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JULGADOS DIREITO CIVIL – CPV

 CASAMENTO E UNIÃO ESTÁVEL

1. Os valores depositados em planos abertos de previdência privada durante a vida em comum do casal,
integram o patrimônio comum e devem ser partilhados

Os valores depositados em planos de previdência complementar aberta equiparam-se a investimentos financeiros


como outro qualquer.

Deste modo, rompida a sociedade conjugal, tais valores devem ser partilhados conforme o regime de bens.

Por outro lado, as contribuições feitas para plano de previdência fechado, em percentual do salário do empregado,
aportadas pelo beneficiário e pelo patrocinador, conforme definido pelo estatuto da entidade, não integram+

o patrimônio sujeito à comunhão de bens a ser partilhado quando da extinção do vínculo conjugal.

STJ. 4ª Turma. REsp 1545217-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Rel. Acd. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em
07/12/2021 (Info 723).

Os valores depositados em planos de previdência privada durante a vida em comum do casal, integram o patrimônio
comum e devem ser partilhados?

• se for um plano ABERTO: SIM.

• se for um plano FECHADO: NÃO.

2. É possível que os nubentes/companheiros, por meio de pacto antenupcial, ampliem o regime de separação
obrigatória e proíbam até mesmo a comunhão dos bens adquiridos com o esforço comum, afastando a
Súmula 377 do STF

No casamento ou na união estável regidos pelo regime da separação obrigatória de bens, é possível que os
nubentes/companheiros, em exercício da autonomia privada, estipulando o que melhor lhes aprouver em relação
aos bens futuros, pactuem cláusula mais protetiva ao regime legal, com o afastamento da Súmula 377 do STF,
impedindo a comunhão dos aquestos.

A mens legis do art. 1.641, II, do Código Civil é conferir proteção ao patrimônio do idoso que está se casando e aos
interesses de sua prole, impedindo a comunicação dos aquestos. Por uma interpretação teleológica da norma, é
possível que o pacto antenupcial venha a estabelecer cláusula ainda mais protetiva aos bens do nubente
septuagenário, preservando o espírito do Código Civil de impedir a comunhão dos bens do ancião.

Súmula 377-STF: No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento.

STJ. 4ª Turma. REsp 1922347-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 07/12/2021 (Info 723).

3. Não se comunicam, na partilha decorrente de divórcio, os bens adquiridos por uma das partes antes do
casamento, no período de namoro

Exemplo hipotético: em 2015, Lúcia adquiriu um aparamento financiado em 60 prestações mensais; nessa época,
Lúcia namorava Henrique. Lúcia arcou, de forma autônoma e independente, com os valores para a aquisição do
imóvel, sem qualquer ajuda financeira por parte de Henrique. Em 2018, Lúcia e Henrique se casaram, sob o regime
da comunhão parcial de bens. Em 2020, Lúcia terminou de pagar o financiamento do apartamento. Em 2021, Lúcia e
Henrique se divorciaram.

A mulher arcou de forma autônoma e independente com os valores para a aquisição do bem, motivo pelo qual o
pagamento de financiamento remanescente não repercute em posterior partilha por ocasião do divórcio , sendo
considerado montante estranho à comunhão de bens.

O ex-cônjuge não faz jus a nenhum benefício patrimonial decorrente do negócio jurídico, sob pena de a circunstância
configurar um manifesto enriquecimento sem causa.

STJ. 3ª Turma. REsp 1841128-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 23/11/2021 (Info 719).

4. A eleição do regime de bens da união estável por contrato escrito é dotada de efetividade ex nunc, sendo
inválidas cláusulas que estabeleçam a retroatividade dos efeitos patrimoniais do pacto sem expressa
autorização judicial

O contrato de união estável produz efeitos retroativos?

• Regra: NÃO. A eleição (escolha) do regime de bens da união estável por contrato escrito produz efeitos ex nunc
(para frente), sendo inválidas cláusulas que estabeleçam a retroatividade dos efeitos.

• Exceção: é possível cláusula retroativa sobre o regime de bens, em contrato celebrado entre os conviventes, desde
que haja expressa autorização judicial, nos termos do art. 1.639, § 2º, do CC.

STJ. 4ª Turma. AREsp 1631112-MT, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 26/10/2021 (Info 715).

