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LARISSA TEIXEIRA
São Paulo
2022
LARISSA TEIXEIRA
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Prof. e Orientador: Cristian Kiefer, Pós-Doutor em Direito.
UNA
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2º MEMBRO: GALVÃO RABELO
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Agradeço primeiramente a Deus, por me possibilitar chegar até aqui e sempre guiar
meus caminhos, me abençoando com saúde mental e física.
Aos meus pais que são tudo na minha vida, por tudo que já fizeram e fazem por mim,
por todo amor, apoio, motivação e por se orgulharem de mim, assim como, meus avós e
madrinha.
Aos amigos que para mim são família, a família que não tem meu DNA, mas que a
vida me deu: Adezuita, Fernando, Beatriz e Emilly, por todas as conversas leves sobre as
coisas da faculdade, por todo o apoio sem pressão e por tornarem as coisas mais fáceis pra
mim.
Passar por esses 5 anos não foi fácil e sou muito feliz por ter essas pessoas tão
especiais na minha vida, ao longo de todos os obstáculos, momentos bons e ruins. Espero
que estejam na minha vida nos próximos passos e que eu possa sempre compartilhar
momentos bons e ruins ao lado dessas pessoas.
Conheci muitas pessoas nessa caminhada e espero levar algumas para a vida mesmo
após o fim da faculdade, principalmente as 2 pessoas que estiveram ao meu lado desde o 1º
ano, Yanca e Matheus. Tivemos muitos momentos, trabalhos juntos, dúvidas tiradas e risadas
de felicidade e desespero.
Tive muitos professores ao longo dos anos e sou grata a todos por todo o
conhecimento passado, todas as dúvidas tiradas, todas os conselhos e dicas.
A todos que contribuíram de forma involuntária ou voluntaria para que eu concluísse
este TCC e a minha graduação.
Um dos meus filmes favoritos se chama “Kiss and Cry” e é baseada em uma história
real de uma garota chamada Carley Allison, onde ela passa por várias situações difíceis após
descobrir que tem um câncer raro, mas ela continuou se mostrando otimista a cada obstáculo
e até os últimos momentos. Tem algumas frases dela nesse filme que eu achei muito
marcantes e, mesmo sendo óbvias e de já ter ouvido em outros lugares, no momento em que
terminei o filme, me fizeram refletir bastante e são frases que levo para minha vida. Essas
frases são as seguintes:
“Meu lema é ‘sempre sorria’. Não me refiro a ser falsa, mas sempre, sempre ache
uma razão para estar feliz e se não encontrar, sorria de qualquer maneira.”
"A vida é muito curta para ser infeliz.”
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“É importante contar com aqueles que te apoiam nos bons e maus momentos.”
Por fim, queria agradecer a mim mesma por nunca nem mesmo ter pensado em
desistir, porque essa nunca foi uma possibilidade. Devemos sempre correr atrás dos nossos
sonhos, por mais difíceis que sejam, por aqueles que amamos e por nós mesmos, então sou
grata por todos aqueles que me apoiam e se orgulham de mim, espero ser motivo de muito
orgulho no futuro também, mas também sou grata a mim mesma por lutar pelo que é
importante para mim, tentando sempre levar as coisas da forma mais leve possível.
“Nada é permanente nesse mundo cruel. Nem mesmo os nossos problemas.”
(Charles Chaplin)
RESUMO
O presente trabalho visa estudar o crime de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual.
Para auxiliar o entendimento, este trabalho inicia-se conceituando o delito em questão, depois
apresenta dados históricos e apresenta o ato ilícito atualmente e uma breve menção a influência
da era digital. É um ato lucrativo que não possui dados o suficiente para que seja extinto,
portanto, este trabalho demonstra o perfil das vítimas e dos aliciadores. além disso, foi
destacado o que a legislação brasileira aborda sobre o tema, com ênfase para a lei nº 13.444/16
e o artigo 149A, do código penal. Também menciona a legislação internacional com destaque
para o protocolo de palermo, que é um dispositivo de alta relevância no combate ao tráfico
humano, assim como, algumas convenções acerca do tema. Tem a finalidade de compreender
os meios de prevenção e como as leis protegem as mulheres atualmente do tráfico de pessoas,
assim como, analisar formas de aprimoramento das leis atuais, a fim de torná-las mais eficazes
e objetivas.
