.
Klara revelou que da descoberta da gestação ao parto se passaram poucos dias. Por não ter
condições psicológicas de ficar com a criança, Klara, assistida por uma advogada, tomou a decisão
de entregar a criança para adoção. “Passei por todos os trâmites: psicóloga, ministério público, juíza,
audiência – todas as etapas obrigatórias. Um processo que, pela própria lei, garante sigilo para mim
e para a criança”.
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No dia do parto, ainda anestesiada do pós-parto, Klara foi abortada por uma enfermeira que
estava na sala de cirurgia. Ela fez perguntas e ameaçou: “Imagina se tal colunista descobre essa
história?” Sobre isso a atriz dela: “Eu estava dentro de um hospital, um lugar que era para
supostamente me acolher e proteger. Quando cheguei ao quarto já havia mensagens do colunista,
com todas as informações. Ele só não sabia do estupro”.
Klara revela que conversou com o colunista, explicou o que tinha acontecido. Segundo a atriz
a conversa foi finalizada com o colunista prometendo não publicar a notícia. Outros jornalistas
também entraram em contato questionando a atriz sobre uma suposta gravidez. O fato de outros
saberem só mostrou que os profissionais não foram éticos, não respeitando nem a Klara, nem a
criança.
Pelo fato de o ocorrido ter se tornado público Klara se sentiu obrigada a expor sua dor. Cada
passo foi documentado de acordo com a lei, garante a atriz. Ela ainda ressalta que tudo o que fez foi
para resguardar a criança, que merece uma família amorosa e não saber que foi fruto de uma violência
tão cruel.
Klara encerra sua carta aberta dizendo: “Como mulher, eu fui violentada primeiramente por
um homem e, agora, sou reiteradamente violentada por tantas outras pessoas que me julgam. Ter
que me pronunciar sobre um assunto tão íntimo e doloroso me faz ter que continuar vivendo essa
angústia que carrego todos os dias”.
Além da violência psicológica, a atriz também foi questionada sobre a veracidade de seu
relato.
Klara Castanho luta na Justiça para ser indenizada pelo dano moral causado. Para ela, o pedido
de desculpas não foi o suficiente. E agora move um processo contra os responsáveis pela difamação.
Antônia Fontenelle disse que “uma atriz global de 21 anos teria engravidado e doado a
criança para adoção”. “Ela não quis olhar para o rosto da criança”, afirmou, desrespeitando Klara.
“Essa menina tá alegando pra gente que ela foi vítima de abuso, que essa criança é vítima de
um abuso. Eu, eu não posso afirmar, essa parte eu não sei, tá gente? Porém, eu não acredito na
história do abuso, gente. A história que chegou para mim primeiro foi que essa menina teve relações
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com um homem aí que é comprometido, casado, não sei. Uma figura pública também muito
conhecida que jamais assumiria essa criança. Essa é a história que chegou pra mim”, disse a
youtuber Dri Paz.
Além do processo, Leo Dias está sendo investigado pelo Conselho de Ética do Sindicato dos
Jornalistas do Distrito Federal.
“São fortes as evidências de que o colunista feriu o Código de Ética do Jornalista Brasileiro.
Pela gravidade do caso, a Diretoria Executiva e a Comissão de Mulheres da Fenaj vão encaminhar
denúncia contra o jornalista à Comissão de Ética do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal,
que deverá apurar o caso, dando amplo direito de defesa ao profissional”, diz trecho da nota
divulgada pelo órgão.
Em março de 2023, Klara participou do programa da Rede Globo, Altas Horas, onde afirmou
que denunciou todos os crimes ao qual foi submetida.
“Depois que eu vim a público, de novo, de forma forçada, eu denunciei todos os crimes aos
quais eu fui submetida. Todos. Sem nenhuma exceção. E o que me resta nesse momento, e ainda bem,
é confiar na Justiça. E eu confio muito. Não só na Justiça daqui, mas numa justiça muito maior. Eu
fiz o que eu podia, como podia, o que meu psicológico podia aguentar, e pode”, reforçou.
O caso de Klara está inspirando um projeto de lei estadual em São Paulo. A deputada estadual
Erica Malunguinho protocolou o projeto em 27 de junho de 2022, na Assembleia Legislativa de São
Paulo, visando garantir o sigilo para grávidas – mulheres cis e homens trans – que optem por entregar
a tutela do bebê de forma legal para terceiros.
Um dos artigos ainda exige que “a pessoa gestante que optar por fazer a entrega direta do
bebê para adoção deverá ser tratada com cordialidade pelos profissionais que lhe atenderem, sem
que sua decisão seja confrontada a qualquer tempo”.
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“Embora o sigilo seja garantido por lei, não há responsabilização administrativa estipulada
em caso da sua eventual quebra”, escreveu Malunguinho no Twitter.
Ela também informou que o projeto faz parte de ação conjunta no âmbito nacional, numa
proposta que inclui outras assembleias estaduais ao redor do país.
A deputada pretende batizar a lei com o nome da atriz, mas apenas se Klara Castanho aprovar
a ideia.
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10. CASO SHANTAL VERDELHO
Em setembro de 2021, a influenciadora Shantal Verdelho, ao dar à luz a sua filha mais nova,
Domênica, esperava um parto humanizado, porém a realidade foi totalmente diferente. A
influenciadora foi submetida a momentos e procedimentos totalmente invasivos, ofensivos e
humilhantes, por parte do médico obstetra, Renato Kalil. Durante o parto, realizou diversas atitudes
completamente em desacordo com uma conduta ética, proferindo xingamentos como “mimadinha”,
“teimosa”, “seu útero é uma porcaria”.
