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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU – USJT

GLAUCIA OURO GUEDES BARBOZA

O ESTUPRO MARITAL E A NORMALIZAÇÃO SOCIAL DA


VIOLÊNCIA DENTRO DO REGIME CONJUGAL

SÃO PAULO
2023
GLAUCIA OURO GUEDES BARBOZA

O ESTUPRO MARITAL E A NORMALIZAÇÃO SOCIAL DA


VIOLÊNCIA DENTRO DO REGIME CONJUGAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao curso de graduação em Direito da
Universidade São Judas Tadeu - USJT como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel.

Orientador: Prof.º João Gustavo Dantas Chiaradia Jacob

SÃO PAULO
2023
FICHA CATALOGRÁFICA

1.1.
Barboza, Glaucia Ouro Guedes.

O Estupro Marital e a Normalização Social da Violência Dentro do


Regime Conjugal / Glaucia Ouro Guedes Barboza. 2023.

41f.

Orientador: Prof.º João Gustavo Dantas Chiaradia Jacob


Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Direito) –
Universidade São Judas Tadeu - USJT, São Paulo, 2023.

1. Direito Penal. 2. Glaucia Ouro Guedes Barboza. 3. O Estupro Marital


e a Normalização Social da Violência Dentro do Regime Conjugal.
GLAUCIA OURO GUEDES BARBOZA

O ESTUPRO MARITAL E A NORMALIZAÇÃO SOCIAL DA


VIOLÊNCIA DENTRO DO REGIME CONJUGAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de graduação em Direito da
Universidade São Judas Tadeu - USJT como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel.

São Paulo, _______ de ______________________________ de 2023.

Prof.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - USJT

Prof.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - USJT

Prof.
UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU - USJT
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente aos meus


pais, que sempre me incentivaram a buscar
meus sonhos e me proporcionaram todas as
oportunidades possíveis para minha formação.
Sem o amor, apoio e exemplo de vida de vocês,
eu não estaria aqui hoje.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, quero expressar minha profunda gratidão a Deus por me dar força
e sabedoria para concluir este trabalho.

Agradeço a meu marido e filho pelo amor, incentivo e apoio incondicionais durante
todo o processo de pesquisa e escrita, que estiveram ao meu lado em todos os
momentos, me encorajando, motivando e me ajudando a superar os desafios.
Obrigada por serem minha fonte de inspiração e por tornar minha vida mais completa
e feliz. Sem vocês, este trabalho não seria possível.

Também gostaria de agradecer à minha família - meu pai, mãe e irmãs - por
sempre acreditarem em mim e me encorajarem a perseguir com meus objetivos
acadêmicos e profissionais. Seus conselhos e apoio foram fundamentais para minha
formação e conclusão deste trabalho.

Agradeço aos meus amigos e familiares que me apoiaram e torceram por mim
durante toda a minha trajetória acadêmica. Vocês são minha base sólida e meu porto
seguro.

Por fim, expresso minha gratidão a todos os professores, colegas e amigos que
me apoiaram e ajudaram ao longo deste processo. Este trabalho é dedicado a todos
vocês, que de alguma forma contribuíram para minha jornada acadêmica e
crescimento pessoal e profissional. Que este trabalho possa ser um pequeno retorno
do muito que recebi de vocês. Muito obrigada!
“A violência destrói o que ela pretende defender: a dignidade da vida, a liberdade do
ser humano. ” (João Paulo II, papa da Igreja Católica Apostólica Romana)
RESUMO

Em meio ao crescimento de reconhecimento do crime de estupro marital perante os


órgãos públicos e judiciários, mas a falta de informação populacional, decidi elaborar
um trabalho sobre este tema, na esperança de que cada vez mais pessoas saibam
sobre o presente tema e saibam que essa é a realidade de muitos casamentos por aí
afora. Embora pensemos que o casamento é um ato de parceria, cumplicidade, amor
e lealdade, não se limita somente a isso, e há casos de que o sexo é exigido como
uma forma de manutenção do relacionamento e em muitos casos, infelizmente, há o
chamado estupro marital. No presente trabalho, haverá pautas sobre o feminismo e a
necessidade dele, patriarcado e por qual motivo temos baixo número de denúncia
sobre tal crime, atrelando ao fato da compreensão social de casamento enquanto
contrato sexual, anulando totalmente a ideia de “meu corpo, minhas regras”. Isso não
será possível, pelo menos não enquanto estiver num casamento em que o sexo se
torna uma obrigação ou débito conjugal.

Palavras-chave: Violência. Direitos Humanos. Estupro.


ABSTRACT

Amidst the growing recognition of the crime of marital rape before public and judicial
bodies, but the lack of population information, I decided to prepare a work on this topic,
in the hope that more and more people know about the present topic and know that
this it's the reality of many marriages out there. Although we think that marriage is an
act of partnership, complicity, love and loyalty, it is not limited to that alone, and there
are cases that sex is required as a way of maintaining the relationship and in many
cases, unfortunately, there is the so-called marital rape. In the present work, there will
be guidelines on feminism and the need for it, patriarchy and why we have a low
number of complaints about such a crime, linking to the fact of the social understanding
of marriage as a sexual contract, completely nullifying the idea of “my body, my rules".
That won't be possible, at least not while you're in a marriage where sex becomes a
marital obligation or debt.

Keywords: Violence. Human rights. Rape.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11

1. HISTÓRICO DAS RELAÇÕES DE ABUSO SEXUAL E SEUS DIFERENTES


CONTEXTOS ............................................................................................................ 12

2. CONCEITOS DOS CRIMES SEXUAIS.............................................................. 15

2.1. O CRIME DE ESTUPRO.............................................................................. 15

2.2. ESTUPRO MARITAL E SEU ENQUADRAMENTO ENQUANTO CRIME ... 19

3. LEI MARIA DA PENHA ..................................................................................... 21

3.1. A RELAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA E O ESTUPRO MARITAL ........ 22

3.2. O ESTUPRO MARITAL E AS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS ................... 25

4. A DENÚNCIA POR MEIO DA AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA . 27

4.1. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE MEDIDA PROTETIVA ................... 28

4.2. MEDIDAS PROTETIVAS OBRIGATÓRIAS DO AGRESSOR .................... 28

4.3. SUSPENSÃO DA POSSE OU RESTRIÇÃO DO PORTE DE ARMAS ....... 29

4.4. PROIBIÇÃO DE DETERMINADAS CONDUTAS ........................................ 30

4.5. PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISIONAIS OU PROVISÓRIOS........ 32

4.6. MEDIDAS PROTETIVAS À OFENDIDA...................................................... 34

4.7. AFASTAMENTO DO LAR ........................................................................... 35

4.8. MEDIDAS DE ORDEM PATRIMONIAL ....................................................... 36

4.9. CAUÇÃO PROVISÓRIA MEDIANTE DEPÓSITO JUDICIAL ..................... 37

CONCLUSÃO ........................................................................................................... 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 39


11

INTRODUÇÃO

A ideia de superioridade do homem sobre as mulheres vem de um longo


histórico que envolve, além dos ditos fatores biológicos (físicos e emocionais),
também todo o apoio dentre o patriarcado que contribuiu para que, em toda a história,
a figura feminina fosse vista como frágil e inferior, sendo colocada no patamar de
esposa, mãe e dona de casa.

