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3.1.PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (ART.

1º, III, CF)

A dignidade da pessoa, é considerada hoje, o princípio máximo, ou superprincípio, ou ainda


princípio dos princípios. Para Jorge Miranda e Rui de Medeiros5: “a dignidade humana é da pessoa concreta,
na sua vida real e quotidiana; não é de um ser ideal e abstracto. É o homem ou a mulher, tal como existe, que a
ordem jurídica considera irredutível, insubsistente e irrepetível e cujos direitos fundamentais a
Constituição enuncia e protege”.
De acordo com Flávio Tartuce, “a dignidade humana deve ser analisada a partir da realidade do ser humano em seu

contexto social. Ilustrando, pela vivência nacional, o direito à casa própria parece ter relação direta com a proteção da

pessoa humana. Isso gera interpretações extensivas para o amparo da moradia. Cite-se o entendimento consolidado no

STJ no sentido de que o imóvel em que reside pessoa solteira, separada ou viúva constitui bem de família, sendo, portanto,

impenhorável (súmula 364, STJ). Firmou-se a premissa que o almejado pela Lei 8.009/1990 é a proteção da pessoa e não de um

grupo de pessoas. Ampara-se a própria dignidade humana e o direito constitucional à moradia, direito social e fundamental

(art. 6.º da CF/1988)6.”

Súmula 364 - O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a

pessoas solteiras, separadas e viúvas.

Segundo Kant, dignidade humana é aquilo que a pessoa é como ser racional, considerando-se um fim em si

mesmo. A pessoa humana será sempre fim e nunca meio. Portanto, se a pessoa for instrumentalizada, haverá lesão a esse

princípio.

Para Carlos Roberto Gonçalves, “o princípio do respeito à dignidade da pessoa humana constitui, assim,

base da comunidade familiar, garantindo o pleno desenvolvimento e a realização de todos os seus membros,
principalmente da criança e do adolescente (CF, art. 227)7.”

O professor Flávio Tartuce8 apresenta um exemplo que facilita a visibilidade em relação aos avanços do direito

de família em conjunto com a dignidade da pessoa humana:

“Indenização por danos morais. Relação paterno-filial. Princípio da dignidade da pessoa humana. Princípio da afetividade.

A dor sofrida pelo filho, em virtude do abandono paterno, que privou do direito à convivência, ao amparo afetivo, moral e

psíquico, deve ser indenizável, com fulcro no princípio da dignidade da pessoa humana” (TAMG, Apelação Cível 408.555-

5, 7ª, Câmara de Direito Privado, decisão 01.04.2004, Rel. Unias Silva, v.u.).

5
MIRANDA, Jorge; MEDEIROS, Rui. Constituição Portuguesa anotada. Coimbra.

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Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022.
7
Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 - Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões. Disponível em: Minha
Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022.
8
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. Rio de Janeiro, Forense; Método, 2021.
1

No primeiro julgado superior, no dia 29 de novembro de 2005, entendeu-se que não se pode falar em dever de

indenizar, pois o pai não está obrigado a conviver com o filho, não havendo ato ilícito no caso descrito. Demonstrando

evolução quanto ao assunto, outros julgados tratando sobre o tema mostraram-se recorrentes, embora ainda haja

divergência no entendimento de algumas turmas. Vejamos:

O abandono afetivo decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar da prole constitui elemento

suficiente para caracterizar dano moral compensável?

Há um dever jurídico de cuidar afetivamente?9

SIM.

Nos julgamentos da 3º Turma prevalece o entendimento de que, em hipóteses excepcionais, de gravíssimo descaso em

relação ao filho, é cabível a indenização por abandono afetivo. Esta conclusão foi extraída da compreensão de que o

ordenamento jurídico prevê o "dever de cuidado", o qual compreende a obrigação de convivência e "um núcleo mínimo

de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos quanto à afetividade,

condições para uma adequada formação psicológica e inserção social."

STJ. 3ª Turma REsp 1.557.978-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 03/11/2015. STJ. 3ª

Turma REsp 1887697/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/09/2021. NÃO.

Nas hipóteses julgadas pela 4ª Turma, entende-se que não cabe indenizar o abandono afetivo, por maior que tenha sido o

sofrimento do filho. O Direito de Família é regido por princípios próprios, que afastam a responsabilidade civil

extracontratual decorrente de ato ilícito. No plano material, a obrigação jurídica dos pais consiste na prestação de

alimentos. No caso de descumprimento dos deveres de sustento, guarda e educação dos filhos, a legislação prevê como

punição a perda do poder familiar, antigo pátrio-poder.

STJ. 4ª Turma REsp 1.579.021-RS, Relª Minª Isabel Gallotti, julgado em 19/10/2017. STJ. 4ª

Turma REsp 492.243-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 12/06/2018.

📌 OBSERVAÇÃO
▪ Vale mencionar o informativo 840, do STF:

O filho tem direito de ter reconhecida sua verdadeira filiação.

