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DAS FAMÍLIAS
PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA
PESSOA HUMANA (art. 1, III, da CF/88)
A dignidade da pessoa, é considerada hoje, o princípio máximo, ou superprincípio, ou
ainda princípio dos princípios. Para Jorge Miranda e Rui de Medeiros5: “a dignidade
humana é da pessoa concreta, na sua vida real e quotidiana; não é de um ser ideal e
abstracto. É o homem ou a mulher, tal como existe, que a ordem jurídica considera
irredutível, insubsistente e irrepetível e cujos direitos fundamentais a Constituição
enuncia e protege.
Segundo Kant, dignidade humana é aquilo que a pessoa é como ser racional,
considerando-se um fim em si mesmo. A pessoa humana será sempre fim e nunca meio.
Portanto, se a pessoa for instrumentalizada, haverá lesão a esse princípio.
Para Carlos Roberto Gonçalves, “o princípio do respeito à dignidade da pessoa humana
constitui, assim, base da comunidade familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a
realização de todos os seus membros, principalmente da criança e do adolescente (CF,
art. 227)7.”
O professor Flávio Tartuce apresenta um exemplo que facilita a visibilidade
em relação aos avanços do direito de família em conjunto com a dignidade
da pessoa humana:
“Indenização por danos morais. Relação paterno-filial. Princípio da
dignidade da pessoa humana. Princípio da afetividade. A dor sofrida pelo
filho, em virtude do abandono paterno, que privou do direito à
convivência, ao amparo afetivo, moral e psíquico, deve ser indenizável,
com fulcro no princípio da dignidade da pessoa humana” (TAMG, Apelação
Cível 408.555-5, 7ª, Câmara de Direito Privado, decisão 01.04.2004, Rel.
Unias Silva, v.u.).
No primeiro julgado superior, no dia 29 de novembro de 2005,
entendeu-se que não se pode falar em dever de indenizar,
pois o pai não está obrigado a conviver com o filho, não
havendo ato ilícito no caso descrito. Demonstrando evolução
quanto ao assunto, julgados tratando sobre o tema
mostraram-se recorrentes, embora ainda haja divergência no
entendimento de algumas turmas.
Vejamos:
O abandono afetivo decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar
da prole constitui elemento suficiente para caracterizar dano moral
compensável? Há um dever jurídico de cuidar afetivamente?9
SIM.
Nos julgamentos da 3º Turma prevalece o entendimento de que, em
hipóteses excepcionais, de gravíssimo descaso em relação ao filho, é
cabível a indenização por abandono afetivo. Esta conclusão foi extraída
da compreensão de que o ordenamento jurídico prevê o "dever de
cuidado", o qual compreende a obrigação de convivência e "um núcleo
mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da
lei,garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade, condições para
uma adequada formação psicológica e inserção social."
STJ. 3ª Turma REsp 1.557.978-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em
03/11/2015.
STJ. 3ª Turma REsp 1887697/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
21/09/2021.
Vale mencionar o informativo 840, do STF:
O filho tem direito de ter reconhecida sua verdadeira filiação.
Assim, mesmo que ele tenha nascido durante a constância do
casamento de sua mãe e de seu pai registrais, ele poderá
ingressar com ação de investigação de paternidade contra o
suposto pai biológico. A presunção legal de que os filhos
nascidos durante o casamento são filhos do marido não pode
servir como obstáculo para impedir o indivíduo de buscar a
sua verdadeira paternidade. STF. Plenário AR 1244 EI/MG, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/09/2016 (Info 840).
QUESTÕES:
Promotor de Justiça do MPE-SC (Banca:
CESPE/CEBRASPE; Ano: 2021)
De acordo com o STJ, a configuração do abandono
afetivo depende de a paternidade ser previamente
reconhecida?