A forma a qual as mulheres são vistas na sociedade, tanto ao longo da história


quanto no ideal contemporâneo, fez com que os homens se sentissem na qualidade
de maiorais, e enxergassem um poder ilusório sobre as mulheres.

Essa ideia, amadurecida e detentora de apoio em diversos aspetos – até


mesmo por suas semelhantes – gerou um imensurável ambiente de agressões, danos
físicos e psicológicos, crimes, violação, exploração, mutilação e muitas outras formas
de violência contra as mulheres.

Na atualidade, diversas vertentes lutam por direitos femininos que, não fosse o
sistema patriarcal reproduzido ao longo dos séculos, jamais chegaria a ser uma
necessidade de proporções tão absurdas.
12

1. HISTÓRICO DAS RELAÇÕES DE ABUSO SEXUAL E SEUS


DIFERENTES CONTEXTOS

No início das civilizações, a figura da matriarca era exaltada pela própria


natureza e essência do ser, pois a mulher tinha em si os conhecimentos e poderes
que conduziam as gerações, sendo elas as curandeiras, parideiras, conselheiras e
artesãs.

A reprodução até então não tinha ligação com os homens, e acreditava-se que
a concepção era na verdade um presente do universo. Apenas quando houve
consciência da participação dos homens na reprodução, paralelamente ao momento
no qual estes se tornaram sedentários, é que se deu início aos ideais patriarcais.

O que deveria ser uma liderança conjunta, logo tornou-se opressão, e as


mulheres, antes tidas como deusas e detentoras de sabedoria e fertilidade, tornaram-
se submissas e receberam funções diversas às quais detinham anteriormente.

Assim, a opressão feminina começou a surgir, e as mulheres foram


subordinadas aos direitos de seus pais para garantir a herança de seu sangue e bens.

Nesse sentido, com o advento da propriedade veio a “falha histórica do gênero


feminino” e a divisão de tarefas, sendo as mulheres as únicas responsáveis pela
criação dos filhos e pelo cuidado da casa, cada vez mais alienadas das funções
sociais.

Desde então, o poder dos homens de oprimir as mulheres sempre foi


dominante na sociedade. No direito romano, o Estado não deveria punir as mulheres
por crimes, deixando a tarefa para os homens.

A sociedade grega no século V era dominada por homens, e apenas os homens


eram considerados cidadãos. Se a mulher pertencesse a uma família rica, ficaria em
casa até morrer. Se ela viesse das classes mais baixas, teria que trabalhar no
mercado e no campo.
13

Em algumas tribos montanhosas dos primeiros hindus, dois irmãos da mesma


família podiam ter uma esposa comum.

Nesta cultura, também, o costume de queimar as esposas após a morte do


marido não desapareceu até o século XIX.

Os homens da era feudal mantinham suas esposas sob controle, confinadas


em seus haréns e teimosamente céticos quanto à legitimidade de seus filhos, então
forçavam suas esposas a usar cintos de castidade quando viajavam.

A revolução sexual do período Pedra Lascada (10.000 a 4.000 a.C.) trouxe


mudanças no status da mulher na sociedade. O desenvolvimento da agricultura e a
domesticação dos animais privilegiou essa mulher, que se relacionava profundamente
com os filhos e ajustava seus movimentos ao ritmo das crianças, armazenando
alimentos para alimentá-los, semeando e cuidando de mudas, ritos de procriação.

Enquanto isso, machos caçadores ágeis e rápidos nem conhecem seu papel
na fertilidade. Ele saiu em busca de comida, deixando as mulheres e seus filhos no
acampamento.

Portanto, o matriarcado é uma consequência natural da vida nômade dos povos


primitivos, e o parentesco limita-se ao sangue matrilinear, pois não se conhece o papel
do pai na reprodução. Depois, há a promiscuidade absoluta, que é o período de
endogamia, composto por acasalamentos dentro do mesmo grupo.

Entre 2000 a.C. e 1400 a.C. As relações sexuais entre pais e filhos e entre
irmãos são proibidas. A monogamia tem a ver com a submissão de um gênero a outro.
No Império brasileiro, o adultério era punido pelo Código Penal de 1830, no qual a
esposa adúltera era condenada a um a três anos de prisão, e a infidelidade conjugal
era vista como uma afronta aos direitos do marido e um insulto ao cônjuge traído.

No final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, os crimes


passionais atraíram a atenção da sociedade. De acordo com o artigo 27 do Código
Penal Brasileiro de 1890, a pena do acusado pode ser absolvida ou reduzida sob a
alegação de que o acusado tenha perdido a consciência e a inteligência em
decorrência de paixão ou impulso emocional repentino durante o ato criminoso. A
14

súbita excitação de descobrir o adultério deveria ter levado o indivíduo a um breve


período de insanidade.

Assim, a culpa e a punição por crimes passionais não são avaliadas com base
no crime em si, mas sim na natureza ou sexualidade do ofensor e da vítima. A defesa
está tentando provar que essas pessoas não podem ser responsabilizadas pelos
crimes. Com tais medidas, o homicídio de mulheres passa a ser entendido como crime
passional.

O Código Penal de 1940, ainda em vigor, deslegitimou aqueles associados à


"perturbação dos sentidos e do intelecto", deixando impunes os chamados assassinos
da paixão, adotando a categoria de "assassinatos privilegiados", onde os infratores
não mais impunes, mesmo com penas menores. A partir daí, surgiu a imagem de uma
“legítima defesa da honra e da dignidade”.

No entanto, a Lei Maria da Penha (1.340 de 2006), levou ao desenvolvimento


de diferentes estratégias de condenação e a natureza jurídica do processo penal, uma
vez que a dignidade da pessoa humana é uma necessidade baseada na Constituição
Federal de 1988.