5. A cessação da incapacidade civil de um dos cônjuges, que impunha a adoção do regime da separação
obrigatória de bens sob a égide do Código Civil de 1916, autoriza a modificação do regime de bens do
casamento

Caso concreto: cônjuges casaram-se em 1990 e, como a nubente era menor de 16 anos, o regime de bens do
casamento foi o da separação obrigatória, conforme previa o CC/1916. Muitos anos depois, já sob a égide do
CC/2002, os cônjuges pediram a mudança do regime de bens sob o argumento de que a incapacidade civil já cessou
e não havia mais motivo para se manter esse regime de separação obrigatória.

O STJ afirmou que a alteração deve ser deferida. Isso porque não se deve “exigir dos cônjuges justificativas
exageradas ou provas concretas do prejuízo na manutenção do regime de bens originário, sob pena de se
esquadrinhar indevidamente a própria intimidade e a vida privada dos consortes.

Assim, se o juiz não identifica nenhum elemento concreto que indique que a mudança acarretará danos a algum dos
consortes ou a terceiros, há de ser respeitada a vontade dos cônjuges, sob pena de violação de sua intimidade e vida
privada.

STJ. 3ª Turma. REsp 1947749-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/09/2021 (Info 709).

6. A apresentação da relação pormenorizada (cheia de detalhe) do acervo patrimonial do casal não é requisito
essencial para que o juiz acolha o pedido de alteração do regime de bens
No pedido de alteração do regime de bens, não se deve exigir dos cônjuges justificativas ou provas exageradas,
sobretudo diante do fato de que a decisão que concede a modificação do regime de bens opera efeitos ex nunc.

A fraude e má-fé não podem ser presumidas. Ao contrário, existe uma presunção de boa-fé que beneficia os
consortes.

No caso concreto, os autores já haviam juntado certidões negativas e apresentaram justificativa plausível para a
mudança (a esposa assumiu a gestão do patrimônio de seus pais, atividade que seria facilitada pelo regime da
separação de bens). Logo, não fazia sentido exigir a relação pormenorizada do acervo patrimonial.

STJ. 3ª Turma. REsp 1904498-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

7. Ex-marido que mora com a filha no imóvel comum não é obrigado a pagar aluguéis à ex-mulher

Caso hipotético: Lucas e Virgínia foram casados e tiveram uma filha, atualmente com 10 anos de idade. Durante a
vida em comum, o casal, com esforço comum, comprou um apartamento, onde a família morava. Eles decidiram se
divorciar e foi decretada a partilha do imóvel, na proporção de 50% para cada um. A mulher foi viver na casa de seu
novo companheiro e Lucas ficou morando no apartamento com a filha. Virgínia ajuizou, então, ação contra Lucas
alegando que, enquanto não fosse vendido o apartamento, ele deveria lhe pagar valor equivalente a 50% do aluguel.
A autora argumentou que o imóvel é bem indivisível e que ela detém 50% para cada um. A mulher foi viver na casa
de seu novo companheiro e Lucas ficou morando no apartamento com a filha. Virgínia ajuizou, então, ação contra
Lucas alegando que, enquanto não fosse vendido o apartamento, ele deveria lhe pagar valor equivalente a 50% do
aluguel. A autora argumentou que o imóvel é bem indivisível e que ela detém 50% da propriedade. Logo,
caracterizaria enriquecimento ilícito o fato de ele estar sendo utilizado exclusivamente pelo réu. Lucas defendeu-se
alegando que o imóvel é utilizado para a moradia da filha comum. Argumentou, ainda, que ele sustenta a filha
sozinho e, portanto, não haveria razão para pagar ainda aluguel. Em regra, o uso exclusivo do imóvel comum por um
dos ex-cônjuges — após a separação ou o divórcio e ainda que não tenha sido formalizada a partilha — autoriza que
aquele privado da fruição do bem reivindique, a título de indenização, a parcela proporcional a sua quota-parte
sobre a renda de um aluguel presumido. No entanto, no caso concreto, isso não é devido. Não é obrigatório o
arbitramento de aluguel ao ex-cônjuge que reside, após o divórcio, em imóvel de propriedade comum do ex-casal
com a filha menor de ambos. O fato de o imóvel estar sendo utilizado para a moradia da filha em comum do casal
significa que, de algum modo, tanto o homem como a mulher estão usufruindo do bem. Isso porque o sustento da
menor (incluindo a moradia) é um dever de ambos.

