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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA DE FAMÍLIA DA COMARCA DA


CAPITAL

, brasileiro, menor impúbere, representado por sua mãe brasileira, solteira, desempregada,
portadora da carteira de identidade nº. , inscrita no CPF/MF sob o nº , residente e domiciliada na Rua ,
nesta cidade, vem, por seus advogados, A PRESENÇA DE v.Exa., propor

AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS


DECORRENTES DE ABANDONO AFETIVO

em face de , brasileiro, casado, empresário, portador da carteira de identidade nº /IFP-RJ, inscrito no


CPF/MF sob o nº , residente e domiciliado na Rua , nesta cidade, pelos fatos e fundamentos a seguir:

1. DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

O autor é hipossuficiente, não possuindo condições de arcar com o pagamento de custas e taxa
judiciária, sem prejuízo de seu sustento e de sua família, como comprovam os documentos que
instruem esta ação.

A representante legal do menor se encontra desempregada, eventualmente organizando


excursões turísticas, sem renda fixa, sendo que seu último emprego era de vendedora de loja, sem
assinatura de carteira de trabalho, onde percebia mensalmente o valor de R$600,00 e comissão sobre as
vendas.

Assim sendo, tendo em vista a comprovação da necessidade jurídica da parte autora, requer a
V. Exa. a concessão da Gratuidade de Justiça, nos termos da Lei Nº 1.060/50 e alterações posteriores.

2. DOS FATOS

2.1. DO RECONHECIMENTO DA PATERNIDADE – DA INFÂNCIA DO AUTOR

O autor nasceu em 08.08.1997, sendo fruto de um relacionamento amoroso mantido por sua
mãe e o réu, por um período aproximado de 7 (sete) anos, relacionamento esse que veio a terminar
por conta da notícia ao réu da gravidez da representante legal, negando o réu ser o pai da
criança.

Durante a gestação a representante legal do autor não recebeu qualquer ajuda ou apoio do réu.
Com muita dificuldade, a representante legal do autor, mediante apoio de parentes, conseguiu
atendimento de Pré-Natal com acompanhamento médico.

O enxoval do bebê foi comprado com a ajuda de amigos e parentes da representante legal, sem
qualquer ajuda do réu e de sua família. O autor nasceu em um hospital público
2.2. DO ABANDONO AFETIVO

O autor foi inicialmente matriculado na Creche , que acredita que o fato de pagar uma escola
de renome já seria o bastante. E nesse período, o autor enfrentou grande dificuldade de relacionamento
com os demais colegas, filhos de famílias de classe alta do Rio de Janeiro, que compareciam a todos os
eventos e festas da escola, enquanto que o autor não podia frequentar, pois não tinha como pagar os
parques, viagens, restaurantes, entre outras atividades, ficando excluído, sendo que a partir de
determinada época nem mais era convidado a participar.

Após ser matriculado na Escola X, onde estuda hoje, o autor foi rotulado com a figura de
criança chata e inconveniente, pois suas brincadeiras não eram aceitas pelas outras crianças e também
os professores.

Por estar se tornando uma criança triste e com sentimentos de rejeição, a representante legal
resolveu procurar à época, uma Clinica de Psicologia para famílias de baixa renda.

Durante o aniversário de 15 anos da irmã do autor, o réu e toda a sua família estavam
presentes. Durante toda a festa o réu evitou o contato com o autor, tratando o mesmo com a mais
absoluta frieza.

E ainda, quando o réu encontra com o autor em algum evento, é como se visse um estranho.
Em certa ocasião, em uma festa na fazenda do réu, o autor tentava chamar a atenço do pai, enquanto
que este fingia que não o estava vendo.

3. DOS FUNDAMENTOS

O abandono afetivo praticado pelos pais contra a pessoa dos filhos ocasiona danos morais e
psicológicos a estes, afrontando o princípio da Dignidade da Pessoa Humana, o que é passível de
responsabilização civil.

Os deveres paternos jamais podem se restringir ao eventual pagamento de uma pensão


alimentícia, posto que o dever dos pais abarca, além dos deveres de assistência material, também os da
assistência imaterial, quais sejam, de caráter emocional, psicológico, de amor, de afeto. Ou seja, o
descumprimento desses deveres, como um todo, estará causando, invariavelmente, uma lesão
irreversível à psique dessa criança.

O abandono afetivo ao menor se configura pela ausência do sentimento natural de afeto nas
relações parentais, causando danos ao menor em seu psiquismo, vez que este depende do
estabelecimento desses vínculos afetivos para a formação de sua personalidade, conhecimento de
regras e valores, bem como do sentimento de amparo e proteção.

