Você está na página 1de 38

UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU

LARISSA TEIXEIRA

TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS DE EXPLORAÇÃO


SEXUAL:
UMA ANÁLISE SOBRE AS LEIS E PREVENÇÕES QUANTO AO SEU
ENFRENTAMENTO

São Paulo – 2022


LARISSA TEIXEIRA

TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS DE EXPLORAÇÃO


SEXUAL:
UMA ANÁLISE SOBRE AS LEIS E PREVENÇÕES QUANTO AO SEU
ENFRENTAMENTO

Trabalho de conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Graduação em Direito, da Universidade
São Judas Tadeu, como requisito parcial para
obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Cristian Kiefer, Pós-Doutor em Direito.

São Paulo
2022
LARISSA TEIXEIRA

TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES PARA FINS DE EXPLORAÇÃO


SEXUAL:
UMA ANÁLISE SOBRE AS LEIS E PREVENÇÕES QUANTO AO SEU
ENFRENTAMENTO

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado


adequado à obtenção do título de Bacharel em
Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso
de Direito da Universidade São Judas Tadeu.

_________________________________, _______ de __________________ de 2022.


Local dia mês ano

_____________________________________________
Prof. e Orientador: Cristian Kiefer, Pós-Doutor em Direito.
UNA

_____________________________________________
2º MEMBRO: GALVÃO RABELO
12

Dedico este trabalho a minha família e amigos,


o apoio recebido foi essencial na minha
trajetória.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me possibilitar chegar até aqui e sempre guiar
meus caminhos, me abençoando com saúde mental e física.
Aos meus pais que são tudo na minha vida, por tudo que já fizeram e fazem por mim,
por todo amor, apoio, motivação e por se orgulharem de mim, assim como, meus avós e
madrinha.
Aos amigos que para mim são família, a família que não tem meu DNA, mas que a
vida me deu: Adezuita, Fernando, Beatriz e Emilly, por todas as conversas leves sobre as
coisas da faculdade, por todo o apoio sem pressão e por tornarem as coisas mais fáceis pra
mim.
Passar por esses 5 anos não foi fácil e sou muito feliz por ter essas pessoas tão
especiais na minha vida, ao longo de todos os obstáculos, momentos bons e ruins. Espero
que estejam na minha vida nos próximos passos e que eu possa sempre compartilhar
momentos bons e ruins ao lado dessas pessoas.
Conheci muitas pessoas nessa caminhada e espero levar algumas para a vida mesmo
após o fim da faculdade, principalmente as 2 pessoas que estiveram ao meu lado desde o 1º
ano, Yanca e Matheus. Tivemos muitos momentos, trabalhos juntos, dúvidas tiradas e risadas
de felicidade e desespero.
Tive muitos professores ao longo dos anos e sou grata a todos por todo o
conhecimento passado, todas as dúvidas tiradas, todas os conselhos e dicas.
A todos que contribuíram de forma involuntária ou voluntaria para que eu concluísse
este TCC e a minha graduação.
Um dos meus filmes favoritos se chama “Kiss and Cry” e é baseada em uma história
real de uma garota chamada Carley Allison, onde ela passa por várias situações difíceis após
descobrir que tem um câncer raro, mas ela continuou se mostrando otimista a cada obstáculo
e até os últimos momentos. Tem algumas frases dela nesse filme que eu achei muito
marcantes e, mesmo sendo óbvias e de já ter ouvido em outros lugares, no momento em que
terminei o filme, me fizeram refletir bastante e são frases que levo para minha vida. Essas
frases são as seguintes:
“Meu lema é ‘sempre sorria’. Não me refiro a ser falsa, mas sempre, sempre ache
uma razão para estar feliz e se não encontrar, sorria de qualquer maneira.”
"A vida é muito curta para ser infeliz.”
12

“É importante contar com aqueles que te apoiam nos bons e maus momentos.”
Por fim, queria agradecer a mim mesma por nunca nem mesmo ter pensado em
desistir, porque essa nunca foi uma possibilidade. Devemos sempre correr atrás dos nossos
sonhos, por mais difíceis que sejam, por aqueles que amamos e por nós mesmos, então sou
grata por todos aqueles que me apoiam e se orgulham de mim, espero ser motivo de muito
orgulho no futuro também, mas também sou grata a mim mesma por lutar pelo que é
importante para mim, tentando sempre levar as coisas da forma mais leve possível.
“Nada é permanente nesse mundo cruel. Nem mesmo os nossos problemas.”
(Charles Chaplin)
RESUMO

O presente trabalho visa estudar o crime de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual.
Para auxiliar o entendimento, este trabalho inicia-se conceituando o delito em questão, depois
apresenta dados históricos e apresenta o ato ilícito atualmente e uma breve menção a influência
da era digital. É um ato lucrativo que não possui dados o suficiente para que seja extinto,
portanto, este trabalho demonstra o perfil das vítimas e dos aliciadores. além disso, foi
destacado o que a legislação brasileira aborda sobre o tema, com ênfase para a lei nº 13.444/16
e o artigo 149A, do código penal. Também menciona a legislação internacional com destaque
para o protocolo de palermo, que é um dispositivo de alta relevância no combate ao tráfico
humano, assim como, algumas convenções acerca do tema. Tem a finalidade de compreender
os meios de prevenção e como as leis protegem as mulheres atualmente do tráfico de pessoas,
assim como, analisar formas de aprimoramento das leis atuais, a fim de torná-las mais eficazes
e objetivas.

Palavras-chave: Tráfico Humano. Mulheres. Vítima. Exploração Sexual. Evolução Histórica.


Legislação Nacional. Legislação Internacional. Era Digital.
ABSTRACT

The present work aims to study the crime of trafficking in women for the purpose of sexual
exploitation. To aid understanding, this work begins by conceptualizing the crime in question,
then presents historical data and presents the current illicit act and a brief mention of the
influence of the digital age. It is a lucrative act that does not have enough data to make it extinct,
therefore, this work demonstrates the profile of victims and enticers. in addition, what the
Brazilian legislation addresses on the subject was highlighted, with emphasis on law nº
13.444/16 and article 149A, of the penal code. It also mentions international legislation, with
emphasis on the Palermo protocol, which is a highly relevant device in the fight against human
trafficking, as well as some conventions on the subject. It aims to understand the means of
prevention and how the laws currently protect women from human trafficking, as well as to
analyze ways to improve current laws in order to make them more effective and objective.

Key words: Human Traffic. Women. Victim. Sexual Exploitation. Historic evolution. National
Legislation. International Legislation. Digital age.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
2 ASPECTOS GERAIS DO TRÁFICO DE MULHERES.........................................11
2.1 CONCEITO DE TRÁFICO DE PESSOAS...............................................................11
2.2 PERFIL DA VÍTIMA..................................................................................................13
2.3 PERFIL DO TRAFICANTE......................................................................................16
2.4 TRÁFICO DE MULHERES PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL...........17
2.4.1 Evolução histórica do Tráfico de mulheres para fins de exploração sexual...........20
2.4.2 Atualidade do Tráfico de mulheres para fins de exploração sexual.........................22
2.4.3 Internet como meio de exploração sexual no tráfico de mulheres...........................26
3 SANÇÃO - LEIS EXISTENTES NO BRASIL..........................................................28
4 PRINCIPAIS PONTOS DAS CONVENÇÕES PARA ENFRENTAMENTO DO
TRÁFICO DE MULHERES.......................................................................................30
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................33
REFERÊNCIAS..........................................................................................................34
10

1. INTRODUÇÃO

Este trabalho aborda o tráfico de pessoas, com ênfase no tráfico de mulheres para fins
de exploração sexual. Esse tipo de tráfico existe desde o princípio da sociedade, e foi crescendo
de forma amedrontadora na sociedade atual, pois, há diversos meios que possibilitam, seja a
pobreza ou até mesmo a globalização que facilita a captura de vítimas.
O tráfico de mulheres ocorre com mulheres de classe baixa E até mesmo mulheres de
classe alta, qualquer vulnerabilidade, seja econômica, social ou psicológica pode ser visto como
uma boa oportunidade para aqueles mal-intencionados. É uma realidade desconhecida para uma
grande parte da população, visto que o tema não é muito divulgado, mas é algo que ocorre
bastante. O consentimento nesses casos é irrelevante, visto que viola os direitos humanos.
Este ato ilícito é muito complexo, visto que fere princípios éticos e morais, violando os
direitos das vítimas, principalmente a liberdade, que é um bem jurídico tutelado do indivíduo
e, é dever do estado proteger, assim como, o direito da dignidade humana, visto que são tratadas
como objetos, meras mercadorias.
O tráfico humano é muito lucrativo e tem várias modalidades além da exploração sexual
como trabalho escravo, adoção ilegal e comércio de órgãos humanos. A maioria das vítimas
desse tipo de delito são mulheres e crianças que são capturadas principalmente em busca de
condições melhores de vida, promessas de trabalho e emboscadas, mas são surpreendidas com
a escravidão e exploração. A exploração pode ocorrer tanto em território nacional, como
também pode ocorrer a exportação para outros países.
O tráfico de mulheres escraviza milhares de mulheres em todo o mundo, é uma atividade
com altos lucros e baixos riscos, que visa a exploração laboral em alguns casos, mas
principalmente a exploração sexual.
É um tema relevante não só para o sistema jurídico, mas para a sociedade como um
todo, visto que esse assunto tem pouca visibilidade. O combate contra o tráfico humano deve
ter como finalidade principalmente a tutela dos direitos humanos e não somente o combate ao
crime organizado e preocupações com as fronteiras.
A convenção de palermo, também conhecida como a Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional (Decreto Nº 5.015, de 12 de março de 2004) tem
como objetivo promover a cooperação para prevenir e combater mais eficazmente a
criminalidade organizada transnacional e é um dispositivo fundamental para o tráfico
internacional. Além dele, há também o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas
11

contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do


Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças (Decreto Nº 5.017, de 12 de março de
2004).
Em 06 de outubro de 2016, foi aprovada a lei nº 13.344, que dispõe sobre prevenção e
repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e sobre medidas de atenção às vítimas.
Esta lei adequou a legislação brasileira a legislação internacional e resultou na criação do artigo
149A, do Código Penal, introduzindo no delito também as modalidades de servidão, trabalho
escravo, remoção de órgãos ou partes do corpo e adoção ilegal, e não somente a exploração
sexual, como anteriormente previsto nos artigos 231 e 231A, do Código Penal, que abordavam
o tráfico internacional e interno de pessoas para fins de exploração sexual mas, estes artigos
foram revogados com esta adequação.
O foco deste trabalho é estudar o crime de tráfico humano, com a finalidade de promover
a exploração sexual. Primeiramente será apresentado o conceito de tráfico humano, a evolução
histórica e o perfil das vítimas e aliciadores de forma geral. Na sequência, será apresentado a
legislação internacional, com foco no protocolo de palermo, assim como nas convenções e, por
fim, a legislação brasileira e suas adequações. O intuito deste trabalho é apresentar o crime e as
respectivas dificuldades de repressão, o que de certa forma demonstra que é necessário instaurar
uma legislação mais apropriada e eficaz, assim como, mudar o comportamento da sociedade.
Por fim, este trabalho tem como finalidade promover a divulgação desse crime, visto
que o combate inicia com a divulgação.