Além de proferir violências verbais e psicológicas, executar puxos dirigidos com extrema
ofensa, que seriam a prática de pedir para a mulher fazer força e empurrar no momento do expulsivo,
quando o bebê está prestes a nascer, a recomendação é que nenhum tipo de “força, força” seja dito,
nem com outras palavras, por exemplo, “isso, isso mesmo, tá perfeito”. O médico também manteve
a paciente, para seu próprio conforto, em posição ginecológica não indicada, manipulou
confessamente o períneo dela. Tais práticas são classificadas pela Organização Mundial de Saúde
como categoria B, ou seja, claramente prejudiciais ou ineficazes, que devem ser eliminadas do
processo de parto. O processo segue em segredo de justiça, e Renato Kalil não teve sua licença
cassada.
Voltado ao dia em que ocorreu a denúncia, no dia 31/01/2022 a Justiça de São Paulo rejeitou
a denúncia do Ministério Público contra o médico obstetra Renato Kalil acusado de violência
obstétrica durante o parto da segunda filha da influenciadora Shantal Verdelho, Domênica, ocorrido
em setembro de 2021.
O autor da decisão é o juiz da 25ª Vara Criminal de São Paulo, Carlos Alberto Corrêa de
Almeida Oliveira. Na decisão, ele afirmou que não foram apresentadas provas de que tenha havido
erro médico ou procedimento inadequado no parto.
O médico Renato Kalil foi acusado do crime de lesão corporal leve, uma vez que a violência
obstétrica não está tipificada na legislação brasileira como um delito. A denúncia foi apresentada no
dia 25 de outubro de 2022 pelas promotoras de Justiça Fabiana Dal Mas e Silvia Chakian.
Shantal fez exames de corpo de delito e, na análise do magistrado, "não foi constatado erro
médico ou procedimento inadequado por parte do médico e que por si só tenham causado as lesões".
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Durante o trabalho de parto, a influenciadora afirma que, diante da sua recusa em fazer
episiotomia — corte realizado entre o ânus e a vagina para facilitar a passagem do bebê em partos
normais difíceis, que pode ser considerado uma violência quando feito sem indicação — Kalil teria
então realizado a manobra de Kristeller, método no qual o médico faz pressão sobre a parte superior
da barriga da gestante. O médico nega.
O juiz Carlos Alberto Corrêa de Almeida Oliveira avaliou que deveria estar evidente o "nexo
causal entre a suposta manobra de Kristeller e as lesões verificadas na vítima, o que não foi
estabelecido pelos senhores peritos. "Observa-se que foram três médicos que analisaram a conduta
do investigado e o nexo causal não foi estabelecido", destacou o magistrado. "Não há a demonstração
de um nexo causal entre os ferimentos físicos sofridos pela vítima", disse Oliveira.
Sobre as expressões utilizadas durante o trabalho de parto, o juiz entendeu que o acusado não
teve intenção de causar sofrimento a Shantal: "Não se verifica o ânimo (dolo) do investigado de
causar sofrimento moral ou humilhações na pessoa da vítima com os palavrões proferidos".
Segundo ele, "o parto da filha da vítima foi uma situação tensa, demorada e complicada pelo
que pode ser observado nas filmagens, com muito sofrimento físico por parte da parturiente".
A influenciadora Shantal usou suas redes sociais no dia 01/11/2022, para comentar a decisão.
Ela diz que no parto "teve quase tudo que se define como violência obstétrica" e que o exame de
corpo de delito foi realizado meses depois.
"O juiz só olhou esse laudo. É claro que não iam encontrar nada lá. A minha ficha só caiu
quando eu vi o vídeo do meu parto", disse Shantal, ao explicar a demora em fazer os exames.
Ela também menciona fotos, vídeos e gravações de áudio que, na sua avaliação, não foram
ponderados por Oliveira.
Depois que o caso de Shantal veio a público, o Ministério Público recebeu outras denúncias a
respeito do médico, tanto de outras situações de violência obstétrica quanto de crimes sexuais. Ele
também é investigado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo.
A Promotoria recorreu ainda no dia 31 de outubro da decisão que rejeitou a denúncia contra
Kalil.
O advogado Celso Vilardi, que defende o médico Renato Kalil, afirma que a decisão que
rejeitou a denúncia é "irretocável" e que o magistrado "apreciou devidamente todas as questões".
Tirando como conclusões do caso citado acima, podemos ver claramente os seguintes tipos de
Violência Obstétrica: verbal, citadas nos momentos em que Shantal estava em trabalho de parto e o
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obstetra se dirigiu a ela durante todo o parto com palavras de baixo calão e física, notada no momento
em que o médico realiza a manobra de Kristeller quando a vítima recusa a episiotomia.
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11. A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA SEGUNDO O JUDICIÁRIO
BRASILEIRO
O tema abordado até aqui nos leva ao estudo sobre o estado da legislação no Brasil em torno
da Violência Obstétrica, assim como a gravidade e importância de uma questão que exige das
autoridades executivas e legislativas um avanço, para que o judiciário possa de fato oferecer um apoio
adequado e na medida da proporção daquelas que viveram e vivem o problema.
Este projeto propõe uma análise das leis e projetos de lei estaduais e municipais que possam,
em alguma medida, dar conta da questão. Assim, é possível medir o quanto há demandas legislativas
em torno do tema.
Sendo assim, inúmeras mulheres passam por práticas desrespeitosas em qualquer fase do
período gestacional, acarretando a violação de diversos direitos humanos, além de traumas físicos e
psicológicos.
Desta forma, o objetivo dessa pesquisa é analisar a falta de legislação específica sobre a
Violência Obstétrica, e ainda apontar possíveis prescrições e diagnósticos, que possam vir a auxiliar
a construção de uma legislação mais adequada, visto o cenário precário no Brasil ao tratar do assunto,
vez que a Violência Obstétrica não rege de leis específicas e tão somente é tratada por analogia no
direito civil e penal, não tipificando especificamente essa conduta.
