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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS – FESO


CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS – UNIFESO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCHS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ANDRESSA BENTO EMERICK

RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO DOS PAIS

TERESÓPOLIS
2015
1

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS – FESO


CENTRO UNIVERSITÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS – UNIFESO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCHS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ANDRESSA BENTO EMERICK

RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO DOS PAIS

Monografia apresentada ao Curso de


Graduação em Direito como requisito
parcial para obtenção de título de
Bacharel em Direito, sob a orientação do
Prof. Roberto Carlos.

TERESOPOLIS
2015
2

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL SERRA DOS ÓRGÃOS – FESO


CENTRO UNIVERSOTÁRIO SERRA DOS ÓRGÃOS – UNIFESO
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – CCHS
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

ANDRESSA BENTO EMERICK

RESPONSABILIDADE CIVIL POR ABANDONO AFETIVO DOS PAIS

Monografia apresentada ao curso de


graduação em Direito do Centro
Universitário Serra dos Órgãos como
requisito parcial para obtenção de título
de Bacharel em Direito e submetida a
avaliação da banca composta pelos
seguintes membros:

_______________________________
Prof. Dr. Roberto Carlos
Orientador

_______________________________
Prof. Dr.
Membro-examinador

_______________________________
Prof. Dr.
Membro-examinador

Teresópolis, ______ de ________________ de 2015.


3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por me permitir concluir esta etapa em minha vida,
uma etapa onde muitas portas se abrirão. Agradeço ao meu orientador pela
compreensão e carinho na elaboração desta monografia. Agradeço aos meus pais
Anderson e Patricia, pela dedicação que tiveram por mim durantes esses anos de
faculdade. Agradeço aos meus avós Sandra e Sergio que também fazem parte
dessa vitória. Foram seis anos de dedicação a esse curso e é com alegria que findo
mais essa etapa. Que Deus continue me abençoando e me iluminando nesta
caminhada.
4

RESUMO

O presente trabalho se propõe a ponderar o que se entende por abandono afetivo e


a forma como se admite na doutrina e na jurisprudência quanto à medida que deve
ser aplicada aos pais em caso de não cumprimento dos deveres jurídicos
decorrentes do poder familiar. Pode-se dizer que o abandono afetivo prejudica o
desenvolvimento da criança, gerando danos que são suscetíveis de reparação. As
relações familiares são muito mais do que laços naturais ou civis, mas socioafetivos,
pautados no afeto entre os pais e filhos. O ordenamento jurídico brasileiro
regulamenta os deveres dos pais para com os filhos, dentre eles o dever de cuidar,
educar e assistir. A Constituição Federal prevê diversos princípios que regem esses
deveres, quais sejam, o princípio da dignidade da pessoa humana, o princípio da
paternidade responsável, o princípio da afetividade, o princípio da igualdade dos
filhos. Dentro desse contexto, atualmente discute-se sobre o abandono afetivo e sua
repercussão no âmbito jurídico. O abandono afetivo é questão de grande relevância,
sendo que pode gerar danos psicológicos aos filhos abandonados, abrindo espaço à
indenização por danos morais, com fulcro na responsabilidade civil subjetiva.
Contudo, assevera-se que é necessária uma análise criteriosa acerca dos requisitos
caracterizadores do dano moral, a fim de evitar a banalização do instituto, mas sem
consagrar a impunidade dos pais que, de forma irresponsável e injustificada,
prejudicam o desenvolvimento saudável da criança.

Palavras chaves: Família; Responsabilidade civil; Abandono Afetivo; Dano Moral


5

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................6
2 FAMILIA............................................................................................................8
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA...............................................................................8
2.1.1 A família do direito romano......................................................................8
2.1.2 A família no Direito Canônico..................................................................9
2.1.3 Família na Pós-modernidade....................................................................10
2.2 FILIAÇÃO........................................................................................................11
2.3 FAMÍLIA MONOPARENTAL..........................................................................15
2.4 UNIÃO ESTÁVEL...........................................................................................17
2.5 PODER FAMILIAR.........................................................................................20
2.5.1 Do exercício do poder familiar.................................................................23
2.5.2 Da perda do poder familiar.......................................................................24
3 DA AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES FAMILIARES........................................26
3.1 A AFETIVIDADE SOB A LUZ DA DOUTRINA E DA JURISPRUDENCIA....27
3.1.1 Princípio da Afetividade............................................................................30
3.1.2 Principio da Paternidade Responsável...................................................31
3.1.3 Dano Moral decorrente da vulneração do princípio da afetividade.....32
3.2 ABANDONO AFETIVO DO FILHO.................................................................34
4 RESPONSABILIDADE CIVIL E A INDENIZAÇÃO..........................................37
4.1 RESPONSABILIDADE CIVIL.........................................................................37
4.1.1 Pressupostos formais da responsabilidade civil...................................39
4.1.1.1 Culpa.........................................................................................................39
4.1.1.2 Dano.........................................................................................................42
4.1.1.3 Nexo de causalidade................................................................................43
4.2 ANÁLISE DOS ELEMENTOS QUE COMPÕEM A RESPONSABILIDADE CIVIL
E SUA ADEQUAÇÃO NOS CASOS DE ABANDONO AFETIVO........................45
4.3 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS.................................................47
4.4 DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS AO DEVER DE INDENIZAR.............48
4.5 O VALOR DA INDENIZAÇÃO........................................................................51
5 POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS............................................................53
CONCLUSÃO.......................................................................................................64
REFERÊNCIAS....................................................................................................67
6

1 INTRODUÇÃO

Esta monografia tem por objetivo abordar sobre a responsabilidade civil dos
pais por abandono afetivo dos filhos, fundamentando a existência do dano moral no
princípio da dignidade da pessoa humana e no principio da afetividade.
Inicialmente será abordado sobre a família e o poder familiar; profundas
transformações da família contemporânea e a valorização da relação existente entre
seus integrantes; a família atual e sua busca na identificação da solidariedade como
um dos fundamentos da afetividade.
Neste caminho, o presente trabalho fará uma breve explanação a respeito da
filiação, é relevante observar que, em virtude da evolução do ordenamento jurídico,
não há mais o que se falar em filhos legítimos e ilegítimos.
Além disso, contemplaremos os modelos de família tutelados pela Carta
Magna, tais como: a família monoparental, formada por um dos genitores e seu filho;
e a união estável, que é a relação entre cônjuges livres e um tanto quanto duradoura
com intuito de constituir uma família. Outrossim, falaremos sobre o exercício do
poder familiar e a perda do mesmo.
No capitulo a seguir, sobre a afetividade nas relações familiares, deixaremos
claro que, o afeto é um fato social e psicológico, porém o que será de grande
relevância ao direito são as relações sociais de natureza afetiva que causam
condutas capazes de merecer a incidência de normas jurídicas. As relações
familiares e de parentesco são socioafetivas, pois unifica o fato social e a incidência
do principio normativo, a afetividade.
Acerca do abandono afetivo, é discutida sobre a possibilidade de reparação
do dano moral causado a criança em prol da atitude omissiva do pai ou da mãe no
cumprimento das responsabilidades decorrentes do poder familiar. Insta salientar
que a não convivência com seus genitores, causa a criança transtornos, abalando
sua integridade psíquica e moral, danos que vão repercutir por toda sua vida. Assim,
busca-se apurar a caracterização do dano moral, cabendo ao magistrado analisar de
acordo com o caso em tela, já que a definição de afeto é bastante subjetiva.
O tema referente ao abandono dos pais e o dever de indenizar é novo em
nosso ordenamento, não havendo legislação especifica sobre o caso.
7

Desta forma, entende Maria Berenice Dias que: “[...] comprovado que a falta
de convívio pode gerar danos, a ponto de comprometer o desenvolvimento pleno e
saudável do filho, a omissão do pai gera dano susceptível de ser indenizado.” 1
Da mesma forma, tem-se o ensinamento de Rui Stocco 2:

“[...] o que se põe em relevo e exsurge como causa de responsabilização


por dano moral é abandono afetivo, decorrente do distanciamento físico e
da omissão sentimental, ou seja, a negação de carinho, de atenção, de
amor e de consideração, através do afastamento, do desinteresse, do
desprezo e falta de apoio e, às vezes, da completa ausência de
relacionamento entre pai (ou mãe) e filho.”

Por fim, o presente trabalho tem por objetivo a possibilidade de um estudo


mais aprofundado sobre a responsabilidade civil dos pais no abandono afetivo, uma
vez que o mesmo pode trazer a criança cicatrizes para toda vida, trazendo para eles
uma deformação da sua personalidade, não conseguindo ter seu desenvolvimento
pleno pela não convivência com seus pais. Com toda atual discussão acerca do
tema deste trabalho, faremos a análise de decisões prolatadas por nossos tribunais,
buscando o posicionamento pela caracterização do dano moral em razão do abando
afetivo dos pais.

1
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011.
2
STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade civil: doutrina e jurisprudência. 7. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007, p. 946.
8

2 FAMILIA

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A família passou por uma transformação marcante na sua constituição, sendo


assim é necessário analisar alguns períodos da História para compreender a
profundidade da mudança na estrutura familiar.

2.1.1 A família do direito romano

No direito romano, existia uma concentração de poder e quem o detinha era a


figura do Pater. A família era organizada em torno da figura masculina e sob o
principio da autoridade. O pater tinha direito total sobre os filhos e sua mulher, que
era totalmente subordinada à autoridade marital e podia ser repudiada pelo marido.
Conforme abrange Carlos Roberto Gonçalves3:

“O pater exercia sua autoridade sobre todos os seus descendentes não


emancipados, sobre sua esposa e as mulheres casadas com manus com os
seus descendentes. A família era, então, simultaneamente, uma unidade
econômica, religiosa, política, e jurisdicional. O ascendente comum vivo mais
velho era, ao mesmo tempo, chefe político, sacerdote e juiz. Comandava,
oficiava o culto dos deuses domésticos e distribuía justiça. Havia inicialmente,
um patrimônio familiar, administrado pelo pater. Somente numa fase mais
evoluída do direito romano surgiram patrimônios individuais, como os
pecúlios, administrados por pessoas que estavam sob autoridade do pater.

Fica evidente que na família romana, o afeto nunca foi uma característica que
prevalecesse, enquanto a autoridade do homem sobre a mulher e os filhos era o seu
principal fundamento. Nesse ínterim, a mulher não tinha direito a possuir bens, não
possuía capacidade jurídica, apenas era responsável pelos afazeres domésticos,
completamente dependente do marido. Com o passar dos anos a mulher foi aos
poucos conquistando seu espaço no lar e na sociedade, passou a ser responsável
pela manutenção do culto, deu-se inicio a uma nova fase, acumulando funções
ainda que sem autonomia.
No Direito Romano, poder familiar era um direito exercido tão-somente pelo
pai, chamado pater famílias, poder este que era praticado sobre todos os membros

3
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 6. Direito de Família. 10 ed. São São
Paulo: Saraiva, 2013, p. 31.
9

da família, independente da idade dos filhos, era o pai que desempenhava o poder
sobre este, e quando o pai falecesse o filho então assumia o seu lugar.
A origem da palavra pater, significa Deus, entendendo-se que o homem que
constituísse sua família poderia desempenhar todos os poderes sobre esta, como se
fosse um Deus. Era tido como um ser soberano dentro da família, a quem todos
deviam respeito e obediência.
Todavia entre os romanos, o denominado pátrio poder, não tinha nenhuma
relação com a dignidade da pessoa humana ou no melhor interesse da criança ou
adolescente, no entanto, tinha correlação de direito de propriedade, direito esse que
poderia ser abdicado a qualquer tempo, e assim, o pai cederia os seus filhos a quem
quer que fosse renegando-os.
Neste sentido, ensina Paulo Lôbo4:

“A patria potestas dos romanos era dura criação de direito despótico, e não
tinha correlação com deveres do pai para com o filho. É certo que existiam
deveres, porém estes quase só eram provindos da moral. Juridicamente,
apátria potestas constituía espécie do direito de propriedade. O pater famílias
podia renunciar a esse direito, dando a terceiros os filhos in mancipio, ou
enjeitando-os.”

O direito romano marcou de forma expressiva o direito de família. Os


conceitos de família eram alicerçados no casamento e no autoritarismo, imposto
pela figura do pater, dando origem ao termo pátrio poder, chamado hoje de poder
familiar.

2.1.2 A família no Direito Canônico

Diferentemente do direito romano, o direito canônico foi marcado pelo advento


do cristianismo. A partir dessa ocasião só eram instituídas famílias através de
celebração religiosa.
Dessa forma, houve uma grande variação da essência do casamento, pois o
cristianismo elevou o casamento à sacramento. O sacramento do casamento não
poderia ser desfeito pelas partes, pois era considerada uma união indissolúvel, onde
somente a morte poderia separar. Assim explica Carlos Roberto Gonçalves 5:

4
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
5
GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit., p. 32.
10

“Em matéria de casamento, entendiam os romanos necessária a affectio não


só no momento de sua celebração, mas enquanto perdurasse. A ausência de
convivência, o desaparecimento da afeição, era, causa necessária para a
dissolução do casamento pelo divorcio. Os canonistas, no entanto opuseram-
se à dissoluação do vinculo, pois consideravam o casamento um sacramento,
não podendo os homens dissolver a união realizada por Deus: quod Deus
conjunxit homo non separet.”

A influência da igreja nos desígnios familiares, fez com que a mesma passa-
se a se empenhar para combater tudo que pudesse desfazer ou desagradar o seio
familiar. De acordo com Caio Mário da Silva Pereira, o aborto, o adultério, e
principalmente o concubinato eram as principais ações que desestabilizavam o
casamento. Naquela época os reis mantinham por muito tempo esposas e
concubinas. A supremacia do casamento fez com que o adultério fosse abominado
pela sociedade, sendo praticado de forma discreta.
O catolicismo fortaleceu a autoridade do homem, tornando-o chefe absoluto.
A chefia da família era exclusiva do marido, a influencia da mulher era quase nula,
estava destinada a inércia e ignorância, tinha vontade, mas era impotente, tinha sua
capacidade jurídica privada. A mulher estava fadada aos afazeres domésticos e a
criação dos filhos, não podendo se ausentar em qualquer hipótese sem
consentimento do marido.
Todavia, com o passar do tempo surge um novo conceito de família, onde é
formada não somente pelo sacramento do casamento, mas pelo laço do afeto,
surgindo então a família pós-modernidade.

2.1.3 Família na Pós-modernidade

A partir do século XIX a família deixou de ser uma instituição voltada a manter
os bens e a honra e começou a voltar-se ao afeto. O molde de família atual é aquela
que se funde pelos elos do afeto, e não mais a do autoritarismo, nem a que se forma
pelo sacramento do casamento.
Dessa forma diz Luciano Silva Barreto6:

6
BARRETO, Luciano Silva. 10 Anos do Código Civil - Aplicação, Acertos, Desacertos e Novos
Rumos. Volume I. Evolução Histórica e Legislativa da Família. EMERJ, 2013. Disponível em: <
http://www.emerj.tjrj.jus.br/serieaperfeicoamentodemagistrados/paginas/series/13/volumeI/
10anosdocodigocivil_205.pdf>. Acesso em: 7 jan. 2014.
11

A partir de então, passou-se a valorizar a convivência entre seus membros e


idealizar um lugar onde é possível integrar sentimentos, esperanças e
valores, permitindo, a cada um, se sentir a caminho da realização de seu
projeto pessoal de felicidade. Esse é o sentido da família na atualidade.
Vale aquilatar que o Direito de Família é o que mais avançou nos últimos
tempos, levando-se em consideração que seu foco são as relações
interpessoais e que estas acompanham os passos da evolução social.
A família contemporânea caracteriza-se pela diversidade, justificada pela
incessante busca pelo afeto e felicidade. Dessa forma, a filiação também
tem suas bases no afeto e na convivência, abrindo-se espaço para a
possibilidade da filiação não ser somente aquela que deriva dos laços
consanguíneos, mas também do amor e da convivência, como é o caso da
filiação socioafetiva.

Sendo assim, a família moderna cedeu às transformações sociais. O modelo


de família não é mais imposto pelo vínculo biológico, mas sim pelo afeto. A família
vem em busca da realização pessoal e da felicidade dos seus componentes, seja a
família constituída por matrimonio, monoparentalidade, união estável e homoafetiva.

2.2 FILIAÇÃO

Filiação é a relação de parentesco, que une uma pessoa àquelas que a


geraram, ou a receberam como se tivessem gerado. Em sentido estrito, filiação é a
relação jurídica que liga o filho a seus pais, esse vínculo chama-se paternidade ou
maternidade. A mais relevante, a mais importante, a principal relação de parentesco
é a filiação.
Na Constituição de 1988, mais precisamente em seu artigo 227, §6°,
estabelece que há uma absoluta igualdade entre todos os filhos, não admitindo
nenhuma distinção entre filhos legítimos e ilegítimos.
Conforme ensina Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald 7:

A partir do texto maior de 5 de Outubro, todos os filhos passaram a ter as


mesmas prerrogativas, independentemente de sua origem ou da situação
jurídica dos seus pais (CF, art. 227, §6º). Trata-se, sem duvida, de norma-
princípio paradgmática, servindo para eliminar todo e qualquer tipo de
tratamento discriminatório (bastante comuns no sistema do Código Civil de
1916, que optou por conferir privilégios ao filho nascido de um casamento).
Com isso, afastaram-se também do campo filiatório os privilégios
concedidos a uma, ou outra, pessoa em razão da simples existência de
casamento. Foram afastadas, em síntese apertada, as discriminações
perpetradas contra os filhos de pessoas não casadas.