2. ASPECTOS GERAIS DO TRÁFICO DE MULHERES

2.1. CONCEITO DE TRÁFICO DE PESSOAS

O tráfico pessoas é basicamente a retirada de uma pessoa da sua cidade, estado e as


vezes até mesmo país, através de enganação, ameaça ou coerção, no intuito de escravizar de
alguma forma essa pessoa ou retirar seus órgãos, no geral visando lucro.
Trata-se de um delito onde, em qualquer modalidade, viola direitos fundamentais e fere
a dignidade humana.

Tráfico de pessoas deve significar o recrutamento, transporte, transferência,


abrigo ou recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força ou outras
formas de coerção, de rapto, de fraude, de engano, de abuso de poder ou de uma
12

posição de vulnerabilidade ou de dar ou receber pagamentos ou benefícios, com o fim


de obter o consentimento para uma pessoa ter controle sobre outra, com propósito de
exploração. Exploração inclui, no mínimo, a exploração da prostituição ou outras
formas de exploração sexual, trabalho ou serviços forçados, escravidão ou práticas
análogas à escravidão, servidão ou remoção de órgãos. (JESUS, 2003, p. 81).

O tráfico de pessoas está previsto no artigo 149A do Código Penal, da seguinte forma:

Agenciar, aliciar, recrutar, transportar, transferir, comprar, alojar ou acolher


pessoa, mediante grave ameaça, violência, coação, fraude ou abuso, com a finalidade
de:
I - Remover-lhe órgãos, tecidos ou partes do corpo;
II - Submetê-la a trabalho em condições análogas à de escravo;
III - Submetê-la a qualquer tipo de servidão;
IV - Adoção ilegal; ou
V - Exploração sexual. (DECRETO-LEI Nº 2.848, 1940)

O Decreto Nº 5.017 (2004), também conhecido como Protocolo Palermo, define que
para efeitos do presente Protocolo:

a) A expressão "tráfico de pessoas" significa o recrutamento, o transporte, a


transferência, o alojamento ou o acolhimento de pessoas, recorrendo à ameaça ou uso
da força ou a outras formas de coação, ao rapto, à fraude, ao engano, ao abuso de
autoridade ou à situação de vulnerabilidade ou à entrega ou aceitação de pagamentos
ou benefícios para obter o consentimento de uma pessoa que tenha autoridade sobre
outra para fins de exploração. A exploração incluirá, no mínimo, a exploração da
prostituição de outrem ou outras formas de exploração sexual, o trabalho ou serviços
forçados, escravatura ou práticas similares à escravatura, a servidão ou a remoção de
órgãos;
b) O consentimento dado pela vítima de tráfico de pessoas tendo em vista
qualquer tipo de exploração descrito na alínea a) do presente Artigo será considerado
irrelevante se tiver sido utilizado qualquer um dos meios referidos na alínea a);
c) O recrutamento, o transporte, a transferência, o alojamento ou o
acolhimento de uma criança para fins de exploração serão considerados "tráfico de
pessoas" mesmo que não envolvam nenhum dos meios referidos da alínea a) do
presente Artigo; (Decreto Nº 5.017, 2004)

A definição deste protocolo é aceita em território internacional e nacional, e demonstra


a dimensão desse delito e expõe várias formas de exploração. Há a necessidade de instaurar
uma legislação mais eficaz e eficiente que proteja, ampare e auxilie às vítimas desse tipo de
crime. O tráfico humano, em pleno século XXI, ainda é utilizado como uma forma de
escravidão, visto que, há a comercialização de pessoas, como se fossem mercadorias, tratadas
como objetos e tendo o seu corpo e seus direitos humanos violados. Esse tipo de tráfico é visto
como uma espécie de crime organizado transnacional.
Há várias definições que conceituam o tráfico de pessoas, porém, não há um número
concreto, visto que muitas vítimas não conseguem sair do aliciamento para se tornar estatística.
13

Geralmente é apresentado uma falsa realidade as vítimas e, ao chegarem no local real


de destino, descobrem que não é o local esperado e que a realidade é outra, onde acabam
perdendo sua liberdade em todos os sentidos e são transformadas em objetos. O tráfico de
pessoas é uma violação aos direitos humanos e, sendo assim, é necessário que todos os
envolvidos nessa conduta sejam punidos de forma feroz, tanto o agressor, quando aquele que
está vendendo pessoas.
É uma realidade cruel, porém, no tráfico de mulheres, o termo mulher deve ser
interpretado como de todas as faixas etárias, pois, no tráfico de pessoas há muitas meninas que
sofrem com esse abuso, muitas ainda são virgens e, em alguns casos, acabam sendo
consideradas ainda mais valiosas aos que estão encomendando antes do momento do tráfico ou
até mesmo “comprando” após já ser traficada.
Não é possível pontuar minuciosamente todos os detalhes deste crime, visto que há um
leque enorme e, exatamente por este motivo, é necessário que o Estado continue combatendo
para que um dia o tráfico de pessoas deixe de existir e, enquanto isso não acontece, que pelo
menos haja uma diminuição nos números de casos.
É desumano que ainda haja pessoas que enxergam outras pessoas somente como objetos,
ao ponto de comercializá-las e, mesmo com tanta tecnologia que deveria facilitar a divulgação
das informações e orientações aqueles mais vulneráveis, ainda há pessoas que utilizam isso
como uma outra forma de atrair vítimas e compradores mal-intencionados.
É muito importante observar a evolução da legislação durante os anos, visto que antes
do protocolo Palermo, a preocupação era somente a prostituição.

2.2. PERFIL DA VÍTIMA

O tráfico de pessoas é uma realidade em todo o mundo, porém não é muito discutida no
Brasil. Há uma notícia denominada Tráfico de pessoas: conheça o variado perfil das vítimas,
disponibilizada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, onde dispõe o
seguinte:

Segundo o Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas, divulgado pelo


Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) em 2018, quase 25
mil vítimas foram detectadas no mundo em 2016.
Seguindo as proporções do gráfico, o número tende a aumentar ano após ano.
As estatísticas refletem apenas os casos registrados, que podem representar apenas
uma parte se levados em consideração os ainda não detectados. O tema segue sendo
14

acompanhado de perto pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos


(MMFDH), por meio da Secretaria Nacional de Proteção Global (SNPG).
A assessora para Assuntos sobre Refugiados, Cláudia Giovannetti, falou
sobre o crime. “Nesse crime, os traficantes se aproveitam da situação de
vulnerabilidade das pessoas para colocá-las em uma situação de exploração. As
vítimas têm perfis muito variados, podem ser mulheres, crianças, adolescentes,
pessoas LGBT, imigrantes, homens. O que as une é exatamente a vulnerabilidade que
as expõe a promessas e ofertas enganosas”, explicou.
De acordo com a assessora, as dificuldades exploradas não são apenas
econômicas, mas sociais, situacionais ou circunstanciais. “Essas vulnerabilidades
podem ser decorrentes de uma característica da pessoa como, por exemplo, o fato de
ser criança, o seu sexo ou a sua orientação sexual. Também há aquelas situacionais,
relacionadas e um momento pelo qual a pessoa esteja passando, como o fato de estar
indocumentada em um país que não é o seu. Já as circunstanciais envolvem situações
econômicas, dependência química, entre outras”, disse. (...) O relatório da UNODC
revelou que a maioria das vítimas são mulheres e meninas, recorte que chega a 72%
dos casos. (...) Para a secretária nacional de Políticas para as Mulheres, Cristiane
Britto, o motivo é a exploração sexual. "Essas mulheres e meninas são levadas para
serem exploradas sexualmente ou vítimas de trabalho escravo. Entretanto, o tema é
pouco discutido na sociedade”, concluiu.
Em relação ao tráfico de mulheres, o relatório mostra que 83% são traficadas
com fins de exploração sexual, 13% para trabalho forçado e 4% para outras
finalidades. Já entre os homens, 82% são traficados para trabalhos forçados, 10% com
fins de exploração sexual, 1% para remoção de órgãos e 7% para outros objetivos.
(GOV.BR, 2020)

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, também disponibilizou em


2021 a notícia denominada Crianças, adolescentes e mulheres são 75% das vítimas do tráfico
de pessoas, apontam dados do Disque 100, onde apresenta a seguinte informação:

De janeiro de 2020 a junho de 2021, foram registrados pelo Disque 100 301
casos de tráfico de pessoas. Destes, 50,1% são crianças e adolescentes e outros 24,9%
mulheres. A divulgação dos dados faz parte das ações do Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) no Dia Mundial de Combate ao Tráfico
de Pessoas (...) Em todo o mundo, de acordo com o último Relatório Global sobre
Tráfico de Pessoas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC),
mulheres e meninas continuam sendo as principais vítimas do tráfico de pessoas
(65%). A finalidade de exploração sexual, que envolve principalmente vítimas
femininas (92%), representa 50% dos casos.
Ainda segundo o relatório, entre as mulheres vítimas, 77% foram traficadas
para a exploração sexual e 14% para fins laborais. Nas situações onde foram
identificadas exploração do trabalho, o segmento feminino representa a maioria nas
atividades domésticas. (GOV.BR, 2022)