No Brasil, antes da promulgação da Constituição, as mulheres casadas


precisavam da anuência de seus maridos para trabalhar, conforme determinava o
Código Civil Brasileiro de 1916, que na época estipulava que a saída das mulheres
para trabalhar poderia levar à desagregação familiar.
15

2. CONCEITOS DOS CRIMES SEXUAIS

Com disposição na Lei 12.015/2009 estão elencados os crimes contra a


liberdade e a dignidade sexual, sendo eles a violação sexual mediante fraude, o
assédio sexual, a exploração sexual e o tráfico de pessoas para este fim, e, por último
o estupro, crime que será melhor exemplificado nos próximos capítulos.

Abaixo, as definições conforme a legislação quanto os crimes aqui


mencionados:

Assédio sexual

Art. 216 - Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou


favorecimento sexual, prevalecendo - se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego,
cargo ou função.

Exploração sexual

Art. 228 - Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração


sexual, facilitá-la, impedir ou dificultar que alguém a ajude.

Tráfico de pessoas

Arts. 231 e 231-A - Facilitar a entrada ou saída de mulheres do país para


exploração sexual, ou mesmo no território nacional, agenciar, aliciar ou
comprar mulheres para exercer a prostituição.

2.1. O CRIME DE ESTUPRO

Com previsão no Art. 215 do Código Penal, está disposição quanto o crime de
estupro:
16

Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém,
mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação
de vontade da vítima:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem


econômica, aplica-se também multa.

Importunação sexual

Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o
objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais
grave.

O estupro é definido como todo emprego de ameaça ou violência com a


intenção de violar a dignidade ou a liberdade sexual de uma mulher. O fator mais
importante que caracteriza este crime é a ausência de consentimento da vítima.

Portanto, forçar a vítima a praticar atos sexuais, mesmo sem penetração, é


estupro (por exemplo, sexo oral forçado ou masturbação sem consentimento).

Se for vítima, a mulher deve procurar ajuda de alguém próximo, chamar a


polícia ou dirigir-se à delegacia onde será registrado o boletim de ocorrência; haverá
encaminhamento para perícia (importante para a coleta de provas e vestígios) ou
exames médicos (hospitais, postos de saúde, unidades de saúde) com o objetivo de
detectar e tratar eventuais doenças e infecções sexualmente transmissíveis, bem
como prevenir uma possível gravidez.

Em todos os casos, é importante não tomar banho antes do exame, pois pode
impedir a coleta de algumas provas importantes para investigação e posterior
processo criminal. As mulheres podem trocar de roupa, mas também é importante
guardar como prova as roupas e itens usados no crime (por exemplo, o DNA do
infrator pode ser coletado dessas roupas).

Recomenda-se fazer o teste o mais rápido possível e tomar a medicação dentro


de 72 horas após a violência para melhorar os resultados do tratamento.
17

A Lei nº 10.778/2003 prevê a obrigatoriedade da notificação dos casos de


violência contra a mulher atendidos em serviços de saúde públicos ou privados, ou
seja, os profissionais que prestam serviços são obrigados a notificar o Ministério da
Saúde.

Em caso de gravidez decorrente de estupro, O aborto é permitido por lei quando


a gravidez é resultado de estupro, e se a mulher está desconfortável com a gravidez,
ter um filho nessa situação tem mais impacto psicológico na vida da vítima. Essa
prática não possui punição legal, conforme artigo 128 do Código Penal:

Art. 128.

Não se pune o aborto praticado por médico: (Vide ADPF 54)

[...]

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

II - Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento


da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

O setor de saúde é obrigado a garantir que o procedimento seja realizado em


condições seguras.

A Lei nº 12.845/2013, conhecida como Lei do Minuto Seguinte, prevê a


obrigatoriedade e integralidade do atendimento às pessoas em situação de violência
sexual.

Os hospitais da rede do SUS são obrigados a oferecer às vítimas atendimento


urgente, integral e multidisciplinar voltado ao tratamento de problemas físicos e
psicológicos causados pela violência.

É importante destacar que o Boletim de Ocorrência para vítimas no sistema


público de saúde (SUS) ou privado (para quem tem plano de saúde ou situação
financeira para pagar o tratamento) não são necessárias.

Esse atendimento no sistema de saúde é um direito da vítima e uma obrigação


da equipe de saúde. Esse serviço também é de cobertura obrigatória para planos de
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saúde, conforme determinação da ANS, 72 (setenta e duas) horas a partir do momento


do ato, pois após este período os medicamentos para IST serão ineficazes. A pílula
tem duração máxima de cinco dias, e quanto mais cedo o paciente tomar a pílula,
mais eficaz ela será. A medicação será indispensável para vítimas expostas à prática
de sexo vaginal, anal ou sexo oral no qual tenha havido ejaculação.

O estupro, considerado crime hediondo, possui uma das penas mais rigorosas
entre os crimes abrangidos pela legislação brasileira, tanto em sua tentativa quanto
em sua consumação.

Conforme entendido pelo Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial nº


1567801/MG:

RECURSO ESPECIAL. ESTUPRO. ATOS LIBIDINOSOS DIVERSOS DA


CONJUNÇÃO CARNAL. CONFIGURAÇÃO DO CRIME NA MODALIDADE
CONSUMADA. POSSIBILIDADE. RECURSO PROVIDO. 1. O exame da
alegada violação do dispositivo infraconstitucional em que se almeja o
reconhecimento da modalidade consumada do crime não demanda
imprescindível revolvimento do acervo fático-probatório delineado nos autos,
procedimento vedado em recurso especial, a teor do Enunciado Sumular n. 7
do Superior Tribunal de Justiça, mas, sim, revaloração dos elementos já
delineados. 2. Considerar como ato libidinoso diverso da conjunção carnal
somente as hipóteses em que há introdução do membro viril nas cavidades
oral, vaginal ou anal da vítima não corresponde ao entendimento do
legislador, tampouco ao da doutrina e da jurisprudência, acerca do tema. 3.
No caso, a conduta realizada pelo recorrido se amolda ao crime de estupro
na modalidade consumada, por representar ato libidinoso, considerando que,
conforme conduta descrita no aresto, o réu estava em cima da vítima,
forçando a penetração vaginal. 4. Recurso especial provido para reconhecer
a apontada violação do art. 213, c/c o art. 14, todos do Código Penal, cassar
o acórdão recorrido e, consequentemente, restabelecer a sentença
condenatória em todos os seus termos (Processo n. 0521.12.004951-0).

Decisão: Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima


indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma, por unanimidade, dar
provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Nefi Cordeiro, Ericson Maranho (Desembargador
convocado do TJ/SP), Maria Thereza de Assis Moura e Sebastião Reis Júnior
votaram com o Sr. Ministro Relator.