Sabe-se que a Venezuela se tornou o primeiro país latino-americano a tratar e conceituar sobre
o tema, pois reconheceu a Violência Obstétrica como um problema político, público e social. Deste
modo o país promulgou a primeira lei tratando sobre Violência Obstétrica no ano de 2007. O país
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definiu como violência obstétrica todo o tratamento desumano das mulheres no período gestacional,
perda da autonomia feminina, impossibilidade de tomar decisões sobre o próprio corpo, uso abusivo
de medicação, apropriação do corpo e a conversão do processo natural de patologia.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou uma declaração oficial sobre a prevenção
e eliminação diante da Violência Obstétrica nas instituições de saúde do mundo inteiro, tratando do
tema da seguinte maneira:
No mundo inteiro, muitas mulheres sofrem abusos, desrespeito e maus-tratos durante o parto
nas instituições de saúde. Tal tratamento não apenas viola os direitos das mulheres ao cuidado
respeitoso, mas também ameaça o direito à vida, à saúde, à integridade física e à não-discriminação.
Esta declaração convoca maior ação, diálogo, pesquisa e mobilização sobre este importante tema de
saúde pública e direitos humanos. (OMS, 2014, p.1). A manifestação da OMS acerca do tema foi
traduzida em apenas cinco línguas, no entanto, dentre elas a língua portuguesa.
O relatório de Direitos Humanos no Brasil 2013, da rede social de justiça e direitos humanos
definiu Violência Obstétrica da seguinte maneira:
A Violência Obstétrica não deve ser associada tão somente a violência física, ou seja, aquela
que deixa marcas à mostra no corpo de suas vítimas. Vale salientar que todos os tipos de desrespeitos,
abuso, ofensas verbais, negligências, e as demais descriminalizações que afligem os direitos humanos
das mulheres no momento gestacional também são consideradas Violência Obstétrica.
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No Brasil, entre as décadas de 1980 e 1990, defensores dos direitos humanos e profissionais
da saúde, junto com alguns movimentos feministas, tentaram chamar a atenção sobre o tema. No
entanto, durante todo esse tempo o assunto foi basicamente ignorado. Durante muito tempo a
obstetrícia era sinônima de ‘arte de fazer partos’ e se resumia nas técnicas extrativas e cirúrgicas.
Houve uma grande mudança e hoje em dia considera-se obstetrícia a ‘especialidade médica
eminentemente clínica, com término cirúrgico, que se ocupa com os períodos pré-concepcional e
gestacional, com o parto e o puerpério’. (ZUGAIB,2012,p. 4).
Os direitos sexuais reprodutivos, somente foram ser reconhecidos como direitos humanos
após a revolução feminista que ocorreu na década de 1970, que por consequência ganhou uma
significativa construção histórica. No entanto, seu conhecimento público foi somente após a
Conferência Internacional de População e Desenvolvimento.
ACIPD propôs metas para os países presentes. Portanto, ficou decidido que seus países
signatários deveriam primeiramente reduzir a taxa de mortalidade infantil e materna, garantindo o
acesso à educação principalmente para as meninas junto com o acesso universal de saúde reprodutiva,
incluindo o planejamento familiar.
O Brasil também esteve presente na CIPD e por isso realizou as imposições previstas por essa
conferência, visto que começou desenvolver normas de educação e saúde pública por meio de
políticas pública.
A terceira meta imposta pela CIPD (acesso sobre o planejamento familiar) essa é prevista até
mesmo pela Constituição Federal, pelo § 7º, do artigo 226, que prevê:
Art. 2º Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o conjunto
de ações de regulação da fecundidade que garanta direitos iguais de constituição,
limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal.(BRASIL;
1996).
As previsões legais no ordenamento jurídico brasileiro foram fundamentais ao que versa sobre
o combate dos direitos humanos das mulheres.
Vale esclarecer que a CIPD, não foi a única conferência que o Brasil foi signatário sobre o
tema, sendo que o ordenamento jurídico também aderiu e recepcionou outros tratados e convenções
internacionais que tratam acerca da proteção e combate da violência da mulher e gênero.
A Convenção de Belém do Pará foi um marco histórico e importante ao que pese sobre o
direito das mulheres, pois esse foi o primeiro Tratado Internacional que reconheceu a violência contra
a mulher como um problema.
Neste sentido, a Convenção do Belém do Pará em seu art. 1º conceitua a violência contra a
mulher da seguinte forma:
“[...] entender-se-á por violência contra a mulher qualquer ato ou conduta baseada no gênero,
que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública
como na esfera privada.” (BRASIL, DECRETO Nº 1.973,1996, on-line).
No mês de setembro do ano 2000, em Nova Iorque, Estados Unidos, aconteceu a reunião com
o maior número dos dirigentes mundiais da história da humanidade, qual reuniu 189 países-membros,
que se juntaram para refletir sobre o destino comum da humanidade, e estes afirmaram a declaração
do objetivo do milênio.
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O objetivo do milênio foi um importante marco ao tratar de Violência Obstétrica, para
estabelecer o combate das mulheres à violência doméstica e o atendimento as mulheres nos casos de
abortamento, sendo que a complicações advindas de abortos clandestinos é uma das principais causas
de mortes de mulheres no Brasil.
Apesar da chamada de atenção dos movimentos sociais, como o feminismo, por meio das
redes sociais, e ainda que o Brasil seja signatário de tratados internacionais que buscam combater a
violência contra a mulher e realizar projetos de políticas públicas, o ordenamento jurídico brasileiro
é arcaico ao tratar do tema, pois inexiste legislação especifica ao tipificar a Violência Obstétrica como
conduta criminosa.
A Violência Obstétrica não é regulada pela Constituição Federal de 1988 (Constituição que
rege o país), mesmo garantindo à mulher os mesmos direitos e deveres dado ao homem, e apesar da
mulher ter conquistado seu espaço diante da sociedade, ainda é vítima das mais variadas formas de
violência.