A Constituição Federal, em seu artigo 227, dispõe que:

“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo
de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.” (g.n.)

E, ainda, no artigo 229, o abaixo:


“Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos
maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.”
(g.n.)

O Código Civil dispõe em seus artigos 186, 927 e 1.634, incisos I e II o seguinte, verbis:
“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato
ilícito.”
“Art. 1.634. Compete aos pais, quanto à pessoa dos filhos menores:
I- dirigir-lhes a criação e educação;
II- tê-los em sua companhia e guarda;”
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (art. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.” (g.n.)

O Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe em seus artigos 3°, 7°, 15, 19 e 20, o seguinte,
verbis:

“Art. 3°. A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à


pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-
lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de
liberdade e de dignidade.”
“Art. 7°. A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a
efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência.”
“Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade
como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis,
humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.”
“Art. 19. Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua
família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar e
comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias
entorpecentes.”
“Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os
mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas a filiação.” (g.n.)

A Colenda Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Recurso


Especial n° 1.159.242-SP, decidiu favoravelmente o pedido indenizatório em caso semelhante, tendo
como Relatora a Ilustre MINISTRA NANCY ANDRIGHI, conforme aresto abaixo transcrito, verbis:

“RECURSO ESPECIAL N° 1.159.242-SP (2009/0193701-9)


RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI
RECORRENTE: ANTONIO CARLOS JAMAS DOS SANTOS
ADVOGADO: ANTÔNIO CARLOS DELGADO LOPES E OUTRO(S)
RECORRIDO: LUCIANE NUNES DE OLIVEIRA SOUZA
ADVOGADO: JOÃO LYRA NETTO
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. FAMÍLIA. ABANDONO AFETIVO. COMPENSAÇÃO
POR DANO MORAL. POSSIBILIDADE.
1. Inexistem restrições legais à aplicação das regras concernentes à responsabilidade
civil e o consequente dever de indenizar/compensar no Direito de Família.
2. O cuidado como valor jurídico objetivo está incorporado no ordenamento jurídico
brasileiro não com essa expressão, mas com locuções e termos que manifestam suas
diversas desinências, como se observa do art. 227 da CF/88.
3. Comprovar que a imposição legal de cuidar da prole foi descumprida implica em se
reconhecer a ocorrência de ilicitude civil, sob a forma de omissão. Isso porque o non
facere, que atinge um bem juridicamente tutelado, leia-se, o necessário dever de criação,
educação e companhia – de cuidado – importa em vulneração da imposição legal,
exsurgindo, daí, a possibilidade de se pleitear compensação por danos morais por
abandono psicológico.
4. Apesar das inúmeras hipóteses que minimizam a possibilidade de pleno cuidado de um
dos genitores em relação à sua prole, existe um núcleo mínimo de cuidados parentais
que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à
afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção social.
5. A caracterização do abandono afetivo, a existência de excludentes ou, ainda, fatores
atenuantes – por demandarem revolvimento de matéria fática – não podem ser objeto de
reavaliação na estreita via do recurso especial.
6. A alteração do valor fixado a título de compensação por danos morais é possível, em
recurso especial, nas hipóteses em que a quantia estipulada pelo Tribunal de origem
revela-se irrisória ou exagerada.
7. Recurso especial parcialmente provido.” (g.n.)

Importante transcrever trechos do voto da MINISTRA RELATORA NANCY ANDRIGHI, no


julgamento supra, conforme abaixo, verbis:

“À luz desses parâmetros, há muito se cristalizou a obrigação legal dos genitores ou


