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SÃO PAULO - SP
2019
FLAVIA RIBEIRO DE MORAES SARTORI
SÃO PAULO- SP
2019
FLAVIA RIBEIRO DE MORAES SARTORI
TERMO DE APROVAÇÃO
Agradeço, primeiramente a Deus, por ter me agraciado com vida e saúde todos os dias,
me sustentando com seu amor e sua bondade.
Agradeço a minha preciosa mãe, por toda paciência e incentivo durante a minha
graduação.
Por fim, agradeço a todos os docentes que contribuíram para o ensino e capacitação
dos alunos, ensinado a trilhar caminhos para o sucesso profissional.
“O leite alimenta o corpo; o afeto alimenta a alma”.
Içami Tiba.
RESUMO
O presente trabalho, tem por objetivo principal discorrer sobre as projeções da afetividade no
Direito de Família, com foco nas filiações socioafetivas de parentesco por afinidade e questões
relacionadas às multiparentalidades, com suas limitações e polêmicas, sendo elas: questões de
ordem moral e social, abordando aspectos de identidade na criança e o melhor interesse do
infante, previstos na Constituição Federal, Estatuto da criança e do Adolescente, Enunciados e
Provimentos.
Em virtude de constantes transformações da sociedade, sendo elas culturais, políticas, sociais e
tecnológicas, verificou-se que o Direito de Família sofreu inovações, especificamente no que
diz respeito a questões de paternidade e filiação, possibilitando novos arranjos familiares, dentre
eles, as constantes discussões acerca do reconhecimento voluntário e judicial de parentalidade
(maternidade e paternidade) socioafetiva e questões relacionadas a possibilidade de
multiparentalidade. Em especial, o recente julgado do Supremo Tribunal Federal –STF que, em
sede de Repercussão Geral, analisou a parentalidade socioafetiva e também a possibilidade
jurídica da multiparentalidade. Diante disso, através do método lógico-dedutivo,
fundamentando-se na construção doutrinária, jurisprudencial e normativa, o presente trabalho
analisou o princípio da afetividade no Direito Brasileiro, com enfoque nas famílias
socioafetivas e tipos de multiparentalidades, por meio de artigos jurídicos, doutrinas, revistas
jurídicas, jurisprudência, normas constitucionais e infraconstitucionais será o método de
procedimento específico do trabalho em questão.
The present work aims to discuss the projections of affectivity in Family Law, focusing on
socioaffective affiliations of kinship by affinity and issues related to multiparentalities, with
their limitations and controversies, these are: questions of moral and social order, addressing
aspects of identity in the child and the best interest of the infant, provided in the Federal
Constitution, Statute of children and adolescents, Enunciates and Provisions. Due to the
constant transformations of society, being cultural, political, social and technological, it was
found that family law has undergone innovations, specifically with regard to issues of paternity
and affiliation, enabling new family arrangements, among them, the constant discussions about
voluntary and judicial recognition of socioaffective parenting (maternity and paternity) and
issues related to the possibility of multiparenthood. In particular, the recent ruling of the
Supreme Court -STF, which, in the seat of General Repercussion, analyzed socioaffective
parenting and the legal possibility of multiparenthood. Therefore, through the logical-deductive
method, based on doctrinal, jurisprudential and normative construction, the present work
analyzed the principle of affectivity in Brazilian law, focusing on socioaffective families and
types of multi-parentities, through legal articles, doctrines, legal journals, jurisprudence,
constitutional and infraconstitutional rules will be the specific method of procedure of the work
in question.
CC - Código Civil
CF - Constituição Federal
MP - Ministério Público
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 12
2 ESCORÇO HISTÓRICO .................................................................................... 14
2.1 O DIREITO DE FAMÍLIA NO CONTEXTO ATUAL .......................................... 14
2.2 DOS PRINCÍPIOS PROTETIVOS DO DIREITO DE FAMÍLIA ............................ 17
2.2.1 Dignidade da Pessoa Humana ......................................................................... 17
2.2.2 Solidariedade Familiar ................................................................................... 19
2.2.3 Pluralismo Familiar ....................................................................................... 19
2.2.4 Afetividade..................................................................................................... 21
2.2.5 Princípio do Melhor Interesse da criança ....................................................... 23
2.2.6 Igualdade de filiação ...................................................................................... 24
3 AS FAMÍLIAS E A AFETIVIDADE .................................................................. 26
3.1 AFETIVIDADE NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ............................................... 26
3.2 AFETIVIDADE NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 .................................................... 27
3.3 AFETIVIDADE NA DOUTRINA BRASILEIRA.................................................. 28
4 FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA ............................................................................. 31
4.1 PARENTALIDADE SOCIOAFETIVA ................................................................ 31
4.1.1 POSSE DE ESTADO DE FILHO ...................................................................... 32
4.1.2 RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO JUDICIAL ............................................ 34
4.2 RECONHECIMENTO VOLUNTÁRIO EXTRAJUDICIAL................................... 34
5 MULTIPARENTALIDADE ................................................................................ 36
5.1 ASPECTOS GERAIS ......................................................................................... 36
5.2 PROVIMENTO 63/2017 E 83/2019 ..................................................................... 39
5.3 NOS TRIBUNAIS .............................................................................................. 44
5.4 EFEITOS JURÍDICOS NO DIREITO DE FAMÍLIA ............................................. 47
5.4.1 Alteração do nome e registro da dupla filiação ................................................ 47
5.4.2 Guarda compartilhada e a convivência familiar .............................................. 48
5.4.3 Alimentos ....................................................................................................... 49
5.4.4 Divisão de herança ......................................................................................... 50
5.4.5 Direito previdenciário e securitário ........................................................... .....51
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 53
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 55
12
1 INTRODUÇÃO
Ocorre que a nova realidade das famílias apresentou demandas complexas, sem previsões
legislativas, como por exemplo, os parentescos socioafetivos e os casos de multiparentalidades.
Hoje, o Brasil conta com o Enunciado n° 622, do Supremo Tribunal Federal que dispõe
sobre a socioafetividade. Contudo ainda há julgamentos, em descompasso com a doutrina
predominante.
13
2 ESCORÇO HISTÓRICO
Esse modelo familiar transpessoal não dava qualquer abertura para o reconhecimento da
subjetividade entre os membros familiares e consequentemente, não se falava em afetividade.
