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SIBELE RESENDE PRUDENTE

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES


2023/2

UNIDADE I – INTRODUÇÃO

1.1- Família: conceito e evolução

A família é o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico fundado em


aspectos biológicos, psicológicos e sociológicos; é o núcleo fundamental da pessoa
humana, é a base da sociedade e de toda organização social. É na família que se
originam hábitos, crenças, princípios éticos e morais que terão fundamental importância
na vida de cada ente familiar.

Não é por acaso que muitos juristas alertam que a crise moral que vive a
sociedade contemporânea está diretamente ligada à crise moral dentro das próprias
famílias. Por isso, o operador do Direito, sempre que possível, deve defender a entidade
familiar e cumprir com sua função social.

A família recebe a seguinte classificação técnica:


a) entidade familiar criada pelo matrimônio;
b) entidade familiar decorrente de união estável;
c) entidade familiar decorrente de união homoafetiva;
d) família natural (ambos genitores) ou um deles e seus descendentes;
e) família substituta, em caso de adoção.

O Direito é uma ciência dinâmica, dentro desse raciocínio se destaca o Direito


Civil, e em especial, o Direito de Família que lida diretamente com os comportamentos,
emoções e sentimentos mais íntimos dos indivíduos.

Destaca-se aqui algumas transformações que mostram a evolução do Direito de


Família:
1) igualdade dos filhos independente da origem da filiação;
2) mudança do menor para lar substituto mesmo que de forma imposta,
mostrando a interferência do Estado nas relações privadas;
3) união estável e o reconhecimento de direitos até então jurisprudenciais;
4) igualdade de direitos e deveres entre homem e mulher na sociedade
conjugal, acabando com a noção de chefe de família (pensão alimentícia e IBGE).
5) união homoafetiva.

Na verdade, o Direito Civil, e em especial o de Família, passa por uma


socialização constante, perdendo cada dia mais o aspecto individual e ganhando mais
espaço e responsabilidade no social com interferência protetora do Estado.

1.2- Direito de Família: conceito, características e conteúdo

O Direito de Família é a parte do Direito Civil, situado no Livro IV da Parte


Especial do Código Civil, que estuda a entidade familiar e suas múltiplas relações,
compostas por aspectos pessoais e patrimoniais. Podemos afirmar que é função do
Direito de Família regulamentar essas relações para trazer organização e harmonia
social.

O Direito de Família teve sua origem no Direito Canônico, com normas


impostas e inspiradas na vontade de Deus ou do Monarca que colocava sanções a quem
descumprisse alguma dessas normas.

Segundo Beviláqua Direito de Família é o complexo das normas, que regulam


a celebração do casamento, sua validade e os efeitos, que dele resultam, as relações
pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais
e filhos, o vínculo do parentesco e os institutos complementares da tutela e da curatela.
É claro que hoje esse conceito precisa ser complementado pelas outras formas de
entidade familiar.

Uma das características mais fortes do Direito de Família é o fato de se tratar


de um direito privado com fervorosa intervenção pública. Alguns juristas sustentam que
o Direito de Família não é público nem privado, e sim social e que deveríamos ter um
Estatuto da Família que englobasse o ECA e outros institutos a fins.

A verdade é que o Direito de Família tem se destacado muito e deixado de ser


uma mera parte do Direito Civil e ganhando rumos autônomos; não é por acaso que a
própria estrutura do Judiciário coloca varas especializadas em Direito de Família; varas
estas que vão muito além de dogmas jurídicos porque precisam de sobremaneira do
auxílio, orientação e pareceres de profissionais de outras áreas como assistentes sociais
e psicólogos.

Além disso, sabemos que o juiz, o membro do Ministério Público, os


serventuários e advogados que atuam nas varas de Família necessitam de um perfil
específico e bem mais sensível, pois os problemas familiares não se esgotam com uma
sentença transitada em julgado, ao contrário, às vezes a sentença que deveria promover
harmonia acaba infelizmente por trazer rancor e mágoa.

Uma outra forte característica é que o operador do Direito de Família deve


estar sempre aberto para modificações sociais e entender que as realidades no nosso país
são distintas de uma região para outra. Ainda apresenta como característica peculiar
vários direitos personalíssimos e irrenunciáveis.

O Direito de Família tem como conteúdo:


- Título I – Do Direito Pessoal
Subtítulo I – Do Casamento
Subtítulo II – Das Relações de Parentesco
- Título II – Do Direito Patrimonial
Subtítulo I – Do Regime de Bens Entre os Cônjuges
Subtítulo II – Do Usufruto e Administração dos Bens
De Filhos Menores
Subtítulo III – Dos Alimentos
Subtítulo IV - Do Bem de Família
- Título III – Da União Estável
- Título IV – Da Tutela e da Curatela
1.3- Princípios e Natureza Jurídica

O Direito de Família tem como princípios mais relevantes a moral, a religião, a


solidariedade, a preservação do ser humano com dignidade e a tutela do grupo familiar.
Contudo, existem princípios constitucionais muito fortes que envolvem com a referida
disciplina, tais como:

1.3.1 - Princípio da Família como Base da Sociedade (CF, art.226, caput);

1.3.2 - Princípio da Isonomia Conjugal (CF, art. 226, §5°);

1.3.3 - Princípio da Dissolubilidade do Vínculo (CF, § 6° do art. 226);

1.3.4 - Princípio da Dignidade da Pessoa Humana (CF, § 7° do art. 226);

1.3.5 - Princípio da Paternidade Responsável (CF, § 7° do art. 226);

1.3.6 - Princípio do Livre Planejamento Familiar (CF, § 7° do art. 226);

1.3.7 - Princípio da Igualdade Jurídica de Todos os Filhos (CF, art. 227 §6°)

1.3.8 - Princípio da Identificação dos Direitos Fundamentais da Criança, do


Adolescente e do Idoso (CF, art. 227, 229 e 230).

Em relação à natureza jurídica podemos dizer que a família em tempos remotos


já foi considerada pessoa jurídica por ter direitos patrimoniais e extrapatrimoniais. No
entanto, atualmente essa natureza jurídica não é aceita por faltar-lhe capacidade de
usufruir desses direitos e contrair obrigações em nome da família, porque quem tem
essa aptidão não é a família propriamente dita e sim as pessoas que a compõe.

Portanto, hoje a família é considerada uma instituição formada da união de


pessoas que estão ligadas por diversos vínculos e fazem parte de uma sociedade.
1.4- Relações Com Outros Ramos do Direito

- Direito das Sucessões: sucessão legítima, art. 1829;


- Direito das Obrigações: doações e vendas de ascendente para descendente,
arts. 1789 e 496;
- Direito Penal: delitos contra o casamento;
- Direito Processual: impedimentos e suspeição de juízes, membros do
Ministério Público e serventuários em razão de parentesco com as partes e impedimento
de testemunha pela mesma razão, arts. 134 e 135 do CPC;
- Direito Eleitoral: inelegibilidade
- Direito Administrativo: licenças, benefícios (auxílio leite, auxílio creche),
nepotismo.

UNIDADE II – CASAMENTO

2.1- Conceito e Finalidade

Existem vários conceitos de casamento e os mesmos têm mudado e


acompanhado a evolução do comportamento do homem. Antigamente era comum
conceituar o casamento como uma união indissolúvel e permanente entre um homem e
uma mulher com finalidade de assistência mútua e reprodução.

Hoje sabemos que o casamento não é mais indissolúvel e que vários casais
optam em não ter filhos, outros não podem tê-los. Portanto, o que podemos afirmar é
que do ponto de vista jurídico o casamento é um contrato de Direito de Família, solene,
não personalíssimo, que não admite termo ou condição; contrato este que deve ser feito
entre um homem e uma mulher com o intuito de regulamentar a união entre ambos de
acordo com seus aspectos comportamentais e patrimoniais.

Apesar da evolução do conceito a doutrina predominante afirma que as


principais finalidades do casamento ainda continuam sendo basicamente as mesmas:
reprodução, assistência educacional da prole, assistência mútua entre os cônjuges,
satisfação sexual, integração fisiopsíquica, comunhão plena de vida e felicidade
conjunta. O que não devemos esquecer é que finalidade é diferente de requisito
indispensável, finalidade tem foro íntimo, é de ordem pessoal e subjetiva.

2.2- Natureza Jurídica

Do ponto de vista legal a natureza jurídica do casamento, como já visto


anteriormente, é um contrato de Direito de Família; mas quando adentramos de forma
específica na natureza jurídica nos deparamos com um tema bastante controvertido,
alguns doutrinadores afirmam que o casamento é um contrato sui generis e outros o
colocam como instituição.

Parte da doutrina tem solucionado o problema afirmando que do ponto de vista


jurídico o casamento é sim um contrato, mas um contrato especial; e do ponto de vista
sociológico o casamento é uma instituição baseada na assistência recíproca, geração e
educação da prole.

Venosa afirma com propriedade que casamento-ato é um negócio jurídico e


casamento-estado é uma instituição.

2.3- Capacidade Para o Casamento: arts. 1517 ao 1520

O Decreto-Lei 3.200 de 19 de abril de 1941 autoriza o casamento entre


colaterais de terceiro grau, como tio com sobrinha e tia com sobrinho (casamento
avuncular), mas esta autorização está subordinada à realização de exame médico pré-
nupcial, que aponte a conveniência dessa união sobre o ponto de vista de saúde e
possível prole entre os nubentes.

2.4- Esponsais

Significa uma promessa séria de casamento ou o chamado noivado.


Observando a parte histórica percebemos que os esponsais sempre foram levados a
sério, e se a promessa não fosse efetivamente cumprida agravando a honra da pessoa
caberia o pagamento de um dote.
Hoje devemos estar atentos a esse tipo de responsabilidade, mas também é
necessário que fique claro que para que seja possível o direito indenizatório não pode
ser apenas um término de namoro, mas a ruptura de um compromisso sério por culpa do
ofensor. A referida indenização terá o seu valor calculado de acordo com o dano moral
sofrido, acrescentada as despesas que tenha tido com compras, preparativos, mudanças
de domicílios, entre outros.

Vale ressaltar que o não cumprimento dos esponsais é a quebra de uma


obrigação de fazer que não possibilita ao magistrado compelir a pessoa a cumprir com a
obrigação, nem muito menos suprir a vontade da parte. Cabe ao magistrado somente
estipular um quantum indenizatório, desde que esteja comprovada a culpa do ofensor,
uma vez que se trata de responsabilidade subjetiva.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO:

01- Conceitue família.


02-Cite e explique três evoluções do Direito de Família.
03-Qual a natureza jurídica da família?
04- Cite e explique três princípios constitucionais relacionados ao Direito de Família.
05- Qual a relação do Direito de Família com outros ramos da ciência do Direito?
06- Conceitue casamento.
07- Quais são as principais finalidades do casamento?
08- Qual a diferença entre finalidade do casamento e requisito essencial?
09- Qual a natureza jurídica do casamento?
10- Conceitue esponsais.
UNIDADE III – DOS IMPEDIMENTOS E DAS CAUSAS SUSPENSIVAS

Impedimento matrimonial está ligado à falta de legitimidade para aquele


casamento e não para qualquer casamento; ex: a mãe não pode se casar com o seu filho,
pois este é um impedimento, contudo ela pode ter capacidade civil e se casar com outra
pessoa.
Os impedimentos matrimoniais estão disciplinados nos arts. 1521 e 1522, vale
observar algumas considerações acompanhando alguns de seus incisos:
I - sem limites de graus, art. 1593.
II- a afinidade limita-se ao primeiro grau em linha reta; como sogro e nora,
sogra e genro, padrasto e enteada, madrasta e enteado. A afinidade em linha reta nunca
acaba, nem mesmo com a morte, por isso mesmo com o falecimento do filho o sogro
não pode se casar com a nora. Contudo, a dissolução do matrimônio acaba com a
afinidade na linha colateral permitindo por exemplo o casamento entre cunhados, art.
1595.
IV- colateral de terceiro grau: os colaterais são contados a partir do segundo
grau que são os irmãos; no terceiro grau temos os tios e sobrinhos; e quarto grau são os
sobrinhos-netos, tios avós e primos.

VII- irrelevante a prescrição do crime ou a reabilitação do condenado.