adotantes, quanto à manutenção material da prole, outorgando-se tanta relevância para
essa responsabilidade, a ponto de, como meio de coerção, impor-se a prisão civil para os
que a descumprem, sem justa causa.
Perquirir, com vagar, não sobre o dever de assistência psicológica dos pais em relação à
prole – obrigação inescapável -, mas sobre a viabilidade técnica de se responsabilizar,
civilmente, àqueles que descumprem essa incumbência, é a outra faceta dessa moeda e a
questão central que se examina neste recurso.
(...)
2.1. Da ilicitude e da culpa
A responsabilidade civil subjetiva tem como gênese uma ação, ou omissão, que redunda
em dano ou prejuízo para terceiro, e está associada, entre outras situações, à negligência
com que o indivíduo pratica determinado ato, ou mesmo deixa de fazê-lo, quando seria
essa incumbência.
(...)
Sob esse aspecto, calha lançar luz sobre a crescente percepção do cuidado como valor
jurídico apreciável e sua repercussão no âmbito da responsabilidade civil, pois,
constituindo-se o cuidado fator crucial à formação da personalidade do infante, deve
ser ele alçado a um patamar de relevância que mostre o impacto que tem a higidez
psicológica do futuro adulto.
Nessa linha de pensamento, é possível se afirmar que tanto pela concepção, quanto pela
adoção, os pais assumem obrigações jurídicas em relação à sua prole, que vão além
daquelas chamadas necessarium vitae.
A ideia subjacente é a de que o ser humano precisa, além do básico para a sua
manutenção – alimento, abrigo e saúde -, também de outros elementos, normalmente
imateriais, igualmente necessários para uma adequada formação – educação, lazer,
regras de conduta, etc.
Tânia da Silva Pereira – autora e coordenadora, entre outras, das obras Cuidado e
vulnerabilidade e O cuidado como valor jurídico – acentua o seguinte;
“O cuidado como ‘expressão humanizadora’, preconizado por Vera Regina Waldow,
também nos remete a uma efetiva reflexão, sobretudo quando estamos diante de crianças
e jovens que, de alguma forma, perderam a referência da família de origem (...) a autora
afirma: ‘o ser humano precisa cuidar de outro ser humano para realizar a sua
humanidade, para crescer no sentido ético do termo. Da mesma maneira, o ser humano
precisa ser cuidado para atingir sua plenitude, para que possa superar obstáculos e
dificuldades da vida humana’. (Abrigo e alternativas de acolhimento familiar, in:
PEREIRA, Tânia da Silva; OLIVEIRA, Guilherme de. O cuidado como valor jurídico.
Rio de Janeiro: Forense, 2008, p. 309)”
(...)
Essa percepção do cuidado como tendo valor jurídico já foi, inclusive, incorporada em
nosso ordenamento jurídico, não com essa expressão, mas com locuções e termos que
manifestam suas diversas desinências, como se observa do art. 227 da CF/88.
Vê-se hoje nas normas constitucionais a máxima amplitude possível e, em paralelo, a
cristalização do entendimento, no âmbito científico, do que já era empiricamente
percebido: o cuidado é fundamental para a formação do menor e do adolescente; ganha
o debate contornos mais técnicos, pois não se discute mais a mensuração do intangível –
o amor – mas, sim, a verificação do cumprimento, descumprimento, ou parcial
cumprimento, de uma obrigação legal: cuidar.
(...)
Em suma, amar é faculdade, cuidar é dever.
(...)
2.2. Do dano e do nexo causal
Estabelecida a assertiva de que a negligência em relação ao objetivo dever de
cuidado é ilícito civil, importa, para a caracterização do dever de indenizar, estabelecer
a existência de dano e do necessário nexo causal.
Forma simples de verificar a ocorrência desses elementos é a existência de laudo
formulado por especialista, que aponte a existência de uma determinada patologia
psicológica e a vincule, no todo ou em parte, ao descuidado por parte de um dos pais.
(...)” (g.n.)