A obra de Oscar Joseph de Plácido e Silva traz uma definição conferida a família clássica:
Família: Derivado do latim família, de famel (escravo, doméstico), é geralmente tido, sem
sentido restrito, como a sociedade conjugal. Nesse sentido então, família compreende os
cônjuges e sua progênie. E se constitui, desde logo, pelo casamento, Mas, em sentido lato,
família quer significar todo “conjunto de pessoas ligadas pelo vínculo da
consanguinidade” (Clóvis Bevilaqua). Representa-se, pois, pela totalidade de pessoas que
descendem de um tronco ancestral comum, ou seja, provindas do mesmo sangue,
correspondendo a gens dos romanos e aos genos dos gregos. No sentido constitucional
mais amplo, confunde-se com a expressão “entidade familiar”. É a comunhão familiar,
onde se computam todos os membros de uma mesma família, mesmo daquelas que se
estabeleçam pelos filhos, após a morte dos pais. Na tecnologia do Direito Civil, no entanto,
exprime simplesmente a sociedade conjugal, atendida no seu caráter de legitimidade, que
a distingue de todas as relações jurídicas desse gênero. E, assim, compreende somente a
reunião de pessoas ligadas entre si pelo vínculo de consanguinidade, de afinidade ou de
parentesco, até os limites prefixados em lei. Família. Entre os romanos, além do sentido
de conjunto de pessoas submetidas ao poder de um cidadão independente (homo sui juris),
no qual se compreendiam todos os bens que às mesmas pertencem, era sinônimo de
15
patrimônio, propriamente aplicado aos bens deixados pelo de cujus. E, nesta razão, dava-
se o nome de actio familiae erciscundade à ação de divisão de uma herança.1
A visão jurista clássica sobre família deixa claro a forte influência da igreja, o critério de
consanguinidade entre os membros da entidade e a preocupação central com o patrimônio.
Foi após a Segunda Guerra que a família passou a sustentar de forma crescente a
relevância dos laços afetivos, surgindo disposições infraconstitucionais que atenuaram o
formalismo do Código Civil de 1916, atendendo alguns aspectos pontuais da sociedade, como
exemplo: Estatuto da Mulher Casada (Lei n°4.121/62), a Lei do Divórcio (Lei n° 6.515/77), o
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n°8.069/90) e posteriormente, leis que admitiram a
União Estável (Lei n° 8.971/94 e Lei n°9.278/96).2
Por isso a partir daí, o conceito de família passou a possuir caráter plural, em decorrência
de passar por constantes transformações sociais, não existindo apenas um modelo de entidade
familiar ou um aspecto de filiação, por exemplo, pois se amolda de acordo com o contínuo
caminhar social.
Ao passar essas mudanças, inclusive em seu conceito, a família sofre influências de ordem
moral (ao se admitir o divórcio e ao tratar das reproduções assistidas), política (na medida em que
o Estado propõe um planejamento familiar) e ainda de natureza econômica (como nas questões
afetas à moradia, desemprego e nível de vida).3
O próprio ordenamento jurídico encontra dificuldades para acompanhar essas alterações
na sociedade que, de algum modo, acarretam consequências ao instituto.
Rodrigo da Cunha Pereira conceitua a família contemporânea da seguinte forma:
Família – [...] Com a Carta Magna, ela deixou sua forma singular e passou a ser plural,
estabelecendo-se aí um rol exemplificativo de constituições de família, tais como o
casamento, união estável e qualquer dos pais que viva com seus descendentes (famílias
monoparentais). Novas estruturas parentais e conjugais estão em curso, como as famílias
mosaicos, famílias geradas por meio de processos artificiais, famílias recompostas,
famílias simultâneas, famílias homoafetivas, filhos com dois pais ou duas mães, parcerias
1
PLÁCIDO E SILVA, Oscar Joseph. Vocabulário Jurídico. Atualizadores: Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho.
23.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2003. P.567
2
Calderón, Ricardo. Princípio da afetividade no direito de família – 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
3
GLANZ, Semy. A família mutante: sociologia e direito comparado: inclusive o novo Código Civil brasileiro.
Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p.664
16
de paternidade, enfim, as suas diversas representações sociais atuais, que estão longe do
tradicional conceito de família, que era limitada à ideia de um pai, uma pai, filhos,
casamento civil e religioso.
[...] Inaugura-se com a Constituição Federal de 1988 uma nova fase do direito de família
e, consequentemente, do casamento, baseada na adoção de um explícito poliformismo
familiar em que arranjos multifacetados são igualmente aptos a constituir um núcleo
doméstico chamado “família”, recebendo todos eles a “especial proteção do Estado”.
Assim, é bem de ver que. Em 1988, não houve uma recepção constitucional do conceito
histórico de casamento, sempre considerado como via única para a constituição de família
e, por vezes, um ambiente de subversão dos ora consagrados princípios da igualdade e da
dignidade da pessoa humana. Agora, a concepção constitucional de casamento –
diferentemente do que ocorria com os diplomas superados – deve ser necessariamente
plural, porque os plurais também são famílias e, ademais, não é ele o casamento, o
destinatário da proteção especial do Estado, mas apenas o intermediário de um propósito
maior, que é a proteção da pessoa humana em sua inalienável dignidade. 4. O pluralismo
familiar engendrado pela Constituição – explicitamente reconhecido em precedentes tanto
desta Corte quanto do STF – impede se pretenda afirmar que as famílias formadas por
pares homoafetivos sejam menos dignas de proteção do Estado, se comparadas com
aquelas apoiadas na tradição e formadas por casais heteroafetivos, 5. O que importa agora,
sob a égide da Carta de 1988, é que essas famílias multiformes recebam efetivamente a
“especial proteção do estado”, e é tão somente em razão desse desígnio de especial
proteção que a lei deve facilitar a conversão da união estável em casamento, ciente o
constituinte que, pelo casamento, o Estado melhor protege esse núcleo doméstico
chamado família. 4
Assim, é possível concluir que a família clássica se formava pela legitimidade e a família
atual é calcada no paradigma da afetividade e comunhão de vida entre seus membros.
4
STJ. Resp 1.183.378/RS. Relator Ministro Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, Julgado em 25.10.2011. Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21285514/recurso-especial-resp-1183378-rs-2010-0036663-8-stj/inteiro-
teor-21285515> Acesso em 25 de outubro de 2019.
17
Os princípios são ideias basilares do Direito, sendo aplicáveis a casos em que o juiz não
consiga recorrer à analogia nem aos costumes para solução do conflito. Além disso, orientam o
legislador na elaboração de leis e o aplicador do Direito aos casos, de acordo com cada área de
atuação.
Observa-se o dispositivo do Código de Processo Civil acerca dos princípios: art. 140: o
juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico.5
No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à
analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito, cabendo ao caso o critério de
proporcionalidade e ponderação.
Nesse sentido, colabora Jorge Reis Novais:
A seguir, expõe-se alguns princípios concernentes ao Direito de Família que são conexos
ao tema do presente trabalho.
5
BRASIL. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 27 set 2019.
