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Direito Civil – Família

Profa. Vanessa Estevam


Direito Civil – VII período
O que é família?
1. Código Civil de 1916;
2. Constituição da
República Federativa
do Brasil de 1988;
3. Código Civil de 2002;
4. Legislação
Infraconstitucional;
5. Conceito moderno de
família;
Código Civil de 1916
 Família limitada ao casamento;
 Impedimento de dissolução do vínculo matrimonial;
 Características:
1. Patriarcalismo;
2. Hierarquização;
3. Matrimonio;
 Não reconhecimento de “filhos espúrios” (que não
eram frutos da relação conjugal).
Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988
Dignidade da Pessoa Humana;
Artigo 226, CF: “A família, base da sociedade, tem
especial proteção do Estado”.
Eixos: (segundo Maria Berenice Dias)
1º eixo: A entidade familiar é plural.
2º eixo: Permite o reconhecimento dos filhos
espúrios. De acordo com o artigo 227, § 6º da CF: “Os
filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por
adoção, terão os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias
relativas à filiação”.
Constituição da República Federativa do
Brasil de 1988
3º eixo: “Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações,
nos termos desta Constituição” – Art. 5, inciso I da CF.
“Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal
são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher” – Art. 226,
§ 5º, CF.
Artigo 226, § 8º, CF: “O Estado assegurará a assistência à
família na pessoa de cada um dos que a integram, criando
mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas
relações”.
Vínculo da união estável;
Igualdade entre todos os filhos.
Código Civil de 2002

Trouxe a possibilidade de dissolução do casamento:


1. Extrajudicial: Sem finalidade judicial ou que não se faz
perante autoridade judiciária.
- Realizado em cartório;
- Precisa ser consensual;
2. Divórcio (Emenda Constitucional 66/2010): Consensual ou
litigioso.
Legislação Infraconstitucional
Lei do Inquilinato (Lei 8.245/1991): estabelece que as locações
de imóveis para fins residenciais são intuito familiae (para todo
grupo familiar).

Lei do Bem de Família (Lei 8.009/1990): protege a


impenhorabilidade da residência familiar.

Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006): Deve-se compreender


como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
considerem aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade
ou por vontade expressa – Art. 5, II, Lei 11.340/2006.
Conceito Moderno de Família
Conceito Moderno de Família
Família Plural;
Direitos fundamentais: dignidade, igualdade, liberdade;
Requisitos:
1. Afetividade: A família passa a ser o espaço para o
desenvolvimento do companheirismo e do amor, sendo
considerada como núcleo formador da pessoa e do sujeito.
2. Estabilidade: Exclui os relacionamentos eventuais sem
objetivo de vida em comum.
Conceito Moderno de Família

“Na família constitucionalizada começam a dominar as relações


de afeto, de solidariedade e de cooperação” (FACHIN, 2008,
437).
Princípios Fundamentais do Direito de
Família
• Princípio da dignidade da pessoa
humana;
• Princípio da solidariedade familiar;
• Princípio da função social da família;
• Princípio da afetividade;
• Princípio da isonomia conjugal;
• Princípio da dissolubilidade de vínculo;
• Princípio da não-intervenção ou
Princípio da liberdade;
• Princípio do livre planejamento familiar;
• Princípio da paternidade responsável;
• Princípio do maior interesse da criança e
do adolescente;
• Princípio da igualdade jurídica de todos
os filhos;
Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana

 Princípio basilar para toda relação humana;


 É o princípio base para o reconhecimento de direitos como a
adoção, adoção de crianças por casais homoafetivos,
reconhecimento de união homoafetiva, alimentos,
concubinato, etc.
 Artigo 1º, inciso III, CF: “a dignidade da pessoa humana”.
Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana

Artigo 226, § 7º, CF: “Fundado nos princípios da dignidade da


pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento
familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar
recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito,
vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições
oficiais ou privadas”.
Princípio da Solidariedade Familiar

Artigo 3º, inciso I, CF: “construir uma sociedade livre, justa e


solidária”.
Solidariedade patrimonial e afetiva;
Sociedade livre, justa e solidária;
O ex-cônjuge pode pleitear os alimentos necessários –
indispensáveis para a sobrevivência (artigo 1.694 CC e artigo
1.704 CC).
Princípio da Solidariedade Familiar

