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RIBEIRÃO PRETO
2017
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................03
5 CONCLUSÃO..............................................................................................................10
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1. Introdução
Atualmente, existem muitos idosos que possuem uma boa situação financeira, que podem
proporcionar uma boa vida a seus descendentes, sejam eles filhos, netos, sobrinhos, etc., fazendo
com isso que os descendentes se aproximam cada vez mais. Por outro lado, possuem aqueles que
possuem baixo perfil econômico e são exatamente estes que, na maioria das vezes, são
abandonados pela família e, muitas vezes, pelos próprios asilos, sendo maltratados físico e
moralmente.
Embora o dever de cuidado das famílias para com os idosos seja regulamentado
juridicamente em seu artigo 98 da Lei 10.741, Estatuto do Idoso, há um dever determinado pelo
respeito e pelo afeto dos laços familiares que independem de jurisdição, que não necessitam de
regulamentação, embora muitos sofrem por abandono material e afetivo sem a mínima satisfação
de suas necessidades básicas e afetivas, deixando de cumprir com seu dever de zelo e proteção ao
idoso.
Há uma grande discussão se tal atitude não afastaria ainda mais o filho que deixou de
cumprir com sua função afetiva em relação ao pai, tendo em vista que, caso condenado, deveria
pagar determinada quantia a título de danos morais ao pai.
Portanto, para que seja configurada a responsabilidade civil nesses casos, com a aplicação
do dano moral, o dano deve estar totalmente evidenciado, comprovando, desta feita, a inexistência
do afeto, carinho e amor, atitudes que devem fazer parte das relações familiares, tendo em vista
que se o responsável pelo abandono se preocupasse com o bem-estar, bem como com a integridade
física e psíquica, do abandonado, jamais deixaria a situação chegar a este ponto.
Nesta toada, devemos discorrer sobre os danos morais, sendo este caracterizado como a
ofensa ou violação dos bens de ordem moral de uma pessoa, como por exemplo sua honra,
dignidade, sua saúde mental ou física, sua imagem, dentre outros exemplos. Em síntese, incidirá o
a reparação moral sempre que houver abalo injustificado à honra alheia.
Neste sentido, a presente monografia tem por objetivo analisar as diversas possibilidades
de o idoso receber danos morais em casos de abandono afetivo por seus familiares, em virtude de
ausência de previsão legal no Estatuto do Idoso e no atual Código Civil, visto que a
responsabilidade civil recai sobre aquele que deixar de agir com sua obrigação, no caso em tela, o
dever de cuidado.
A prova do dano moral é um assunto bastante polêmico, tendo em vista que ela não pode ser
feita nos mesmos moldes da comprovação do dano material, pois se trata de algo imaterial, sendo
extremamente delicado exigir da vítima que comprove sua dor, tristeza ou humilhação.
O ressarcimento do dano moral, além da função protetiva e punitiva tem também uma função
inibitória, a qual se pode chamar de preventiva, que consiste na própria natureza da pena tanto na
área cível quanto na penal.
O dano moral deriva, portanto, do próprio fato ofensivo, de modo que se a ofensa for provada,
está comprovado o dano moral, ou seja, não se prova o dano, prova-se sim o fato.
Com o passar dos anos tem se notado que a perspectiva de vida aumenta cada vez mais, sendo
notório, consequentemente, o aumento da parcela de pessoas idosas na sociedade.
Neste contexto, faz-se necessário que a sociedade se empenhe no sentido de chamar atenção
para a dimensão social do envelhecimento e também para as políticas públicas e seu seguimento,
dando prioridade absoluta no trato com o idoso, protegendo-o da violência doméstica e familiar,
garantindo desta forma sua dignidade.
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O idoso, muitas vezes, acaba sendo marginalizado e oprimido, tendo em vista que, pelo passar
dos anos, ocorre a troca da sua independência pela debilidade física, gerando grande sentimento de
frustração e desvalia, pois, seus atrativos físicos acabaram ficando no passado.
Apesar dos esforços legislativos, a realidade mostra que, não raro, muitos pais idosos são
abandonados pelos filhos, que lhes negam prestar assistência material e, especialmente, assistência
imaterial (ou afetiva). Segundo Simone de Beauvoir, A dificuldade de encarar a própria velhice
com as suas limitações e angústias e, talvez, a mesma dificuldade de se pensar o futuro, de se ter
consciência da passagem do tempo e da existência leva muitos preferirem pensar na morte dizendo
"morrerei antes de ficar velho", porque não conseguem encarar esse fantasma. Como se não
bastasse toda a série de agravantes físicos, que restringem muito, ou até mesmo negam uma
existência confortável ao idoso, é muito comum as sociedades, famílias ou tribos abandonarem
seus velhos à própria sorte, quase sempre em condições precárias de subsistência e pensões
insuficientes.