Somente se baseando nas estatísticas criminais não é possível identificar o perfil das
vítimas, visto que a polícia não registra as características das vítimas, como idade, cor de cabelo,
tom da pelo, altura e outros detalhes físicos, para esse tipo de informação é necessário buscar
outras fontes de informações, como por exemplo dados levantados por instituições.
Embora os dados numéricos sejam alarmantes, estão longe de corresponder a realidade,
visto que o tráfico de pessoas ocorre de forma clandestina e muitas vezes não é descoberto. As
15

estimativas variam de acordo com o ano em que é avaliada, quem fez a avaliação, a metodologia
utilizada e vários outros aspectos.
Não são muitos os casos em que as vítimas são levadas a força, geralmente são
enganadas com falsas propostas, como oferta de viagem e acomodação com tudo pago e uma
vaga de emprego com salário alto em outro Estado ou País e as vezes até mesmo promessa de
casamento, porém a realidade acaba sendo bem diferente e acabam se tornando vítimas de
escravidão e exploração.
As pesquisas apontam as principais vítimas como sendo mulheres jovens, com alguma
vulnerabilidade. O tráfico de mulheres ocorre principalmente para fins de exploração sexual,
seja de mulheres de classe baixa, média e, até mesmo mulheres de classe alta, qualquer
vulnerabilidade, seja econômica, social ou psicológica pode ser vista como uma boa
oportunidade para aqueles mal-intencionados. Há mulheres traficadas de todos os lugares,
Mulheres jovens, com baixo nível de escolaridade, baixa remuneração e classe média baixa
pode ser vista como o principal alvo, porém não é o único, visto que há muitos fatos que podem
influenciar. De acordo com pesquisas, há 4 estados que mais “fornecem” vítimas para o tráfico
de pessoas: Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Ceara.
Ainda não é possível acabar com o tráfico de mulheres e talvez nunca sejam, mas o que
as mulheres podem fazer para pelo menos tentar de alguma forma diminuir a possibilidade deve
tipo de crime, é tentar se informar mais, buscar meios que estejam ao alcance para se prevenir,
se atentar a sinais que o subconsciente detecta e faz com que se sintam nervosas, aparentemente
sem motivo, perto de pessoas que parecem simpáticas demais, de uma forma quase forçada as
vezes, que oferece coisas demais sem nenhum motivo, mas com a condição de que vá para outro
lugar principalmente se for um lugar desconhecido onde não se tem a quem recorrer caso
precise de alguém de confiança, que tenta tira-las de perto de outras pessoas e isola-la de alguma
forma. Não precisam viver sempre com medo e desconfiadas, mas é sempre bom se preocupar
consigo mesma, tentar se prevenir e ficar sempre atenta as coisas que fogem da normalidade.
Assim como, é sempre bom pesquisar sobre os lugares, antes de acompanhar alguém quase
desconhecido para esses lugares, nunca é exagero analisar os riscos do que pode vir a acontecer
e buscar meios que podem vir a serem úteis caso necessite de um suporte longe de casa e de
conhecidos.
Não ter um tipo específico de vítima, significa também que nenhuma mulher está imune
a sofrer esse crime. As mulheres devem deixar de viver suas vidas por medo, somente precisam
conferir se as informações sobre as oportunidades oferecidas são reais. Sempre haverá a
16

possibilidade, talvez mínima e talvez não tão pequena assim, que as fontes que confirmaram as
informações não sejam confiáveis, porém tudo na vida existe um risco, por isso é necessário
pesar os prós e contras, para decidir o que é melhor para si. Buscar sempre garantias de que a
oportunidade é real e, se possível, levar alguém realmente de confiança junto, pelo menos nos
primeiros dias, para ter o máximo de certeza possível de que não tentarão enganá-las.

2.3. PERFIL DO TRAFICANTE

O tráfico de mulheres é composto majoritariamente por homens, porém o número de


mulheres é considerável, visto que geralmente passam mais confiança e credibilidade para outra
mulher. A ocupação mais comum dentre os aliciadores, também denominados como traficantes,
são empresários, donos de comércios como: bares, boates, cassinos e até mesmo agência de
turismo etc. Geralmente esses não são os financiadores da operação, são somente os
intermediários, visto que para financiar é necessário uma alta quantia de investimento.
Os traficantes costumam ser elegantes, inteligentes, manipuladores e carismáticos, de
forma que passem despercebidos pela sociedade, mas ao mesmo tempo atraem atenção pra si.
Oferecem oportunidades quase irrecusáveis, ganham a confiança das vítimas e, assim,
conseguem tirá-las de perto da família, amigos e pessoas de confiança, as isolando e cortando
o contato com as pessoas que podem vir a sentir falta delas e se preocuparem ao ponto de irem
atrás delas e acionarem as autoridades.
Um dos motivos para não ser possível identificar um perfil específico das vítimas, é que
o perfil dos compradores, assim como dos traficantes e financiadores varia muito, há pessoas
mal-intencionadas que tem uma preferência por mulheres altas, assim como por mulheres
baixas, medianas, magras, acima do peso, sérias, risonhas, tímidas, extrovertidas, jovens,
crianças, negras, loiras, ruivas, cabelo curto, cabelo longo, cabelo médio, uma mistura de várias
características, uma única característica em especifico e etc. É muito complexo e a variedade
de possibilidades é enorme. Alguns criam fantasias e até há alguns que “compram” as mulheres
não só para explorar sexualmente, como também para fazer filmes desses momentos, tanto pra
si, quanto pra outrem, que não se satisfazem apenas com o momento em si, mas que gostam de
assistir também. Há psicopatas e sádicos que somente sentem prazer em ver mulheres sofrendo,
em torturá-las de qualquer forma possível. Megalomaníacos obsessivos por controle que se
satisfazem somente por poder estar no controle da situação, controlando o que acontece ou
deixa de acontecer com suas vítimas, maníacos obcecados que vê alguma mulher em algum
17

lugar e decide que quer ela para si, a qualquer custo e de qualquer forma, então desenvolve
algum plano para conseguir traficar essa pessoa ou vai até algum conhecido que faça esse tipo
de coisa. Enfim, há vários tipos de traficantes.
Ainda sobre a notícia denominada Tráfico de pessoas: conheça o variado perfil das
vítimas, disponibilizada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos:

Sobre a forma de atuação dos criminosos, Claudia destacou a pluralidade na


abordagem, que se modifica a depender da situação da vítima. "Uma forma comum
são as promessas de emprego. O 'empregador' paga a passagem ou o alojamento da
vítima, que deve pagar esse custeio com seu trabalho, uma dívida que nunca termina.
Há também promessas de emprego que não correspondem à realidade. A pessoa chega
no destino pensando que será garçonete ou modelo e, na verdade, pode acabar em
situação de exploração sexual", observou. (GOV.BR, 2020)

Os traficantes quase sempre encontram meios de convencer as vítimas a segui-los, a


irem para onde desejam, a enganá-las de alguma forma e manipulá-las para que façam o que
desejam. Geralmente são pessoas inteligentes, visto que conseguem enganar não só as vítimas,
mas também aqueles que estão ao redor dela, se passando por pessoa de boa índole.
Muitos continuam impunes por muito tempo, alguns chegam a nunca serem descobertos
e, consequentemente, nunca chegam a pagar pelos seus erros na justiça. Não somente um único
indivíduo continua impune, como as vezes toda a organização criminosa passa despercebida
pela sociedade.
O Conselho Nacional de Justiça estabelece que:

Os aliciadores, homens e mulheres, são, na maioria das vezes, pessoas que


fazem parte do círculo de amizades da vítima ou de membros da família. São pessoas
com que as vítimas têm laços afetivos. Normalmente apresentam bom nível de
escolaridade, são sedutores e têm alto poder de convencimento. Alguns são
empresários que trabalham ou se dizem proprietários de casas de show, bares, falsas
agências de encontros, matrimônios e modelos. As propostas de emprego que fazem
geram na vítima perspectivas de futuro, de melhoria da qualidade de vida.
No tráfico para trabalho escravo, os aliciadores, denominados de “gatos”,
geralmente fazem propostas de trabalho para pessoas desenvolverem atividades
laborais na agricultura ou pecuária, na construção civil ou em oficinas de costura. Há
casos notórios de imigrantes peruanos, bolivianos e paraguaios aliciados para trabalho
análogo ao de escravo em confecções de São Paulo. (CNJ, 2021)

2.4. TRÁFICO DE MULHERES PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL

O tráfico de mulheres viola a dignidade da pessoa humana, que é um dos Princípios


Fundamentais previsto na Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu
18

artigo 1º, inciso III, onde prevê que “A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: A dignidade da pessoa humana;”
Diferente do tráfico de drogas e armas, onde os objetos são materiais, o tráfico de
pessoas humanas é uma das formas mais graves e viola a dignidade humana, visto que o
indivíduo é submetido a um tratamento desumano, degradante e cruel. Dessa forma, não há
como se falar em tráfico de mulheres, sem falar em dignidade da Pessoa Humana, visto que,
dentre todos os bens jurídicos violados com essa prática, esse é o mais violado.

Explorar significa tirar proveito de algo ou enganar alguém para obter algo.
Unindo esse verbo com a atividade sexual, visualiza-se o quadro de tirar proveito da
sexualidade alheia, valendo-se de qualquer meio constrangedor, ou enganar alguém
para atingir as práticas sexuais com lucro. Explora-se sexualmente outrem, a partir do
momento em que este é ludibriado para qualquer relação sexual ou quando o ofendido
propicia lucro somente a terceiro, em virtude de sua atividade sexual. (NUCCI, 2020,
p. 920)

Visto que o cerne desse crime é o comercio de mulheres, ou seja, a compra e venda de
seres humanos que são tratados como mercadorias, sem o mínimo respeito e dignidade,
privando-os dos seus direitos mais fundamentais, essa prática viola gravemente o princípio da
dignidade humana. Sendo assim, nessa modalidade de tráfico, a mulher é convertida em um
objeto sexual, comercializada a fim de satisfazer a lascívia de outrem e, dessa forma, as mínimas
condições dignas de existência e seus valores pessoais são subitamente anulados.
Com o crime de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual, consequentemente
vem o estupro, as vezes pelo comprador, mas as vezes pelo próprio traficante.
O tráfico de mulheres é um crime imperceptível, silencioso, oculto sob o véu de um
submundo que inclui vários tipos de tráficos, que se tornou uma importante fonte de renda para
o crime organizado, é uma das maiores atividades criminosas do País.
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos também disponibilizou a
notícia denominada Webinário discute estratégias de combate ao tráfico de mulheres e
assistência às vítimas, onde participantes discutiram sobre leis, políticas públicas e fizeram
estudos de casos e expressaram o seguinte:

Ações de enfrentamento ao tráfico de meninas e mulheres e assistência às


vítimas foram os temas centrais do 4º Encontro de Organismos Governamentais de
Políticas para as Mulheres (OPMs). Transmitido online nesta quinta-feira (20), o
webinário contou com a participação de representantes do Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), do Ministério da Justiça e Segurança
19

Pública (MJSP) e da Agência da ONU para as Migrações - Organização Internacional


para as Migrações (OIM).
Os agentes que lidam diariamente com mulheres vítimas de tráfico e a rede
de apoio receberam especial atenção na formação, que foi acompanhada por mais de
60 pessoas simultaneamente. A diretora do Departamento de Políticas de
Enfrentamento à Violência contra as Mulheres do MMFDH, Grace Justa, afirma que
o trabalho em conjunto é essencial no combate a esse tipo de crime. “Acreditamos que
a parceria com o Ministério da Justiça torna a rede de atendimento às vítimas muito
mais eficiente e presente nos espaços que precisam de monitoramento. Seguir um
fluxo de atendimento rápido, transparente e amparado por políticas públicas eficientes
é o diferencial para conseguirmos conter o fenômeno do tráfico de meninas e
mulheres”, afirma.
“Atualmente, a nossa maior dificuldade é ter dados mais concretos dessa
violação. Percebemos que por vezes as mulheres não se enxergam como vítimas do
crime descrito como tráfico de pessoas. Muitas têm medo de denunciar por sofrer
represália porque os aliciadores conhecem as famílias e ameaçam a integridade delas,”
destacou Marina Bernardes de Almeida, coordenadora de Políticas de Enfrentamento
ao Tráfico de Pessoas do Ministério da Justiça. Por isso, ela reforça a importância de
capacitações para que os agentes saibam como lidar com esse tipo de situação.
(GOV.BR, 2022)