Assim, mesmo que ele tenha nascido durante a constância do casamento de sua mãe e de seu pai registrais, ele poderá

ingressar com ação de investigação de paternidade contra o suposto pai biológico.

A presunção legal de que os filhos nascidos durante o casamento são filhos do marido não pode servir como obstáculo

para impedir o indivíduo de buscar a sua verdadeira paternidade. STF. Plenário AR 1244 EI/MG, Rel. Min. Cármen Lúcia,

julgado em 22/09/2016 (Info 840)10.

1
9
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Abandono afetivo e dano moral. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/b571ecea16a9824023ee1af16897a582>. Acesso em: 27/06/2022
10
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Direito de ter reconhecida a filiação biológica prevalece sobre a presunção legal de paternidade. Buscador
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: <https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/ac4d17530106c3e3c2fb5e2dad0e51b7>. Acesso em:
27/06/2022
7
Não há responsabilidade por dano moral decorrente de abandono afetivo antes do reconhecimento da paternidade.

(Tese 125, STJ).

🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-SC (Banca: CESPE/CEBRASPE; Ano: 2021), a banca

considerou correta a seguinte assertiva: “De acordo com o STJ, a configuração do abandono afetivo depende de a
paternidade ser previamente reconhecida”.

O tema também foi objeto de questão na prova para o cargo de Defensor Pública da DPE-MG (Banca:

Fundep; Ano: 2019). Na oportunidade, a banca considerou correta a seguinte assertiva sobre o Direito das
Famílias: “Não é possível falar em abandono afetivo antes do reconhecimento da paternidade”.

3.2.PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE FAMILIAR (ART. 3.º, I, CF)


Segundo Flávio Tartuce11, “ser solidário significa responder pelo outro, o que remonta à ideia de solidariedade do

direito das obrigações. Quer dizer, ainda, preocupar-se com a outra pessoa. Desse modo, a solidariedade familiar deve ser

tida em sentido amplo, tendo caráter afetivo, social, moral, patrimonial, espiritual e sexual. No que concerne à solidariedade

patrimonial, essa foi incrementada pelo CC/2002. Isso porque mesmo o cônjuge culpado pelo fim do relacionamento pode

pleitear os alimentos necessários – indispensáveis à sobrevivência –, do cônjuge inocente (art. 1.694, § 2.º, do CC). Isso,

desde que o cônjuge culpado não tenha condições para o trabalho, nem parentes em condições de prestar os alimentos (art.

1.704, parágrafo único, do CC)”.

3.3.PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE OS FILHOS (ART. 227, §6.º, CF e ART. 1.596, CC)
Todos os filhos havidos ou não durante o casamento, são iguais perante a lei, sendo vedada qualquer forma de

distinção ou discriminação, tal previsão está expressa nos artigos 227, §6º, da Constituição Federal e no artigo 1.596 do

Código Civil.

CF - Art. 227, § 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e

qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

CC - Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,

proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Carlos Roberto Gonçalves12 afirma que “o dispositivo em apreço estabelece absoluta igualdade entre

todos os filhos, não admitindo mais a retrógrada distinção entre filiação legítima ou ilegítima, segundo os pais

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Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022.
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Gonçalves, Carlos, R. e Pedro Lenza. Esquematizado - Direito Civil 3 - Responsabilidade Civil - Direito de Família - Direito das Sucessões. Disponível em: Minha
Biblioteca, (9th edição). Editora Saraiva, 2022.
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fossem casados ou não, e adotiva, que existia no Código Civil de 1916. Hoje, todos são apenas filhos, uns havidos
fora do casamento, outros em sua constância, mas com iguais direitos e qualificações (CC, arts. 1.596 a

1.629).”

Essa igualdade engloba:

▪ Filhos havidos de união estável;

▪ Relação extraconjugal;

▪ Filhos adotivos;

▪ Havidos de técnica de reprodução assistida heteróloga;

▪ Filhos socioafetivos.

3.4.PRINCÍPIO DA IGUALDADE ENTRE CÔNJUGES E COMPANHEIROS (ART. 226, §5.º,

CF e ART. 1.511, CC)


É uma especialização do princípio da igualdade entre homens e mulheres, previsto no art. 5º,
inciso I da Constituição Federal. A previsão deste princípio está no artigo 226, §5.º da Constituição Federal e no

artigo 1.511 do Código Civil.

CF - Art. 226, § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela

mulher.

CC - Art. 1511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos

cônjuges.

Lembrando que, anteriormente, na história do Brasil, a chefia familiar era exercida pelo homem, portanto, isso

significa uma evolução significativa, inclusive, a expressão “pátrio poder” foi substituída por “poder familiar”. Assim:

Art. 1.565. Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes,

companheiros e responsáveis pelos encargos da família.

Art. 1.631. Durante o casamento e a união estável, compete o poder familiar aos pais; na falta ou
impedimento de um deles, o outro o exercerá com exclusividade.