(STJ. Acórdão 1567801-MG. Processo nº 2015/0099121-8. Órgão Julgador:


6ª Turma. Relator (a): Rogerio Schietti Cruz. Data do julgamento:
17/12/2015.)
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2.2. ESTUPRO MARITAL E SEU ENQUADRAMENTO ENQUANTO CRIME

O estupro marital pode ser conceituado pelo estupro praticado por parceiro
(namorado, marido, noivo ou outro tipo de relação íntima existente), e tem sua
consumação quando as relações sexuais tidas ocorrem sob coerção ou mediante
força do companheiro.

A violência sexual nesse contexto inclui esse tipo de estupro; quando um


parceiro íntimo força uma mulher a realizar um ato sexual que lhe causa desconforto
ou repulsa; quando a impede de usar métodos contraceptivos ou a obriga a abortar;
quando é usado algum meio para coagir, extorquir, subornar ou manipular para forçar
as mulheres ao casamento, à gravidez ou à prostituição; ou quando restringe ou
elimina o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres, por exemplo,
impedindo-as de frequentar aconselhamento pré-natal.

A violência sexual no casamento é uma violência que nega o casamento e os


valores constitucionais, pois submete a mulher à degradação moral e física e viola os
princípios da dignidade humana, liberdade e igualdade de gênero, pois sua
negligência fomenta o fenômeno da impunidade.

Na doutrina de Hungria apud Greco:

Questiona-se sobre se o marido pode ser, ou não, considerado réu de


estupro, quando, mediante violência, constrange a esposa à prestação
sexual. A solução justa é no sentido negativo. O estupro pressupõe cópula
ilícita (fora do casamento). A cópula intra matrimonium é recíproco dever dos
cônjuges. O próprio Codex Juris Canonici reconhece-o explicitamente[...]. O
marido violentador, salvo excesso inescusável, ficará isento até mesmo da
pena correspondente à violência física em si mesma (excluído o crime de
exercício arbitrário das próprias razões, porque a prestação corpórea não é
exigível judicialmente), pois é lícita a violência necessária para o exercício
regular de um direito (HUNGRIA, 1958 apud GRECO, 2017, p. 91).

Segundo Vasconcelos (2015), os tradicionalistas Nelson Hungria e Magalhães


Noronha possuem uma visão arcaica sobre a conduta masculina com relação ao
20

estupro: o marido não pode ser acusado de estuprar a esposa, pois o Código Civil traz
o resultado do casamento: o serviço social.

Para eles, isso significa que o casal tem a obrigação de manter uma relação
sexual, no que diz respeito à obrigação conjugal; portanto, em caso de recusa indevida
de uma mulher, o marido pode forçá-la a praticar ato sexual sem responder ao crime
de estupro, abrangido pela excludente de ilicitude do exercício regular de direito.

A Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha) enquadra o estupro marital:

Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre


outras: […] III – a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade,
que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao
matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação,
chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de
seus direitos sexuais e reprodutivos (BRASIL, 2019).

O estupro marital é compreendido como a situação pela qual uma pessoa,


utilizando-se de ameaça, violência, coação ou intimidação, força a prática de ato
sexual.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM) (2016,


s.p.): “[...] o estupro marital é uma forma de abuso dentro de um relacionamento. Se
não há consentimento de uma das partes, e mesmo assim o ato é cometido, seja em
um namoro ou em um casamento, é crime”.
21

3. LEI MARIA DA PENHA

Como já vimos em todo o exposto no presente trabalho, é evidente que as


mulheres eram invisíveis aos olhos da sociedade e com o passar dos anos e das
conquistas dos nossos direitos, fomos ganhando cada vez mais visibilidade e espaço.

A nossa grande conquista, em termos de reconhecimento jurídico e protetivo,


com certeza foi a Lei 11.346/06, mais conhecida como a Lei Maria da Penha, em que
proteção de mulheres, vítimas de violência doméstica, foi assegurada.

Embora essa Lei tenha sido criada para nos proteger, a Lei só foi criada por um
caso de violência doméstica contra uma mulher chamada Maria da Penha, e por esse
motivo, tem essa nomenclatura.

Maria da Penha, nordestina e biofarmacêutica, foi casada com um homem


chamado Marco Antônio Viveiros, professor.

No ano de 1983, Marco tentou assassiná-la com um tiro nas costas, o que
ocasionou a paraplegia e começou a utilizar a cadeira de rodas. Na época, seu marido
disse que o tiro foi desferido por assaltantes. Meses após o ocorrido, Marco tentou
novamente assassiná-la, dessa vez, empurrando a sua cadeira de rodas debaixo do
chuveiro, com a intenção de eletrocutá-la.

Em junho do ano corrente, houve o início das investigações do caso pelo


Ministério Público, ocasionando a denúncia apenas em setembro de 1984. O
julgamento só se deu 8 (oito) anos depois, mas o advogado de defesa do Marco
apresentou uma tese, tendo como consequência a anulação do julgamento.

No ano de 1996, Marco foi julgado culpado e condenado a 10 anos de reclusão,


mas recorreu da decisão. Por fim, o judiciário não deu nenhuma decisão após 15 anos
da primeira tentativa de assassinato e não soube responder por qual motivo demorou
tanto para se posicionar no caso.

Em 2002, após 19 (dezenove) longos anos de espera de aplicação de justiça,


finalmente Marco foi preso, graças a persistência de Maria da Penha, já que enviou o
22

caso a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e sua denúncia de violência


doméstica foi acatada pela primeira vez, mas o agressor cumpriu apenas 2 de
reclusão, dos 10 (dez) anos que foi condenado.

Decorrente dessa denúncia, a Corte condenou o Brasil por omissão e


negligência ao caso de violência doméstica e foi advertido, para que criassem uma
legislação que fosse específica para vítimas de violência doméstica.

A lei foi criada e entrou em vigor em setembro de 2006, e o crime de violência


doméstica deixou de ser tratado como crime de menor potencial ofensivo, porque de
fato, nunca foi pouco ofensivo. É humilhante passar por uma situação como essa.

3.1. A RELAÇÃO DA LEI MARIA DA PENHA E O ESTUPRO MARITAL

A Lei Maria da Penha expõe a violência sexual, em seu art. 7º, inciso III, como
sendo:

Qualquer conduta que [...] constranja [a mulher] a presenciar, a manter ou a


participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça,
coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer
modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método
contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto, ou à
prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que
limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.