O Ministério da Justiça e Segurança Pública informa na notícia denominada Publicações,


sobre o lançamento em setembro de 2022 da Cartilha Informativa sobre o Sistema Nacional
de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Cooperação Internacional:

Foi produzida por meio da parceria entre à Secretaria Nacional de Justiça do


Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) e o Escritório das Nações Unidas
sobre Drogas e Crimes (UNODC), no âmbito do projeto “Track4TIP: Transformando
alertas em respostas da justiça criminal para combater o tráfico de pessoas em fluxos
migratórios”.
Na ocasião do lançamento foi realizada uma capacitação como forma de
disseminar o conteúdo da cartilha entre atores estratégicos, em especial servidores
públicos, buscando assim o melhor aprimoramento da comunicação e cooperação do
Brasil com outros países em casos de investigação sobre tráfico de pessoas e proteção
de vítimas. (GOV.BR, 2022)

Ainda sobre a notícia disponibilizada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública,


que informa sobre o lançamento em maio de 2022, da Cartilha de Construção de Fluxos de
Atendimento a Vítimas de Tráfico de Pessoas:

Lançado pela OIM e MJSP, o documento reúne diretrizes e boas práticas


direcionadas ao atendimento multiagencial local às vítimas brasileiras e migrantes
internacionais, incluindo pessoas venezuelanas. (...) É produto de uma série de
consultas realizadas no último ano com os Núcleos de Enfrentamento ao Tráfico de
Pessoas (NETPs). O material apresenta diretrizes e boas práticas para que os núcleos
estaduais organizem o atendimento multiagencial às vítimas brasileiras e migrantes,
em especial venezuelanas.
O guia apresenta 14 passos para a estruturação de um fluxo local eficiente,
que deve integrar ao menos cinco etapas: denúncia, enfrentamento, resgate, pós-
resgate e atendimento às vítimas. Como dependem de múltiplas organizações, os
fluxos de atendimento são complexos e se concretizam de maneira diferente em cada
rede local. (GOV.BR, 2022)
20

2.4.1. Evolução histórica do Tráfico de mulheres para fins de exploração sexual

O tráfico de mulheres, apesar de começar a ser mais divulgado a pouco tempo, não é
algo novo, acontece há séculos, houve uma evolução histórica, visto que levou muitos anos, por
exemplo, da época do tráfico negreiro até criarem o Protocolo Palermo e outras leis mais
especificas sobre o tráfico de mulheres.
Esse tipo de crime não iniciou com propostas de casamento ou emprego em outro País,
vem de bem antes, muita mais antigo, visto que na época da escravidão, mulheres eram
traficadas não somente para trabalhos domésticos e braçais, mas também para a exploração
sexual, onde eram estupradas até mesmo nas senzalas. O tráfico de mulheres para fins sexuais
não é um fenômeno novo e sim uma versão moderna de escravidão.

O tráfico internacional de pessoas para fins sexuais nos moldes como o


conhecemos hoje é recente. Porém, a análise histórica mostra que, desde os tempos de
Colônia, o Brasil padece desse mal. Dos séculos XVI a XIX, escravas negras foram
obrigadas a se prostituir pelos seus senhores. Finda a escravidão negra, os fluxos
migratórios trouxeram ao País as escravas brancas para serem exploradas
sexualmente. Hoje, de local de destino, o Brasil tornou-se primordialmente exportador
de escravos sexuais. (...) Embora se faça referência ao tráfico de pessoas como forma
moderna de trabalho escravo ou escravidão contemporânea, existe uma diferença
primordial entre o tráfico de pessoas que ocorre nos dias de hoje e o tráfico negreiro
dos séculos XVI a XIX no Brasil: este último não era ilegal. (...) A violação sexual
das negras se dava especialmente por parte dos senhores, mas ocorria também nas
senzalas. (...) Gilberto Freyre apresenta alguns aspectos da prostituição das escravas.
Havia os senhores que enfeitavam as negras com joias de ouro, rendas e roupas finas
e as ofereciam aos clientes. Outros obrigavam as negras, muitas delas ainda crianças,
a se oferecer nas ruas e nos portos, onde desembarcavam marinheiros com toda
espécie de moléstia, sobretudo a sífilis. Havia ainda as que ficavam expostas nas
janelas, seminuas, nas zonas de meretrício. Comum a todas elas era que a receita dos
serviços prestados pertencia aos senhores. Alguns tiravam a própria subsistência desse
mercado. Outros o tinham como mais uma fonte de renda.
A existência de escravas prostitutas era prática comum no Rio de Janeiro do
século XIX. Segundo relata Cristiana Schettini Pereira, os “senhores” dessas escravas
eram, em regra, mulheres brasileiras e portuguesas sem muitos recursos.
Sobre a prostituição de escravas em São Paulo não há documento oficial, mas
alguns indícios, como anúncios de jornais sobre a venda de belas jovens negras, levam
a crer que ela ocorria também nesse Estado.
Conforme afirma Jacob Gorender, a prostituição das escravas era uma prática
comum no Brasil. Com a expansão do sistema escravista, houve também o aumento
da exploração de negras como prostitutas. (...)
Mesmo após abolida a escravidão, era possível encontrar ex-escravas negras
na prostituição. Aos poucos, porém, foram sendo substituídas pelas europeias,
escravas de outros senhores, os cáftens e proxenetas.
Em que pese não fosse a prostituição o intuito primeiro do tráfico de negros,
aqui chegando muitas negras foram exploradas sexualmente por seus senhores e
também obrigadas a se prostituir. Segundo Gilberto Freyre, “foram os corpos das
negras – as vezes meninas de dez anos – que constituíram, na arquitetura moral do
patriarcalismo brasileiro, o bloco formidável que defendeu dos ataques e afoitezas dos
don-juans a virtude das senhoras brancas”.
21

Passado mais de um século da abolição da escravatura pela Lei Áurea (1888),


poder-se-ia esperar uma evolução social capaz de superar essas atrocidades.
Formalmente isso aconteceu.
No Brasil, o Decreto n. 58.563, de 1º- 6-1966, promulgou a Convenção sobre
Escravatura, de 1926, emendada pelo Protocolo de 1953, e a Convenção Suplementar
sobre a Abolição da Escravatura, de 1956. Seu art. 2o determina que os Estados
signatários se comprometam a impedir e a reprimir o tráfico de escravos e a promover
a abolição completa da escravidão sob todas as suas formas. A Declaração Universal
dos Direitos Humanos, de 1948, estabelece em seu art. 4o que ninguém será́ mantido
em escravidão ou servidão, e que a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos
em todas as suas formas. O Pacto de São José da Costa Rica, de 1969, também trata
da matéria. O art. 6º proíbe a escravidão e a servidão, bem como o tráfico de escravos
e o tráfico de mulheres.
Na prática não é o que se vê̂. No século XXI, os seres humanos continuam a
ser traficados, escravizados e explorados sexualmente.
A partir do final do século XIX, já́ abolida a escravidão de negros, a
preocupação passa a ser com o tráfico de escravas brancas para fim de exploração
sexual. No Brasil, o Código Criminal do Império não previa o crime de lenocínio, mas
este foi incluído no Código Penal de 1890, período de intensa migração.
Segundo explica Lená Medeiros de Menezes, a exploração sexual de
mulheres não era uma atividade nova durante o século XIX e início do século XX,
mas havia adquirido uma nova caracterização “à medida que o capitalismo e a
expansão europeia haviam redesenhado o mundo e a vida urbana, promovendo a
internacionalização dos mercados e a expansão dos prazeres”. Nesse cenário, a mulher
transformou-se em produto de exportação da Europa para outros continentes.
Das últimas décadas do século XIX às primeiras décadas do século XX,
Buenos Aires e Rio de Janeiro foram as capitais do tráfico internacional de mulheres
na América do Sul e constituíam a porta de entrada para as demais cidades do
continente. (...) Conforme conclui Guido Fonseca25, a significativa presença de
mulheres de determinadas nacionalidades, como Rússia, França e Polônia, só pode ser
explicada pela ação do tráfico, pois a imigração desses povos para o Brasil não era
comum. Quanto aos cáftens, eram em sua maioria estrangeiros, mormente europeus.
A pena para eles era, em regra, a expulsão do País.
As grandes correntes migratórias, a partir do último quartel do século XIX, e
o crescente movimento do tráfico internacional de mulheres visando à prostituição
obrigaram os Estados a se reunir, para debater a questão e elaborar acordos
internacionais, visando prevenir e punir esse crime. Já em 1885, no Congresso
Penitenciário de Paris, o tema foi debatido, e em 1899 aconteceu em Londres um
Congresso Internacional sobre Tráfico de Escravas Brancas. Em 1902, ocorreu a
Conferência de Paris, com a participação do Brasil.
Em 1904, foi assinado em Paris o Acordo Internacional para a Repressão do
Tráfico de Mulheres Brancas, elaborado pela Liga das Nações e promulgado no Brasil
pelo Decreto n. 5.591, de 13-7-1905. No ano de 1910, foi assinada a Convenção
Internacional relativa à Repressão do Tráfico de Escravas Brancas, promulgada no
Brasil pelo Decreto n. 4.756, de 28-11-1923, e pelo Decreto n. 16.572, de 27-8-1924.
Após a assinatura desses acordos, teve início a Primeira Guerra Mundial, que
perdurou de 1914 a 1918. Durante esse período houve uma diminuição do tráfico, mas
com o término da guerra os movimentos migratórios tomaram novo fôlego,
impulsionados pela destruição e pelo estado de miséria dos países europeus. Assim,
foi assinada em 1921 a Convenção Internacional para a Repressão do Tráfico de
Mulheres e Crianças, promulgada no Brasil pelo Decreto n. 23.812, de 30-1-1934.
Em 1933, firmou-se novo documento, a Convenção Internacional relativa à
Repressão do Tráfico de Mulheres Maiores, a última sob o patrocínio da Liga das
Nações, e promulgada pelo Brasil pelo Decreto n. 2.954, de 10-8-1938.
Em 1950, já sob a égide da ONU, foi assinada a Convenção para a Repressão
do Tráfico de Pessoas e do Lenocínio, promulgada no Brasil pelo Decreto n. 46.981,
de 8-10-1959. Essa convenção foi a primeira a reconhecer que qualquer pessoa
poderia ser vítima do crime de tráfico internacional de pessoas.
22