Vale esclarecer que a Violência Obstétrica quando praticada fere alguns princípios
constitucionais, pois a Constituição de 1988 elenca um rol de direitos e garantias fundamentais para
qualquer cidadão. Todavia alguns desses direitos são desrespeitados no período gestacional, sendo
eles:
1) direito a saúde;
2) direito a maternidade;
3) direito a dignidade;
4) direito à privacidade.
O direito à saúde está garantido nos artigos 196 a 200 da Constituição Federal, sendo que o
artigo 196 dispõe:
Dessa forma, entende-se que o direito à saúde é um direito fundamental de cunho social.
Entende-se da leitura do artigo 196 que é obrigação do Estado à garantia de um serviço de saúde que
atenda à população indistintamente.
O art. 197 da Constituição Federal, importou em tratar da importância das políticas públicas:
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Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao
Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e
controle, devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e,
também, por pessoa física ou jurídica de direito privado. (BRASIL, Constituição
Federal, 1988, on-line).
Outro direito garantido pela Constituição Federal é o direito a dignidade humana, sendo que
a Carta Magna prevê em seu art. 1º inciso II, que República Federativa é constituída no Estado
Democrático de Direito, tendo como um dos seus fundamentos a dignidade da pessoa humana.
A dignidade humana traz suporte para todo ordenamento jurídico brasileiro, esta é o princípio
matriz da Constituição.
Desta forma, percebe-se que o princípio da dignidade humana é bastante expansivo, tornando-
se o principal princípio pelo qual a República Federativa Brasileira rege.
Ferir o princípio da dignidade do ser humano significa afrontar contra o alicerce do sistema
normativo brasileiro. Dentro do princípio da dignidade da pessoa humana entende-se que a dignidade
da mulher ante aos cuidados obstétricos também deve ser garantida.
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12. A JURISPRUDÊNCIA E OS PROJETOS DE LEI
Em 29 de maio de 2014, o Projeto de lei 7633/2014, de autoria do deputado Jean Wyllys, que
dispõe sobre as diretrizes e os princípios inerentes aos direitos da mulher durante a gestação, pré-
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parto e puerpério e a erradicação da violência obstétrica. O projeto estabelece que é direito de toda
mulher receber atendimento humanizado durante a gestação, pré-parto, parto e puerpério, incluindo
as situações de abortamento, independentemente de ser atendida da rede pública ou privada de saúde.
O projeto traz um rol de práticas consideradas como ofensas verbais ou físicas, tais como tratar
a gestante ou parturiente de forma hostil, humilhar a mulher por características físicas ou
comportamentos que expressem seus sentimentos e torna obrigatória a elaboração do plano de parto.
Com o intuito de esclarecer o projeto o Deputado-autor publicou em seu sitio pessoal uma
cartilha explicando sobre o parto humanizado e assim definiu:
Também o projeto de Lei Parto Humanizado traz e se preocupa com as questões acerca de
violência obstétrica, deste modo a cartilha explicativa expõe:
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“Apesar da existência de regulamentações técnicas do Governo Federal
acerca do funcionamento dos serviços de atenção obstétrica e o neonatal, aplicáveis
aos serviços de saúde no país que exercem atividades de atenção obstétrica e neonatal,
sejam públicos, privados, civis ou militares, o cenário de violência obstétrica mostra-
se constante, ao passo que o bom atendimento obstétrico é considerado raro e não faz
parte da rotina da assistência ao parto”. (WILLYS, s/d, p.07)
Ademais continua:
“Pela relevância do tema que trata dores, traumas, vidas e mortes, contamos
com o apoio da sociedade para aprovar esse fundamental projeto (feito em parceria
com a Artêmis com o apoio da Associação Brasileira de Enfermagem, do Conselho
Regional de Enfermagem e do Fórum Cearense de Mulheres e da Associação
Brasileira de Obstetrizes e Enfermeiras Obstetras e Neonatais- Secção Ceará), que
pode transformar o jeito de parir e nascer no Brasil. A humanização do parto é
questão de dignidade e saúde pública!” (WILLYS, s/d, p.07,).
Na justificativa deste projeto de lei, o deputado utilizou dados usados na pesquisa divulgada
pela Fundação Perseu Abramo – SESC sobre “Mulheres Brasileiras e Gênero nos Espaços Público e
Privado”, visto que pesquisa coletou as seguintes informações:
Pesquisa divulgada pela Fundação Perseu Abramo – SESC sobre “Mulheres Brasileiras e
Gênero nos Espaços Público e Privado” revelou inúmeras queixas em relação aos procedimentos
dolorosos realizados pelos profissionais de saúde antes, durante e após o parto, sem consentimento
da gestante e/ou sem a prestação das devidas informações. As denúncias vão desde a falta de
analgesia, passando por negligência médica, até diversas formas de violência contra as parturientes.
Essa pesquisa também revelou que 25% das mulheres entrevistadas sofreram algum tipo de agressão
durante a gestação, em consultas pré-natais ou durante o parto. O assunto teve ainda mais repercussão
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quando várias mulheres, ao terem acesso aos dados da pesquisa, confirmaram ter passado por situação
semelhante durante o parto de seu (s) filho (s). (WILLYS apud VENTURI; DIAS; FIGUEIREDO,
2010, p.3).
Outra questão que importa esclarecer é que muitas vezes as críticas do Projeto de Lei do Parto
Humanizado giram em torno que seu intuito é acabar com a prática da cirurgia cesariana e por isso o
autor do projeto explica:
Desta forma, não restam dúvidas que o Projeto de Lei Federal apresentado pelo Deputado Jean
Willys pode ser um grande avanço na legislação brasileira para garantir as mulheres tratamento
adequado e humanizado em todo o período gestacional, visto que este garante todas as informações
e tratamentos adequados, na medida em que vontade da gestante vai prevalecer.