A terceira espécie de violência que a lei estabelece é a violência sexual. Vale


destacar que o crime ocorrido contra a liberdade sexual, previsto no código penal no
contexto de violência doméstica não altera e nem afasta a espécie elencada pelo
Código Penal, ou seja, tais crimes continuam sendo penalizados pelo código penal.
Porém, a lei não qualifica como violência sexual somente o ato de manter conjunção
carnal com violência ou a prática de atos libidinosos violentos, pode ser qualquer
desses e a lei ainda cita que os atos de impedimentos de usar os métodos
23

contraceptivos e outros métodos, como usar a camisinha, para preservar a saúde,


também pode caracterizar uma violência sexual.

O inciso I da Lei Maria da Penha é entendido como unidade doméstica o


ambiente da casa, domicílio do qual a mulher mora, e exige-se que a agressão, a
violência ocorra no âmbito do lar. O agressor pode ser até mesmo um agregado da
família, dispensando-se o vínculo parentesco entre o agressor e a vítima.

Conforme entendimento jurisprudencial:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.


AGRESSÃO DE CUNHADO CONTRA CUNHADA. INCIDÊNCIA DA LEI
MARIA DA PENHA.

Como decidiu esta Corte em situação fática similar a dos autos, "... Para
configurar a incidência da Lei Maria da Penha, não é necessário que agressor
e agredida tenham vínculo sanguíneo ou relação afetiva, bastando, para
tanto, que este se valha do ambiente doméstico para efetivar a agressão. No
caso, a partir dos dados até então coligidos, tem-se que se trata de vítima
mulher, com ofensor do sexo masculino, que integravam o mesmo ambiente
familiar (eram cunhados e vizinhos), razão por que há a incidência da Lei
Maria da Penha. Competência da Vara Criminal..."

DECISÃO: Conflito negativo de competência improcedente. Unânime.

(TJRS. Acórdão. Processo nº 70058141292. Relator (a): Sylvio Baptista


Neto. Data do julgamento: 29/01/2014.)

A violência contra a mulher pode ser considerada uma doença social provocada
por uma sociedade que privilegia as relações patriarcais marcadas pela dominação
do sexo masculino sobre o feminino (TELES E MELO, 2003, p.114).

Segundo BRASIL (2004) a violência contra as mulheres se constitui em uma


das principais formas dos direitos humanos, consequentemente atinge seus direitos à
vida, à dignidade, a integridade física da mulher, sua saúde. É um fenômeno que
atinge grandes números das mulheres de todo mundo, de diferentes partes.

Pode-se observar que há dois tipos de sujeitos, o passivo e o ativo. Segundo o


artigo 5º, I-III, entre os sujeitos deve haver uma relação de afetividade, que decorre
24

de um relacionamento amoroso, de uma convivência no lar ou até mesmo um


parentesco em outro grau, a título de exemplo, o pai, padrasto, irmão, cunhado, entre
outros. De acordo com parágrafo único do artigo 5º, as preferências sexuais são
irrelevantes na classificação dos sujeitos do crime.

Vale destacar um assunto que às vezes é polêmico, a mulher que optou pela
opção sexual diferente da que é tradicional, essa não perde a proteção penal, ela não
precisa ser titulada mãe, esposa ou namorada para estar amparada pela lei, basta ser
do sexo feminino. Semelhantemente o agressor não pode usar sua opção sexual para
se isentar do crime.

Na maioria das vezes o agressor é a figura masculina e a mulher acaba sendo


a vítima da violência doméstica. A característica que predomina esse tipo de violência
é o fato dele ter ou tido relações afetivas e íntimas com a mulher. Pode ser qualquer
tipo de homem, do mais rico ao mais pobre.

O agressor muitas vezes aparenta ser um homem de boa reputação, idônea,


não demonstrando nenhuma postura violenta, é um homem acima de qualquer
suspeita, mas que dentro do lar agride a mulher. Normalmente a mulher pede ajuda a
algum conhecido, amigos, vizinhos, parentes, e eles acabam não acreditando que um
homem de boa aparência pratique tais atos violentos. Geralmente são homens
possessivos e ciumentos, que tem as mulheres como um objeto.

Segundo o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito, são homens que


quando pequenos tinham seus pais autoritários e agressivos, sendo eles próprios
vítimas de violência quando menores.

É impossível descrever um perfil característico de um agressor, pois eles não


mostram que praticam tais atos violentos e, apesar de ser difícil de explicar o porquê
desse tipo de violência, é possível observar que alguns homens têm necessidade de
dominar e controlar a vida da mulher, é um sentimento de poder sobre elas e acabam
liberando a raiva violentando-as, pois acham que elas conquistando seu espaço ele
estaria perdendo a posição de chefe de família.

Diante de algumas pesquisas, é possível afirmar que o maior índice de


agressores se encontra na classe média e baixa. Os agressores se dividem entre
25

alguns de transtornos, a título de exemplo transtorno explosivo da personalidade,


alcoólatras, dependentes químicos, entre 19 (dezenove) outros tipos de transtornos.

Há ainda aqueles que negam a qualquer custo o tipo de comportamento


agressivo, eles batem em suas mulheres, mas afirmam que não as agridem, e alguns
atribuem à vítima a culpa por eles terem praticado esses atos de extrema violência.

O estupro marital é um dos mais complexos tipos de abuso cometido contra


mulheres, uma vez que identificá-lo é, muitas vezes, quase impossível para as
mulheres, que se colocam no lugar de esposas que por isso têm a relação sexual
como “obrigação” e que por muitas vezes se sentem culpadas e frustradas ao não
agradar os companheiros.

Ainda, dentro dos perfis e características de cada agressor, é imensamente


difícil apontar um abuso dentro de um relacionamento amoroso, também porque há
diversos “níveis” praticados pelos parceiros contra as mulheres.

3.2. O ESTUPRO MARITAL E AS RELAÇÕES HOMOAFETIVAS

O conceito do vínculo familiar passou por diversas mudanças ao longo dos


anos, e, com elas, novas estruturas familiares e direitos surgiram, entre eles a união
matrimonial entre pessoas do mesmo sexo.

Saindo dos conceitos e das etapas para que se conseguisse tal feito, é
necessário elencar que também existe violência dentro dessas uniões, uma vez que
toda e qualquer relação interpessoal está sujeita a isso.

Em relações homoafetivas, diz a violência doméstica como todo abuso


cometido dentro do seio familiar, ou seja, dentro das relações entre duas mulheres –
sejam elas transgênero, transexuais ou cisgênero – a aplicabilidade da lei em questão
é plena.