Finalmente, no ano 2000, foi aprovado o Protocolo Adicional à Convenção


das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, relativo à Prevenção,
Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em especial Mulheres e Crianças, e
promulgado no Brasil pelo Decreto n. 5.017, de 12-3-200428.
Entre 1904 e 2000, observa-se a evolução da legislação internacional sobre a
matéria. No tocante ao objeto de proteção, houve um alargamento, pois inicialmente
a proteção era destinada apenas às “escravas brancas”, avançando para “mulheres e
crianças” e finalmente para “pessoas” ou “seres humanos”.
Outra alteração se deu no tocante ao tratamento dispensado à vítima. Ao
longo do tempo, percebeu-se que a vítima desse tráfico carece de proteção e ajuda e
não deve ser tratada como criminosa. Essa postura constitui um dos objetivos do
Protocolo de Palermo, nos termos de seu art. 2º, b: “proteger e ajudar as vítimas desse
tráfico, respeitando plenamente os seus direitos humanos”. (RODRIGUES, 2013, p.
55-63)

Damásio E. de Jesus complementa estabelecendo que:

O tráfico de seres humanos faz parte da nossa história. O Brasil foi o último
país ocidental a promover a abolição do trabalho compulsório, em 1888, não sem ter
resistido por décadas. Os navios negreiros transportaram, durante 300 anos, milhões
de pessoas, homens, mulheres e crianças, para o trabalho agrícola. O trabalho era base
da exploração, que também se estendia à servidão doméstica, à exploração sexual e
às violações físicas. (...) Hoje, cruzam os oceanos centenas de milhares de pessoas em
busca também de um sonho, a inclusão na sociedade de consumo, fugindo das guerras
que assolam um quarto do planeta, da fome, da perseguição religiosa e da violência
étnica. As mulheres e as crianças, nesse novo contexto, deixam seu país de origem
para engendrar uma viagem que muitas vezes não tem volta, nas mãos de quadrilhas
internacionais interessadas em sua exploração, no contexto do crescimento do
mercado sexual. (...) Nesses últimos 100 anos, o Brasil passou de país de destino para
país fornecedor do tráfico de mulheres e crianças. Apesar de ser um problema
flagrante, não há estatística confiável para fornecer uma precisa ideia da sua extensão.
É certo que o País está às voltas com o tráfico de mulheres, sobretudo para fins de
exploração sexual. (JESUS, 2003, p. 71-72).

2.4.2. Atualidade do Tráfico de mulheres para fins de exploração sexual

Com as evoluções históricas, veio a convenção de palermo, também conhecida como a


Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Decreto Nº 5.015,
de 12 de março de 2004) que, tem como objetivo promover a cooperação para prevenir e
combater mais eficazmente a criminalidade organizada transnacional e é um dispositivo
fundamental para o tráfico internacional. Além dele, há também o Protocolo Adicional à
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Relativo à Prevenção,
Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças (Decreto Nº
5.017, de 12 de março de 2004).
Em outubro de 2016, foi aprovada a lei nº 13.344, que dispõe sobre prevenção e
repressão ao tráfico interno e internacional de pessoas e sobre medidas de atenção às vítimas.
Esta lei adequou a legislação brasileira a legislação internacional e resultou na criação do artigo
23

149A, do Código Penal, que introduziu no delito também as modalidades de servidão, trabalho
escravo, remoção de órgãos ou partes do corpo e adoção ilegal, e não somente a exploração
sexual, como anteriormente previsto nos artigos 231 e 231A, do Código Penal, que abordavam
o tráfico internacional e interno de pessoas para fins de exploração sexual, mas foram revogados
com esta adequação.
Houve avanços ao longo dos anos, dentre eles novas convenções e revogação de alguns
artigos, assim como, também houve a evolução da era digital que contribuiu para o tráfico de
mulheres, mas também aumentou a divulgação do tema, com diversas notícias sobre.
Como exemplo do avanço na divulgação desse tema, em julho de 2022 foi realizado um
evento, em Belém, e foi uma iniciativa do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
(UNODC), conforme notícia denominada MPT participa de capacitação sobre assistência às
vítimas de tráfico de pessoas promovida pela ONU, publicada pelo Ministério Público do
Trabalho no Pará e no Amapá:

Fortalecer as capacidades e o conhecimento dos agentes públicos que atuam


na rede local de assistência ao migrante. Esse foi um dos objetivos da capacitação
sobre “Assistência às vítimas de tráfico de pessoas e direitos das pessoas migrantes",
realizada pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em
conjunto com a Defensoria Pública da União (DPU), em Belém. O evento, realizado
nos dias 7 e 8, no hotel Sagres, contou com a participação de várias instituições, entre
elas o Ministério Público do Trabalho no Pará e Amapá (MPT PA-AP), representado
pela procuradora do Trabalho, Claudia Colucci Resende, da Coordenadoria Regional
de Combate ao Trabalho Escravo (Conaete – MPT).
Em razão do grande fluxo de migrantes venezuelanos, em especial de
indígenas da etnia Warao, Belém é uma cidade estratégica para a realização do evento.
O treinamento foi dividido em módulos que foram apresentados por autoridades,
capacitadores locais, além de especialistas convidados de outras partes do país. Entre
os temas abordados estão as ações de prevenção e proteção às vítimas de tráfico de
pessoas pelas redes do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de
Assistência Social (SUAS), trabalho forçado, crianças migrantes, violência de gênero,
racismo e a questão indígena.
Para a procuradora do Trabalho, Claudia Resende, “a capacitação da rede de
atendimento assistencial se mostra essencial como uma das frentes de atuação no
combate ao trabalho escravo: a divulgação do conhecimento e da informação”.
No módulo sobre trabalho escravo, Claudia Resende destacou a atuação do
MPT no combate a esse tipo de prática e ao tráfico de pessoas, com destaque para a
ação dos Grupos de Trabalho e de Fiscalização Móvel, com atuação regional e
nacional, além de projetos estratégicos de sensibilização e disseminação de
conhecimento em aeroportos (Liberdade no Ar), e capacitações da rede de
atendimento dos trabalhadores resgatados.
A procuradora ressaltou ainda a importância do envolvimento do órgão em
iniciativas como essa. “A participação do MPT aproxima a instituição da sociedade,
apresentando o seu papel na garantia dos direitos fundamentais dos trabalhadores, e
colabora com a divulgação do conhecimento e com o combate à desinformação”,
afirmou.
O diálogo também contou com a fala de representantes da DPU e Auditoria
Fiscal do Trabalho. Após as apresentações, houve roda de debates sobre dois casos,
24

com proposição de encaminhamentos pelos participantes e comentários dos


palestrantes.
O evento ocorreu no âmbito da iniciativa Track4Tip, implementada pelo
UNODC, com o apoio do Escritório de Monitoramento e Combate ao Tráfico de
Pessoas do Departamento de Estado dos Estados Unidos. O objetivo principal do
projeto é aprimorar a resposta da justiça criminal ao tráfico de pessoas nos fluxos
migratórios de oito países da América do Sul e do Caribe, incluindo o Brasil.
(ASCOM, 2022)

Outro ponto que demonstra a divulgação é que, conforme publicação do site Gov.br da
notícia, disponibilizada pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que informa sobre
um acordo de cooperação que fortalece o enfrentamento do tráfico de pessoas na aviação civil,
no âmbito do projeto Liberdade no Ar, ANAC e MPT iniciaram uma parceria inédita para a
prevenção do tráfico de pessoas:

Com o objetivo de fortalecer o combate ao tráfico de pessoas no setor aéreo


brasileiro e internacional e ampliar o conhecimento sobre o tema, a Agência Nacional
de Aviação Civil (ANAC) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) deram início,
nesta sexta-feira, 29 de julho, a uma parceria inédita, por meio de um acordo de
cooperação, no âmbito do Projeto Liberdade no Ar.
A iniciativa, lançada em 2020, conta com o envolvimento de diversas
organizações nacionais e internacionais, tais como o Escritório das Nações Unidas
sobre Drogas e Crime (UNODC), a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a
Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Criança e da Juventude (ASBRAD), e
a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O acordo de cooperação celebrado entre a ANAC e o MPT, publicado no
Diário Oficial da União, em 29 de julho de 2022, visa a realização de ações de
prevenção ao tráfico de pessoas e ao trabalho em condição análoga à de escravo. A
iniciativa prevê a conjugação de esforços e o intercâmbio de conhecimentos,
informações e experiências visando a promoção de atividades nos eixos de combate à
essa prática criminosa.
A parceria possibilita a ampliação das ações que a ANAC já executa na
elaboração de soluções regulatórias para o enfrentamento ao tráfico de pessoas,
através do reforço, orientação e aprovação do treinamento junto às empresas aéreas,
assim como para atuação no âmbito interno e externo do órgão. (...) Como parte das
ações do MPT para a semana do Dia Mundial e Nacional de Enfrentamento ao Tráfico
de Pessoas, lembrado em 30 de julho, foram promovidos debates com transmissão ao
vivo no canal da Asbrad no Youtube, por meio da websérie “Tráfico de Pessoas no
Brasil”. (GOV.BR, 2022)

A Contec Brasil publicou uma notícia denominada como Dia Internacional Contra a
Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, onde expos o seguinte:

O tráfico de mulheres e crianças é um dos problemas internacionais que mais


movimenta dinheiro criminoso no mundo. De acordo com dados do Escritório das
Nações Unidas para as Drogas e o Crime (UNODC), 80% das vítimas de tráfico
humano para exploração sexual são meninas e mulheres. Como parâmetro, somente
em 2016, foram registradas pela Polícia Federal 71 vítimas de tráfico humano para
exploração sexual, todas mulheres.
25

No contexto mundial, o Brasil é caracterizado como um país de origem,


trânsito e destino de pessoas traficadas, estando assim presente em todas as frentes
desse mercado criminoso. (SARAH, 2022)

Ainda, há pouco tempo foi divulgada a notícia denominada Grupo investigado por
tráfico de mulheres e exploração sexual fez cerca de 200 vítimas, diz PF, sobre uma operação
deflagrada por policiais da sede da PF em Sorocaba (SP), onde informa que:

O grupo investigado por tráfico internacional de mulheres e exploração


sexual fez cerca de 200 vítimas, informou a Polícia Federal na delegacia de Sorocaba
(SP), responsável pela operação "Harem BR". Entre as vítimas estão menores de
idade.
Seis pessoas foram presas, quatro no Brasil, em Foz do Iguaçu (PR), São
Paulo (SP), Goiânia (GO) e Rondonópolis (MT), uma em Portugal e outra na Espanha.
A prisão na capital paulista é do investigado apontado como o principal alvo
do esquema criminoso. O homem foi encontrado em uma casa no Bairro Granja
Julieta. Na residência de luxo, policiais apreenderam documentos e mídias para
investigar se há mais envolvidos.
Uma mulher foi presa na Espanha. Ela é apontada como "a despachante" do
grupo, responsável por facilitar e falsificar a documentação para enviar as vítimas a
outros países.
Ao todo, a 1ª Vara da Justiça Federal em Sorocaba expediu nove mandados
de busca e apreensão e oito de prisão preventiva. Cinco alvos de mandados de prisão
foram incluídos na lista da Interpol por estarem em outros países, como Paraguai,
Estados Unidos, Espanha, Portugal e Austrália. (...) Os criminosos ganhavam
confiança das supostas clientes e ofereciam para fazer ensaios fotográficos até o
momento em que ofertavam emprego, quando as vítimas eram aliciadas.
Segundo a PF, a mulher presa em Portugal tinha envolvimento com rede de
prostituição nos Estados Unidos. Já o homem preso em Foz do Iguaçu, no Paraná,
seria um cliente que contratou programas com menores de idade no Paraguai.
(NOGUEIRA, 2021)