7
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Direito das Famílias.
Vol. 6. 5 ed. rev. amp. e atu. Bahia: JusPodivm, 2013, p. 632.
12

O ordenamento jurídico brasileiro veda terminantemente a discriminação da


prole em virtude da forma como se originou o laço de parentesco entre pais e filhos,
conforme bem pontua Paulo Lôbo8:

No Brasil, a filiação é de conceito único, não se admitindo adjetivações ou


discriminações. Desde a Constituição de 1988 não há mais filiação legítima,
filiação ilegítima, filiação natural, filiação adotiva ou filiação adulterina.

Esclarecendo a irrelevância da forma como se originou o liame de parentesco


entre pais e filhos, dentro ou fora do casamento, naturais ou adotivos, deparamos a
seguinte jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, decidindo, dentre outras
controvérsias, sobre direito sucessório de herdeiro necessário adotivo 9:

PROCESSUAL CIVIL. INCLUSÃO. PÓLO PASSIVO. POSTERIOR.


CITAÇÃO. POSSIBILIDADE. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM.
REEXAME DE PROVAS. SÚMULA 7-STJ. CIVIL. PARTILHA. NULIDADE.
HERDEIRO PRETERIDO. PRESCRIÇÃO VINTENÁRIA. ADOÇÃO.
CÓDIGO CIVIL. ÉPOCA ANTERIOR. ATUAL CONSTITUIÇÃO. MORTE.
DE CUJUS. SUCESSÃO. ABERTURA. ÉPOCA POSTERIOR (1989).
ADOTADO. FILHOS DO CASAMENTO. DISCRIMINAÇÃO.
IMPOSSIBILIDADE.
1 - Não viola os arts. 264 e 294, ambos do CPC a inclusão no polo passivo
da demanda de maridos e esposas dos primitivos réus, posteriormente à
citação destes, porquanto não efetivada nenhuma alteração na causa de
pedir ou no pedido, restando incólume a estabilidade da causa.
2 - Segundo iterativos precedentes das Turmas especializadas em direito
privado desta Corte a prescrição para anular partilha, onde preterido
herdeiro necessário, é a vintenária.
3 - Aferir se há ilegitimidade passiva ad causam demanda revolvimento de
aspectos fático-probatórios, vedados pela súmula 7-STJ. Precedentes do
STJ.
4 - Ocorrida a morte da autora da herança em 1989, quando já em vigor o
art. 227, § 6º, da Constituição Federal, vedando qualquer tipo de
discriminação entre os filhos havidos ou não do casamento, ou os adotivos,
a recorrida, ainda que adotada em 1980, tem direito de concorrer aos bens
deixados pela falecida, em igualdade de condições com os outros filhos,
prevalecendo, nesse caso, os arts. 1572 e 1577, ambos do Código Civil de
1916.
5 - Recurso especial não conhecido.

8
LÔBO,Paulo. Direito Civil: famílias. 2 ed. São Paulo: Saraiva 2009, p. 195.
9
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial. REsp nº 260.079/SP. Recorrente: Zeilah
de Meira Simões Nunes e outros. Recorrido: Cybele de Meira Simões Rel. Ministro FERNANDO
GONÇALVES, QUARTA TURMA, julgado em 17/05/2005, DJ 20/06/2005, p. 288. Disponível em: <
https://ww2.stj.jus.br/processo/pesquisa/?src=1.1.3&aplicação =processos.
ea&tipoPesquisa=tipoPesquisaGenerica&num_registro=200000501450> Acesso em: 5 jan. 2015.
13

Ainda nesta seara, aplicando o princípio constitucional da igualdade dos


filhos, temos a norma trazida pelo Código Civil/2002, em seu artigo 1.596, que “Os
filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos
direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à
filiação”.10
Ressalta Caio Mário da Silva Pereira que o legislador de 2002, no que diz
respeito à filiação, reporta-se sempre ao casamento, omitindo as situações
provenientes das relações de fato reconhecidas como união estável, hoje entidade
familiar protegida pelo estado, aconselhando que se revejam, “de imediato, os
princípios que regem as presunções considerando também estas relações de fato
geradoras de direitos e deveres”.11
Fica estabelecido para os filhos que procedem de justas núpcias, uma
presunção de paternidade e a forma de sua impugnação; já para os havidos fora do
casamento utilizam-se de critérios para o reconhecimento, judicial ou voluntário; e
para os adotados, alguns requisitos são necessários para sua efetivação.
Em decorrência da normalidade, presume o legislador que o filho da mulher
casada foi fecundado por seu marido. Esta presunção acontece a fim de preservar a
segurança e a paz do seio familiar, evitando que haja um receio ou desconfiança,
desnecessária, da fidelidade da mulher casada. Assim, leciona Carlos Roberto
Gonçalves12:

Já diziam os romanos: mater semper certa est. Em regra, o simples fato do


nascimento estabelece o vínculo jurídico entre mãe e filho. Se a mãe for
casada, esta circunstancia estabelece, automaticamente, a paternidade: o
pai da criança é o marido da mãe, incluindo a aludida presunção pater is est
quem justae demonstrant.

O código civil, em seu artigo 1.597 13, elenca as hipóteses em que se presume
terem os filhos sido concebidos na constância do casamento. Presumindo-se assim,
a paternidade do marido no caso de filho gerado por mulher casada. Vale
transcrever o aludido artigo:
10
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Artigo 1.596. Código Civil. Disponível em : <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
11
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil. Vol. V. Direito de Família. 16 ed. rev,
e atu. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
12
GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit., p. 321.
13
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.597. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
14

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:


I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a
convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade
conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o
marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários,
decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia
autorização do marido.

No que concerne o inciso I e II do referido artigo, entende-se que estes seriam


o período mínimo e máximo de uma gestação viável, o que determinaria a
presunção da filiação. Porém com o avanço da ciência moderna, há soluções que
conseguem determinar com precisão a data que se deu a concepção.
Nesse sentido, podemos dizer que o exame de DNA tornou obsoleto qualquer
meio cientifico empregado para esclarecer a filiação, pois, a comparação genética é
esclarecedora e conclusiva. Assim, pouca valia terá na pratica o inciso I ora
comentado.
Tão pouco, não pode deixar de enfatizar que sob o ponto da família
socioafetiva, que essa presunção não determinante da paternidade ou da filiação,
pois, independente da infidelidade da mulher, pai será o marido ou o companheiro
que aceite a paternidade do filho, mesmo nascido fora do prazo de 180 dias, sem
questionar a origem genética.
De suma importância é o tema identidade parental biológica para
determinadas crianças e adultos que carregam a dúvida sobre seu parentesco
biológico.
Há uma necessidade da informação do seu parentesco biológico, não só para
a construção da sua identidade pessoal, mas especialmente no tocante a quem
cabe o dever jurídico e social de guarda, sustento e educação dos filhos, o que
refletirá na formação psicológica no decorrer de suas vidas. Deste modo, não
havendo o livre reconhecimento da filiação, compete ao filho o direito de
reconhecimento via decisão judicial, através da chamada ação de investigação de
paternidade ou, raramente, maternidade.
Cabe ao filho demandar o estado de filiação sendo, no caso de menor
absolutamente incapaz, representado pelo genitor que promoveu registro do seu
15

nascimento. Portanto, apenas àqueles que não tiveram sua filiação voluntariamente
reconhecida reportar-se a possibilidade de propor tal demanda como esclarece
Paulo Lôbo14:

A investigação do estado de filiação tem por fito seu reconhecimento


forçado, por decisão judicial, porque não houve reconhecimento voluntário.
Assim, não é o meio adequado para impugnar paternidade registrada, com
intuito de atribuir outra em seu lugar. Para essa finalidade, cabe ao
interessado vindicar a invalidação do registro civil, porque não pode haver
duplicidade de paternidade, uma registrada e outra reconhecida
judicialmente.

Havendo a procedência da ação, a oportuna sentença judicial preencherá o


reconhecimento voluntário quando de sua averbação no registro de nascimento do
filho, garantindo-lhe todos os direitos e deveres peculiares da relação entre pais e
filhos.

2.3 FAMÍLIA MONOPARENTAL

Este formato de família era considerado como mera situação fática, restrita ao
concubinato, às margens da lei, tida como ilegítima até a Constituição de 1988.
Todavia, sempre manteve seu poder de criar laços entre seus componentes.
O código napoleônico manteve-se calado a respeito do assunto, reprovando
esta união fática, sem levar em conta prováveis ou possíveis repercussões,
conforme esclarece Eduardo Leite15 em sua obra:

O movimento legislativo, ao contrário do que se poderia imaginar – já que


em Roma o concubinato foi mesmo objeto de disposição legislativa – se
direcionou no sentido de minorar, ou mesmo, aniquilar os acontecimentos
do mundo fático, ao arrepio do legislador, e que explica, de certa forma, a
célebre frase do imperador francês a respeito do concubinato: Les
concubins se passent de la loi,; la loi se desinteresse d´eux.

O casamento civil garantia a prosperidade do grupo familiar e formava aliança


entre duas famílias, era tido na sociedade tradicional como a maneira encontrada
para encarar uma economia rudimentar. A união autêntica do casal, elevada à
14
LÔBO,Paulo. Direito Civil: famílias. 2 ed. São Paulo: Saraiva 2009, p. 243.
15
LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias monoparentais: a situação jurídica de pais e mães
separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003,
p. 15.
16

categoria de casamento civil pelo Código napoleônico, era a entrada para a vida
adulta, acarretando todos os direitos e obrigações civis dela decorrentes.
No que concerne esta clássica compreensão de família, a criança era tida
como um objeto que integrava o grupo de filhos e ocupava seu lugar específico
desempenhando um determinado papel, garantindo assim os valores familiares.
No momento em que o casamento torna-se a união de dois indivíduos e não
mais duas famílias, nota-se que a família está voltada para ela própria e para a
criança, como nos leciona Leite16:

O seu objetivo deixa de ser o interesse predominante das famílias de


origem, ou dos pais de cada nubente, mas passa a ser a vida a dois, onde
privilegiam o crescimento pessoal, a realização individual (dentro e fora do
grupo familiar) e uma certa noção de felicidade. A família numerosa é
substituída por uma célula mais restrita, preocupada em manter uma vida
privada e íntima. O nascimento de uma criança não é mais encarado como
uma fatalidade, mas como uma escolha deliberada dos esposos.

Em virtude do surgimento da família moderna, segundo o entendimento do


aludido doutrinador, constatou-se a existência de outros modelos de família que
diferenciam daqueles originados no casamento e em conformidade com a lei.
A monoparentalidade reconhecida pela Carta Magna no art. 226, § 4º,
ampliou o conceito de família, representando uma evolução legislativa ao incluir no
ordenamento jurídico este novo esquema familiar, composto por um dos genitores e
seu filho, o que é muito comum em nossa sociedade nos dias atuais. Dessa forma,
tal dispositivo fez com que o reconhecimento da família monoparental representasse
uma notável transformação na base da sociedade.
O abandono afetivo dos filhos, em meio a vários fatores que motivam esta
entidade familiar, observa-se constantemente na família monoparental originada da
união livre, do fim da vida conjugal e das mães solteiras.
Em ambos os casos, seus membros amargam todo tipo de preconceito, pois
este modelo é constantemente associado ao fracasso pessoal e total leviandade
para com a constituição da família “clássica”, desaguando na consequente
marginalização do grupo familiar monoparental.
A prole que encontra-se sob a responsabilidade de um dos genitores está à
mercê, além da discriminação social em todos os ambientes da vida cotidiana, de
16
LEITE, Eduardo de Oliveira. Op. Cit., p. 16.
17

uma situação de quase abandono. Por vezes, depara-se com as dificuldades


econômicas, visto que, na maioria dos casos, conta com o apoio apenas daquele
genitor com quem convive.
Ante tais dificuldades, o adulto responsável obriga-se a trabalhar além do
normal para que consiga prover o sustento, o que acaba gerando problemas de
diversas ordens, em razão da presença exígua perante seus filhos, isso tudo
considerando que o outro já não cumpre suas obrigações para com o
desenvolvimento dos infantes.
A privação do filho da convivência de um dos genitores suscita uma série de
sentimentos nocivos que interferirão diretamente em seu desenvolvimento pessoal,
principalmente complexo de inferioridade em relação às demais crianças. Na maioria
dos casos, nota-se efeitos de ordem psicológica, tais como depressão e medo
exacerbado. Ora, se a ausência de um dos genitores, em virtude de sua morte, é
passível de indenização por dano moral, não seria diferente no caso de privação da
convivência com o pai ou a mãe. Esta sensação de ausência com suas decorrências
macula todos os princípios ligados à humanidade. 17

2.4 UNIÃO ESTÁVEL

Durante longo período histórico, a união entre homem e mulher, sem


casamento, era chamado de concubinato, que se designava pela união livre e a vida
em comum sob o mesmo teto, com o intuito de constituir uma familia. Essa relação
foi reconhecida pela Constituição Federal em seu artigo 226 18, § 3°, que aludi: “Para
efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre homem e a
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”
A conceituação da união estável esta presente no artigo 1.723 do Código Civil
de 2002, que estabelece: “É reconhecida como entidade familiar a união estável
entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e
duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família”. 19
17
RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade Civil. 5 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 688.
18
BRASIL. Constituição (1988). Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado. § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9278.htm> Acesso em 5 jan. 2015.
19
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Artigo 1.723. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
18

No que se refere à importância da regulamentação legal das uniões de fato,


Venosa20 explica que:

[...] durante muito tempo, nosso legislador viu no casamento a única forma
de constituição da família, negando efeitos jurídicos à união livre, mais ou
menos estável, traduzindo essa posição no Código Civil do século passado.
Essa oposição dogmática, em um país no qual largo percentual da
população é historicamente formado de uniões sem casamento, persistiu
por tantas décadas em razão de inescondível posição e influência da igreja
católica. Coube por isso à doutrina, a partir da metade do século XX, tecer
posições em favor dos direitos dos concubinos, preparando terreno para a
jurisprudência e para a alteração legislativa. [...]

A concepção de união estável não se compara mais a noção de concubinato,


no que concerne o relacionamento amoroso entre pessoas casadas, violadores do
dever de fidelidade, chamados de adulterinos.
Vale ressaltar que, a união prolongada de pessoas, embora casadas, mas
separadas de fato, não configura concubinato, conforme a boa letra do art. 1723 21,
§1º do Código Civil Brasileiro/2002.
Anteriormente ao Código Civil de 2002, a união estável teve sua
regulamentação tratada na Lei n. 8.971, de 29 de dezembro de 1994, que definia
como “companheiros” o homem e a mulher que eram solteiros ou separados
judicialmente, divorciados ou viúvos, por mais de cinco anos, ou com prole
(concubinato puro). Porém em 10 de maio de 1996, com a promulgação da Lei
9.278, a mesma alterou o conceito e versou sobre a omissão dos requisitos de
natureza pessoal, o tempo mínimo de convivência e a existência da prole.
Denominava-se entidade familiar à convivência contínua, pública e duradoura, entre
um homem e uma mulher com o intuito de constituir uma família. Foi substituída a
expressão “companheiros” por “conviventes”. No que se refere o § 3º do art. 226 22 da
Lei Maior, o dispositivo da Lei em comento não faz expressa referência à união

20
VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. Direito de Família. Vol. 6. 8 ed.São Paulo: Atlas, 2008, p.
36.
21
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a
união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e
estabelecida com o objetivo de constituição de família. § 1o A união estável não se constituirá se
ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a
pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente. Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
22
BRASIL. Constituição (1988). Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado. § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a
mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9278.htm> Acesso em 5 jan. 2015.
19

estável pura, ou seja, aquela que difere do concubinato por inexistir impedimentos
matrimoniais. Inobstante, aplica-se a esta forma de família sua locução, eis que
ambos os dispositivos legais envolvem o objetivo norteador da união de fato, qual
seja, a constituição familiar.
Destarte, a inclusão do tema no âmbito do Código Civil de 2002 restou-se
revogadas as referidas Leis n. 8.971/94 e 9.278/96, trazendo consigo significativas
mudanças, tais como a inclusão de um titulo exclusivo a união estável no Livro de
Família, englobou os princípios basilares das referidas normas, além de introduzir
novas disposições atinentes ao tema, como na conjuntura da competência para o
exercício do Poder Familiar.
Não foi estabelecido período mínimo de convivência, pois o Código Civil
relaciona esse tempo com os elementos caracterizadores da união estável que são
a convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida como o objetivo de
constituição de família.
Admitiu-se o reconhecimento de união estável entre pessoas que mantiveram
o estado civil de casadas e, no entanto, encontram-se separadas de fato. Bem
como, reafirmou os deveres dos conviventes, idênticos aos do casamento, não fosse
pela exceção da coabitação.
O Código Civil, em seu art. 1.726, prevê a possibilidade de converter a união
estável em casamento, “mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no
registro civil”23.
Dentre os deveres dos companheiros estão os de guarda, sustento e
educação dos filhos, parecidos àqueles atribuídos aos cônjuges no casamento.
A guarda é um direito-dever dos pais, decorrente do poder familiar, associado
ao poder conferido a ambos os genitores de fixar o domicílio da prole. Ocorrendo a
separação dos pais, será atribuído os moldes do artigo 1.584 do Código Civil, onde
versa que a criança deverá permanecer com aquele que revelar melhores condições
para exercer a guarda.
Subsiste também a obrigação de sustentar os filhos menores e de lhes
oferecer a orientação moral e educacional mesmo após a dissolução da união
estável.