6
NOVAIS, Jorge Reis. As restrições aos direitos fundamentais não expressamente autorizadas pela Constituição.
Coimbra: Coimbra, 2003.
18
Ademais, o princípio da dignidade da pessoa humana, abrange outros Direitos, que são
fundamentais, pois se interligam por uma concepção humanística da sociedade, não podendo ser
dissociados pois é inerente a natureza humana.10
Assim, é possível concluir que o princípio da dignidade da pessoa humana está
intimamente ligado ao Direito de família, uma vez que as mudanças sociais trouxeram novos
relacionamento afetivos e a liberdade na forma de constituição de entidade familiar e há violação
desse princípio quando se excluem as entidades familiares da tutela constitucional.
7
KAPPLER Kuhn Camila, KONRAD Regina Letícia. O princípio da dignidade da pessoa humana: Considerações
teóricas e implicações práticas. Artigo científico. Centro de ciências humanas e sociais, 2016.p.19
8
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.392
9
TARTUCE, Flávio. Novos princípios do Direito de Família brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2010 p.5
10
COSTA Martins Surany Ana. Filiação socioafetiva: Uma nova dimensão afetiva das relações parentais. Disponível
em:
<http://www.ibdfam.org.br/artigos/381/Filia%C3%A7%C3%A3o+socioafetiva%3A+Um+nova+dimens%C3%A3o+
afetiva+das+rela%C3%A7%C3%B5es+parentais# > Acesso em 29 de outubro de 2019.
19
A solidariedade familiar tem como fundamento o laço de parentesco entre as partes, sendo
portanto uma obrigação natural e de natureza legal, por decorrer de uma determinação imperativa
de lei.
Assim, Maria Berenice Dias afirma:
Solidariedade é o que cada um deve ao outro. Esse princípio, que tem origem nos vínculos
afetivos, dispõe de conteúdo ético, pois contém em suas entranhas o próprio significado
da expressão solidariedade, que compreende a fraternidade a reciprocidade. (...) em se
tratando de crianças e de adolescentes, é atribuído primeiro à família, depois à sociedade
e finalmente ao Estado (CF 227) o dever de garantir com absoluta prioridade os direitos
inerentes aos cidadãos em formação.11
Sabe-se que até pouco tempo atrás, a família patriarcal era exclusivamente constituída
pelo matrimônio do casal e sua dissoluçao somente se dava pelo óbito de um dos cônjuges. Todavia,
o modelo de sociedade tradicional passou mudanças de ordem moral em decorrência das
11
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 4º ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007,
p.63.
12
BIANCA, C. Massimo. Diritto civile – v.2, la famiglia, le successioni. 4ed. Milano: Giuffré, 2005, p.4
20
“Inaugura-se com a Constituição Federal de 1988 uma nova fase do direito de família e,
consequentemente, do casamento, baseada na adoção de um explícito poliformismo
familiar em que arranjos multifacetadossão igualmente aptos a constituir esse núcleo
doméstico chamado "família", recebendo todos eles a "especial proteção do Estado".
Assim, é bem de verque, em 1988, não houve uma recepção constitucional do conceito
histórico de casamento, sempre considerado como via única para a constituição de família
e, por vezes, um ambiente de subversão dos ora consagrados princípios da igualdade e da
dignidade da pessoa humana. Agora, a concepção constitucional do casamento -
diferentemente do que ocorria com os diplomas superados - deve ser necessariamente
plural, porque plurais também são as famílias e, ademais, não é ele, o casamento, o
destinatário final da proteção do Estado, mas apenas o intermediário de um
propósito maior, que é a proteção da pessoa humana em sua inalienável dignidade.”13
13
STJ. REsp:2010/0036663-8/ RS, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 25/10/2011,
Disponível em: <https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21285514/recurso-especial-resp-1183378-rs-2010-
0036663-8-stj/inteiro-teor-21285515>. Acesso em 25 de outubro de 2019.
14
CARDOSO, Adailton de Souza. O pluralismo nas entidades familiares e os novos moldes de família. Disponível
em: <https://jus.com.br/artigos/39664/o-pluralismo-nas-entidades-familiares-e-os-novos-moldes-de-familia> acesso
em 29 de outubro de 2019.
21
2.2.4 Afetividade
O afeto pode ser definido como um sentimento de carinho e cuidado estabelecido entre
as pessoas, através de laços criados que se mantém de forma contínua e duradoura.
No campo da psicologica, a afetividade é a suscetibilidade que apresenta diante de
alterações que acontecem no campo exterior e no íntimo do ser, gerando experiências agradáveis e
não agradáveis.15
Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus explica o sentido etimológico da palavra afeto:
Do latim afficere, afectum, e que significa produzir impressão; e também do latim affectus,
que significa tocar, comover o espírito, unir, fixar ou mesmo adoecer. Seu melhor
significado, no entanto, liga-se à noção de afetividade, afeccção, que deriva do latim
afficere ad actio, onde o sujeito se fixa, onde o sujeito se liga.16
Além disso, Caio Mário da Silva Pereira se refere a afetividade e seu reconhecimento
constitucional com a seguinte leitura objetiva:
15
CASSETTARI, Christiano. Multiparentalidade e parentalidade socioafetiva: efeitos jurídicos.3 ed. ver,atual e
amp –São Paulo: Atlas,2017,p.19.
16
BRITO, Rodrigo Toscano de. Situando o Direito de Família entre os princípios da dignidade humana e da
razoável duração do processo. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Família e dignidade humana. V CONGRESSO
BRASILEIRO DE DIREITO DE FAMÍLIA. Anais...São Paulo: IOB Thomson, 2006.p.820.
17
FACHIN, Luiz Edson. Comentários ao novo Código Civil: do direito de Família, do direito pessoal, das relações
de parentesco. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p.27.
22
Ou seja, a família passa a ser reconhecida como um grupo social essencialmente fundado
nos laços da afetividade, amparada pela noção de dignidade da pessoa humana.
Não obstante, a afetividade encontra-se ligada a ideia de parentesco. Plácido e Silva aduz
o seguinte sobre o assunto:
Além disso, o Código Civil em seu artigo 1.593, define parentesco como natural ou civil
e que pode ser resultado de consaguinidade ou outros meios.
18
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil: família. 22 ed. rev e atual e ampl. Rio de janeiro:
Forense, 2014, p.65-66.
19
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: famílias. São Paulo: Saraiva,2008. P.48.
23
Assim, o afeto é algo que se exterioriza e traz reflexos no mundo jurídico. Para isso, são
considerados alguns elementos essenciais que o afeto gera nas relações, como a autoridade parental
de uma pessoa em relação a outra, e a posse do estado de filho, ou seja, quando a pessoa é tratada
pela família como se filho fosse, bem como quando faz o uso de sobrenome da família e é
reconhecido no meio social como filho.