Qualquer um dos impedimentos matrimoniais apontados anteriormente tem por


finalidade suspender a realização daquele casamento. Os impedimentos podem ser
opostos até o momento da cerimônia, pois por serem de interesse público, o prazo deve
ser o maior possível. Os nubentes podem requerer prazo razoável a critério do juiz para
oferecer contraprova.
Qualquer pessoa capaz pode fazer a oposição de impedimentos, contudo o juiz
e o oficial de registro que tiverem ciência do impedimento são obrigados a declará-lo,
pois é uma exigência do próprio cargo.
Já as causas suspensivas eram chamadas no Código anterior de impedimentos
impedientes ou proibitivos, elas não geram a nulidade ou anulabilidade do matrimônio.
Contudo, por prejudicarem interesses de terceiros em relação a patrimônio e filiação
suspendem o casamento para tomada de alguma providência, sob pena do ato ser
irregular e os nubentes terem que casar-se na separação obrigatória de bens. A não ser
que, a pedido das partes interessadas, uma vez comprovado a ausência de prejuízo, o
juiz autorize a união sem ressalvas.
Apenas parentes próximos podem opor as causas suspensivas por se tratar de
problemas familiares íntimos sem interesse público; art. 1524. Iniciando o processo de
habilitação será expedido edital que ficará afixado por 15 dias na circunscrição do
Registro Civil e são nestes 15 dias que as oposições podem ocorrer.
Uma vez ocorrendo esta oposição os nubentes serão cientificados dos
fundamentos, provas e o nome do opositor. A oposição é feita nos mesmos autos da
habilitação. Os nubentes podem oferecer provas em contrário, finda a instrução ouve-se
o Ministério Público e depois o juiz manifesta sua decisão. Enquanto tudo isso ocorre o
casamento está suspenso.
Se ficar comprovada má-fé por parte do opositor da causa suspensiva este
poderá ser responsabilizado por perdas e danos.
OBS: Cônjuge estrangeiro casado com brasileira, ambos com domicílio no
Brasil é necessário que o regime seja o da separação obrigatória de bens; se os
domicílios forem diferentes segue-se a regra do país do primeiro domicílio conjugal.

UNIDADE IV– PROCESSO DE HABILITAÇÃO PARA O CASAMENTO

A habilitação do casamento é promovida perante o oficial de registro civil do


domicílio dos nubentes, se domiciliados em lugares distintos, pode ser no cartório de
registro civil de quaisquer deles.
Os nubentes ou seus procuradores (quando os dois forem representados, são
necessárias duas procurações e procuradores diferentes) devem assinar o requerimento,
e se um dos nubentes ou os dois forem analfabetos o documento dever ser assinado a
rogo (assinado por outra pessoa) com duas testemunhas.
Recebendo o requerimento e estando o mesmo instruído corretamente o oficial
lavrará os proclamas e afixará edital durante 15 dias dando publicidade ao ato, passando
esse prazo os nubentes estão autorizados a casar nos próximos 90 dias.
Em casos emergenciais a autoridade pode liberar a publicação, como por
exemplo: doença grave, ausência por desempenho em algum serviço público, entre
outros.
Vale dizer que o Ministério Público deve atuar nessa habilitação como fiscal da
lei que ele é. Há divergência se a homologação obrigatoriamente deve ser feita por Juiz
de Direito; o entendimento predominante é que a atuação do juiz de Direito deve
acontecer somente se houver impugnação por parte do Ministério Público em relação ao
pedido ou à documentação. Caso contrário, a participação do magistrado seria uma
medida burocrática sem utilidade prática.
Documentos necessários para a habilitação de casamento:
a) certidão de nascimento ou documento equivalente: tem a função de provar
idade nupcial de 16 e 60 anos. As justificativas de idade não são mais aceitas, o Código
Civil manteve a terminologia termo equivalente pensando em estrangeiros cuja
legislação admita outra prova, ou para aqueles brasileiros que nasceram antes da
existência do registro civil e poderiam apresentar certidão batismal.
b) autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem ou
ato similar que supra: exigência legal da autorização dos pais para casamentos entre 16
e 18 anos e autorização legal para menores de 16 anos; art. 1517. Se um dos genitores
estiver ausente por muitos anos pode o outro genitor sozinho consentir no casamento
sem suprimento judicial da autorização da outra parte ausente.
c) declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não que atestem
conhecê-los e afirmem não existir impedimentos: as testemunhas podem ser parentes ou
estranhos, daí a justificativa desse documento ter valor probatório relativo.
d) declaração do estado civil, domicílio, residência dos nubentes e se possível
de seus pais. Essa declaração é conhecida com Memorial, é feito e assinado pelos
nubentes de forma conjunta ou separada.
e) certidão de óbito do cônjuge falecido, sentença declaratória de nulidade ou
anulação de casamento transitada em julgado, ou registro da sentença de divórcio: todos
esses documentos visam comprovar extinção de vínculo anterior.

OBS: o surdo-mudo que saiba se expressar também está apto.

É prerrogativa do oficial de registro civil informar aos nubentes sobre as várias


espécies de regime de bens, assim como os impedimentos e causas suspensivas do
casamento. Qualquer falha no exercício da função pode acarretar penalidades
administrativas, criminais e civis para o cartorário. Contudo, vale observar que
irregularidades na habilitação não levam à nulidade do casamento.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO:

01- Não devem casar:


a) o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a
partilha dos bens do casal.
b) os afins em linha reta.
c) o adotado com o filho do adotante.
d) as pessoas casadas.
e) os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil.

02- Assinale a resposta correta:


a) o juiz que tiver conhecimento da existência de algum impedimento não é
obrigado a declará-lo de ofício.
b) os impedimentos só podem ser opostos até o momento da celebração do
casamento pelos parentes em linha reta de um dos nubentes e pelos
colaterais em segundo grau.
c) o casamento pode ser celebrado mediante procuração por instrumento
público ou privado com poderes especiais.
d) é dever do oficial do registro esclarecer os nubentes sobre os diversos
regimes de bens.
e) não podem casar o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido,
enquanto não fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros.

03- É nulo o casamento contraído:


a) de quem não completou a idade mínima para casar.
b) por infringência de impedimento.
c) por incompetência da autoridade celebrante.
d) do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante
legal.
e) sempre que um dos nubentes for acometido por deficiência mental

04- Podemos afirmar que o casamento tem como requisito essencial:


a) constituição de família.
b) reprodução.
c) aquisição de patrimônio comum entre os cônjuges.
d) assistência educacional da prole.
e) coabitação

05- Marque a resposta incorreta:


a) o casamento é um contrato de Direito de Família, solene, não
personalíssimo, que não admite termo nem condição.
b) o não cumprimento dos esponsais está relacionado com responsabilidade
subjetiva.
c) atualmente a família é considerada pessoa jurídica.
d) legitimidade é diferente de capacidade civil.
e) a idade núbil é 16 anos, com as devidas autorizações

06- Diz o art. 1521, inciso VII do Código Civil que não podem casar o
cônjuge com o condenado por homicídio contra o seu consorte. O
impedimento, em tal hipótese, pode ser oposto:
a) só por Oficial do Registro Civil
b) apenas por quem presidir a celebração do casamento
c) só pelos parentes em linha reta de um dos nubentes
d) por qualquer pessoa capaz; pelo juiz ou oficial do registro civil que
tiverem conhecimento, sendo os dois últimos obrigados a declará-lo por ser
parte de suas funções
e) por qualquer pessoa capaz; pelo juiz ou oficial do registro civil que
tiverem conhecimento, mas os dois últimos não são obrigados a declará-lo
de ofício

UNIDADE V – CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO

A gratuidade do casamento civil somente ocorre diante da declaração de


pobreza prestada sob as penas da lei; art. 1512.
O casamento será celebrado em dia, hora e lugar marcados; arts. 1533 e 1534.
É importante evidenciar que a cerimônia deve ter toda a publicidade possível, ser
realizada com portas abertas na presença de duas testemunhas parentes ou não dos
nubentes.
Se o casamento for realizado em prédio particular este também deve ficar com
as portas abertas durante toda a cerimônia e neste caso devem ser quatro testemunhas,
esse mesmo número é exigido se um ou os dois nubentes forem analfabetos.
A presença dos nubentes não é elemento indispensável, uma vez que é
permitido o casamento por procuração. Neste caso o instrumento é público com poderes
especiais; art. 1542. A procuração é válida por 90 dias e sua revogação tem que ser feita
também por instrumento público.
É importante esclarecer que a revogação da procuração não precisa ser de
conhecimento do mandatário. Contudo, se o casamento foi celebrado sem que o
mandatário ou o outro nubente saibam da revogação, responde o mandante por perdas e
danos. Vale dizer ainda, que não é admitido no nosso Direito o suprimento da ausência
de um dos nubentes por meio telefônico, cartas, internet e outros meios de tecnologia.
O celebrante perguntará aos nubentes se eles persistem no livre propósito de
casar e cada um de uma vez deve responder o SIM sem qualquer termo ou condição.
Nem o silêncio, nem gestos com a cabeça indicam concordância, é mesmo necessário
que diga em viva voz (exceção: linguagem de sinais). Caso um dos nubentes não se
manifeste positivamente na hora perguntada não pode se retratar no mesmo dia.
Se os nubentes de plano dizem o SIM o juiz declarará efetuado o casamento
proferindo as palavras do art. 1535. Palavras essas que tiveram origem na Revolução
Francesa e continuam até hoje como uma espécie de solenidade histórica.
A seguir será lavrado o assento no livro de registro assinado pelo presidente do
ato, pelos cônjuges, testemunhas e oficial do registro. Caso os nubentes tenham optado
por aderir ao sobrenome do outro já devem assinar o assento com o nome de casados,
pois neste momento já são marido e mulher. Depois de assinado a autoridade lhes
entregará as certidões.
Existe um questionamento doutrinário a respeito do exato momento que
ultima-se o casamento; se na hora da concordância dos nubentes ou no momento que o
juiz pronuncia sua declaração. A dúvida tem efeito prático muito relevante se alguma
das partes morrer nesse ínterim. A doutrina predominante acompanha Washington de
Barros que sustenta a tese que para existir casamento o juiz tem que primeiro se
pronunciar como preceitua o art. 1514.
A suspensão do casamento pode ocorrer quando um dos nubentes não
manifesta sua vontade de forma inequívoca, só podendo se retratar a partir do dia
seguinte. O ato também será suspenso se houver oposição de qualquer impedimento ou
ainda a revogação do consentimento outorgado pelos pais, tutor ou curador.
Existem casamentos excepcionais que merecem nossa atenção:

1) Temos duas situações que o Código permite que as solenidades do


matrimônio sejam simplificadas, elas são:

a) Casamento sob moléstia grave:

Ocorre quando um dos nubentes está acometido de uma doença grave, mas
apresenta pleno discernimento mental e ambos os nubentes demonstram o desejo de
casar rápido em virtude da gravidade do momento porque um dos nubentes está no leito
de morte. Apesar da gravidade do caso não existe iminente risco de vida e é possível
que sejam tomadas minimamente as providências legais de uma urgência.
O art. 1539 disciplina que em caso de moléstia grave o presidente do ato deve
ir celebrá-lo na casa do enfermo ou em outro local que ele esteja, como hospital. Isto
pode ocorrer em qualquer horário na presença de duas testemunhas que saibam ler e
escrever.
Caso a autoridade competente não possa ir poderá realizar o ato seu substituto
legal; caso o oficial de registro não possa ir será nomeado pelo celebrante um substituto
ad hoc que lavrará um termo avulso que será levado a registro em 5 dias perante 2
testemunhas, ficando arquivado. Se o casamento não for registrado nestes 5 dias, não
terá validade a celebração.

b) Casamento Nuncupativo:

Casamento celebrado quando um dos contraentes estiver em iminente risco de


vida, mas com pleno discernimento mental; ex.: um dos nubentes foi ferido por disparo
de arma de fogo, ou grave acidente, vítima de mal súbito praticamente sem esperança de
se salvar, entre outros; art. 1540.
Nessa situação a lei permite que o casamento seja realizado até mesmo sem a
autoridade celebrante, ou seu substituto, fazendo a celebração os própios contraentes na
presença de 6 testemunhas que não sejam parentes dos nubentes em qualquer grau da
linha reta e na colateral até o segundo grau.
Depois dessa celebração as 6 testemunhas têm até 10 dias para comparecer
perante a autoridade judicial mais próxima para que sejam tomadas suas declarações. Se
elas não forem qualquer interessado pode requerer que elas sejam intimadas.
Após a tomada de declarações das testemunhas o juiz ouve o Ministério
Público e procede-se às diligências para averiguar se os contraentes poderiam ter-se
habilitado normalmente, estando as autoridades atentas nesse momento a possíveis
impedimentos ou causas suspensivas. Abre-se o prazo de 15 dias para ouvir qualquer
interessado.
Diante das normas do art. 1541 o juiz decidirá, cabendo recurso, e uma vez
transitado em julgado o magistrado mandará transcrevê-la no livro de registro de
casamento, retroagindo quanto aos efeitos do casamento à data da celebração.
Contudo, se o enfermo em até 10 dias tiver condições de confirmar o ato na
presença do juiz e do oficial do registro, as testemunhas estarão dispensadas. O nubente
que não estiver em iminente risco de vida pode ser representado por procuração.
É importante esclarecer que se o contraente enfermo não falecer, mas continuar
sem condições de ir pessoalmente perante as autoridades as testemunhas devem fazê-lo.
Existe uma crítica muito grande sobre este tipo de casamento, que para alguns
pode estar baseado em fraudes.

