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B. FAMÍLIAS HOMOAFETIVAS
Embora a CF/88 não mencione explicitamente as uniões homoafetivas, as Ações
Diretas de Inconstitucionalidade (ADI) 4.277/2011 e a Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) 132/2011 são marcos jurídicos fundamentais no
reconhecimento das uniões homoafetivas no Brasil, representando um avanço na luta
pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ e na concepção de família no direito brasileiro.
As ações questionavam a interpretação restritiva de dispositivos constitucionais
e infraconstitucionais que limitavam a concepção de entidade familiar às uniões entre
homem e mulher, excluindo as relações homoafetivas desse reconhecimento.
O principal argumento era o de que tal exclusão violava princípios constitucionais
fundamentais, como o da dignidade da pessoa humana, da igualdade, da liberdade e da
proibição de discriminação.
Em um julgamento histórico, o STF reconheceu por unanimidade que a união
estável entre pessoas do mesmo sexo deve receber a mesma proteção jurídica que é
conferida à união estável heteroafetiva, fundamentando-se nos princípios de igualdade
e de não discriminação. A Corte entendeu que a exclusão das uniões homoafetivas do
conceito de família é incompatível com a Constituição Federal de 1988.
COMO PRINCIPAIS PONTOS DA DECISÃO, TEM-SE:
1. Igualdade e Liberdade: O STF afirmou que todos têm direito à igualdade perante
a lei, sem discriminação por motivo de sexo ou orientação sexual, garantindo a
liberdade pessoal de estabelecer uniões afetivas com pessoas do mesmo sexo.
2. Reconhecimento da União Estável: As uniões homoafetivas passam a ser
reconhecidas como união estável, permitindo aos casais os mesmos direitos e
deveres dos casais heteroafetivos, incluindo questões patrimoniais,
previdenciárias, sucessórias, entre outras.
3. Proteção à Família: A decisão reforçou o entendimento de que a família, em
todas as suas formas, é base da sociedade e merece especial proteção do Estado,
conforme estabelecido no art. 226 da CF.
4. Extensão dos Direitos: A partir dessa decisão, diversas legislações e normativas
foram adaptadas para incluir as uniões homoafetivas, como as regras de adoção,
direitos previdenciários e de sucessão, entre outros.
A HABILITAÇÃO DIRETA PARA O CASAMENTO a partir de uniões homoafetivas foi
um marco significativo na jurisprudência brasileira, estabelecido pelo Superior Tribunal
de Justiça (STJ) em 2011, no julgamento do REsp 1.183.378-RS. Essa decisão
pavimentou o caminho para que casais homoafetivos pudessem converter sua união
estável em casamento civil, sem enfrentar obstáculos legais para tal reconhecimento.
Complementarmente, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) emitiu a Resolução
175/2013, proibindo expressamente a recusa de habilitação e celebração de casamento
civil ou da conversão de união estável em casamento entre pessoas do mesmo sexo em
todo o território nacional.
Essa medida assegurou de forma inequívoca o direito ao casamento civil para
casais homoafetivos, promovendo a igualdade de direitos e a não discriminação baseada
na orientação sexual.
HOMOPARENTALIDADE: FORMAÇÃO DE FAMÍLIAS HOMOAFETIVAS COM FILHOS
A homoparentalidade representa a formação de famílias por casais homoafetivos
que desejam ter filhos, seja por meio de adoção, reprodução assistida heteróloga,
gestação compartilhada ou útero de substituição.
Essas opções reforçam a capacidade de casais do mesmo sexo em estabelecerem
laços parentais, independentemente das limitações biológicas.
A adoção por casais homoafetivos tem sido uma prática cada vez mais
reconhecida e aceita, proporcionando a crianças o direito a um lar, amor e cuidado,
independentemente da configuração familiar.
Esse avanço é sustentado por desenvolvimentos legais e tecnológicos na
medicina reprodutiva, além de uma maior abertura da sociedade para as diversas formas
de amor e constituição familiar.