Nos artigos 2º e 5º da Lei 11.340, temos:


26

Art. 2º

Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual,


renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde
física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

[...]

Art. 5º

Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a


mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:

I - No âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de


convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as
esporadicamente agregadas;

II - No âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por


indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais,
por afinidade ou por vontade expressa;

III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha


convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem


de orientação sexual.

Conforme disposições da Lei 11.340, independentemente da orientação


sexual, a partir do momento em que há a união entre duas pessoas, forma-se uma
família.

E caso dentro desta família haja violência, ameaça, abuso ou qualquer outro
tipo de agressão, será válida a aplicabilidade da lei.
27

4. A DENÚNCIA POR MEIO DA AÇÃO PENAL PÚBLICA


INCONDICIONADA

Para os crimes de estupro, aqueles considerados como crimes graves, deverão


ser ajuizadas ações penais públicas incondicionadas, bem como todos os crimes
tipificados nos capítulos I e II do título VI do Código Penal.

Art. 225

Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante


ação penal pública condicionada à representação.

Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública


incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa
vulnerável.

Ou seja, ainda que a vítima ou seu representante legal não levem o caso à
autoridade pública, o Ministério Público terá o dever de investigar a conduta
praticada e se o caso, oferecer a denúncia contra o agressor.

Nos casos de estupro marital, haverá aumento da pena em metade, conforme


disposição do artigo 226 do Código Penal:

Art. 226

A pena é aumentada:

I – De quarta parte, se o crime é cometido com o concurso de 2 (duas) ou


mais pessoas;

II - De metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio, irmão,


cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima
ou por qualquer outro título tiver autoridade sobre ela.
28

4.1. POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DE MEDIDA PROTETIVA

Para dar uma maior efetividade a proteção da mulher que é vítima da violência
doméstica, o legislador elencou medidas protetivas de urgência. Essas medidas não
têm natureza de pena, mas sim natureza civil que intervém no âmbito penal, cível,
administrativo e na punição da violência doméstica.

A lei traz alguns dispositivos que tem o objetivo de combater a impunidade do


agressor e proteger a mulher vítima da violência doméstica. A lei trouxe medidas para
as vítimas e agressores, dividindo-se as medidas protetivas para que o agressor
cumpra e as medidas para as vítimas, restabelecendo direitos que foram retirados
pelo agressor.

4.2. MEDIDAS PROTETIVAS OBRIGATÓRIAS DO AGRESSOR

As medidas protetivas de urgência que são obrigatórias ao agressor estão


baseadas no artigo 22 da Lei 11.340/06:

Art. 22

Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos


termos desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto
ou separadamente, as seguintes medidas protetivas de urgência, entre
outras:

I - Suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao


órgão competente, nos termos da Lei. 23

II - Afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; III -


proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) Aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando


o limite mínimo de distância entre estes e o agressor;
29

b) Contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio


de comunicação;

c) Frequentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade


física e psicológica da ofendida;

IV - Restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a


equipe de atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - Prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

Essas são medidas dirigidas especialmente ao agressor, que fica sujeito as


restrições e obrigações. Serão aplicadas de forma cumulativa ou de forma separada.

4.3. SUSPENSÃO DA POSSE OU RESTRIÇÃO DO PORTE DE ARMAS

A Lei 10.826/06 regulamenta porte de arma. Conforme o estatuto, usar ou


possuir arma é proibido e para obter a posse de arma é indispensável o registro
despachado pela Polícia Federal e dependendo de certas funções sejam elas públicas
ou privadas, algumas pessoas adquirem esse direito do registro de obter porte de
armas.

Essa medida foi instalada porque o legislador se preocupou pelo fato da arma
poderia estimular o agressor a agredir a integridade física da vítima de alguma
determinada situação de violência doméstica. Para que haja o desarmamento do
agressor, somente é possível de um pedido da própria vítima a uma medida protetiva
e é necessário que o agressor possua a posse da arma com o devido registro na
Polícia Federal, e caso a posse não esteja legalizada, o agressor responderá pelo
crime dos artigos 12, 14 ou 16 do Estatuto do Desarmamento, por estar violando os
dispositivos legais.

Sendo deferida a medida protetiva, o juiz comunica o órgão competente sobre


a decisão proferida, chamado de SINARM (Sistema Nacional de Arma) que delega à
Polícia Federal a competência para autorizar ou não o porte de arma de fogo no
30

território nacional. Se o agressor rejeitar a entrega da arma voluntariamente, a


autoridade judiciária irá determinar o pedido de busca e apreensão.

Deferido o pedido e excluído o direito de o ofensor manter a posse da arma, ou


sendo, limitando o seu uso, deve-se comunicar a quem procedeu ao registro e
concedeu a licença: o Sistema Nacional de Armas (SINARM) e a Polícia Federal. Caso
o agressor tenha direito ao uso de arma de fogo, segundo o rol legal, o juiz comunicará
ao respectivo órgão, corporação ou instituição que impôs. O superior imediato do
agressor fica responsável pelo cumprimento da determinação judicial sob pena de
incorrer nos crimes de prevaricação ou desobediência.

A restrição é válida para evitar tragédia maior. Se o marido agride a esposa, de


modo a causar lesão corporal, se possuir arma de fogo, é possível que, no futuro
progrida para o homicídio” (DIAS, 2008, p.82). A preocupação do autor foi tanta que
ele quis cuidar de todas as formas da integridade física da mulher vítima da violência
doméstica, prevenindo que o agressor venha usar a arma que possui em futuro
afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida. O agressor deve
se afastar do lugar onde convive com a mulher, não importando qual seja o ambiente
nem domicílio.

Esse afastamento é uma prevenção adiantada de um possível crime que possa


vir ocorrer diante do convívio com o agressor. Esse afastamento do agressor do local
de convivência com a mulher permanece até constituir o cumprimento do mandado
de separação de corpos.

4.4. PROIBIÇÃO DE DETERMINADAS CONDUTAS

Sobre essas determinadas condutas que a lei cita é os acessos a vítima e aos
familiares e das testemunhas, firmando uma distância mínima entre o agressor e
proibi-lo de manter contato com a ofendida e proibir de frequentar determinados
lugares com o fim de preservar a integridade física e psicológica da vítima. Será
determinada pelo juiz essa conduta do agressor não se aproximar da ofendida, nem
31

dos seus familiares e testemunhas, é um limite imposto de aproximadamente de 100


(cem) metros.