Ainda, na atualidade uma outra forma de divulgação do tema tráfico de mulheres é a


divulgação através de ficção. Há livros de ficção de escritores brasileiros e internacionais, do
gênero romance geralmente, em que abordam o tópico tráfico de mulheres, no contexto das
histórias romantizam bastante os fatos e ou não menciona a legislação ou menciona de forma
bem rasa, visto que o foco não é o tráfico. Mas, mesmo que não seja o foco das histórias, ainda
é uma forma de divulgar esse tema. Além de livros, também há seriados policiais internacionais
que, em alguns episódios abordam casos de tráfico de mulheres, onde analisam como ocorreu
até chegarem ao criminoso responsável, como a série Law & Order: SVU criada por Dick
Wolf e a série Criminal Minds criada por Jeff Davis. Já no Brasil, em 2012 houve a novela
Salve Jorge criada por Glória Perez, onde abordava o tráfico de mulheres do Brasil para a
Turquia, desde o momento em que a personagem principal conhece aleatoriamente uma pessoa
que oferece emprego no exterior, o momento em que ela chega no destino e descobre a
realidade, as situações que ela passa enquanto traficada e até mesmo a forma como foge, busca
26

ajuda e vai atrás de justiça para que os responsáveis sejam presos. Tanto nas séries
internacionais, quando na novela brasileira, os fatos informados não são exatamente concretos,
até porque é ficção, mas de certa forma demonstra para as pessoas que o tráfico de pessoas é
um crime e, mesmo que não seja tão falado, ainda existe. Então, visto que muitas pessoas não
saibam sobre esse crime devido a não ter nenhum conhecido ou parente que tenha passado por
isso, essas séries e livros também são uma forma de divulgar esse tema, já que há uma grande
a quantidade de pessoas que acompanham as séries, novela e livros. O ideal é que a ficção
chame a atenção das pessoas sobre esse tema, para que após isso, elas procurem se informar
melhor sobre como ocorre e como se prevenir.
Portanto, ainda não foi possível acabar com o tráfico de mulheres, porém de tempos em
tempos há algumas evoluções e as vezes traficantes e ações de quadrilha para tráfico de
mulheres são encontrados, investigados e presos. A forma como se locomovem de um Estado
a outro, de um País a outro ainda não foi extinta, então ainda ocorrerá muitos casos. Espera-se
que de caso em caso em algum momento esse combate contra o tráfico de mulheres termine.

2.4.3. Internet como meio de exploração sexual no tráfico de mulheres

Com a evolução histórica, além de novos decretos, protocolos, convenções e revogação


de leis, a facilidade de comunicação através da internet tornou possível a conexão de pessoas,
mesmo que em Estados ou Países diferentes e distantes, o que também facilitou o acesso a
informações sobre as pessoas, suas vidas e seu dia a dia, o que acaba facilitando o tráfico de
mulheres também.

De modo geral: a transformação digital traz consigo oportunidades para


melhorar as condições de vida, mas também riscos para o bem-estar dos indivíduos e
para a preservação de uma ordem social justa. Se e como as oportunidades oferecidas
pela digitalização podem ser exploradas e os riscos minimizados, são questões que
podem ser configuradas. Entre os atores de formação, incluem-se empresas
econômicas, inovadores individuais, grupos de interesse, muitos usuários, mas
também hackers. A criação de precauções para salvaguardar o bem-estar individual e
público está nas mãos de todos os envolvidos. Ao mesmo tempo, esta é uma tarefa
importante dos Estados. Para seu cumprimento, o meio de controle do Direito pode
ser usado, entre outras opções. (HOFFMANN-RIEM, 2021, p. 25)

Quase tudo no mundo tem dois lados: o ruim e o bom, e com a era digital ao que se
refere a tráfico de mulheres, não poderia ser diferente. Por um lado, a evolução das tecnologias
e das redes sociais facilita para que os traficantes localizem potenciais vítimas que atendam a
algum perfil específico A velocidade com que a circulação de dados das pessoas ocorre, a
facilidade em criar perfis falsos e a difusão de conteúdos ilícitos no ciberespaço, contribuem
27

para esse tipo de tráfico. A internet facilita para que descubram mais sobre a vida e rotina dessas
mulheres, os traficantes analisam os perfis das vítimas buscando as mais vulneráveis. Facilita e
proporciona uma forma mais simples de entrar em contato: através de mensagens, ou seja, não
é mais necessário ficar frente a frente com a vítima inicialmente, é possível tentar ganhar a
confiança, manipulá-la, convencê-la através de mensagens, mostrar fotos e informações fakes
de onde irão trabalhar se aceitarem a proposta de se mudar, entre outras situações. Traficantes
com agências de viagem ou emprego falsas colocam anúncios na internet, oferecendo
oportunidades imperdíveis no exterior, tanto para trabalho, quanto para viagens. Assim como,
pessoas que se reconhecem pela internet, se dizem apaixonadas e propõem casamento,
solicitando que a mulher se mude para o exterior para encontrar seu noivo. Assim como,
também utilizam a internet a fim de achar compradores.

Em seus estudos, José de Oliveira Ascensão afirma que: “Um dos mais
graves problemas que a internet suscita consiste na possibilidade de ser utilizada como
via para a difusão de conteúdos ilícitos”. Nessa linha de análise, a Internet é meio, é
veículo, é instrumento; assim, o caráter criminoso, o sadismo humano e a busca de
impunidade ao comportamento desviante podem se manifestar inter praesentes ou
inter absentes, pelos mais variados mecanismos de interação. Nesse sentido, o Brasil
tem-se destacado pelo volume de adesão ao espaço virtual, mas também pelo número
de violações. Mais além ainda, a Internet potencializa, ainda, a criação de novas
armas, na medida em que o jogo entre pessoas, agora se afirma como um jogo de
informações entre ‘personagens virtuais’. Nesse jogo, por vezes, fica difícil retirar as
máscaras, para identificar ‘pessoas’ em ação. (BITTAR, 2014, p. 295)
As fronteiras do ‘real’ foram ampliadas e, simultaneamente, alteradas. Por
isso, uma redefinição de nossa condição se dá a partir do impacto que a tecnologia
opera na vida humana. Em Zukunft der Menschlichen Natur, de 2001, o filósofo
alemão Jürgen Habermas já afirmava o caráter problemático da presença da tecnologia
na redefinição da identidade do humano. (BITTAR, 2014, p. 287)

Já dizia Damásio E. de Jesus anos atrás que “os recursos da Internet facilitam a
disseminação de anúncios de turismo sexual, mesmo quando as agências oficiais começam a
fechar o cerco contra o problema.” (JESUS, 2003, p. 159)
Porém, por outro lado, essa evolução da era digital, facilita o acesso à informação, como
campanhas sobre esse assunto, meios de prevenção, notícias sobre as evoluções no
enfrentamento contra o tráfico de mulheres, formas de buscar informações para tentar
identificar se as propostas recebidas são verdadeiras, entre outras coisas também. Portanto, a
era digital contribuí para o aumento no tráfico nacional e internacional de mulheres, das mais
diversas formas, mas também ajuda nesse tema e, é importante lembrar que com o tempo, pode
e espera-se ser bem melhor e proporcionar mais formas de prevenção e combate contra o tráfico
de mulheres. A tecnologia e os meios de comunicação trazem muitas possibilidades positivas,
28

mas também traz as negativas e esse é mais um ponto onde as mulheres precisam se atentar e
se prevenir, buscando sempre se informar o máximo possível e se conscientizar dos riscos.

3. SANÇÃO - LEIS EXISTENTES NO BRASIL

O tráfico de mulheres é um crime de ação múltipla, visto que contempla vários núcleos:
recrutar, transferir, aliciar, agenciar, comprar, alojar ou acolher mulheres traficadas e, qualquer
um desses atos já configura crime de tráfico humano.
Não havendo o cumprimento das normas compreendidas nos acordos internacionais, por
parte de autoridades públicas constitui crime de responsabilidade, enquadrado no artigo 85,
inciso VII, da Constituição Federal e sob o texto da , onde prevê que “São crimes de
responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal
e, especialmente, contra: O cumprimento das leis e das decisões judiciais.” (LEI Nº 1.079, 1950)
Em relação a pena, o artigo 149A, do Código Penal, prevê que:

Art. 149-A - Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.


§ 1o A pena é aumentada de um terço até a metade se:
I - O crime for cometido por funcionário público no exercício de suas funções
ou a pretexto de exercê-las;
II - O crime for cometido contra criança, adolescente ou pessoa idosa ou com
deficiência;
III - O agente se prevalecer de relações de parentesco, domésticas, de
coabitação, de hospitalidade, de dependência econômica, de autoridade ou de
superioridade hierárquica inerente ao exercício de emprego, cargo ou função; ou
IV - A vítima do tráfico de pessoas for retirada do território nacional.
§ 2o A pena é reduzida de um a dois terços se o agente for primário e não
integrar organização criminosa. (DECRETO-LEI Nº 2.848, 1940)

Em relação a mediação para servir a lascívia de outrem, favorecimento da prostituição


ou outra forma de exploração sexual e casas de prostituição, que está ligado ao tráfico de
mulheres, os artigos 227, 228 e 229, do Código Penal, estabelecem respectivamente que:

Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:


Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1o Se a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se
o agente é seu ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou
curador ou pessoa a quem esteja confiada para fins de educação, de tratamento ou de
guarda:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou
fraude:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência.
29

§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.


