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DIREITO DAS FAMÍLIAS

`Perspectiva Principiológica
• Princípios são proposições genéricas que servem de
substrato para a organização de um ordenamento
jurídico.

• A teoria dos princípios é o coração das Constituições,


constituindo verdadeira força normativa.

• “Violar um princípio é muito mais grave que


transgredir uma norma. A desatenção ao princípio
implica ofensa não apenas a um específico mandamento
obrigatório, mas a todo sistema de comandos”.
• Celso Antônio Bandeira de Melo
1.1. Dignidade da
pessoa humana

I. Princípios
Gerais (aplicáveis
1.2. Igualdade
ao Direito de
Família)

1.3. Vedação ao
retrocesso
1.1. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA
HUMANA
• É um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
• “Art. 1.º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal, constitui-
se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
• (...)
• III — a dignidade da pessoa humana”.

• Duas premissas básicas para a compreensão desse princípio:

• (i) respeito à dimensão existencial do ser humano em todas


as suas relações intersubjetivas.

• (ii) construção jurídica racional e sensível.


1.2. PRINCÍPIO DA IGUALDADE
• Nas palavras de JOSÉ AFONSO DA SILVA que:

• “O sexo sempre foi um fator de discriminação. O sexo


feminino sempre esteve inferiorizado na ordem jurídica, e
só mais recentemente vem ele, a duras penas,
conquistando posição paritária, na vida social e jurídica à
do homem. A Constituição, como vimos, deu largo passo
na superação do tratamento desigual fundado no sexo,
ao equiparar os direitos e obrigações de homens e
mulheres”.
Igualdade na CF – Direito de Família
• “Art. 5.º, CF- Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à
vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade,
nos termos seguintes:
• I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações,
nos termos desta Constituição”.

• “Art. 226, CF. A família, base da sociedade, tem especial


proteção do Estado.
• § 5.º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal
são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.
• § 6.º (...)”.
Igualdade no CC
• “Art. 1.511, CC. O casamento estabelece comunhão plena de vida,
com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”.

• “CC. Art. 1.596. Os filhos, havidos ou não da relação de


casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação”.

• OBS.: Sucessão entre irmãos (unilaterais e bilaterais).

• DESTAQUES AINDA:
• (i) Guarda compartilhada;
• (ii) União Homoafetiva (STF - ADI 4.277; STJ - REsp 395.904/RS;
REsp 1.026.981/RJ; REsp 1.183.378/RS).
1.3. PRINCÍPIO DA VEDAÇÃO AO
RETROCESSO

• Desenvolvido por CANOTILHO – traduz que a lei


posterior não pode neutralizar ou minimizar um
direito ou uma garantia constitucionalmente
consagrado.

• Nota-se que ao se vedar o retrocesso, respeita-se, por


consequência, o princípio maior da dignidade humana.
2. Princípios Especiais (peculiares ao Direito de Família)
2.1. Afetividade

2.2. Solidariedade familiar

2.3. Função social da família


2.4. Plena Proteção à criança e ao
adolescente.

2.5. Convivência familiar

2.6. Intervenção mínima do Estado

2.7. Proteção ao idoso


2.1. PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE
• “A comunidade de existência formada pelos membros de uma família
é moldada pelo liame socioafetivo que os vincula, sem aniquilar as
suas individualidades”.

• A afetividade pode ser verificada:

• (i) reconhecimento das relações filiais desbiologizadas (Enunciado


341 da JDC– Para os fins do art. 1.696, a relação socioafetiva pode
ser elemento gerador de obrigação alimentar.)

• (ii) União homoafetiva.

• (iii) Inserção em família substituta (art. 28, §2º, do ECA*).

• (iv) Guarda dos filhos (Art. 1584, do CC*)


• “Art. 28, do ECA.
• § 2.º Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco
e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as
consequências decorrentes da medida”.

• “Art. 1.584. Decretada a separação judicial ou o divórcio, sem


que haja entre as partes acordo quanto à guarda dos filhos,
será ela atribuída a quem revelar melhores condições para
exercê-la.
• Parágrafo único. Verificando que os filhos não devem
permanecer sob a guarda do pai ou da mãe, o juiz deferirá a
sua guarda à pessoa que revele compatibilidade com a
natureza da medida, de preferência levando em conta o grau
de parentesco e relação de afinidade e afetividade, de acordo
com o disposto na lei específica” .
2.2. SOLIDARIEDADE FAMILIAR
• Concretiza uma especial forma de responsabilidade social
aplicada à relação familiar.

• É objetivo fundamental da República Federativa do Brasil:

• “Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


• I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;”

• Verifica-se no amparo e na assistência material e moral recíproca,


entre todos os familiares.

• “Art. 1.694, do CC. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir


uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo
compatível com a sua condição social, inclusive para atender às
necessidades de sua educação”.
2.3. PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO AO IDOSO
• A Lei n. 10.741 de 2003 (Estatuto do Idoso), cuidou de
estabelecer, em favor do credor alimentando (maior de
sessenta anos), uma solidariedade passiva entre os parentes
obrigados ao pagamento da pensão alimentícia:

• “Art. 11. Os alimentos serão prestados ao idoso na forma da lei civil”.


• Art. 12. A obrigação alimentar é solidária, podendo o idoso optar entre
os prestadores”.

• Decorre do princípio da solidariedade familiar.

• Precedentes Jurisprudenciais: STJ, REsp 775.565/SP – pôs


fim a discussão sobre a natureza da prestação de alimentos
aos idosos, se era de natureza conjunta ou solidária.
2.4. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DA
FAMÍLIA
• “A funcionalização social da família significa o respeito ao seu
caráter eudemonista, enquanto ambiência para a realização
do projeto de vida e de felicidade de seus membros,
respeitando-se, com isso, a dimensão existencial de cada um”.
• Pablo Stolze

• A família perdeu:
• (i) função política que tinha no Direito Romano, de
subordinação ao pater-familias;
• (b) perdeu a função produtiva dos tempos da revolução
industrial;
• (ii) deixou de ser o suporte de um patrimônio para buscar a
sociabilidade familiar, buscar a realização de um projeto de
vida, a felicidade de seus membros.
• Destaca-se:
• (i) Respeito à igualdade entre os
cônjuges e companheiros;
• (ii) inserção de crianças e
adolescentes no seio de suas famílias
naturais ou substitutas;
• (iii) o respeito às diferenças.
2.5. Princípio da plena proteção das crianças e
adolescentes
• “Art. 227. É dever da família, da sociedade e do
Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão”.
• Verifica-se a observância desse princípio, verbis:
• Art. 1566, do CC, São deveres de ambos os cônjuges:
• I – (...);
• IV - sustento, guarda e educação dos filhos.
• (...)
• Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros
obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de
guarda, sustento e educação dos filhos”.

• A inobservância de tal mandamento pode ocasionar na


destituição do poder familiar, nos termos do art.
1637/1638, do CC.
2.6. Princípio da convivência familiar
• Regra: pais e filhos devem permanecer juntos.
• Afastamento é medida de exceção: quando da adoção,
do reconhecimento da paternidade socioafetiva ou da
destituição do poder familiar por descumprimento de
dever legal.

• ECA: não admite que os filhos sejam separados de seus


pais por simples motivo de ordem econômica:
• “Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui
motivo suficiente para a perda ou a suspensão do pátrio poder”.
2.7. Princípio da intervenção mínima do Estado
no Direito de Família

• “Art. 1513, do CC. É defeso a qualquer pessoa, de direito público


ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família”

• Não concluir que o caráter publicístico das normas de


Direito de Família entrega ao Estado o dever de interferir
na ambiência familiar.

• Estado abandona a figura de protetor-repressor, para


assumir postura de Estado protetor-provedor-
assistencialista.
• Verifica-se:

• (i) previsão de planejamento familiar que é de livre


decisão do casal (art. 1565, §2º, do CC);

• (ii) adoção de políticas de incentivo à colocação de


crianças e adolescentes no seio de famílias substitutas
(ECA).
PRINCÍPIO DA
MONOGAMIA
Uma abordagem doutrinária
CORRENTE DEFENSIVA (MAJORITÁRIA)
• Dogma imposto pelo próprio ordenamento jurídico;
• A pluralidade da família é meramente qualitativa, e não quantitativa;
• Requisito da exclusividade de relacionamento sólido;
• É condição de existência jurídica da união estável nos termos da parte
final do § 1º do art. 1.723, do CC;
• Princípio da monogamia consiste em uma premissa indiscutível, sendo
que toda a estrutura do Direito de Família, ao ser construída, tomou-o
como referência;
• A importância desta distinção está em manter a coerência em nosso
ordenamento jurídico com o princípio da monogamia;
• Princípio jurídico ordenador da sociedade;
• Chave das conexões morais.

• Principais expoentes: Washington de Barros Monteiro, Rodrigo da Cunha Pereira,


Orlando Gomes.
CORRENTE CONTRÁRIA (MINORITÁRIA)
 Seria instrumento de exclusão para tornar certas pessoas e situações
subjetivas co-existenciais invisíveis ao Direito.

 A tese de que a monogamia não constitui, hoje, princípio estruturante


do estatuto jurídico das famílias, assenta-se em linha argumentativa
que tem como pano de fundo a perspectiva do Direito Civil-Constitucional.

 A monogamia como princípio não subsistiria face aos princípios


constitucionais da dignidade da pessoa humana, da solidariedade, da
igualdade substancial, da liberdade e da democracia.

 Pelo princípio da intervenção mínima estatal sobre a família, não faz


qualquer sentido que o Estado mantenha a pretensão de regular a
sexualidade. O Estado somente deve intervir para tutelar as pessoas que
nas relações familiares encontrem-se em situação de vulnerabilidade.
 Principais expoentes: Maria Berenice Dias, Pablo Stolze, Cristiano Chaves, Ivone Souza,
Paulo Luiz Netto Lobo,
Jurisprudência contrária a união paralela
• TJ-RS - AC: 70040097875 RS , Relator: Jorge Luís Dall'Agnol,
Data de Julgamento: 07/10/2011, Sétima Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 11/10/2011.
• TRF-4 - APELREEX: 373 RS 2006.71.07.000373-2, Relator:
Revisor, Data de Julgamento: 10/12/2009, QUINTA TURMA, Data
de Publicação: D.E. 17/12/2009.
• TJ-DF - APL: 907942020088070001 DF 0090794-
20.2008.807.0001, Relator: FLAVIO ROSTIROLA, Data de
Julgamento: 09/02/2011, 1ª Turma Cível, Data de Publicação:
15/02/2011, DJ-e Pág. 63.
• STJ - AgRg no Ag: 1130816 MG 2008/0260514-0, Relator: Ministro
VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO
DO TJ/RS), Data de Julgamento: 19/08/2010, T3 - TERCEIRA
TURMA, Data de Publicação: DJe 27/08/2010.
Jurisprudência favorável a união paralela
• TJ-SE, AI 2008219642, Relator: DES. OSÓRIO DE
ARAUJO RAMOS FILHO, Data de Julgamento:
30/06/2009, 2ª.CÂMARA CÍVEL.

• REsp 789293/RJ, Rel. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ


20/03/2006 – UNIÃO ESTÁVEL PUTATIVA.
• AGRAVO INTERNO. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE DÁ PARCIAL
PROVIMENTO A AGRAVO DE INSTRUMENTO. MANUTENÇÃO.
UNIÃO ESTÁVEL PARALELA AO CASAMENTO. POSSIBILIDADE.
ALIMENTOS PROVISÓRIOS. ANÁLISE PELO JUÍZO DE
PRIMEIRO GRAU. Alguma jurisprudência da Corte admite o
reconhecimento de união estável paralela ao casamento, quando
presentes os requisitos configuradores da união. Precedentes
jurisprudenciais. Logo, o tão-só fato do agravado ser casado com
outra pessoa, não impede por si só sejam eventualmente
reconhecidos os efeitos da alegada união estável entre ele e a
agravante - e nem impede sejam...

• (TJ-RS - AGV: 70042915223 RS , Relator: Rui Portanova, Data de


Julgamento: 09/06/2011, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação:
Diário da Justiça do dia 15/06/2011)

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