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Desta forma, diversos são os modelos de família existentes, sendo que alguns desses
estão previstos na Constituição de 1988, bem como no Código Civil, enquanto outros
não possuem qualificação clara, a exemplo disso, têm-se o concubinato.
O principal argumento da primeira tese reside no enunciado final do §3º do art. 226
relativo à união estável: “devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”, o que
revela uma certa regra de primazia do casamento através de uma interpretação literal e
estrita.
Cada entidade familiar submete-se a estatuto jurídico próprio em virtude dos requisitos
de constituição e efeitos específicos, não estando uma equiparada ou condicionada aos
requisitos da outra. Não pode haver, portanto, regras únicas, segundo modelos únicos ou
preferenciais.
A partir da leitura do caput do art. 226 é possível perceber uma notável transformação
no tocante a tutela constitucional à família, haja vista que não há qualquer referência ao
tipo de família, como ocorreu nas Constituições anteriores.
Posto isso, o caput do art. 226 se revela como cláusula geral de inclusão. Ademais, os
tipos de entidades familiares dos parágrafos do artigo supramencionado são
exemplificativos, sem embargo de serem os mais comuns, sendo as demais entidades
implícitas no âmbito de abrangência do conceito amplo e indeterminado de família.
Dessa forma, sob o ponto de vista do melhor interesse da pessoa, não podem ser
protegidas algumas entidades familiares em detrimento de outras, pois a exclusão
refletiria nas pessoas que as integram por opção ou pelas circunstâncias da vida,
comprometendo o princípio da dignidade da pessoa humana.
Em suma, todos os filhos são tratados com a mesma igualdade, não importando se são
biológicos ou não biológicos. Se a CF/88 abandonou o casamento como único tipo de
família juridicamente tutelada é porque abdicou dos valores que justificam a norma de
exclusão, bem como, se permite o divórcio direto é porque a afetividade passou a ter
mais relevância quando comparada a lei pura.
Família monoparental.
A família monoparental é definida como a entidade familiar integrada por um dos pais e
seus filhos menores, a exemplo disso, têm-se a mãe solteira, a viuvez, a separação de
fato, divórcio, concubinato ou adoção de filho por apenas uma pessoa.
Nessa toada, Maria de Fátima Freire de Sá sustenta que o princípio do melhor interesse
da criança não estará assegurado simplesmente pelo fato de ela nascer em família
biparental, mas pela circunstância de ser amada, desejada e respeitada (2004, p. 447).
União homoafetiva.
Assim, inicialmente, as regras da união estável eram aplicadas por meio de analogia
(art. 4º de Lei de Introdução), e mais tarde, o STF, no julgamento da ADI 4.277 de 2011
decidiu que a união homoafetiva é espécie do gênero união estável, sendo tal decisão
dotada de eficácia erga omnes e efeito vinculante.
Em razão disso, não há casamento ou união estável com efeitos jurídicos distintos em
razão do sexo das pessoas e o argumento de impossibilidade de filiação de casais
homossexuais não se sustenta pelas seguintes razões: a) a família sem filhos é família
tutelada constitucionalmente; b) a procriação não é finalidade indeclinável da família
constitucionalizada; c) a adoção permitida a qualquer pessoa, independentemente do
estado civil (art. 42 do ECA e art. 1.618 do Código Civil), não impede que a criança se
integre à família, ainda que o parentesco civil seja apenas com um dos parceiros.
Famílias recompostas.
As famílias recompostas podem ser entendidas como aquelas que se constituem entre
um cônjuge ou companheiro e os filhos do outro, vindos de relacionamento anterior.
Referida situação traz à tona discussão acerca da convivência familiar, bem como, da
superposição de papeis parentais.
A expressão “família recomposta” não é imune a críticas, mas é certamente a que
melhor expressa o fenômeno. Além disso, o termo começou a ser utilizado na sociologia
da família, expandindo-se para a psicologia e chegando ao direito.
O que ocorre nessas famílias é que a criança passa a conviver com o novo marido ou
companheiro da mãe – ou nova mulher ou companheira do pai –, que exerce as funções
cotidianas típicas do pai ou da mãe que se separou para viver só ou constituir nova
família recomposta.
Para Paulo Lôbo é possível extrair do sistema jurídico brasileiro uma tutela jurídica
autônoma das famílias recompostas, como entidades familiares próprias. A relação entre
padrasto ou madrasta e enteado configura vínculo de parentalidade singular, permitindo-
se àqueles contribuir para o exercício do poder familiar do cônjuge ou companheiro
sobre o filho/enteado, uma vez que a direção da família é conjunta dos cônjuges ou
companheiros, em face das crianças e adolescentes que a integram.
Deste modo, entende-se que, sem reduzir o poder familiar ou autoridade parental do
genitor originário, ao padrasto ou madrasta devem ser reconhecidas decisões e situações
no interesse do filho/enteado, não sendo possível, entretanto, acordo para que o genitor
separado renuncie à autoridade parental, pois não se trata de direito disponível.
Referido acréscimo do sobrenome não altera a relação de parentesco por afinidade, pois,
por mais intensa e duradoura que seja essa relação afetiva, dessa relação não nasce
paternidade ou maternidade socioafetiva em desfavor do pai ou mãe legais ou registrais.
A única possibilidade legal de conversão da posição de padrasto ou madrasta em pai ou
mãe é mediante a perda do poder familiar dos pais legais (biológicos ou não), e, após a
decretação desta, o deferimento da adoção unilateral do filho ou filha de seu cônjuge ou
companheiro. A causa mais comum da perda do poder familiar é o abandono do filho
pelo genitor separado.