Art. 228. Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de
exploração sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a abandone:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.
§ 1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge,
companheiro, tutor ou curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu,
por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou vigilância:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.
§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou
fraude:
Pena - reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à
violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que
ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do
proprietário ou gerente:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa. (DECRETO-LEI Nº 2.848,
1940)

Por fim, referente ao estupro que é uma das principais consequências do tráfico de
mulheres para fins de exploração sexual, há o artigo 213, do código penal, e sobre a violação
sexual mediante fraude há o artigo 215, também do Código Penal, que determina
respectivamente que:
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de
vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem
econômica, aplica-se também multa. (DECRETO-LEI Nº 2.848, 1940)

É importante ressaltar que os artigos 231 e 231A do código penal estabeleciam que o
consentimento das vítimas deveria ser ignorado, visto que se entendia que a concordância das
vítimas seria irrelevante, já que se encontrava em situação de vulnerabilidade. Estes artigos
foram revogados pela Lei nº 13.344/2016, porém o artigo 149A reitera que ocorrendo o
consentimento da vítima, a partir do momento em que não foi utilizado quaisquer meios para
fraudá-lo, não há crime.
30

4. PRINCIPAIS PONTOS DAS CONVENÇÕES PARA ENFRENTAMENTO DO


TRÁFICO DE MULHERES

No que diz respeito a prevenção, o principal objetivo é a diminuição da vulnerabilidade


das vítimas do tráfico de mulheres, assim como, incentivar a elaboração de Leis que tratem de
forma adequada as causas estruturais que contribuem para a existência ou permanência desse
tipo de crime. O ideal é que os planos para o enfrentamento tráfico de mulheres tenha como
objetivo possibilitar um tratamento justo as vítimas, seguro e sem discriminação das vítimas do
tráfico, de forma em que seja realizada uma reinserção social adequada, seja garantido uma
proteção especial, acesso à justiça e a assistência psicológica.
O Brasil é signatário de vários acordos internacionais que garantem das mulheres sejam
assegurados, assim como buscam extinguir todas as formas de violência e discriminação contra
a mulher. Uma convenção muito significativa e uma das convenções em que o Brasil é
signatário é a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher, concluída em Belém do Pará, em 9 de junho de 1994, para países que ratificaram e
perante a Comunidade Internacional.
Ainda, a Convenção de Palermo, possui três protocolos adicionais que visam especificar
uma área do Crime Organizado: o Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do
Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças; o Protocolo Relativo ao Combate ao
Tráfico de Migrantes por Via Terrestre, Marítima e Aérea; e o Protocolo contra a fabricação e
o tráfico ilícito de armas de fogo, suas peças e componentes e munições.
No intuito da prevenção do tráfico de pessoas, o Protocolo Adicional à Convenção das
Nações Unidas prevê, em seu artigo 9º o seguinte:

1. Os Estados Partes estabelecerão políticas abrangentes, programas e outras


medidas para:
a) Prevenir e combater o tráfico de pessoas; e
b) Proteger as vítimas de tráfico de pessoas, especialmente as mulheres e as
crianças, de nova vitimação.
2. Os Estados Partes envidarão esforços para tomarem medidas tais como
pesquisas, campanhas de informação e de difusão através dos órgãos de comunicação,
bem como iniciativas sociais e econômicas de forma a prevenir e combater o tráfico
de pessoas.
3. As políticas, programas e outras medidas estabelecidas em conformidade
com o presente Artigo incluirão, se necessário, a cooperação com organizações não-
governamentais, outras organizações relevantes e outros elementos da sociedade civil.
4. Os Estados Partes tomarão ou reforçarão as medidas, inclusive mediante a
cooperação bilateral ou multilateral, para reduzir os fatores como a pobreza, o
subdesenvolvimento e a desigualdade de oportunidades que tornam as pessoas,
especialmente as mulheres e as crianças, vulneráveis ao tráfico.
31

5. Os Estados Partes adotarão ou reforçarão as medidas legislativas ou outras,


tais como medidas educacionais, sociais ou culturais, inclusive mediante a cooperação
bilateral ou multilateral, a fim de desencorajar a procura que fomenta todo o tipo de
exploração de pessoas, especialmente de mulheres e crianças, conducentes ao tráfico.
(DECRETO Nº 5.017, 2004)

Assim como, o artigo 4 determina que “Toda mulher tem direito ao reconhecimento,
desfrute, exercício e proteção de todos os direitos humanos e liberdades consagrados em todos
os instrumentos regionais e internacionais relativos aos direitos humanos”. (DECRETO Nº
1.973, 1996)

Ainda em relação a esses crimes previstos em tratados ou convenções


internacionais dos quais o Brasil seja signatário (v.g., crimes de guarda de moeda
falsa, de tráfico internacional de entorpecentes, contra as populações indígenas, de
tráfico de mulheres, de envio ilegal e tráfico de menores, de tortura, de pornografia
infantil e pedofilia e corrupção ativa e tráfico de influência nas transações comerciais
internacionais), convém lembrar que, mesmo que tais delitos sejam cometidos
integralmente no exterior, ficarão sujeitos à lei penal brasileira. Tem-se, nesse caso,
hipótese de extraterritorialidade condicionada da lei penal brasileira, na medida em
que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir tais delitos (CP, art. 7º,
II, “a”). Nesses casos, a aplicação da lei penal brasileira estará condicionada ao
implemento das condições constantes do § 2º do art. 7º do CP. Nessa hipótese de
extraterritorialidade condicionada da lei penal brasileira, seja o agente brasileiro ou
estrangeiro, e desde que o delito tenha sido praticado inteiramente no exterior, sem
que a conduta e o resultado tenham ocorrido no território brasileiro, a competência
será da Justiça Comum Estadual, haja vista a inexistência de internacionalidade,
pressuposto inafastável para a fixação da competência da Justiça Federal, nos termos
do art. 109, inciso V, da Constituição Federal. Obviamente, se houver lesão a bens,
serviços ou interesses da União, autarquias federais ou empresas públicas federais, a
competência será da Justiça Federal (CF, art. 109, IV). (LIMA, 2020, p. 531).
Tráfico internacional de pessoas: quanto à previsão do crime do art. 149-A
do CP (incluído pela Lei nº 13.344/16) em tratado ou convenção internacional, cumpre
asseverar que, no dia 21 de março de 1950, foi concluída, em Lake Success, Nova
Iorque, a Convenção das Nações Unidas, destinada à repressão do tráfico de pessoas
e do lenocínio, assinada pelo Brasil em outubro de 1951, sendo posteriormente
aprovada pelo Decreto Legislativo nº 6, de 11 de junho de 1958, e promulgada pelo
Decreto nº 46.981, de 8 de outubro de 1959. Também o protocolo Adicional à
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional relativo à
prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial mulheres e crianças,
foi aprovado no Brasil por meio do Decreto Legislativo nº 231/2003 e promulgado
pelo Decreto nº 5.017/2004, entrando em vigor no dia 28 de fevereiro de 2004.
Especificamente em relação a mulheres e crianças, o Brasil ratificou o Protocolo de
Emenda da Convenção para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças e da
Convenção para a Repressão do Tráfico de Mulheres Maiores, aprovado pelo Decreto
Legislativo 7/1950, de 1º de fevereiro de 1950, e promulgado pelo Decreto 37.176, de
15 de abril de 1955. Logo, tratando-se de crime previsto em tratado ou convenção
internacional, e presente o requisito da internacionalidade territorial do resultado em
relação à conduta delituosa, há de se concluir pela competência da Justiça Federal para
processar e julgar o delito em questão. (LIMA, 2020, p. 535-536)

O Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o crime organizado


transnacional relativo à prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial
mulheres e crianças, estabelece em seu artigo 5º que:
32

1. Cada Estado Parte adotará as medidas legislativas e outras que considere


necessárias de forma a estabelecer como infrações penais os atos descritos no Artigo
3 do presente Protocolo, quando tenham sido praticados intencionalmente.
2. Cada Estado Parte adotará igualmente as medidas legislativas e outras que
considere necessárias para estabelecer como infrações penais:
a) Sem prejuízo dos conceitos fundamentais do seu sistema jurídico, a
tentativa de cometer uma infração estabelecida em conformidade com o parágrafo 1
do presente Artigo;
b) A participação como cúmplice numa infração estabelecida em
conformidade com o parágrafo 1 do presente Artigo; e
c) Organizar a prática de uma infração estabelecida em conformidade com o
parágrafo 1 do presente Artigo ou dar instruções a outras pessoas para que a
pratiquem.
II. Proteção de vítimas de tráfico de pessoas. (DECRETO Nº 5.017, 2004)

Dentre outros pontos, a Lei Nº 13.344, de 6 de outubro de 2016 prevê em seu artigo 2º
que:

Art. 2º O enfrentamento ao tráfico de pessoas atenderá aos seguintes


princípios:
I - Respeito à dignidade da pessoa humana;
II - Promoção e garantia da cidadania e dos direitos humanos;
III - universalidade, indivisibilidade e interdependência;
IV - Não discriminação por motivo de gênero, orientação sexual, origem
étnica ou social, procedência, nacionalidade, atuação profissional, raça, religião, faixa
etária, situação migratória ou outro status;
V - Transversalidade das dimensões de gênero, orientação sexual, origem
étnica ou social, procedência, raça e faixa etária nas políticas públicas;
VI - Atenção integral às vítimas diretas e indiretas, independentemente de
nacionalidade e de colaboração em investigações ou processos judiciais;
VII - Proteção integral da criança e do adolescente.

Já o artigo 4º e 5º, determinam respectivamente que:

Art. 4º A prevenção ao tráfico de pessoas dar-se-á por meio:


I - Da implementação de medidas intersetoriais e integradas nas áreas de
saúde, educação, trabalho, segurança pública, justiça, turismo, assistência social,
desenvolvimento rural, esportes, comunicação, cultura e direitos humanos;
II - De campanhas socioeducativas e de conscientização, considerando as
diferentes realidades e linguagens;
III - de incentivo à mobilização e à participação da sociedade civil; e
IV - De incentivo a projetos de prevenção ao tráfico de pessoas.
Art. 5º A repressão ao tráfico de pessoas dar-se-á por meio:
I - Da cooperação entre órgãos do sistema de justiça e segurança, nacionais
e estrangeiros;
II - Da integração de políticas e ações de repressão aos crimes correlatos e da
responsabilização dos seus autores;
III - da formação de equipes conjuntas de investigação. (Lei Nº 13.344, 2016)
33

A Lei 13.344/2016 é muito ampla, revoluciona o tratamento que o Brasil concede ao


tráfico de mulheres e, inclusive adequa o ordenamento jurídico brasileiro com o ordenamento
jurídico internacional.
Ainda, há a Lei Nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, também conhecida como Lei Maria
da Penha, que determina em seu artigo 1º que:

Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do
Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.