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros


pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver
de modo compatível com a sua condição social, inclusive para
atender às necessidades de sua educação.
§ 1 o Os alimentos devem ser fixados na proporção das
necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2 o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à
subsistência, quando a situação de necessidade resultar de
culpa de quem os pleiteia.
Princípio da Solidariedade Familiar

Surge as atribuições coletivas para as atividades;


A solidariedade patrimonial e afetiva passou a prevalecer nas
relações, sendo atribuições de todos os membros da entidade
familiar.
Surge no sentido de construir uma sociedade livre, justa e
solidária. No sentido de responder pelo outro, como forma de
empatia.
Princípio da Função Social da Família
Artigo 226, CF: “A família, base da sociedade, tem especial proteção
do Estado”.
Busca pelo equilíbrio e proteção;
Respeito às diferenças culturais, a pluralidade e transformações sociais,
em busca dos preceitos de igualdade, desenvolvimento e solidariedade;
Respeito à todas as formas de família.
Com base nesse princípio, verifica-se uma necessidade em buscar o
equilíbrio e a proteção à esta sociedade, face à sua grande função social.
De acordo com Maria Berenice Dias: a importância da Função Social da
Família se reforça quando nos deparamos com uma sociedade repleta de
famílias desestruturadas, sendo esta sociedade, também desestruturada.
Princípio da Afetividade

Todas as entidades familiares são constituídas e baseadas no


afeto;

Existem alguns enunciados da Jornada de Direito Civil que


reforçam esse princípio, o enunciado (103) que trata da
paternidade socioafetiva – valoriza o parentesco psicológico;
(108) que trata da filiação socioafetiva, bem como o enunciado
(256) que trata da posse do estado de filho = Não se estabelece
com o nascimento, e sim, com o ato de vontade/vínculo afetivo.
Princípio da Afetividade

Enunciado 103 (paternidade socioafetiva);


Enunciado 108 (filiação socioafetiva);
Enunciado 256 (posse do estado de filho).
Adoção à brasileira: “Pai é quem cria”.

Reconhecer as relações socioafetivas em razão das biológicas,


prevalecendo os laços de afetividade, bem como os danos da
ausência de afetividade, causada pelo abandono.
Princípio da Isonomia Conjugal

Igualdade de decisão e isonomia no tratamento.


Princípio aplicado quanto à utilização do nome do outro, tanto a
esposa, quanto o marido.
Artigo 226, § 5º, CF: “Os direitos e deveres referentes à
sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e
pela mulher”.
Artigo 1.511, CC: “O casamento estabelece comunhão plena
de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos
cônjuges”.
Princípio da Isonomia Conjugal

Artigo 1.565, CC: “Pelo casamento, homem e mulher


assumem mutuamente a condição de consortes, companheiros
e responsáveis pelos encargos da família”.
§ 1º “ Qualquer dos nubentes, querendo, poderá acrescer ao
seu o sobrenome do outro”.
Princípio da Dissolubilidade de Vínculo

Há pouco mais de 30 anos, foi reconhecida a dissolução do


casamento através da Lei 6.615/77, sendo reafirmada pela CF/88.
Anteriormente, não se reconhecia a dissolução do casamento,
colocando as pessoas separadas às margens da sociedade, e eram
também chamadas de desquitadas, sem o direito de constituir
nova família.
Princípio da Não-intervenção ou
Princípio da Liberdade

Artigo 1.565, § 2º, CC: “O planejamento familiar é de livre


decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos
educacionais e financeiros para o exercício desse direito,
vedado qualquer tipo de coerção por parte de instituições
privadas ou públicas”.
Garante à família, a liberdade de administração e condução, não
devendo sofrer intervenção do Estado ou de qualquer outra
entidade.
Princípio da Não-intervenção ou
Princípio da Liberdade
Á esse princípio, Maria Berenice Dias coloca uma crítica,
observando que existe uma intervenção estatal quando o código
regulamentou a união estável e suas regras, defendendo que,
quando o casal optou pela conveniência informal não deveria ser
normatizado.
A respeito disso, Sebastião Neto se posicionou contrário, dizendo
que a regulamentação da união estável não fere a independência
das relações, pois essa regulamentação serve apenas para
resguardar a todos, mantendo a justiça e o equilíbrio.
Princípio do Livre Planejamento
Familiar