20
PEREIRA, Tânia da Silva. Direito da criança e do adolescente. Uma proposta interdisciplinar. 2. ed. Rio de Janeiro:
Renovar, 2008, p. 46.
24
A relação paterno filial de constitui com base na convivência familiar das partes,
independente da sua origem.
Com o advento da Constituição Federal de 1988, cada membro da família lhe foi garantido
proteção. Assim especificamente em seu artigo 227, §6º, a Carta Magna concedeu proteção a toda
prole de um genitor, baseando-se no princípio da dignidade da pessoa humana, deixando explícito
a igualdade de tratamento entre todos filhos, quer seja os em comum entre os cônjuges, os adotados,
os reconhecidos ou os biológicos que não são frutos do matrimônio.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais em 2018 (dois mil e dezoito), reconheceu vínculo
socioafetivo após a morte do pretenso genitor, assegurando ao filho socioafetivo todos os direitos
hereditários como se filho biológico fosse, inclusive o direito ao quinhão hereditário:
21
TJ-MG – Agravo de Instrumento: 10024143396489001. Relator: Ana Paula Caixeta, Data de Julgamento:
10/04/0018, Disponivel em: < https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/566624412/agravo-de-instrumento-cv-ai-
10024143396489001-mg?ref=serp > Acesso em 31 de outubro de 2019.
25
3 AS FAMÍLIAS E A AFETIVIDADE
22
VIANA, Rui Geraldo Camarco. A família In: VIANA, Rui Geraldo Camargo; NERY, Rosa Maria de Andrade. (org).
Temas Atuais de Direito Civil na Constituição Federal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p.18.
27
23
FACHIIN, Luiz Edson. Do direito de família. Do direito Pessoal. Das relações de parentesco. In: TEIXEIRA, Sálvio
de Figueiredo. Comentários ao Novo Código Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2008, p.22)
24
Enunciado 103, da I Jornada de Direito Civil do Conselho da Justiça Federal. Disponível em: <
https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/734>. Acesso em 27 de outubro de 2019.
28
Art. 1.584 § 5. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: Se o juiz verificar que
o filho não deve permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda à pessoa
que revele compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de preferência, o
grau de parentesco e as relações de afinidade e afetividade. 25
Por longo período de tempo, a leitura positivista era vista como única fonte da lei. Com
as transformações subjetivas da família ao longo dos anos, percebeu-se o descompasso da lei em
detrimento as mudanças sociais.
Mas, paradigmas sociais ficaram a cargo do Direito tratar de forma adequada. Assim, em
opiniões diversas entre a doutrina e a jurisprudência centravam pela busca por respostas para essa
mudanças sociais no seio familiar.
No Brasil, em 1979, João Baptista Villella foi o primeiro a se atentar a questões
relacionadas a afetividades, sustentando que o parentesco não é restrito a uma questão biológica,
visto que a paternidade em si, é um fenômeno cultural.26
25
BRASIL. Código Civil. Disponível em: < https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10623700/paragrafo-5-artigo-1584-
da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002> Acesso em 27 de outubro de 2019.
26
VILLELLA, João Baptista. A desbiologização da paternidade. Revista da Faculdade de Direito da Universidade
Federal e Minas Gerais, Belo Horizonte, UFMG, ano XXVII, n.21, p.02, maio de 1979.
29
As transformações mais recentes por que passou a família, deixando de ser unidade de
caráter econômico, social e religioso para se afirmar fundamentalmente como grupo de
afetividade e companheirismo, imprimiram considerável reforço ao esvaziamento
biológico da paternidade.27
A efetiva revelação paterno –filial requer mais que a natural descendência genética e não
se basta na explicação jurídica dessa informação biológica. Busca-se então, a verdadeira
paternidade. Assim, para além da paternidade biológica e da paternidade jurídica, à
completa integração pai-mãe-filho agrega-se um elemento a mais. Esse outro elemento se
revela na afirmação de que a paternidade se constrói; não é apenas um dado: ela se faz. O
pai já não pode ser apenas aquele que emprestou sua colaboração na geração genética da
criança; também não pode ser aquele a quem o ordenamento jurídico presuntivamente
atribui a paternidade. Ao dizer que a paternidade se constrói, toma lugar de vulto, na
relação paterno-filial, uma verdade socioafetiva, que, no plano jurídico, recupera a noção
da posse de estado de filho.29
Assim, no decorrer de suas obras, Luiz Edson Fachin passou a usar cada vez mais a
afetividade para discorrer sobre temas ligados ao Direito de Família.
Outro doutrinador que assume relevada importância na colaboração dos estudos sobre a
afetividade é Paulo Luiz Netto Lôbo, defendendo-a como fundamento constitucional e como ato
influenciador do Direito de Familia.
Assim, a afetividade foi ganhando força em todo ordenamento, conforme Paulo Luiz Netto
Lôbo traz o seguinte:
27
VILLELLA, João Baptista. A desbiologização da paternidade. Revista da Faculdade de Direito da Universidade
Federal e Minas Gerais, Belo Horizonte, UFMG, ano XXVII, n.21, p.413, maio de 1979.
28
VILLELLA, João Baptista. Op cit, p.71-72.
29
FACHIN, Luiz Edson. Estabelecimento da filiação e paternidade presumida. Porto Alegre: Fabris, 1992.p.160
30
Em sua formação mais comum- união de casal para uma comunhão de vida -, a família é
uma instituição guiada pela ordem natural das coisas, pela natureza, e temo seu curso
ditado pelo afeto, instinto e razão. A necessidade de desenvolver a afetividade e o sexo
aproxima os casais, proporcionando continuidade da espécie, mas é a razão, associada à
experiência, que os orienta no planejamento da vida e comum, na criação e educação dos
filhos.32
Pode-se concluir que as duas correntes doutrinárias apresentadas possuem grande expressão
no Direito de família. Ambas levam em consideração a afetividade, porém, a segunda corrente,
aqui exemplificada por Fábio Ulhoa Coelho e Paulo Nader, não consideram a afetividade como
princípio do Direito de família.
30
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: famílias. São Paulo: Saraiva, 1998.p.51-52.
31
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: famílias, sucessões.4 ed.rev e atual. São Paulo: Saraiva, 2011.p.20.
32
NADER, Paulo. Curso de direito civil: direito de família. 5ed, ver e atual. Rio de janeiro: Forense, 2011, p.6
31
4 FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA
33
TJMG - Apelação Cível 1.0342.14.010367-8/001, Relator(a): Des.(a) Marcos Lincoln, 11ª CÂMARA CÍVEL,
julgamento em 10/07/0018, Disponível em:
<https://www5.tjmg.jus.br/jurisprudencia/ementaSemFormatacao.jsp?numero=undefined> Acesso em 31 de outubro
de 2019.
