Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Brasília
2017
MAÍRA CRISTINA GONÇALVES
Brasília
2017
MAÍRA CRISTINA GONÇALVES
Banca Examinadora
_________________________________________
ISABELA CAPONE KRAUSE
Prof. Esp.
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF
__________________________________________
FERNANDA SAMPAIO
Prof. Esp.
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF
___________________________________________
MARÍLIA LUSTOSA
Prof. Esp.
Centro Universitário do Distrito Federal – UDF
NOTA: ______
Dedico este trabalho à minha mãe, Fátima, fonte de
amor e apoio imensurável.
Aos meus tios, Taina e Ferrúcio, sem os quais a
minha formação acadêmica e pessoal não seria
possível.
Aos meus primos/irmãos e ao meu cunhado, por
todo o apoio e compreensão. E, também, à minha
querida tia Maria Angélica, com a qual eu partilho
diariamente as minhas vivências.
Por fim, à minha "partner in crime and life", Janaina
Costa, pelo carinho, apoio e compreensão, que
acompanhou e vivenciou a minha jornada diária de
estudos durante o período de construção deste
trabalho, e me forneceu contribuições valiosas para
o desenvolvimento do mesmo. Este mérito também é
dela.
Meus agradecimentos a toda a minha família e
amigos por entenderem minha ausência durante a
graduação, e às professoras Cora Coralina e,
principalmente, Isabela Capone, minha orientadora,
por todo o apoio e orientação durante a realização
deste trabalho. Por fim, agradeço à dra. Raquel
Machado pela grande ajuda.
“Teu dever é lutar pelo Direito, mas se um dia encontrares
o Direito em conflito com a justiça, luta pela justiça”.
The problem faced about the great number of abortion procedures and the
problems that this practice brings to the lives of women who risk performing it, even
though it is criminalized, except in three hypotheses – pregnancy that presents life
threatening to the pregnant woman, pregnancy due to rape and, finally, pregnancy of the
anencephalic fetus –, has been confronted for years by Brazil, and other countries that
still criminalize abortion. The divergences regarding the legalization or not of abortion
find obstacles in many areas: religious, judicial, moral, social, among others. However,
a new model of abortion treatment has shown evidences for a possible resolution to the
problem of abortion in public health in Brazil, in cause to the large number of
hospitalizations motivated by the clandestine abortion, namely: the advisory model
adopted by Uruguay in the year 2012
1 – INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 10
2.1.1 – Aborto provocado pela gestante ou com o seu consentimento (art. 124
do CP)...................................................................................................................... 13
7 – CONCLUSÃO......................................................................................................... 33
1 – INTRODUÇÃO
abortamento ser um problema de saúde pública e como isso afeta a economia estatal,
uma vez que o tratamento pós-aborto requer investimento dos cofres públicos.
Serão apresentados, ainda, os resultados que o modelo de criminalização busca
atingir – ou seja, a proteção à vida – em comparação com a realidade vivida no Brasil,
demonstrando a ineficiência da norma neste aspecto e a necessidade de uma mudança
imediata, buscando um parâmetro com a normativa adotada em outros países da
América Latina, com maior enfoque na política do Uruguai.
Por fim, será trazido um comparativo em dados reais do Brasil x Uruguai para
uma análise dos diferentes modelos adotados no tratamento do aborto provocado e uma
demonstração da eficácia de ambos, a fim de atestar o êxito obtido pelo modelo de
assessoramento do Uruguai na defesa à vida do nascituro e proteção à vida e autonomia
da mulher, demonstrando, assim, que o referido modelo uruguaio pode trazer uma
solução eficaz para o problema enfrentado no Sistema Único de Saúde.
12
O aborto, nos dias de hoje, é um dos temas mais contestados no ramo do Direito,
daí o porquê de os juristas debaterem tanto sobre uma possível descriminalização sem
nunca chegarem a um veredicto final.
Porém, nem sempre a prática do aborto foi vista como fato delituoso pela
sociedade, como acontece atualmente. Sua prática era bastante comum entre os povos
gregos e hebreus, sendo punida apenas em caso de ser realizada por terceiros. O feto era
visto como uma parte do organismo da mulher e não como um ser detentor de vida
autônoma1.
