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Direito
ABORTO
A maternidade no tribunal de júri
São Paulo
2023
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
Direito
ABORTO
A maternidade no tribunal de júri
São Paulo
2023
GIZELE MARIA DA SILVA
ABORTO
A maternidade no tribunal de júri
BANCA EXAMINADORA
São Paulo
2023
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à Xangô, pai da justiça dos Yorubas, em quem depositei
minha fé em cada passo no caminho.
Aos meus filhos, pelo apoio e amor incondicional, e ciência de que o que será
produzido, não resulta de viés pessoal, mas de análise apurada da realidade
contemporânea.
Aos meus irmãos, em especial minha irmã, pelo carinho divido entre as
próprias filhas e os sobrinhos, meus filhos, durante minha ausência.
Aos meus amigos, dedico o meu sucesso acadêmico com muita alegria. Não
preciso mencionar seus nomes, pois eles sabem que são os melhores.
Por último, mas não menos importante, dedico esse trabalho a Ritalina, não
teria conseguido sem ela.
AGRADECIMENTOS
Agradeço minha mãe, minha rainha que mesmo residindo longe, chorava em
todas as ligações, comemorando cada vitória que eu lhe relatava, à minha irmã, que
sempre dizia “tudo vai dar certo”, mesmo quando tudo parecia perdido. Aos meus
filhos, porque compreenderam minha distância cognitiva sem deixar de me apoiar.
Ao meu marido, que fazia umas comidas horríveis para me poupar o trabalho de
cozinhar e sempre expressou seu orgulho pela minha caminhada pela justiça.
1- INTRODUÇÃO............................................................................................ 10
1.1- ABORTO..................................................................................................... 11
4- FICÇÃO JURIDICA.................................................................................... 18
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................... 24
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 26
ANEXO.................................................................................................................. 27
10
1- INTRODUÇÃO
O tema que será abordado é de grande relevância para o momento social atual,
pois chegamos em uma bifurcação onde se opõe o mundo jurídico e a concepção,
sobretudo religiosa, de parte da população.
Da mesma forma, realizar uma análise comparativa do Brasil com países que
optaram pela descriminalização, países esses que possuem política democrática e se
mostraram mais receptivos à proposta, se desvencilhando do cordel religioso e
desenvolveram uma percepção mais apurada do procedimento como sendo forma de
proteção à saúde e a igualdade de gênero.
1.1- ABORTO
Desde tempos remotos se pratica aborto na terra, sem nos ater muito a fatos
não relevantes para a presente pesquisa, mas apenas para fins de conhecimento,
tem-se que o aborto foi praticado pela humanidade desde eras remotas, com
aspectos morais, éticos, legais e religiosos sendo debatido no correr da história até
a contemporaneidade.
existe com viés de proteção ao feto, recentemente a partir da década de 40, com as
leis de criminalização da conduta, pois antes a ideia de proteção ao feto era mais
entrelaçada a ideia de conservação do direito de prole do homem, sendo um crime
privar o homem do direito de sua descendência.
Em 1830, o aborto foi tratado pela primeira vez no Código penal, porém de
forma diferente daquela que conhecemos hoje, pois não previa como crime a conduta
da gestante que praticasse aborto em si, mas apenas aquela praticada por terceiro,
com ou sem consentimento da mulher e era previsto nos artigos 199 e 200:
“Art. 199 – Ocasionar aborto por qualquer meio empregado anterior ou
exteriormente com o consentimento da mulher pejada. Pena: Prisão com
trabalho de 1 a 5 anos. Se o crime for cometido sem o consentimento da
mulher pejada. Penas dobradas”.
“Art. 200 – Fornecer, com o consentimento de causa, drogas ou quaisquer
meios para produzir o aborto, ainda que este não se verifique. Pena: Prisão
com trabalho de 2 a 6 anos. Se esse crime foi cometido por médico, boticário
ou cirurgião ou ainda praticante de tais artes. Penas dobradas” (BELTRÃO,
http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/47418/evolucao-
historica-do-30 ago 2016, 04:30)
A gestante, foi mencionada pela primeira vez como titular da norma penal
que trata sobre aborto na Constituição de 1890, prevendo:
“Art. 300 - Provocar aborto haja ou não a expulsão do produto da concepção.
No primeiro caso: pena de prisão celular por 2 a 6 anos. No segundo caso:
pena de prisão celular por 6 meses a 1 ano. §1º Se em consequência do
Aborto, ou dos meios empregados para provocá-lo, seguir a morte da
mulher. Pena de prisão de 6 a 24 anos. §2º Se o aborto foi provocado por
médico, parteira legalmente habilitada para o exercício da medicina. Pena:
a mesma procedente estabelecida e a proibição do exercício da profissão
por tempo igual ao da reclusão”.
“Art. 301 Provocar Aborto com anuência e acordo da gestante. Pena: prisão
celular de 1 a 5 anos. Parágrafo único: Em igual pena incorrera a gestante
que conseguir abortar voluntariamente, empregado para esses fins os
meios; com redução da terça parte se o crime foi cometido para ocultar
desonra própria”.
“Art. 302 Se o médico ou parteira, praticando o aborto legal, para salvar da
morte inevitável, ocasionam-lhe a morte por imperícia ou negligencia.
Penas: prisão celular de 2 meses a 2 anos e privado de exercício da
profissão por igual tempo de condenação”.”(BELTRÃO,
http://www.conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/47418/evolucaohistoric
a-do-30 ago 2016, 04:30)
A prática abortiva em sua parte especial, Título I, que trata dos “Crimes Contra
a Pessoa”, e no capítulo I do mesmo título, que trata dos “Crimes Contra a Vida”,
conforme artigo 124 (a gestante assume a responsabilidade pelo abortamento),
artigo 125 (o aborto é realizado por terceiro sem o consentimento da gestante) e
artigo 126 (o aborto é realizado por terceiro com o consentimento da gestante), sendo
que o artigo 127 se referiu a forma qualificada da prática delitiva.