32
de Direito de Família –IBDFAM, que a posse de estado de filho pode constituir paternidade e
maternidade.34
Assim, fica evidente que a parentalidade é uma relação desenvolvida através de laços de
afeto, que envolvem a maternidade e a paternidade socioafetiva.
Não se pode arquitetar diferença jurídica entre o filho biológico e afetivo, porquanto, em
ambos os casos, são reconhecidos como filhos, os quais, são iguais em direitos e
obrigações” (Art.227 Constituição federal e artigo 1.596, do Código Civil). 36
O Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Dr. José Carlos Teixeira
Giorgis – no julgamento da Apelação Civil 70008795775, explanou o seguinte:
34
IBDFAM. Enunciados do IBDFAM. Disponível em < http://www.ibdfam.org.br/conheca-o-ibdfam/enunciados-
ibdfam> Acesso em 31 de outubro de 2019.
35
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Parentalidade Socioafetiva: ato que se torna relação jurídica, p.16.
36
WELTER, Belmiro Pedro. Teoria tridimensional do direito de família. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009,
p.94
37
TJ/RS. Apelação Civel 70048610422/RS. Desembargador Jorge Luís Dall Agnol em 13 de julho de 2012. Trecho
Retirado do Acórdão. Disponível em <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/21946449/apelacao-civel-ac-
70048610422-rs-tjrs/inteiro-teor-21946450?ref=juris-tabs> Acesso em 25 de outubro de 2019.
33
Assim, são 03 (três) os elementos que caracterizam a posse de estado de filho, a saber:
Tractus – quando a pessoa é tratada pela família como se filho fosse – Nomem – o uso de sobrenome
da família – Fama/ Reputatio – a reputação; notoriedade de ser reconhecido no meio social como
filho.
Com relação ao trato, deve- se observar a relação Pai e filha, em que apesar de inexistir
liame de ordem sanguínea entre as partes, há afeto como elemento aglomerador.
Nesse sentido, o que importa é a aparência, ou seja, a publicidade resultante da situação
de fato, pois revela a posse de todos os elementos indicadores da paternidade socioafetiva.
O Código Civil não trata expressamente sobre a posse de estado de filho, porém traz em
seu artigo 1.605 o seguinte:
Artigo 1605. Na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá provar-se a filiação por
qualquer modo admissível em direito: I - quando houver começo de prova por escrito,
proveniente dos pais, conjunta ou separadamente; II - quando existirem veementes
presunções resultantes de fatos já certos.38
Ainda, o Código Civil ao definir parentesco na redação do artigo 1.593, faz remissão ao
vínculo natural, civil, consanguíneo e de outra origem, envolvendo claramente a possibilidade de
parentesco afetivo.
Tal relação foi reafirmada nos seguintes Enunciados das Jornadas de Direito Civil que
estatuem o seguinte:
Enunciado n°256, da III Jornada de Direito Civil: A posse de estado de filho (parentalidade
socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil.
Enunciado n° 339, da IV Jornada de Direito Civil: A paternidade socioafetiva, calcada na
vontade livre, não poder ser rompida em detrimento do melhor interesse do filho. 39
Depreende-se, portanto, que a lei privilegia situações de fatos já certos que a posse do
estado de filho é plenamente configurada pelos requisitos apresentados.
38
BRASIL. Código Civil. Disponível em:
< https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10622542/artigo-1605-da-lei-n-10406-de-10-de-janeiro-de-2002>
Acesso em 23 de outubro de 2019.
39
TARTUCE, Flávio. Enunciados CJF. Disponível em: < http://www.flaviotartuce.adv.br/enunciados> Acesso em
25 de outubro de 2019.
34
Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será
feito:
I - no registro do nascimento;
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não
haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
40
CASSETTARI, Christiano. Multiparentalidade e parentalidade socioafetiva: efeitos jurídicos.3 ed. ver,atual e
amp –São Paulo: Atlas,2017,p.101.
35
Ou seja, fica claro que a presença do vínculo socioafetivo basta para consubstanciar uma
relação de parentesco entre as pessoas no núcleo familiar. O reconhecimento não pode ser revogado
até mesmo quando é reconhecido por testamento, conforme traz o artigo supra mencionado. Além
disso, se o filho a ser reconhecido for maior de idade, este deverá consentir em ser reconhecido
pelo padrasto ou madrasta.
36
5 MULTIPARENTALIDADE
Por longo período de tempo, a verdade biológica prevalecia sobre qualquer outro tipo de
vínculo, pois entendia-se que a filiação era fruto do contato sexual entre homem e mulher. A
presunção de paternidade decorriam da crença, da fidelidade e da estabilidade familiar.
Além disso, os filhos havidos entre pais solteiros, eram denominados de filhos naturais,
os filhos havidos fora do casamento, sendo somente um dos genitores casado, eram considerados
filhos ilegítimos e eram lhes tirados o direito de serem reconhecidos e receberem verba alimentar.
Somente os filhos havidos dentro do laço matrimonial eram considerados legítimos.41
Ocorre que, em decorrência das transformações sociais e com o advento da Constituição
de 1988, a doutrina e jurisprudência vêm entendendo pela desbiologização em vista do melhor
interessa da criança e do adolescente, amparado pela Carta Magna e pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente de 1990, bem como entende-se que o reconhecimento de filiação a qualquer filho,
pode se dar independente do estado civil do genitor.
Assim, o afeto passou a ser elemento identificador das relações familiares, do qual as
entidades familiares se constroem, independentemente da existência de grau de parentesco entre
seus membros.
Diante da possibilidade de multiplicidade de vínculos parentais, nasceu a
multiparentalidade, ou seja, a possibilidade de possuir vínculos de filiação com dois ou mais pais
e/ou duas ou mais mães, sem excluir uns aos outros e respeitando a igualdade de filhos biológicos
e filhos oriundos do afeto.42
Maria Berenice Dias explica a multiparentalidade:
[...] não mais se pode dizer que alguém só pode ter um pai e uma mãe. É possível que
pessoas tenham vários pais. Identificada a pluriparentalidade ou multiparentalidade, é
necessário reconhecer a existência de múltiplos vínculos de filiação. Todos os pais devem
assumir os encargos decorrentes do poder familiar, sendo que o filho desfruta de direitos
41
DIAS, Maria Berenice. Filhos do Afeto. 2º ed. ver e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p.211.
42
Calderón, Ricardo. Princípio da afetividade no direito de família – 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p.213.