Desta forma, o artigo 230 da Constituição Federal, prevê que a família, a sociedade e o Estado
têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade,
defendendo sua dignidade e garantindo-lhe o direito à vida.
Também neste sentido, em 2008, foi proposto pelo Deputado Federal Carlos Bezerra, na
Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei n. 4.294/08, o qual acrescentaria um parágrafo ao artigo
1.632 da Lei n.10.406, de janeiro de 2002 – Código Civil: “O abandono afetivo sujeita os pais ao
pagamento de indenização por dano moral.”
No mesmo projeto, o respeitável Deputado almeja que o art. 3º da Lei 10.741/2003 – Estatuto
do Idoso – preveja em seu bojo o direito à indenização por dano moral advindo do abandono afetivo
dos idosos por parte de seus filhos.
Todavia, mesmo que o projeto de lei não seja aprovado, nada impede que se use a analogia
para completar alguma lacuna existente em relação à responsabilidade civil quando se tratar do
abandono afetivo.
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O fato de a legislação não abarcar algumas situações especificas não significa que não há direito
à tutela, ou seja, a falta de lei não significa falta de direito, nem impede que se extraiam efeitos
jurídicos de determinada situação fática.
Portanto, ao verificar o cabimento dos danos morais nos casos de abandono afetivo de idoso,
devemos verificar em qual sentido anda entendimento jurisprudencial sobre a matéria.
Podemos ver no julgado que será colacionado abaixo, a importância do afeto e da manutenção
dos vínculos familiares. Nesta decisão, os Desembargadores, amparados no artigo 229 da Carta
Magna brasileira, concederam um mandado de segurança para que se pudesse reduzir a carga
horária e remuneração de um filho único, para que cuidasse do seu pai, de idade avançada e doente.
Outra questão extremamente relevante para ser mencionada neste tópico é a regulamentação
de visitas aos idosos, visando a manutenção dos vínculos familiares entre estes e seus entes,
conforme julgado a seguir:
O caso colacionado acima demonstra, nitidamente, que o idoso jamais deverá ser afastado de
sua família, a não ser em casos de violência ou quando ele mesmo assim o quiser, porém nada deve
ser forçado. O afeto ao idoso deve fazer parte da família de maneira extremante natural e
espontânea.
Em relatório lavrado pelo Desembargador Monteiro Rocha, a 2ª Câmara de Direito Civil, por
maioria de votos, condenou um pai ao pagamento de R$ 40.000,00, a título de indenização por
danos morais decorrentes de abandono afetivo:
No mesmo sentido, a Apelação Cível n. 2006.024404-0, de São José, cujo Relator fora o mesmo
Desembargador Monteiro Rocha. A 4ª Câmara de Direito Civil decidiu em 18 de setembro de 2008
– com trânsito em julgado em 31 de outubro de 2008 – no seguinte sentido:
Por questão de compromisso científico, deve-se informar aqui, também, que há diversos
julgados proferidos pelo tribunal catarinense denegando o direito à indenização por danos morais
decorrentes do abandono afetivo. Exemplificativamente, estão: Apelação Cível n. 2006.017863-1,
de Lages, Relator: Des. Joel Dias Figueira Júnior; Apelação Cível n. 2010.026873-7, de Criciúma,
Relator: Des. Marcus Tulio Sartorato; Apelação Cível n. 2006.012075-7, de Mafra Relator: Des.
Mazoni Ferreira; Apelação Cível n. 2010.023344-2, de Imbituba, Relator: Des. Subst. Jaime Luiz
Vicari; Apelação Cível n. 2006.007021-8, de Blumenau, Relatora: Desa. Maria do Rocio Luz Santa
Ritta; Apelação Cível n. 2008.057288-0, de Criciúma, Relator: Des. Fernando Carioni; Apelação
Cível n. 2010.029238-1, de Blumenau, Relator: Des. Marcus Tulio Sartorato.
Todos esses acórdãos amparam-se no artigo 159 do antigo Código Civil ou no artigo 186 do
novo Código Civil, aduzindo como principais razões de decidir: O não preenchimento dos
pressupostos para a caracterização do dever de indenizar, especialmente, não comprovação do
dano; e a impossibilidade de indenizar-se a falta de afeto.
Em que pese os julgados colacionados acima sejam de abandono afetivo que partiu do genitor
em desfavor da prole, deve-se extrair daí o entendimento de que o abandono afetivo inverso
também deve ensejar danos morais.
Nesta toada, podemos observar que existe uma grande dificuldade no presente tema, tendo em
vista que a condenação de o filho a pagar determinada quantia a título de indenização a seu genitor
não irá reaproxima-los, muito pelo contrário, poderá dificultar ainda mais o convívio familiar entre
o pai abandonado e seu filho.
Cabe ressaltar que o tema abordado neste é de recente apreciação pelos tribunais brasileiros, os
quais ainda não são uníssonos.