Artigo 226, § 7º, CF;


Lei do Planejamento Familiar (Lei 9.263/1996);
Liberdade no planejamento familiar.
Fica a cargo do Estado, propiciar condições para a manutenção
das famílias, como educação, saúde, moradia, não cabendo
qualquer intervenção quanto ao planejamento familiar, ficando
livre o seu planejamento e forma de condução.
Princípio da Paternidade Responsável

Busca-se a formação de um sujeito emocionalmente e


psicologicamente responsável;
Boa formação da criança, tendo em vista que a participação dos
pais é essencial para a construção e formação da pessoa.
Princípio do Maior Interesse da Criança
e do Adolescente
Este princípio não rege somente o Direito de Família, predomina
também, o Direito da Criança e do Adolescente, tendo em vista
que o bem estar da criança ou do adolescente irá sobrepor o
interesse do pai ou da mãe.

A sociedade só será equilibrada e bem formada, se possuir


indivíduos contratados e com boa estrutura, isso só é garantido
através de uma boa base familiar e moral.

Artigo 1.583, CC;


Artigo 1.584, CC;
Princípio do Maior Interesse da Criança
e do Adolescente
Artigo 3º, ECA: A criança e o adolescente gozam de todos os
direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou
por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes
facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em
condições de liberdade e de dignidade.
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a
todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento,
situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença,
deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem,
condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou
outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade
em que vivem.
Princípio da Igualdade Jurídica de todos
os Filhos
Reconhecimento de todos os filhos;
Direitos iguais, entre todos os filhos;

Artigo 1.596, CC: “Os filhos, havidos ou não da relação de


casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação”.
Modalidades de família
1. Matrimonial;
2. Informal;
3. Natural, Extensa ou Ampliada;
4. Paralelas ou Simultâneas;
5. Substituta;
6. Monoparental;
7. Parental ou Anaparental;
8. Composta, Pluriparental ou
Mosaíco;
9. Eudemonista;
10. Poliafetiva;
11. Homoafetiva;
Matrimonial

A família clássica, nascida do casamento;


Reconhecida com a realização do matrimônio;
O casamento era considerado indissolúvel, só podendo ser
anulado por erro essencial: quanto à identidade de
personalidade do cônjuge e por pedido do marido, alegando
que a mulher não era mais virgem;
Além disso, o casamento só poderia ser rompido através do
desquite, que dissolvia o vínculo matrimonial, mas as partes
ficavam impossibilitadas de contrair novas núpcias.
Matrimonial

Regime de comunhão universal de bens (a comunicação de todos


os bens presentes e futuros à relação conjugal), salvo se optassem
pelo pacto antenupcial (é o contrato feito entre os noivos com o
propósito de estabelecer o regime de bens que vigorará após o
casamento entre ambos).
Em 1977: Lei do Divórcio – Dissolução do matrimônio
– Regime de Comunhão Parcial de
Bens
Informal
Decorrente da união estável;
A Lei trazia segurança jurídica apenas para as famílias
constituídas pelo casamento;
Só eram reconhecidos os filhos havidos das relações
matrimoniais (filhos legítimo X filhos ilegítimos);
Concubinato impuro: Com presença de impedimento
matrimonial entre os integrantes;
Concubinato puro: Quando há a convivência, por vontade de
ambas as partes, mas não tem impedimento matrimonial.
Informal

A concubina seria aquela mulher com que o cônjuge adúltero


tem encontros periódicos fora do lar. A companheira seria
aquela com quem o varão, separado de fato, da esposa, ou mesmo
de direito, mantém convivência “more uxório”.

