PICOS – PI
2022
ANA CLÁUDIA DE SOUSA DANTAS
PICOS – PI
2022
CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEXTO
Com base nesse embate social, político, jurídico e ideológico, é que se solicita, como
avaliação parcial na disciplina Linguagem e Comunicação Jurídica, do Curso de Bacharelado
em Direito, da Universidade Estadual do Piauí, Campus Prof. Barros Araújo, Picos, a
produção de um texto argumentativo, em que se fundamentem razões em defesa de uma
definição para o conceito de família. A despeito dos valores, das crenças e dos
posicionamentos políticos, sociais e ideológicos inerentes a tal conceitualização, pode-se
apresentar quaisquer definições em nome do conceito de família, contanto que sejam
justificadas por argumentos válidos, objetivos e bem construídos, sem problemas de
estruturação argumentativa. Recomenda-se a adoção do livro “Pensamento crítico: o poder
da lógica e da argumentação”, de Walter Carnielli e Richard Epstein, como parâmetro para a
construção de argumentos com tais características. Em prol da boa formulação de
justificativas, razões e argumentos para essa produção textual, podem ser usadas referências
cujo valor de autoridade seja convincente quando se considera a esfera de produção,
circulação e consumo desse texto: o universo jurídico.
Diferentes concepções a respeito do que se configura como núcleo familiar e sua
notoriedade na sociedade atual
“ Portanto, deixará o homem a seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e ambos se
tornarão uma só carne ( Gênesis 2.24 )”. O texto mencionado anteriormente trata-se do
contexto bíblico ocorrido no Jardim do Éden, quando Deus, sabendo da necessidade humana
de companhia, cria Eva para que ocupe a função de adjutora de Adão. Ainda no texto bíblico
é relatado que o casal procria e nascem Caim e Abel. Tal contexto também introduz o que
pode ser entendido como primeira concepção da família, sob um viés tradicional e
conservador.
Tomando ainda como base a Bíblia Sagrada, o texto presente no livro de Rute,
capítulos 1 a 4, mostram outra definição da família, tendo em vista que é evidenciado a
composição familiar por uma sogra e duas noras que ficaram viúvas. Após a morte dos
cônjuges, as duas noras de Noemi passaram a viver com ela, pois havia um sentimento mútuo
de cuidado, afetividade e amor. O texto bíblico menciona que Rute, nora de Noemi, não a
abandona por considerá-la como componente familiar. Nessa lógica, um outro grupo familiar
é criado e sem a necessidade de que haja o enlace matrimonial, mas com base nas relações
humanas e afetivas, o que mostra que já havia uma alteração da definição de família também
nos séculos passados.
Paulo Lôbo( LÔBO, 2012, p. 20) retrata que a afetividade especializa os princípios
constitucionais fundamentais da dignidade da pessoa humana (art. 1°, III) e da solidariedade
(art. 3°, I), e entrelaça-se com os princípios da convivência familiar e da igualdade entre os
cônjuges, companheiros e filhos, que ressaltam a natureza cultural e não exclusivamente
biológica da família.
Sob esse viés, denota-se que a perspectiva dos autores apontam que, embora não seja
evidenciado na Constituição Federal, a afetividade é um fundamento importante para basear
as novas concepções das famílias criadas atualmente. Para Saul Tourinho Leal, o direito ao
afeto está muito ligado ao direito fundamental à felicidade, o que deve ser, ao seu entender,
garantido e protegido pelo Estado (LEAL, 2014, p. 575).
Para exemplificar, nos dias atuais, há alguns modelos de constituições familiares que
surgiram a partir das premissas da afetividade como a família tradicional, que é a mais
conhecida por ser a primeira criada e por ser consolidada com o casamento; a família que é
formada pela união estável, que se trata do relacionamento contínuo, público e com o objetivo
de constituir família sem a necessidade do reconhecimento em cartório; a família
monoparental, que compreende todas as pessoas que estiverem ligadas por um vínculo de
parentesco de ascendência e descendência; a família anaparental que corresponde à família
sem a presença dos pais, podendo se constituir pela convivência entre pessoas parentes ou não
em um mesmo lar; a família pluriparental ou mosaico que denota o núcleo familiar
reconstituído por casais os quais um ou ambos são egressos de casamentos ou uniões
anteriores, uma “família reedificada”; a família homoafetiva que é a entidade familiar
caracterizada pela união de pessoas do mesmo sexo; a família simultânea ou paralela que é a
entidade familiar que decorre da situação de uma pessoa que é casada e mantém um vínculo
afetivo com terceira pessoa, que sabe ou não dessa situação; a família poliafetiva que
constitui-se em relações amorosas simultâneas entre três ou mais parceiros, originando daí a
expressão poliamor – vários amores; e dentre outras.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 4. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.
LÔBO, Paulo Luiz Netto. A repersonalização das relações de família. In: Revista Brasileira
de Direito de Família. Porto Alegre: Síntese, IBDFAM, v. 6, n.24, jun/jul., 2004, p. 08.