The present work aims to study the crime of trafficking in women for the purpose of sexual
exploitation. To aid understanding, this work begins by conceptualizing the crime in question,
then presents historical data and presents the current illicit act and a brief mention of the
influence of the digital age. It is a lucrative act that does not have enough data to make it extinct,
therefore, this work demonstrates the profile of victims and enticers. in addition, what the
Brazilian legislation addresses on the subject was highlighted, with emphasis on law nº
13.444/16 and article 149A, of the penal code. It also mentions international legislation, with
emphasis on the Palermo protocol, which is a highly relevant device in the fight against human
trafficking, as well as some conventions on the subject. It aims to understand the means of
prevention and how the laws currently protect women from human trafficking, as well as to
analyze ways to improve current laws in order to make them more effective and objective.
Key words: Human Traffic. Women. Victim. Sexual Exploitation. Historic evolution. National
Legislation. International Legislation. Digital age.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
2 ASPECTOS GERAIS DO TRÁFICO DE MULHERES.........................................11
2.1 CONCEITO DE TRÁFICO DE PESSOAS...............................................................11
2.2 PERFIL DA VÍTIMA..................................................................................................13
2.3 PERFIL DO TRAFICANTE......................................................................................16
2.4 TRÁFICO DE MULHERES PARA FINS DE EXPLORAÇÃO SEXUAL...........17
2.4.1 Evolução histórica do Tráfico de mulheres para fins de exploração sexual...........20
2.4.2 Atualidade do Tráfico de mulheres para fins de exploração sexual.........................22
2.4.3 Internet como meio de exploração sexual no tráfico de mulheres...........................26
3 SANÇÃO - LEIS EXISTENTES NO BRASIL..........................................................28
4 PRINCIPAIS PONTOS DAS CONVENÇÕES PARA ENFRENTAMENTO DO
TRÁFICO DE MULHERES.......................................................................................30
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................33
REFERÊNCIAS..........................................................................................................34
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1. INTRODUÇÃO
Este trabalho aborda o tráfico de pessoas, com ênfase no tráfico de mulheres para fins
de exploração sexual. Esse tipo de tráfico existe desde o princípio da sociedade, e foi crescendo
de forma amedrontadora na sociedade atual, pois, há diversos meios que possibilitam, seja a
pobreza ou até mesmo a globalização que facilita a captura de vítimas.
O tráfico de mulheres ocorre com mulheres de classe baixa E até mesmo mulheres de
classe alta, qualquer vulnerabilidade, seja econômica, social ou psicológica pode ser visto como
uma boa oportunidade para aqueles mal-intencionados. É uma realidade desconhecida para uma
grande parte da população, visto que o tema não é muito divulgado, mas é algo que ocorre
bastante. O consentimento nesses casos é irrelevante, visto que viola os direitos humanos.
Este ato ilícito é muito complexo, visto que fere princípios éticos e morais, violando os
direitos das vítimas, principalmente a liberdade, que é um bem jurídico tutelado do indivíduo
e, é dever do estado proteger, assim como, o direito da dignidade humana, visto que são tratadas
como objetos, meras mercadorias.
O tráfico humano é muito lucrativo e tem várias modalidades além da exploração sexual
como trabalho escravo, adoção ilegal e comércio de órgãos humanos. A maioria das vítimas
desse tipo de delito são mulheres e crianças que são capturadas principalmente em busca de
condições melhores de vida, promessas de trabalho e emboscadas, mas são surpreendidas com
a escravidão e exploração. A exploração pode ocorrer tanto em território nacional, como
também pode ocorrer a exportação para outros países.
O tráfico de mulheres escraviza milhares de mulheres em todo o mundo, é uma atividade
com altos lucros e baixos riscos, que visa a exploração laboral em alguns casos, mas
principalmente a exploração sexual.
É um tema relevante não só para o sistema jurídico, mas para a sociedade como um
todo, visto que esse assunto tem pouca visibilidade. O combate contra o tráfico humano deve
ter como finalidade principalmente a tutela dos direitos humanos e não somente o combate ao
crime organizado e preocupações com as fronteiras.