Como podemos observar ao longo deste trabalho, muitos casos de violência obstétrica
ocorrem pela falta de informação e por procedimentos desnecessários. O Projeto de Lei do Parto
Humanizado tem como o principal intuito sanar esses problemas e garantir total respeito para mãe e
para o bebê, acabando com as práticas de violências nestes momentos, fazendo com que a gestante e
o nascituro sejam vistos como indivíduos.
O Projeto de Lei ainda não foi aprovado, expondo deste modo a falta de celeridade no âmbito
legislativo sobre o tema, pois o projeto encontra-se em fase de tramitação desde 2014.
Tramita também na Câmara dos Deputados o PL 8219/2017, que “dispõe sobre a violência
obstétrica praticada por médicos e/ou profissionais de saúde contra mulheres em trabalho de parto ou
logo após". (Brasil, 2017)
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O projeto traz um rol com nove práticas que podem ser consideradas como violência
obstétrica, dentre as quais citamos o impedimento à presença do acompanhante, a realização de
cesariana sem o consentimento da mulher e a ofensa à mulher em razão de características físicas ou
sociais. Para tais atos, o projeto prevê a pena de detenção de seis meses a dois anos e multa.
Apesar de trazer a previsão das penas a serem aplicadas, a lei se limita ao âmbito penal, não
havendo a previsão acerca de penalidades civis ou administrativas. Além disso, não se preocupa em
criar mecanismos de conscientização e erradicação da violência obstétrica, tão pouco com a melhora
na qualidade do atendimento às gestantes e aos bebês.
O projeto prevê que em caso de descumprimento do disposto no artigo 1º, deverá incidir as
penas previstas no Art. 146 do Código Penal, o qual prevê que:
41
representante legal, se justificada por iminente perigo de vida; II – a coação exercida
para impedir suicídio.
Porém, o projeto possui uma lacuna ao não dispor sobre a adoção de medidas para a
humanização da assistência ao parto e nem para evitar que a violência obstétrica se concretize. Além
disso, não há uma delimitação clara a respeito de quais condutas podem ser enquadradas como
violência obstétrica, o que dificulta sua aplicabilidade. Também não há menção sobre a
responsabilidade civil ou administrativa dos envolvidos.
Art. 1º. A presente Lei tem por objeto a adoção de medidas de proteção contra
Violência Obstétrica e divulgação de boas práticas para a atenção à gravidez, parto,
nascimento, abortamento e puerpério. (BRASIL, Projeto de Lei nº 7867/17, 2017,
p.02)
Observamos que em primeiro momento, existe tão somente leis Estaduais e Municipais para
combater a prática de atos considerados Violência Obstétrica, tornando assim, o Projeto de Lei
Federal apresentado pela Deputada Federal um progresso enorme para a legislação brasileira.
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Na Justifica de seu projeto de Lei a Deputada ressalta:
“Por acreditarmos que a Violência Obstétrica é um conceito muito amplo, achamos importante
categorizar todos os procedimentos, físicos ou não, aos quais as mulheres são submetidas na gestação,
trabalho de parto, parto, pós-parto e abortamento em descordo com os princípios da humanização e
da medicina baseada em evidências”. (BRASIL, Projeto de Lei nº 7867/17, 2017, p.05).
“Prossegue pontuando que a Violência Obstétrica pode conter, em sua manifestação (havendo
a necessidade, portanto, de considerar cada caso individualmente), os tipos de violência física e
sexual, no caso de uma episiotomia consentida, por exemplo, ou física, sexual e psicológica, se não
houver consentimento da mulher em submeter-se ao procedimento”.
O Projeto de Lei Federal que dispõe a proteção contra a Violência Obstétrica encontra-se em
tramitação prioritária no plenário legislativo e está apenso ao Projeto de Lei Federal sobre o Parto
Humanizado (nº 7.633/2014), pois tratam de matérias correlatas.
Desta forma, não resta dúvidas que a preocupação em sanar as práticas abusivas que
caracterizam a Violência Obstétrica tem chamado atenção da sociedade brasileira e do poder
legislativo. Na última década o assunto sequer era mencionado ou conhecido pelas pessoas e até
mesmo pelas vítimas que sofreram atos abusivos, pois muitas mulheres acreditam que determinadas
práticas violentas são “normais” no momento de parturição.
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As mudanças ao que se referem os direitos das mulheres precisam ser reconhecidas e
concretizadas, pois o Projeto de Lei Federal sobre Violência Obstétrica ainda não foi aprovado.
Portanto, contemplamos que o avanço dos direitos femininos já começou, mas a luta não
acabou.
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13. A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA E AS ESFERAS JUDICIÁRIAS
O Código Penal trás diversos crimes que podem ser cometidos pelos agentes de saúde ao que
tangue à Violência Obstétrica: homicídio, lesão corporal, constrangimento ilegal, ameaça, maus-
tratos, calúnia, difamação e injúria, são alguns exemplos.
Nesse caso, considera-se o dolo não apenas a intenção de causar dano (dolo direto), mas ainda
as condutas em que o agente não quero resultado morte, mas assume o risco de produzi-lo (dolo
eventual). Na prática médica, o dolo eventual é caracterizado quando há imprudência e negligência
que são condutas graves, e, portanto, não pode ser aplicada a pena reduzida do crime culposo.
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(TJ/RS, Apelação crime nº:70053392767, Relatora: DE S.ª Lizete Andreis
Sebben, 2ª Câmara Criminal, julgado em 14/11/2013, apud VELOSO E SERRA, 2016,
p.33)
No caso apresentado acima, a vítima veio a óbito após vinte e cinco dias na UTI hospitalar,
devido à imprudência, negligência e imperícia do réu que deixou de fazer os exames necessários após
a incisão do procedimento de episiotomia. A conduta torna-se criminosa, pois é exigido uma postura
distinta do acusado.