A Lei Maria da Penha está sendo citada, pois, protege diretamente as mulheres contra a
violência. E, além de serem violadas de várias formas, quando são traficadas, algumas são
vendidas e obrigadas a serem submissas e se submeterem a violência doméstica.
Portanto, é essencial no enfrentamento ao tráfico de mulheres a atuação na prevenção,
responsabilização dos autores e atenção incondicional as vítimas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crime de tráfico de mulheres existe há muito tempo e na atualidade tem crescido


bastante com toda a modernidade existente. É um crime de natureza bem complexa e
abrangente, e é praticado em todo o mundo. Mesmo existindo muitos casos, está sendo mais
divulgado do que era inicialmente, porém ainda se vê pouco na mídia, principalmente na
brasileira, acerca desse tema. Por não existir muita divulgação e informações concretas, muitas
vezes esse crime passa despercebido pela sociedade, como se não existisse.
As mulheres não são culpadas por serem enganadas, elas são vítimas. A sociedade
precisa entender que acreditar na bondade das pessoas e ir atrás de uma vida melhor não as
torna culpadas, elas não escolheram ser manipuladas, enganadas, traficadas, vendidas e
exploradas, somente escolheram ir atrás do que pareceu uma boa oportunidade.
A sociedade precisa continuar divulgando esse tema, muito mais do que é divulgada
atualmente. Assim como, as leis precisam ser revistas, melhoradas, mais específicas e talvez
até as penas serão aumentadas, mais rigorosas. Esse crime precisa ser mais temido, não só pelas
mulheres, mas para aquele que o cometem, de forma que pensem duas vezes se vale a pena
34

assumir o risco de uma pena maior. Mesmo com as convenções, protocolos e artigos que
existem atualmente, ainda não é o suficiente para diminuir as chances desse crime ser bem-
sucedido e menos ainda para acabar com ele.
A Lei nº 13.444/2016 foi um avanço muito significativo para a Legislação brasileira,
visto que adequou o Brasil aos Protocolos Internacionais, no caso ao Protocolo de Palermo, o
qual o Brasil é signatário. Essa lei, de acordo com esse Protocolo, estabelece diversas medidas
de prevenção, de forma internacional e nacional. A divulgação é muito importante para o
reconhecimento público de todas as formas de aliciar vítimas, e o protocolo estabeleceu a
criação de meios para fazer campanhas na sociedade a fim de divulgar e disseminar as
informações sobre o tráfico de mulheres.
É necessário que a sociedade abando qualquer preconceito em relação as vítimas do
tráfico de mulheres, visto que o bem jurídico tutelado é a liberdade individual e não a
moralidade pública. Independentemente se houve consentimento ou não, a questão é que a
vítima teve seus direitos fundamentais violados, não deve ser tratada como culpada do ocorrido.
Os núcleos de enfrentamento ao tráfico de pessoas são uma importante ferramenta para
concretizar a Política Nacional de prevenção e combate a esse tipo de tráfico.
O Brasil tem políticas para combater o tráfico humano, com a intenção de extinguir esse
crime, porém, até o momento não foi suficiente e precisam ser aperfeiçoadas. É necessária uma
estrutura melhor no País para conter esse crime e, com leis mais abrangentes, que protejam mais
as vítimas. Não há dúvidas de que a melhor estratégia para a repressão do tráfico de pessoas é
a informação, visto que as pessoas e principalmente as mulheres, precisam estar cientes,
precisam compreender que todas estão sujeitas a isso, então quando mais informação possuir,
consequentemente estará mais assegurada, embora não completamente, pois, isso ainda não é
possível. Quanto mais pessoas souberem sobre as táticas, golpes e manipulações que são usadas,
mais estarão preparadas para tentar evitar esse tipo de situação para si e para aqueles que estão
próximos.

REFERÊNCIAS

Acordo de cooperação fortalece enfrentamento do tráfico de pessoas na aviação civil.


GOV.BR - AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL (ANAC). 2022. Disponível em:
https://www.gov.br/anac/pt-br/noticias/2022/acordo-de-cooperacao-fortalece-enfrentamento-
do-trafico-de-pessoas-na-aviacao-civil. Acesso em 16/11/2022.
35

ASCOM. MPT participa de capacitação sobre assistência às vítimas de tráfico de pessoas


promovida pela ONU. Ministério Público do Trabalho no Pará e Amapá - 8ª Região. 2022.
Disponível em: https://www.prt8.mpt.mp.br/procuradorias/prt-belem/1046-mpt-participa-de-
capacitacao-e-debate-sobre-assistencia-as-vitimas-de-trafico-de-pessoas. Acesso em:
15/11/2022.

BEM, Larissa Thayná Filgueiras. TRÁFICO INTERNACIONAL DE MULHERES COM


FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL. 2021. Repositório Universitário da Ânima (RUNA).
Disponível em: https://repositorio.animaeducacao.com.br/handle/ANIMA/18793. Acesso em
13/11/2022.

BITTAR, E.C. B. O Direito na Pós-Modernidade, 3ª edição. São Paulo: Grupo GEN, 2014.
9788522490370. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522490370/. Acesso em: 17/11/2022.

CARDOSO, Fernando Henrique/Congresso Nacional. DECRETO Nº 1.973, DE 1º DE


AGOSTO DE 1996. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1996/d1973.htm. Acesso em 17/11/2022.

CHAPLIN, Charles. Citações para tráfico homens ou mulheres. DICIONÁRIO CRIATIVO.


Disponível em:
<https://dicionariocriativo.com.br/citacoes/tr%C3%A1fico_homens_ou_mulheres/citacoes/ma
levol%C3%AAncia>. (p. 1) Acesso em: 15/11/2022.

Crianças, adolescentes e mulheres são 75% das vítimas do tráfico de pessoas, apontam dados
do Disque 100. GOV.BR - MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS
HUMANOS. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/assuntos/noticias/2021/julho/criancas-adolescentes-e-mulheres-sao-75-das-vitimas-do-
trafico-de-pessoas-apontam-dados-do-disque-100. Acesso em: 15/11/2022

DUTRA, Eurico Gaspar/Congresso Nacional. LEI Nº 1.079, DE 10 DE ABRIL DE 1950.


Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l1079.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%201.079
%2C%20DE%2010,o%20respectivo%20processo%20de%20julgamento.&text=Art.,os%20qu
e%20esta%20lei%20especifica. Acesso em 18/11/2022.

FARIA, Larissa Rocha. Tráfico internacional de mulheres para fins de exploração sexual: à
luz da legislação penal brasileira. UNICEPLAC. 2020. Disponível em:
https://dspace.uniceplac.edu.br/bitstream/123456789/965/1/Larissa%20Rocha%20Faria_0012
056.pdf. PDF. Acesso em 13/11/2022.

GUIMARÃES, Ulysses. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL


DE 1988. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso em:
16/11/2022.
36

HOFFMANN-RIEM, Wolfgang. Teoria Geral do Direito Digital. Rio de Janeiro: Grupo


GEN, 2020. E-book. ISBN 9788530992262. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788530992262/. Acesso em: 17/11/2022.

JESUS, Damásio de. Tráfico internacional de mulheres e crianças: Brasil: aspectos regionais e
nacionais / Damásio de Jesus. — São Paulo: Saraiva, 2003.

LEITE, Rodrigo de Almeida/VELLOSO, Larice Ramos Medeiros. Tráfico internacional de


mulheres para fins de exploração sexual. REVISTA SOCIOLOGIA JURÍDICA – ISSN:
1809-2721. 2021. Disponível em: https://sociologiajuridica.net/trafico-internacional-de-
mulheres-para-fins-de-exploracao-sexual/. Acesso em: 15/11/2022

LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de processo penal: volume único – 8ª edição, revista,
ampliada e atualizada – Salvador: Editora Juspodivm, 2020.

NOGUEIRA, Moniele/JR., Eduardo Ribeiro/TV TEM/G1 Sorocaba e Jundiaí. G1. 2021.


Grupo investigado por tráfico de mulheres e exploração sexual fez cerca de 200 vítimas, diz
PF. https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2021/04/27/grupo-investigado-por-
trafico-de-mulheres-e-exploracao-sexual-fez-cerca-de-200-vitimas-diz-pf.ghtml. Acesso em:
16/11/2022

NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e Processuais comentadas: volume 2 - 13 ed. - Rio
de Janeiro: Forense, 2020.

Publicações. GOV.BR - MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA. 2022.


Disponível em: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/sua-protecao/trafico-de-
pessoas/publicacoes. Acesso em: 15/11/2022

RODRIGUES, Eliana Cacique Romano. O tráfico de Seres Humanos, com ênfase no tráfico
de mulheres para exploração sexual: Uma análise da rota do Brasil para a Espanha e o
avanços das políticas públicas de governo. UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL
FLUMINENSE. 2017. Disponível em:
https://app.uff.br/riuff/bitstream/handle/1/6749/Monografia%20Eliana%20Cacique.pdf?seque
nce=1&isAllowed=y. PDF. Acesso em 13/11/2022.

RODRIGUES, Thaís de C. Tráfico internacional de pessoas para exploração sexual, 1ª


Edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013. E-book. ISBN 9788502190429. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502190429/. Acesso em: 16/11/2022.

SARAH, Assessoria. Dia Internacional Contra a Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e


Crianças. CONTEC BRASIL. 2022. Disponivel em: https://www.contec.org.br/dia-
internacional-contra-a-exploracao-sexual-e-o-trafico-de-mulheres-e-criancas/. Acesso em
16/11/2022.

SECCHI, Natalia Gonçalves/OLIVEIRA, Isabella Karoline Almeida de/MOREIRA, Glauco


Roberto Marques. O TRÁFICO DE PESSOAS PARA EXPLORAÇÃO SEXUAL NA ERA
DIGITAL. TOLEDO PRUDENTE. 2021. Disponível em:
37

http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/view/9245. Acesso em
16/11/2022.

SILVA, Luiz Inácio Lula da/Congresso Nacional. DECRETO Nº 5.015, DE 12 DE MARÇO


DE 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/decreto/d5015.htm. Acesso em 15/11/2022.

SILVA, Luiz Inácio Lula da/Congresso Nacional. DECRETO Nº 5.017, DE 12 DE MARÇO


DE 2004. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2004/decreto/d5017.htm. Acesso em 15/11/2022.

SILVA, Luiz Inácio Lula da/Congresso Nacional. LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE


2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em 18/11/2022.

SILVA, Suellen Barroso da. Crimes cibernéticos para fins de tráfico internacional de
mulheres: a facilitação do aliciamento na era digital. UNICEPLAC. 2021. Disponível em:
https://dspace.uniceplac.edu.br/bitstream/123456789/1092/1/Suellen%20Barroso%20da%20S
ilva_0006395.pdf. PDF. Acesso em 16/11/2022.

TEMER. Michel/Congresso Nacional. LEI Nº 13.344, DE 6 DE OUTUBRO DE 2016.


Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13344.htm.
Acesso em 15/11/2022.

Tráfico de Pessoas. CNJ – CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. 2021. Disponível em:


https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/trabalho-escravo-e-trafico-de-pessoas/trafico-de-
pessoas/. Acesso em 15/11/2022.

Tráfico de pessoas: conheça o variado perfil das vítimas. GOV.BR - MINISTÉRIO DA


MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. 2020. Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2020-2/julho/trafico-de-pessoas-conheca-o-
variado-perfil-das-vitimas. Acesso em: 15/11/2022

VARGAS, Getúlio/Congresso Nacional. DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO


DE 1940. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del2848compilado.htm. Acesso em 15/11/2022.

Webinário discute estratégias de combate ao tráfico de mulheres e assistência às vítimas.


GOV.BR - MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS.
2022. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2022/eleicoes-2022-
periodo-eleitoral/webinario-discute-estrategias-de-combate-ao-trafico-de-mulheres-e-
assistencia-as-vitimas. Acesso em: 15/11/2022.

Você também pode gostar