23
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em
casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil. Código Civil.
Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 5
jan. 2015.
20

Vale ressaltar o dever de educar os filhos, não somente a educação escolar,


todavia, os cuidados com as lições e o aprendizado da vida, além de terem o zelo
com a formação cultural e moral, levando assim a criança se desenvolver em um
ambiente sadio.
Assim como nasce informalmente da convivência entre as partes, a união
estável pode extinguir-se sem quaisquer formalidades. Não havendo um
entendimento consensual quanto à prestação de alimentos, partilha dos bens e
guarda dos filhos, é facultado a qualquer um dos parceiros demandar judicialmente
pleiteando o reconhecimento e sua dissolução, bem como uma decisão acerca das
questões ora mencionadas.
No que diz respeito aos direitos sucessórios dos companheiros, a aquisição
do reconhecimento ocorrerá através da habilitação no processo de inventário,
estando a união estável comprovada documentalmente ou mediante prévia
declaração judicial de sua existência.
Por fim, a união estável é a relação duradoura entre homem e mulher sem
impedimentos, pública, contínua e com o intuito de constituir uma família.
Muito embora, a jurisprudência atual tem decidido pela dispensabilidade da
diversidade de sexos. Este arranjo familiar surge e amolda-se à realidade brasileira,
seja em razão da vontade das pessoas, do custo ou qualquer outro fator advindo
das transformações sociais, como uma alternativa à união civil tradicional, mas que
observa os mesmos princípios do casamento.

2.5 PODER FAMILIAR

O poder familiar é o instituto cujo fim é delimitar a hierarquia no contexto


familiar. Esse poder familiar existe desde quando o homem é homem. Trata-se de
um instituto de muita relevância para o homem civilizado e sua existência
transcenda a própria existência humana.
Segundo Waldir Grisard Filho24:

“O poder familiar é um dos institutos do direito com marcante presença na


história do homem civilizado. Suas origens são tão remotas que

24
FILHO, Waldir Grisard. Guarda Compartilhada: Um novo modelo de responsabilidade paternal.
5 ed. ver. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 37.
21

transcendem as fronteiras das culturas mais conhecidas e se encontram na


aurora da humanidade mesma.”

O Código Civil de 1.916 continuou seguindo a posição romana, onde era o


homem que detinha o poder familiar, tal qual a denominação empregada “pátrio
poder”. Entretanto, com a chegada da Constituição Federal de 1.988, no artigo 5º,
onde trata que homens e mulheres serão iguais, houve a necessidade de
modificação na interpretação do Código Civil de 1.916, no que se refere ao poder
familiar.
Com o passar do tempo tal interpretação foi ganhando forma, sempre observando o
melhor interesse da criança e tratando homens e mulheres de maneira igual perante
a lei. Nesse entendimento explica Carlos Roberto Gonçalves 25:

Modernamente, graças à influencia do Cristianismo, o poder familiar,


constituiu um conjunto de deveres, transformando-se em instituto de caráter
eminentemente protetivo, que transcede a órbita do direito privado para
ingressar no âmbito do direito público. Interessa ao Estado, com efeito,
assegurar a proteção das gerações novas, que representam o futuro da
sociedade e da nação. Desse modo, o poder familiar nada mais é do que
um múnus público, imposto pelo Estado aos pais, a fim de que zelem pelo
futuro de seus filhos. Em outras palavras, o poder familiar é instituído no
interesse dos filhos e da família, não em proveito dos genitores, em atenção
ao principio da paternidade responsável insculpido no art. 226, §7º, da
Constituição Federal.

Não obstante, foi com o advento do Código Civil Brasileiro de 2.002 que a
nomenclatura “pátrio poder” foi alterada para “poder familiar” dando ênfase que o
poder familiar não é exclusivamente do homem, mas em igualdade, tanto do homem
quanto da mulher.
Contudo, alguns doutrinadores acreditam que mesmo com a mudança na
nomenclatura, para “poder familiar”, esta ainda não é mais adequada, porque
mantêm a expressão poder com destaque em sua denominação. È o que explica
Paulo Lobo26:

A denominação ainda não é a mais adequada, porque mantém a ênfase no


poder. Todavia, é melhor que a resistente expressão “átrio poder”, mantida,
inexplicavelmente, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.
8.069/90), somente derrogada com o Código Civil.

25
GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit., p. 416.
26
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 295.
22

No mesmo sentido explica Carlos Roberto Gonçalves 27:

A denominação “poder familiar” é mais apropriada que “pátrio poder”


utilizada pelo Código de 1916, mas não é a mais adequada, porque ainda
se reporta ao “poder”. Algumas legislações estrangeiras, como a francesa e
a norte-americana, optam por “autoridade parental”, tendo em vista que o
conceito autoridade traduz melhor o exercício de função legitima fundada no
interesse de outro individuo, e não em coação física ou psíquica, inerente ao
poder.

No que tange o conceito de poder familiar, Silvio Rodrigues 28, define como
sendo um “Conjunto de direito e deveres atribuídos aos pais, em relação à pessoa e
aos bens dos filhos não emancipados, tendo em vista a proteção destes”.
Nesse ínterim, citam Washington de Barros Monteiro e Regina Beatriz
Tavares da Silva “[...] o poder familiar é instituído no interesse dos filhos e da família,
e não em proveito dos genitores.”29
Conclui-se que o poder familiar moderno, visa o interesse dos filhos bem
como da família e não o interesse dos pais, havendo a necessidade de respeito
mútuo e ainda a observância do princípio da paternidade responsável, constante no
art. 226 §7º30 da atual Constituição Federal.
Conforme observamos, ao longo da evolução histórica mudou-se
radicalmente a interpretação do que venha a ser poder familiar. O poder familiar é a
soma do exercício da autoridade do pai e da mãe sobre o filho menor ainda que
menores de 18 anos.
No passado entendia que o poder familiar caracterizava-se pelo poder
substancial dos pais, onde o poder do pai deveria ser reconhecido e obedecido. O
que não mais acontece nos dias atuais, pois, hoje o que deve ser observado e
respeitado é o direito da criança e do adolescente.
Nas palavras de Waldir Grisard Filho31:

27
GONÇALVES, Carlos Roberto. Op. Cit., p. 416.
28
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Vol. IV. Responsabilidade Civil. 20 ed. São Paulo: Saraiva,
2003, p.358.
29
SILVA, Regina Beatriz; MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 41 ed. São
Paulo: Saraiva, 2011, p. 502.
30
BRASIL. Constituição (1988). Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado. § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável,
o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos
educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte
de instituições oficiais ou privadas.  Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil
03/leis/l9278.htm> Acesso em 5 jan. 2015.
23

“Pode-se dizer que poder familiar é um conjunto de faculdades encomendada


aos pais, como instituição protetora da menoridade, com o fim de lograr o
pleno desenvolvimento e a formação integral dos filhos, física, mental, moral,
espiritual e social. Para alcançar tal desiderato, impõe-se ainda aos pais
satisfazerem outras necessidades dos filhos, notadamente de índole afetiva,
pois o conjunto de condutas pautadas no art. 1.634 CC o é em caráter
mínimo, sem excluir outros que evidenciem aquela finalidade.”

De acordo com o art. 226 §5º da Constituição federal, haverá igualdade plena
entre homens e mulheres e também enquanto pais, separados ou não, onde ambos
exercerão o poder familiar sobre os filhos enquanto menores. Na atual ordenamento,
a criança será protegida em casos de separação dos seus pais, ela terá direito de
conviver com ambos, embora estejam separados.
Nos termos do artigo 226, §5º32 da Constituição Federal combinado com o
artigo 1.63033 do Código Civil de 2.002:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.


§ 5º - Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos
igualmente pelo homem e pela mulher.
Art. 1.630. Os filhos estão sujeitos ao poder familiar, enquanto menores.

2.5.1 Do exercício do poder familiar

Tratando-se do exercício do poder familiar, podemos dizer que este é


irrenunciável, intransferível, inalienável, imprescritível e decorre da paternidade
natural como da filiação socioafetiva. Entende-se que as obrigações dos pais são
personalíssimas, não podendo assim, renunciar os filhos. A renuncia ao poder
familiar é nula. Ainda que o pai ou mãe queiram deixar de exercer o poder familiar
sob qualquer pretexto, a lei assegura à criança e ao adolescente o direito de ter seus
pais sempre ao seu lado, exercendo seu papel de protetor, ainda que de maneira
compulsória. 34

31
FILHO, Waldir Grisard. Guarda Compartilhada: Um novo modelo de responsabilidade paternal.
5 ed. ver. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, p. 35.
32
BRASIL. Constituição (1988). Art. 226, § 5º - Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9278.htm> Acesso em 5 jan. 2015.
33
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.630. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
34
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011, p. 425.
24

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 249, o


inadimplemento dos deveres inerentes ao poder familiar, configura infração estando
sujeitos a pena de multa.
O poder familiar será exercido de forma igualitária pelos pais, a autoridade
parental cabe a ambos os genitores. Tanto a titularidade como o exercício do poder
familiar se da entre o pai e a mãe, conforme versa o artigo 1.631 do Código Civil. 35
Durante o casamento ou a união estável, são os pais os detentores do poder
familiar, o que permanece mesmo com a dissolução desses institutos, pois, persiste
o dever de ambos de arcar com o sustento do filho. O que pode ocorrer em casos de
separação é a variação de grau que o poder familiar será exercido, mas isso está
relacionado com o exercício do mesmo e não sobre a titularidade deste.
O exercício do poder familiar visa o melhor interesse da criança e
adolescente, devendo os titulares desse poder estar em harmonia nas decisões a
serem tomadas.

2.5.2 Da perda do poder familiar

A perda do poder familiar é uma medida de maior alcance e corresponde ao


fato dos pais terem infringido um dever mais relevante, sendo uma medida imposta
por sentença judicial, e não é facultativa. A perda do poder familiar será aplicada
somente quando sua suspensão ou outras medidas que coloquem a salvo a
dignidade e melhor interesse da criança não puderem ser aplicadas. Pois sempre
que houver a possibilidade de recomposição dos laços entre pais, outras medidas
devem ser tomadas que não a perda do poder familiar.
Observamos as hipóteses de perda do poder familiar, elencadas no artigo
1.63836 do Código Civil:

Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o pai ou a mãe que:
I - castigar imoderadamente o filho;
II - deixar o filho em abandono;
III - praticar atos contrários à moral e aos bons costumes;
35
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.631.  Durante o casamento e a união estável,
compete o poder familiar aos pais; na falta ou impedimento de um deles, o outro o exercerá com
exclusividade. Código Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/cc ivil_03/leis/200 2/l1040
6compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
36
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.638. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
25

IV - incidir, reiteradamente, nas faltas previstas no artigo antecedente.

O abando que trata o inciso II do referido artigo se dá por vários motivos, seja
ele de forma intencional ou por motivo extremo. O abando do filho por motivos
relevantes como problemas financeiros ou de saúde, devem ser analisados de forma
diferente de quando o pai abandona de propósito.
Segundo Paulo Lobo: “Tem sido entendido que o abandono do filho não é
mais causa automática de perda do poder familiar, redundando em mais problemas
que soluções para aquele”37.
As decisões de procedência e improcedência da reparação civil por abandono
afetivo estão correlacionadas ao conteúdo particular do poder familiar.
No que tange o poder familiar e sua destituição, elucida que o direito civil
familiar moderno encontrou uma nova faceta do Estado, o qual respeita os limites
legais da família, sua comunhão plena, confere autonomia privada ao cidadão, mas
ao mesmo tempo está presente intervindo judicialmente quando necessário de forma
repressiva ou curativa.
Neste sentido, Orlando Gomes38 classifica a intervenção estatal sob dois
aspectos:

Abrindo uma brecha na intimidade doméstica parece ser, no entanto, uma


prática necessária no processo de politização da família, especialmente em
relação ao seu governo, que, de monocrático, passou a diárquico. Outra
alternativa não se tem para a solução dos conflitos de interesses quando a
família deixou de ser uma unidade para se tornar uma pluralidade de
convivência.”

Desta forma, percebe-se que a Constituição Federal traçou as diretrizes


gerais da proteção integral da criança e do adolescente, o Estatuto da Criança e do
Adolescente, acrescentou detalhes a estas diretrizes e, o Código Civil ratificou estes
deveres pessoais e patrimoniais dos genitores ou de quem possui a guarda do
menor.

3 DA AFETIVIDADE NAS RELAÇÕES FAMILIARES

37
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Famílias. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 309.
38
GOMES, Orlando. O novo Direito de Família. Porto Alegre: Fabris, 1984, p. 84.
26

Anteriormente a família seguia um modelo único, que baseava-se pela


formação do matrimônio, sendo vedada qualquer forma de relacionamento para
constituição da família. Nesse tipo de concepção não era considerado a
subjetividade dos seus membros, logo o tema da afetividade sequer era posto em
discussão. A afetividade nem sempre foi uma prerrogativa da família.
Contudo, através do processo continuo de transformação da sociedade
brasileira, em meados do século XX, houve grande crescimento na valoração afetiva
nos relacionamentos, dando maior espaço ao sentimento e a afetividade.
Conforme elucida Ricardo Lucas Calderón 39:

No final do século XX, a doutrina e jurisprudência brasileiras, realizaram


esforços no sentido de reconhecer algumas situações subjetivas prementes
que envolviam litígios de família, para lhes conceder alguma guarida
jurídica, superando uma leitura estreita das categorias codificadas. Uma
delas foi a que redundou na construção da afetividade como vetor das
relações familiares [...]. Esse esforço conjunto doutrinário-jurisprudencial
pôde minimizar muitas das injustiças para as quais o Direito dava às costas
até então. Entretanto, mesmo este proceder ainda restava de algum modo
limitado pelo ordenamento jurídico posto.

Constatou-se assim, uma nova forma de convivência familiar, onde


predominava a afeição, a liberdade, a igualdade e o respeito aos relacionamentos,
originando-se assim uma nova família, retratando uma modernidade que acabou de
se apresentar.
Nesse sentido, aduz Eduardo de Oliveira Leite 40:

A nova família, estruturada nas relações de autenticidade, afeto, amor,


dialogo e igualdade, em nada se confunde com o modelo tradicional, quase
sempre próximo da hipocrisia, da falsidade institucionalizada, do fingimento.
A noção de vida em comum atual repousa soberana sobre sua
solidariedade constantemente provocada pela intensidade afetiva. [...] Uma
tal família, convivendo de afeto, na liberdade, na responsabilidade mútua,
desempenha um papel decisivo no rumo dos fatos sociais, determinando as
verdadeiras valorações que orientam o convívio social.

Nota-se um lento reconhecimento de outras entidades familiares, com feições


bem diversas da família tradicional, nas quais o principal objeto de sustento de
envolvimento interpessoal é a afetividade. Podemos exemplificar essa pluralidade de
39
CALDERÓN, Ricardo Lucas. Princípio da afetividade no direito de família. Rio de Janeiro:
Renovar, 2013, p. 201.
40
LEITE, Eduardo de Oliveira. Famílias Monoparentais. A situação Jurídica de pais e mães solteiros,
pais e mães separados e dos filhos na ruptura da vida conjugal. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2003, p.367.
27

formação famílias as famílias monoparentais, anaparentais, multiparentais,


simultâneas e união homoafetiva.
Dessa forma, observa-se que a sociedade passou a adotar o aspecto da
afetividade como suficiente e relevante nas escolhas pessoais. Não mais deu-se
tanta importância aos vínculos denominados fundamentais, tais como o vinculo
biológico, material ou registral, ficou perceptível a centralidade que a afetividade
assumiu na maior parte dos relacionamentos. Foi tão fundamental a alteração que é
possível afirmar que houve uma verdadeira transição paradigmática na família
brasileira contemporânea, pela qual a afetividade assumiu o marco destas relações.

3.1 A AFETIVIDADE SOB A LUZ DA DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA

A jurisprudência desempenhou um papel fundamental na consolidação da


afetividade no sistema jurídico brasileiro, visto que, muito antes de qualquer
dispositivo legislativo expresso, já havia diversos casos em que fora reconhecida a
afetividade. Existem inúmeros julgados que concederam efeitos jurídicos à
afetividade em diversas situações concretas.
Nesse sentido, a inserção da afetividade nos termos da lei conferiu maior
importância ao seu reconhecimento jurisprudencial, posto que, muito antes a
jurisprudência já se dedicava ao tema. Assim ensina Álvaro de Azevedo 41:

O reconhecimento jurisprudencial gradativo conferido às uniões estáveis de


1988 pode ser considerado uma das formas de reconhecimento jurídico de
uma relação precipuamente afetiva, mesmo sem legislação expressa que a
agasalhasse. Em que pese a timidez do trato e as críticas que atualmente
podem ser expostas, é possível perceber que a jurisprudência passou a
reconhecer de algum modo aquelas relações antes tidas como “invisíveis”
ao direito.

É de grande importância o caso que mencionaremos a seguir, pois, o mesmo


foi decido sob a égide do Código de 1916, o julgado do Tribunal de Justiça do
Estado do Paraná, no ano de 2001, no qual se discutiu a cerca da relação paterno-
filial consolidada faticamente, mas que, no decorrer da demanda, ficou comprovada
a ausência do vínculo genético, o tribunal, ao deliberar sobre o caso, decidiu pela
manutenção do vínculo parental, ainda que não comprovado o vínculo biológico,
declarando que reconhecia in causa a paternidade socioafetiva.
41
ÁZEVEDO, Álvaro Villaça de. Estatuto da Família de Fato. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2011, p. 83.
28

NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. “ADOÇÃO À BRASILEIRA”.