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Nota-se também que é totalmente difícil encontrar decisões judiciais analisando algum caso de
abandono afetivo do idoso. Porém, os princípios protetivos dos idosos decorrem, principalmente,
de os artigos 229 e 230 da Constituição Federal:
Dessa forma, a própria Constituição determina que os filhos maiores têm o “dever” de amparar
seus pais quando da velhice. Sendo assim, não podemos deixar que determinada norma desapareça
do meio jurídico, permanecendo inerte mesmo estando no bojo da Carta Magna brasileira.
De outro lado, alguns princípios são reconhecidos nos tribunais: a) princípio da dignidade da
pessoa humana; b) princípio da igualdade e respeito à diferença; c) princípio da solidariedade
familiar; d) princípio da proteção integral a crianças, adolescentes, jovens e idosos; e) princípio da
afetividade. Nas palavras de Mello (2000, p. 748), violar-se um princípio é mais grave do que a
violação de regras. Vejamos:
Ao analisar o abandono afetivo das crianças e dos adolescentes, os acórdãos citados enfrentam
as consequências psíquicas e sociais que tal ilícito acarreta, notadamente o dano moral. Com os
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idosos, as consequências não são menores. Depois de despender grande parte de sua vida em favor
do desenvolvimento familiar e social, espera-se receber, na velhice: atenção, acompanhamento,
ajuda e afeto de seus entes queridos.
As questões devem ser analisadas casa a caso, analisando suas peculiaridades, cabendo, assim,
ao Poder Judiciário buscar uma efetiva ponderação dos valores envolvidos em cada situação, sendo
totalmente cabível a aplicação dos danos morais em caso de abandono afetivo, fazendo valer uma
responsabilização civil de caráter dúplice, ou seja, o ressarcimento e a coercitividade, objetivando
coibir a conduta omissiva por parte do filho/a em relação ao seu pai ou mãe.
5. CONCLUSÃO
Ressalta a Constituição Federal em seu artigo 229, que os filhos maiores têm o dever de assistir
os pais na velhice, carência ou enfermidade, proporcionando um convívio familiar baseado no afeto
e reconhecimento ao princípio da solidariedade. Surge então, como revés emergencial, o asilo, o
qual nem é a melhor opção, tornando-se uma das grandes barreiras encontradas pela família,
caracterizando muitas vezes como abandono pelas mesmas.
O artigo 5º da Constituição Federal assegura em seu artigo 1º, inciso terceiro, o direito à
dignidade humana, caracterizando com a sua violação que, aquele que abandona, fere fortemente
este princípio em virtude da ilicitude do ato. Todavia, não houve nenhuma previsão legal no
Estatuto do Idoso quanto à possibilidade de indenização por danos morais em caso de abandono
afetivo por seus familiares, porém muitos doutrinadores entendem que a dor, o vexame, o
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O descaso entre pais e filhos é considerado grave abandono moral, necessitando de severa
punição do Poder Judiciário, para que se conserve não a obrigação de amar, esta não se impõe, mas
a responsabilidade pelo descumprimento do dever de cuidar.
Os filhos têm a obrigação de amparar seus pais na velhice, seja material, seja imaterialmente.
Ainda que os pais tenham condições econômicas e financeiras de sobreviverem, subsiste o dever
dos filhos nas prestações de ordem afetiva, moral, psíquica.
A indenização pelo abandono afetivo dos familiares será uma forma de coibi-los de tal atitude,
servindo como punição, já para o idoso trará, de certa forma um acalanto para a alma ou quem sabe
o alcance para o próprio alimento.
Desta forma entende-se que embora a reparação civil não esteja presente no Estatuto do Idoso,
mas que seus pressupostos estejam, já haverá formas para tal intento.
REFERÊNCIAS
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STOCO, Rui. Tratado de Responsabilidade Civil. 6. ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista
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TOALDO, A.M.; MACHADO, I.R. Abandono afetivo do idoso pelos familiares: indenização por
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juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11310&revista_caderno
=14> Acesso em: 07 nov. 2017.
FREITAS JUNIOR, Roberto Mendes de. Direitos e garantias do idoso: doutrina, jurisprudência e
legislação. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.
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DIAS, Maria Berenice; BASTOS, Eliane Ferreira; MORAES, Naime Márcio Martins (Coord.).
Afeto e estruturas familiares. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programa de responsabilidade civil. 2. ed. rev., aum. e atual. São
Paulo: Malheiros, 1998.
DIAS, Maria Berenice. PEREIRA, Tânia da Silva; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Org.). A ética
da convivência familiar. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
BEAUVOIR, Simone de. A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. p. 01.
15
KARAM, Adriane Leitão. Responsabilidade civil: o abandono afetivo e material dos filhos em
relação aos pais idosos. 2011.71p.Trabalho de conclusão de curso (Especialização em Direito de
Família, Registros Públicos e Sucessões) - Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos
Sociais Aplicados, Escola Superior do Ministério Público do Ceará. 2011. p. 55.