Parágrafo único. Divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar, é assegurado a qualquer deles recorrer ao juiz

para solução do desacordo.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Defensor Público da DPE-PB (Banca FCC; Ano: 2022), a banca apresentou o seguinte caso
concreto: “Sandro e Lívia são divorciados e exercem a guarda compartilhada da filha Sofia. Diante da

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notícia da campanha de imunização contra a Covid-19 para crianças, Sandro manifestou desejo de não vacinar Sofia. Lívia,

por outro lado, sustentou que a vacinação atende aos interesses da criança. Considerando a

situação, divergindo os pais quanto ao exercício do poder familiar”. E considerou correta a seguinte assertiva:
“é assegurado a qualquer deles recorrer ao Poder Judiciário para solução do desacordo”.

Rubem Valente13 afirma que “o princípio da igualdade de direitos e deveres entre os cônjuges dispõe que o casal

deve exercer os mesmos direitos e deveres provenientes da paternidade responsável, não podendo se abster de nenhum

deles. Inexiste, atualmente, a figura patriarcal do marido, incumbindo igualmente aos pais o exercício dos direitos e deveres

disciplinados no art. 1.634, incisos I ao IX, do CC/2002.”

Nas palavras de Flávio Tartuce, como decorrência do princípio da igualdade entre cônjuges e

companheiros “surge a igualdade na chefia familiar, que pode ser exercida tanto pelo homem quanto pela mulher em um

regime democrático de colaboração, podendo inclusive os filhos opinar (conceito de família democrática).

Substitui-se uma hierarquia por uma diarquia. Utiliza-se a expressão despatriarcalização do Direito de Família, eis

que a figura paterna não exerce o poder de dominação do passado. O regime é de companheirismo, não de hierarquia,

desaparecendo a ditatorial figura do pai de família (paterfamilias), não podendo sequer se utilizar a expressão pátrio poder,

substituída por poder familiar14.”

Esse princípio tem uma implicação processual: o foro deixa de ser o foro privilegiado da mulher para as ações

de família e passa a ser o foro do guardião do incapaz (art. 53, CPC).

3.5.PRINCÍPIO DA NÃO INTERVENÇÃO OU DA LIBERDADE (ARTS. 1.513 e 1.565,

2.º, CC)
Princípio previsto nos artigos 1.513 e 1.565, §2º do Código Civil, menciona que, é vedado a qualquer pessoa, de

direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família.

Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela

família.

Art. 1.565, §2º. O planejamento familiar é de livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos

educacionais e financeiros para o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições

privadas ou públicas.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-MT (Banca: FCC; Ano: 2019), a banca considerou

correta a seguinte assertiva em relação ao casamento: “É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou

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Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022.
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Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022.
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privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família”.

Flávio Tartuce faz uma ressalva importante quanto a esse princípio, “é pertinente apontar que esse princípio deve

ser lido e ponderado perante outros princípios, como no caso do princípio do maior interesse da criança e do adolescente,

que se passa a analisar15.”

Outrossim, Tartuce16 alerta que “o real sentido do texto legal é que o Estado ou mesmo um ente privado não

pode intervir coativamente nas relações de família. Porém, o Estado poderá incentivar o controle da natalidade e o

planejamento familiar por meio de políticas públicas. A CF/1988 consagra a paternidade responsável e o planejamento

familiar, devendo o Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desses direitos, vedada qualquer

forma coercitiva por parte de instituições oficiais e privadas (art. 226,

§ 7.º, da CF/1988). Ademais, o Estado deve assegurar a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram,

criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações (art. 226, § 8.º, da CF/1988).”

3.6.PRINCÍPIO DO MAIOR INTERESSE DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ART. 227, CF

e ARTS. 1.583 e 1.584, CC)


Este princípio apresenta fundamentos no art. 227 da Constituição Federal, art. 3º no ECA e art. 1.583 e

1.584 do Código Civil.

Em poucas palavras, Rubem Valente afirma que esse princípio tem como objetivo “proporcionar as melhores

condições de vida à criança e ao adolescente, devendo assegurar os seus direitos, bem como a proteção ao seu

desenvolvimento e sua dignidade17.”

CF - Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta

prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,

discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

ECA - Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem

prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as

oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em

condições de liberdade e de dignidade.

O professor Cristiano Sobral18 traz algumas decisões pautadas no melhor interesse da criança, que valem a

leitura:

15
Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022.
16
Tartuce, Flávio. Manual de Direito Civil - Volume Único. Disponível em: Minha Biblioteca, (12th edição). Grupo GEN, 2022.
17
Valente, Rubem. Direito Civil Facilitado. Disponível em: Minha Biblioteca, (2nd edição). Grupo GEN, 2022.
18
PINTO, Cristiano Vieira Sobral. Direito civil sistematizado. Salvador: Editora Juspodivm, 2021.
11
Cinge-se a questão em saber se uma vez abandonado pelo genitor, que se encontra em local incerto, é possível a adoção de

menor com o consentimento de sua genitora, sem a prévia ação que objetiva a destituição do poder familiar do pai

biológico. No caso, as instâncias ordinárias verificaram que a genitora casou-se com o adotante e concordou com a

adoção, restando demonstrada a situação de abandono do menor adotado em relação ao genitor, que foi citado por edital.