CONFRONTO ENTRE A VERDADE BIOLÓGICA E A SÓCIO-AFETIVA.
TUTELA DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PROCEDÊNCIA.
DECISÃO REFORMADA. A ação negatória de paternidade é imprescritível,
na esteira do entendimento consagrado na Súmula 149/STF, já que a
demanda versa sobre o estado da pessoa, que é emanação do direito da
personalidade. 2. No confronto entre a verdade biológica, atestada em
exame de DNA, e a verdade sócio-afetiva, decorrente da denominada
“adoção à brasileira” (isto é, da situação de um casal ter registrado, com
outro nome, menor, como se deles filho fosse) e que perdura por quase
quarenta anos, há de prevalecer a solução que melhor tutele a dignidade da
pessoa humana. 3. A paternidade sócio-afetiva, estando baseada na
tendência de personificação do direito civil, vê a família como instrumento
de realização do ser humano; aniquilar a pessoa apelante, apagando-lhe
todo histórico de vida e condição social, em razão de aspectos formais
inerentes a irregular “adoção à brasileira”, não tutelaria a dignidade humana,
nem faria justiça ao caso concreto, mas, ao contrário, por critérios
meramente formais, proteger-se-iam as artimanhas, os ilícitos e as
negligências utilizadas em benefício próprio do apelado.42

É interessante esta decisão, vez que distingue expressamente as figuras do


ascendente genético e do pai, reconhecendo no caso concreto o vínculo paterno-
filial, advindo de uma relação socioafetiva, mesmo o filho advindo de uma “adoção à
brasileira”, ou seja, uma adoção informal.
Nesta decisão, podemos observar que o laço de afetividade que foi construído
no decorrer dos anos de convivência prevaleceu sobre a verdade biológica, com
argumento de que seria a melhor solução para assegurar a dignidade da pessoa
humana.
Diante desse julgado, muitas outras decisões foram proferidas nessa mesma
linha de entendimento, e muitos tribunais estaduais passaram a reconhecer as
situações afetivas como geradoras de vínculos parentais, consolidadas pelos fatos
sociais e pela doutrina que lhes fundamentavam.
O Superior Tribunal de Justiça, na função de unificador das decisões
jurisprudenciais, assumiu papel relevante ao legitimar tais julgados que reconhecem
a afetividade nas relações familiares, ainda que, sem expressa determinação em lei
que os respaldassem. O entendimento do STJ foi de suma importância para a
solidificação do reconhecimento da afetividade no direito brasileiro.

42
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Parana. Apelação Cível 108.417-9, 2ª Vara de Família,
Curitiba. Apelante: G.S. Apelado: A.F.S. Relator: Desembargador Acássio Cambi, julgado em
12.12.2001. Disponível em: < http://tj-pr.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4374066/apelacao-civel-ac-
1084179> Acesso em: 10 jan. 2015
29

Em conformidade com o julgado anterior, muitas decisões passaram a


reconhecer o vinculo parental socioafetivo, sendo assim vejamos a seguinte:

RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


NULIDADE. INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO SANGÜÍNEA ENTRE AS
PARTES. IRRELEVÂNCIA DIANTE DO VÍNCULO SÓCIO-AFETIVO. -
Merece reforma o acórdão que, ao julgar embargos de declaração, impõe
multa com amparo no art. 538, §Ú, CPC se o recurso não apresenta caráter
modificativo e se foi interposto com expressa finalidade de prequestionar.
Inteligência da Súmula 98, do STJ. - O reconhecimento de paternidade é
válido de reflete a existência duradoura do vínculo sócio-afetivo entre pais e
filhos. A ausência de vínculo biológico é fato que não pode ser, e não é
desconhecido pelo Direito. Inexistência de nulidade do assento lançado em
registro civil. - O STJ vem dando prioridade ao critério biológico para
reconhecimento da filiação naquelas circuntâncias qm que há dissenso
familiar, onde a relação sócio-afetiva desapareceu ou nunca existiu. Não se
podem impor os deveres de cuidado, de carinho e de sustento a alguém que,
não sendo pai biológico, também não deseja ser pai sócio-afetivo. A contrario
sensu, se o afeto persiste Ed forma que pais e filhos constroem uma relação
de mútuo auxílio, respeito e aparo, é acertado desconsiderar o vínculo
meramente sangüíneo, para reconhecer a existência de filiação jurídica. I
Recurso reconhecido e provido43.

Essas decisões expressam o reconhecimento da paternidade socioafetiva


como fato social que merece tutela do Direito. Esta solida construção jurisprudencial
foi estabelecida em cima de contribuições de diversos juízes e tribunais, tornando tal
matéria consolidada, tendo seu reconhecimento jurídico da afetividade como
principio implícito do direito de família, ainda que, muitas decisões não adotem essa
terminologia, resta claro que tratam do acolhimento de vinculo afetivo.
Posto que, não adentraremos em uma discussão minuciosa, fica claro que o
reconhecimento jurídico da afetividade possui amplo respaldo jurisprudencial e
doutrinário, o que permite sua assimilação e valoração pelo ordenamento jurídico.

3.1.1 Princípio da Afetividade

Existe em nossa doutrina, uma discussão acalorada, dada as diferentes teses


em torno da afetividade, se esta deve ou não ser tratada como princípio do direito de

43
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 878.941/DF (2006/0086284-0). Recorrente:
A C M B. Recorrido: O DE S B Min. Nancy Andrighi, julgamento em 21.08.2007. Disponível em:<
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/8880940/recurso-especial-resp-878941-df-2006-0086284-0/
inteiro-teor-13987921>. Acesso em: 10 jan. 2015.
30

família. Alguns autores tem o posicionamento contrário a tese principal, que seria a
afetividade como principio implícito do ordenamento familiar.
Atualmente podemos contar com três posicionamentos: o primeiro que
sustenta expressamente a afetividade como principio jurídico do direito de família; a
segunda que confere ao afeto o status de valor relevante para a família, sem
qualificá-lo como principio; e a terceira que rejeita expressamente o afeto como
principio.
A primeira corrente defende que a afetividade é tida como principio do direito
de família, por diversos aspectos, a maioria deles no que tange a mudança no
conceito de família, as relações interpessoais e as características atuais do
ordenamento familiar. Nessa linha, aduz Paulo Lobô 44:

A afetividade é o princípio que fundamenta o direito de família na


estabilidade das relações socioafetivas e na comunhão de vida, com
primazia sobre as considerações de caráter patrimonial ou biológico.
Recebeu grande impulso dos valores consagrados na Constituição de 1988
e resultou da evolução da família brasileira, nas últimas décadas do século
XX, refletindo-se na doutrina e na jurisprudência dos tribunais. O princípio
da afetividade especializa, no âmbito familiar, os princípios constitucionais
fundamentais da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) e da
solidariedade (art. 3º, I), e entrelaça-se com os princípios da convivência
familiar e da igualdade entre cônjuges, companheiros e filhos, que ressaltam
a natureza cultural e não exclusivamente biológica da família.

Há outros doutrinadores que também defendem essa corrente, tais são: Maria
Helena Diniz; Flávio Tartuce e José Fernando Simão; e Pablo Stolze Gagliano e
Rodolfo Pamplona Filho.
A segunda corrente, mesmo atribuindo valor relevante à afetividade no trato
das relações familiares, não a inclui no rol dos princípios do direito de família. São os
doutrinadores que defendem esta tese: Fábio Ulhoa Coelho, Cristiano Chaves de
Farias e Nelson Rosenvald, Paulo Nader, Eduardo de Oliveira Leite, entre outros.
Há ainda aqueles que argumentam contra a adoção da afetividade como
princípio, sustentando que esta não deve ser tratada pelo Direito, dado o seu caráter
subjetivo, a ausência do afeto em grande parte das relações familiares e a falta de
conceito jurídico de afeto, que permita diferenciá-lo de um mero sentimento. 

44
LÔBO, Paulo Luiz Netto. O princípio constitucional da solidariedade nas relações de família. In:
CONRADO, Marcelo (Org.). Direito Privado e Constituição: ensaios para uma recomposição
valorativa da pessoa e do patrimônio. Curitiba: Juruá, 2009.
31

Entre os doutrinadores que defendem essa terceira corrente estão: Regina


Beatriz Tavares da Silva, que considera a afetividade apenas como um sentimento e
não um princípio de solução de conflitos jurídicos; Roberto Senise Lisboa; e Gustavo
Tepedino, que mesmo reconhecendo a relevância da afetividade nos
relacionamentos familiares, não a vê como princípio jurídico.
No que diz respeito às relações familiares, as mesmas estão ligadas
diretamente ao afeto, que é à base de sua constituição. Sendo assim, inexistindo o
vinculo afetivo, não há o que se falar na constituição de família, em virtude de estar
calçada no consenso de permanecer junto. No entanto, havendo filhos, o fato de não
mais a ver vinculo conjugal entre os cônjuges, não deve atingir os filhos, pois
havendo esse rompimento com o filho caracteriza-se abandono afetivo.
Entretanto é comum, quando há uma dissolução da relação conjugal, o
distanciamento entre pais e filhos, visto que o pai acaba por constituir nova família,
deixando de lado aquele filho e o afastando de sua convivência. Assim, constata-se
filhos desamparados afetivamente. Ainda que o pai cumpra com sua
responsabilidade no que diz respeito o dever alimentar, este progenitor deixa de
manter os laços de afeto, amor e carinho com seus filhos, ocasionando assim
problemas futuros, que poderá acarretar no prejuízo do desenvolvimento da criança.
Por conta da diversificada discussão acerca do principio da afetiva que ainda
não se encontra expressamente prevista em nosso ordenamento jurídico, esta
dedicação que deve ser dada aos filhos encontra-se respaldo nos princípios
constitucionais da dignidade da pessoa humana e na proteção integral dos filhos,
ambas previstos no artigo 1º da Constituição Federal, e amparados também pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente.
De acordo com a dogmática jurídica, a violação do principio da afetividade,
que encontra respaldo no principio constitucional da dignidade da pessoa humana e
da proteção integral dos filhos, caracteriza ato ilícito que gera o dano moral.

3.1.2 Principio da Paternidade Responsável


32

Dispõe no art. 22645, § 7º da Constituição da República, que o planejamento


familiar é de livre decisão do casal, fundado nos princípios da dignidade da pessoa
humana e da paternidade responsável. Bem como, o Diploma Civil vigente aventou
em seu art. 1.56546, § 2º que “o planejamento familiar é de livre decisão do casal” e
que é “vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições públicas e
privadas”.
Entende-se que o planejamento familiar é um ato de escolha consciente, onde
o casal pensa de forma conjunta sobre a decisão do numero de filhos que irão ter e
a forma de educação que irão seguir. Não cabe a nenhuma instituição determinar tal
assunto. É garantido que todo cidadão tem de definir e decidir, a partir de condições
dignas de vida, para poder receber e entender uma informação e educação,
promovidas pelo Estado, sobre constituir família, ter um ou mais filhos ou não ter
filhos.
Insta salientar que o princípio da paternidade responsável está relacionado ao
princípio da dignidade humana. Logo, havendo a prole, é dever dos pais dedicar-
lhes uma criação digna, propiciando-lhes todo o apoio necessário, seja ele material
ou imaterial, visando sempre garantir todos os direitos que lhes competem.
Assim sendo, o princípio aludido tem como escopo orientar a entidade familiar
sobre a formação da prole, que será de livre escolha do casal, não obstante, uma
escolha consciente; pois se o desejo for ter filhos, terá para com cada um deles a
responsabilidade de propiciar o pleno desenvolvimento pessoal pelo tempo que lhe
for necessário.

3.1.3 Dano Moral decorrente da vulneração do princípio da afetividade

45
BRASIL. Constituição (1988). Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do
Estado. § 7º - Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável,
o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos
educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte
de instituições oficiais ou privadas.  Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9278.h
tm> Acesso em 10 jan. 2015.
46
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher
assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros e responsáveis pelos encargos da
família. § 2º O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar
recursos educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção
por parte de instituições privadas ou públicas. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 10 jan. 2015.
33

É de suma importância para o desenvolvimento da criança a afetividade dos


pais. È necessário que os progenitores se façam presentes nas formação de seus
filhos, dando-lhes amor, carinho, atenção e todo amparo necessário para que a prole
possa enfrentar todos os obstáculos de sua vida a fim de se tornar uma pessoa sem
inseguranças e traumas.
Entretanto, Arnaldo Rizzardo47 elucida que:

A realidade que vai se ampliando revela a existência cada vez maior de


famílias compostas de um dos pais com os filhos, realçando a
predominância da mãe e dos filhos; evidencia o fenômeno da ausência dos
pais no dia a dia dos filhos, em face da necessidade de desenvolver funções
remuneradas; e ostenta não raramente um amadurecimento e uma
liberação precoce da criança e do adolescente, o que é favorecido pela
intensa desilusão dos meios de comunicação e pelo prematuro regimento
de semi-internato em creches e casas de acolhimentos de crianças.

Mediante a esta realidade, fica nítido os prejuízos dos filhos quando privados
na convivência com os pais. A violação deste direito, gera em maior ou menor grau,
frustrações e carências, que vão impactar negativamente na formação dessa
criança. Tal princípio está previsto no artigo 19 do Estatuto da Criança e do
Adolescente. 48
Um dos direitos da criança é a convivência com seus progenitores, ainda que
os mesmos estejam separados, há de se manter a obrigação de convivência. Os
progenitores deverão estipular datas e horas marcadas, com o fito de acompanhar o
desenvolvimento da prole, sendo indispensável à afetividade, o carinho, a atenção,
participando assim na vida da criança e assegurando-lhe sua integridade física,
psicológica e moral.
Podemos considerar como dano moral, o vexame, a humilhação que
ultrapasse a normalidade e atinja diretamente o psicológico, causando a pessoa
angústia, aflição e desequilíbrios no seu bem-estar. Sendo assim, dano moral não é
aquele que não denigre bens materiais, mas sim aquele que lesiona seu caráter
subjetivo, acarretando prejuízos em seu bem estar. 49

47
RIZZARDO, Arnaldo. Op. Cit. p. 688.
48
BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Art 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser
criado e educado no seio da sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de
substâncias entorpecentes. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 10 jan. 2015.
49
RIZZARDO, Arnaldo. Op. Cit. p. 690.
34

É importante dizer que as relações afetivas familiares são fundamentais para


o pleno desenvolvimento do ser humano, pois a família é a base do seu modelo de
personalidade. Será através dos pais, que a criança criará seus valores e assim
desenvolver sua personalidade. É dever dos pais dar apoio moral e psíquico aos
filhos, além de todo o sustento material.
Dessa forma, sendo a convivência com seus pais um direito da criança e
estando a afetividade em acordo com o principio da dignidade da pessoa humana e
da proteção integral dos filhos, não resta dúvida que é possível à responsabilização
daquele que abandona afetivamente sua prole.
Conforme já aludido no presente trabalho, entende-se que a violação do
principio da afetividade, baseado no princípio da dignidade da pessoa humana, é
passível de gerar dano moral, ato continuo, este merece ser reparado.

3.2 ABANDONO AFETIVO DO FILHO

Conforme já exposto no presente trabalho, entende-se que a família nos dias


de hoje é entendida como um grupo social formada em sua essência por laços de
afetividade. Essa afetividade é fundamental para que haja respeito às peculiaridades
de cada individuo da família, preservando a dignidade de todos. Nesse contexto,
entende Maria Berenice que o afeto deve ser considerado um direito fundamental. 50
Entende João Batista51 que:

[...] as relações de família, formais ou informais, indígenas ou exóticas,


ontem como hoje, por muito complexas que se apresentem, nutrem-se,
todas elas, de substancias triviais e ilimitadamente disponíveis a quem delas
queira tomar: afeto, perdão, solidariedade, paciência, devotamento,
transigência, enfim, tudo aquilo que, de um modo ou de outro, possa ser
deduzido à arte e à virtude do viver em comum.

