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AO DOUTO JUÍZO DA VARA DE FAMÍLIA, ÓRFÃOS, SUCESSÕES,

INTERDITOS E AUSENTES DA COMARCA DE VITÓRIA DA CONQUISTA-BAHIA

Processo n.º xxxxxxxx

PATRÍCIA xxxxx, brasileira, autônoma, convivente em União Estável, nascida em


13/01/1988, filha de xxxxxxxe xxxxx, inscrita no CPF nº xxxxxxx e RG nº xxxx
SSP/BA, residente e domiciliada na xxxxxxxxxx (ambos com WhatsApp), endereço
eletrônico: xxxxxxxxxxx vem, respeitosamente, por intermédio de seu procurador
que ao final assina, com fulcro no artigo 335 do Código de Processo Civil apresentar
sua
CONTESTAÇÃO
em face da AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL C/C GUARDA,
CONVIVÊNCIA E ALIMENTOS COM ANTECIPAÇÃO DE TUTELA proposta por
JAQUELINE CARDOSO DOS SANTOS e YASMIM DE BARROS CARDOSO, já
qualificada nos autos em epígrafe, pelos fatos e fundamentos que passa a expor:

1. PRELIMINARES

I - DA TEMPESTIVIDADE DA CONTESTAÇÃO
Tem-se que a audiência de conciliação realizou-se em 17 de agosto de 2023,
considerando os termos do art. 335, I do CPC, o termo inicial do prazo da
contestação se dá na data posterior da audiência de conciliação. E considerando
que a contagem dos prazos, nos termos do art. 219 do CPC, ocorrerá somente nos
dias úteis, tem-se plenamente tempestiva a presente contestação.

II - DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA
Inicialmente, por ser a demandada, pessoa carente na acepção jurídica do termo,
não tendo condições de arcar com o pagamento das custas processuais e
honorários advocatícios, sem prejuízo de seu próprio fim, conforme declaração
anexa e com fulcro no artigo 98 e seguintes do Código de Processo Civil, se requer
a concessão de justiça gratuita.
Em face do que foi anteriormente relatado, faz-se relevante respaldar o pedido nos
diplomas legais, sendo os mesmos, a Constituição Federal, que em seu artigo 5º,
inciso LXXIV, garante o acesso à justiça gratuita aos que comprovarem insuficiência
de recursos.
Menciona-se que no momento, a demandada aufere para sua sobrevivência o valor
de R$1.650,00 (um mil, seiscentos e cinquenta reais) por mês, sendo R$: 600,00
(seiscentos reais) referente ao recebimento do Auxílio Brasil ofertado pelo Governo
Federal aos inscritos no Cadastro Único que identifica famílias de baixa renda.

III- DOS VERDADEIROS FATOS


A demandada sofreu imensurável sofrimento emocional e psicológico, enfrentando
episódios de ansiedade e problemas de saúde causados por todo o transtorno que
as denúncias e o afastamento de sua filha lhe causaram. Esse sofrimento nunca
poderá ser apagado, mas pode ser cessado no momento em que ela puder retomar
a convivência com sua filha e tentar recuperar todo o tempo perdido de seu
crescimento e acompanhamento de sua vida.

2. DO MÉRITO

I- DA DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL


Tendo sido a Requerida quem desde o início pôs fim ao relacionamento, ela assim
mantém seu desejo. A dissolução da união estável é a forma legal para encerrar o
vínculo entre as companheiras, sendo assim, como qualquer outra relação amorosa,
a união estável pode também ter o seu término final.