Diante desses fatos, desnecessária a prévia ação para destituição do pátrio poder paterno, uma vez que a adoção do

menor, que desde tenra idade conv

iv e de maneira salutar e fraternal com o adotante há mais de dez anos, privilegiará o melhor interesse da
criança. Precedentes citados: REsp 1.199.465-DF, DJe 21/6/2011; REsp 100.294-SP, DJ 19/11/2001, e SEC 259-EX, DJe
23/8/2010 (REsp n. 1.207.185-MG, rel. Ministro Luis Felipe Salomão, j. em 11.10.2011).

Menores. Adoção. União homoafetiva. Cuida-se da possibilidade de pessoa que mantém união

homoafetiva adotar duas crianças (irmãos biológicos) já perfilhadas por sua companheira. É certo que

o art. 1º da Lei n. 12.010/09 e o art. 43 do Estatuto da Criança e do Adolescente deixam claro que todas as crianças e

adolescentes têm a garantia do direito à convivência familiar e que a adoção fundada em motivos legítimos pode ser

deferida somente quando presentes reais vantagens a eles. Anote-se, então, ser imprescindível, na adoção, a prevalência

dos interesses dos menores sobre quaisquer outros, até porque se discute o próprio direito de filiação, com consequências

que se estendem por toda a vida. Decorre daí que, também no campo da adoção na união homoafetiva, a qual, como

realidade fenomênica, o Judiciário não pode desprezar, há que se verificar qual a melhor solução a privilegiar a proteção

aos direitos da criança. Frise-se inexistir aqui expressa prev isão legal a permitir também a inclusão, como adotante, do

nome da companheira de igual sexo nos registros de nascimento das crianças, o que já é aceito em v ários países, tais

como a Inglaterra, País de Gales, Países Baixos, e em algumas prov íncias da Espanha, lacuna que não se mostra como

óbice à proteção proporcionada pelo Estado aos direitos dos inf antes. Contudo, estudos científicos de respeitadas

instituições (a Academia Americana de Pediatria e as Universidades de Virgínia e Valência) apontam não haver qualquer

inconveniente na adoção por companheiros em união homoafetiva, pois o que realmente importa é a qualidade do vínculo

e do afeto presente no meio familiar que ligam as crianças a seus cuidadores. Na específica hipótese, há consistente

relatório social lavrado por assistente social favorável à adoção e conclusivo da estabilidade da família, pois é

incontroverso existirem fortes vínculos afetivos entre a requerente e as crianças. Assim, impõe-se deferir a adoção

lastreada nos estudos científicos que afastam a possibilidade de prejuízo de qualquer natureza às crianças, visto que

criadas com amor, quanto mais se verificado cuidar de situação fática consolidada, de dupla maternidade desde os

nascimentos, e se ambas as companheiras são responsáveis pela criação e educação dos menores, a elas competindo,

solidariamente, a responsabilidade. Mediante o deferimento da adoção, ficam consolidados os direitos relativos a

alimentos, sucessão, convívio com a requerente em caso de separação ou falecimento da companheira e a inclusão dos

menores em convênios de saúde, no ensino básico e superior, em razão da qualificação da requerente, professora

universitária. Frise-se, por último, que, segundo estatística do CNJ, ao consultar-se o Cadastro Nacional de Adoção,

poucos são os casos de perfilhação de dois irmãos biológicos, pois há preferência por adotar apenas uma criança. Assim,

por qualquer ângulo que se analise a questão, chega-se à conclusão de que, na hipótese, a adoção proporciona mais do que

vantagens aos menores (art. 43 do Estatuto da Criança e do Adolescente) e seu indeferimento resultaria verdadeiro

prejuízo a eles. REsp n. 889.852/RS, rel. Ministro Luis Felipe Salomão, j. em 27.04.2010 (ver Informativo n. 432).
12
Menor. Guarda provisória. A criança, de poucos dias de vida, foi entregue pelo próprio genitor aos cuidados de uma

família amiga (tios de “consideração”) residente em outro Estado-membro, em razão dos péssimos cuidados que a

genitora dispensava a ela e a outros irmãos (faltavam lhes condições condignas de higiene, saúde, alimentação,

educação e moradia, afora a suspeita de negociação de entrega da criança aos traficantes de drogas locais e o “aluguel” de

outro irmão para a mendicância). O próprio pai alega estar impossibilitado de assumir a guarda do infante frente à relutância

de sua atual companheira, que já cuida de outro filho seu. Por sua vez, em poucos meses, o casal que acolheu a criança

recebeu intimação para que prestasse testemunho em carta precatória e, ainda, entregasse a criança ao oficial de justiça

em razão de pedido de providências formulado em juízo pelo conselho tutelar do local onde reside a mãe biológica.