Diante do que fora dito, observa-se que o abandono afetivo nada mais é do
que a atitude omissiva no cumprimento dos deveres decorrentes do poder familiar,

50
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011.
51
VILLELA, João Baptista. As novas relações de família. In: Anais da XV Conferência Nacional da
OAB. Foz do Iguaçu, set. 1994, p. 645. Disponível em:< http://www.oab.org.br/editora/pdf /Revista
OAB_91.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2015.
35

nos quais podemos elucidar: prestar assistência, atenção, afeto, carinho e


orientação.
O abandono afetivo dos pais não ocorre apenas quando estes se ausentam
fisicamente ou moralmente na vida do filho, mas também, quando o pai, ainda que
haja coabitação entre eles, não dá ao filho o mínimo de afeto e atenção que ele
precisa. O abandono consiste na indiferença afetiva dispensada por um genitor a
sua prole, o que acaba gerando um descontrole familiar, sendo necessário,
solucionar os desajustes por meio de terapias e especialistas.
Em abril de 2012, o julgamento do RESP 1.159.242/SP, trouxe uma adoção
definitiva a cerca da indenização por danos morais em face do abandono afetivo. A
ilustre relatora Nancy Andrighi52 consignou que o abandono afetivo constitui
descumprimento do dever legal de cuidado, criação, educação e companhia, que
está amparado pelo artigo 22753 da Constituição Federal, sendo omisso estes
parâmetros entende-se que caracteriza ato ilícito sendo passível de compensação
pecuniária.
Nesse sentido, a renomada relatora afirma que o sofrimento imposto ao filho
deve ser recompensado financeiramente. A orientação dos pais é fundamental na
formação dos filhos, sendo de suma importância que o individuo cresça com apoio,
cooperação, assistência e amor dos seus genitores.
É importante esclarecer que não se pode obrigar que o pai tivesse amor pelo
seu filho ou que de amor a ele, mas é necessário que o mesmo se faça presente da
vida do menor, pois esse abandono afetivo sentido pela criança pode trazer um
sentimento de rejeição e assim provocar consequências graves no futuro, sejam
psicológicas e emocionais. No entanto, o pai não pode negligenciar aos filhos os
deveres inerentes a sua função de pai. Assim, explica Rodrigo da Cunha Pereira 54:

52
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp 1.159.242 – SP. Recorrente: Antonio Carlos Jamas dos
Santos. Recorrido: Luciane Nunes de Oliveira Souza. Relatora: Min. Nancy Andrighi. Julgado em 24
de abril de 2012. Disponível em:< https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ ita.asp?
registro=200901937019> Acesso em: 12 jan. 2015.
53
BRASIL. Constituição (1988). Artigo 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar
à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9278.htm> Acesso em 5 jan. 2015.
54
PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Nem só de pão vive o homem: responsabilidade civil por abandono
afetivo. IBDFAM. Disponível em: <HTTP://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=392>. Acesso em 15
mar 2015.
36

[...] não é possível obrigar ninguém a amar. No entanto a esta desatenção e


a este desafeto devem corresponder uma sanção, sob pena de termos um
direito acéfalo, um direito vazio, um direito inexigível. Se um pai ou mão não
quiserem, dar atenção, carinho e afeto àqueles que trouxeram ao mundo,
ninguém pode obriga-los, mas a sociedade cumpre o papel solidário de lhes
dizer, de alguma forma, que isso não está certo e que tal atitude pode
comprometer a formação e o caráter dessas pessoas abandonadas
afetivamente.

A questão se torna relevante, leva-se em conta a natureza dos deveres


jurídicos do pai para com o filho e o alcance do princípio jurídico da afetividade,
entendendo que não se pode obrigar que as pessoas tenham amor ou afeto pela
outra, todavia não cumprindo o pai com seu respectivo papel, o mesmo deve ser
punido por este ato. Tendo em vista que o direito não trata propriamente dos
sentimentos, mas das consequências decorrentes, entende-se que haverá uma
sanção pelo descumprimento das obrigações paternas.
Não cabe ao Estado forçar que os genitores a amem seus filhos, no entanto,
compete-lo responsabiliza-los pelos seus atos de omissão.
37

4 RESPONSABILIDADE CIVIL E A INDENIZAÇÃO

Trataremos nesse capitulo o que diz respeito a responsabilidade civil, os


pressupostos formais desta, a analise dos elementos que compõem a
responsabilidade. Discorreremos sobre a responsabilidade civil dos pais, os danos
extrapatrimoniais ao dever de indenizar, e nesta mesma seara abordaremos sobre o
valor da indenização.

4.1 RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil surgiu de uma necessidade da sociedade conseguir


manter um equilíbrio perante um prejuízo causado a outrem, não poderia o agente
causador do dano ficar isento às consequências de seus atos, bem como quem
sofreu tal dano retornar ao status quo.55
Entende-se que a responsabilidade civil advém da violação de uma norma
jurídica, que gera a obrigação de indenizar aquele que fora lesionado pelo ato
danoso do causador. Nesse sentido, leciona Maria Helena Diniz 56:

Responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa


a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiro em razão de ato por
ela mesmo praticado, por pessoa por quem responda, por algo que a
pertença ou de simples imposição legal.

Dessa forma, ratifica-se que a responsabilidade civil é a obrigação imposta


pela lei de reparar o dano causado ao outro, seja pela não execução de uma
obrigação nascida de um contrato, denominada responsabilidade contratual, seja por
um ato danoso praticado com ou sem intenção de prejudicar, ensejando o dolo e
culpa.
Dentro do direito de família, a responsabilidade civil, é uma questão polemica
e controversa, pois não se sabe ao certo até que ponto o Poder Público pode e deve
interferir nas relações familiares.
Conforme já abordado, o novo modelo de família fez com que surgissem
novos questionamentos e um deles é a questão da responsabilidade civil no direito
de família. Há uma grande divergência e pensamentos que conflitam.
55
VENOSA, Silvio de Saldo. Direito Civil: responsabilidade civil. Vol. 6. São Paulo: Altas, 2006.
56
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. Vol. 7. São Paulo: Saraiva, 2005.
38

A doutrina majoritária entende que ninguém pode ser considerado culpado


por deixar de amar, sendo descabido ser imposta a obrigação de indenizar pelo fim
do afeto. Moacir César Pena Júnior 57 entende que não deve haver indenização
pecuniária pelo fim de uma relação de afeto, visto que o amor não tem valor a ser
mesurado.
Em sentido contrário, Maria Berenice Dias diz58:

Há uma acentuada tendência de ampliar o instituto da responsabilidade civil.


O eixo desloca-se do elemento do fato ilícito para, cada vez mais,
preocupar-se com a reparação do dano injusto. O desdobramento dos
direitos de personalidade faz aumentar as hipóteses de ofensa a tais
direitos, ampliando-se as oportunidades para o reconhecimento da
existência de danos. A busca de indenização por dano moral transformou-se
na panaceia para todos os males. Visualiza-se abalo moral diante de
qualquer fato que possa gerar algum desconforto, aflição, apreensão ou
dissabor. Claro que essa tendência acabou se alastrando até as relações
familiares. A tentativa é migrar a responsabilidade decorrente da
manifestação de vontade para o âmbito dos vínculos afetivos, olvidando-se
que o direito das famílias é o único campo do direito privado cujo objeto não
é a vontade, é o afeto. Como diz João Baptista Villela, o amor está para o
direito de família assim como o acordo de vontades está para o direito dos
contratos. Sobe esses fundamentos se está querendo transformar a
desilusão pelo fim dos vínculos afetivos em obrigação indenizatória .

Percebe-se assim, que ainda não há um consenso quanto à responsabilidade


civil no direito de família.
Nesse momento, adentraremos no que diz respeito aos elementos da
responsabilidade civil, para que assim possamos entender um pouco mais acerca do
tema.
De uma forma clássica e tradicional, a responsabilidade civil extracontratual é
analisada através de três pressupostos bem definidos, quais seja: o ato ilícito; o
dano; e o nexo causal.
Atualmente, na responsabilidade civil, entende-se que nem todo ato ilícito
acarretará em dano, para que isso ocorra é necessário que o dano esteja contido no
âmbito da função de proteção assinada, é importante que o dano verificado seja
resultado da violação de um bem protegido.

57
PENA JÚNIOR, Moacir César. Direito das pessoas e das famílias: doutrina e
jurisprudência. São Paulo: Saraiva, 2008, p.27.
58
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2011, p.118.
39

4.1.1 Pressupostos formais da responsabilidade civil

Conforme já exposto anteriormente, abordaremos abaixo, os pressupostos


formais da responsabilidade civil, denominados: culpa; dano; e nexo causal.

4.1.1.1 Culpa

Podemos fundamentar a responsabilidade civil, com base no artigo 186 do


Código Civil59, onde versa que: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária,
negligencia ou imprudência, violar o direito e causar dano a outrem, inda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Retirar-se do mesmo dispositivo os elementos gerais da responsabilidade
civil: conduta humana, dano e nexo causal.
A culpa, em sentido estrito, é formada, conforme previsão do aludido
dispositivo, por dois elementos importantes, que é a imprudência e a negligência. A
imprudência percebe-se pela falta de cautela ou cuidado por conduta comissiva. O
agente age com leviandade em determinadas atitudes, ocasionando assim
consequências ilícitas previsíveis, ainda que não pretendidas. Já a negligência é a
falta de cuidado por conduta omissiva, o sujeito se omite em relação as precauções
necessária para que sua conduta não corrompa o dever ao qual está protegido.
Vale ressaltar o que diz Rui Stocco 60 acerca dos elementos formadores da
culpa:

A culpa pode empenhar ação ou omissão e revela-se através: da


imprudência (comportamento açodado, precipitado, apressado, exagerado
ou excessivo); da negligência (quando o agente se omite deixa de agir
quando deveria fazê-lo e deixa de observar regras subministradas pelo bom
senso, que recomendam cuidado, atenção e zelo); e da imperícia (a atuação
profissional sem o necessário conhecimento técnico ou científico que
desqualifica o resultado e conduz ao dano).

59
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Artigo 186. Aquele que, por ação ou omissão
voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que
exclusivamente moral, comete ato ilícito. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
60
STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007,
p.130.
40

O elemento culpa incide da conduta humana, essencial para a


responsabilidade civil, pois apenas o homem, por si ou por representação de pessoa
jurídica, poderá ser civilmente responsabilizado.
Trata-se a culpa da conduta humana positiva ou negativa, que estabelece a
vontade do agente e acaba por causar prejuízo ou dano.
É importante frisar que é necessária esta conduta, para efeitos de
responsabilização, do elemento subjetivo, que consistente na livre escolha do
agente, como bem leciona Maria Helena Diniz 61:

A imputabilidade, elemento constitutivo de culpa, é atinente às condições


pessoais (consciência e vontade) daquele que praticou o ato lesivo, de
modo que consiste na possibilidade de se fazer referir um ato a alguém, por
proceder de uma vontade livre. Assim, são imputáveis a uma pessoa todos
os atos por ela praticados, livre e conscientemente. Portanto, ter-se-á
imputabilidade, quando o ato advier de uma vontade livre e capaz. Para que
haja imputabilidade é essencial a capacidade de entendimento (ou
discernimento) e de autodeterminação do agente. [grifo nosso]

Deste modo, não há como se responsabilizar, pela prática do ato danoso,


qualquer pessoa, que no momento em que pratica, não tem capacidade de entender
o caráter reprovável de sua conduta, consequentemente, sem existir o elemento
culpa não há que se falar em responsabilização civil.
Ainda no que tange a escolha da conduta, leciona Silvio Rodrigues 62:

Se o dano foi causado voluntariamente, há dolo. Este se caracteriza pela


ação ou omissão do agente, que, antevendo o dano que sua atitude vai
causar, deliberadamente prossegue, com o propósito mesmo de alcançar o
resultado danoso.

Conforme dito anteriormente a conduta humana pode ser classificada em


positiva ou negativa. A primeira versa sobre a atuação positiva, onde o
comportamento ativo do agente causa um dano a outrem, é a ação voluntária. Já na
segunda conduta, é uma atuação negativa, que gera um dano atribuível a este e que
será responsabilizado, chamada omissão voluntária. É previsto no artigo 186 do

61
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil. Responsabilidade Civil. 22. Ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 45.
62
RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Vol. IV. Responsabilidade Civil 20 ed. São Paulo: Saraiva, 2008,
p. 147.
41

Código Civil, que expressa a responsabilidade daquele que “por ação ou omissão
voluntária” acarreta um ato danoso.
Em regra, para que haja o dever de indenizar àquele que causou o dano, a
conduta humana deve vir baseada na ilicitude, ou seja, deve ocorrer uma atuação
contrária ao direto.
Contudo, o doutrinador Gagliano63 pontua que:

Sem ignorarmos que a antijuridicidade, como regra geral, acompanha a


ação humana desencadeadora da responsabilidade, entendemos que a
imposição do dever de indenizar poderá existir mesmo quando o sujeito
atua licitamente. Em outras palavras: poderá haver responsabilidade civil
sem necessariamente haver antijuridicidade, ainda que excepcionalmente,
por força de norma legal.

Levando em consideração o ensinamento acima transcrito, temos que a


ilicitude nem sempre estará de acordo com a conduta humana causadora do evento
lesivo que atingirá a responsabilização do agente. Para melhor entendermos esta
lição, abaixo teremos a exemplificação do mesmo autor 64:

[...] no caso da passagem forçada, o dono do prédio encravado sem acesso


À via pública, nascente ou porto, tem o direito de constranger o vizinhos a
lhe dar passagem, mediante pagamento de indenização cabal (art. 1.258,
CC- 02; art. 559, CC-16). Nesse caso, verifica-se que o vizinho constrangido
poderá responsabilizar civilmente o beneficiário do caminho, exigindo a
indenização cabível, mediante o ajuizamento de ação ordinária, se não
houver solução amigável.

Sendo assim, entende-se que nem sempre a conduta humana estará dotada
de antijuridicidade para que seja passível de atribuição da responsabilidade ao
gerador do ato danoso. Por outro lado, a regra geral funda-se na conduta humana
associada à ilicitude, ainda que haja facilidade de encontrar no ordenamento jurídico
exemplos de responsabilização proveniente de ato lícito, ou seja, comportamento
amparado pela lei.

4.1.1.2 Dano

63
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil.
Responsabilidade Civil. 7 ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 31.
64
Idem. Ibidem, p. 32.
42

O dano é essencial na responsabilidade civil, pois não havendo dano, não há


o que se falar em indenização, nem em ressarcimento. Pode existir responsabilidade
sem culpa, mas não pode haver responsabilidade sem dano.
O dano irá decorrer do dever de indenizar ou ressarcir e poderá derivar tanto
da responsabilidade contratual quanto da extracontratual. O dano é conceituado
como sendo a subtração ou diminuição de um bem jurídico, qual seja sua natureza,
podendo ser um bem patrimonial como um bem que integra a própria personalidade
da vítima. Dessa concepção entende-se a divisão entre dano patrimonial e dano
moral.
É oportuno notar que nem sempre o interesse tutelado será um bem
patrimonial, como bem dito acima, poderá ocorrer em face de um direito ou interesse
personalíssimo. Em sua obra, Pablo Stolze Gagliano 65, tutela sobre os direitos da
personalidade, e diz que:

É muito importante, pois, que nós tenhamos o cuidado de nos despir de


determinados conceitos egoisticamente ensinados pela teoria clássica do
Direito Civil, e fixemos a premissa de que o prejuízo indenizável poderá
decorrer – não somente da violação do patrimônio economicamente aferível
– mas também da vulneração de direitos inatos à condição de homem, sem
expressão pecuniária essencial.

No que se diz sobre a reparação do dano extrapatrimonial, entende-se que a


indenização a ser paga não é mensurada em valores e não tem o escopo de valorar
o sentimento ali demonstrado, mas com o intuito de penalizar o causador do dano
pela sensação experimentada pela vítima.
Em sua obra, Maria Helena Diniz menciona que, a diminuição ou destruição
de um bem jurídico, patrimonial ou moral, pertencente a uma pessoa; a efetividade
ou certeza do dano; a causalidade; a subsistência do dano; a legitimidade e
ausência de causas excludentes de responsabilidade; são os requisitos mínimos
para que seja possível reparar determinado dano.66
O dano pode ser considerado direto ou indireto, entendendo que o primeiro
atinge diretamente o patrimônio da vítima, ele é imediato, ou seja, o dano é
resultado de uma conduta lesiva. Já o dano indireto se dará quando a vitima for
atingida pelo reflexo do dano causado a outrem.
65
GAGLIANO, Pablo Stolze. PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Op. Cit., p. 37.
66
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil. Responsabilidade Civil. 22. Ed. São Paulo: Saraiva,
2008, p. 50.
43

O dano deverá ser certo e real, excluindo assim o dano hipotético.


Desta forma, o dano sempre vai estar ligado a palavra prejuízo, assim quando
não houver o prejuízo não haverá o dever de indenizar, pois a indenização
pressupõe a restituição para que a vitima retorne ao status quo ante. No dano moral,
não será possível que a vitima retorne a esse status, porque se trata de bens
imateriais que estão previsto no plano da subjetividade, portanto o prejuízo no dano
moral será compensado e não reposto.
Assim sendo, sem a ocorrência de um dano – conditio sine qua non para a
responsabilidade civil – patrimonial ou moral, a um bem jurídico tutelado, não será
cabível a aplicação da responsabilidade, devendo ser comprovada a lesão de
maneira inequívoca para que seja possível pleitear o pagamento de indenização
diante do prejuízo.

4.1.1.3 Nexo de causalidade

O nexo de causalidade integra o elemento fundamental da responsabilidade


civil, pois para que possa imputar ao agente a obrigação de indenizar, é preciso que
sua conduta tenha analogia com o dano sofrido pela vítima. Sem o nexo causal não
será admitido à obrigação de indenizar.
Para que se forme o elemento nexo de causalidade, é necessário que haja
uma relação de causa e efeito entre a conduta do agente que é contrário ao dever
jurídico e o dano que alguém sofreu. Se a conduta imputada a alguém não foi a que
ocasionou o dano, não há o que se falar em ato ilícito e nem responsabilização do
agente.
Não podemos confundir causalidade com imputabilidade, pois esta última se
define sendo elemento subjetivo da conduta, e a causalidade é a certificação de que
a conduta imputada foi de fato a ação causadora do dano. Pode ocorrer
imputabilidade sem o correspondente nexo causal, como exemplo: alguém coloca
veneno na bebida a ser tomada por uma pessoa, mas esta, antes da ingestão
causar efeito, vem a falecer em razão de um ataque cardíaco.
44

Para o autor Carlos Roberto Gonçalves 67


existem três teorias referentes ao
nexo causal, são elas: teoria da equivalência da condição ou conditio sine qua non;
teoria da causalidade adequada; e a teoria do dano direito e imediato.
A primeira teoria versa que toda e qualquer circunstância que venha concorrer
para produzir o dano é considerado como causa. A causa pode ser considerada
qualquer condição singular nas hipóteses em que se observa a condição
indispensável para a ocorrência do ato. A condição do agente é sine quo non. Essa
teoria não contempla a responsabilidade objetiva, pois dispensa o elemento da
culpa.
A segunda teoria entende que ocorrendo determinado dano, conclui-se que o
fato que o originou era capaz de lhe dar causa. Se a relação de causa e feito existe
sempre em casos dessa natureza, fala-se que a causa era adequada. Se existiu no
caso uma circunstancia acidental, fala-se que a causa não era adequada.
Para melhor entendermos a aplicação das duas teorias mencionadas,
utilizaremos do exemplo elucidado na obra de Carlos Roberto Gonçalves 68:

[...] “A” deu uma pancada ligeira no crânio de “B”, que seria insuficiente para
causar o menor ferimento num individuo normalmente constituído, mas, por
ser “B” portador de uma fraqueza particular dos ossos do crânio, isto lhe
causou uma fratura de que resultou sua morte. O prejuízo deu-se, apesar de
o fato ilícito praticado por “A” não ser a causa adequada a produzir aquele
dano em um homem adulto.