A convenção de palermo, também conhecida como a Convenção das Nações Unidas
contra o Crime Organizado Transnacional (Decreto Nº 5.015, de 12 de março de 2004) tem
como objetivo promover a cooperação para prevenir e combater mais eficazmente a
criminalidade organizada transnacional e é um dispositivo fundamental para o tráfico
internacional. Além dele, há também o Protocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas
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O tráfico de pessoas está previsto no artigo 149A do Código Penal, da seguinte forma:
O Decreto Nº 5.017 (2004), também conhecido como Protocolo Palermo, define que
para efeitos do presente Protocolo:
O tráfico de pessoas é uma realidade em todo o mundo, porém não é muito discutida no
Brasil. Há uma notícia denominada Tráfico de pessoas: conheça o variado perfil das vítimas,
disponibilizada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, onde dispõe o
seguinte:
De janeiro de 2020 a junho de 2021, foram registrados pelo Disque 100 301
casos de tráfico de pessoas. Destes, 50,1% são crianças e adolescentes e outros 24,9%
mulheres. A divulgação dos dados faz parte das ações do Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) no Dia Mundial de Combate ao Tráfico
de Pessoas (...) Em todo o mundo, de acordo com o último Relatório Global sobre
Tráfico de Pessoas do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC),
mulheres e meninas continuam sendo as principais vítimas do tráfico de pessoas
(65%). A finalidade de exploração sexual, que envolve principalmente vítimas
femininas (92%), representa 50% dos casos.
Ainda segundo o relatório, entre as mulheres vítimas, 77% foram traficadas
para a exploração sexual e 14% para fins laborais. Nas situações onde foram
identificadas exploração do trabalho, o segmento feminino representa a maioria nas
atividades domésticas. (GOV.BR, 2022)
Somente se baseando nas estatísticas criminais não é possível identificar o perfil das
vítimas, visto que a polícia não registra as características das vítimas, como idade, cor de cabelo,
tom da pelo, altura e outros detalhes físicos, para esse tipo de informação é necessário buscar
outras fontes de informações, como por exemplo dados levantados por instituições.
Embora os dados numéricos sejam alarmantes, estão longe de corresponder a realidade,
visto que o tráfico de pessoas ocorre de forma clandestina e muitas vezes não é descoberto. As
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estimativas variam de acordo com o ano em que é avaliada, quem fez a avaliação, a metodologia
utilizada e vários outros aspectos.
Não são muitos os casos em que as vítimas são levadas a força, geralmente são
enganadas com falsas propostas, como oferta de viagem e acomodação com tudo pago e uma
vaga de emprego com salário alto em outro Estado ou País e as vezes até mesmo promessa de
casamento, porém a realidade acaba sendo bem diferente e acabam se tornando vítimas de
escravidão e exploração.
As pesquisas apontam as principais vítimas como sendo mulheres jovens, com alguma
vulnerabilidade. O tráfico de mulheres ocorre principalmente para fins de exploração sexual,
seja de mulheres de classe baixa, média e, até mesmo mulheres de classe alta, qualquer
vulnerabilidade, seja econômica, social ou psicológica pode ser vista como uma boa
oportunidade para aqueles mal-intencionados. Há mulheres traficadas de todos os lugares,
Mulheres jovens, com baixo nível de escolaridade, baixa remuneração e classe média baixa
pode ser vista como o principal alvo, porém não é o único, visto que há muitos fatos que podem
influenciar. De acordo com pesquisas, há 4 estados que mais “fornecem” vítimas para o tráfico
de pessoas: Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás e Ceara.
Ainda não é possível acabar com o tráfico de mulheres e talvez nunca sejam, mas o que
as mulheres podem fazer para pelo menos tentar de alguma forma diminuir a possibilidade deve
tipo de crime, é tentar se informar mais, buscar meios que estejam ao alcance para se prevenir,
se atentar a sinais que o subconsciente detecta e faz com que se sintam nervosas, aparentemente
sem motivo, perto de pessoas que parecem simpáticas demais, de uma forma quase forçada as
vezes, que oferece coisas demais sem nenhum motivo, mas com a condição de que vá para outro
lugar principalmente se for um lugar desconhecido onde não se tem a quem recorrer caso
precise de alguém de confiança, que tenta tira-las de perto de outras pessoas e isola-la de alguma
forma. Não precisam viver sempre com medo e desconfiadas, mas é sempre bom se preocupar
consigo mesma, tentar se prevenir e ficar sempre atenta as coisas que fogem da normalidade.
Assim como, é sempre bom pesquisar sobre os lugares, antes de acompanhar alguém quase
desconhecido para esses lugares, nunca é exagero analisar os riscos do que pode vir a acontecer
e buscar meios que podem vir a serem úteis caso necessite de um suporte longe de casa e de
conhecidos.