Fernando Capez discorre sobre a evolução histórica desse delito, entendendo que
apenas com o advento do cristianismo é que a prática abortiva veio a ser punida pela
sociedade. Confira-se:
Com o cristianismo que o aborto passou a ser efetivamente reprovado no
meio social, tendo os imperadores Adriano, Constantino e Teodósio
reformado o direito e assimilado o aborto criminoso ao homicídio. Na Idade
Média o teólogo Santo Agostinho, com base na doutrina de Aristóteles,
considerava que o aborto seria crime apenas quando o feto tivesse recebido
alma, o que se julgava ocorrer quarenta ou oitenta dias após a concepção,
segundo se tratasse de varão ou mulher. São Basílio, no entanto, não admitia
qualquer distinção considerando o aborto sempre criminoso. É certo que, em
se tratando de aborto, a Igreja sempre influenciou com os seus ensinamentos
na criminalização do mesmo, fato este que perdura até os dias atuais 2.
1
MARCÃO, Renato Flávio. Reflexões sobre o crime de aborto. Disponível em:
<www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/cao_criminal/doutrinas_autores/aborto.doc>. Acesso em:
21/09/2017;
2
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume II, parte especial: Dos crimes contra a pessoa a
dos crimes contra o respeito aos mortos (arts.121 a 212). 12ª edição. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 304;
3
BARBOSA, Ana Beatriz. Aborto: abordagem do tipo penal e suas espécies. Disponível em:
<https://jus.com.br/artigos/42070/aborto-abordagem-do-tipo-penal-e-suas-especies>. Acesso em:
18/09/2017;
13
O atual Código Penal regulamentou a prática em seus artigos 124, 125, 126, 127
e 128, porém deixou a cargo da doutrina a sua conceituação.
Fernando Capez descreve que o aborto consiste na interrupção da gravidez com
a consequente expulsão do produto da concepção, ou a eliminação da vida intrauterina4.
No mesmo sentindo é o entendimento de Guilherme Nucci, que conceitua o
aborto como a cessação da gravidez, causando a morte do feto ou embrião5.
Ante os conceitos expostos, faz-se oportuno trazer os tipos penais dessa prática
constantes nos artigos acima mencionados.
O código penal aponta as seguintes modalidades de aborto: o aborto provocado
pela gestante ou consentido pela mesma (art. 124, CP), o aborto provocado por terceiro,
sem o consentimento da gestante (art. 125, CP) e o aborto cometido com o
consentimento da gestante (art. 126, CP), os quais serão destrinchados a seguir.
2.1.1 – Aborto provocado pela gestante ou com o seu consentimento (art. 124 do CP)
O crime descrito no artigo 124 do Código Penal atual admite duas hipóteses: 1ª)
provocar aborto em si mesma; ou 2ª) consentir que outrem lho provoque.
O crime disposto no artigo supramencionado é um delito de mão própria, ou
seja, tem caráter personalíssimo. Logo, o sujeito ativo desse tipo penal é a gestante. A
participação de terceiro é admitida unicamente na forma secundária, consistindo em
induzimento, instigação ou auxílio6.
2.1.2 – Aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante (art. 125 do CP)
4
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume II, parte especial: Dos crimes contra a pessoa a
dos crimes contra o respeito aos mortos (arts.121 a 212). 12ª edição. São Paulo: Saraiva, 2012;
5
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 9ª edição. São Paulo: RT, 2009, p. 614;
6
NUCCI, Guilherme de Souza. 2009, p. 615. Ibid, p. 614;
7
NUCCI, Guilherme de Souza. 2009, p. 615. Ibid, p. 614;
14
Dentre as três modalidades de aborto (art. 124 a 126 do CP), este tem a
penalidade mais grave, a saber: reclusão de 03 (três) a 10 (dez) anos.
2.1.3 – Aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante (art. 126 do CP)
8
NUCCI, Guilherme de Souza. 2009, p. 616. Ibid, p. 614;
9
NUCCI, Guilherme de Souza. 2009, Idem;
10
NUCCI, Guilherme de Souza. 2009, Idem;
11
NUCCI, Guilherme de Souza. 2009, p. 617. Ibid, p. 614
15
Penal, havendo exceção em apenas três hipóteses: casos de gravidez que oferece risco à
vida da gestante, casos de estupro e, por fim, de feto anencéfalo.