37
com relação a todos. Não só no âmbito do direito das famílias, mas também em sede
sucessória.43
[...] o parentesco constituído por múltiplos pais, isto é, quando o filho estabelece uma
relação de paternidade/maternidade com mais de um pai e/ou com uma mãe. Os casos
mais comuns são os padrastos e madrastas que também se tornam pais/mães pelo exercício
das funções paternas e maternas ou em substituição a eles. A multiparentalidade é comum,
também, nas reproduções medicamente assistidas, que contam com a participação de duas
ou mais pessoas no processo reprodutivo, como por exemplo, quando o material genético
de um homem e uma mulher é gestado no útero de outra mulher. A multiparentalidade, ou
seja, a dupla paternidade/maternidade, tornou-se uma realidade dinâmica jurídica
impulsionada pela dinâmica da vida e pela compressão de que a paternidade e a
maternidade são funções exercidas.44
43
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 9. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p.385.
44
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Dicionário de direito de família e sucessões: ilustrado. São Paulo: Saraiva, 2015.
p.470-471..
38
Por isso, o entendimento passa a ser adotado em todo país, aplicando-se no que lhe couber,
a casos semelhantes, trazendo a legalidade à questões relacionadas a multiparentalidades.
45
STF. Recurso Extraordinário n.º 898060/SC, Tribunal Pleno, Ministro Relator: Luiz Fux, Julgado em: 21/09/2016.
Disponível em: < http://portal.stf.jus.br/processos/detalhe.asp?incidente=4803092> Acesso em 30 de outubro de 2019.
46
CASSETTARI, Christiano. Multiparentalidade e Parentalidade Socioafetiva – Efeitos Jurídicos. 3. ed. Atlas: São
Paulo, 2017, p.260.
40
Por outro lado, haviam entes estaduais sem qualquer previsão sobre o assunto. Em vista
dessa situação de não existir uniformidade nacional sobre o tema, bem como não haver a
possibilidade extrajudicial em alguns entes, o Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM,
elaborou um pleito sob o n° 0002653-77.2015.2.00.0000, de uniformização e a possibilidade do
reconhecimento de filiação socioafetiva em todo território nacional, destinado a Corregedoria
Nacional de Justiça – CNJ.47
A decisão do CNJ foi baseada no princípio constitucional de igualdade de filiação, na
medida em que já encontra legalidade no reconhecimento paterno filial biológico extrajudicial, o
mesmo também se pode reconhecer no vínculo socioafetivo.
Assim, surgiu o provimento 63/2017 do CNJ, permitindo o reconhecimento extrajudicial,
perante os Cartórios de Registro Civil em todo território, dispondo sobre o reconhecimento
voluntário e a averbação da paternidade e maternidade socioafetiva.
Estatui o artigo 10 (dez), do referido provimento:
47
CNJ, Pedido de Providências n°0002653-77.2015.2.00.0000.Requerente: Instituto Brasileiro de Direito de Família.
Disponível em:< http://ibdfam.org.br/assets/img/upload/files/Decisao%20socioafetividade.pdf>. Acesso em 23 de
outubro de 2019.
41
Além disso, pelo provimento supra citado, a formalização extrajudicial para o registro de
socioafetividade pode ser feita sem restrição etária do reconhecido, bastando a manifestação de
interesse das partes no ato.
Muito se foi criticado o provimento pelos membros do poder judiciário, em vista de se
tratar de interesses de incapazes, defendiam a necessidade de intervenção do Ministério Público
nos processos de reconhecimento, ainda que extrajudiciais, caso contrário abrir-se-ia margem para
processo de “adoção à brasileira”.
Adoção à brasileira é crime, tipificado no artigo 242, do Código Penal, conforme abaixo
transcrito:
Art. 242 - Dar parto alheio como próprio; registrar como seu o filho de outrem; ocultar
recém-nascido ou substituí-lo, suprimindo ou alterando direito inerente ao estado civil:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado por motivo de reconhecida nobreza:
Pena - detenção, de um a dois anos, podendo o juiz deixar de aplicar a pena. 48
A adoção à brasileira consiste no registro de um filho que não possui vínculo biológico
com o adotante. Muitas famílias recorrem a esse tipo de adoção em casos como por exemplo, ao
qual entrega-se uma criança pelos pais biológicos a terceiros, para cria-la. A origem desse tipo de
adoção encontra-se no afeto e pode acontecer de diversas maneiras. As principais normas sobre o
assunto, encontram-se na Lei da Adoção, Estatuto da criança e do Adolescente e no Código Civil.
49
48
BRASIL. Código Penal. Disponível em: <https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10607822/artigo-242-do-decreto-
lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 > Acesso em 30 de outubro de 2019.
49
Direito de Família na Mídia. STJ. Julgados sobre adoção à brasileira buscam preservar melhor interesse da cr
iança. Disponível em: < http://www.ibdfam.org.br/noticias/namidia/15996/Julgados+sobre+ado%C3%A7%C3%A3
o+%C3%A0+brasileira+buscam+preservar+o+melhor+interesse+da+crian%C3%A7a> acesso em 30 de outubro de
2019.
42
50
CNJ: Provimento 83/2019. Disponível em < https://www.anoreg.org.br/site/2019/08/15/cnj-publica-provimento-
no-83-que-altera-requisitos-na-paternidade-socioafetiva/> Acesso em 30 de outubro de 2019.
51
CALDERÓN, Ricardo. Primeiras impressões sobre o Provimento 83, do CNJ. Disponível em <
http://www.ibdfam.org.br/noticias/7034/Provimento+do+CNJ+altera+registro+de+filia%C3%A7%C3%A3o+socioaf
etiva+em+cart%C3%B3rios+para+pessoas+acima+de+12+anos > Acesso em 30 de outubro de 2019.
52
CNJ: Provimento 83/2019. Disponível em < https://www.anoreg.org.br/site/2019/08/15/cnj-publica-provimento-
no-83-que-altera-requisitos-na-paternidade-socioafetiva/> Acesso em 30 de outubro de 2019.
43
Resta claro o entendimento que pela via extrajudicial somente poderá ser acrescentado em
assento de nascimento o reconhecimento de um ascendente. A pretensão é a desjudicialização de
53
CALDERON, Ricardo. Princípio da afetividade no direito de família. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 173-
174.
54
ANOREG. CNJ publica provimento Provimento 83/2019 que altera requisitos na paternidade socioafetiva.
Disponível em < https://www.anoreg.org.br/site/2019/08/15/cnj-publica-provimento-no-83-que-altera-requisitos-na-
paternidade-socioafetiva/> Acesso em 30 de outubro de 2019.