Não ter um tipo específico de vítima, significa também que nenhuma mulher está imune
a sofrer esse crime. As mulheres devem deixar de viver suas vidas por medo, somente precisam
conferir se as informações sobre as oportunidades oferecidas são reais. Sempre haverá a
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possibilidade, talvez mínima e talvez não tão pequena assim, que as fontes que confirmaram as
informações não sejam confiáveis, porém tudo na vida existe um risco, por isso é necessário
pesar os prós e contras, para decidir o que é melhor para si. Buscar sempre garantias de que a
oportunidade é real e, se possível, levar alguém realmente de confiança junto, pelo menos nos
primeiros dias, para ter o máximo de certeza possível de que não tentarão enganá-las.
lugar e decide que quer ela para si, a qualquer custo e de qualquer forma, então desenvolve
algum plano para conseguir traficar essa pessoa ou vai até algum conhecido que faça esse tipo
de coisa. Enfim, há vários tipos de traficantes.
Ainda sobre a notícia denominada Tráfico de pessoas: conheça o variado perfil das
vítimas, disponibilizada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos:
artigo 1º, inciso III, onde prevê que “A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos: A dignidade da pessoa humana;”
Diferente do tráfico de drogas e armas, onde os objetos são materiais, o tráfico de
pessoas humanas é uma das formas mais graves e viola a dignidade humana, visto que o
indivíduo é submetido a um tratamento desumano, degradante e cruel. Dessa forma, não há
como se falar em tráfico de mulheres, sem falar em dignidade da Pessoa Humana, visto que,
dentre todos os bens jurídicos violados com essa prática, esse é o mais violado.
Explorar significa tirar proveito de algo ou enganar alguém para obter algo.
Unindo esse verbo com a atividade sexual, visualiza-se o quadro de tirar proveito da
sexualidade alheia, valendo-se de qualquer meio constrangedor, ou enganar alguém
para atingir as práticas sexuais com lucro. Explora-se sexualmente outrem, a partir do
momento em que este é ludibriado para qualquer relação sexual ou quando o ofendido
propicia lucro somente a terceiro, em virtude de sua atividade sexual. (NUCCI, 2020,
p. 920)
Visto que o cerne desse crime é o comercio de mulheres, ou seja, a compra e venda de
seres humanos que são tratados como mercadorias, sem o mínimo respeito e dignidade,
privando-os dos seus direitos mais fundamentais, essa prática viola gravemente o princípio da
dignidade humana. Sendo assim, nessa modalidade de tráfico, a mulher é convertida em um
objeto sexual, comercializada a fim de satisfazer a lascívia de outrem e, dessa forma, as mínimas
condições dignas de existência e seus valores pessoais são subitamente anulados.
Com o crime de tráfico de mulheres para fins de exploração sexual, consequentemente
vem o estupro, as vezes pelo comprador, mas as vezes pelo próprio traficante.
O tráfico de mulheres é um crime imperceptível, silencioso, oculto sob o véu de um
submundo que inclui vários tipos de tráficos, que se tornou uma importante fonte de renda para
o crime organizado, é uma das maiores atividades criminosas do País.
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos também disponibilizou a
notícia denominada Webinário discute estratégias de combate ao tráfico de mulheres e
assistência às vítimas, onde participantes discutiram sobre leis, políticas públicas e fizeram
estudos de casos e expressaram o seguinte:
O tráfico de mulheres, apesar de começar a ser mais divulgado a pouco tempo, não é
algo novo, acontece há séculos, houve uma evolução histórica, visto que levou muitos anos, por
exemplo, da época do tráfico negreiro até criarem o Protocolo Palermo e outras leis mais
especificas sobre o tráfico de mulheres.
Esse tipo de crime não iniciou com propostas de casamento ou emprego em outro País,
vem de bem antes, muita mais antigo, visto que na época da escravidão, mulheres eram
traficadas não somente para trabalhos domésticos e braçais, mas também para a exploração
sexual, onde eram estupradas até mesmo nas senzalas. O tráfico de mulheres para fins sexuais
não é um fenômeno novo e sim uma versão moderna de escravidão.