Outro crime que podemos encontrar é a lesão corporal, qual consiste em ofender a integridade
corporal ou a saúde de outrem (art. 129 Código Penal). Na lesão corporal, podemos elencar como
exemplos a episiotomia, que é a incisão efetuada entre a vagina ou no ânus para aumentar o canal do
parto e os exames de toque realizados por diversos médicos diferentes com intuito de aprendizagem
acadêmica. Essas práticas quando realizada sem autorização torna-se atos totalmente criminosos,
sendo que violam a integridade física da mulher e além dos danos físicos, abrangem também os danos
psicológicos, vez que a mudança no corpo da vítima é uma alteração a sua saúde em um todo.
Outra reclamação constante de Violência Obstétrica é a perda da autonomia, vez que, muitas
mulheres são obrigadas a realizar práticas que não concordam, como na escolha de posição no
momento do parto, tipo do parto e a episiotomia. Portanto, para esses atos criminosos cabe a previsão
legal do art. 146 do Código Penal:
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa. (BRASIL, CÓDIGO PENAL,1940, on-
line).
Além do mais, a ameaça tipificada no art. 147 do Código Penal, é um crime bastante ocorrente
nos casos de Violência Obstétrica, sendo que no período gestacional os profissionais da saúde
amedrontaram as mulheres para conseguir consentimento de algo que não seja de sua vontade. Merece
ainda ressaltar que a ameaça é justamente um dos principais motivos que levam as mulheres a não
buscar o judiciário quando são vítimas de Violência Obstétrica.
Vale salientar que muitas vítimas de Violência Obstétrica reclamam de sofrer maus tratos,
crime previsto no art. 136 do Código Penal.
O crime é de forma vinculada, pois a conduta somente se admite nos modos de execução
expressam ente previstos em lei. A parturiente, objeto de Violência Obstétrica, por muitas vezes tem
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privação de alimentos e água por longos períodos, mesmo após o parto e em algumas situações não
tem os cuidados indispensáveis e especiais.
Por fim, vale mencionar que as mulheres em momento de parturição, também estão sujeitas a
sofrerem injúria, calúnia e difamação, conforme dispõe os Arts. 138 á 140 do Código Penal.
Sendo assim, podemos observar que a Lei Penal não tipifica os crimes praticados pelos agentes
da saúde no tratamento obstétrico. No entanto, percebe-se que existem diversos crimes previstos
no Código Penal que as mulheres podem sofrer neste momento.
No entanto, para comprovar a responsabilidade médica e dos demais agentes da saúde não é
tão fácil quanto parece, pois para isso é fundamental a legitimação da culpa, conforme dispõe o
art. 14, § 4º do Código de Defesa do Consumidor, qual prevê que “a responsabilidade pessoal dos
profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa’’.
Sendo assim importa esclarecer que a culpa existe de três formas diferentes.
Primeiramente encontra-se a negligência, que consiste na falta do dever de cuidado, por meio
da omissão, no caso quando um médico abandona um paciente ou demora na intervenção cirúrgica.
A imprudência se caracteriza quando o médico ou o agente realiza um procedimento que não é
necessário, como exemplo, a técnicas cirúrgicas perigosas que não comprovam a eficiência da
prestação do serviço. E a imperícia, que decorre da falta de habilidade específica para realização de
uma atividade, é o que acontece quando há erro médico em uma cirurgia em que não se empregou
corretamente a técnica de incisão.
Neste sentido o Código Civil dispõe no art. 951 acerca da responsabilidade médica subjetiva,
vejamos:
47
Art. 951. O disposto nos Arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida
por aquele que, no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia,
causar a morte do paciente, agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.
(BRASIL, 2002, on-line).
Os artigos mencionados referidos no art. 951 do Código Civil tratam sobre a indenização em
casos de homicídio, lesão ou ofensa à saúde e impedimento de exercício de ofício ou profissão.
No entanto, vale esclarecer que na obrigação médica o agente não se obriga a garantir o
resultado esperado pelo paciente, sendo que o inesperado nesses casos acontece, o que não se pode
confundir com o descaso e prestação desleixada no serviço de saúde, pois isso não pode interferir no
melhor empreendimento a atividade , utilizando as melhores técnicas, prudência e diligência, para
assim então chegar ao melhor resultado possível e atender as necessidades da paciente em todo
período gestacional.
(STF - AI: 810354 RS, Relator: Min. RIC ARDO LEWANDOWSKI, Data de
Julgamento: 15/12/2010, Data de Publicação: DJe -001 DIVULG 04/01/2011 PUBLIC
01/02/2011). (grifo nosso, apud VELOSO E SERRA, 2016, p.27).
Ademais:
Deste modo, inexiste dúvidas quanto a responsabilidade médica, sendo que a episiotomia é
umas das práticas realizadas sem qualquer consentimento prévio da gestante e por consequência gera
diversos danos no períneo.
49
Vale destacar que em casos semelhantes, os agentes da saúde que estão ligados de alguma
forma ao ato danoso, devem responder de forma solidária ao crime praticado, desde que conforme o
já exposto fique demonstrado a culpa.
Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos
dos seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo contra
os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo. (BRASIL, Código Civil, 2002, on-
line)
Ainda, quando esses serviços são prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a
responsabilidade direta de reparar os danos causados é do Estado. Deste modo a jurisprudência é
clara:
Sendo assim, o reconhecimento da problemática no âmbito civil trouxe algumas maneiras para
a punição dos responsáveis pelos danos causados. No entanto, não se pode ignorar que não há no
Brasil, nenhuma legislação específica sobre violência obstétrica, ocasionando assim, as práticas
recorrentes desses atos.