O artigo 128 do Código Penal vigente dispõe sobre duas dessas hipóteses, sendo
elas: caso em que a gravidez oferece risco à vida da gestante (inciso I) e casos de
estupro (inciso II).
A situação descrita no inciso I do mencionado artigo é chamada pela doutrina de
aborto necessário, que é praticado pelo médico quando “não há outro meio de salvar a
vida da gestante”.
A segunda situação, descrita no inciso II, é denominada aborto humanitário ou
sentimental, ocorre nos casos em que a gravidez resulta de estupro. O legislador, neste
caso, busca proteger a dignidade da gestante que foi vítima de um crime hediondo e não
deseja manter o produto da concepção em seu ventre12.
A terceira, e última hipótese em que a prática é considerada lícita, não encontra
amparo no texto legal. Porém, o STF pronunciou-se acerca dessa questão, permitindo
que o aborto do feto anencéfalo seja realizado quando houver laudo médico atestando a
deformidade ou anomalia que atingiu o feto, segundo ADPF n. 54.
A questão foi ao plenário da Suprema Corte no dia 11 de abril de 2012, sendo
decidido por oito a dois votos.
O Ministro Marco Aurélio, em seu voto, entendeu que o feto sem cérebro é
juridicamente morto. Logo, não goza de proteção jurídica, e principalmente de proteção
jurídico-penal. Veja:
O feto anencéfalo, mesmo que biologicamente vivo, porque feito de células e
tecidos vivos, é juridicamente morto, não gozando de proteção jurídica e,
acrescento, principalmente de proteção jurídico-penal (...)13. O anencéfalo
jamais se tornará uma pessoa. Em síntese, não se cuida de vida em potencial,
mas de morte segura. O fato de respirar e ter batimento cardíaco não altera
essa conclusão, até porque, como acentuado pelo Dr. Thomaz Rafael Gollop,
a respiração e o batimento cardíaco não excluem o diagnóstico de morte
cerebral14.
Outro ponto de destaque pelo Ministro foi o aspecto psíquico da mulher que se
vê obrigada a levar adiante uma gestação em que o fim é certo: a morte do feto, antes ou
após o nascimento. Como se vê:
12
NUCCI, Guilherme de Souza. 2009, p. 614. Ibid;
13
BRASIL, STF. Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 54 Distrito Federal. Inteiro
teor do acórdão, p. 55;
14
BRASIL, STF. Inteiro teor do acórdão, p. 46 e 47. Ibidem, p. 55;
16
3 – A DESCRIMINALIZAÇÃO NO BRASIL
15
BRASIL, STF. Inteiro teor do acórdão, p. 63. Ibidem, p. 55;
16
BRASIL, STF. Arguição. Inteiro teor do acórdão, p. 66. Ibidem, p. 55;
17
COSTA, João. Vida: o início de tudo. Brasília – DF: Senado Federal, 2013, p. 06 e 07;
18
COSTA, João. 2013. Ibid, p. 06;
19
COSTA, João. 2013, p. 08. Ibid, p. 06;
17
20
COSTA, João. 2013, p. 32. Ibid, p. 06;
21
COSTA, João. 2013, p. 12. Ibid, p. 06;
22
COSTA, João. 2013, p. 37 e 38. Ibid, p. 06
23
DINIZ, Debora. Decisão do STF encara a realidade sobre o aborto. Disponível em: <http://
https://www.cartacapital.com.br/sociedade/decisao-do-stf-encara-a-realidade-sobre-o-aborto>. Acesso
em: 30/09/2017;
18
24
BRASIL, STF. Habeas Corpus 124.306. Inteiro teor do voto do Ministro BARROSO, Luís Roberto;
25
BRASIL, STF. Inteiro teor do voto. Ibid;
26
BRASIL, STF. Inteiro teor do voto. Ibid, p. 16;
27
BRASIL, STF. Inteiro teor do voto, p. 17. Ibid, p. 16;
19
Desse modo, vê-se que o ministro Barroso, contando com o apoio de mais dois
ministros presentes na discussão do caso, Rosa Weber e Edson Fachin, seguiu a linha de
raciocínio de que a criminalização do aborto nos três primeiros meses da gestação viola
os direitos sexuais e reprodutivos da mulher, bem como seu direito à autonomia de fazer
suas escolhas e à integridade física e psíquica.