2 - Casamento Religioso com Efeito Civil:


É importante esclarecer que durante muito tempo o casamento que tinha
validade no Brasil era somente o religioso, já que a figura do Estado se misturava com a
Igreja; mas com a Proclamação da República o casamento civil é que passou a ter
eficácia jurídica. Desta forma, entramos numa época sui generis onde para a Igreja o
casamento civil era contrário aos seus mandamentos e para o Estado o casamento
religioso não tinha validade jurídica. Diante disso o brasileiro criou o hábito de celebrar
as duas formas: civil e religiosa.
Para tentar solucionar o conflito o legislador criou o casamento religioso com
efeito civil (Lei 379 de 1937). Esse casamento dever ter também o processo de
habilitação, podendo ele acontecer antes ou depois do casamento religioso:
- Habilitação Prévia à Cerimônia Religiosa: ocorre todo o processo de
habilitação tradicional e sua devida documentação antes da celebração do religioso. O
registro do casamento deve ser feito dentro de 90 dias contados da celebração do
religioso, a pedido do celebrante ou qualquer interessado; art. 1532. Contudo, o STF já
se manifestou que uma vez feita a habilitação não há problema em relação a esse prazo,
nem depende para sua inscrição da autorização de ambos os cônjuges.
- Habilitação Posterior à Cerimônia Religiosa: pode a qualquer tempo o casal
requerer o registro, apresentando toda a documentação necessária da habilitação
ordinária juntamente com a prova do casamento religioso. Não havendo impedimento
será lavrado o assento e o registro retroage à data do casamento religioso (efeito ex
tunc).
O fato é que o casamento religioso com efeito civil não caiu no gosto do
brasileiro que prefere passar pelas duas cerimônias. Muitas pessoas são casadas somente
no religioso e não sentem necessidade de regularizar a questão na esfera cível, uma vez
que neste âmbito estão amparadas pela união estável.

UNIDADE VI – PROVAS DO CASAMENTO

Depois de celebrado o casamento o oficial lavra o assento respectivo no livro


próprio, com todos os detalhes exigidos pelo art. 1536. A prova específica do casamento
é a certidão desse registro, que é na verdade a cópia do ato então lavrada, art. 1543.
Contudo, existem situações em que os interessados não têm a certidão por
vários motivos como: perderam, não foi lavrado por erro cartorário, houve incêndio ou
inundação do cartório, entre outros. Diante do problema de ausência da prova específica
admite-se outros meios de provas.
A prova supletória é então a solução apresentada. Para utilizá-la, no entanto,
primeiramente deve-se provar o porquê da ausência do registro, depois de satisfeita essa
explicação utiliza-se testemunhas, registros em passaportes, certidão de nascimento de
filhos, certidão dos proclamas, entre outros.
O intuito da prova supletória é obter uma sentença declaratória, art. 1546.

- Posse do Estado de Casado

O ordenamento jurídico brasileiro também protege a posse do estado de casado


que se caracteriza por três elementos: nomen, tractatus, fama. No primeiro é analisado
se os “cônjuges” se denominam marido e mulher; no segundo se ambos se tratam como
casados; e no terceiro é analisado o reconhecimento social da situação de casados.
Esse estado de posse de casados é relevante quando na ausência do registro e
não podendo os cônjuges se manifestarem por alguma incapacidade ou os dois já são
falecidos, e os filhos desejam provar o casamento. É uma situação excepcional onde há
a presunção do casamento, podendo ser quebrada com a comprovação que um desses
cônjuges é casado com outra pessoa; art. 1545.

- Prova de Casamento Celebrado Fora do Brasil

É válido considerar ainda a forma como deve ser provado o casamento


celebrado fora do Brasil. Primeiramente deve-se observar que este casamento deve
seguir a lei do país onde se celebrou e o documento estrangeiro tem que ser autenticado
segundo as leis consulares.
É necessária a legalização desse documento estrangeiro pelo cônsul brasileiro
do lugar da celebração, reconhecendo firma da assinatura dessa autoridade no
Ministério das Relações Exteriores ou nas repartições fiscais da União; art. 1544.
UNIDADE VII – INVALIDADE DO CASAMENTO

Ocorre a invalidade do casamento quando ele é realizado com alguma


imperfeição. Se o vício existente ofende interesse público é mais grave e o casamento
pode ser nulo, de acordo com o art. 1548. Já se o vício ofende interesse privado a
imperfeição é mais branda e o casamento pode ser anulado, como regula o art. 1550.
Em caso de nulidade deve ser proposta ação declaratória de nulidade, e em caso de
anulabilidade é pertinente a ação de anulação.
É importante colocar que a lei não regula o ato inexistente porque, como bem
preceitua Washington de Barros, o nada não precisa de regulamentação porque não
existe. Contudo, em matéria de casamento é bom explicar que casamento inexistente é
aquele celebrado entre pessoas do mesmo sexo; ou sem o devido consentimento dos
contraentes; ou sem obedecer às formalidades da cerimônia, como por exemplo, ser
realizado por autoridade que não seja competente, (arts. 1533 a 1535).
De agora em diante passemos a analisar os dispositivos sobre nulidade e
anulabilidade com as devidas legitimidades de proposituras de ações e seus prazos:

Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:

II- por infringência de impedimento

prazo para requerer a nulidade – a qualquer tempo;


legitimidade ativa – qualquer interessado ou Ministério Público.

Art. 1.550. É anulável o casamento:

I- de quem não completou a idade mínima para casar;


prazo para requerer anulação – 180 dias (§1º do art. 1.560, CC);
legitimidade ativa – cônjuge menor, a contar do dia em que o menor completar 16
anos; representantes legais; ascendentes do menor, a contar da data do casamento, art.
1.552.

II- do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
prazo para requerer anulação – 180 dias, art. 1.555;
legitimidade ativa – cônjuge incapaz, a contar do dia em que deixar de sê-lo;
representantes legais, a contar da data do casamento; herdeiros necessários, a contar da
morte do incapaz, §1º do art. 1.555.

III- por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
- prazo para requerer anulação:
# erro – 03 anos (art. 1.560, III), a contar da celebração (art. 1.560, caput);
# coação – 04 anos (art. 1560, IV), a contar da celebração (art. 1.560, caput);
legitimidade ativa – o cônjuge que incidiu em erro ou sofreu coação (art. 1.559).

IV- do incapaz de consentir ou manifestar, de modo inequívoco, o consentimento;


prazo para requerer anulação – 180 dias (art. 1.560, I), a contar da celebração (art.
1.560, caput).
legitimidade ativa – representante legal

V- realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da


revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
prazo para requerer a anulação – 180 dias, a partir da data em que tiver
conhecimento da celebração (§2º do art. 1.560);
legitimidade ativa – o mandante

VI - por incompetência da autoridade celebrante;


prazo para requerer a anulação – 02 anos (art. 1.560, II), a partir da celebração
(art. 1.560, caput);
legitimidade ativa – quem tenha legítimo interesse

É importante também esclarecer que existe uma outra modalidade de casamento


que é chamado de putativo que quer dizer imaginário. Sendo, pois, o casamento nulo ou
anulável, poderá ser declarado putativo, como preceitua o art. 1.561. É um tipo de
casamento que embora declarado inválido, foi contraído de boa fé por um ou ambos os
cônjuges. Podemos exemplificar por meio de um casamento contraído de boa-fé por
uma pessoa que ignora que o outro consorte já era casado; como também quando os
dois nubentes são tia e sobrinho e ignoram a restrição legal de casamento entre
colaterais sem as devidas providências legais.
Diante disso, surge a pergunta do que vem a ser efetivamente boa fé e
percebemos que a mesma pode ser conceituada, neste caso, como a ignorância dos
cônjuges ou de um deles, sobre algum vício que inquine o casamento, e é no momento
da celebração que se apura essa ignorância. Vale dizer ainda, que os efeitos civis do
casamento putativo serão preservados ao cônjuge de boa fé e aos filhos, desde a
celebração até a sentença que declarar a invalidade, como dispõe o art. 1.564.
Devemos observar ainda que após o trânsito em julgado da sentença, deverá a
nulidade ou anulação do casamento, ser averbada no Livro de Casamentos. Além disso,
é válido considerar que a sentença que declara a nulidade do casamento tem efeitos ex
tunc (art. 1.563) e a que anula o casamento tem efeito ex nunc. Embora em relação à
anulação exista entendimento contrário como o de Pontes de Miranda.

OBS: Ler arts. 1551, 1553, 1554, 1556 e 1558


UNIDADE VIII – EFICÁCIA DO CASAMENTO

O casamento tem como efeitos:

a) constituição de família;
b) mútua assistência, art. 1565, caput;
c) deveres dos cônjuges, art. 1566;
d) vigência do regime de bens, art. 1639.

Em relação aos deveres elencados no art. 1566 é importante esclarecer que os


cônjuges podem ter domicílios diferentes por motivo de trabalho, enfermidade e até
mesmo comodidade, desde que fique claro que não deixam de cumprir com seus
deveres conjugais e que não perderam a natureza de família. A infração aos deveres é
causa para separação, art. 1573.
A mútua assistência envolve o aspecto material, moral e espiritual. Isto tudo alcança
também a prole já que a guarda não é só direito, mas também dever; e a jurisprudência
tem sustentado que esse dever pode perdurar enquanto o filho ou filha, mesmo que
maior de idade, estiver cursando universidade.
A isonomia dos cônjuges está estabelecida na Constituição Federal, art. 226 § 5º e
no art. 1567 do Código Civil.

OBS: Ler arts. 1568 e 1570.

UNIDADE IX – REGIME DE BENS

São os regimes de bens que disciplinam as relações patrimoniais entre os cônjuges


durante a vigência do casamento. Depois de realizado o ato, regra geral, o regime
adotado é imutável, mas essa não é uma regra absoluta como já anteriormente
explicado; art. 1639 § 2º

A lei oferece as seguintes espécies: comunhão universal, comunhão parcial,


separação convencional, separação obrigatória e participação final nos aquestos. Cabe
aos nubentes a liberdade de escolha, com exceção do art. 1641.

É importante esclarecer que se os nubentes optarem pela comunhão parcial a opção


é reduzida a termo, contudo, se escolherem um dos outros regimes deve-se fazer um
pacto antenupcial por escritura pública, e para valer contra terceiros o mesmo deve
ainda ser registrado em livro especial no registro de imóveis do domicílio dos cônjuges;
art. 1657.

Podem os nubentes nesse pacto criar um regime misto, ou diferente dos estipulados
por lei, com exceção dos casos do art. 1641. A capacidade para fazer o pacto é a mesma
exigida para o casamento, mas se um menor o realizar sozinho sua eficácia fica
subordinada à aprovação de seu representante legal.

A partir de agora passemos a analisar os regimes disciplinados por lei:

a) Regime da Separação Legal de Bens ou Separação Obrigatória: art. 1641

É uma espécie de regime onde, regra geral, nenhum bem se comunica, nem os bens
adquiridos antes do casamento, nem os adquiridos a qualquer título durante a vigência
do casamento.

Este é um regime que vem de uma imposição legal quando existem causas
suspensivas (art. 1523) ou quando o legislador sente a necessidade de proteger certas e
determinadas pessoas, como os menores de 16 anos e os maiores de 70 anos.

Em relação a essa imposição aos maiores de 70 anos existem entendimentos


contrários como do TJSP e do renomado autor Sílvio Rodrigues que sustentam ser
inconstitucional a diferenciação jurídica entre as partes, contudo são opiniões vencíveis
pela doutrina predominante.

O STF pontuando que nem sempre a separação obrigatória protegia, mas sim
poderia em alguns casos prejudicar, passou a entender que no referido regime
comunicam-se os bens adquiridos por esforço comum dos cônjuges e ampliou também
o direito de meação desses bens no regime da separação convencional.