44
casos mais simples, evitando também a existência de casos de adoção à brasileira. Dessa forma, a
aparição de novo ascendente, além do já reconhecido, demandará um processo pela via
jurisdicional.
Portanto, o reconhecimento de filiação socioafetiva, atrelada a
multiparentalidade/pluriparentalidade, é permitida em todo território nacional, uniformizada pelo
provimento 63/2017 que passou por importante e simbólicas alterações pelo provimento 83/2019.
Em 2011 (dois mil e onze), o Tribunal de Justiça de São Paulo reconheceu a maternidade
socioafetiva de madrasta e enteado, preservando no assento de nascimento, o nome da mãe
biológica do menor:
Por fim, é preciso registrar que A. é um felizardo. Num País em que há milhares de
crianças e adolescentes sem pai (a tal ponto que o Conselho Nacional de Justiça, Poder
Judiciário, Ministério Público realizam campanhas para promover o registro de
paternidade), ter dois pais é um privilégio. Dois pais presentes, amorosos, dedicados, de
modo que o Direito não poderia deixar de retratar esta realidade. Trata-se de uma
55
TJ-SP – Apelação: 64222620118260286 SP 0006422-26.2011.8.26.0286, Relator: Alcides Leopoldo e Silva Júnior,
Data de Julgamento: 14/08/2012, 1ª Câmara de Direito Privado. Disponível em: < https://tj-
sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/22130032/apelacao-apl-64222620118260286-sp-0006422-2620118260286-tjsp>
Acesso em 29 de outubro de 2019.
45
56
ESTADO DO PARANÁ. Autos: 0038958-54.2012.8.16.0021. Vara da infância e Juventude de Cascavel/PR, em 20
de fevereiro de 2013. Disponível em:< https://leandrolomeu.wordpress.com/2013/03/19/multiparentalidade-uma-
nova-decisao-sobre-a-materia-tjpr/ > Acesso em 30 de outubro de 2019.
57
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Apelação Cível Nº 70062692876/RS, Oitava Câmara Cível, Relator: José Pedro de
Oliveira Eckert, Julgado em 12/02/2015. Disponível em: <https://tj-
rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/211663570/apelacao-civel-ac-70064909864-rs/inteiro-teor-211663580?ref=juris-
tabs> Acesso em 30 de outubro de 2019.
46
nos cuidados do menor, alegando que a pretensão de multiparentalidade era da genitora com intuito
de atingir suas próprias pretensões:
58
STJ. Recurso Especial n.º 1674849/RS, Terceira Turma, Ministro: Marco Aurélio Bellizze. Julgado em:
17/04/2018, Disponível em: < https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/574626052/recurso-especial-resp-1674849-
rs-2016-0221386-0 > Acesso em 29 de outubro de 2019.
47
Observa-se por fim que o reconhecimento dos vínculos biológicos paternos e maternos
trouxeram a possibilidade jurídica das multiparentalidades e esse fenômeno tem ganhado cada vez
mais respaldo nos tribunais do país.
Neste capítulo serão observados alguns efeitos que a multiparentalidade traz para a vida
dos envolvidos na relação afetiva.
59
STF. Recurso Extraordinário 88.060/SP. Relator Ministro Luiz Fux Data de Julgamento: setembro de 2016.
Disponível em: < https://www.stf.jus.br>arquivo>cmsnoticiaStf>anexo.com.br> Acesso em 30 de outubro de 2019.
48
60
MADALENO, Rafael. Guarda Compartilhada: física e jurídica. 4ed. ver, atual e ampl. São Paulo: Thomson
Reuters. Brasil, 2019, p.104
61
BARONI Arerhusa, CABRAL Flávia Kirilos Beckert, CARVALHO Laura Roncaglio. Multiparentalidade:
entenda esse novo conteito. Disponível em < https://direitofamiliar.com.br/multiparentalidade-entenda-esse-novo-
conceito> Acesso em 30 de outubro de 2019.
62
IBDFAM. Decisão do TJ/SP concede guarda a pai socioafetivo. Disponível em
<https://ibdfam.jusbrasil.com.br/noticias/403598889/decisao-do-tj-sp-concede-guarda-a-pai-socioafetivo> Acesso em
30 de outubro de 2019.
49
5.4.3 Alimentos
A solidariedade familiar tem como fundamento o laço de parentesco entre as partes, sendo
portanto uma obrigação natural e de natureza legal, por decorrer de uma determinação imperativa
de lei. Nesse sentido, a prestação de alimentos decorrente do vínculo de parentesco é oponível, em
primeiro lugar, aos parentes de primeiro grau, em linha reta, obedecida a reciprocidade; em seguida,
aos demais ascendentes, guardada a ordem de sucessão.
Assim, declarada a relação de parentesco, bem como a necessidade do alimentado, à a do
genitor possibilidade de fornecer-lhe alimento, nos termos do artigo 1.696, do Código Civil, devido
o dever recíproco de socorro, guardada a ordem de prioridade estabelecida nos artigos 1.696 e
1.697, do mesmo Código.
Vale ressaltar que a Constituição Federal, em seu artigo 227, §6º estabelece a igualdade
entre os filhos havidos o não na constância da relação matrimonial. Por esse motivo o dever de
prestar alimentos em casos de multiparentalidades. Ocorre que o magistrado observara o binômio
necessidade do alimentado e as possibilidades financeiras dos genitores.
O Portal Migalhas explana o assunto:
Ao aferir o quantum que se mostre suficiente para o atender as necessidades dos menores,
de forma compatível com a condição social experimentada pelos seus genitores, os juízes
têm que ter sempre em mente que a condição social, cultural e financeira de ambos os pais
tem que ser sopesada, não podendo prevalecer tão somente a do ascendente que se revele,
no caso concreto, o mais abastado, sob pena de afronta direta ao dispositivo constitucional
que veda o preconceito por origem, raça e qualquer outra forma de discriminação,
incluídas aí a condição social, cultural e financeira7. A mensagem que o Poder Judiciário
tem que passar ao alimentando, através da verba alimentar fixada, é que o que tem valor
não tem, necessariamente, um preço! Que devem ser valorizadas e respeitadas as origens,
os costumes, as crenças e culturas8 de todos os ascendentes. Passar a noção que a grandeza
das pessoas não se mede pelo patrimônio, bens e riquezas, mas sim pelo caráter,
honestidade, dignidade, trabalho, convivência, afeto, presença e convivência familiar,
etc.63
Aplica-se também, no que couber, a Lei 10.741/2013, nos casos em que eventualmente o
filho deverá prestar alimentos aos pais idosos, pela proteção jurídica dessa classe, além disso,
63
MIGALHAS. Direito de Família na mídia: Pensão alimentícia destinada aos filhos – descortinando a figura do
administrador da verba alimentar – obrigações e sanções. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/noticias/na-
midia/13382/Pens%C3%A3o+aliment%C3%ADcia+destinada+aos+filhos+%E2%80%93+descortinando+a+figura+
do+administrador+da+verba+alimentar+%E2%80%93+obriga%C3%A7%C3%B5es+e+san%C3%A7%C3%B5es >.