A ministra Rosa Weber, partindo da mesma premissa do ministro Luís Roberto
Barroso, manifestou-se favorável à descriminalização do aborto para qualquer caso nos
três primeiros meses de gestação, assim como o ministro Edson Fachin, que se mostrou
igualmente favorável28.
Todavia, o posicionamento apresentado pelo ministro Barroso encontra óbice
nos intitulados “pró-vida”, ou seja, aqueles que se mostram favoráveis à criminalização
do aborto, que será discutido no próximo tópico.
28
REDAÇÃO. O STF descriminalizou o aborto? Entenda. Disponível em:
<https://www.cartacapital.com.br/sociedade/o-stf-descriminalizou-o-aborto-entenda>. Acesso em:
10/09/2017;
29
MONNERAT, Alessandra. Debate sobre aborto chega ao STF e mobiliza opiniões pró e contra
descriminalização. Disponível em: < http://www.generonumero.media/debate-sobre-aborto-mobiliza-
opinioes-pro-e-contra/>. Acesso em: 25/08/2017;
20
deveria ser considerado uma autonomia das mulheres sobre o seu processo de
reprodução – seja um assunto visto com tanta aversão pela sociedade30.
Maria José da Silva, coordenadora estadual no Rio de Janeiro do Movimento da
Cidadania pela Vida – Brasil sem Aborto, reforça a ideia defendida pelos Pró-vida ao
afirmar que “a vida é a nossa primeira garantia, é um direito universal. Se você deixa de
defender esse direito, você pode matar e está tudo certo. Não concordamos que o aborto
seja uma escolha da mulher sobre o seu próprio corpo”31.
Explica, ainda, que “o bebê não é parte do corpo da mulher, a vida humana que
está sendo gestada é uma segunda vida. O bebê não vai fazer mal nenhum para essa
mulher”32.
Nesse mesmo sentido, o deputado Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos
Deputados, criou uma comissão especial com o intuito de incluir na Constituição uma
regra clara sobre o aborto. Tal medida é uma resposta direta à decisão da Suprema Corte
acerca do Habeas Corpus n. 124. 306, que abre precedente quanto à descriminalização
do aborto nas três primeiras semanas de gestação33.
A PEC 58/2011, apensada à PEC 181/2015, tem como finalidade alterar o inciso
XVIII do art. 7º da Constituição Federal de 1988 para dispor sobre a licença-
maternidade em caso de parto prematuro34.
O Deputado Diego Garcia (PHS-PR), entretanto, deixou claro que o propósito
real da implementação da mencionada PEC é anular a decisão do STF no HC 124.306.
O deputado afirma, ainda, que:
O STF rasgou a Constituição e tomou para si uma tarefa que é dos
congressistas, sem consultar ninguém. O objetivo com a comissão é mesmo
reverter essa decisão absurda do STF. E temos votos para derrubar no
plenário, onde contamos com a presença de 300 deputados pró-vida35.
30
ARDAILLON, Danielle. Cidadania de corpo inteiro: discursos sobre o aborto em número e
gênero. 1997. Tese (Doutoramento em Sociologia) Departamento de Sociologia, FELCH/USP,
Universidade de São Paulo, São Paulo 1997, p. 204;
31
MONNERAT, Alessandra. Debate sobre aborto chega ao STF e mobiliza opiniões pró e contra
descriminalização. Disponível em: < http://www.generonumero.media/debate-sobre-aborto-mobiliza-
opinioes-pro-e-contra/>. Acesso em: 25/08/2017;
32
______. Disponível em: < http://www.generonumero.media/debate-sobre-aborto-mobiliza-opinioes-
pro-e-contra/>. Acesso em: 25/08/2017;
33
SILQUEIRA, Carol. Depois de decisão do STF sobre aborto, Maia cria comissão para discutir
tema. Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/520372-DEPOIS-
DE-DECISAO-DO-STF-SOBRE-ABORTO-MAIA-CRIA-COMISSAO-PARA-DISCUTIRTEMA.html>
Acesso em: 02/10/2017;
34
BRASIL, Câmara dos Deputados e do Senado Federal. PEC 181/2015. Inteiro teor;
35
ÉBOLI, Evandro e FERNANDES, Letícia. Maia cria comissão para reverter decisão do STF pró-
21
Ocorre que a não violação ao direito de vida do feto entra em colisão com os
direitos sexuais e reprodutivos da mulher, bem como sua integridade física e psíquica e
seu direito a autonomia, não podendo esta ser obrigada a dar continuidade a uma
gravidez indesejada. Este é o argumento defendido por aqueles que são favoráveis à
descriminalização da prática abortiva.