II- DA GUARDA
Atesta o Código Civil em seu artigo 1584, I o seguinte:
Art. 1.584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser: (Redação dada
pela Lei nº 11.698, de 2008).
I – requerida, por consenso, pelo pai e pela mãe, ou por qualquer deles, em
ação autônoma de separação, de divórcio, de dissolução de união estável ou
em medida cautelar; (Incluído pela Lei nº 11.698, de 2008).
Dessa maneira, estando findada a união estável entre as genitoras da menor, sem
chances de retorno, faz-se necessário a regulamentação da guarda, a fim de
garantir a consonância do convívio da criança com ambas as genitoras. É de
completo desejo de Patrícia, como mãe, a guarda compartilhada a fim de participar
conjuntamente do processo de criação, educação e desenvolvimento total da filha,
efetuando a verificação do desempenho escolar, garantindo a participação da
infante em eventos e reuniões familiares, escolares e sociais, bem como garantindo
um saudável desenvolvimento psicossocial da criança, dentre outras.
No mesmo sentido, atesta o artigo 19 da Lei nº 8.069/90 bem como o artigo 227 da
CF/88:]
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de
sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a
convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu
desenvolvimento integral. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016).
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança,
ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão. (Redação dada Pela Emenda
Constitucional nº 65, de 2010)
Dessa forma, pleiteia-se mútua responsabilidade do exercício do poder familiar
(guarda compartilhada), possibilitando que a requerida possa conviver com Yasmim
com a mesma qualidade de tempo da outra genitora, exercendo seu direito e
obrigação de poder também criar vínculo de mãe e filha, participando de todas as
fases de crescimento e desenvolvimento de sua filha.
O caput do artigo 227 da Constituição Federal é claro quando assegura à criança e
ao adolescente, com absoluta prioridade:
“Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores”.
Adicionalmente, dispõe o art. 1.634, II, do Código Civil Brasileiro, que ter a
companhia e a guarda dos filhos é complemento do dever de educá-los e criá-los,
eis que a quem incumbe criar, incumbe igualmente guardar; e o direito de guardar é
indispensável para que possa, sobre o mesmo, exercer a necessária vigilância,
fornecendo- lhes condições materiais mínimas de sobrevivência, sob pena de
responder pelo delito de abandono material, moral e intelectual.
Ainda, conforme se verifica do artigo 1583 do Código Civil, § 2º e § 3º, alterado pela
lei 13.058/2014, referente a guarda compartilhada, vejamos:
Art. 1583. A guarda será unilateral ou compartilhada. [...]
§ 2º Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser
dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista
as condições fáticas e os interesses dos filhos:
Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta que dificulte
a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou
incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente
responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais
aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo gravidade do caso:
I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador;
1. ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;
2. estipular multa ao alienador;
3. determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial;
4. determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão;
5. determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente;
6. declarar a suspensão da autoridade parental
Parágrafo único; “Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou
obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar
para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das
alternâncias dos períodos de convivência familiar.
Também, neste sentido os Tribunais de Justiça de Minas Gerais e do Rio Grande do
Sul, senão vejamos:
DIREITO DE FAMÍLIA. MODIFICAÇÃO DE GUARDA. REQUISITOS LEGAIS PARA
DETERMINAÇÃO. PRINCÍPIO DO MELHOR
INTERESSE DA CRIANÇA. - O instituto da guarda foi criado com o objetivo de
proteger o menor, salvaguardando seus interesses em relação aos pais que
disputam o direito de acompanhar de forma mais efetiva e próxima seu
desenvolvimento, ou mesmo no caso de não haver interessados em desempenhar
esse munus. - O princípio constitucional do melhor interesse da criança surgiu com
a primazia da dignidade humana perante todos os institutos jurídicos e em face da
valorização da pessoa humana em seus mais diversos ambientes, inclusive no
núcleo familiar. (TJ-MG - AC: XXXXX10426635001 MG, Relator: Dárcio Lopardi
Mendes, Data de
Julgamento: 04/04/2013, Câmaras Cíveis / 4ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
10/04/2013).
Por fim, em razão da narrativa fática que envolve o presente caso, com amparo nos
dispositivos legais preambularmente invocados, requer seja deferida a regularização
da guarda da menor para a modalidade COMPARTILHADA, expedindo-se assim o
respectivo termo.
III- DA REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS
É direito fundamental da criança e do adolescente ter consigo a presença dos pais,
o cuidado e o amor, e não se pode negar que é direito do Requerida como mãe
poder desfrutar da convivência com a menor.
Maria Berenice Dias (Manual de Direito das Família, 2011, p. 447) esclarece que:
“ (...) Consagrado o princípio proteção integral, em vez de regulamentar as
visitas, é necessário estabelecer formas de convivência, pois não há
proteção possível com a exclusão do outro genitor.”
De acordo com o acatado e no melhor interesse da menor, o requerida
entende e requer que seja regulamentada a visita da seguinte forma:
A requerida buscará a filha todas as semanas, ao final das tardes das quintas-feiras
e levando de volta para a outra genitora no final das tardes dos domingos. Os dias
poderão ser alterados em eventuais trocas por dias de semana, à
conveniência/necessidade de ambas, desde que justificadas e previamente
combinadas entre elas.
-Ferias: Requer que o tempo/período das férias de meio de ano e entre um ano
letivo e outro seja dividido de forma igualitária entre as genitoras (50% do período
com cada uma), resguardada a outra o direito de contato por meio eletrônico
(aplicativos de conversa, redes sociais, aplicativos de vídeo chamadas, etc.) e
visitação pessoal previamente ajustada;
-Feriados: Pede-se que sejam alternados entre as genitoras, a exemplo: Carnaval,
Semana Santa, Festejos Juninos, Natal, Réveillon, Feriados prolongados e outros
durante o ano, devem ser ajustados com antecedência, respeitando a alternância da
convivência de um feriado para o outro e alternado também entre um ano e outro;
- Aniversário da filha: Propõe que ocorra de forma alternada (anos pares com a
Patrícia, anos ímpares com Jaqueline ou vice versa) e previamente ajustada entre
as genitoras;
- Aniversário de Jaqueline: Passará com Jaqueline;
- Aniversário de Patrícia – Passará com Patrícia.