O tráfico de seres humanos faz parte da nossa história. O Brasil foi o último
país ocidental a promover a abolição do trabalho compulsório, em 1888, não sem ter
resistido por décadas. Os navios negreiros transportaram, durante 300 anos, milhões
de pessoas, homens, mulheres e crianças, para o trabalho agrícola. O trabalho era base
da exploração, que também se estendia à servidão doméstica, à exploração sexual e
às violações físicas. (...) Hoje, cruzam os oceanos centenas de milhares de pessoas em
busca também de um sonho, a inclusão na sociedade de consumo, fugindo das guerras
que assolam um quarto do planeta, da fome, da perseguição religiosa e da violência
étnica. As mulheres e as crianças, nesse novo contexto, deixam seu país de origem
para engendrar uma viagem que muitas vezes não tem volta, nas mãos de quadrilhas
internacionais interessadas em sua exploração, no contexto do crescimento do
mercado sexual. (...) Nesses últimos 100 anos, o Brasil passou de país de destino para
país fornecedor do tráfico de mulheres e crianças. Apesar de ser um problema
flagrante, não há estatística confiável para fornecer uma precisa ideia da sua extensão.
É certo que o País está às voltas com o tráfico de mulheres, sobretudo para fins de
exploração sexual. (JESUS, 2003, p. 71-72).
149A, do Código Penal, que introduziu no delito também as modalidades de servidão, trabalho
escravo, remoção de órgãos ou partes do corpo e adoção ilegal, e não somente a exploração
sexual, como anteriormente previsto nos artigos 231 e 231A, do Código Penal, que abordavam
o tráfico internacional e interno de pessoas para fins de exploração sexual, mas foram revogados
com esta adequação.
Houve avanços ao longo dos anos, dentre eles novas convenções e revogação de alguns
artigos, assim como, também houve a evolução da era digital que contribuiu para o tráfico de
mulheres, mas também aumentou a divulgação do tema, com diversas notícias sobre.
Como exemplo do avanço na divulgação desse tema, em julho de 2022 foi realizado um
evento, em Belém, e foi uma iniciativa do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
(UNODC), conforme notícia denominada MPT participa de capacitação sobre assistência às
vítimas de tráfico de pessoas promovida pela ONU, publicada pelo Ministério Público do
Trabalho no Pará e no Amapá:
Outro ponto que demonstra a divulgação é que, conforme publicação do site Gov.br da
notícia, disponibilizada pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), que informa sobre
um acordo de cooperação que fortalece o enfrentamento do tráfico de pessoas na aviação civil,
no âmbito do projeto Liberdade no Ar, ANAC e MPT iniciaram uma parceria inédita para a
prevenção do tráfico de pessoas:
A Contec Brasil publicou uma notícia denominada como Dia Internacional Contra a
Exploração Sexual e o Tráfico de Mulheres e Crianças, onde expos o seguinte:
Ainda, há pouco tempo foi divulgada a notícia denominada Grupo investigado por
tráfico de mulheres e exploração sexual fez cerca de 200 vítimas, diz PF, sobre uma operação
deflagrada por policiais da sede da PF em Sorocaba (SP), onde informa que:
ajuda e vai atrás de justiça para que os responsáveis sejam presos. Tanto nas séries
internacionais, quando na novela brasileira, os fatos informados não são exatamente concretos,
até porque é ficção, mas de certa forma demonstra para as pessoas que o tráfico de pessoas é
um crime e, mesmo que não seja tão falado, ainda existe. Então, visto que muitas pessoas não
saibam sobre esse crime devido a não ter nenhum conhecido ou parente que tenha passado por
isso, essas séries e livros também são uma forma de divulgar esse tema, já que há uma grande
a quantidade de pessoas que acompanham as séries, novela e livros. O ideal é que a ficção
chame a atenção das pessoas sobre esse tema, para que após isso, elas procurem se informar
melhor sobre como ocorre e como se prevenir.
Portanto, ainda não foi possível acabar com o tráfico de mulheres, porém de tempos em
tempos há algumas evoluções e as vezes traficantes e ações de quadrilha para tráfico de
mulheres são encontrados, investigados e presos. A forma como se locomovem de um Estado
a outro, de um País a outro ainda não foi extinta, então ainda ocorrerá muitos casos. Espera-se
que de caso em caso em algum momento esse combate contra o tráfico de mulheres termine.