Nesse sentido, entende-se segundo a teoria da equivalência que a pancada é


uma condição sine qua non do prejuízo causado, e o autor deverá ser
responsabilizado por essa conduta. Já na teoria da causalidade adequada, não
haveria responsabilidade, visto que a conduta que ocasionou a morte não foi a
pancada.
A terceira teoria é o meio termo entre as duas teorias já citadas, ela é
razoável. É necessária que exista entre a conduta e o dano, uma relação de causa e
efeito direta e imediata. Nessa teoria cada agente responde somente pelos danos
que resultam direta e imediatamente de sua conduta. Podemos exemplificar da
seguinte forma: João bate em Paulo lesionando sua perna; Pedro socorrendo Paulo
tem seu carro atingido por outro veículo que está sendo conduzido por Plínio, o
67
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 4. Responsabilidade Civil. 8 ed, São
Paulo: Saraiva, 2013, p. 356.
68
Idem. Ibidem, p. 357.
45

mesmo esta alcoolizado; com a violência da colisão Paulo sofre escoriações na


cabeça, chegando ao hospital ele não resiste ao ferimento e vem a óbito. Nesse
caso João será responsabilizado somente pelo ferimento da perna, pois este foi o
único dano que ele causou.
Dentre as teorias apresentadas, nosso ordenamento adotou a teoria do dano
direto e imediato, e sua previsão encontra-se expressa no artigo 403 69 do Código
Civil.
O nexo causal é considerado fundamento indissociável para
responsabilização civil de alguém em face do dano ocasionado por sua conduta.
Entretanto, há fatos que interferem no acontecimento ilícito e acabam excluindo a
responsabilidade do agente. As principais excludentes que rompem o liame
causalidade são: o estado de necessidade; a legitima defesa; a culpa da vitima;
culpa de terceiro; força maior ou caso fortuito; e clausula de não indenizar. 70

4.2 ANÁLISE DOS ELEMENTOS QUE COMPÕEM A RESPONSABILIDADE CIVIL

Diante da polêmica existente acerca do tema, Aline Karow, com fundamento


no entendimento de Fernando de Noronha, adota elementos que podem nos trazer o
discernimento a respeito dos componentes da responsabilidade civil. No caso de
abandono afetivo será abordado os componentes da seguinte forma: a) que haja um
fato antijurídico; b) que seja imputável a alguém; que tenha produzido danos; que
tais danos possam ser juridicamente considerados causados pelo ato ou fato
praticado; e e) que o dano esteja contido no âmbito da função de proteção
assinada.71
Dessa forma, será esmiuçado cada elemento acima citado para melhor
compreensão do assunto.
Iniciamos, falando sobre a existência de um fato, esse fato pode ser
entendido pela conduta omissiva de um dos genitores que de alguma maneira priva
o filho de sua convivência junto a ele, acarretando problemas emocionais, além
69
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002.Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do
devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela
direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
70
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. Vol. 4. Responsabilidade Civil. 8 ed, São
Paulo: Saraiva, 2013, p. 360.
71
NORONHA, Fernando. Apud KAROW, Aline Biasuz Suarez. Abandono Afetivo: valorização
jurídica do afeto nas relações paternos filiais. Curritiba: Juruá, 2012, p.218-219.
46

disso, ter uma conduta comissiva, onde um dos genitores tem atitudes irrelevantes,
como desprezo, humilhação, desamor, essas atitudes levam a um desamparo
afetivo moral e psíquico. Esse fato deve ser antijurídico, onde um dos genitores não
cumpre com o dever de cuidar e proteger o filho, acarretando em problemas futuros.
Em seguida, que possa ser imputado a alguém, em regra essa fato só poderá
ser imputado a um dos genitores, ainda que o genitor for por adoção. Haverá casos
em que desincumbindo o genitor da sua função e transferindo para outro essa
responsabilidade, entende-se que só haverá responsabilização se a guarda tiver
sido formalizada. Estes casos, também podem ser vistos quando um parente ou
terceiro solicita a guarda judicial daquele menor, entretanto, negligencia nos seus
cuidados a ponto de realmente abandoná-lo e não obtém a revogação da guarda.
Ainda que haja situação de guarda de fato, por parte de terceiros, esta não foi
juridicamente retirada dos genitores, e nem chancelada pelo poder judiciário, não
podendo assim gerar obrigações a terceiros. Isto porque quem assume a guarda
formal de uma criança está atribuindo a si as funções inerentes à educação, criação,
desenvolvimento físico e emocional da criança, assumindo a figura do genitor ou
genitora; portanto, trás para si todas as incumbências daqueles, inclusive a
obrigação afetiva.72
Podemos observar também a necessidade da produção dos danos causados,
perante a conduta apresentada é preciso que a criança tenha sofrido danos em sua
personalidade, na origem de sua dignidade. Este dano torna-se mais grave no
momento do desenvolvimento da personalidade, período em que necessita de
modelos de comportamento e ainda impressões de afeto que lhe transmitam direção
e segurança para que venha a se desenvolver plenamente. Já que na ausência a
maioria dos casos manifesta comportamentos psíquicos alterados diagnosticadas
clinicamente.
Outro elemento necessário é que esses danos possam ser juridicamente
considerados como causados pelo ato ou fato praticado: confere aqui o nexo causal,
a conduta do genitor causou ao menor os danos alegados, as máculas na
personalidade e ou psicopatias. Necessário que estas estejam estritamente ligadas
à conduta omissiva ou comissiva dos genitores, excluindo-se que o dano advenha
de outras situações que possam ser diagnosticada. Nota-se que os danos sofridos

72
KAROW, Aline Biasuz Suarez. Op. Cit. p.220
47

em tenra idade são irreparáveis, uma vez que geram sequelas na personalidade
acompanhadas de distúrbios emocionais.73
Por fim, que o dano esteja contido no âmbito da função de proteção assinada,
isto é, exige-se que o dano verificado seja resultado da violação de um bem
protegido. Sendo assim explica Aline Karow74:
[...] aqui se vislumbra que o dano sofrido pelo menor deve ser o objeto
jurídico tutelado pelo ordenamento jurídico. Os fundamentos que criam uma
redoma em torno do objeto jurídico tutelado são compostos de várias
legislações, desde a Convenção dos Direito da Criança, o Estatuto da
Criança e do Adolescente e o próprio Código Civil, tanto no que verte aos
deveres do poder familiar, ainda quanto às garantias de desenvolvimento da
personalidade sem lesão ou ameaça à mesma. Igualmente a Constituição
Federal, quando estabelece como um dos fundamentos do Estado
Democrático de Direito o princípio da dignidade da pessoa humana. Este
inevitavelmente abrange não apenas regras ordinárias de proteção ao
menor e garantias de pleno desenvolvimento da criança, atribuição de
cuidados e deveres aos que detêm o poder familiar, senão que também
regra constitucional, quando estabelece a dignidade da pessoa humana
como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Assim, o
mínimo de dignidade que é exigido para que uma criança possa crescer e
se desenvolver plenamente em sua personalidade é que confira ao menor
não apenas uma parcela da paternidade e/ou maternidade, como sustento,
senão que também a educação, nela compreendida o apoio moral e afetivo,
caminhando para o desenvolvimento de um cidadão completo.

Tais são os cinco elementos da responsabilidade civil. Os dois primeiros


referem-se ao fato gerador da responsabilidade; os outros três, ao próprio dano
causado. O fato causador da responsabilidade terá, assim, de ser antijurídico e
deverá poder ser imputado a alguém; o dano, por sua vez, há de ser efetivo e
deverá ter sido causado pelo fato gerador; além disso, o dano deverá constituir lesão
de um dos bens que a ordem jurídica queria proteger.

4.3 DA RESPONSABILIDADE CIVIL DOS PAIS

Os pais são responsáveis pelos atos praticados por seus filhos menores de
idade e respondem pelos danos causados por seus filhos, que estejam submetidos a
seu poder familiar.

73
KAROW, Aline Biasuz Suarez. Op. Cit., p. 220.
74
Loc. Cit.
48

Prevê o artigo 93275 do Código Civil que os pais são responsáveis pelos filhos
menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia. Ter o filho sob sua
autoridade significa dizer que o mesmo está sob o teto dos pais, de modo que
possibilite o poder de direção dos pais sobre o menor e sua eficiente vigilância.
Entende-se aqui, que a autoridade está relacionada ao titular do poder familiar,
ainda que não detenha a guarda do filho menor, no caso de pais separados. Exige-
se o requisito de o menor estar em companhia do pai ou mãe, que é suposta sempre
que estes sejam casados ou vivam em união estável. Para pais separados, o
requisito da companhia depende de prova, para verificar se o menor causou o dano
quando estava com o guardião ou com o outro no exercício do direito de visita.
A responsabilidade dos pais independe de culpa conforme previsão no artigo
93376 do Código Civil. Restando-se comprovado o ilícito do menor,
independentemente de culpa do pai, a responsabilidade do dano recairá sobre o pai.
Sob o entendimento do STJ, podemos verificar que a responsabilidade civil
dos pais se assenta na presunção relativa de culpa, culpa esta pela vigilância, que
será afastada caso fique demonstrado que os pais não agiram de forma negligente
no dever da guarda.

4.4 DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS AO DEVER DE INDENIZAR

A indenização por danos extrapatrimoniais é nova na doutrina e jurisprudência


se considerado que a promulgação da Constituição de 1988 não abordava a
discussão do debate.
Os danos extrapatrimoniais estabeleceram uma divergência no direito
brasileiro, numa primeira ocasião à doutrina ensinava a matéria e se posicionava

75
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 932. São também responsáveis pela reparação
civil: I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia; II - o
tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas condições; III - o
empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e prepostos, no exercício do trabalho que
lhes competir, ou em razão dele; IV - os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos
onde se albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e
educandos; V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a concorrente
quantia Código Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compil
ada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
76
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do
artigo antecedente, ainda que não haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos
terceiros ali referidos. Código Civil. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l1
0406compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
49

favorável a sua concessão; todavia, a jurisprudência entendia por negar, sob o


fundamento de o menor ser inestimável.
Posteriormente a chegada da Constituição de 1988, estabeleceu-se a
possibilidade de danos extrapatrimoniais, expressamente, através do dano moral, no
art, 5º, V e X, assim a jurisprudência passou a rever sua posição.
Em seguida, após breve análise constitucional, o dano extrapatrimonial
passou a fazer parte do cotidiano forense, sendo requerido cada vez em que
situações adversas e inusitadas chegavam aos tribunais.
No que se refere à indenização, nota-se que, não basta apenas a
circunstância fática do abandono afetivo, senão que a mesma deve ser plausível de
ser comprovada e os atos contumazes devem ser aptos a gerarem sequelas
psíquicas a criança, acarretando prejuízos imensuráveis a sua pessoa. 77
É importante ressaltar que, a propositura da ação judicial somente será
cabível para aqueles cônjuges que se separam ou divorciam e não mais convivem
sob o mesmo teto. Não é possível requerer a demanda indenizatória em desfavor
daquele genitor que, contudo reside com a família, pois há certa dificuldade em
demonstrar a omissão.78
Para que fique configurada a ausência da figura materna ou paterna e esta
venha a ser indenizável, é necessário que não exista na vida da criança outro
individuo que supra essa função da figura paterna ou materna, pois, o dano se
configurará em função da ausência do paradigma, da direção, do acompanhamento
do desenvolvimento da personalidade, psíquico e emocional. Logo é coerente que o
encargo não seja assumido por outra pessoa, podendo ser causa de exclusão da
responsabilidade civil, pois se, a carência afetiva do menor é preenchida em face de
uma terceira pessoa, evitando-se os danos, não há sentido de pleitear o litígio. O
intuito da responsabilidade civil hodierna pende de forma básica para a reparação do
dano injusto, não havendo dano, não há que se falar em reparação. 79
Contudo, este novo indivíduo, estranho ao menor e que agora passa a ser
parte da família, não possui a função e nem a incumbência de maximizar ou
preencher as lacunas de abandono deixadas por quem deveria cuidá-las. Desta
forma constata-se em alguns casos que a;. figura deste novo ente, até então

77
KAROW, Aline Biasuz Suarez. Op. Cit., p. 310.
78
Idem. Ibidem, p. 311.
79
Idem. Ibidem, p. 312.
50

estranho, somente reflete a ausência do genitor. É por este motivo que se faz de
suma importância o laudo psicológico do filho, como forma de garantir a situação
emocional do menor. Portanto, se não demonstrado dano, em face do magnífico
trabalho realizado por aquele ente substituto, não há que se falar em reparação civil;
entretanto, se por conta desse ente, os danos causados sejam maiores, o melhor a
ser feito será a busca da reparação.80
Os atos predispostos a gerar o dever de indenizar, são aqueles praticados por
um dos genitores, tal como não visitar o menor nos dias designados, não manter
nenhum tipo de comunicação seja por telefona; ou por mensagem, não se preocupar
com datas comemorativas como por exemplo aniversário, natal; não comparecer a
eventos previamente agendados sem ao menos se justificar de forma plausível;
combinar de ver o menor e não comparecer; não se sensibilizar com o aniversario
do menor, não se fazendo presente nesse dia e ainda sim não presentea-lo de
alguma forma; não passar férias e feriados com o menor, que seja ao menos uma
semana; não trata-lo de forma igual perante os demais filhos de outros
relacionamentos; não comparecer a festas escolares, como homenagem aos pais,
festa de encerramento; não fazer questão de ficar com o menor, esquecendo da
existência do mesmo; ficar anos sem ao menos ligar. Há de se levar em
consideração que estando o genitor na presença do menor, o mesmo não deverá
trata-lo de forma inescrupulosa, tratando-o mal, agredindo-o verbalmente,
denegrindo sua imagem, fazer com o que o menor se sinta menosprezado, tendo
sua autoestima baixa, enfim, atos capazes de não criar um elo de comprometimento
emocional com o menor.81
Ainda que a reparação civil por abandono afetivo de forma geral trate de
danos extrapatrimoniais, poderá englobar os danos com consequências
patrimoniais. Em algumas situações pode haver a condenação a custeio de
medicamentos antidepressivos, ansiolíticos, bem como tratamento psicológico e
terapêutico da criança, por causa do abandono afetivo.
No que tange a reparação civil por abandono afetivo, percebe-se que há na
verdade muito mais do que dano moral e sim dano ao projeto de vida. A criança ou
adolescente vitimado, por melhor que seja a excelência dos tratamentos
80
KAROW, Aline Biasuz Suarez. Op. Cit., p. 313.
81
CALDERÓN, Ricardo Lucas. Princípio da afetividade no direito de família. Rio de Janeiro:
Renovar, 2013, p. 135.
51

psicológicos e terapêuticos e ainda que lhe seja fornecida medicações, no caso de


patologias, nunca poderá suprir completamente as lacunas emocionais em face da
omissão de seu genitor. Essa lacuna deixada por um de seus genitores lhe
acompanhará por toda vida, muitas vezes fracassando em parte no seu projeto de
vida. 82

4.5 O VALOR DA INDENIZAÇÃO

O direito brasileiro reconhece o princípio da reparação integral, onde a vítima


que sofre o dano deve ser indenizada em sua totalidade pelo dano sofrido. O
ressarcimento só não ocorrerá quando: for impossível a reposição ou reparação do
bem; não for suficiente para reparação integral dos danos; ou for excessivamente
onerosa para o devedor.
Sendo assim, o caput do art. 944 83 reporta o que já pairava no atual
ordenamento jurídico, ou seja, o dever de indenizar deve envolver a totalidade do
dano sofrido, manifestando o consagrado princípio da reparação integral.
Nesse sentido, declara Augustinho Alvim84:

“É certo que a maior ou menor gravidade da falta não influi sobre a


indenização, a qual só se medirá pela extensão do dano causado. A lei não
olha para o causador do prejuízo a fim de medir-lhe o grau de culpa e, sim,
para o dano, a fim de avaliar-lhe a extensão.”

É importante dizer que no aludido artigo, observa-se que o principio da


reparação integral veio mitigado pela novidade inserida em seu parágrafo único,
onde existe a chance de reduzir a quantia quando houver desproporção descomunal
entre o dano e o grau de culpa do agente.
De tal modo a regra é da reparação integral com fundamento na extensão do
dano, porém em situações extraordinárias, dispensa-se ao juiz a capacidade de
ponderar também o grau de culpa.