A homoparentalidade abrange várias modalidades de formação familiar,
incluindo adoção, reprodução assistida heteróloga, gestação compartilhada, e útero de
substituição.
A REPRODUÇÃO ASSISTIDA HETERÓLOGA oferece a casais homoafetivos a
possibilidade de ter filhos biológicos por meio de técnicas como inseminação artificial e
fertilização in vitro (FIV). A Resolução CFM n. 2.168/2017 regulamenta essas práticas no
Brasil, assegurando o acesso a tratamentos de reprodução assistida sem discriminação
quanto à orientação sexual dos solicitantes.
Especificamente entre casais femininos, a GESTAÇÃO COMPARTILHADA permite
que ambas as parceiras participem biologicamente do processo de concepção do filho.
Nesse arranjo, uma das mulheres fornece o óvulo, que é fertilizado in vitro com sêmen
de um doador anônimo, e o embrião resultante é implantado no útero da outra parceira,
que gestará o bebê. Esse método fortalece os laços biológicos e afetivos entre a criança
e ambas as mães.
Casais masculinos podem recorrer ao ÚTERO DE SUBSTITUIÇÃO (gestação de
substituição) como uma opção para a paternidade. A prática envolve uma gestante de
substituição que carrega o embrião gerado a partir do material genético de um dos
parceiros e de uma doadora de óvulos. A Resolução CFM n. 2.013/2013 estabelece
diretrizes éticas para essa prática, incluindo a necessidade de vínculo genético com um
dos membros do casal e a proibição de caráter comercial na escolha da gestante de
substituição.
Obs: Direito ao Conhecimento da Origem Genética: a questão do sigilo sobre a
identidade do doador de material genético levanta debates éticos e jurídicos,
principalmente em relação ao direito da criança de conhecer sua origem biológica.
Embora o anonimato dos doadores seja uma prática comum, visando proteger sua
privacidade, cresce o entendimento de que as crianças nascidas por essas técnicas
possuem o direito de acessar informações sobre suas origens genéticas.
C. FAMÍLIA MULTIESPÉCIE
A família multiespécie emerge como um conceito contemporâneo que reflete a
crescente inclusão dos animais de estimação no núcleo familiar, destacando a
complexidade das relações humano-animal na sociedade atual.
Esse modelo de família reconhece os animais não apenas como meros pertences,
mas como membros integrais da família, dotados de individualidade, afeto e
merecedores de direitos e considerações éticas.
Os membros humanos dessa família veem seus animais de estimação como
verdadeiros membros da família, frequentemente referindo-se a eles como "filhos de
quatro patas", "irmãos" entre os filhos humanos, ou simplesmente como companheiros
inseparáveis.
Tradicionalmente, o direito civil classifica os animais como bens móveis
semoventes, conforme o art. 82 do Código Civil. Essa classificação, contudo, vem sendo
questionada tanto por movimentos sociais quanto pela academia, que argumentam ser
necessário reconhecer os animais como seres sencientes — capazes de sentir dor, prazer
e emoções —, demandando uma reclassificação que os distinga de objetos inanimados
e reconheça sua capacidade de experienciar a vida de maneira subjetiva.
O Projeto de Lei n. 27/2018 representa um marco na evolução da natureza
jurídica dos animais no Brasil, propondo a transição de sua classificação de bens móveis
para seres sencientes.
Essa mudança visa reconhecer oficialmente que os animais possuem emoções e
sentimentos, e, portanto, merecem proteção legal que considere seu bem-estar e
dignidade.
D. FAMÍLIAS SIMULTÂNEAS
As famílias simultâneas ou paralelas apresentam um desafio complexo ao
ordenamento jurídico brasileiro, refletindo a pluralidade de configurações familiares
existentes na sociedade contemporânea.
Esse tipo de arranjo familiar ocorre quando um indivíduo mantém,
simultaneamente, dois núcleos familiares distintos, podendo ser configurado por um
casamento e uma união estável ou por duas uniões estáveis, com diferentes parceiros.