50
13.3. DO CÓDIGO DE ÉTICA DA MEDICINA
Tais punições previstas no estão relacionadas na situação em que o médico não pode ser
superior ao paciente, vez que, deve ele informar de forma clara o consumidor dos serviços prestados,
sobre os riscos e aspectos principais do serviço médico naquele caso específico.
Sendo assim, ao médico incumbe esclarecer e informar ao paciente tudo o que for necessário
para realizar o tratamento, conforme prevê artigo 34 do Código de Ética Médica:
Portanto, não existe dúvidas que o profissional da saúde também tem responsabilidade em
garantir todas as informações necessárias no período gestacional, e com isso diminuir os riscos de
práticas de quaisquer atos abusivos e desnecessários.
Visto a falta de legislação federal acerca de Violência Obstétrica, alguns Municípios e até
mesmo Estados dentro de suas competências estão realizando medidas punitivas para diminuir as
práticas desses abusos. Neste item analisamos brevemente alguns desses Estados e Municípios.
Inicialmente, vale destacar que o Município de São Carlos-SP não tem qualquer Lei ou Projeto
de Lei ao que se refere a Violência Obstétrica.
51
política nacional de atenção obstétrica e neonatal, visando a proteção das munícipes gestantes contra
a Violência Obstétrica. O autor do projeto de Lei foi o vereador Adriano Zago.
O Estado de Santa Catarina é atualmente o mais avançado neste cenário, pois no ano de 2017
sancionou a Lei Estadual nº 17.097 de 2017 que informa, implementa medidas de informações e
proteção à gestante e parturientes contra violência obstétrica no Estado de Santa Catarina. A Lei que
prevê o combate à Violência Obstétrica no estado de Santa Catarina. Tal Lei foi iniciativa e autoria
da Deputada Estadual Ângela Albino.
Ao que pese o Estado de São Paulo, o projeto de Lei Estadual acerca do tema está sobre regime
de tramitação ordinária. O Projeto de Lei Estadual nº 1130/17 fora apresentado pela Deputada
Estadual Leci Brandão em 13/12/2017.
No entanto alguns munícipios do Estado de São Paulo já obtêm leis municipais com o intuito
de combater a Violência Obstétrica, como a cidades de São José do Rio Preto (Lei Municipal nº
12.687/17) e Diadema. (Lei Municipal nº 3.363/13).
O Rio de Janeiro também está com Projeto de Lei em regime de tramitação ordinária sobre
Violência Obstétrica. Em 16 de outubro de 2017, o Projeto de Lei Nº 3533/2017 foi proposto pelo
Deputado Estadual Iranildo Campos.
Isto posto, vimos os principais Estados e Municípios que dispõe, ou ainda pretendem dispor
Leis para sanar, observar e punir práticas de Violência Obstétrica. A previsão em lei garante medidas
adequadas e formas especificas para melhor atender as mulheres e bebês nesse momento.
Também vale salientar que avanços legislativos como esses são notórios e importantes para
conscientização sobre o assunto que ainda é negligenciado pela sociedade e autoridades brasileiras.
Por fim, destaca-se que pode existir outras legislações Estaduais ou Municipais sobre o tema.
No entanto, este trabalho objetivou destacar as que alcançaram maior visibilidade nas mídias sociais.
O assunto tratado como lei é recente, mostrando o cenário arcaico e abandono do Brasil ao que diz
respeito às mulheres gestantes.
52
14. LEI 11.108/2005
A lei do acompanhante foi criada no ano de 2005 garantindo que todas as parturientes têm o
direito de um acompanhante de sua livre escolha, durante todo período de parto, parto-imediato ou
pós-parto.
Em razão da lei abranger o pós-parto, o Ministério da Saúde criou uma portaria para definir
esse termo.
Importa esclarecer que a lei não se aplica somente no Sistema Único de Saúde (SUS) a lei é
também é válida para os hospitais de redes conveniadas.
Em agosto de 2015, quando a lei completou 10 anos de sua vigência, a revista Época realizou
uma campanha denominada como #partocomrespeito, qual teve o intuito de conhecer as experiências
das mulheres em relação a aplicação da lei do acompanhante. Vejamos alguns desses relatos:
Na ocasião, a mineira Joyce Guerra contou sua história. Em 2007, Joyce deu entrada em uma
maternidade em Guaxupé, Minas Gerais. Joyce não enxerga – ela não viu os rostos dos que a
atenderam. O bebê estava prestes a nascer, por parto normal. Aí começaram os problemas. Disseram
que havia mecônio (as primeiras fezes do bebê) no líquido amniótico – um perigo potencial para a
criança. Deixaram-na apreensiva, mas não fizeram exames adicionais nem a informaram de mais nada
que indicasse a gravidade ou a ausência da ameaça. Joyce pediu que chamassem sua médica, mas não
foi atendida. Optaram pela cesárea. Não admitiram acompanhante. Depois de duas tentativas
53
frustradas de anestesiá-la, a equipe prosseguiu com a cirurgia assim mesmo. “O anestesista puxava
meu cabelo para eu não desmaiar de dor”, diz.
A criança ficou na UTI por uma semana antes de ir para casa. Joyce procurou um advogado,
mas ele não aceitou a causa, porque ninguém havia morrido. (GUERRA apud VISCONTI; LAZZERI,
2015, online).
“Quando ganhei minha filha, aos 19 anos, não sabia até onde seria normal a dor que sentiria
naquele momento. Pedi que deixassem meu marido ficar comigo na sala de pré-parto, mas não
autorizaram. Pedi a presença da minha mãe, mas também não deixaram.” (VISCONTI; LAZZERI,
2015, online).