Ao se dirigirem ao fórum daquela cidade, surpreenderam-se com o aparato policial que os obrigou a entregar a criança

ao abrigo local. Daí vem o conflito de competência em questão, pois houve a concessão de guarda em pleito ajuizado

pelo casal no juízo ora suscitante, que confronta com a determinação do juízo suscitado de entrega da menor, feita no

referido pedido de providências. Há conexão entre a ação de guarda e o pedido de providências, porquanto, embora

sejam dois processos com partes distintas, ambos versam sobre direitos de um único e só bem a ser protegido e preservado:

a vida da menor, a determinar que sejam reunidos e julgados conjuntamente. Anote-se que, nesses casos de ações que

versem sobre o interesse de crianças, há que se dar primado à preservação dos direitos do infante, com a atenção

redobrada, no caso, por força das particularidades que revestem a situação acima descrita. Se a guarda provisória já

foi deferida em favor do casal (que já a exercia de fato até a decisão judicial que colocou o menor em abrigo), define-se a

competência pelo seu foro de domicílio (art. 147, I, do Estatuto da Criança e do Adolescente), sobretudo se nem o pai

ou a mãe possuem condições de cuidar da criança. Outrossim, no trato de guarda de menor, não se observa o direito

dos pais ou terceiros de terem para si a criança, mas o direito da criança de ser cuidada pelos pais ou família que os

substitua (art. 227 da Constituição Federal de 1988 e arts. 3º a 5º do Estatuto da Criança e do Adolescente). Visto

demonstrado não hav er estabilidade af etiv a, social, material e espiritual dos genitores dessa criança, ela dev e ser

nov amente inserida prov isoriamente na f amília substituta da qual f oi retirada. Com esse entendimento, a Seção

def iniu como competente o juízo suscitante e determinou a expedição de imediato mandado de entrega da criança

ao casal substituto independentemente de trânsito em julgado. Precedentes citados: CC n. 92.473/PE, DJe, 27.10.2009;

CC n. 94.897/DF, DJe, 02.02.2009; CC n. 86.187/MG, DJe, 05.03.2008; CC n. 54.084/PR, DJ, 06.11.2006, e CC n. 62.027/PR,

DJ, 09.10.2006. CC n. 108.442/SC, rel. Ministra


Nancy Andrighi, j. em 10.03.2010 (v er Informativo n. 426).

Competência. Adoção. Guarda. Interesse. Criança. No caso de disputa judicial que envolve a guarda ou

mesmo a adoção de crianças ou adolescentes, deve-se levar em consideração o interesse deles para a determinação da

competência, mesmo que para tal se flexibilizam outras normas. Logo, o princípio do juízo imediato, previsto no art. 147,

I, do ECA, sobrepõe-se às regras gerais do CPC, desde que presente o interesse da criança e do adolescente.

Assim, o art. 87 do CPC, que estabelece o princípio da perpetuatio jurisdictionis, deve ser afastado para que a solução do

litígio seja mais ágil, segura e eficaz em relação à criança, permitindo a modificação da competência no curso do processo,

mas sempre considerando as peculiaridades do caso. A aplicação do art. 87 do CPC em oposição ao art. 147, I, do ECA

somente é possível quando haja mudança de domicílio da criança e seus responsáveis, após já iniciada a ação e,

consequentemente, configurada a relação


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processual. Esse posicionamento tem o objetivo de evitar que uma das partes mude de residência e leve consigo o

processo. CC n. 111.130/SC, rel. Ministra Nancy Andrighi, j. em 08.09.2010 (ver Informativo n. 446).

A observância, em processo de adoção, da ordem de preferência do cadastro de adotantes deverá ser

excepcionada em prol do casal que, embora habilitado em data posterior à de outros adotantes, tenha

exercido a guarda da criança pela maior parte da sua existência, ainda que a referida guarda

tenha sido interrompida e posteriormente retomada pelo mesmo casal. O cadastro de adotantes

preconizado pelo ECA visa à observância do interesse do menor, concedendo vantagens ao procedimento legal da adoção,

uma comissão técnica multidisciplinar avalia previamente os pretensos adotantes, o que minimiza consideravelmente a

possibilidade de eventual tráfico de crianças ou mesmo a adoção por intermédio de influências escusas, bem como propicia a

igualdade de condições àqueles que pretendem adotar. Entretanto, sabe-se que não é absoluta a observância da ordem de

preferência das pessoas cronologicamente cadastradas para adotar determinada criança. A regra legal deve ser

excepcionada em prol do princípio do melhor interesse da criança, base de todo o sistema de proteção ao menor, evidente, por

exemplo, diante da existência de vínculo afetivo entre a criança e o pretendente à adoção. Além disso, recorde-se que o art.