82
SESSAREGO, Carlos Fernandes. In: Protecion a La persona humana. Revista Ajuris, n. 56. Porto
Alegre, 1992, p. 87-142.
83
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do
dano. Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano,
poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 5 jan. 2015.
84
ALVIM, Augustinho. Da inexecução das obrigações e suas consequências. 4 ed. São Paulo:
Saraiva, 1972, p. 1999.
52

Ressalta-se ao esmiuçar o citado artigo, o legislador procurou fazer com que viesse
a cobrir o dano sofrido; entretanto, apesar desta indenização dar a reparação
integral à vítima, não poderá punir o agente de forma exagerada, e isto ocorre
quando existe uma desproporção entre a gravidade da culpa e o dano.
Dessa forma, fica esclarecido que nosso ordenamento não adotou a teoria de
indenização punitiva da pena privada, percebe-se que o fim é indenizar a vítima de
acordo com seu dano, porém, é necessário que haja uma proporcionalidade com o
grau de culpa do agente. Não há o que se falar em uma indenização elevada que
extrapole o dano sofrido a fim de que o agente seja punido, devendo haver uma
ponderação.
O Superior Tribunal de Justiça, para determinar o valor da indenização no
caso de abandono afetivo, não especificou claramente quais critérios utilizados para
justificar a fixação da indenização, mas Maria Celina de Bodin Moraes 85 declarou:

“Enfim, o magistrado deve justificar detalhadamente a sua decisão,


especificamente no que diz respeito à determinação da verba indenizatória. A
decisão precisa será adequadamente motivada, para que, tanto quanto
possível, se reduza o alto nível de subjetivismo constante das decisões
judiciais que hoje se vem proferindo em matéria de dano moral. Motivação,
sublinhe-se, especificamente, do quantum debeatur. Só a sua fundamentação
lógico-racional permitirá que se construa um sistema de indenização justo, do
ponto de vista da cultura do nosso país e do nosso tempo.”

Assim sendo, observa-se então que o juiz adaptará o valor da indenização ao


caso concreto, de forma motivada utilizando-se de analogia e de fundamentação
lógico-racional, adequando o dano sofrido pela criança com o grau de culpa de seu
genitor.
Vale ressaltar também que embora a indenização por danos morais
decorrentes do abando afetivo seja um problema que ainda não tenha sido
pacificado pelos tribunais, há vários precedentes julgados de forma favoráveis a
possibilidade de indenizar os filhos abandonados, o que trataremos no próximo
capítulo.

85
MORAES, Maria Cecilia Bodin de. A família democrática. In: PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coor.)
V Congresso Brasileiro de Direito de Família. São Paulo: IOB Thompson, 2006, p. 334.
53

5 POSICIONAMENTO DOS TRIBUNAIS A RESPEITO DO ABANDONO AFETIVO

A primeira decisão acerca do aludido tema foi proferida pelo juiz Mario
Romano Maggioni, no dia 15.09.2003, na 2ª Vara da Comarca de Capão da Canoa –
RS86. No ocorrido, o pai foi condenado ao pagamento de 200 salários-mínimos de
indenização por dano moral, em razão de ter abandonado afetivamente e
moralmente a filha de nove anos de idade.
O magistrado, na fundamentação de sua decisão, tomou como prioridade os
deveres decorrentes da paternidade, elencados no art. 22 87 da Lei n.º 8.069/90,
dispondo que:

[...] aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
(art. 22, da lei nº 8.069/90). A educação abrange não somente a
escolaridade, mas também a convivência familiar, o afeto, amor, carinho, ir
ao parque, jogar futebol, brincar, passear, visitar, estabelecer paradigmas,
criar condições para que a criança se auto-afirme”. 88

Além disso, enfatizou as consequências negativas que decorrem do


abandono afetivo dos pais, considerando que:

“a ausência, o descaso e a rejeição do pai em relação ao filho recém-


nascido, ou em desenvolvimento, violam a sua honra e a sua imagem.
Basta atentar para os jovens drogados e ver-se-á que grande parte deles
derivam de pais que não lhes dedicam amor e carinho; assim também em
relação aos criminosos.”89

86
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Processo n.º 141/1030012032-0. Autor: D. J. A.
Réu: D. V. A. Sentença Procedente. Integra da decisão na Revista Brasileira de Direito de Família,
Porto Alegre, v. 6, n. 25, ago/set 2005, p. 151-160. Disponível em:< http://www.ibdfam.org.br/>
Acesso em: 15 jan. de 2015.
87
BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 10 jan. 2015.
88
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Processo n.º 141/1030012032-0. Autor: D. J. A.
Réu: D. V. A. Sentença Procedente. Integra da decisão na Revista Brasileira de Direito de Família,
Porto Alegre, v. 6, n. 25, ago/set 2005, p. 151-160. Disponível em:< http://www.ibdfam.org.br/>
Acesso em: 15 jan. de 2015.
89
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Processo n.º 141/1030012032-0. Autor: D. J. A.
Réu: D. V. A. Sentença Procedente. Integra da decisão na Revista Brasileira de Direito de Família,
Porto Alegre, v. 6, n. 25, ago/set 2005, p. 151-160. Disponível em:< http://www.ibdfam.org.br/>
Acesso em: 15 jan. de 2015.
54

Nota-se de forma oportuna, que o Ministério Público, intervindo no feito por se


tratar do interesse de menores, por meio da promotora De Carli dos Santos, se
manifestou de forma contrária à admissibilidade da indenização no caso de
abandono afetivo, por entender que não compete ao judiciário condenar alguém ao
pagamento de indenização por desamor. Não obstante, em que pese tais alegações,
a sentença foi julgada procedente, transitando em julgado em razão do réu não ter
interposto recurso sendo considerado revel no processo.
Nesse ínterim, analisaremos a decisão do TJPR assim ementada:

I - APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS


DECORRENTE DE ABANDONO AFETIVO. SENTENÇA QUE JULGA
IMPROCEDENTE O PEDIDO INICIAL SOB O FUNDAMENTO DE
AUSÊNCIA DE ATO ILÍCITO. II - CERTIDÃO NO DISTRIBUIDOR ONDE
CONSTA DIVERSAS AÇÕES DE ALIMENTOS AJUIZADAS PELA
AUTORA. III - ATO ILÍCITO CARACTERIZADO. DIREITO DA CRIANÇA E
DO ADOLESCENTE À CONVIVÊNCIA FAMILIAR. ART. 227 DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA. IV - DANO MORAL. DEVER DE INDENIZAR. PRECEDENTES
DESTE TRIBUNAL. V - VALOR DA INDENIZAÇÃO FIXADO EM
R$5.000,00. VI - RECURSO PROVIDO. 90

Neste julgado, a autora ajuizou ação de indenização por danos morais,


representada por sua genitora, declarando que o abandono por parte de seu genitor
lhe gerou grandes transtornos, tais como angústia, sofrimento, dor, humilhação e
aflição.
O magistrado, de primeiro grau, entendeu pela improcedência do pedido,
fundamentando sua decisão na inexistência de um ato ilícito, vez em que não cabe
ao Estado forçar que uma pessoa tenha laços afetivos com outra e, tão pouco,
competiria a este suprir a falta do sentimento com uma reparação pecuniária.
A autora recorreu à segunda instância, sustentando que, o ato ilícito se deu
em virtude do distanciamento proposital do pai para com sua filha, restando-se
assim violados o direito ao estado de filiação e os princípios da paternidade
responsável e da afetividade.
Desta forma, o Tribunal acolheu o recurso e deu provimento à apelação cível,
fundamentando que o próprio pai reconheceu o distanciamento de sua filha e do

90
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Apelação Cível - 768524-9. Apelante: Pâmela
Aline de Souza dos Santos. Apelado: Adauto Messias Dos Santos. Rel.: Jorge de Oliveira Vargas -
Unânime - - J. 26.01.2012. Disponível em:< https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/11232788/A c
%C3%B3rd%C3%A3o-768524-9#integra_11232788>. Acesso em: 20 jan 2015.
55

direto à convivência familiar previsto no art. 227 91 da Constituição Federal, cabendo


aos pais o dever de assistir, alimentar, educar e amparar seus filhos. Asseverou,
acertadamente, que o desprezo do pai pela filha fere o princípio fundamental da
dignidade da pessoa humana.
Temos aqui mais uma decisão favorável ao tema, que foi proferida pelo
magistrado Luis Fernando Cirillo, no dia 05.06.2004, na 31ª Vara Cível do Foro
Central de São Paulo-SP, no qual se reconheceu que, a razoabilidade de um filho
pleitear indenização contra seu genitor por não ter recebido dele afeto, “a
paternidade não gera apenas deveres de assistência material, e que além da
guarda, portanto independentemente dela, existe um dever, a cargo do pai, de ter o
filho em sua companhia”.92
Dando continuidade a sua argumentação, o juiz entendeu que não devem
desenvolver teses no sentido de julgar procedente referidas demandas implicaria
numa valorização do afeto, pois “não tem sentido sustentar que a vida de um ente
querido, a honra e a imagem e a dignidade de um ser humano tenham preço, e nem
por isso se nega o direito à obtenção de um benefício econômico em contraposição
à ofensa praticada contra esses bens”.93
A decisão proferida pela Sétima Câmara Cível do Tribunal de Alçada do
Estado de Minas Gerais merece destaque, pois, seguindo a mesma linha de
raciocínio das decisões supracitadas, reformou a sentença pronunciada pela 19ª
Vara Cível da Comarca de Belo Horizonte - MG, para condenar o pai ao pagamento
de indenização por danos morais no valor de R$ 44.000,00 (quarenta e quatro mil
reais), independentemente do não cumprimento da prestação alimentar, a alegação
de que ficou configurado nos autos o dano à dignidade do menor, provocado pelo
comportamento ilícita do pai que não cumpriu com o dever que a lei lhe impõe de
manter a convivência familiar com o filho.
Podemos encontrar registrada a ementa da seguinte forma:

91
BRASIL. Constituição Federal (1988). Artigo 227. É dever da família, da sociedade e do Estado
assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9278.htm> Acesso em 5 jan. 2015.
92
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. 31ª Vara Cível Central. Processo nº 01.036747-0. Juiz
de Direito Luis Fernando Cirillo. São Paulo, 05.06.2004.
93
BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. 31ª Vara Cível Central. Processo nº 01.036747-0. Juiz
de Direito Luis Fernando Cirillo. São Paulo, 05.06.2004.
56

INDENIZAÇÃO DANOS MORAIS – RELAÇÃO PATERNO-FILIAL-


PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA – PRINCÍPIO DA
AFETIVIDADE. A dor sofrida pelo filho, em virtude do abandono paterno,
que o privou do direito à convivência, ao amparo afetivo, moral e psíquico,
deve ser indenizável, com fulcro no princípio da dignidade da pessoa
humana.94

No mesmo sentido, enfatiza-se a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de


Janeiro, no ano de 2009, nestes termos:

Responsabilidade civil. Ação de indenização por dano moral que a Autora


teria sofrido em razão do abandono material e afetivo por seu pai que
somente reconheceu a paternidade em ação judicial proposta em 2003,
quando ela já completara 40 anos. Procedência do pedido, arbitrada a
indenização em R$ 209.160,00. Provas oral e documental. Apelante que
tinha conhecimento da existência da filha desde que ela era criança, nada
fazendo para assisti-la, diferentemente do tratamento dispensado aos seus
outros filhos. Dano moral configurado. Quantum da indenização que adotou
como parâmetro o valor mensal de 2 salários mínimos mensais que a
Apelada deixou de receber até atingir a maioridade. Indenização que
observou critérios de razoabilidade e de proporcionalidade. Desprovimento
da apelação.95

De acordo com os julgados citados, percebe-se que parte da jurisprudência


entende que a infração dos encargos decorrentes do poder familiar, previstos no art.
1.63496 do CC/02, ocasiona o dever de indenizar, principalmente, quando a atitude
voluntária e injustificada importa prejuízo para os direitos da personalidade do filho
menor, bem como à sua dignidade, casos em que fica demonstrado o dano moral.
É importante ressaltar que o dano moral pode restar-se caracterizado
independentemente do cumprimento do pagamento da pensão alimentícia, a qual
está profundamente ligada ao abandono material. De tal modo, configura-se prejuízo
94
BRASIL. Tribunal de Alçada de Minas Gerais. Apelação Cível nº 4085505-54.2000.8.13.0000. 7ª C.
Cível. Apelante: Alexandre Batista Fortes. Apelado: Vicente De Paulo Ferro De Oliveira. Rel. Juiz
Unias Silva, julg. 01.04.2004, pub. 29.04.04. Disponível em:
<http://www4.tjmg.jus.br/juridico/sf/proc_resultado2.jsp?
tipoPesquisa2=1&txtProcesso=40855055420008130000&comrCodigo=0024&nomePessoa=Nome+da
+Pessoa&tipoPessoa=X&naturezaProcesso=0&situacaoParte=X&codigoOAB2=&tipoOAB=N&ufOAB
=MG&tipoConsulta=1&natureza=0&ativoBaixado=X&comrCodigo=24&numero=20&listaProcessos=40
855055420008130000&select=2>. Acesso em: 15 mar 2015.
95
BRASIL. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. Apelação Cível nº 0007035-34.2006.8.19.0054, 8ª
C. Cível. Apelante: Fernando Gonçalves De Almeida. Apelado: Maria Aparecida Cirino Correa de Sá.
Rel. Des. Ana Maria Oliveira, julg. 20.10.2009. Disponível em:
<http://www1.tjrj.jus.br/gedcacheweb/default.aspx?
UZIP=1&GEDID=0003231F4982020FDEBFC9641B7DF6DC1E1AC5C4022A5E0F>. Acesso em: 10
mar 2015.
96
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que
seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos
filhos:I - dirigir-lhes a criação e a educação. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 20 jan. 2015.
57

à esfera patrimonial do menor, podendo existir dessa forma a configuração do


abandono moral, em razão do inadimplemento por parte do pai do dever de prestar
assistência moral ao filho, atrasando assim, o desenvolvimento completo e sadio da
personalidade do mesmo.
A questão da reparação civil em caso de abandono moral e afetivo na filiação
não encontra consonância, como já visto anteriormente, há decisões favoráveis, em
contrapartida há de se falar daqueles julgados que não são favoráveis. Assim, há
decisão conflitante proferida no Tribunal de Justiça de Minas Gerais:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PAI.


ABANDONO AFETIVO. ATO ILÍCITO. DANO INJUSTO. INEXISTENTE.
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. MEDIDA QUE SE IMPÕE. O afeto não se
trata de um dever do pai, mas decorre de uma opção inconsciente de
verdadeira adoção, de modo que o abandono afetivo deste para com o filho
não implica ato ilícito nem dano injusto, e, assim o sendo, não há falar em
dever de indenizar, por ausência desses requisitos da responsabilidade civil.
97

Pode-se observar que o entendimento do referido julgado transcrito, no


sentido de que o afeto não é um dever do pai, todavia, não cumprimento de tal dever
não representa ato ilícito ou um dano que venha gerar o dever de indenizar.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça se posiciona alegando que o
descumprimento dos deveres jurídicos decorrentes do poder familiar encontra
solução no próprio direito de família, com a perda do poder familiar, prevista pelo
artigo 1.63898, II, Código Civil.
Outro julgado que podemos observar é o conteúdo da decisão no Recurso
Especial (REsp) n.º 757.411 – MG:

RESPONSABILIDADE CIVIL. ABANDONO MORAL. REPARAÇÃO. DANOS


MORAIS. IMPOSSIBILIDADE. 1. A indenização por dano moral pressupõe a
prática de ato ilícito, não rendendo ensejo à aplicabilidade da norma do art.
159 do Código Civil de 1916 o abandono afetivo, incapaz de reparação
pecuniária. 2. Recurso especial conhecido e provido.99

97
BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Apelação Cível 0063791-
20.2007.8.13.499, 17ª C. Cível, Rel. Des Luciano Pinto, julg. 27.11.2008, pub. 09.01.09.
98
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar o
pai ou a mãe que: II - deixar o filho em abandono. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 20 jan. 2015.
99
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n.º 757.411 – MG, 4ª Turma. Recorrente:
Alexandre Batista Fortes. Recorrido: Vicente de Paulo Ferro de Oliveira Rel. Min. Fernando
Gonçalves, julg. 29/11/05, DJ 27/03/06, p. 299. Disponível em:
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7169991/recurso-especial-resp-757411-mg-2005-0085464-3/
relatorio-e-voto-12899600> Acesso em: 20 fev 2015.
58

É interessante destacar o voto do Ministro Relator, no referido julgado, para


quem não seria cabível a reparação civil nos casos de abandono afetivo:

“No caso de abandono ou do descumprimento injustificado do dever de


sustento, guarda e educação dos filhos, porém, a legislação prevê como
punição a perda do poder familiar, antigo pátrio-poder, tanto no Estatuto da
Criança e do Adolescente, art. 24, quanto no Código Civil, art. 1638, inciso
II. Assim, o ordenamento jurídico, com a determinação da perda do poder
familiar, a mais grave pena civil a ser imputada a um pai, já se encarrega da
função punitiva e, principalmente, dissuasória, mostrando eficientemente
aos indivíduos que o Direito e a sociedade não se compadecem com a
conduta do abandono, com o que cai por terra a justificativa mais pungente
dos que defendem a indenização pelo abandono moral. Por outro lado, é
preciso levar em conta que, muitas vezes, aquele que fica com a guarda
isolada da criança transfere a ela os sentimentos de ódio e vingança
nutridos contra o ex-companheiro, sem olvidar ainda a questão de que a
indenização pode não atender exatamente o sofrimento do menor, mas
também a ambição financeira daquele que foi preterido no relacionamento
amoroso.”100

Neste julgado, o filho propôs ação contra seu pai a fim de obter condenação
por danos morais. Alegou que, o pai estava cumprindo com a obrigação alimentar,
porém seu genitor negligenciou-se com o dever se assistência moral e psíquica,
evitando toda forma de convivência entre eles e também privando o filho de conviver
com sua meio irmã. Assim sendo, sustentou o demandante que toda a situação lhe
causou transtornos ensejando assim a reparação civil.
Por outro lado, o genitor alegou que manteve convivência com seu filho nos
primeiros oito anos de vida, o que foi interrompida pela conduta da mãe que fazia o
que podia para evitar essa convivência. O pai alega, ainda que por telefone, o
mesmo sempre buscava dar seu apoio ao filho.
Desta forma, o juiz singular decidiu pela inexistência do dano moral, uma vez
que, de acordo com o laudo pericial, era impossível vincular os sintomas
psicopatológicos à ausência paterna; além disso, corrobora o magistrado que a
questão interposta é motivada pela indignação advinda da revisão de pensão
alimentícia intentada pelo genitor.