Quase tudo no mundo tem dois lados: o ruim e o bom, e com a era digital ao que se
refere a tráfico de mulheres, não poderia ser diferente. Por um lado, a evolução das tecnologias
e das redes sociais facilita para que os traficantes localizem potenciais vítimas que atendam a
algum perfil específico A velocidade com que a circulação de dados das pessoas ocorre, a
facilidade em criar perfis falsos e a difusão de conteúdos ilícitos no ciberespaço, contribuem
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para esse tipo de tráfico. A internet facilita para que descubram mais sobre a vida e rotina dessas
mulheres, os traficantes analisam os perfis das vítimas buscando as mais vulneráveis. Facilita e
proporciona uma forma mais simples de entrar em contato: através de mensagens, ou seja, não
é mais necessário ficar frente a frente com a vítima inicialmente, é possível tentar ganhar a
confiança, manipulá-la, convencê-la através de mensagens, mostrar fotos e informações fakes
de onde irão trabalhar se aceitarem a proposta de se mudar, entre outras situações. Traficantes
com agências de viagem ou emprego falsas colocam anúncios na internet, oferecendo
oportunidades imperdíveis no exterior, tanto para trabalho, quanto para viagens. Assim como,
pessoas que se reconhecem pela internet, se dizem apaixonadas e propõem casamento,
solicitando que a mulher se mude para o exterior para encontrar seu noivo. Assim como,
também utilizam a internet a fim de achar compradores.
Em seus estudos, José de Oliveira Ascensão afirma que: “Um dos mais
graves problemas que a internet suscita consiste na possibilidade de ser utilizada como
via para a difusão de conteúdos ilícitos”. Nessa linha de análise, a Internet é meio, é
veículo, é instrumento; assim, o caráter criminoso, o sadismo humano e a busca de
impunidade ao comportamento desviante podem se manifestar inter praesentes ou
inter absentes, pelos mais variados mecanismos de interação. Nesse sentido, o Brasil
tem-se destacado pelo volume de adesão ao espaço virtual, mas também pelo número
de violações. Mais além ainda, a Internet potencializa, ainda, a criação de novas
armas, na medida em que o jogo entre pessoas, agora se afirma como um jogo de
informações entre ‘personagens virtuais’. Nesse jogo, por vezes, fica difícil retirar as
máscaras, para identificar ‘pessoas’ em ação. (BITTAR, 2014, p. 295)
As fronteiras do ‘real’ foram ampliadas e, simultaneamente, alteradas. Por
isso, uma redefinição de nossa condição se dá a partir do impacto que a tecnologia
opera na vida humana. Em Zukunft der Menschlichen Natur, de 2001, o filósofo
alemão Jürgen Habermas já afirmava o caráter problemático da presença da tecnologia
na redefinição da identidade do humano. (BITTAR, 2014, p. 287)
Já dizia Damásio E. de Jesus anos atrás que “os recursos da Internet facilitam a
disseminação de anúncios de turismo sexual, mesmo quando as agências oficiais começam a
fechar o cerco contra o problema.” (JESUS, 2003, p. 159)
Porém, por outro lado, essa evolução da era digital, facilita o acesso à informação, como
campanhas sobre esse assunto, meios de prevenção, notícias sobre as evoluções no
enfrentamento contra o tráfico de mulheres, formas de buscar informações para tentar
identificar se as propostas recebidas são verdadeiras, entre outras coisas também. Portanto, a
era digital contribuí para o aumento no tráfico nacional e internacional de mulheres, das mais
diversas formas, mas também ajuda nesse tema e, é importante lembrar que com o tempo, pode
e espera-se ser bem melhor e proporcionar mais formas de prevenção e combate contra o tráfico
de mulheres. A tecnologia e os meios de comunicação trazem muitas possibilidades positivas,
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mas também traz as negativas e esse é mais um ponto onde as mulheres precisam se atentar e
se prevenir, buscando sempre se informar o máximo possível e se conscientizar dos riscos.
O tráfico de mulheres é um crime de ação múltipla, visto que contempla vários núcleos:
recrutar, transferir, aliciar, agenciar, comprar, alojar ou acolher mulheres traficadas e, qualquer
um desses atos já configura crime de tráfico humano.