Discute-se no REsp se o pai biológico tem legitimidade para pedir a alteração do registro civil de sua filha
biológica do qual hoje consta como pai o nome de outrem e, ainda, caso ultrapassado de forma positiva esse
debate, o próprio mérito da ação originária quanto à conveniência da alteração registral pleiteada pelo pai
biológico. Na espécie, a Turma entendeu que a paternidade biológica não tem o condão de vincular,
inexoravelmente, a filiação, apesar de deter peso específico ponderável, ante o liame genético para definir
questões relativas à filiação. Pressupõe, no entanto, para a sua prevalência, a concorrência de elementos
imateriais que efetivamente demonstram a ação volitiva do genitor em tomar posse da condição de pai ou mãe. A
filiação socioafetiva, por seu turno, ainda que despida de ascendência genética, constitui uma relação de
fato que deve ser reconhecida e amparada juridicamente. Isso porque a parentalidade que nasce de uma
decisão espontânea, arrimada em boa-fé, deve ter guarida no Direito de Família. Na hipótese, a evidente má-fé
da genitora e a incúria do recorrido, que conscientemente deixou de agir para tornar pública sua condição de pai
biológico e, quiçá, buscar a construção da necessária paternidade socioafetiva, tomam-lhes o direito de se
insurgir contra os fatos consolidados. A omissão do recorrido, que contribuiu decisivamente para a perpetuação
do engodo urdido pela mãe, atrai o entendimento de que a ninguém é dado alegar a própria torpeza em seu
proveito, fenecendo, assim, a sua legitimidade para pleitear o direito de buscar a alteração no registro de
nascimento de sua filha biológica. Precedente citado: REsp 119.346-GO, DJ 23/6/2003. REsp
PRINCÍPIO DA CONVIVÊNCIA FAMILIAR
O afastamento definitivo dos filhos da sua família natural é
medida de exceção, apenas recomendável em situações
justificadas por interesse superior, a exemplo da adoção, do
reconhecimento da paternidade socioafetiva ou da destituição
do poder familiar por descumprimento de dever legal.
O art. 23, caput, do ECA, quanto à regulamentação da inserção
em família substituta não admite que os filhos sejam separados
dos pais em virtude de hipossuficiência financeira.
Art 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui
motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar.
PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR
(ART. 3.º, I, CF)
Segundo Flávio Tartuce11, “ser solidário significa responder pelo outro, o que
remonta à ideia de solidariedade do direito das obrigações. Quer dizer, ainda,
preocupar-se com a outra pessoa.
Desse modo, a solidariedade familiar deve ser tida em sentido amplo, tendo
caráter afetivo, social, moral, patrimonial, espiritual e sexual. No que concerne
à solidariedade patrimonial, essa foi incrementada pelo CC/2002.
Isso porque mesmo o cônjuge culpado pelo fim do relacionamento pode pleitear
os alimentos necessários – indispensáveis à sobrevivência –, do cônjuge inocente
(art. 1.694, § 2.º, do CC). Isso, desde que o cônjuge culpado não tenha condições
para o trabalho, nem parentes em condições de prestar os alimentos (art. 1.704,
parágrafo único, do CC)”.
PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE OS FILHOS
(ART. 227, §6.º, CF e ART. 1.596, CC)
CF - Art. 227, § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção,
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.
CC - Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção,
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação.
Carlos Roberto Gonçalves12 afirma que “o dispositivo em apreço estabelece absoluta
igualdade entre todos os filhos, não admitindo mais a retrógrada distinção entre
filiação legítima ou ilegítima.
Essa igualdade engloba:
■ Filhos havidos de união estável;
■ Relação extraconjugal;
■ Filhos adotivos;
■ Havidos de técnica de reprodução assistida heteróloga;
■ Filhos socioafetivos.
PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE CÔNJUGES E
COMPANHEIROS (ART. 226, §5.º,
CF e ART. 1.511, CC)
É uma especialização do princípio da igualdade entre
homens e mulheres, previsto no art. 5º, inciso I da
Constituição Federal. A previsão deste princípio está no
artigo 226, §5.º da Constituição Federal e no artigo
1.511 do Código Civil.
CF - Art. 226, § 5º Os direitos e deveres referentes à
sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo
homem e pela mulher.
CC - Art. 1511. O casamento estabelece comunhão
plena de vida, com base na igualdade de direitos e
deveres dos cônjuges.
Na prova para o cargo de Defensor Público da DPE-PB (Banca
FCC; Ano: 2022), a banca apresentou o seguinte caso
concreto: “Sandro e Lívia são divorciados e exercem a guarda
compartilhada da filha Sofia. Diante da notícia da campanha
de imunização contra a Covid-19 para crianças, Sandro
manifestou desejo de não vacinar
Sofia. Lívia, por outro lado, sustentou que a vacinação atende
aos interesses da criança. Considerando a situação, divergindo
os pais quanto ao exercício do poder familiar”. E considerou
correta a seguinte assertiva:
“é assegurado a qualquer deles recorrer ao Poder Judiciário
para solução do desacordo”.
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do
MPE-MT (Banca: FCC; Ano: 2019), a banca
considerou correta a seguinte assertiva em relação
ao casamento: