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DIREITO DE FAMÍLIA

Introdução ao Direito de família:


conceito de família; tipos de família;
conceito de Direito de família e
importância da família para o Direito;
princípios do Direito de Família.
O que é Família?
Toda família é igual?

Família
 origem: língua dos oscos (península italiana) – famel
(latim) = servo ou conjunto de escravos pertencentes ao
mesmo patrão/ agrupamento;

 “Assume uma concepção múltipla, plural, podendo dizer respeito a


um ou mais indivíduos, ligados por traços biológicos ou sócio-psico-
afetivos, com intenção de estabelecer, eticamente, o desenvolvimento
de cada um.” (FARIAS, p.45, 2012).

 “Regime de relações interpessoais e sociais, com ou sem a presença


da sexualidade humana, com o desiderato de colaborar para
realização das pessoas humanas que compõem um determinado
núcleo.”
Quais as diferenças entre as famílias
abaixo?
Quadro comparativo da família
 Código Civil de 1916:
 Matrimonializada; Patriarcal; Hierarquizada; Heteroparental; Biológica;
Unidade de produção e reprodução; qualificação da família como legítima;
diferença entre homem e mulher; categorização dos filhos;
indissolubilidade do vínculo matrimonial; presença de concubinato...

 Código Civil de 2002:


 Pluralizada; Democrática, Igualitária substancialmente; Hetero ou
Homoparental; Biológica ou socioafetiva; Unidade afetiva; Caráter
instrumental (promoção humana); igualdade entre homem e mulher;
paridade entre os filhos (independente da origem); dissolubilidade do
vínculo matrimonial; reconhecimento de uniões estáveis ...
Importância da Família para o Direito
 a família é a base da sociedade;

 elemento próprio da vida;

 “O ideal a ser alcançado em todas a relações familiares é a


harmonia, por meio do afeto. No entanto, a família necessita do
direito quando adoece, no sentido figurado dessa palavra. As relações
familiares, quanto mais harmônicas e felizes, menos carecem do
direito. (Calmon de Passos, apud, Regina Beatriz, p.27, 2016).”
 art. 226 da CF/1988:

CAPÍTULO VII
Da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do
Idoso

 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial


proteção do Estado.
Do Direito de Família
 Direito existencial: centrado na pessoa humana (normas de ordem pública)/ (arts.
1.511 a 1.638 CC); Normas não podem ser contrariadas por convenção das partes,
sob pena de nulidade absoluta por fraude à lei imperativa (art. 166,VI). Ex: nulidade
contrato de namoro qd existe união estável/ Renuncia direito a alimentos

 Direito patrimonial: centrado no patrimônio (normas de ordem privada)/ admitem


convenção livre entre as partes/ (arts. 1.639 a 1.722 CC);

 Direito de família= normas de direito público + normas de direito


privado.

 Personalização/Despatrimonialização do Direito Civil; A pessoa é tratada antes do


patrimonio.

 “O direito de família, por sua própria natureza, é ordenado por grande número de normas de
ordem pública. Essa situação, contudo, não converte esse ramo em direito público.” ( Sílvio de
Salvo Venosa, p.10, 2011).
Estrutura e Objeto
 Estrutura (divisão):

 direito matrimonial;
 direito convivencial;
 direito parental;
 direito assistencial.

 Objeto:

 a própria família;
 disciplina as relações que se formam na esfera da vida familiar.
FONTES
 Fonte principal:

 Norma constitucional (arts. 226 e 227 CF de 1988);

 Fontes infraconstitucionais:
 Código Civil de 2002;
 Lei do Divórcio;
 Lei de investigação de paternidade;
 ECA;
 Estatuto do idoso;
 Lei Maria da Penha;
 Lei da Alienação Parental;
 Estatuto da Pessoa com Deficiência;
 Lei de Alimentos;
 Lei de Alimentos Gravídicos...
 PrincípiosFundamentais do
Direito de Família
Proteção da Dignidade da Pessoa Humana
 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos
Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
[...]
III - a dignidade da pessoa humana;

 Princípio máximo; Clausula geral/conceito indeterminado


 personalização/ repersonalização e despatrimonialização do
direito privado;
 ex¹: proteção ao imóvel em que reside pessoa solteira (bem de
família);
 STJSúmula 364 -
O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o
imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.
Pluralidade das entidades familiares
 proteção das famílias não casamentárias (art. 226, CF/88);
 A família, como base da sociedade, possui especial
proteção estatal;
 casamento=instituição/ solenidade (um tipo de entidade
familiar);
 múltiplas possibilidades de arranjos familiares;
 valorização da comunidade/grupo familiar baseado nos
laços de afeto/ função social da família (formar pessoas
humanas dignas);
 rol previsto na CF/88 não é taxativo.
 “ A proteção à família somente se justifica para que se
implemente a tutela avançada da pessoa humana,
efetivando no plano concreto, real, a dignidade afirmada
abstratamente. É a família servindo como instrumento
para o desenvolvimento da personalidade humana e
para realização plena de seus membros.” (Cristiano
Chaves de Farias, p. 89, 2012)
Princípio da Solidariedade
 Art. 3°, I, CF/88;
 Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
 I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

 Ser solidário: responder pelo outro/ preocupar-se com a outra


pessoa/ remonta ao direito obrigacional.
 solidariedade social como objetivo fundamental da República
Federativa do Brasil;
 Repercute nas relações familiares (relacionamento pessoais);
 “Responder pelo outro”;

 Ex: pagamento de alimentos entre parentes, ex-conjuges, ex-


companheiros...
Igualdade entre filhos
 art. 227, § 6° CF/88 e art. 1.596 CC;
Art. 227...
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção,
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação.
Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de casamento,ou por adoção,
terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação.
Revogado CC/16: art. 332- O parentesco é legítimo, ou ilegítimo, segundo
procede ou não de casamento; natural, ou civil, conforme resultar de
consaguinidade, ou adoção.

 Portanto, inapropriado/vedado os seguintes termos:


 filho adulterino; filho incestuoso; filho ilegítimo; filho espúrio; filho
bastardo...
Igualdade entre cônjuges e companheiros

 art. 226, § 5º CF/88 e art. 1.511 CC;

 Igualdade da chefia familiar/ regime democrático;

 § 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos


igualmente pelo homem e pela mulher.

 Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na


igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

 ex: ação de alimentos; uso do nome do outro;


administração do lar e economia doméstica...
Não intervenção ou da liberdade
 art. 1.513 CC;

 Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado,


interferir na comunhão de vida instituída pela família.

 relação com a autonomia privada (liberdade de escolha);


 ex: planejamento familiar (livre decisão do casal);
 Art. 1.565, § 2 o O planejamento familiar é de livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e financeiros para
o exercício desse direito, vedado qualquer tipo de coerção por parte de
instituições privadas ou públicas.

 Não impede que o Estado incentive o controle de natalidade


e o planejamento familiar por meio de políticas públicas.
Maior interesse da criança e do
adolescente
 art. 227 CF/88, arts 1.583 e 1.584 CC e art. 3° ECA;

 Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a
salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
 Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata
esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.
 arts 1.583 e 1.584 CC: tipos de guarda

 Proteção integral (best interest of the child);


 Absoluta prioridade.
Afetividade*
 principal fundamento das relações familiares;

 elemento estrutural da família contemporânea;

 decorre da dignidade e solidariedade;

 afeto ganhou valor jurídico/gera efeitos jurídicos;


 ex¹: parentalidade socioafetiva/ desbiologização da
paternidade
 ex²: direito de visita de avós (art. 1.589, p.único);
 vínculo familiar= vínculo de afeto
 É obrigatória a presença do afeto nas relações familiares?
 Não. O afeto tem como característica a espontaneidade,
portanto, não poderia ser juridicamente exigível.
 E a tese do abandono afetivo (abandono paterno-filial)?