RE 83: 930/STF
Natural, Extensa ou Ampliada
• Convivência, afinidade e afetividade entre pais, filhos,
avós, tios, sobrinhos, irmãos – grande família;
• Aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou
da unidade do casal, formada por parentes próximos com os
quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de
afinidade e afetividade.
Paralelas ou Simultâneas
1- Uma mais conservadora – nega qualquer possiblidade de
reconhecimento de uniões paralelas;
2- Uma intermediária – admite apenas as uniões estáveis, quando há
desconhecimento de uma família pela outra;
3- Uma mais liberal – Prega o reconhecimento de todos os tipos de
relações paralelas;
Paralelas ou Simultâneas

Expressão preferível à família paralela, porque linhas paralelas


nunca se encontram, e a simultaneidade, muitas vezes, é
conhecida e aceita. Os filhos se conhecem e as mulheres sabem
da existência uma da outra (DIAS, 2016, p. 239).
Substituta

• Artigo 28, caput, ECA: A colocação em família substituta


far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção,
independentemente da situação jurídica da criança ou
adolescente.
Substituta

Guarda: é aquela exercida pelos próprios pais, ou seja, ainda que


a guarda seja unilateral, não afasta o poder familiar em sua
plenitude.
A tutela: é um instituto que visa proteger o menor cujos pais
faleceram, são considerados judicialmente ausentes ou decaíram
do poder familiar.
Adoção: é o meio pelo qual confere-se à criança, que não pôde
permanecer com sua família biológica, o direito de ser colocada
no seio de uma nova família.
Monoparental

• Formada por qualquer dos pais e seus descendentes;


• Artigo 226, § 4º, CF: Entende-se, também, como entidade
familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e
seus descendentes.
• Mais de um terço das famílias brasileiras;
• Exemplo: morte de um dos ascendentes.
Parental ou Anaparental

Constituída somente pelos filhos (como é normalmente


conhecida);
Formada também, por meros conhecidos;
A convivência entre parentes ou entre pessoas, ainda que não
parentes, dentro de uma estruturação com identidade de
propósito, impõe o reconhecimento de uma entidade familiar
(DIAS, 20166, p. 242).
Composta, Pluriparental ou Mosaíco

Novo casal + filhos de um e de outro + filhos do casal;


Eles trazem para a nova família seus filhos e, muitas vezes, têm
filhos em comum. É a clássica expressão: “os meus, os teus os
nossos” (DIAS, 2016, p. 244).
Adoção unilateral (ECA);
Lei 11.924/2009 (autoriza o enteado ou a enteada a adotar o
nome da família do padrasto ou da madrasta);
Eudemonista

O critério é a felicidade;
Caracterizada pelo vínculo afetivo;
Não há hierarquia familiar, as relações são de igualdade e
respeito mútuo, lealdade, não existindo razões morais, religiosas,
políticas, físicas ou naturais que prevaleçam em razão do afeto e
do amor.
Poliafetiva

• Poliamor, poli amorasas;


• Democratização dos sentimentos;
• Respeito mútuo e liberdade individual são preservadas;
• Características:
1- Não exclusividade afetiva/sexual;
2- Consensualidade;
3- Equidade;
A união poliafetiva é quando forma-se uma única entidade familiar.
Todos moram sob o mesmo teto. Tem-se um verdadeiro casamento,
com uma única diferença: o número de integrantes [...] (DIAS,
2016, p. 241).
Poliafetiva

O STJ nega a configuração dessa modalidade de família!!! E


o CNJ decidiu que os cartórios não podem registrar união
poliamorosa.

O Plenário do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidiu, que


os cartórios brasileiros não podem registrar uniões poliafetivas,
formadas por três ou mais pessoas, em escrituras públicas. A
maioria dos conselheiros considerou que esse tipo de documento
atesta um ato de fé pública e, portanto, implica o reconhecimento
de direitos garantidos a casais ligados por casamento ou união
estável – herança ou previdenciários, por exemplo.
Homoafetiva

Formada por pessoas do mesmo sexo;


Projeto de Lei nº 2.285/07 (Estatuto das Famílias): Vários documentos
foram apensados ao Projeto, mas nenhum deles foi deferido.
Movimentações na Câmara Legislativa, mas no final, todos os
requerimentos indeferidos. Movimentação em 2007, 2008, 2009, 2014...
Art. 68. É reconhecida como entidade familiar a união entre duas pessoas de
mesmo sexo, que mantenham convivência pública, contínua, duradoura, com
objetivo de constituição de família, aplicando-se, no que couber, as regras
concernentes à união estável.
Parágrafo único. Dentre os direitos assegurados, incluem-se:
I - guarda e convivência com os filhos;
II - a adoção de filhos;
III - direito previdenciário;
IV - direito à herança.

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