197-E,
§ 1º, do ECA afirma expressamente que a ordem cronológica das habilitações somente poderá deixar de ser observada pela

autoridade judiciária nas hipóteses previstas no § 13 do art. 50 daquela lei, quando comprovado ser essa a melhor

solução no interesse do adotando. Precedentes citados: REsp 1.172.067-MG, DJe 14/4/2010, e REsp 837.324-RS, DJ

31/10/2007 (REsp n. 1.347.228-SC, rel. Ministro Sidnei Beneti, j. em 06.11.2012).

A adoção unilateral prevista no art. 41, § 1º, do ECA pode ser concedida à companheira da mãe

biológica da adotanda, para que ambas as companheiras passem a ostentar a condição de mães, na

hipótese em que a menor tenha sido fruto de inseminação artificial heteróloga, com doador

desconhecido, previamente planejada pelo casal no âmbito de união estável homoafetiva,

presente, ademais, a anuência da mãe biológica, desde que inexista prejuízo para a adotanda.

O STF decidiu ser plena a equiparação das uniões estáv eis homoaf etiv as às uniões estáveis heteroafetivas, o que trouxe, como

consequência, a extensão automática das prerrogativas já outorgadas aos companheiros da união estável tradicional àqueles que

vivenciem uma união estável homoaf etiv a. Assim, se a adoção unilateral de menor é possív el ao extrato heterossexual

da população, também o é à fração homossexual da sociedade. Deve-se advertir, contudo, que o pedido de adoção se

submete à norma-princípio fixada no art. 43 do ECA, segundo a qual “a adoção será deferida quando apresentar reais

vantagens para o adotando”. Nesse contexto, estudos feitos no âmbito da Psicologia afirmam que pesquisas têm demonstrado

que os filhos de pais ou mães homossexuais não apresentam comprometimento e problemas em seu desenvolvimento

psicossocial quando comparados com filhos de pais e mães heterossexuais. Dessa forma, a referida adoção somente se

mostra possível no caso de inexistir prejuízo para a adotanda. Além do mais, a possibilidade jurídica e a conveniência do

deferimento do pedido de adoção unilateral devem considerar a evidente necessidade de aumentar, e não de restringir, a

base daqueles que desejem adotar, em virtude da existência de milhares de crianças que, longe de quererem discutir a

orientação sexual de seus pais, anseiam apenas por um lar (REsp 1.281.093-SP, rel. Ministra Nancy Andrighi, j. em

18.12.2012).

14
RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL E CIVIL. AÇÃO DE ADOÇÃO DE PESSOA MAIOR. PEDIDO FORMULADO

PELA MÃE BIOLÓGICA EM RELAÇÃO À FILHA ADOTADA ANTERIORMENTE NA INFÂNCIA.

CONSENTIMENTO DOS PAIS ADOTIVOS E DA ADOTANDA. POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. INTERPRETAÇÃO

SISTEMÁTICA E TELEOLÓGICA. FINALIDADE PROTETIVA DAS NORMAS RELACIONADAS AO DIREITO DA

CRIANÇA E DO

ADOLESCENTE. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PROVIDO. 1. O Ministério Público tem legitimidade para interpor

recurso especial na condição de custos legis, em razão da natureza da causa, porquanto concernente ao estado de pessoa,

nos termos dos arts. 82, II, e 499, § 2º, do CPC/1973. 2. Em se tratando de adoção de pessoa maior de dezoito anos, regida

pelo Código Civil de 2002, o procedimento deve considerar a capacidade civil dos requerentes e a livre manifestação

de vontade das partes. A lei não traz expressamente a

impossibilidade de se adotar pessoa anteriormente adotada. 3. O pedido de nova adoção formulado pela
mãe biológica, em relação à filha adotada por outrem, anteriormente, na infância, não se

afigura juridicamente impossível, sob o argumento de ser irrevogável a primeira adoção, porque o escopo da

norma do art. 39, § 1º, do ECA é proteger os interesses do menor adotado, vedando que os adotantes se

arrependam da adoção efetivada. 4. Nesta ação não se postula a nulidade ou revogação da adoção anterior, mas o

deferimento de outra adoção, adoção de pessoa maior, regida pelo Código Civil de 2002, não sujeita (ao tempo da propositura

da ação) ao regime especial do Estatuto da Criança e do Adolescente, embora dependendo de procedimento judicial e

sentença constitutiva (art. 1.623, parágrafo único, do CC/2002).

5. Tratando-se de adoção de pessoa maior de dezoito anos, o procedimento deve considerar a capacidade civil dos

requerentes e a livre manifestação de vontade das partes, pois "a adoção depende de consentimento dos pais ou dos

representantes legais, de quem se deseja adotar, e da concordância deste" (CC/2002, art. 1.621).