Não havendo o cumprimento das normas compreendidas nos acordos internacionais, por
parte de autoridades públicas constitui crime de responsabilidade, enquadrado no artigo 85,
inciso VII, da Constituição Federal e sob o texto da , onde prevê que “São crimes de
responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal
e, especialmente, contra: O cumprimento das leis e das decisões judiciais.” (LEI Nº 1.079, 1950)
Em relação a pena, o artigo 149A, do Código Penal, prevê que:
Por fim, referente ao estupro que é uma das principais consequências do tráfico de
mulheres para fins de exploração sexual, há o artigo 213, do código penal, e sobre a violação
sexual mediante fraude há o artigo 215, também do Código Penal, que determina
respectivamente que:
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter
conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é
menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2o Se da conduta resulta morte:
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos
Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de
vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem
econômica, aplica-se também multa. (DECRETO-LEI Nº 2.848, 1940)
É importante ressaltar que os artigos 231 e 231A do código penal estabeleciam que o
consentimento das vítimas deveria ser ignorado, visto que se entendia que a concordância das
vítimas seria irrelevante, já que se encontrava em situação de vulnerabilidade. Estes artigos
foram revogados pela Lei nº 13.344/2016, porém o artigo 149A reitera que ocorrendo o
consentimento da vítima, a partir do momento em que não foi utilizado quaisquer meios para
fraudá-lo, não há crime.
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Assim como, o artigo 4 determina que “Toda mulher tem direito ao reconhecimento,
desfrute, exercício e proteção de todos os direitos humanos e liberdades consagrados em todos
os instrumentos regionais e internacionais relativos aos direitos humanos”. (DECRETO Nº
1.973, 1996)
Dentre outros pontos, a Lei Nº 13.344, de 6 de outubro de 2016 prevê em seu artigo 2º
que:
Art. 1º Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Federal, da
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher, da
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a
Mulher e de outros tratados internacionais ratificados pela República Federativa do
Brasil; dispõe sobre a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra
a Mulher; e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.
A Lei Maria da Penha está sendo citada, pois, protege diretamente as mulheres contra a
violência. E, além de serem violadas de várias formas, quando são traficadas, algumas são
vendidas e obrigadas a serem submissas e se submeterem a violência doméstica.
Portanto, é essencial no enfrentamento ao tráfico de mulheres a atuação na prevenção,
responsabilização dos autores e atenção incondicional as vítimas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
assumir o risco de uma pena maior. Mesmo com as convenções, protocolos e artigos que
existem atualmente, ainda não é o suficiente para diminuir as chances desse crime ser bem-
sucedido e menos ainda para acabar com ele.
A Lei nº 13.444/2016 foi um avanço muito significativo para a Legislação brasileira,
visto que adequou o Brasil aos Protocolos Internacionais, no caso ao Protocolo de Palermo, o
qual o Brasil é signatário. Essa lei, de acordo com esse Protocolo, estabelece diversas medidas
de prevenção, de forma internacional e nacional. A divulgação é muito importante para o
reconhecimento público de todas as formas de aliciar vítimas, e o protocolo estabeleceu a
criação de meios para fazer campanhas na sociedade a fim de divulgar e disseminar as
informações sobre o tráfico de mulheres.
É necessário que a sociedade abando qualquer preconceito em relação as vítimas do
tráfico de mulheres, visto que o bem jurídico tutelado é a liberdade individual e não a
moralidade pública. Independentemente se houve consentimento ou não, a questão é que a
vítima teve seus direitos fundamentais violados, não deve ser tratada como culpada do ocorrido.
Os núcleos de enfrentamento ao tráfico de pessoas são uma importante ferramenta para
concretizar a Política Nacional de prevenção e combate a esse tipo de tráfico.
O Brasil tem políticas para combater o tráfico humano, com a intenção de extinguir esse
crime, porém, até o momento não foi suficiente e precisam ser aperfeiçoadas. É necessária uma
estrutura melhor no País para conter esse crime e, com leis mais abrangentes, que protejam mais
as vítimas. Não há dúvidas de que a melhor estratégia para a repressão do tráfico de pessoas é
a informação, visto que as pessoas e principalmente as mulheres, precisam estar cientes,
precisam compreender que todas estão sujeitas a isso, então quando mais informação possuir,
consequentemente estará mais assegurada, embora não completamente, pois, isso ainda não é
possível. Quanto mais pessoas souberem sobre as táticas, golpes e manipulações que são usadas,
mais estarão preparadas para tentar evitar esse tipo de situação para si e para aqueles que estão
próximos.
REFERÊNCIAS
BITTAR, E.C. B. O Direito na Pós-Modernidade, 3ª edição. São Paulo: Grupo GEN, 2014.
9788522490370. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522490370/. Acesso em: 17/11/2022.
Crianças, adolescentes e mulheres são 75% das vítimas do tráfico de pessoas, apontam dados
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