A administração do patrimônio está regulamentada no art. 1687 e a responsabilidade


dos cônjuges quanto às despesas da família estão disciplinadas no art. 1688.

b) Regime da Separação Convencional de Bens

Nesse regime os bens também não se comunicam havendo uma completa distinção
de patrimônio, seguindo as mesmas regras, mas também as mesmas exceções da
separação obrigatória. A diferença é que na separação convencional são as partes que
elegem o regime, e não a lei como ocorre na separação obrigatória.

c) Regime de Comunhão Parcial de Bens ou Comunhão de Aquestos ou Separação


Parcial

Atualmente é o regime mais adotado no Brasil, é a nossa regra geral, por isso é
reduzido a termo e dispensa-se o pacto antenupcial.

Nesse regime comunicam-se os bens adquiridos onerosamente na constância da


sociedade conjugal e as situações elencadas no art. 1660. Em relação aos bens móveis a
presunção é que foram adquiridos na constância do casamento e por isso vão se
comunicar, salvo prova de aquisição anterior; art.1662.

Se os nubentes tinham bens antes da celebração do casamento esses bens são tidos
como particulares; com isso passamos a ter três espécies de patrimônios: o da mulher, o
do homem e o patrimônio do casal.
Em relação aos bens incomunicáveis segue-se os arts. 1659 e 1661; e a
administração do patrimônio no regime da comunhão parcial está disciplinada nos arts.
1663 a 1666.

d) Regime da Comunhão Universal de Bens

Nessa espécie de regime todos os bens se comunicam, os que cada cônjuge tinha
antes de casar e os adquiridos na constância do casamento, se estabelecendo um
patrimônio conjugal uno; art. 1667. Até 1977, antes da lei que introduziu o Divórcio, o
regime da comunhão universal era o mais utilizado no Brasil.

Contudo, a exceção permite alguns bens particulares, como preceituam os arts. 1668
e 1669; regra geral também não se comunicam os direitos patrimoniais de autor, salvo
os respectivos rendimentos.

A administração do patrimônio no regime da comunhão universal segue as mesmas


normas da administração na comunhão parcial já anteriormente estudada.

e) Regime de Participação Final nos Aquestos

É um regime de casamento criado pelo Código de 2002 que é caracterizado na


constância do casamento como uma espécie de separação total de bens, mas que com a
dissolução desse casamento por morte ou separação se equivale ao regime da comunhão
parcial; por isso muitos doutrinadores o consideram um regime misto.

Durante o casamento por participação final nos aquestos cada cônjuge tem seu
patrimônio particular e o administra como bem quiser, salvo algumas disposições legais
em contrário, como a venda de imóveis e doações. Contudo, com o término desse
casamento os cônjuges irão partilhar somente os bens onerosamente adquiridos na
constância dele, possibilitando que um cônjuge agindo de má fé venda justamente esses
bens antes da separação para que não tenha nada seu para partilhar.

Talvez por isso tem sido um regime bastante criticado pelos civilistas e não aceito
muito bem na sociedade, que normalmente, o encara mais como um negócio jurídico
meramente patrimonial do que realmente um regime de casamento.

OBS: Ler arts. 1672 ao 1686.

UNIDADE X – Dissolução da Sociedade e do Vínculo Conjugal

O casamento cria um vínculo jurídico entre os contraentes e dentro desse vínculo


está a sociedade conjugal; que é o complexo de direitos e obrigações que formam a vida
em comum dos cônjuges, é a comunhão de vidas sob prismas diversos; como o aspecto
espiritual, emocional, social, e muitas vezes patrimonial.
A separação judicial desses cônjuges termina com a sociedade conjugal (arts. 1571 e
1576), mas a separação judicial não dissolve o vínculo jurídico, por isso os contraentes
não podem contrair novas núpcias. Além disso, segundo parte da doutrina, permanecem
os deveres de mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos, respeito e
consideração; art. 1566.
O que realmente dissolve o vínculo jurídico válido entre os contraentes é o divórcio,
a morte real e a morte presumida (art. 7 º). Mas, é importante ressaltar que quando o
casamento é nulo ou foi anulado extingue também o vínculo conjugal porque nessas
duas situações há algum vício na constituição.
Contudo, é importante esclarecer que atualmente vivenciamos um debate doutrinário
sobre os prazos legais para as várias espécies de separação, e até mesmo se esse instituto
ainda existe no Direito. A EC 66/2010 dispõe, que para os contraentes se divorciarem,
não há mais necessidade de prévia separação judicial por mais de 1 ano ou de separação
de fato por mais de 2 anos. Diante disso, a partir da referida EC, começaram a surgir
entendimentos que não havia mais sentido pragmático no instituto da separação, uma
vez sendo possível requerer o divórcio diretamente. Além disso, como a EC retirou a
exigência dos prazos para o divórcio, há quem entenda que mesmo existindo o instituto
da separação, em relação a ele, também não há mais os requisitos de prazos. Mas, o
Código Civil continua disciplinando a separação e dispõe que a sociedade conjugal
termina pela:

a) Separação Consensual por Escritura Pública

Quando os cônjuges por mútuo consentimento e sem possuir filhos menores ou


incapazes fazem um pedido conjunto para se separarem e estão assistidos por um
advogado.

b) Separação Judicial Consensual

Quando os cônjuges por mútuo consentimento fazem um pedido judicial em


conjunto para se separarem. Não existe litígio porque ambos querem a homologação do
acordo celebrado entre eles (art. 1574). No pedido de separação judicial consensual não
se declina o motivo dela, e sim o consenso entre os contraentes.
A sentença judicial importa separação de corpos e partilha de bens, e ainda termina
com os deveres de coabitação, fidelidade e regime de bens (arts. 1575 e 1576)

c) Separação Judicial Litigiosa

Quando apenas um dos cônjuges faz um pedido judicial para se separar e declina o
porquê de sua motivação. É obrigatória a realização de audiência prévia de conciliação
e tem como foro competente o domicílio da mulher. Essa separação recebe nomes
diferentes de acordo com sua justificativa.
- separação sanção: quando ocorre grave violação dos deveres do casamento e prova
que se tornou insuportável a vida em comum (arts. 1572 caput, 1566 e 1573)
- separação falência ou ruptura: quando ocorre ruptura da vida em comum há mais
de 01 ano e prova a impossibilidade de sua reconstituição (art. 1572 § 1º)
- separação remédio: quando o outro cônjuge após o casamento manifesta doença
mental grave a ponto de tornar impossível a vida em comum; contudo é necessário que
se passe 02 anos com a doença e a mesma tenha sido reconhecida de cura improvável
(art. 1572 § 2º)
A sentença judicial de qualquer uma delas (sanção, falência ou remédio) importa
separação de corpos e partilha de bens, e ainda termina com os deveres de coabitação,
fidelidade e regime de bens (arts. 1575 e 1576).
As separações como um todo só podem ser requeridas pelos próprios cônjuges, mas
diante de uma incapacidade, eles podem ser representados por curador, ascendente ou
irmão (parágrafo único do art. 1576).
Apesar da doutrina mais moderna sustentar que normalmente na dissolução de um
casamento os dois cônjuges são corresponsáveis, o Código ainda trabalha a visão da
culpa ou não culpa e a partir daí surgem direitos e restrições.
O cônjuge que fora considerado culpado pode perder o direito de usar o sobrenome
do outro se na separação for pedido isso expressamente pelo cônjuge inocente. Contudo,
essa abstenção não pode trazer prejuízo para o cônjuge culpado (art. 1578). O cônjuge
inocente tem a opção de manter ou não o nome de casado segundo sua vontade.
Após a separação as partes podem, a qualquer tempo, manifestar a vontade de
restabelecer a sociedade conjugal. O pedido deve constar nos próprios autos da
separação (art. 1577).
Segundo o Código Civil a dissolução do vínculo conjugal ocorre com o divórcio que
habilita as pessoas para novas núpcias sem necessidade de prévia partilha de bens (art.
1581) e podendo manter o nome de casado, salvo disposição em contrário (art. 1571).
Podemos dizer que existem dois tipos de divórcio no Brasil; o consensual
(formulado por ambos) e o litigioso (formulado por apenas um dos cônjuges). Eles
podem ser feitos de forma direta, sem prévia separação. Pode também ocorrer de ter
havido uma separação e posteriormente a conversão da separação em divórcio. Segundo
a EC 66/2010 em nenhuma das hipóteses existe mais prazo.

UNIDADE XI – RELAÇÕES DE PARENTESCO (arts. 1.591 a 1.595)

Parentesco em sentido estrito é a relação que vincula entre si pessoas que


descendem umas das outras ou de um mesmo tronco, chamado de parentesco por
consanguinidade e conhecido como parentesco natural.
Em sentido amplo temos o parentesco que aproxima cada um dos cônjuges ou
companheiros dos parentes do outro por afinidade, a qual limita-se a ascendentes,
descendentes e colaterais de 2° grau; art. 1.595, caput e §1º. Desta forma, sogro e
sogra são afins em primeiro grau, cunhados são afins em segundo grau, mas
concunhados não são afins. Temos ainda o parentesco que se estabelece, por fictio
iuris, como por exemplo, entre o adotado e o adotante, ou outro meio como algumas
reproduções assistidas; também chamado de parentesco civil.
O vínculo de parentesco estabelece-se por linhas: reta e colateral e a contagem
faz-se por graus que é a distância, em gerações, que vai de um a outro parente. Na linha
reta, contam-se os graus pelo número de gerações se estabelecendo as estirpes. Na
colateral, a contagem também é feita pelo número delas, subindo de um dos parentes
que se tem em vista, até ao ascendente comum e só então, descendo até encontrar o
outro parente; art. 1.594.
Parentes em linha reta são as pessoas que estão umas para com as outras, na
relação de ascendentes e descendentes sem limites de grau; art. 1.591. São parentes em
linha colateral ou transversal ou oblíqua, as pessoas provenientes de um tronco comum,
sem descenderem uma da outra; art. 1.592. O parentesco na colateral vai até o quarto
grau. Desta forma, podemos afirmar que irmãos são colaterais de segundo grau, tios e
sobrinhos são colaterais de terceiro grau e primos em quarto; portando não existe
parentesco de primeiro grau na colateral. Contudo, essa linha apresenta uma
classificação sui generis quando dois irmãos se casam com duas irmãs, os filhos desses
dois casais são parentes colaterais em linha duplicada.

Vale dizer ainda que na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução
do casamento ou da união estável; §2º do art. 1.595. Contudo, na colateral o divórcio ou
a morte de um dos cônjuges ou companheiros faz desaparecer a afinidade.
A Igreja considera ainda o parentesco espiritual entre padrinhos e afilhados, esse
entendimento já foi tão forte em nosso país que em tempos remotos era juridicamente
reconhecido esse parentesco e havia consequentemente impedimentos matrimoniais
entre essas pessoas, o que não mais persiste em nosso ordenamento jurídico.
É importante ainda ressaltar que marido e mulher não são parentes porque estão
ligados por vínculo conjugal e não de parentesco.

UNIDADE XII – FILIAÇÃO (arts. 1.596 ao 1.606)

Segundo Carlos Roberto Gonçalves filiação é a relação de parentesco


consanguíneo, em primeiro grau e em linha reta, que liga uma pessoa àquelas que a
geraram ou a receberam como se tivessem gerado.
A Constituição Federal em seu art. 227 §6º estabeleceu absoluta igualdade entre
todos os filhos, seguido pelo art. 1.596 do Código Civil, não se admitindo mais
distinção entre filiação legítima e ilegítima.