Pede-se vênia para transcrever, também, trechos dos ensinamentos da Professora MARIA
BERENICE DIAS, onde brilhantemente fundamenta a melhor doutrina sobre o tema, verbis:
“Entre os deveres decorrentes do poder familiar encontra-se o dever dos pais de ter os
filhos em sua companhia e de dirigir-lhes a criação e educação (CC 1.634 I e II). É
encargo que compete a ambos os genitores (CC 1.631), e a separação dos pais não o
altera. (...)
O ECA, ao regulamentar a norma constitucional, identifica, entre os direitos
fundamentais dos menores, seu desenvolvimento sadio e harmonioso (ECA 7°). Também
lhes assegura o direito ao respeito e a dignidade como pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e sujeitos de direitos civis, humanos e sociais (ECA 15). Igualmente lhes
garante o direito a serem criados e educados no seio de sua família (ECA 19).
O conceito atual de família, centrada no afeto como elemento agregador, exige dos pais
o dever de criar e educar os filhos sem lhes omitir o carinho necessário para a formação
plena de sua personalidade, como atribuição do exercício do poder familiar.” (...)
A falta de convívio dos pais com os filhos, em face do rompimento do elo de afetividade,
pode gerar severas seqüelas psicológicas e comprometer o desenvolvimento saudável da
prole. (...)
A omissão do genitor em cumprir os encargos decorrentes do poder familiar, deixando de
atender ao dever de ter o filho em sua companhia, produz danos emocionais merecedores
de reparação. Se lhe faltar essa referência, o filho estará sendo prejudicado, talvez de
forma permanente, para o resto de sua vida. Assim, a falta da figura do pai desestrutura
os filhos, tira-lhe o rumo da vida e debita-lhes a vontade de assumir um projeto de vida.
Tornam-se pessoas inseguras, infelizes. Tal comprovação, facilitada pela
interdisciplinaridade, cada vez mais presente no âmbito do direito das famílias, tem
levado ao reconhecimento da obrigação indenizatória por dano afetivo. Ainda que a falta
de afetividade não seja indenizável, o reconhecimento da existência do dano psicológico
deve servir, no mínimo, para gerar o comprometimento do pai com o pleno e sadio
desenvolvimento do filho. Não se trata de impor um valor ao amor, mas reconhecer que o
afeto é um bem muito valioso! (...)
Profunda foi a reviravolta que produziu, não só na justiça, mas nas próprias relações
entre pais e filhos, a nova tendência da jurisprudência, que passou a impor ao pai o
dever de pagar indenização, a título de danos morais, ao filho pela falta de convívio,
mesmo que venha atendendo ao pagamento da pensão alimentícia.” (...)
Imperioso reconhecer o caráter didático dessa nova orientação, despertando a atenção
para o significado do convívio entre os pais e filhos. Mesmo que os genitores estejam
separados, a necessidade afetiva passou a ser reconhecida como bem juridicamente
tutelado. A indenização por abandono afetivo poderá converter-se em instrumento de
extrema relevância e importância para a configuração de um direito das famílias mais
consentâneo com a contemporaneidade, podendo desempenhar papel pedagógico no seio
das relações familiares. Claro que o relacionamento mantido sob pena de recompensa
financeira não é a forma mais correta de se estabelecer um vínculo afetivo. Ainda assim,
mesmo que o pai só visite o filho por medo de ser condenado a pagar uma indenização,
isso é melhor do que gerar no filho o sentimento de abandono. Ora, se os pais não
conseguem dimensionar a necessidade de amar e conviver com os filhos que não pediram
para nascer, imperioso que a justiça imponha coactamente essa obrigação.
Dessa forma, o dano à dignidade humana do filho em estágio de formação deve ser
passível de reparação material, não apenas para que os deveres parentais
deliberadamente omitidos não fiquem impunes, mas, principalmente, para que, no futuro,
qualquer inclinação ao irresponsável abandono possa ser dissuadida pela firme posição
do Judiciário, ao mostrar que o afeto tem um preço muito alto na nova configuração
familiar.” 1 (g.n.)
Ainda sobre a matéria, vale transcrever o brilhante voto do Ilustre MINISTRO BARROS
MONTEIRO, no julgamento do RESP 757411/MG, em 29/11/2005, conforme abaixo:
“...Sr. Presidente, rogo vênia para dissentir do entendimento manifestado por V. Exa. e
pelos eminentes Ministros Aldir Passarinho Junior e Jorge Scartezzini. O Tribunal de
Alçada de Minas Gerais condenou o réu a pagar 44 mil reais por entender configurado
nos autos o dano sofrido pelo autor em sua dignidade, bem como reconhecer a conduta
ilícita do genitor ao deixar de cumprir seu dever familiar de convívio e afeto com o filho,
deixando assim de preservar os laços da paternidade. Esses fatos são incontroversos.
Penso que daí decorre uma conduta ilícita da parte do genitor que, ao lado do dever de
assistência material, tem o dever de dar assistência moral ao filho, de conviver com ele,
de acompanhá-lo e de dar-lhe o necessário afeto.
Como se sabe, na norma do art. 159 do Código Civil de 1916, está subentendido o
prejuízo de cunho moral, que agora está explícito no Código novo. Leio o art. 186:
“Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito
ou causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”.
Creio que é essa a hipótese dos autos. Haveria, sim, uma excludente de responsabilidade
se o réu, no caso o progenitor, demonstrasse a ocorrência de força maior, o que me
parece não ter sequer sido cogitado no acórdão recorrido. De maneira que, no caso,
ocorreram a conduta ilícita, o dano e o nexo de causalidade. O dano resta evidenciado
com o sofrimento, com a dor, o abalo psíquico sofrido pelo autor durante todo esse
tempo.
Considero, pois, ser devida a indenização por dano moral no caso, sem cogitar de,
eventualmente, ajustar ou não o quantum devido, porque me parece que esse aspecto não
é objeto do recurso. Penso também, que a destituição do poder familiar, que é uma
sanção do Direito de Família, não interfere na indenização por dano moral, ou seja, a
indenização é devida além dessa outra sanção prevista não só no Estatuto da Criança e
do Adolescente, como também no Código Civil anterior e no atual.
Por esses razões, rogando vênia mais uma vez, não conheço do recurso especial – Grifo
nosso.” (g.n.)