 “Aqui não se fala ou se discute o amar e, sim, a imposição biológica e legal


de cuidar, que é dever jurídico, corolário da liberdade das pessoas de
gerarem ou adotarem filhos”, declarou a ministra. Segundo ela, o amor
estaria alheio ao campo legal, situando-se no metajurídico, filosófico,
psicológico ou religioso... Em suma, amar é faculdade, cuidar é
dever.
 Resp: 1159242- RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI
 Fundamento: dever de cuidado imposto no art. 227 CF/88
 Afasta-se, portanto, uma suposta caracterização do afeto como princípio
do Direito das Famílias. Ora, se princípio fosse, o afeto seria exigível, na
medida em que todo princípio jurídico tem força normativa e, por
conseguinte, obriga e vincula os sujeitos. Assim sendo, a afetividade permeia
as relações jurídicas familiares, permite decisões e providências nela
baseadas. Contudo, não se pode, na esfera técnica do Direito, impor a uma
pessoa dedicar afeto (amor, em última análise) a outra”. (Cristiano Chaves
de Farias, p. 73, 2012).
Função social da família
 Art. 226, caput, CF/88;
 Família célula mater da sociedade

 Art. 226.A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

 “a principal função da família é a sua característica de meio para a


realização dos nossos anseios e pretensões. Não é mais a família um fim
em sim mesmo, conforme já afirmamos, mas, sim, o meio social para a
busca de nossa felicidade na relação com o outro.” (Pablo Stolze e Rodolfo
Pamplona, p.98, 2011)

 funcionalidade da família;
 exs: direito de visitas aos diferentes membros das
entidades familiares.
 ENTIDADES FAMILIARES
 A diversidade familiar

 O rol de entidades familiares trazidas


pela CF/
CF/8888 é exemplificativo (numerus
apertus));
apertus
 Entendimento STJ e STF
FAMÍLIA MATRIMONIAL
 art. 226,§ 1º, § 2°, CF/88 e art. 1.512, CC/02;
 §1° O casamento é civil e gratuita a celebração.
 § 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
 Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração.
 Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão
serão isentos de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for
declarada, sob as penas da lei.

 “No Brasil o casamento civil foi acolhido com a proclamação da República em 1889 e foi
Decreto n. 181, de 24 de janeiro de 1980 que lhe conferiu efeitos jurídicos”
(Madaleno, 2019)
FAMÍLIA INFORMAL
 decorrente da união estável/ art. 226, §3°, CF/88;
 § 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre
o homem e a mulher (entre pessoas) como entidade familiar, devendo a lei
facilitar sua conversão em casamento.
 !!! Recurso Extraordinário 878.694 e 646.721 (2017):
 “É inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros
prevista no art. 1.790 do CC/02, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de
casamento quanto nas de união estável,o regime do art. 1.829 do CC/02.” (Relator
Ministro Luís Roberto Barroso).

Obs: não há vedação para união entre pessoas do mesmo


sexo.
Família homoafetiva

 união formada entre pessoas do mesmo sexo.


 STF- informativo 625 ADPF 132/RJ e ADI 4.277/DF
(efeito vinculante e erga omnes);
 união homoafetiva= união heteroafetiva;
Família monoparental
 art. 226, §4°, CF/88;

 § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada


por qualquer dos pais e seus descendentes.
Família anaparental
 Família sem pais;
 Presentes elementos afetivos;
 Ausência de relações sexuais;
 Pessoas vivem e convivem com o intuito de constituir
estável vinculação familiar;
 ex: STJ- imóvel em que residiam duas irmãs solteiras
constitui bem de família (Resp 57.506/MG, 4ª Turma)
Família Mosaico ou pluriparental
 decorrente de vários casamentos, uniões estáveis ou
mesmo simples relacionamentos afetivos de seus
membros;
 Mosaico= “várias cores”/várias origens
Família Multiespécie
 Formada entre pessoas e seus animais de companhia
(estimação);
 Animais: semoventes?