Essa conduta é necessária porque a vítima, após ter sofrido a violência pode
continuar mantendo algum tipo de relação com o agressor, que poderá ser seguida
de mais violência e ameaças, não só a vítima, mas também aos seus próximos, como
família e testemunhas que presenciou a violência, pois mesmo com a medida protetiva
imposta, o agressor pode perseguir a vítima em outros locais que a vítima possa estar.
O legislador visou a proteção da vítima, dos familiares e das testemunhas. O que fica
imposto para o agressor é somente a não aproximação da vítima e não os lugares que
devem ser evitados, pois assim seria possível infringir a tal imposição. O legislador
criou uma outra conduta que é a proibição de contato com a vítima, familiares e
testemunhas.

Quando o legislador editou essa medida, o objetivo foi proteger e preservar


alguma situação que colocaria em risco a vítima, além disso, proteger do
comportamento do agressor que poderia fazer novas ameaças e praticar uma nova
violência física. O contato que a lei refere é amplo, visando todos os tipos de contatos,
como além do físico, por telecomunicação, mensagens de textos no celular, redes
sociais, e-mails, entre outros. Quando se tratar de violação dessas medidas protetivas,
deverá ser comunicado a Autoridade Policial, ao Ministério Público ou a Autoridade
Judiciária, podendo ser decretada do juiz a prisão preventiva do agressor para manter
a ordem pública, entretanto, além do depoimento da vítima deve-se observar os
elementos probatórios e o convencimento motivado.

A proibição de frequentar determinados lugares é a última conduta que o


legislador citou, o objetivo é proteger a integridade física e psicológica da mulher.
Conforme o autor: Apesar de o legislador fazer referência apenas à frequentação de
determinados lugares - a expressão “frequência” traduz a noção de repetição
sistemática de um fato ou comportamento, in casu, a repetição habitual do agressor
em comparecer a um determinado lugar -, parece que a proibição também pode
abranger o mero acesso a determinado lugar, no sentido de lhe ser vedada a simples
ação de entrar ou ingressar em determinado local, não tendo qualquer conotação de
reiteração ou repetição (LIMA, 2014, p.932).
32

O juiz deverá apontar quais são esses locais que o agressor está impedido de
frequentar, pois caso não seja apontado, o agressor terá livre movimentação,
demonstrando constrangimento ilegal e liberdade de locomoção. Restrição ou
Suspensão de visitas aos dependentes menores. A maioria das agressões acontece
no ambiente familiar e são assistidas pelos seus filhos, tanto menor de idade,
dependentes ou até maiores de idade. Diante desse problema, a legislação
possibilitou que o juiz restringe ou suspenda o direito de os agressores visitarem os
filhos menores que são dependentes.

Conforme expõe o autor, “restringir” deve ser compreendido como uma


limitação: A restrição deve ser compreendida como uma limitação ao direito de visitas
aos dependentes menores. Em outras palavras, pode o juiz determinar que as visitas
sejam realizadas em local diverso da residência da vítima, acontecendo em um lugar
de forma supervisionada, sem que haja contato do ofensor com a vítima.

Por outro lado, a palavra suspensão é utilizada no sentido de privação


temporária do direito de visitas. Em ambas as hipóteses, a medida protetiva sob
comento tem natureza temporária, perdurando apenas enquanto houver ameaça de
reiteração dos atos de violência (LIMA, 2014, p.933).

Para que haja restrição e limitação, o legislador prevê que deve ser ouvida uma
equipe de atendimento multidisciplinar, pois há alguns casos que apesar do menor ter
presenciado a violência, o agressor poderá manter contato normalmente com os
menores pois é garantido que não irá ser prejudicial.

4.5. PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISIONAIS OU PROVISÓRIOS

O Código Civil em seu artigo 1694 conceitua alimento como “a prestação devida
para satisfação das necessidades pessoais daquele que não pode provê-las pelo
trabalho próprio”. Nesse sentido, o autor caracteriza: Em sentido amplo, os alimentos
devem compreender as necessidades vitais da pessoa, cujo objetivo é a manutenção
33

da sua dignidade: a alimentação, a saúde, a moradia, o vestuário, o lazer, a educação,


entre outros.

Sua fixação deve ser feita dentro do binômio necessidade de quem os pleiteia
versus possibilidade de quem os deve prestar, ou nos termos do Código Civil “na
proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada” (art.
1694, §1º) (LIMA, 2014, p.934).

O autor Pedro Rui da Fontoura Porto (2009, p.95) esclarece sobre alimentos
provisórios:

“O legislador usou as duas expressões para eliminar as discussões


semânticas sobre a suposta diferenciação entre alimentos provisionais ou
provisórios, visto que ambas significam, em linhas gerais, a fixação de
alimentos antes de uma decisão faz coisa julgada, de modo que,
demonstrada alteração no célere binômio necessidade e possibilidade pode
o quantum ser revisto a qualquer momento”. [...].

Como regra, entende-se que alimentos provisórios são aqueles fixados


imediatamente pelo juiz, a título precário, ao receber a inicial, na ação de alimentos
do rito especial, disciplinada pela Lei 5.478/68, ao passo que, provisionais, são
aqueles reclamados pela mulher ao propor, ou antes de propor, a ação de separação
judicial ou de nulidade do casamento ou de divórcio direto, para fazer face ao seu
sustento durante a demanda. Chamam-se também provisionais os alimentos fixados
na sentença da primeira instancia, na ação de investigação de paternidade, de acordo
com o artigo 5º da Lei nº 883/49 (2007, p.98).

O objetivo dessa medida é proteger aqueles que são dependentes


economicamente da pessoa do agressor, ou seja, a mulher e seus filhos, caso ocorra
o afastamento do lar, ou separação não tendo então condições de se manterem.
34

4.6. MEDIDAS PROTETIVAS À OFENDIDA

Essas medidas estão previstas nos artigos 23 e 24 da Lei Maria da Penha, que
mencionam quais são as medidas protetivas de urgência a ofendida.

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar à ofendida e seus dependentes a programa oficial ou


comunitário de proteção ou de atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao


respectivo domicílio, após afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos


relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

Art. 24. Para a proteção patrimonial dos bens da sociedade conjugal ou


daqueles de propriedade particular da mulher, o juiz poderá determinar,
liminarmente, as seguintes medidas, entre outras:

I - restituição de bens indevidamente subtraídos pelo agressor à ofendida;

II - proibição temporária para a celebração de atos e contratos de compra,


venda e locação de propriedade em comum, salvo expressa autorização
judicial;

III - suspensão das procurações conferidas pela ofendida ao agressor;

IV - prestação de caução provisória, mediante depósito judicial, por perdas e


danos materiais decorrentes da prática de violência doméstica e familiar
contra a ofendida.