O ordenamento jurídico brasileiro é baseado no princípio da monogamia, que
proíbe o matrimônio com mais de uma pessoa simultaneamente, reforçando o dever de
lealdade e fidelidade recíproca entre os cônjuges.
Esses princípios são fundamentais para o reconhecimento e a proteção das
relações familiares no Brasil, estabelecendo limites para a constituição de vínculos
familiares simultâneos.
Diante desse cenário, o segundo relacionamento em uma configuração de família
simultânea é, frequentemente, classificado como concubinato, conforme descrito no
art. 1.727 do Código Civil.
Essa relação, marcada pela ausência de eventuais encontros entre o homem e a
mulher impedidos de casar, não é reconhecida com os mesmos direitos atribuídos às
famílias constituídas por casamento ou união estável, limitando-se aos direitos
obrigacionais para a partilha de bens adquiridos durante a relação.
Apesar da resistência dos Tribunais Superiores em reconhecer as famílias
simultâneas ou paralelas, algumas decisões judiciais têm adotado uma postura mais
flexível, considerando as mudanças sociais e a necessidade de proteger os direitos
fundamentais dos indivíduos envolvidos.
Essas decisões tendem a valorizar aspectos como o respeito e a consideração
mútua, a ostensividade e a publicidade da relação, o objetivo de comunhão de vida e a
mútua assistência moral e material, reconhecendo, em certos casos, a existência de uma
família.
A discussão sobre as famílias simultâneas ou paralelas evidencia a tensão entre
os princípios jurídicos tradicionais e a dinâmica das relações familiares na sociedade
atual.
Embora o sistema jurídico mantenha o princípio da monogamia como regra, é
imperativo reconhecer e adaptar-se às novas configurações familiares, buscando
soluções jurídicas que garantam a proteção dos direitos e o bem-estar de todos os
envolvidos, sem discriminação.
A evolução das decisões judiciais, nesse sentido, sinaliza um caminho para a
inclusão e o reconhecimento das diversas formas de constituição familiar, respeitando
os princípios de afetividade, cuidado e proteção mútua.
G. FAMÍLIA ANAPARENTAL
Embora o ordenamento jurídico brasileiro não reconheça expressamente a
família anaparental, a doutrina e a jurisprudência têm avançado na aceitação dessa
configuração familiar como um núcleo legítimo, fundamentado no princípio da
socioafetividade.
Esse reconhecimento reflete a compreensão de que as relações familiares são
construídas muito além dos laços biológicos, dando ênfase à afetividade, ao cuidado e à
solidariedade entre seus membros.
Um exemplo do reconhecimento jurídico das famílias anaparentais é a
possibilidade de adoção por uma dupla de irmãos, como demonstrado no caso julgado
pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) sob o REsp n. 1217415 / RS.
Nesse caso, o STJ reconheceu a validade da adoção póstuma, consolidando o
entendimento de que a formação de um ambiente familiar saudável e seguro prevalece
sobre a estrutura tradicional da família.
O tribunal enfatizou que os irmãos, vivendo sob o mesmo teto e compartilhando
laços afetivos, constituem uma família apta a proporcionar o desenvolvimento integral
do adotado.
A jurisprudência também tem reconhecido a família anaparental no contexto da
proteção do bem de família. No REsp 159851 / SP, o STJ considerou que um imóvel
habitado por dois irmãos solteiros constitui uma entidade familiar, garantindo a
impenhorabilidade do bem conforme previsto pela Lei 8.009/90.
Essa decisão ressalta a importância da moradia para a manutenção e a
estabilidade do núcleo familiar, independente da sua configuração tradicional.
Bons Estudos!!!
Pensem nesse processo de aquisição do conhecimento como uma aventura, onde cada
caso estudado, cada lei analisada é uma peça do quebra-cabeça da vida real.
Vocês têm a chance de aprender, de serem inspirados e de inspirar outros com o
conhecimento que adquirem.
Abram suas mentes e corações para essa jornada, permitindo-se serem movidos pela
curiosidade e pela paixão pelo aprendizado.
Profa. Christiane Rabelo