É importante analisarmos também o art. 1597 do Código Civil que fala da


presunção dos filhos concebidos na constância do casamento, são eles:

I - os filhos nascidos, pelo menos, 180 dias após o estabelecimento da sociedade


conjugal;
II - os filhos nascidos nos 300 dias subsequentes à dissolução da sociedade
conjugal, por morte, separação judicial, nulidade ou anulação;

III - os filhos havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o
marido. A inseminação homóloga é proveniente do sêmen do marido ou do
companheiro, quando o casal apesar de fértil possui problemas, por exemplo,
endócrinos. É necessário, nesse caso, a autorização do marido para essa fecundação para
atender ao espírito das leis. A dúvida é como deve ser essa autorização e se essa
fecundação tem que ocorrer com o marido ainda vivo, art. 1799;
IV - os filhos havidos a qualquer tempo, quando se tratar de embriões
excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga. Ocorre quando se utiliza
técnica de fecundação extra corporal com embrião in vitro. Neste caso, como existe um
limite de embriões que podem ser implantados, se restarem embriões congelados isso
trará reflexões éticas, morais e religiosas, principalmente, em relação ao descarte desses
embriões;
V - os filhos havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia
autorização do marido. A inseminação heteróloga é proveniente do sêmen de outro
homem que não seja o marido ou companheiro. Normalmente realizada quando o
marido é estéril ou apresenta alguma moléstia grave transmissível. Nesses casos é
comum a procura por um banco de esperma, onde, em tese, os doadores não são
conhecidos, havendo a possibilidade de exceção se a pessoa gerada por razões médicas
necessitar de conhecimento genético. O marido que autorizou não poderá impugnar essa
paternidade, mas, em tese, o filho sim; embora a Comunidade Europeia tenha posição
contrária e seja também essa a tendência global no Direito Comparado.
Apesar disso, a presunção estabelecida opera-se juris tantum, admitindo-se
evidentemente prova em contrário, normalmente produzida por exame de DNA (sigla
do ácido desoxirribonucleico). Os cientistas alertam que esse exame é bastante seguro
chegando numa probabilidade de acerto que varia de 96% a 99%, mas não é totalmente
seguro, por exemplo: existe a possibilidade de encontrar por acaso duas pessoas com a
mesma impressão genética na probabilidade de uma em trinta bilhões. Também é
comum que a comunidade médica se pronuncie dizendo que a certeza da não
paternidade é maior que a da paternidade.
A Ação Negatória ou Contestatória de Paternidade são os meios jurídicos
adequados para se contestar a paternidade, são ações de natureza imprescritível porque
analisam o estado de filiação; art. 1.601. O direito de ação pertence àquele que consta
do registro como pai, mas também ao filho e ao verdadeiro pai. Os herdeiros do
contestante não podem dar início à Ação Contestatória de Paternidade, somente lhes
sendo permitido prosseguir na ação, caso o contestante, já a tendo iniciado e faleça no
curso da mesma; parágrafo único do art. 1.601.
Vale dizer ainda, que mesmo que a mulher confesse o adultério por ela praticado
isso não ilide a presunção de paternidade do seu marido (art. 1600); assim como a
confissão materna de que a criança não é filha de seu marido também não é suficiente
para excluir a presunção de paternidade; art. 1.602.
O marido só pode ilidir essa presunção de ser pai da criança que sua então
esposa espera quando comprova a impotência generandi, que é a ausência total de
espermatozoides em seu líquido seminal (azoospermia); art. 1.599.
É importante observar que se o marido não tiver ajuizado a Ação Negatória de
Paternidade, poderá o filho impugnar a paternidade como também a maternidade que
lhe foi atribuída, desde que prove erro ou falsidade do registro; art. 1.604.
A forma mais adequada de se provar a filiação é a certidão do termo de
nascimento registrada no Registro Civil; art. 1.603. Mas, na falta ou defeito do
documento parte-se para as provas supletórias admitindo todas as formas de provas
aceitas pelo direito, desde que acompanhadas das exigências do art. 1.605.
Em relação à ação de prova da filiação, essa compete ao filho ou a seus herdeiros,
caso o filho morra ainda menor ou incapaz; art. 1.606, caput e seu parágrafo único. É
um tipo de ação que garante ao filho buscar a verdade dos fatos, e nem sempre a
verdade real é a biológica. Nessas circunstâncias, o magistrado deverá levar em
consideração a relação afetiva que poderá ser mais importante que a realidade genética,
por isso no caso dos arts. 1605 e 1606 poderá ser confirmada a paternidade socioafetiva,
independentemente da paternidade biológica.
Vale dizer também que a medicina mais moderna consegue conservar por bastante
tempo sêmen e óvulo para utilização posterior em um processo de fertilização, podendo
eles serem doados ou vendidos. Se isto acontecer estaremos diante de um grave
questionamento de como lidar com a maternidade substituta ou barriga de aluguel.
Diante disso, hoje podemos afirmar que a maternidade biológica também pode ser
questionada, não só no caso da barriga de aluguel como em relação à troca de bebês na
maternidade e falsidade ideológica no registro de nascimento.
É importante ainda ressaltar a diferença entre barriga de aluguel e barriga
solidária. A primeira é proibida no Brasil, porque como o próprio nome diz, é um
aluguel e envolve uma contraprestação pecuniária. O ordenamento jurídico brasileiro
proíbe negócios jurídicos remuneratórios que envolvam disposições do nosso corpo.
Já a barriga solidária, é um empréstimo gratuito entre parentes consanguíneos até
o 4 grau (mãe, filha, avó, irmã, tia, sobrinha e prima) embora hoje tenhamos uma
interpretação mais flexível em relação às amizades. A barriga solidária não é prevista no
Código Civil Brasileiro, mas é aceita em nosso país em virtude da possibilidade de criar
novas formas de constituições familiares com base no princípio constitucional do livre
planejamento familiar. Além disso, ela é regulamentada por meio da Resolução CFM
2168/17. Os filhos havidos por meio de barriga solidária possuem os mesmos direitos
de qualquer outra origem de filiação. Portanto, ficam assegurados quanto à pensão
alimentícia, à herança, plano de saúde (função social do contrato), entre outros.

UNIDADE XIII – RECONHECIMENTO DOS FILHOS (arts.1.607 a 1.617)

O reconhecimento é o ato que declara a filiação e ele é necessário quando essa


filiação foi havida fora do casamento por não haver, nesse caso, a presunção de
paternidade; se enquadram nessa situação os filhos naturais, adulterinos, incestuosos
(assim denominados apenas didaticamente) e ainda de filiação socioafetiva.

O reconhecimento é irrevogável, em regra, unilateral, abrange a paternidade e


maternidade e poderá ser feito conjunta ou separadamente, voluntária ou coativamente;
art. 1.610. A irrevogabilidade não obsta a declaração de sua anulação ou nulidade diante
de falsidade ou erro de declaração; art. 1604. Os pais devem ter plena capacidade, mas
segundo a doutrina predominante os relativamente capazes não necessitam de
assistência. Contudo, se o reconhecimento decorrer de vício de consentimento como
erro ou coação, poderá ser objeto de ação anulatória, deixando claro a relativização da
coisa julgada. Não pode o reconhecimento ser subordinado à condição ou termo; art.
1.613.

O reconhecimento voluntário ou perfilhação ocorre nas formas previstas no


art. 1.609 do Código Civil e art. 1° da Lei n° 8.560/92, abaixo indicadas:

I - no registro de nascimento por ambos os pais conjuntamente ou por qualquer um


deles. A maternidade, a princípio, é considerada sempre certa; art. 1.608. A mãe que
comparece ao registro civil, pode registrar o filho em seu nome, mas na ausência do pai
não pode exigir a inscrição do nome dele nem dos avós paternos, a não ser que
apresente procuração com poderes específicos; art. 59 da Lei nº 6.015/73;

II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório. Em relação


ao escrito particular ele deve identificar e qualificar as pessoas do declarante e do filho e
ter como finalidade expressa o reconhecimento, porque se o reconhecimento for feito de
forma incidental poderá ser aproveitado apenas como início de prova na ação de
investigação de paternidade;

III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado. Mesmo que o testamento
seja revogado o reconhecimento continua sendo válido, a não ser que toda a disposição
de última vontade seja nula;

IV - por manifestação expressa e direta perante o juiz, ainda que o reconhecimento não
haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. Essa manifestação se equivale
à escritura pública porque é feita perante autoridade com fé pública.

O reconhecimento pode ser antes do nascimento do filho ou ser posterior ao


seu falecimento, se ele deixar descendentes; parágrafo único do art. 1609. Desta forma,
percebemos que o nascituro também pode demandar a paternidade. A obrigatoriedade
de existência de descendentes para o reconhecimento póstumo visa impedir o
reconhecimento formulado por puro interesse sucessório despertado no ascendente,
provável herdeiro na sucessão do filho morto.

O filho reconhecido por um dos cônjuges não pode residir no lar conjugal sem
o consentimento do outro; art. 1.611. Porém, o genitor tem que oferecer, enquanto
menor ou até os 24 anos cursando universidade, condições do filho se manter com
dignidade.

É importante observar ainda que o filho maior não pode ser reconhecido sem o
seu consentimento como bem preceitua o art. 4° da Lei n° 8.560/92. Quanto ao menor,
esse pode impugnar o reconhecimento feito, nos 04 anos que se seguirem à sua
maioridade ou emancipação; art. 1.614. Contudo, a doutrina tem caminhado para o
entendimento que o menor pode a qualquer tempo impugnar o reconhecimento,
crescendo desta forma o entendimento da imprescritibilidade. Porém, caracterizada a
posse do estado de filho em relação àquele que o registrou ou reconheceu não se poderá
impugnar essa paternidade frente à importância que a doutrina mais contemporânea tem
dado à paternidade socioafetiva.

Como já mencionado anteriormente o reconhecimento pode ser forçado, e se


assim for, será feito via judicial, por meio da Ação de Investigação de Paternidade ou de
Maternidade, de natureza declaratória e imprescritível, proposta pelo filho (representado
ou assistido por representante legal, quando menor) em desfavor do suposto pai ou mãe
(Lei n° 8.560/92).

Existe uma outra forma de investigação que é a oficiosa prevista no art. 2° da


Lei n° 8.560/92, ela se enquadra em situações em que o menor for registrado somente
em nome da mãe, ante a recusa do pai em reconhecê-lo. Neste caso, o escrivão remeterá
ao juiz uma certidão do ato e das declarações da mãe, informando o nome do suposto
pai, endereço e outros dados importantes para sua identificação.

No caso da investigação oficiosa quando o juiz entender necessário poderá


decretar segredo de justiça. O juiz determinará a oitiva da mãe e depois designará data
para audiência do indigitado pai, ou estabelecerá prazo de 30 dias para que se manifeste
sobre a paternidade que lhe é atribuída. Se ele confirmar essa paternidade então será
lavrado termo de reconhecimento remetendo-se ao registro civil para que seja averbado;
se o pai negar a paternidade ou se manter omisso, o magistrado deverá remeter os autos
para o Parquet, para que seja promovida a ação de investigação de paternidade. A
recusa do pai em fazer o exame de DNA gera presunção da paternidade segundo a Lei
12.004 de 2009.

Vale frisar que atualmente a origem genética não significa obrigatoriamente


direito à filiação, como nos casos de inseminação heteróloga, adoção e parentesco
socioafetivo. Segundo Anete Trachtenberg o verdadeiro pai é aquele que cuida da
criança, cuja voz e cuja presença podem ser ouvidas e sentidas.

É importante evidenciar ainda, que a sentença na ação de paternidade ou


maternidade tem efeito erga omnes. Por isso, de acordo com o art. 1615, qualquer
pessoa que possa ser afetada pela sentença de reconhecimento de filiação tem justo
interesse e pode contestar a ação de investigação de paternidade ou maternidade.

UNIDADE XIV – PODER FAMILIAR (arts. 1.630 a 1.638 do Código Civil e 21 a 24


da Lei nº 8.069/90)

O poder familiar é o conjunto de direitos e deveres atribuídos aos pais, no


tocante à pessoa e bens dos filhos menores de idade, não emancipados e reconhecidos.
Portanto, cabe aos pais além dos direitos também os deveres de manter esses filhos,
assisti-los no que for necessário segundo as obrigações que são juridicamente e
naturalmente impostas aos pais.

O poder familiar é irrenunciável, indelegável, imprescritível e deve ser


exercido por ambos os pais em igualdade de condições; art. 1.630, 1.631 do Código
Civil e 226, §5º da CF. Ambos os genitores devem exercer o poder familiar com
entendimento entre eles e harmonia, mas no caso de conflito que não se consiga um
acordo, o magistrado decidirá sempre a benefício do menor.

É importante ressaltar que a separação judicial, o divórcio e a dissolução de


união estável não alteram a detenção do poder familiar. Contudo, todos esses fatores
normalmente alteram o seu exercício, em especial, quando envolve guarda unilateral;
art. 1.633.

O art. 1634 regulamenta o exercício do poder familiar quanto à pessoa dos


filhos:

Já o art. 1689 regulamenta que, em regra, o pai e mãe têm usufruto e


administração dos bens dos filhos enquanto durar o exercício do poder familiar. A
administração que se refere o dispositivo engloba atos ordinários como locação,
pagamento de tributos e defesas de direitos. Ambos os progenitores deverão firmar os
contratos referentes aos bens dos filhos, podendo um só fazê-lo somente com
procuração do outro. Vale dizer ainda, que a mera administração não abrange a
alienação de imóveis e não é possível gravá-los de ônus real, sendo essas duas situações
permitidas somente com autorização judicial.

Quanto ao usufruto, nesse caso, ele é inerente ao poder familiar se


diferenciando do usufruto real porque não deriva de negócio jurídico, não necessita de
inscrição imobiliária e, em regra, abrange todos os bens dos filhos, com exceção dos
elencados no art. 1693.