O artigo 23 traz a proteção à vítima e o artigo 24 legisla sobre a proteção do


patrimônio do casal e bens que são de uso particular da vítima.

Encaminhar à ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário


de proteção ou de atendimento
35

O objetivo desse inciso, além de proteger a ofendida, é tornar efetiva a medida


protetiva por meio de programas direcionados a proteção da vítima e que atenda a
vítima da violência doméstica. Essa criação de programas multidisciplinares pode ser
criada por organizações não governamentais em atenção a grupos de apoio as
mulheres vítimas da violência, ou seja, não são criadas apenas pelo Estado. Esses
programas têm a função de garantir o atendimento à ofendida em uma base
estruturada, com segurança, pois a mulher pode ser encontrada em grave situação.
Determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo
domicílio, após afastamento do agressor.

O inciso II do artigo 23 é resultado do artigo 22, II da lei, pois o juiz oferece a


proibição do agressor de se aproximar da vítima e de sua família e testemunhas que
pode ser aplicado cumulativamente com a recondução da vítima e seus filhos ao
domicílio posterior ao afastamento do agressor. Essa medida é necessária quando
não couber acolhimento à vítima da medida do inciso I. Nesse caso ocorreu o
afastamento da ofendida por causa da violência sofrida e o medo de sofrer novas
ameaças e violência preferiu se afastar por prevenção.

4.7. AFASTAMENTO DO LAR

Nesse inciso, a vítima pode se afastar do lar sem colocar em detrimento seus
direitos aos seus bens, patrimônios, guarda dos filhos e os alimentos.

O autor Pedro Porto (2009, p.98) salienta que só será possível o afastamento
do lar se houver alguma notícia da prática ou risco concreto de algum crime que
certamente irá justificar o afastamento, não apenas como mero capricho da vítima,
pois se sabe que muitas vezes o afastamento do varão extrapolará os prejuízos a sua
pessoa. Separação de corpos. Durante o processo de separação de corpos, a vítima
pode requerer a medida do inciso III, o afastamento do lar, enquanto não houver
finalizado a ação de anulação ou dissolução do casamento, aqui compreende também
a união estável.
36

A ofendida tem prazo de 30 (trinta) dias para ajuizar a ação principal de


separação judicial, dissolver a união estável ou anular o casamento. Vale ressaltar
que ambos são de competência da Vara da Família ou Cível.

4.8. MEDIDAS DE ORDEM PATRIMONIAL

No artigo 24 da Lei Maria da Penha, é previsto pelo legislador medidas que


protegem tanto os bens particulares da vítima, como o patrimônio e bens do casal,
como por exemplo, ações como bloqueio de contas, restituição dos bens subtraídos
pelo agressor. De acordo com a lei, o juiz pode aplicar uma ou mais medidas em cada
caso e pode ser substituída por outra de maior eficácia. No caso de restituição de
bens, o objetivo dessa medida é proteger e assegurar os bens do casal e bens
particulares da mulher, que será restituído caso o agressor tenha pegado de forma
indevida. Determinados pelo juiz, os bens de uso particular devem ser restituídos
imediatamente, já os bens imóveis ou propriedades será autorizado pelo juiz de uma
reintegração de posse cautelar, sendo necessário o ajuizamento da ação principal no
prazo de 30 (trinta) dias na competência cível.

Há uma medida que proíbe, temporariamente, a compra, venda e locação da


propriedade em comum. Essa medida é um impedimento de que o agressor arruíne o
patrimônio adquirido com vítima durante o tempo de relação.

Para o autor “o juiz determinará a proibição temporária para celebração de atos


e contrato de compra e venda e locação de propriedade em comum” (LIMA, 2014,
p.939). Fica a cargo da ofendida indicar quais bens pretende interditar através da
medida protetiva. Em caso de revogação das procurações conferidas pela ofendida
ao agressor, a Lei prevê essa medida para precaver o agressor, com o objetivo de se
vingar da mulher, realize certos atos com esse documento. Geralmente as mulheres
dão esses poderes aos seus maridos para que eles cuidem dos negócios familiares,
por isso, uma violência doméstica e familiar, o agressor pode usar esse instrumento
37

como forma de vingança, por isso são revogados para que ele não represente mais a
vítima nos negócios.

4.9. CAUÇÃO PROVISÓRIA MEDIANTE DEPÓSITO JUDICIAL

A Lei Maria da Penha, além de abrigar o âmbito penal, também abrange o ilícito
cível. Sendo assim, a lei atribui um pagamento com título de indenização que tenha
reconhecimento no âmbito cível proposta pela ofendida e que obriga a prestação
dessa caução pelo agressor. Essa caução tem o objetivo de preservar e assegurar
uma futura demanda por parte da vítima diante do juízo cível relacionado à violência
doméstica sofrida e relacionada também as medidas protetivas sobre o patrimônio.
38

CONCLUSÃO

As condições de violência até hoje enfrentadas por muitas mulheres nada mais
são que o resultado da construção de uma sociedade que beira o machismo e segue
os ideais patriarcais desde seus primórdios.

Foi necessário que a figura feminina lutasse, desde muito antes do início da
aplicação das leis, por seu espaço, liberdade e dignidade, estes que foram e ainda
são constantemente e repetidamente violados seja sexualmente, seja dentro do
ambiente de trabalho ou nos direitos políticos.

O advento da Lei Maria da Penha é, sem sombra de dúvidas, uma das mais
importantes conquistas femininas na atualidade e não há nada mais justo que sua
aplicação se estenda à todas as mulheres, sejam elas transgênero, transexuais ou
cisgênero.

O estupro marital ocorre dentro de famílias consideradas perfeitas e, muitas


vezes, a mulher submetida a tal situação nem mesmo sabe que está sofrendo uma
violência sexual e que a prática de seu parceiro configura crime.

Por outro lado, os homens, por mais que não possuam consigo a consciência
do crime, em seu íntimo sabem que o que estão fazendo não é correto pois, ao
empregar força para obter vantagem sexual sobre sua companheira, deve-se presumir
que há algo de fato errado.

Ainda será necessário permanecer lutando pelo direito de liberdade, pela


possibilidade de dizer “não” dentro de um relacionamento sem que haja o emprego de
ameaças, coação ou jogos psicológicos por seus parceiros, ainda mais por tamanha
dificuldade de comprovação de tal ato praticado, mas nada é impossível para a classe
que já lutou tanto e continuará lutando por sua liberdade.
39

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violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8º do art. 226 da
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Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir,
Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal, o
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