Acesso em 30 de outubro de 2019.
50
conforme dispõe o artigo 229, da Carta Magna, o dever dos filhos maiores o amparo a seus pais,
na velhice, sendo aplicável o dever do filho em prestar alimentos a todos os pais advindos da
multiparentalidade.
Portanto, o arbitramento de pensão alimentícia possui caráter alimentar, não tendo
como objetivo enriquecer o alimentado, é destinado apenas sua manutenção e cabe aos genitores o
dever de presta-los aos filhos, ou o filho prestá-los aos pais, na velhice.
64
STJ. Recurso Especial 1612830 2016/0204124-4/RS. Relator: Ministro Ricardo Villas Boas Cueva. Data de
Julgamento: 28/03/2017. Terceira Turma. Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/465738570/recurso-especial-resp-1618230-rs-2016-0204124-4/inteiro-
teor-465738580 > Acesso em 30 de outubro de 2019
51
O Julgado acima exposto deixa claro que o relacionamento com o pai registral não obsta
o exercício do direito de uma pessoa na busca por sua verdade genética, bem como lhe é assegurado
o direitos hereditários de ambos os pais.
Zeno Veloso confirma a possibilidade de direito sucessório em relação aos vínculos
biológicos e socioafetivos:
[...] Filho socioafetivo é tão filho quanto o filho biológico, e tem todos os direitos – e
deveres! – de um outro filho, qualquer que seja a natureza da filiação. Por exemplo: um
filho socioafetivo tem pleno direito à herança de seu pai. Mesmo que já tenha recebido,
antes, ou tenha expectativa de receber, futuramente, herança, de um outro parente,
inclusive, de seu pai biológico. É fácil explicar: se o sujeito tem dois pais, com a
paternidade juridicamente estabelecida, terá direito a duas heranças, às heranças de cada
um de seus pais. Aliás, vou mais longe: observada a evolução desta matéria, a pessoa até
poderá ter três (03) pais: um biológico, um registral e um terceiro socioafetivo. O filho,
com certeza, tem aspiração sucessória e será herdeiro de cada um deles, dos três pais que
tem.65
Em relação aos casos de divisão de herança entre ascendentes em caso da morte do filho,
a interpretação legal é de que a herança seja dividida entre a família paterna e a materna em partes
iguais, com base no artigo 1.836, do Código Civil, que dispõe sobre sucessão.
Nesse sentido, é possível concluir que o recebimento de herança em casos de
multiparentalidades possui amparo pela Carta Magna brasileira, possibilitando a um filho, receber
todos os seus direitos provindos da hereditariedade, de todos os pais os quais tiver.
É certo que as questões ligadas à multiparentalidade causam reflexos não somente na área
de Direito de Família, como também, no Direito Previdenciário. A Lei 8.213 de 1991, em seu artigo
16, dispõe sobre os dependentes do falecido, conforme abaixo exposto:
65
VELOSO, Zeno. Requisitos da união estável. O Liberal, Belém do Pará, 06 de maio de 2017.
52
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão da socioafetividade nas famílias está cada vez ganhando mais força
perante a sociedade, as jurisprudências e a doutrina brasileira. Por longo período de tempo, a
concepção se família se limitava à um conceito tradicional onde os membros eram vinculados
exclusivamente pela consanguinidade, em um modelo familiar patriarcal.
O grande marco histórico na concepção de família se deu com o advento da Constituição
Federal de 1988, que consolidou proteção igualitária a todos os membros da família, independente
da forma a qual fosse constituída, trazendo então implicitamente a realidade afetiva como princípio
constitucional.
Ademais, com o progressivo reconhecimento da afetividade, a filiação socioafetiva passou
a se desenvolver pelos laços de afeto desenvolvidos entre pessoas sem vínculos biológicos, mas
que por meio do vínculos, geravam entre elas, uma relação parental, materna ou paterna,
caracterizada pela presunção da posse de estado de filho. O Brasil conta com o Enunciado n° 622,
do Supremo Tribunal Federal que dispõe sobre a socioafetividade.
Não obstante, diante das transformações trazidas pela Carta Magna, passou-se a integrar
ainda mais os princípios ao Direito de Família. Tal qual, destacam-se princípio da dignidade da
pessoa humana, que significa a possibilidade de igualdade a todas as formas de entidades
familiares, garantindo a integridade de cada membro no seu pleno desenvolvimento pessoal e
social; o princípio da solidariedade familiar, esperando-se uma cooperação mútua de todos os
membros da família; o princípio do pluralismo familiar, baseado na pluralidade de famílias; o
princípio da afetividade, ligado a laços fraternos entre as pessoas; o princípio do melhor interesse,
cujo objetivo é a interpretação do direito, respeitando o melhor interesse da criança e por fim,
princípio da igualdade de filiação, objetivando igualdade de tratamento entre todos filhos do
genitor, independente de como se deu sua concepção.
Assim, o reconhecimento desse vínculos se davam exclusivamente pela esfera judicial,
por intermédio de uma ação declaratória. Hoje, em decorrência da ampla aceitação do afeto como
elemento indicador das relações familiares, em vista do melhor interesse da criança e do
adolescente, amparado pela Carta Magna e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990,
surgiu a possibilidade da multiplicidade de vínculos parentais, podendo ser incluído nos assentos
de nascimentos dois ou mais pais e/ou duas ou mais mães, sem excluir o nome dos pais biológicos,
54
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIANCA, C. Massimo. Diritto civile – v.2, la famiglia, le successioni. 4ed. Milano: Giuffré,
2005, p.4.
BRITO, Rodrigo Toscano de. Situando o Direito de Família entre os princípios da dignidad
e humana e da razoável duração do processo. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha.
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.
392
______. Princípio da afetividade no direito de família. 2.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p
. 173-174.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: famílias, sucessões.4 ed.rev e atual. São Paulo
: Saraiva, 2011.p.20.
COSTA Martins Surany Ana. Filiação socioafetiva: Uma nova dimensão afetiva das relações
parentais. Disponível em: <http://www.ibdfam.org.br/artigos/381/Filia%C3%A7%C3%A3o+s
ocioafetiva%3A+Um+nova+dimens%C3%A3o+afetiva+das+rela%C3%A7%C3%B5es+parent
ais# > Acesso em 29 de outubro de 2019.
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