O exercício do poder familiar deve sempre ir de encontro com o bem do menor


e se isso não estiver acontecendo cabe intervenção do Estado por meio da suspensão ou
destituição. A legitimidade para requerer essas medidas recai em qualquer parente,
membro do Ministério Público e até mesmo o juiz pode decretar de ofício; em caso de
suspensão a mesma pode durar o tempo que o magistrado entender necessário; arts.
1635 e 1637. A sentença que decretar a perda ou suspensão do poder familiar deve ser
averbada no registro nascimento da criança ou adolescente.
A destituição do poder familiar é medida mais grave que a suspensão e está
disciplinada no art. 1638. Decretada a perda do poder familiar de um dos genitores o
outro passa a exercê-lo sozinho, se os dois estiverem impedidos o juiz deve nomear
tutor ao menor.

É importante observar também que o genitor que perde o poder familiar não
está desobrigado de prestar alimentos ao seu filho

UNIDADE XV - DOS ALIMENTOS (art. 1.694 a 1.710)

Alimentos são prestações periódicas fornecidas a alguém para suprir as


necessidades de moradia, vestuário, assistência médica, e instrução. Quando nos
referimos aos alimentos com a natureza de garantir condições mínimas de sobrevivência
ele recebe o nome de naturais, e quando nos referimos aos alimentos para garantir a
qualidade de vida que existia antes, é denominado de civis ou côngruos.

Os alimentos podem se manifestar por meio de dever familiar que é o dever de


sustento e de mútua assistência existente respectivamente entre: pais e filhos menores
ou incapazes e cônjuges ou companheiros, entre outros. O dever alimentar em relação
aos filhos menores, deve ser cumprido incondicionalmente. Os alimentos podem
também se manifestar por meio de obrigação alimentar que é a obrigação legal fundada
no parentesco existente entre ascendentes, descendentes e colaterais até o 2º grau; art.
1694.

O Código Civil em seus arts. 1.696 e 1.697 determina quais são as pessoas
obrigadas a prestar alimentos em razão do parentesco. O rol é taxativo e não inclui os
parentes por afinidade, embora já existam jurisprudências contrárias. Contudo, a ordem
preferencial disposta em lei é a seguinte:

a) pais e filhos, reciprocamente;

b) ascendentes na ordem de proximidade;

c) descendentes, na ordem de sucessão;

d) irmãos, bilaterais ou unilaterais, sem distinção ou preferência.


A obrigação alimentar é transmitida por herança sendo os herdeiros do devedor
responsáveis pelo pagamento da obrigação até as forças da herança; arts. 1700 e 1792.
Além disso, é válido observar que a obrigação alimentar é divisível e não é solidária;
cada devedor só responde por sua quota-parte.

O direito a alimentos tem as seguintes características:

a) é personalíssimo – direito pessoal e intransferível;

b) é incessível (arts. 286 e 1.707) – não pode ser objeto de cessão de crédito;

c) é impenhorável (art. 1.707, CC) – o crédito derivado de alimentos não pode ser
penhorado, a impenhorabilidade não atinge os frutos;

d) é incompensável (art. 1.707) – o direito a alimentos não pode ser objeto de


compensação;

e) é imprescritível – o direito de postular alimentos em juízo não prescreve para os


menores de 16 anos, assim todos os alimentos fixados em sentença e que não foram
pagos, só terão a prescrição iniciada a partir dos 16 anos. O art. 206, §2° dispões que
prescreve em 02 anos, o direito de cobrar as pensões já fixadas em sentença ou acordo e
não pagas, a partir da data em que se vencerem.

f) não transacional (art. 841) – não pode ser objeto de transação;

g) é atual – exigível no presente;

h) é irrestituível – uma vez pagos, não têm que ser restituídos (exceção dos gravídicos);

i) é irrenunciável – pode o credor não exercer o direito a alimentos, mas não pode
renunciá-lo (art. 1.707). Exceção: pensão entre marido e mulher, e a possibilidade de se
renunciar aos valores vencidos e não pagos.

São requisitos para a obrigação alimentar: existência de vínculo de parentesco,


união estável ou casamento (art. 1.694); necessidade do reclamante (art. 1.695);
possibilidade da pessoa obrigada (art. 1.695); e proporcionalidade (§1º do art. 1.694).

É importante evidenciar que o devedor pode cumprir com a obrigação alimentar de


duas formas: através de pagamento pecuniário chamado de pensão ou através de
hospedagem, sustento e, quando menor, ainda o pagamento com educação. Essa escolha
cabe ao devedor podendo sofrer interferências do magistrado se necessário; art. 1701.
Em caso de alimentos decorrentes da dissolução da sociedade conjugal e da união
estável, o Código Civil prevê sua fixação mesmo em favor do cônjuge declarado
culpado; parágrafo único do art. 1.704. Em relação ao cônjuge inocente, os critérios
estão elencados nos arts. 1.694 e 1.702.

A pensão alimentícia pode se assegurada das seguintes formas:

a) ação de alimentos (Lei nº 5.478/68): alimentos provisórios são os fixados


liminarmente no despacho inicial proferido na ação de alimentos, de rito especial;
exigem prova pré-constituída do parentesco, casamento ou companheirismo. Já os
alimentos provisionais são os que precedem ou são concomitantes a uma demanda de
separação judicial, de divórcio, de nulidade ou anulação de casamento; visam manter o
suplicante durante a tramitação da lide principal. Contudo, vale dizer, que a expressão
alimentos provisionais na prática é empregada indistintamente para indicar também os
fixados liminarmente na ação de alimentos de rito especial, até mesmo porque essa
denominação pouco importa uma vez que a finalidade de ambos é a mesma.
b) execução por quantia certa: é a execução da prestação alimentícia normalmente
quando o devedor não efetua o pagamento das prestações nem mesmo depois de
cumprir a pena de prisão;

c) penhora de vencimentos e salários;

d) desconto em folha de pagamento da pessoa obrigada;

e) entrega mensal ao cônjuge, de parte de renda líquida dos bens comuns, administrados
pelo devedor, se o regime de casamento for o da comunhão universal de bens, para
assegurar o pagamento de alimentos provisórios (Lei nº 5.478/68, art. 4°);

g) constituição de garantia real ou fidejussória e de usufruto (Lei nº 6.515/77, art. 21);

h) prisão do devedor: no caso de nenhuma dessas formas anteriores surtirem efeito,


poderá o credor requerer ao juiz a citação do devedor para em 03 dias efetuar o
pagamento, provar que já o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo sob pena de
prisão. A prisão civil não tem caráter punitivo, mas sim de coerção para alcançar o
pagamento, por isso é imediatamente revogada se o débito for pago. O prazo de duração
da prisão civil é de 1 a 03 meses; art. 528 do CPC. Passados os 3 meses, se não houver o
pagamento o devedor tem que ser solto, mas continua devendo e pode ser cobrado por
meio de bloqueio de contas bancárias, Carteira Nacional de Habilitação, Passaporte,
entre outros. Ele não pode ser preso pelo descumprimento das mesmas parcelas.
Diante de mudança de condições de vida ou até mesmo alteração da capacidade
financeira pode o devedor ou o credor dos alimentos entrar com uma ação revisional de
alimentos. Essa ação segue o mesmo rito da Lei nº 5.478/68, art 13, §1°, e a
competência é do foro onde tramitou o processo de separação ou alimentos ou do
domicílio ou residência do alimentando.

Vale ressaltar ainda, que a Lei 11.804 de 05 de novembro de 2008 inovou na


questão de alimentos instituindo a possibilidade de se pleitear alimentos gravídicos.
Contudo, nessa nova modalidade de pensão não se aplica a impossibilidade de
restituição quando configurada a má-fé.

UNIDADE XVI - DO BEM DE FAMÍLIA (arts. 1.711 a 1.722)

A instituição do bem de família é uma forma de garantir ao imóvel residencial


urbano ou rural uma destinação especial, tornando-o um asilo da família e por isso, em
regra, impenhorável por dívidas posteriores à sua constituição, O bem de família
abrange também os acessórios necessários que estão dentro desse imóvel com finalidade
domiciliar. É importante frisar que a instituição do bem de família perdura enquanto os
cônjuges forem vivos, ou enquanto existir a entidade familiar, ou enquanto os filhos
forem incapazes.

É importante esclarecer que a impenhorabilidade do bem de família não é


absoluta como bem prescreve a Lei 8.009/90; ex: dívidas provenientes de impostos
devidos pelo próprio imóvel, créditos de trabalhadores domésticos, dívidas
condominiais.

O bem de família se divide em:

a) Bem de Família Voluntário – por testamento ou escritura pública, registrada no


Registro de Imóveis – quando o casal ou entidade familiar possui vários imóveis e quer
escolher um deles, para que a impenhorabilidade não recaia sobre o de menor valor
(causa citada no parágrafo único do art. 5° da Lei n° 8.009/90). Nesse caso, o bem não
pode ultrapassar 1/3 do patrimônio líquido do instituidor, ao tempo da instituição. Pouca
utilização prática.
b) Bem de Família Involuntário ou Legal – Resulta da lei (Lei n° 8009/90 que regula a
impenhorabilidade do imóvel residencial).

A extinção do bem de família acontece com a morte dos cônjuges ou


companheiros, e com a plena capacidade dos filhos; arts. 1719, 1721 e 1722.

UNIDADE XVII - UNIÃO ESTÁVEL (arts. 1723 a 1727 do CC e art. 226, §3° da CF)

O Código Civil em seu art. 1723 conceitua união estável como sendo uma
entidade familiar entre pessoas de sexos opostos que tenham convivência pública,
contínua, duradoura e com o objetivo de constituir família. O §1° do aludido dispositivo
também dispõe que não se constituirá união estável se ocorrerem os impedimentos
previstos no art. 1.521, com exceção do inciso VI (pessoa casada se achar separada de
fato ou judicialmente). Vale observar também, que as causas suspensivas previstas no
art. 1.523, não impedirão a caracterização da união estável, como bem preceitua o art.
1.723, §2°.
Os companheiros ou conviventes devem obedecer aos deveres de lealdade,
respeito, assistência e de guarda, sustento e educação dos filhos, equiparando às
relações pessoais do casamento; art. 1.724. Nas relações patrimoniais aplica-se, no que
couber, o regime de comunhão parcial de bens, salvo contrato escrito entre os
companheiros; art. 1.725.
Apesar da Constituição Federal e do atual Código Civil primarem em afirmar
que a união estável é uma entidade familiar que se assemelha ao casamento, o próprio
Código Civil foi insuficiente quando em relação ao direito sucessório legislou, de 2002
a 2017, que as quotas hereditárias dessas duas instituições eram tratadas de forma
diferente; art. 1.790 (hoje considerado inconstitucional pelo STF). Portanto, a partir da
decisão do STF os cônjuges e companheiros passaram a ter direitos sucessórios iguais,
incluindo também as pessoas que vivem em união homoafetiva (instituição familiar
formada por pessoas do mesmo sexo).
Podem os companheiros pedir a conversão da união estável em casamento
mediante pedido ao juiz e assento no Registro Civil, necessitando obviamente dos
procedimentos preliminares do casamento e do processo de habilitação regular; art.
1.726. Contudo, a determinação para que a conversão seja judicial e não administrativa
dificulta o procedimento, sendo, mais fácil casar-se diretamente do que obter a
conversão.
É importante esclarecer que união estável é diferente de concubinato, uma vez
que ele se constitui através de relações não eventuais entre o homem e a mulher
impedidos de se casar, como por exemplo, o marido que vive com a esposa e,
simultaneamente, mantém convivência com outra mulher (a concubina); art. 1.727. O
concubinato embora visto como uma união adulterina é regido pelo direito das
obrigações gerando efeitos patrimoniais de uma sociedade de fato.
É importante salientar que se aplicam às uniões homoafetivas as mesmas
regras da união estável.