IV- DOS ALIMENTOS TRANSITÓRIOS


A Autora alega carecer da assistência da ex-companheira. Acontece que a autora é
autônoma, trabalhando como florista em organizações de eventos e já voltou a
exercer suas atividades normalmente, além de viver e contar com a ajuda de seus
familiares, bem como recebe o Auxílio Brasil fornecido pelo Governo Federal.
Conforme Jurisprudência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios:
“2. De acordo com os artigos 1.566, inc. III, e 1694, caput e §1º, ambos do
Código Civil e com base no dever de mútua assistência, podem ser fixados
alimentos em prol do ex-cônjuge necessitado. Entretanto, a prestação de
alimentos após o rompimento do vínculo conjugal é medida excepcional e
transitória, com duração suficiente para que o alimentado atinja sua
independência financeira se adaptando a sua nova realidade. 3. Em regra, a
dissolução do matrimônio não implica necessariamente em extinção da
obrigação de prestar alimentos entre os ex-cônjuges. Saliente-se que a
obrigação de pagar pensão alimentícia ao ex-cônjuge é condicionada à
efetiva comprovação da total incapacidade do alimentando em prover o
próprio sustento, bem como à ausência de parentes em condições de arcar
com o pagamento dos alimentos, de acordo com a interpretação analógica do
art. 1.704, parágrafo único, do CC. 4.
Acórdão 1292565, 07087297820198070020, Relator: CARLOS
RODRIGUES, Primeira Turma Cível, data de julgamento: 21/10/2020,
publicado no DJE 27/10/2020:

Além disso, ao contrário do alegado pela autora, a demandada encontra-se


desempregada e não exerce qualquer atividade laborativa, o seu trabalho como
camareira na Espanha, como informado, foi exercido quando ela morava fora do
país, o que não mais é realidade. No momento a requerida vive da aferição de
valores recebidos a título de aluguel de 1 (um) imóvel que ela possui, que consiste
em duas casas pequenas, uma na frente e outra nos fundos, alugadas no valor de
R$: 500,00 (quinhentos reais) e a outra R$ 580,00 (quinhentos e oitenta reais),
totalizando o valor de R$: 1.080,00 (um mil e cinquenta reais), juntamente com o
Auxílio Brasil oferecido pelo Governo Federal no valor de R$ 600,00 (seiscentos
reais), totalizando o valor de R$: 1.680,00 (um mil e seiscentos e oitenta reais). É
evidente que a Requerida não possui fundos suficientes para arcar com os
alimentos para a Autora, pois com esse valor precisa prover sua subsistência, além
de destinar o possível para sua filha.
Assim sendo, não merecem prosperar as alegações da Autora nos termos
pleiteados na exordial.