A leitora Marcelle Paola relatou a seguinte história: “Eu dizia que não entraria sem um
acompanhante. Logo veio minha mãe e começamos de novo a insistir para que ela pudesse entrar
comigo. Falamos da lei que garantia meu direito. A enfermeira disse que havia a lei sim, mas a
maternidade não era obrigada a cumpri-la e que ainda não havia se adequado para tal”.
Quando esse tipo de direito é negado, a pessoa pode procurar o Ministério Público. Existe,
inclusive, a Promotoria da Saúde. Podemos atender um caso individualmente ou propor uma ação
coletiva. Por exemplo: se a gente receber a notícia de que uma determinada maternidade está negando
o direito ao acompanhante, nós podemos instaurar um inquérito civil (investigação), ouvir as
mulheres que tiveram esse direito negado e chamar o hospital para fazer um pacto de ajustamento de
conduta para que ele cumpra a norma. Caso o hospital se negue, a gente pode lançar mão de uma ação
civil pública para compelir o hospital a garantir esse direito.
54
Sendo assim, vimos que a presença de um acompanhante nesse período é fundamental para o
atendimento adequado e humanizado das gestantes. Não podendo em hipótese alguma ser rejeitado
por quem quer que seja.
Portanto, caso esse direito seja negado para a paciente por qualquer motivo ou justificativa
alegada pelo hospital, deve-se procurar o órgão competente (neste caso o Ministério Público) para
assim então realizar as medidas cabíveis e sanar tal ilegalidade.
Desta forma, ao seguir as medidas adequadas além de garantir seus direitos, a denunciante
pode ajudar evitar que não somente ela, mas que muitas mulheres sejam vítimas de Violência
Obstétrica por hospitais que negam a presença de um acompanhante nos momentos necessários.
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15. CONCLUSÃO
Como observamos ao longo deste trabalho as práticas de atos abusivos contra as mulheres são
constantes no cenário brasileiro no momento de parto, pós-parto e abortamento.
A Violência Obstétrica é um tipo de violência que não tem a sua devida visibilidade, tanto
social, quanto legislativa.
Concluímos também que essa violência tem dificuldade de ser combatida, pois muitas práticas
abusivas e lesivas são consideradas como normais, tornando as dores e violências sofridas ignoradas
por toda a sociedade. Ou seja, os próprios profissionais de saúde demonstram certa resistência em
admitir que tais práticas são na verdade um tipo de violência.
Já não resta dúvida que o principal fator que gera a Violência Obstétrica é a falta de informação
para as mulheres em todo o período gestacional. Todavia, na última década, muitos movimentos
sociais estão debatendo o tema para melhor informar às pessoas que muitos atos praticados são
considerados violentos, sendo que nenhum ato que fere a integridade física e humana do bebê ou da
mulher pode ser considerado normal.
A Violência Obstétrica deve ser apresentada a toda sociedade como uma forma de prevenção.
Portanto, alertar e divulgar casos de Violência Obstétrica é fundamental. Assim como é de total
importância o ensino de Educação Sexual nas escolas, também se faz necessário colocar as jovens, e
também seus futuros parceiros, a par do que são os direitos reprodutivos das mulheres. Afinal, muitas
mulheres só descobrem que já foram vítimas de Violência Obstétrica através de relatos de outras
vítimas.
O poder legislativo tenta mudar esse cenário através dos projetos de Leis recentes,
apresentados para garantir atendimento humanizado as gestantes. Deste modo devemos reconhecer
que houve mudanças ao que se refere aos direitos femininos, pois estes eram sequer mencionados.
No entanto, ainda são somente planos e projetos, não há nada concretizado.
A legislação brasileira ainda não tipifica criminalmente a Violência Obstétrica, mas vimos
que há Projetos de Lei que preveem medidas de punição contra esse fato, assim como o Projeto de
Lei nº 7.633/14 do parto humanizado. Todos estão em fase de tramitação.
56
sabe, legislações Municipais e Estaduais são estabelecidas com base nas normas locais e são limitadas
dentro de sua localidade.
Sendo assim, podemos reconhecer algumas mudanças no âmbito legislativo acerca dos
constrangimentos e desrespeito às vítimas de Violência Obstétrica. Contudo, não podemos esquecer
que as melhorias são apenas um começo e não algo garantido e concreto. Portanto a luta para garantia
dos direitos das gestantes e o combate à Violência Obstétrica ainda não acabou.
Mais ações são necessárias para apoiar as mudanças na conduta dos profissionais de saúde,
dos ambientes clínicos e sistemas de saúde, para garantir que todas as mulheres tenham acesso à
assistência respeitosa, competente e atenciosa. Elas podem incluir, mas não estão limitadas ao apoio
social através de um acompanhante de sua escolha, mobilidade, acesso a alimentos e líquidos,
confidencialidade, privacidade, escolha esclarecida, informações para as mulheres sobre seus direitos,
mecanismos de acesso à justiça em caso de violação dos direitos, e garantia dos melhores padrões da
assistência clínica. A perspectiva de assistência segura, de alta qualidade, centrada na mulher como
parte da cobertura universal de saúde também pode ajudar a fortalecer estas ações.
Torna-se necessário a criação de leis de proteção aos direitos das mulheres, modificação dos
padrões socioculturais, fomento à capacitação de profissionais, além da criação de serviços
específicos para atendimento para as mulheres que tiveram quaisquer de seus direitos violados. É
necessário assumir o compromisso de constituir os direitos sexuais e direitos reprodutivos, criar todas
as políticas e os programas nacionais dedicados à população e ao desenvolvimento, até mesmo os
programas de planejamento familiar, tornando, desta forma, os direitos sexuais mais autônomos aos
direitos reprodutivos.
Por fim, a violência contra as mulheres se tornou uma questão de direitos humanos e garantias
fundamentais. Sendo que, diante das convenções, tratados e leis já aqui mencionados, está claro que
a Violência Obstétrica fere os direitos da mulher e por consequência desrespeita sua existência
humana.
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16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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