ANÁLISE DO ACÓRDÃO JUDICIAL DO TERCEIRO CASO DO SEMINÁRIO
TEMÁTICO: ABANDONO AFETIVO E PAPEL DO JUDICIÁRIO
PORTO ALEGRE
2023 1. REFERENTE AO PEDIDO INICIAL
Trata-se de um caso de abandono afetivo em um contexto familiar. LUCIANE
NUNES DE OLIVEIRA SOUZA ajuizou ação de indenização por danos materiais e compensação por danos morais contra ANTONIO CARLOS JAMAS DOS SANTOS, seu pai, alegando ter sofrido abandono material e afetivo durante sua infância e juventude. O Tribunal de Justiça de São Paulo deu provimento à apelação da recorrente, reconhecendo o abandono afetivo por parte do pai e fixando a compensação por danos morais em R$ 415.000,00. O acórdão destaca que a conduta do pai configura uma omissão que viola a imposição legal de cuidar da prole, resultando em possibilidade de pleitear compensação por danos morais por abandono psicológico. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), por maioria, deu parcial provimento ao recurso especial interposto por ANTONIO CARLOS JAMAS DOS SANTOS, que alegou “violação dos arts. 159 do CC-16 (186 do CC-02); 944 e 1638 do Código Civil de 2002, bem como divergência jurisprudencial”. Alegou que não abandonou a filha e, mesmo que o caso tivesse sido esse, defende que “a única punição legal prevista para o descumprimento das obrigações relativas ao poder familiar – notadamente o abandono – a perda do respectivo poder familiar”. A resolução final do litígio foi de diminuir a compensação para R$ 200.000,00, com base em 1º) “a quantia estipulada pelo Tribunal de origem revela-se irrisória ou exagerada” e 2º) o comportamento agressivo da mãe contribuiu para o distanciamento entre pai e filha.
2. ANÁLISE DO CASO
A principal tese jurídica suscitada no debate judicial do caso envolve a análise
da possibilidade de caracterização de dano moral decorrente do abandono afetivo por parte do pai em relação à sua filha. De um lado, argumenta-se que não existem restrições legais à aplicação das regras de responsabilidade civil no Direito de Família e que a obrigação de cuidar da prole é fundamental para a formação psicológica e social do menor. Por outro lado, sustenta-se que situações como divórcio, separações temporárias e alterações de domicílio são decorrentes de direitos potestativos dos pais e não configuram ilicitude, sendo necessário avaliar a viabilidade prática do cumprimento do dever de cuidado. Além disso, é discutida a relevância do cuidado como valor jurídico, ressaltando-se que o cuidado é um dever jurídico e que sua negligência constitui ilicitude civil. A análise das obrigações parentais, inclusive do dever de convívio, de cuidado, de criação e educação dos filhos, é fundamental para determinar se houve descumprimento da obrigação legal. A questão da culpa também é abordada, destacando que a culpa do agente é um elemento necessário à caracterização do ato ilícito. A existência de dano e do nexo causal é discutida em relação ao contexto do cuidado parental. É argumentado que a negligência do pai em relação ao dever de cuidado pode causar sofrimento, mágoa e tristeza na filha, mesmo que ela tenha conseguido superar essas dificuldades e construir sua vida de forma positiva. O texto também ressalta que o valor da compensação por danos morais deve ser analisado com cautela, evitando valores irrisórios ou exagerados. O pai, acusado de negligência e abandono afetivo em relação à sua filha, sustentou uma posição de que não a abandonou, porém, ela alega ter sofrido os impactos da negligência paterna em relação ao seu desenvolvimento psicológico e emocional. A judicialização ocorre devido ao desejo de buscar reconhecimento e compensação por danos morais decorrentes do abandono afetivo. Se a decisão judicial for favorável à filha, o pai pode enfrentar repercussões financeiras devido à compensação por danos morais. Além disso, sua imagem pode ser afetada socialmente, pois ele seria considerado negligente em relação às obrigações parentais. Já para a filha pode trazer alívio emocional, validando seus sentimentos de mágoa e tristeza. A compensação por danos morais pode ser reconhecida como uma forma de justiça, mas também pode não ser suficiente para reparar completamente o sofrimento experimentado. A decisão também pode afetar sua relação com o pai, mesmo após o processo judicial. Além disso, se for favorável, estabelecerá um precedente legal que pode ser referenciado em casos futuros envolvendo abandono afetivo e pode aumentar a conscientização sobre os deveres parentais, incluindo a obrigação de cuidado e afeto para com os filhos. Isso pode encorajar pais a assumirem suas responsabilidades de maneira mais cuidadosa, evitando conflitos futuros. Em última análise, a decisão judicial nesse caso não apenas afetará as partes envolvidas, mas também terá implicações mais amplas na forma como a sociedade lida com questões de cuidado, afeto e responsabilidades parentais, contribuindo para uma maior compreensão dos aspectos emocionais e legais envolvidos.
3. CONCLUSÕES
Com base nos posicionamentos dos três magistrados, referente ao primeiro
ministro, Exmo. Sr. Ministro Massami Uyeda, eu discordo completamente da decisão, pois as peculiaridades do caso não foram devidamente consideradas. Mostrou mais preocupação com os precedentes para casos futuros do que com a situação presente, porém, devo reconhecer a importância de levantar esse ponto para evitar abusos de filhos contra pais. O segundo ministro, Exmo. Sr. Ministro Sidnei Beneti, levanta questões interessantes em seu voto, que eu concordo. Ele defende a possibilidade de indenização por dano moral decorrente do abandono de um filho, agravado por tratamento discriminatório, independentemente de ser filho reconhecido judicialmente ou não. Além disso, não vê a perda do poder familiar como justificativa para eximir a indenização por dano moral. Ele critica a ideia de que um pai possa se recusar a exercer sua paternidade com base em desculpas como o comportamento da mãe ou dúvidas sobre a paternidade. Ele concorda com a redução do valor da indenização, baseando-se na análise dos elementos do caso. Referente ao terceiro ministro, Exmo. Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, concordo integralmente com este último voto apresentado. Além de reafirmar muitas partes do voto do Ministro Sidnei Beneti, ele destaca que o reconhecimento de dano moral em casos de família é excepcional e que apenas o abandono total e notório do filho pode gerar responsabilidade civil dos pais. Reforça a importância de evitar abusos por parte dos filhos e menciona a conduta da mãe da recorrida como um fator relevante. Ele propõe a redução do valor da indenização para um montante mais adequado às circunstâncias do caso.