6. Na hipótese, tem-se que todos os requisitos legais para adoção de pessoa maior previstos no CC/2002 foram

preenchidos: a adotante é maior de dezoito anos (art. 1.618); há diferença de idade de dezesseis anos (art. 1.619); houve

consentimento dos pais da adotanda e concordância desta (art. 1.621); o meio escolhido foi o processo judicial (art. 1.623);

foi assegurada a efetiva assistência do Poder Público (art. 1.623, parágrafo único); o Ministério Público constatou o efetivo

benefício para a adotanda (art. 1.625) e postula o deferimento do pedido. 7. Recurso especial conhecido e provido. (REsp

n. 1.293.137/BA, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 11/10/2022, DJe de 24/10/2022.)

3.7.PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE
Tal princípio não tem previsão expressa. O afeto (interação entre pessoas) tem valor jurídico, podendo ser

positivo (amor) ou negativo (ódio). Cristiano Sobral 19 ensina que, tal princípio tem fundamento na tutela da dignidade

da pessoa humana, bem como na solidariedade social e na igualdade entre os filhos. O afeto é relação de

amor no convívio das entidades familiares. O rompimento do mesmo pode gerar dano moral, principalmente quando ficar

provado o descumprimento do dever de convivência e participação ativa no desenvolvimento do ser que foi gerado. Deve-

se deixar claro que a família atual não é somente a biológica. A assunção de vínculo parental também não pode ser afastada

por simples e espontânea vontade.

19
PINTO, Cristiano Vieira Sobral. Direito civil sistematizado. Salvador: Editora Juspodivm, 2021.
15
A jurisprudência superior tem acompanhado a ideia do princípio. Como exemplos, podemos citar a

indenização por abandono afetivo, reconhecimento da união homoafetiva como entidade familiar, reconhecimento da

parentalidade socioafetiva como forma de parentesco civil (art. 1.593, CC).

Ainda, o Enunciado 256 do CJF diz:

A posse do estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil.

A posse de estado de filho pressupõe 3 critérios:

▪ Reputação (reputatio);

▪ Tratamento (tractatio/Tractatus).

▪ Nome (nominativo ou nomen)

Maria Berenice Dias20 afirma que “ainda que não use a palavra afeto, o princípio da afetividade está consagrado

no âmbito de proteção estatal. Pode-se dizer que houve a constitucionalização do afeto, no momento em que

união estável foi reconhecida como entidade familiar, merecedora da especial tutela do Estado e inserção no sistema

jurídico. Como a união estável se constitui sem o selo do casamento, isso significa que a afetividade é o que une e enlaça as

pessoas. Ocorreu a constitucionalização de um modelo de família eudemonista e igualitário, com maior espaço para o afeto

e a realização individual. A igualdade entre irmãos biológicos e adotivos também decorre do princípio da afetividade.

Atualmente, o afeto talvez seja apontado como o principal fundamento das relações familiares.”

Por fim, no informativo 840 do STF, foi firmada a seguinte tese de repercussão geral:

A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação

concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios.

🚨 JÁ CAIU
Na prova para o cargo de Promotor de Justiça do MPE-MG (Banca: FUNDEP; Ano: 2021), a banca considerou

correta a seguinte assertiva: “A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o

reconhecimento do vínculo de filiação concomitantemente baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos

próprios.”

20
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. Salvador: Juspodivm, 2021. p. 75.
16
3.8.PRINCÍPIO FUNÇÃO SOCIAL (ART. 226, CF)

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

Utilizando, mais uma vez, os ensinamentos do Professor Cristiano Sobral 21, é impossível deixar de mencionar a

importância do princípio da função social, que, assim como na propriedade e nos contratos, apresenta suma relevância no

direito de família. Trata-se de princípio que sintetiza a igualdade entre o marido e a mulher, bem

como entre os filhos havidos fora do casamento, a paternidade socioafetiva, a impenhorabilidade do

bem de família de pessoa solteira, separada e viúva.

Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona Filho 22 afirmam que “de fato, a principal função da família é a sua

característica de meio para a realização de nossos anseios e pretensões. Não é mais a família um fim em si mesmo,

conforme já afirmamos, mas, sim, o meio social para a busca de nossa felicidade na relação com o outro.

3.9.PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA


É exigência de um comportamento de lealdade dos participantes negociais, em todas as suas fases, esse princípio

se aplica, também, entre cônjuges, companheiros, pais e filhos. Nesse sentido, o REsp. 1.087.163/RJ que aplica o venire

contra factum proprium no direito de família.