Assim, observa-se claramente que a grande questão acerca da legalização do
aborto é que ao cessar a criminalização da prática, cessaria, consequentemente, o
controle do Estado quanto ao corpo, à sexualidade e à reprodução da mulher.
38
AGÊNCIA PÚBLICA. Clandestinas: Retratos do Brasil de 1 milhão de abortos clandestinos por
ano. Disponível em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2013-09-20/clandestinas-retratos-do-brasil-
de-1-milhao-de-abortos-clandestinos-por-ano.html>. Acesso em: 17/08/2017;
39
MENEZES G, Aquino E. op. cit.;
40
DINIZ D., Medeiros M. Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna. Ciênc.
saúde coletiva [online]. Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero. Brasília, vol.15, suppl.1,
pp.959-966. ISSN 1413-8123, mai 2010. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1413-
81232010000700002>. Acesso em: 24/08/2017;
41
SEGATO, C., Aborto – Sim ou não?: O ministro da Saúde colocou a discussão em pauta. Chegou
a hora de a sociedade brasileira enfrentar um de seus maiores tabus. [Editorial]. Época, edição nº
465, p. 04, abr. 2007;
23
42
SEGATO, C., Ibid, p. 05, abr, 2007;
43
SEGATO, C., op. cit.;
44
SEGATO, C., op. cit.;
24
45
SEGATO, C., op. cit.;
46
REDE FEMINISTA DE SAÚDE. Dossiê aborto: mortes previsíveis e evitáveis. Belo Horizonte,
Rede Feminista de Saúde, 2005;
47
BURROUGHS A., Uma introdução à enfermagem materna. Traduzido por Thorell AMV. 6ª ed.
Porto Alegre: Artes Médicas; 1995. p.339-41; 376-9;
48
BRASIL. Ministério da Saúde. DATASUS/SE/MS. Saúde da mulher [texto na Internet]. Brasília:
Ministério da Saúde; 1993; [citado 1999 Nov 13]. Disponível em: <http://www.saude.gov.br>. Acesso em
14/10/2017;
25
além de causar prejuízo à saúde das mulheres, gera para o Estado uma despesa de R$ 35
milhões49.
Desse modo, vê-se que o problema do aborto está diretamente ligado à inércia
do Estado, que se nega a exercer sua responsabilidade objetiva de proteção, colocando
mulheres – em sua grande maioria, de baixa renda – em situações de iminente risco de
vida.
49
SEGATO, C., Ibid, p. 04, abr. 2007;
50
THE ALAN GUTTMACHER INSTITUTE. Aborto clandestino: una realidad latinoamericana.
New York and Washington: The Alan Guttmacher Institute, 1994;
51
THE ALAN GUTTMACHER INSTITUTE. 1994. Ibid, p. 32;
26
A ênfase nos métodos adotados pelo Uruguai faz-se mais oportuna em razão de
este país, até o ano de 2012, quando a prática abortiva foi descriminalizada com o
advento da Lei n. 18.987, de 30 de outubro de 2012, ser o que possuía legislação mais
semelhante à brasileira na questão do aborto, sendo bastante restritivo quanto à prática.