Em conclusão, as relações familiares devem ser pautadas no sentimento de cuidado, atenção,


apoio moral, amor e afeto, mais ainda nas relações entre pais e filhos, onde um conselho, um ombro

1
DIAS, Maria Berenice, in Manual de direito das famílias, 4ª edição, Ed. Revista dos Tribunais,
2007, págs. 406 e 409.
amigo, um abraço, uma ajuda nos deveres da escola, enfim, o “porto seguro”, tanto fazem falta ao
infante. Importante salientar que a existência de afeto é fator fundamental para a formação do caráter
da criança como indivíduo e do estabelecimento de sua personalidade, sendo um ser em formação.

4. DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

A atitude do réu viola os direitos do autor, na condição de filho menor que, sendo um ser
humano em formação moral e psíquica, depende da existência dos laços afetivos parentais para a sua
integral criação, educação, formação como pessoa, enfim, para o cumprimento das garantias
constitucionais inseridas nos Princípios da Proteção Integral e da Dignidade da Pessoa Humana.

E, ao impedir e negar ao autor tais direitos e garantias, sem qualquer justificativa ou


impedimento, o réu causou e vem causando ao autor abalo mental e psicológico, vontade de suicídio,
sentimento de menos valia, depressão profunda, compulsão aguda, sentimentos de rejeição e
inadequação familiar, sensação de menos valia e baixa autoestima, tristeza e sofrimento,
constrangimento, desespero, estresse, vexame, humilhação, angústia e vergonha, durante todos os anos
de sua existência, enfim, causando danos morais, que devem ser indenizados.

Assim, a presente demanda judicial visa a compensação do autor pelas atitudes do réu, eis que
este vem impedindo e evitando qualquer laço afetivo com o filho, sem justificativa, o que configura o
descumprimento do dever legais de assistência, em seu mais amplo aspecto, aí inseridos o cuidado,
convívio, criação e educação ao filho, por parte do pai abandônico, que deve ser responsabilizado por
suas atitudes contra seu filho, um ser humano carente de afeto.

A indenização em favor do autor deve ser fixada por V. Exa. em valor não inferior a
R$800.000,00, como forma de compensação por todos os danos morais causados pelo réu, em
decorrência do abandono afetivo. Deve-se recordar o caráter punitivo e preventivo embutidos no dano
moral, que não visa apenas uma reparação a quem o sofreu, mas também uma punição ao causador do
dano, devendo ainda servir para desestimular a repetição do ato, com base no Princípio da
Exemplaridade.

Em razão de todo o exposto, o dano moral causado ao autor é inquestionável, razão pela qual
deve o réu ser condenado a indenizá-lo, em quantia a ser arbitrada por V. Exa. nas bases acima, e por
aplicação do disposto nos Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade, observando-se também
a gravidade da conduta do réu e sua possibilidade financeira em oposição ao autor.

5. DO PEDIDO

Por todo o exposto, requer a V. Exa. o que se segue:

a) a elaboração de Estudo Social com as partes e a realização de Perícia Médica;


c) a oitiva do Órgão do Ministério Público e expedição de ofício à 1ª Central de Inquéritos para
instauração das medidas cabíveis;
d) a citação do réu;
e) seja julgado procedente o pedido para condenar o réu a indenizar o autor por danos morais
em valor a ser fixado por V. Exa., nas bases sustentadas acima, acrescido de juros e correção, tendo
como base os Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade, observando-se também a gravidade
da conduta do réu e sua possibilidade financeira, nos termos acima, condenando-se o réu nas custas e
honorários de 20% sobre o valor da condenação.

Requer a V. Exa. a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, mormente


documental, testemunhal, pericial, ofícios e depoimento pessoal do réu, sob pena de confissão e
revelia.

Dá-se à presente o valor de R$50.000,00.


Para fins do art. 39,I.
LOCAL E DATA.
ADVOGADO/OAB

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