UNIDADE XVIII- DA TUTELA (arts. 1.728 a 1.766)

Tutela é encargo atribuído por lei a uma pessoa capaz, para proteger e cuidar da
pessoa de um menor, que não esteja sob o poder familiar, e administrar os seus bens. É
um múnus público de caráter assistencial em princípio obrigatório (exceção art. 1736).
O art. 1728 dispõe que os filhos menores são colocados em tutela com o
falecimento dos pais ou sendo estes julgados ausentes, ou em caso dos pais decaírem do
poder familiar.
Poder familiar e tutela são institutos diferentes. O primeiro é mais amplo e mais
livre para ser exercitado, enquanto a tutela está sempre sob a supervisão do Judiciário.
Em tese, o poder familiar dura enquanto perdurar a incapacidade e a tutela tem o prazo
de duração de 02 anos, embora possa ser prorrogado. Na tutela diferentemente do poder
familiar o tutor não tem o usufruto dos bens do seu pupilo. Ambos divergem ainda em
relação à emancipação voluntária, onde os pais a formalizam por escritura pública,
enquanto o tutor necessita de autorização judicial.
É importante frisar que compete somente aos pais e em conjunto o direito de
nomear tutor, desde que esses pais estejam investidos no poder familiar ao tempo de
suas mortes; arts. 1.729, caput, e 1.730.
A tutela pode se dá de diversas formas, são elas:
1-) testamentária: quando o tutor for nomeado pelos pais, em conjunto. É feita em
testamento ou em qualquer outro documento autêntico, como escritura pública, escritura
particular, codicilo ou até mesmo uma carta para essa finalidade. A nomeação de tutor
pode ser feita por um só dos pais se o outro for falecido ou tiver sido destituído do
poder familiar. É importante observar que em caso de nulidade que não vicie a vontade
da tutela a mesma continua tendo validade;
2-) legítima: se não houver tutor nomeado pelos pais, o juiz nomeará tutor os parentes
consangüíneos do menor, por esta ordem:
a-) aos ascendentes (preferindo os de grau mais próximo ao mais remoto);
b-) aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais próximos aos mais
remotos, se do mesmo grau os mais velhos aos mais moços. Essa ordem não é absoluta
podendo o juiz optar entre eles o mais apto a exercer a tutela em benefício do menor;
art. 1.731.
3-) dativa: ocorre quando o juiz nomeia pessoa idônea e residente no domicílio do
menor na falta de tutor testamentário ou legítimo, quando estes forem excluídos ou
escusados da tutela, ou porque foram removidos por não idôneos; art. 1.732.
A certidão do termo de tutela é o documento hábil que comprova e legitima o tutor
em sua condição perante terceiros.
É válido esclarecer que de acordo com o art. 1733 havendo irmãos órfãos, eles
terão um só tutor, embora essa não seja uma regra absoluta podendo a bem do menor ser
revista.
O Código Civil em seu art. 1735 dispõe sobre as pessoas que não podem exercer a
tutela, são elas: aquelas que não tiverem a livre administração de seus bens, os inimigos
do menor ou de seus pais, os condenados por furto, estelionato e aquelas que exercerem
função pública incompatível com o encargo (doutrina: função particular também –
viagens constantes, prolongadas ausências de domicílio).
Já o art. 1736 enumera as pessoas que podem ser exoneradas do encargo, tais
como: os maiores de 60 anos, as mulheres casadas, os enfermos, aqueles que já
exercerem tutela ou curatela. A escusa deverá ser apresentada nos 10 dias seguintes à
intimação, mas se o motivo de escusa for ulterior à aceitação da tutela esse prazo passa
a ser contado do dia em que ele sobrevier.
É importante ressaltar também a possibilidade da figura do protutor (origem
francesa) que é uma pessoa que se o magistrado achar conveniente pode nomear para
fiscalizar os atos do tutor; art. 1.742. O protutor tem direito a uma gratificação módica,
já o encargo do tutor não permite remuneração, mas sim uma gratificação de natureza
indenizatória (jurisprudência em torno de 12% da renda líquida). O tutor deverá sempre
ser reembolsado das despesas relativas aos bens do pupilo, mas não com relação aos
alimentos fornecidos em espécie ou pecúnia, pois se trata de dever inerente ao encargo;
art. 1752.
O tutor tem a obrigação de prestar contas de sua administração mesmo que os pais
o tiverem dispensado; art. 1.755. A prestação de contas deve ocorrer de dois em dois
anos, ou ainda toda vez que o juiz entender necessário. O magistrado também tem
responsabilidade na tutela, sendo essa responsabilidade direta e pessoal (quando não
tiver nomeado o tutor, ou não o houver feito oportunamente); ou subsidiária (quando
não tiver exigido garantia legal do tutor, nem o removido, tanto que se tornou suspeito);
art. 1.744.
Em relação ao exercício da tutela existem várias atribuições quanto a pessoa do
menor, como dirigir-lhe a educação, prestar-lhe alimentos, cumprir com os deveres que
normalmente cabem aos pais, administrar os bens do tutelado, em proveito deste, com
zelo e boa fé; art. 1.740 e 1.741.
A tutela termina com a maioridade do tutelado, ou a sua emancipação, ao cair o
menor sob o poder familiar, no caso de adoção ou reconhecimento. Pode também
extinguir a tutela ao fim do termo legal de 02 anos, ou ao sobrevir escusa legítima, ou
ainda ao ser o tutor removido.
Observa-se ainda que extinguindo a tutela pelo decurso do prazo legal, deve o
tutor ingressar com pedido de exoneração no prazo de 10 dias seguintes à expiração do
prazo, e se assim não for feito entende-se que o tutor foi reconduzido ao encargo, a não
ser que o magistrado o dispense.

UNIDADE XIX - DA CURATELA (art. 1.772 a 1.783)

A curatela é um múnus público de caráter assistencial, sendo um encargo atribuído


por lei a uma pessoa capaz, a fim de reger e proteger outra pessoa chamada de
curatelado ou interdito, em regra, maior e incapaz, e administrar-lhe os bens.
A curatela e a tutela se assemelham em relação às escusas voluntárias e
proibitórias, mas também trazem diferenças significativas, tais como: a tutela é
destinada a menores de 18 anos, enquanto a curatela é, em regra, para maiores de idade
(exceção: nascituro); a tutela pode ser testamentária e a curatela é sempre deferida por
lei; a tutela abrange a pessoa e os bens do menor e a curatela pode recair somente sobre
os bens (pródigo).
De acordo com o art. 1775 podem ser nomeados como curador: o cônjuge ou
companheiro, não separado judicialmente ou de fato do outro, quando interdito; não
havendo cônjuge ou companheiro é legítimo curador, o pai ou a mãe; na falta destes, o
descendente que se demonstrar mais apto, sendo que, entre os descendentes, os mais
próximos precedem os mais remotos. Na falta dessas pessoas, compete ao juiz, a
escolha do curador (curatela dativa). A autoridade do curador estende-se à pessoa e aos
bens dos filhos menores e não emancipados do curatelado; art. 1.778.
O art. 1.767 enumera as pessoas que estão sujeitas à curatela.
É importante esclarecer que o processo de interdição visa estabelecer a
incapacidade real do, até então, suposto incapaz; inclusive, limitar, em certos casos,
como o do pródigo, a extensão da curatela para a prática de certos atos em relação aos
seus bens. Deve ficar claro ainda que o interditando pode constituir advogado para
defender-se.
Contudo, uma vez a interdição sendo declarada por sentença a mesma deve ser
publicada pela imprensa local e pelo órgão oficial por 03 vezes, e registrada em livro
especial no cartório do 1 Ofício do Registro Civil da comarca em que for proferida. Essa
sentença tem efeito ex tunc (exceção: pródigo – ex nunc), mas deve-se provar a
incapacidade ao tempo de realização do negócio jurídico, porém a jurisprudência tem
ressalvado os direitos de terceiros de boa-fé quando a incapacidade não era notória.
Vale dizer também que o Código Civil regulamenta curatelas especiais, nos
seguintes casos:
a-) quando no exercício do poder familiar, colidem com os interesses dos pais,
com os do filho – curador ad hoc (art. 1.692);
b-) havendo herança jacente (art. 1.819);
c-) ao nascituro, art. 1.779;
A interdição termina quando cessa a causa que a determinou. O pedido de
levantamento da interdição pode ser formulado pelo Ministério Público ou por outro
interessado, acolhido o pedido deve-se publicar a sentença e averbá-la no Registro Civil.
Observar o Estatuto da Pessoa com Deficiência, especialmente os arts. 84 a 87.

Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado o direito ao exercício de sua
capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º Quando necessário, a pessoa com deficiência será submetida à curatela,
conforme a lei.

§ 2º É facultado à pessoa com deficiência a adoção de processo de tomada de


decisão apoiada.

§ 3º A definição de curatela de pessoa com deficiência constitui medida protetiva


extraordinária, proporcional às necessidades e às circunstâncias de cada caso, e durará o
menor tempo possível.

§ 4º Os curadores são obrigados a prestar, anualmente, contas de sua


administração ao juiz, apresentando o balanço do respectivo ano.

Art. 85. A curatela afetará tão somente os atos relacionados aos direitos de
natureza patrimonial e negocial.

§ 1º A definição da curatela não alcança o direito ao próprio corpo, à sexualidade,


ao matrimônio, à privacidade, à educação, à saúde, ao trabalho e ao voto.

§ 2º A curatela constitui medida extraordinária, devendo constar da sentença as


razões e motivações de sua definição, preservados os interesses do curatelado.

§ 3º No caso de pessoa em situação de institucionalização, ao nomear curador, o


juiz deve dar preferência a pessoa que tenha vínculo de natureza familiar, afetiva ou
comunitária com o curatelado.

Art. 86. Para emissão de documentos oficiais, não será exigida a situação de
curatela da pessoa com deficiência.

Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim de proteger os interesses da


pessoa com deficiência em situação de curatela, será lícito ao juiz, ouvido o Ministério
Público, de oficio ou a requerimento do interessado, nomear, desde logo, curador
provisório, o qual estará sujeito, no que couber, às disposições do Código de Processo
Civil .

UNIDADE XX – DA ADOÇÃO (Lei 12.010, de 3 de agosto de 2009)

Adoção é medida especial e irrevogável que cria vínculo de filiação fictícia e civil
que se consolida por meio de ato jurídico solene (sentença). A adoção é um recurso
utilizado quando esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou adolescente
em sua família natural ou extensa (família ampliada ou parentes próximos que se tenha
vínculo de afetividade).

A Lei da Adoção criou um cadastro nacional para facilitar a adoção e limitou o


prazo de 2 anos, prorrogáveis em caso de necessidade, a permanência de criança e
jovem em abrigo. Atualmente, também, o adotado tem direito de conhecer sua origem
biológica e acesso irrestrito ao seu processo de adoção.

É importante ressaltar que a adoção afasta por completo o adotado da família


biológica, apenas permanecendo os impedimentos matrimoniais.

Pode ocorrer ainda a adoção de pessoas maiores de 18 anos de idade, mas


dependerá igualmente de assistência do poder público e sentença constitutiva da
filiação. A adoção seja ela qual for, deve sempre primar pelo benefício do adotado.

A adoção tem como requisitos legais:

a) idade mínima de 18 anos para o adotante independente do estado civil (art. 42


do ECA);

b) diferença de idade de 16 anos entre adotante e adotado (art. 42 do ECA);

c) consentimento dos pais ou representantes legais de quem se deseja adotar;

d) concordância do pretenso adotado se contar com mais de 12 anos (art.28 do


ECA);

e) processo judicial;

f) não é permitido adoção por procuração (art. 39 da Lei 12.010 de 03 de agosto de


2009)

g) estágio de convivência pelo tempo que o juiz entender necessário, mas poderá
ser dispensado se o adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante durante
tempo suficiente para que seja possível avaliar a constituição do vínculo. Contudo, em
caso de adoção por estrangeiro o estágio de convivência é de 30 dias e deve ser
cumprido em território nacional (art. 46 da Lei 12.010 de 03 de agosto de 2009).

A adoção por duas pessoas só será permitida se forem marido e mulher ou


viverem em união estável ou homoafetiva. Divorciados e separados judicialmente
também poderão adotar conjuntamente, contanto que acordem sobre a guarda e o direito
de visitas e que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da sociedade
conjugal; art.42 da Lei 12.010 de 03 de agosto de 2009.

A adoção gera os seguintes efeitos:

a) gera parentesco entre o adotante e o adotado e respectivos parentes;

b) possibilita a modificação do nome do adotado (art. 47 do ECA);


c) estabelece obrigação alimentar recíproca;

d) estabelece para o adotante, o direito de administração e usufruto dos bens do


adotado menor;

e) estabelece igualdade de condições entre filhos adotados e consangüíneos (art.


227, §6º, CF).

Os efeitos da adoção começam a partir do trânsito em julgado da sentença, exceto


se o adotante falecer durante o procedimento, caso em que os efeitos serão retroativos à
data do óbito; art. 47 do ECA.

Para finalizarmos o nosso estudo é importante analisarmos as diferenças entre


guarda, tutela e adoção.

A guarda é a regularização da criança ou adolescente em um lar substituto. Ela


envolve assistência moral, material e educacional. Pode ser unilateral ou compartilhada
entre os pais; como pode também ser exercida pelos avós ou pelos abrigos, mas os pais
continuam com o poder familiar. A guarda é revogável e cessa com a maioridade. Na
guarda não há direitos hereditários e a criança ou adolescente continua com os nomes
dos pais no Registro Civil.