 Art. 82. São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de


remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação
econômico-social.
PLC 27/18

 Autoria: Câmara dos Deputados


 Iniciativa: Deputado Federal Ricardo Izar (PSD/SP)
 Nº na Câmara dos Deputados: PL 6799/2013
 Assunto: Jurídico - Direito civil e processual civil.
 Natureza: Norma Geral
 regime jurídico especial para os animais;
 Animais não poderão mais ser considerados como “coisas”/seres
sencientes;
 Serão sujeitos de direitos despersonificados;
Ex: “Guarda compartilhada “de cães;

 DIREITO CIVIL - RECONHECIMENTO/DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL - PARTILHA DE BENS DE


SEMOVENTE - SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA PARCIAL QUE DETERMINA A POSSE DO CÃO DE
ESTIMAÇÃO PARA A EX- CONVIVENTE MULHER– RECURSO QUE VERSA EXCLUSIVAMENTE SOBRE A
POSSE DO ANIMAL – RÉU APELANTE QUE SUSTENTA SER O REAL PROPRIETÁRIO – CONJUNTO
PROBATÓRIO QUE EVIDENCIA QUE OS CUIDADOS COM O CÃO FICAVAM A CARGO DA RECORRIDA
DIREITO DO APELANTE/VARÃO EM TER O ANIMAL EM SUA COMPANHIA – ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO
CUJO DESTINO, CASO DISSOLVIDA SOCIEDADE CONJUGAL É TEMA QUE DESAFIA O
OPERADOR DO DIREITO – SEMOVENTE QUE, POR SUA NATUREZA E FINALIDADE, NÃO
PODE SER TRATADO COMO SIMPLES BEM, A SER HERMÉTICA E IRREFLETIDAMENTE
PARTILHADO, ROMPENDO-SE ABRUPTAMENTE O CONVÍVIO ATÉ ENTÃO MANTIDO COM
UM DOS INTEGRANTES DA FAMÍLIA – CACHORRINHO “DULLY” QUE FORA PRESENTEADO PELO
RECORRENTE À RECORRIDA, EM MOMENTO DE ESPECIAL DISSABOR ENFRENTADO PELOS
CONVIVENTES, A SABER, ABORTO NATURAL SOFRIDO POR ESTA – VÍNCULOS EMOCIONAIS E
AFETIVOS CONSTRUÍDOS EM TORNO DO ANIMAL, QUE DEVEM SER, NA MEDIDA DO POSSÍVEL,
MANTIDOS – SOLUÇÃO QUE NÃO TEM O CONDÃO DE CONFERIR DIREITOS SUBJETIVOS AO
ANIMAL, EXPRESSANDO-SE, POR OUTRO LADO, COMO MAIS UMA DAS VARIADAS E MULTIFÁRIAS
MANIFESTAÇÕES DO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, EM FAVOR DO RECORRENTE
–PARCIAL ACOLHIMENTO DA IRRESIGNAÇÃO PARA, A DESPEITO DA AUSÊNCIA DE PREVISÃO
NORMATIVA REGENTE SOBRE O THEMA, MAS SOPESANDO TODOS OS VETORES ACIMA
EVIDENCIADOS, AOS QUAIS SE SOMA O PRINCÍPIO QUE VEDA O NON LIQUET, PERMITIR AO
RECORRENTE, CASO QUEIRA, TER CONSIGO A COMPANHIA DO CÃO DULLY,
EXERCENDO A SUA POSSE PROVISÓRIA, FACULTANDO-LHE BUSCAR O CÃO EM FINS DE
SEMANA ALTERNADOS, DAS 10:00 HS DE SÁBADO ÀS 17:00HS DO DOMINGO.

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