100
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n.º 757.411 – MG, 4ª Turma. Recorrente:
Alexandre Batista Fortes. Recorrido: Vicente de Paulo Ferro de Oliveira Rel. Min. Fernando
Gonçalves, julg. 29/11/05, DJ 27/03/06, p. 299. Disponível em:
http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7169991/recurso-especial-resp-757411-mg-2005-0085464-3/
relatorio-e-voto-12899600> Acesso em: 20 fev 2015.
59

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais, em sede de Apelação, entendeu pela


existência do dano sofrido pelo autor em sua dignidade por conta da conduta ilícita
do seu genitor que deixou de fortalecer o laço afetivo entre eles. Com embasamento
no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, reconheceu o dano
moral e condenou o apelado ao pagamento de indenização.
Não contente com a decisão, o apelado interpôs Recurso Especial,
sustentando a ausência dos elementos constitutivos do ato ilícito, motivo pelo qual
não caberia a condenação para ressarcimento.101
Neste caso, o STJ profere decisão elgando ser impossível forçar alguém à
amar e que, para estes casos de abandono afetivo, a perda do poder familiar já
cumpriria as funções punitivas, pleiteadas pelo autor ao tentar condizer a conduta do
pai como ato ilícito passível de reparação por danos morais.
Além disso, traz à tona a questão que havendo uma condenação do pai ao
pagamento da uma indenização acerca da sua ausência para com seu filho, este
litígio certamente dificultaria mais ainda o estreitamento da relação afetiva entre
eles.
Enfatiza-se que o STJ manteve o seu entendimento no julgamento do REsp
n.º 514350 / SP, cuja ementa segue transcrita:

CIVIL E PROCESSUAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE.


RECONHECIMENTO. DANOS MORAIS REJEITADOS. ATO ILÍCITO NÃO
CONFIGURADO.
I. Firmou o Superior Tribunal de Justiça que "A indenização por dano moral
pressupõe a prática de ato ilícito, não rendendo ensejo à aplicabilidade da
norma do art. 159 do Código Civil de 1916 o abandono afetivo, incapaz de
reparação pecuniária" (REsp n.º 757.411/MG, 4ª Turma, Rel. Min. Fernando
Gonçalves, unânime, DJU de 29.11.2005). II. Recurso especial não
conhecido.102

O abandono afetivo na relação paterno-filial enseja a perda do poder familiar.


Contudo, isso não implica na impossibilidade da reparação civil do dano moral, visto
que estando presentes todos os requisitos para sua caracterização. Neste sentido,

101
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n.º 757.411 – MG, 4ª Turma. Recorrente:
Alexandre Batista Fortes. Recorrido: Vicente de Paulo Ferro de Oliveira Rel. Min. Fernando
Gonçalves, julg. 29/11/05, DJ 27/03/06, p. 299. Disponível em:
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7169991/recurso-especial-resp-757411-mg-2005-0085464-
3/relatorio-e-voto-12899600> Acesso em: 20 fev 2015.
102
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n.º 514.350 – SP, 4ª Turma. Recorrente: R
A da S. Recorrido: J L N de B. Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, julg. 28/04/09, DJe 25/05/09.
Disponível em: <http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/4138163/recurso-especial-resp-514350-sp-
2003-0020955-3/inteiro-teor-12209310> Acesso em: 20 fev 2015.
60

tem-se o entendimento do Ministro Barros Monteiro que, no REsp n.º 757.411 – MG,
se mostrou contrário ao voto do relator, lembrando que não há unanimidade no
entendimento do STJ. Temos aqui seu posicionamento:

“Penso que daí decorre uma conduta ilícita da parte do genitor que, ao lado
do dever de assistência material, tem o dever de dar assistência moral ao
filho, de conviver com ele, de acompanha-lo e de dar-lhe o necessário afeto
[...] Penso também, que a destituição do poder familiar, que é uma sanção
do Direito de Família, não interfere na indenização por dano moral, ou seja,
a indenização é devida além dessa outra sanção prevista não só no
Estatuto da Criança e do Adolescente, como também no Código Civil
anterior e no atual. [...].”103

Da aludida decisão em comento foi interposto Recurso Extraordinário para o


Supremo Tribunal Federal, ao qual foi negado provimento pela Segunda Turma
Cível:

EMENTA CONSTITUCIONAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM


RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONVERSÃO EM AGRAVO
REGIMENTAL. ABANDONO AFETIVO. ART. 229 DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL. DANOS EXTRAPATRIMONIAIS. ART. 5º, V E X, CF/88.
INDENIZAÇÃO. LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL E SÚMULA STF
279. 1. Embargos de declaração recebidos como agravo regimental,
consoante iterativa jurisprudência do Supremo Tribunal Federal. 2. A análise
da indenização por danos morais por responsabilidade prevista no Código
Civil, no caso, reside no âmbito da legislação infraconstitucional. Alegada
ofensa à Constituição Federal, se existente, seria de forma indireta, reflexa.
Precedentes. 3. A ponderação do dever familiar firmado no art. 229 da
Constituição Federal com a garantia constitucional da reparação por danos
morais pressupõe o reexame do conjunto fático-probatório, já debatido pelas
instâncias ordinárias e exaurido pelo Superior Tribunal de Justiça. 4.
Incidência da Súmula STF 279 para aferir alegada ofensa ao artigo 5º, V e
X, da Constituição Federal. 5. Agravo regimental improvido. 104

Constata-se, do referido acórdão, que não existiu julgamento do mérito do


RE, em razão do abandono afetivo ser matéria de ordem infraconstitucional e pela
necessidade de reexame de provas, o que contradiz a Súmula n.º 279 do STF. É
importante ressaltar, que, por esses motivos, até o presente momento não houve
pronunciamento do Superior Tribunal Federal relativamente ao tema ora tratado.
103
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n.º 757.411 – MG, 4ª Turma. Recorrente:
Alexandre Batista Fortes. Recorrido: Vicente de Paulo Ferro de Oliveira Rel. Min. Fernando
Gonçalves, julg. 29/11/05, DJ 27/03/06, p. 299. Disponível em:
<http://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/7169991/recurso-especial-resp-757411-mg-2005-0085464-
3/relatorio-e-voto-12899600> Acesso em: 20 fev 2015.
104
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário nº 567164 ED/MG. 2ª Turma Cível.
Rel. Min. Ellen Gracie, julg. 18.08.09, DJe 11.09.09. Disponível em:
http://stf.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/5399140/embdeclno-recurso-extraordinario-re-567164-mg>
Acesso em: 20 fev 2015.
61

Opostamente ao posicionamento do STJ sustentado até então, deve-se


destacar que é a violação do dever legal de manter a convivência familiar, conforme
previsto no artigo 1634105, II, do Código Civil, aliada a violação dos deveres de
guarda e educação, elencada no artigo 22 106 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, que possibilitam a reparação civil do dano moral proveniente do
abandono afetivo relação paterno-filial. Por conseguinte, não se trata de forçar um
pai a amar um filho, mas de responsabiliza-lo civilmente por descumprir um dever
jurídico.
Ademais, se fosse suficiente o argumento de que se estaria quantificando o
afeto para afastar a responsabilidade civil dos pais, teríamos aqui uma verdadeira
contradição, já que também não se pode quantificar a dignidade, a imagem, a honra,
ou quaisquer outros direitos da personalidade, e nem por isso o judiciário deixa de
conceder indenizações nos casos em que restam configurados danos a esses
direitos extrapatrimoniais.
No que diz respeito à decisão proferida pelo STJ, podemos citar como
exemplo, a importante lição de Maria Berenice Dias 107:

“Profunda foi a reviravolta que produziu, não só na justiça, mas nas próprias
relações entre pais e filhos, a nova tendência da jurisprudência, que passou
a impor ao pai o dever de pagar indenização, a título de danos morais, ao
filho pela falta de convívio, mesmo que venha atendendo ao pagamento da
pensão alimentícia. A decisão da justiça de Minas Gerais, apesar de ter sido
reformada pelo STJ, continua aplaudida pela doutrina e vem sendo
amplamente referendada por outros julgados. Imperioso reconhecer o
caráter didático dessa nova orientação, despertando a atenção para o
significado do convívio entre pais e filhos. Mesmo que os genitores estejam
separados, a necessidade afetiva passou a ser reconhecida como bem
juridicamente tutelado.”

Em face da discussão na doutrina e nos Tribunais de Justiça que aplicavam a


possibilidade jurídica de indenização do dano moral decorrente do abandono afetivo
da relação paterno-filial, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça modificou

105
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que
seja a sua situação conjugal, o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada nos termos do art. 1.584. Código Civil. Disponível
em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 20 jan. 2015.
106
BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda
e educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e
fazer cumprir as determinações judiciais. Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 30 jan. 2015.
107
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2009, p. 417.
62

o entendimento até então aplicado, asseverando a viabilidade da exigência de


indenização por dano moral decorrente de abandono afetivo pelos pais, uma vez
que, nas palavras da Ministra Nancy Andrighi: “amar é faculdade, cuidar é dever.”
Diante disso, vale transcrever o atual posicionamento da Corte Superior:

CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO.


COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à
responsabilidade civil e o consequente dever de indenizar/compensar no
Direito de Família.
2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento
jurídico brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que
manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da
CF/88.
3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida
implica em se reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de
omissão. Isso porque o non facere, que atinge um bem juridicamente
tutelado, leia-se, o necessário dever de criação, educação e companhia - de
cuidado - importa em vulneração da imposição legal, exsurgindo, daí, a
possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por abandono
psicológico.
4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno
cuidado de um dos genitores em relação à sua prole, existe um núcleo
mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei,
garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para uma
adequada formação psicológica e inserção social.
5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou,
ainda, fatores atenuantes - por demandarem revolvimento de matéria fática -
não podem ser objeto de reavaliação na estreita via do recurso especial.
6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é
possível, em recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada
pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada.
7. Recurso especial parcialmente provido.108

Sendo assim, diante de tais posições jurisprudências, entende-se que a


questão do abandono afetivo, é de fato nova em nosso ordenamento jurídico, e vem
sendo enfrentada de forma antagônica. No entanto, há uma grande entendimento
que a privação da convivência do filho com um de seu genitor, gera grandes
sequelas, e, por conseguinte, trazem sofrimentos psicológicos diversos, capazes de
interferir na formação do individuo. Desta forma, violando o principio da dignidade da
pessoa humana, surgira aqui o dever de indenizar em virtude do ato ilícito de
abandono da prole.

108
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp 1.159.242 – SP. Recorrente: Antonio Carlos Jamas
dos Santos. Recorrido: Luciane Nunes de Oliveira Souza. Relatora: Min. Nancy Andrighi. Julgado em
24 de abril de 2012, DJe 10.05.12. Disponível em:< https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ ita.asp?
registro=200901937019> Acesso em: 12 jan. 2015.
63

CONCLUSÃO

Com o estudo do presente trabalho podemos observar que, a Constituição


Federal de 1988 introduziu modificações significativas, no direito de família, ao
64

definir que a igualdade de direitos entre os filhos, se dá independentemente da


origem, e da mesma forma conferiu a mais ampla proteção à criança e ao
adolescente, considerando-as sujeitos de direitos e, por conseguinte, dignos de
tutela jurídica.
Verificou-se também que o dever de convivência familiar aparece em nosso
ordenamento como direito fundamental da criança e do adolescente, abrangendo o
dever dos pais de prestarem afeto, carinho, atenção e orientação aos filhos. Dessa
forma, não será somente a presença física dos pais que irá sanar de forma
suficiente o dever de convivência familiar, mas, sobretudo, a presença moral e
afetiva.
Quando violado os deveres do pai para com o filho, podemos observar que
essa violação fere a integridade física, moral, intelectual e psicológica da criança,
prejudicando o desenvolvimento saudável de sua personalidade, o seu
amadurecimento enquanto ser humano, bem como atentando contra a sua
dignidade. Sendo assim, tendo os pais uma conduta omissiva, podem estes, gerar o
dever de indenizar no que tange o descumprimento de dever jurídico.
Nesse sentido, é conveniente frisar que a lesão a direitos extrapatrimoniais
passou a ser passível de reparação com a chegada da Constituição Federal de
1988, não mais se discutindo acerca da possibilidade de indenização do dano moral.
A discussão que é levantada é se o abandono afetivo, enquanto ato lesivo ao direito
da personalidade poderia gerar reparação pecuniária ou se a condenação dos pais
que excluíram o filho da convivência familiar, só seria encontrada no direito de
família.
Foi constatado que o entendimento jurisprudencial é bastante controverso.
Em julgados anteriores, o entendimento do Superior Tribunal de Justiça era no
sentido de que o abandono afetivo, provocado pela omissão dos pais no
cumprimento do dever de garantir ao filho a convivência familiar, implica tão
somente na perda do poder familiar, conforme previsão do art. 1.638 109, II, CC/02 e
do art. 24110 do ECA, já que não cabe ao poder judiciário forçar um pai a amar o filho.
109
BRASIL. Lei 10. 406, de 10 de janeiro de 2002. Art. 1.638. Perderá por ato judicial o poder familiar
o pai ou a mãe que: II - deixar o filho em abandono. Código Civil. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm> Acesso em: 15 mar. 2015
110
BRASIL. Lei 8.069, de 13 de julho de 1990. Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão
decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem
como na hipótese de descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.
Estatuto da Criança e do Adolescente. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm> Acesso em: 15 mar. 2015.
65

 O posicionamento apontado, entretanto, vem sendo modificado, conforme


observado no julgamento pronunciado pela Terceira Turma, publicado no Diário de
Justiça Eletrônico, em 10 de maio de 2012, conforme transcrição supramencionada
neste trabalho. Entende-se que não se está punindo a falta de afeto do pai para com
o filho, mas o descumprimento do dever jurídico de convivência familiar, aliado a
inobservância do princípio da afetividade. Deste modo, não se pode admitir que a
quebra de um dever jurídico fosse reprovável tão somente do ponto de vista moral,
cabendo ao judiciário o amparo aos direitos da criança e dos adolescentes de forma
positiva. Além do mais, não se pode esquecer a lição de Maria Berenice Dias 111,
para quem a destituição do poder familiar é um benefício ao pai que não quer
mesmo ser pai.
Entende-se que não há que se defender o uso irresponsável e imprudente da
reparação civil nos casos de abandono afetivo. De certo, apenas se fará possível à
reparação pecuniária do dano moral, nestes casos, se comprovada a existência dos
requisitos fundamentais da responsabilidade civil. Ademais, deve-se restar
comprovado o nexo de causalidade entre a conduta omissiva do pai e o dano
psicológico sofrido pela criança, o que apenas será possível com o apoio de laudos
médicos.
Salienta-se que, diante da carência de lei específica regulando o tema
abordado, a questão da indenização nos casos de abandono afetivo fica a critério
dos juízes, que deverão fazer uma análise amparada em laudos de especialistas e
de forma acertada e contextualizada, a fim de evitar a “indústria do dano moral”, mas
sem deixar de levar em consideração a impunidade dos pais que abandonaram seus
filhos de forma espontânea e sem justificativas.
A despeito disso, ainda que o poder judiciário não possa, de fato, obrigar um
pai a amar um filho, visto que o amor é um sentimento gratuito e livre de qualquer
imposição, observa-se que ele possui caminhos para responsabilizar os pais pelo
descumprimento de deveres jurídicos decorrentes do poder familiar. Desta maneira,
deve-se frisar a função pedagógica e preventiva da indenização nos casos de
abandono afetivo, fazendo com que o pai a entenda o valor do convívio familiar com
a sua prole, bem como amenizar a prática de condutas omissivas, responsáveis por
causar danos irreversíveis no desenvolvimento da personalidade dos filhos.

111
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 5. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2009, p. 320.
66

Diante do exposto, levando em consideração o longo caminho a ser


percorrido até a concretização da reparação civil nos casos de abandono afetivo na
filiação, buscou-se demonstrar a necessidade de uma proteção positiva por parte do
Estado em relação aos direitos da personalidade da criança e do adolescente, com
ênfase à dignidade da pessoa humana, pondo-os a salvo de qualquer atitude
descuidada, que implique prejuízo para o seu desenvolvimento moral, intelectual e
psíquico, direito fundamental que é assegurado pelo artigo 7 112º do Estatuto da
Criança e do Adolescente.

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