V – DOS ALIMENTOS À MENOR


O artigo 1696 do diploma Civil diz que:
Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e
extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em
grau, uns em falta de outros.
A autora pleteia alimentos em favor da menor fixados alimentos no importe de R$
1.302,00 (um mil trezentos e dois Reais), equivalente a 100% (cento por cento) do
salário-mínimo vigente. Como mencionado acima, esse valor não confere com a
realidade e possibilidade da demandada, que aufere o valor de R$: 1.650,00, tendo
que prover sua subsistência e de sua filha no tempo que lhe for destinado de
convivência com a mesma.
À vista disso, requer à V. Excelência a fixação de alimentos provisórios, no valor
mensal de 30% sobre o salário mínimo vigente, que correspondem a importância de
R$ 396,00 (trezentos e noventa e seis reais) mensais, de boa-fé, visto que a autora
também trabalha e pode contribuir com as despesas de sua filha em sua residência,
considerando que a requerida pleiteia guarda compartilhada da menor e terá que
arcar também com as despesas da filha nos dias em que estiver com a mesma.

VI- DA SITUAÇÃO FINANCEIRA DA DEMANDADA


Com efeito, muito distante do alegado na inicial, a contestante aufere R$1.680,00
(um mil, seiscentos e oitenta reais) por mês. Ocorre que com esta exígua renda tem
de suportar suas despesas básicas, como alimentação, água, luz, telefonia, internet
e assistência médica, além do valor destinado à sua filha e nos seus cuidados.
Com o advento da concessão dos Alimentos provisórios à Menor no valor de 50%
do salário mínimo, ou seja, R$660,00 (seiscentos e sessenta reais), a requerida vem
enfrentando dificuldade em honrar seus compromissos, precisando recorrer a ajuda
de familiares.
Contudo, reconhece a obrigação de prestar alimentos à sua filha, nas condições que
lhe forem possíveis, mas não tem condições de suportar o valor fixado
provisoriamente. Deste modo, requer que seja reconhecida sua necessidade
financeira no valor a ser fixado a título de alimentos.

VII- DOS PEDIDOS


Ante o exposto, requer:
A) A concessão dos benefícios da justiça gratuita, com base no artigo 98 e
seguintes do Código de Processo Civil, por se declarar incapaz de custear as
despesas processuais sem prejuízo ao seu sustento e ao de sua família e pela
limitação que se encontra no momento;
B) Que a presente demanda seja julgada IMPROCEDENTE, absolvendo a requerida
dos pedidos pleiteados pela autora; salvo a dissolução da união estável que deve
ser decretada;
C) Que seja deferida a GUARDA COMPARTILHADA em razão da prevenção dos
laços entre mãe e filha que estão ameaçados pela Genitora, bem como em
obediência ao princípio do Melhor Interesse da Criança;
D) A regulamentação do direito de visitas, conforme Título: Da Regulamentação de
Visitas;
E) Requer que os alimentos sejam fixados no percentual de 30% (trinta por cento)
do salário líquido vigente, no valor de R$ 396,00 (trezentos e noventa e seis
reais), diante de toda realidade, e do binômio necessidade de quem recebe x
capacidade contributiva de quem paga os alimentos
F) Seja revogada a decisão que fixou o valor de 50% (cinquenta por cento) do
salário mínimo vigente a título de alimentos provisórios, pelas razões expostas nesta
contestação;
G) A improcedência do pedido de honorários sucumbenciais; reconhecendo a
realidade financeira da requerida e sua hipossuficiência;
I) A produção de todos os tipos de provas cabíveis, em especial a prova
documental, depoimento pessoal da Autora, oitiva de testemunhas e todas as outras
provas que se fizerem necessárias à busca da verdade;
Nestes termos, pede deferimento
Vitória da Conquista- Ba, 02 de setembro de 2023

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