52
Menezes G, Aquino E. op. cit.;
53
Fonte: Sistema de Internações Hospitalares / Ministério da Saúde / DATASUS;
54
SEGATO, C., Ibid, p. 02, abr, 2007;
27
55
HEREDER, Liliet. Cuba: cuando el aborto es una alternativa al método anticonceptivo. BBC
Mundo, Cuba. Disponível em:
<http://www.bbc.com/mundo/noticias/2011/03/110119_cuba_aborto_salud_lh.shtml>. Acesso em:
04/11/2017;
56
THE LEGAL RIGHT TO ABORTION IN PUERTO RICO. El Derecho Legal al Aborto en Puerto
Rico. Disponível em:
<https://www.reproductiverights.org/sites/crr.civicactions.net/files/documents/pub_fac_abortion_pr_sp_2
.pdf >. Acesso em: 04/11/2017;
57
THE OFFICIAL GASETTE 14TH OCTOBER, 1995: LEGAL SUP´PLEMENT – B. The Mecial
Termination of Pregnancy Act, 1995 (Act No. 7 of 1995). Disponível em: <http://srhr.org/abortion-
policies/documents/countries/02-Guyana-Rules-on-abortion-Act-Gazette-1995.pdf>. Acesso em:
04/11/2017;
28
que as mulheres que desejam realizar a prática, até no máximo 12 semanas de gestação,
se encaminhem para uma consulta médica em umas das instituições do Sistema
Nacional Integrado de Saúde a fim de informar tal decisão a um profissional da área58.
Entretanto, estes quatro países são a exceção. Estima-se que são realizados cerca
de quatro milhões de abortos anualmente no território da América Latina, sendo que a
maior parte deles é realizada de forma clandestina e insegura, o que consiste em altos
números de morbidade e mortalidade materna, já que na maioria dos países a prática
abortiva ainda é considerada crime em quase todas as circunstâncias59.
De outro lado, observa-se que em países onde a prática é legalizada o índice de
doenças contraídas é praticamente inexistente, o que, consequentemente, diminui a
entrada desse tipo de paciente em hospitais públicos. Como, por exemplo, no Uruguai,
que, segundo dados divulgados pela Saúde Pública, são realizados em média quatro mil
abortos por ano. Diminuindo de forma considerável os dados coletados antes da
aprovação da lei, que seria de uma média de trinta e três mil abortos ao ano60.
58
URUGUAI. Lei nº 18.987, de 30 de outubro de 2012. Ley sobre Interrupcion Voluntaria del
Emabarazo. Ley del Aborto. Disponível em: <https://www.impo.com.uy/bases/leyes/18987-2012>.
Acesso em: 04/11/2017;
59
THE ALAN GUTTMACHER INSTITUTE. Aborto clandestino: una realidad latinoamericana.
New York and Washington: The Alan Guttmacher Institute, 1994, p. 24;
60
URUGUAI. Ministerio de La Salud Publica. Interrupción voluntaria de embarazo. 2015. Disponível
em: <http://www.msp.gub.uy/noticia/interrupci%C3%B3n-voluntaria-de-embarazo>. Acesso em:
02/11/2017;
61
URUGUAI. Ministerio de la Salud Publica. Premio de la OPS-OMS por “Iniciativas Sanitarias”.
2012. Disponível em: <http://www.msp.gub.uy/publicaci%C3%B3n/premio-de-la-ops-oms-por-
iniciativas-sanitarias>. Acesso em: 04/11/2017;
29
62
Lei nº 18.987:
(...)
Artículo 3º. (Requisitos). - Dentro del plazo estabelecido em el artículo anterior de la presente ley, la
mujer deberá acudir a consulta médica ante una institución del Sistema Nacional Integrado de Salud, a
efectos de poner em conocimiento del médico las circunstancias derivadas de las condiciones en que ha
sobrevenido la concepción, situaciones de penuria económica, sociales o familiares o etarias que a
sucriterio le impiden continuar com el embarazo en curso.
El médico dispondrá para el mismo día o para el imediato siguiente, la consulta con un equipo
interdisciplinario (...), de los cuales uno deberá ser médico ginecólogo, otro deberá tenere specialización
em el área de la salud psíquica y el restante en el área social.
El equipo interdisciplinario, actuando conjuntamente, deberá informar a la mujer de lo establecido en esta
ley, de las características de la interrupción del embarazo y de los riesgos inherentes a esta práctica. Asi
mismo, informará sobre las alternativas al aborto provocado incluyendo los programas disponibles de
apoyo social y económico, así como respecto a la posibilidad de dar su hijo en adopción.
En particular, el equipo interdisciplinario deberá constituirse en un ámbito de apoyo psicológico y social a
la mujer, para contribuir a superar las causas que puedan inducirla a la interrupción del embarazo y
garantizar que disponga de la información para la toma de una decisión consciente y responsable.
A partir de la reunión con el equipo interdisciplinario, lamujerdispondrá de un período de reflexión
mínimo de cinco días, transcurrido el cual, si la mujer ratificara su voluntad de interrumpir su embarazo
ante el médico ginecólogo tratante, se coordinará de inmediato el procedimiento, que en atención a la
evidencia científica disponible, se oriente a la disminución de riesgos y daños. La ratificación de la
solicitante será expresada por consentimiento informado(...), e incorporada a su historia clínica.
Cualquiera fuera la decisión que la mujer adopte, el equipo interdisciplinario y el médico ginecólogo
dejarán constancia de todo lo actuado en la historia clínica de la paciente.
63
Artigo 3º, Lei n. 18.987/2012;
64
Artigo 3º, Lei n. 18.987/2012;
65
Artigo 3º, Lei n. 18.987/2012;
30
66
URUGUAI. Ministerio de la Salud Publica. Premio de la OPS-OMS por “Iniciativas Sanitarias”.
2012. Disponível em: <http://www.msp.gub.uy/publicaci%C3%B3n/premio-de-la-ops-oms-por-
iniciativas-sanitarias>. Acesso em: 04/11/2017;
67
SANSEVIERO, R., S. Rostagnol, M. Guchín y A. Migliónico (2003). Condena, tolerancia y
negación: El aborto en Uruguay. Montevideo: Centro Internacional de Investigación e Información para
la Paz;
68
GÓMEZ, Alejandra López et al. La realidad social y sanitária del aborto voluntario em La
clandestinidad y la respuesta institucional del sector salud em Uruguay. In: JOHNSON, Niki et al.
(Des)penalización del aborto em Uruguay - prácticas, actores y discursos: Abordaje
interdisciplinario sobre una realidade compleja. Montevidéu: Universidad de La Republica, 2011. p.
92-93. Disponível em: <http://www.universidad.edu.uy/pmb/opac_css/doc_numphp?explnum_id=701>.
Acesso em: 20/10/2017;
69
URUGUAI. Ministerio de la Salud Publica. Premio de la OPS-OMS por “Iniciativas Sanitarias”.
2012. Disponível em: <http://www.msp.gub.uy/publicaci%C3%B3n/premio-de-la-ops-oms-por-
iniciativas-sanitarias>. Acesso em: 04/11/2017;
70
URUGUAI. Ministerio de la Salud Publica. Políticas de defensa y promoción de los derechos
sexuales y reproductivos de toda la población 2010-2015. 2015, p. 4 e 12. Disponível em:
<http://www.msp.gub.uy/sites/default/files/archivos_adjuntos/Politicas%20SSyR%20librillo%20complet
o%20PDF.pdf>. Acesso em: 08/10/2017;
31
71
URUGUAI. Ibid, p. 4;
72
THE ALAN GUTTMACHER INSTITUTE. Aborto clandestino: una realidad latinoamericana.
New York and Washington: The Alan Guttmacher Institute, 1994; p. 32;
32
*Em que pese não haver registros oficiais dos gastos do Estado no tratamento de
mulheres que praticavam e praticam o aborto antes e após a legalização, já que o
objetivo do Uruguai com o modelo de assessoramento (lei n. 18.987/12) era a proteção
à vida, ou seja, a redução de mortalidade materna e realização de abortos, é óbvio notar
que a inexistência de internações por abortos provocados – como felizmente o Uruguai
logrou com o advento da Lei de Interrupção Voluntária da Gravidez – diminui
consideravelmente os gastos do Estado e faz com que o aborto deixe de ser um
problema de saúde pública.
73
Dados de internações embasados na quantidade de abortos clandestinos provocados;
33
7 – CONCLUSÃO
O Direito Penal é uma instância de tutela dos bens jurídicos e, como tal, deve
abranger os bens de maior importância para que a proteção a eles seja efetiva. Porém no
momento em que determinada norma deixa de alcançar o resultado desejado na prática
– como é o caso do Brasil na questão da criminalização do aborto –, depara-se com uma
situação equivalente à omissão estatal, uma vez que não há proteção ao bem jurídico em
foco, qual seja, a vida.
Basta observar os dados de números de abortos praticados de forma ilegal e o
número de óbitos de mulheres em decorrência de procedimentos abortivos, para se
visualizar que o aborto no Brasil é um problema grave de saúde pública.
O que se tem na prática é a vida de gestantes sendo colocada em risco por
adquirirem graves doenças infecciosas, e até irem a óbito, ao buscarem pelo aborto na
clandestinidade.
Ademais, importa ressaltar que o risco oriundo dessa ilegalidade, em sua grande
maioria, é vivido por mulheres pobres e sem condições de buscar recursos médicos
seguros para o abortamento, uma vez que aquelas mulheres que têm condições
financeiras realizam o procedimento em clínicas privadas.
O problema da criminalização do aborto no Brasil torna-se ainda mais visível
quando colocado em comparação ao modelo de assessoramento adotado pelo Uruguai.
A consulta de assessoramento, além de oferecer um auxílio integral às mulheres
que desejam abortar, serve de “filtro” para aquelas mulheres que optam pela interrupção
da gravidez unicamente por medo do que poderão enfrentar se forem adiante com uma
gravidez não planejada, dando apoio para que tal decisão seja feita de forma consciente.
Os números alcançados pelo Uruguai após o primeiro ano de implemento da Lei
n. 18.987/12, deixam claro que há soluções melhores para a resolução da referida
problemática, que não a criminalização o aborto.
Com o modelo de assessoramento uruguaio, foi possível observar uma eficiência
consideravelmente maior na tutela do direito à vida e à saúde das gestantes do que com
o modelo de criminalização anteriormente adotado pelo país.
Dessa forma, nota-se que o Brasil demandaria de verbas muito menos onerosas
ao legalizar a prática abortiva e, consequentemente, financiar as despesas de uma equipe
34
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA, Ana Beatriz. Aborto: abordagem do tipo penal e suas espécies. Disponível
em: <https://jus.com.br/artigos/42070/aborto-abordagem-do-tipo-penal-e-suas-
especies>;
BRASIL, Câmara dos Deputados e do Senado Federal. PEC 181/2015. Inteiro teor;
BRASIL, STF. Habeas Corpus 124.306. Inteiro teor do voto do Ministro BARROSO,
Luís Roberto;
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal, volume II, parte especial: Dos crimes contra
a pessoa a dos crimes contra o respeito aos mortos (arts.121 a 212). 12ª edição. São
Paulo: Saraiva, 2012;
COSTA, João. Vida: o início de tudo. Brasília – DF: Senado Federal, 2013;
DINIZ D., Medeiros M. Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar com técnica de urna.
Ciênc. saúde coletiva [online]. Anis - Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero.
Brasília, vol.15, suppl.1, pp.959-966. ISSN 1413-8123, mai 2010. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S1413-81232010000700002>;
DINIZ, Debora. Decisão do STF encara a realidade sobre o aborto. Disponível em:
<http://https://www.cartacapital.com.br/sociedade/decisao-do-stf-encara-a-realidade-
sobre-o- aborto>;
36
ÉBOLI, Evandro e FERNANDES, Letícia. Maia cria comissão para reverter decisão do
STF pró-aborto. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/brasil/maia-cria-comissao-
para-reverter-decisao-do-stf-pro-aborto-20564549>;
GÓMEZ, Alejandra López et al. La realidad social y sanitária del aborto voluntario em
La clandestinidad y la respuesta institucional del sector salud em Uruguay. In:
JOHNSON, Niki et al. (Des)penalización del aborto em Uruguay - prácticas, actores y
discursos: Abordaje interdisciplinario sobre una realidade compleja. Montevidéu:
Universidad de La Republica, 2011. Disponível em:
<http://www.universidad.edu.uy/pmb/opac_css/doc_numphp?explnum_id=701>;
MONNERAT, Alessandra. Debate sobre aborto chega ao STF e mobiliza opiniões pró e
contra descriminalização. Disponível em: <http://www.generonumero.media/debate-
sobre-aborto-mobiliza-opinioes-pro-e-contra/>;
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 9ª edição. São Paulo: RT,
2009;
SILQUEIRA, Carol. Depois de decisão do STF sobre aborto, Maia cria comissão para
discutir tema. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/520372-DEPOIS-DE-
37
DECISAO-DO-STF-SOBRE-ABORTO,-MAIA-CRIA-COMISSAO-PARA-
DISCUTIRTEMA.html>;