Por fim, o artigo 128, em seus dois incisos, trouxe, exclusivamente, as causas
exclusivas da ilicitude, ou mais conhecido como sendo o “aborto legal”.
“Art. 124 – Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho
provoque: Pena – detenção, de um a três anos”.
“Art. 125 – Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena –
reclusão, de três a dez anos”.
“Art. 126 – Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena –
reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo
anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou débil
mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou
violência”.
“Art. 127 – As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas
de um terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para
provoca-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são
duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte”.
“Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico: I – se não há outro
meio de salvar a vida da gestante; II – se a gravidez resulta de estupro e o
aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de
seu representante lega”.
de estupro. Não há tempo para poder optar por realizar o procedimento, tendo em
vista que só é necessário provas da violência e o profissional responsável está isento
de responsabilidade legal, hipoteticamente não é necessário ordem judicial, mas
apenas a autorização da gestante ou seu representante legal em caso de ser menor
incapaz.
Havia por hora de sua instituição, uma ânsia grande por justiça social e pelo
fim das atrocidades vivenciadas pelo povo brasileiro, sendo a nossa carta magna
uma garantidora de que os fatos vivenciados no tempo mencionado não fossem mais
ocorrer.
Assim, seu artigo 01º apregoa os princípios básicos para que o ser humano
possa viver em paz e conservar sua condição de ser vivente, gozando de suas
prerrogativas de humanidade que são:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
A soberania;
A cidadania;
A dignidade da pessoa humana;
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
O pluralismo político;
Federal, garante os direitos mínimos da pessoa que devem ser respeitados pelos
poderes sociais e públicos, a fim de preservar o valor da pessoa. Nesse sentido, no
que diz respeito à dignidade da pessoa humana, Flávia Piovesan afirma:
[...] está erigida como princípio matriz da Constituição, imprimindo lhe
unidade de sentido, condicionando a interpretação das suas normas e
revelando-se, ao lado dos Direitos e Garantias Fundamentais, como cânone
constitucional que incorpora as exigências de justiça e dos valores éticos,
conferindo suporte axiológico a todo o sistema jurídico brasileiro.
(PIOVESAN, 2004, p. 54)
Ainda que todos tenham o direito a vida, inclusive direito que se tem como
irrenunciável, dentro da temática tratada, o citado princípio se choca com o direito
de escolha da mulher, do uso que quiser atribuir a seu corpo, a liberdade da
maternidade.
Mesmo que alguns direitos possam sobressair, ou seja, se impor aos outros
devido a sua relevância, não se tem claro um posicionamento a respeito do tema,
nem mesmo o Supremo Tribunal Federal que, apesar dos diversos casos em
andamento, teve a ousadia de se pronunciar rasamente à respeito da preponderância
dos princípios acima, de forma que sempre em face de novo caso, o sistema judiciário
posterga as decisões relacionadas ao tema, pela polêmica que permeia as decisões.
Não havendo portanto, decisão definitiva, apta a por fim a controvésia, em razão de
sua complexidade, e dos conceitos morais e religiosos que aculam judiciário.
Depreende-se que não se trata mais de um caso de direito puro, onde a razão
possa embasar as leis e decisões que são prolatadas, mas do receio de ferir
conceitos de parte da população, que ainda tem enraizada em sua base os padrões
religiosos, postura que de fato afronta o princípio da secularidade o direito penal.
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A cada dia, mais e mais casos chegam ao STF, envolvendo o tema abordado,
e um número crescente de apoiadores começam a enxergar a necessidade de
mudanças drásticas na “justiça” atual, tendo em vista o contexto que se mostra nocivo
em âmbito nacional.
4- FICÇÃO JURIDICA
Tem-se que o aborto é considerado crime contra a vida e como tal é submetido
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ao tribunal do júri.
Sendo assim, não dúvidas que o sistema judiciário, no que tange ao tema
abordado, se presta a legitimar o preconceito das massas mais conservadoras,
receoso de fabricar leis que possam avançar e suprir as necessidades atuais, em
face a confusão de valores religiosos e morais, maculando a aplicação de leis
efetivas, afim de revolver o cerne da presente condição contemporânea.
Dita a pesquisa:
Observa-se que a situação dessas mulheres é de extrema vulnerabilidade,
pois, como regra, elas recorrem ao atendimento médico porque se sentiram
muito mal em casa, vindo a abortar, muitas vezes, no local onde foram
atendidas. Constatou-se que é comum que a mulher demore a se decidir
pelo aborto por medo de ser descoberta, realizando o procedimento com a
gravidez já em estágio avançado, sofrendo de forma mais drástica os efeitos
do procedimento de interrupção da gestação. Notou-se também que muitas
abortam no banheiro do hospital e são hostilizadas pelos médicos e
enfermeiros que deveriam auxiliá-las a entender o que ocorreu com
elas.(DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 2018,
p.27).
Ainda deve ser observado, que existe uma rede por detrás de todo aparato de
realização clínica do aborto ilegal, sendo lucrativo para uma “nata” que lucra com a
ilegalidade e com a desgraça do povo menos privilegiado.
E há mais:
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BARROSO, Luís Roberto, Ministro do STF. Sem Data Vênia, um olhar sobre o Brasil
e o mundo-01ª Edição- 2020.