A tutela envolve todos os deveres da guarda e ainda a administração do


patrimônio. Ela é a colocação em família substituta, por motivo de morte, ausência ou
perda do poder familiar pelos pais. Não há direitos hereditários e pode ser revogada.

Já a adoção insere a pessoa em uma família substituta como filho ou filha e isso
envolve todos os direitos de filiação, inclusive hereditários. O adotado não tem mais
vínculo com a família biológica, com exceção dos impedimentos matrimoniais, e é o
nome dos pais adotivos que passa a constar no Registro Civil, sem que haja nenhuma
menção ao processo de adoção. Se o adotado tiver 12 anos, ele passa a ser ouvido no
processo de adoção.
UNIDADE XXI - SUCESSÃO LEGÍTIMA

- DIREITO DE REPRESENTAÇÃO

O direito de representação, ou também conhecido como sucessão por


estirpe, é peculiar da sucessão legítima e ocorre quando o herdeiro falece antes da
abertura da sucessão, como por exemplo, na sucessão do neto ao avô; CC. art. 1851:
dá-se o direito de representação, quando a lei chama certos parentes do falecido a
suceder em todos os direitos, em que ele sucederia, se vivo fosse.
Vale dizer, que o direito de representação pode ocorrer também em caso
de indignidade, participando da herança o representante do indigno. Contudo, essa
representação só pode ocorrer em linha reta descendente (CC. art. 1816).

A
falecido

B C
Indigno 50% direito próprio

D E
neto de A neto de A
25% representação 25% representação

Os filhos de renunciante podem participar da herança apenas no caso


dele ser o único herdeiro legítimo da sua classe, ou se todos os outros herdeiros da
sua classe também renunciarem. Mas, é importante colocar que eles herdam, não por
representação, mas sim por direito próprio e por cabeça (CC. arts. 1808 e1811).
Contudo, o renunciante poderá representar o de cujus na sucessão de outra pessoa;
CC. art. 1856: o renunciante à herança de uma pessoa poderá representá-la na
sucessão de outra.
A
falecido

B C
filho/renunciante filho/renunciante

D E F
neto de A neto de A neto de A
1/3 da herança 1/3 da herança 1/3 da herança

O direito de representação exige alguns requisitos, tais como:


a-) haver o representado falecido antes do autor da herança, com exceção do
indigno e ausente;
b-) descender o representante do representado observando a linha reta
descendente; na linha transversal só haverá representação dos filhos do irmão
falecido quando concorrerem com o irmão deste (CC. arts. 1852, 1853 e 1855);

PAI MÃE

IRMÃO A IRMÃO B IRMÃO C


premorto falecido 50%

D E
sobrinho sobrinho
25% 25%

c-) ter o representante legitimação para herdar do representado, não sendo esta
legitimação relativa ao de cujus e sim ao ascendente pré-morto;
d-) não ocorrer interrupção dos graus entre representante e sucedido; omitindo-se
um lugar intermediário, com exceção do indigno;
No direito de representação, o representante assume o grau de
parentesco do representado em relação ao de cujus. A quota que o representante
herda não responde pelos débitos do representado, mas pelos do de cujus.
Vale dizer, que os representantes terão que trazer à colação valores
recebidos pelo representado.
O direito de representação tem como finalidade evitar injustiça com
os descendentes e irmão do herdeiro pré-morto, ausente ou indigno.

- ORDEM DE VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

a) art. 1829, I: descendentes: aos descendentes, em concorrência com o cônjuge


sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da comunhão
universal, ou no da separação obrigatória de bens; ou se, no regime da
comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares.

P P graus diferentes
Por estirpe
F F F F F
50% 50% 1 1
3 3 N N N 1:3
3

P P
F F F F

N N N N N N N
100% : 3 1 1 1
4 4 4
Mesmo grau : por cabeça B B 1:2
Art. 1835 4
Por estirpe, graus diferentes

b) art. 1829, I: descendente e cônjuge

- salvo se não estiver separado judicialmente ou de fato há mais de 2 anos; art.


1830 do C.C
- comunhão parcial com bens particulares
- participação final dos aquestos
- separação convencional de bens
- se concorrer com descendentes comum: quota igual ou no mínimo de um
quarto; art. 1832 do C.C.
- se concorrer com descendente só do de cujus: quota igual.

c) art. 1832:

P M quota mínima de 1 e direitos próprios


4

F F F F

3 : 4
4

P Cônjuge ao cônjuge caberá 1


5
Como os demais
F F F F

P Cônjuge ao cônjuge caberá 1


5

F F F F
1 1 1 1
5 5 5 5

d) art. 1829, II: ascendente


art. 1836

50% 50% 25% 25% 25% 25%


P M AP AP AM AM

F P M

F
AP AP art.1836, § 1 e 1852
(a mãe fica com 100%)

P M

50% 25% 25%


AP AM AM

Art. 1836 § 2
P M igualdade de graus e diversidade de linhas

e) art. 1829, II: ascendente e cônjuge em qualquer regime


arts.1837 e 1836

P M

F cônjuge
1
3

P M

F cônjuge
50%
AP AP

P M

F cônjuge
50%

f) arts. 1829, III; 1830 e 1838 do C.C: se não tiver ascendente, nem
descendente o cônjuge ou companheiro herda 100%, desde que não esteja separado
judicialmente ou de fato há mais de 2 anos.

g) art. 1829, IV: colateral até o quarto grau

- art.1843 § 1 P M

F F F
100% : 4
S S S S

- art.1843, caput: prevalece os sobrinhos

Tio P M

F F F
S S S S
h) arts. 1839 e 1841 (irmãos bilaterais e unilaterais): os bilaterais têm peso 2 e
os unilaterais têm peso 1.

P M

F F F F F

i) art. 1843 § 2

P M

F F F F F
S S S S

j) art. 1842: consanguíneo (pai) e uterino (mãe)

P M

F F F

UNIDADE XXII- SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

- CONCEITO DE TESTAMENTO

É um negócio jurídico, unilateral, personalíssimo, solene, gratuito (podendo


ser oneroso) e revogável; onde o testador pode dispor dos seus bens no todo ou em parte
para depois de sua morte. Vale dizer que o referido ato pode conter disposições
extrapatrimoniais; art. 1857 do C.C.
Quando o testador possui herdeiros necessários (art. 1845: descendentes,
ascendentes e cônjuge) o ato de última vontade só pode atingir 50% dos bens; já que a
outra metade, chamada de legítima, pertence por direito aos herdeiros necessários, salvo
nos casos de indignidade e deserdação.
A legítima, ou também chamada de parte indisponível, é calculada sobre o
total dos bens na época da abertura da sucessão, somando-se os bens que vieram à
colação e abatendo-se as dívidas e as despesas com o funeral.

- CAPACIDADE ATIVA PARA TESTAR

Em regra, todos podem testar (pessoa física), salvo os absolutamente


incapazes, os que no momento do ato não apresentam total discernimento e os menores
de 16 anos. A capacidade deve ser analisada no momento da liberalidade.

- CAPACIDADE PASSIVA PARA TESTAR

A regra geral é que todas as pessoas físicas e jurídicas podem ser


beneficiadas em testamento, desde que existam no momento da abertura da sucessão e
não forem excluídas por lei; arts. 1799, 1800 §§ 3 o e 4 o e 1801.

- FORMAS DE TESTAMENTOS

. Testamento Público: arts. 1864 ao 1867

- Feito perante o tabelião ou seu substituto legal, escrito pelo próprio


punho do tabelião ou mecanicamente e registrado no livro de notas.
- Língua nacional
- Duas testemunhas
- Ditar ou apresentar minuta
- Leitura e assinatura
- Podem fazer: inclusive o surdo, o cego e o analfabeto
- Surdo: deve ler ou indicar uma testemunha suplementar que o faça
- Cego: leitura dupla (tabelião e uma testemunha)
- Não podem o mudo e o surdo-mudo
- Cego: só pode testar desta forma
- Analfabeto (ou impossibilitado de assinar): uma testemunha ou terceira
pessoa assina a seu rogo, é bom que se tome a impressão digital do disponente.
- Lado negativo: muito formal e público
- Lado positivo: a experiência e responsabilidade do tabelião e ter o
documento arquivado.

. Testamento Cerrado: arts. 1868 ao 1875

- Escrito em língua nacional ou estrangeira pelo próprio testador ou a


seu rogo, como também pelo tabelião podendo seguir a forma mecânica.
- Duas testemunhas
- Auto de Aprovação: língua nacional (introdução: qualificação, local e
data; confirmação: atesta a entrega e autenticidade; encerramento: contendo a leitura do
termo de aprovação e a coleta de assinaturas.)
- Sinal público do tabelião
- Leitura do auto de aprovação
- Assinatura no livro de notas
- Proibidos de utilizá-lo: as pessoas que não sabem ou não podem ler
(cego e analfabeto)
- É permitido ao surdo-mudo, desde que saiba e possa ler e escrever
assinando de próprio punho. Neste caso não pode ser mecânico e tem que pedir o auto
de aprovação na face externa do papel.
- Lado positivo: sigiloso, pode, se quiser contar com o tabelião
- Lado negativo: dificuldade para ser encontrado; quando encontrado
não pode estar aberto, salvo se provado que não foi o testador.
- Aberta a sucessão: apresenta-se o testamento em juízo para análise e
posterior abertura perante o apresentante e o escrivão.
- Apresentando vício: perícia
- Leitura: escrivão
- Ato de abertura: rubricado pelo magistrado e assinado pelo
apresentante
- Publicação em cartório
- Registrar e cumprir
- Cópia autenticada do testamento para ser juntado ao inventário.

. Testamento Particular, Aberto ou Hológrafo (escrito por completo): arts.


1876 ao 1880

- Feito de próprio punho, tendo o testador que escrever, ler e assinar, não
podendo ser a rogo
- Rasuras e correções ressalvadas não causam nulidade
- Deve ser datado (não acarreta nulidade)
- Três testemunhas (duas testemunhas/jurisprudência): ouvir a leitura e
assinar
- Mecânico: sem rasuras e espaços em branco, com a numeração e
autenticação de todas as folhas
- Língua nacional ou estrangeira, desde que o testador e as testemunhas
a compreendam
- Lado positivo: não precisa de tabelião
- Lado negativo: facilidade de extravio, em regra a falta das testemunhas
invalida o instrumento e o depoimento delas está sujeito a análise

. Testamento Particular de Emergência ou Excepcional: art. 1879

- O testador se encontra em emergência, lugar isolado, perdido, sem


comunicação e correndo risco de vida
- Escrito de próprio punho, assinado, declarando a circunstância
excepcional, sendo dispensável as testemunhas.

OBS: Codicilo: é uma disposição de última vontade parecida com o testamento, mas
com suas particularidades. É usado para determinar providências do enterro, destinar
esmolas, roupas e joias de uso pessoal e pouco valor (valoração subjetiva). O autor do
codicilo tem que saber e poder escrever, pois é escrito, datado e assinado pelo
disponente; apesar que a jurisprudência tem aceitado de forma mecânica. Um codicilo
não revoga um testamento.

. Testamento Marítimo: arts. 1888 ao 1892

- Testamento especial para quem se encontra em viagem a bordo de


navio nacional, mercante ou de guerra
- Feito perante o comandante e duas testemunhas
- Pode corresponder ao público ou ao cerrado
- Registrado no diário de bordo
- Caducidade: caso o testador fique 90 dias seguidos em lugar onde ele
poderia testar de forma ordinária.

.Testamento Aeronáutico: arts. 1888 ao 1892

- Testamento especial para quem está em viagem a bordo de aeronave


militar ou comercial
- Feito perante pessoa designada pelo comandante e duas testemunhas
- Forma do público ou cerrado
- Provisoriedade

. Testamento Militar: 1893 ao 1895

- Utilizado pelos militares e pessoas a serviço das Forças Armadas


quando se encontram em guerra interna ou externa e não houver tabelião ou
possibilidade de se recorrer a ele
- Duas testemunhas, ou três, se o testador não souber ou não puder
assinar, caso em que uma das testemunhas assinará para ele.
- Forma do público ou cerrado
- Caducidade: art. 1895 do C.C
. Testamento Militar Nuncupativo: art. 1896

- Feito de viva voz por pessoa que está em combate ou ferida


- Duas testemunhas: posteriormente escrevem as disposições, assinam e
apresentam ao auditor
- Caducidade: se o testador não morrer na guerra ou convalescer do
ferimento.

Obrigada pelo semestre que passamos juntos, sucesso na sua caminhada!


Professora Sibele

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