Discute-se no REsp se o pai biológico tem legitimidade para pedir a alteração do registro civil de sua filha biológica do

qual hoje consta como pai o nome de outrem e, ainda, caso ultrapassado de forma positiva esse debate, o próprio mérito da

ação originária quanto à conveniência da alteração registral pleiteada pelo pai biológico. Na espécie, a Turma entendeu

que a paternidade biológica não tem o condão de vincular, inexoravelmente, a filiação, apesar de deter peso específico

ponderável, ante o liame genético para definir questões relativas à filiação. Pressupõe, no entanto, para a sua prevalência, a

concorrência de elementos imateriais que efetivamente demonstram a ação volitiva do genitor em tomar posse da

condição de pai ou mãe. A filiação socioafetiva, por seu turno, ainda que despida de ascendência genética, constitui uma

relação de fato que deve ser reconhecida e amparada juridicamente. Isso porque a parentalidade que nasce de uma decisão

espontânea, arrimada em boa-fé, deve ter guarida no Direito de Família. Na hipótese, a evidente má-fé da genitora e a

incúria do recorrido, que conscientemente deixou de agir para tornar pública sua condição de pai biológico e, quiçá, buscar

a construção da necessária paternidade socioafetiva, tomam-lhes o direito de se insurgir contra os fatos consolidados. A

omissão do recorrido, que contribuiu decisivamente para a perpetuação do engodo urdido pela mãe, atrai o entendimento

de que a ninguém é dado alegar a própria torpeza em seu proveito, fenecendo, assim, a sua legitimidade para pleitear o

direito de buscar a alteração no registro de nascimento de sua filha biológica. Precedente citado: REsp 119.346-GO,

DJ 23/6/2003. REsp

21
PINTO, Cristiano Vieira Sobral. Direito civil sistematizado. Salvador: Editora Juspodivm, 2021.
22
Gagliano, Pablo, S. e Rodolfo Pamplona Filho. Manual de Direito Civil: volume único. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição). Editora Saraiva, 2022.
17
1.087.163-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/8/2011.

📌 OBSERVAÇÃO
O STJ entendeu que não é cabível a teoria do adimplemento substancial para os alimentos (HC 439.973/MG).

HABEAS CORPUS. DIREITO DE FAMÍLIA. TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. NÃO

INCIDÊNCIA. DÉBITO ALIMENTAR INCONTROVERSO. SÚMULA N. 309/STJ. PRISÃO CIVIL. LEGITIMIDADE.

PAGAMENTO PARCIAL DA DÍVIDA. REVOGAÇÃO DO DECRETO PRISIONAL. NÃO CABIMENTO.

IRRELEVÂNCIA DO DÉBITO.

EXAME NA VIA ESTREITA DO WRIT. IMPOSSIBILIDADE. 1. A Teoria do Adimplemento Substancial, de aplicação estrita

no âmbito do direito contratual, somente nas hipóteses em que a parcela inadimplida revela-se de

escassa importância, não tem incidência nos vínculos jurídicos familiares, revelando-se inadequada para solver controvérsias

relacionadas a obrigações de natureza alimentar. 2. O pagamento parcial da obrigação alimentar não afasta

a possibilidade da prisão civil. Precedentes. 3. O sistema jurídico tem mecanismos

por meio dos quais o devedor pode justificar o eventual inadimplemento parcial da obrigação (CPC/2015, art. 528) e,

outrossim, pleitear a revisão do valor da prestação alimentar (L. 5.478/1968, art. 15; CC/2002, art. 1.699). 4. A ação

de Habeas Corpus não é a seara adequada para aferir a relevância do débito alimentar parcialmente adimplido, o que

só pode ser realizado a partir de uma profunda incursão em elementos de prova, ou ainda demandando dilação

probatória, procedimentos incompatíveis com a via estreita do remédio constitucional. 5. Ordem denegada.

3.10. PRINCÍPIO DA CONVIVÊNCIA FAMILIAR


Por esse princípio entende-se que pais e filhos devem permanecer juntos.

Segundo Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona23 “o afastamento definitivo dos filhos da sua família natural é medida

de exceção, apenas recomendável em situações justificadas por interesse superior, a exemplo da adoção, do

reconhecimento da paternidade socioafetiva ou da destituição do poder familiar por descumprimento de dever legal.

O art. 23, caput, do ECA, quanto à regulamentação da inserção em família substituta não admite que os filhos

sejam separados dos pais em virtude de hipossuficiência financeira.

Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder

familiar.

Nas palavras de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona, “ao prever que a falta de recursos materiais não autoriza a

perda ou a suspensão do poder familiar, a norma estatutária está assegurando, especialmente a famílias de baixa renda, a

convivência familiar com a sua prole, impedindo que o poder econômico seja

23
Gagliano, Pablo, S. e Rodolfo Pamplona Filho. Manual de Direito Civil: volume único. Disponível em: Minha Biblioteca, (6th edição). Editora Saraiva, 2022.
18
utilizado como vetor de determinação da guarda ou de qualquer outra medida em face de suas

crianças e adolescentes. Entretanto, de nada adiantará o permissivo assecuratório, se não forem

efetivamente implementadas sérias políticas públicas de auxílio e reingresso social, tarefa

desempenhada, hoje, principalmente, pelos Conselhos Municipais da Infância e Juventude e

Secretarias Estaduais e Municipais em todo o País. (...) Por tais razões, estamos convictos de que o

princípio da convivência familiar necessita, para se consolidar, não apenas do amparo jurídico

normativo, mas, principalmente, de uma estrutura multidisciplinar associada que permita a sua plena

realização social.”

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