STJ. 4ª Turma. REsp 1699013-DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 04/05/2021 (Info 695).

8. Os herdeiros não podem exigir remuneração da companheira sobrevivente, nem da filha que com ela reside
no imóvel

O direito real de habitação tem caráter gratuito, razão pela qual os herdeiros não podem exigir remuneração do(a)
companheiro(a) ou cônjuge sobrevivente pelo fato de estar usando o imóvel.

Seria um contrassenso dizer que a pessoa tem direito de permanecer no imóvel em que residia antes do falecimento
do seu companheiro ou cônjuge, e, ao mesmo tempo, exigir dela o pagamento de uma contrapartida (uma espécie
de “aluguel”) pelo uso exclusivo do bem.

STJ. 3ª Turma. REsp 1846167-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/02/2021 (Info 685).
9. Em regra, não é possível o reconhecimento de união estável envolvendo pessoa casada nem a existência de
uniões estáveis simultâneas

A preexistência de casamento ou de união estável de um dos conviventes, ressalvada a exceção do artigo 1.723, § 1º,
do Código Civil, impede o reconhecimento de novo vínculo referente ao mesmo período, inclusive para fins
previdenciários, em virtude da consagração do dever de fidelidade e da monogamia pelo ordenamento jurídico-
constitucional brasileiro.

STF. Plenário. RE 1045273, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 18/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 529)
(Info 1003).

10. Em dissolução de vínculo conjugal, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem edificado em
loteamento irregular, quando ausente a má-fé dos possuidores

Caso concreto: em um processo de divórcio litigioso, foi reconhecido que seria possível a partilha dos direitos
possessórios sobre um imóvel localizado em área irregular.

Em alguns casos, a falta de regularização do imóvel que se pretende partilhar não ocorre por má-fé ou desinteresse
das partes, mas por outras razões, como a incapacidade do poder público de promover a formalização da
propriedade ou, até mesmo, pela hipossuficiência das pessoas para dar continuidade aos trâmites necessários para a
regularização. Nessas situações, os titulares dos direitos possessórios devem sim receber a tutela jurisdicional.

A melhor solução para tais hipóteses é admitir a possibilidade de partilha dos direitos possessórios sobre o bem
edificado em loteamento irregular, quando não for identificada má-fé dos possuidores.

Essa medida faz com que resolva de forma imediata a questão da dissolução do vínculo conjugal, relegando a um
segundo momento as eventuais discussões acerca da regularidade e da formalização da propriedade sobre o bem
imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1739042-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/09/2020 (Info 679).

11. É desnecessária a inclusão dos parentes colaterais do de cujus no polo passivo da ação de reconhecimento e
dissolução de união estável post mortem

Exemplo: João faleceu sem deixar descendentes e ascendentes vivos; Regina quer ajuizar para que seja declarado
que ela vivia em união estável com João até o momento de morte do companheiro. Na ausência de herdeiros
necessários, não é necessário que a ação seja proposta contra os herdeiros colaterais do falecido (eventuais irmãos,
tios e sobrinhos). Esses herdeiros colaterais não são litisconsortes necessários.

O STF, ao julgar o RE 646721/RS e o RE 878694/MG, ambos com repercussão geral reconhecida, fixou a tese de que
“é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do
CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art.
1.829 do CC/2002.”

Assim, na falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge ou companheiro
sobrevivente, ressalvada eventual disposição de última vontade.

Após o reconhecimento da inconstitucionalidade da distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e


companheiros, os parentes colaterais, tais como irmãos, tios e sobrinhos, são herdeiros de quarta e última classe na
ordem de vocação hereditária, herdando apenas na ausência de descendentes, ascendentes e cônjuge ou
companheiro, em virtude da ordem legal de vocação hereditária.

Apesar do interesse dos colaterais no resultado da ação de reconhecimento e dissolução de união estável, isso não é
suficiente para a sua qualificação como litisconsortes passivos necessários, pois, nessa demanda, não há nenhum
pedido contra eles formulado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1759652-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 22/09/2020 (Info 680).

12. Incidem juros e correção monetária sobre o valor econômico de cotas sociais objeto de partilha em divórcio
sendo que, após a separação de fato do casal, essa empresa ficou sob a administração exclusiva de um dos
ex-cônjuges até o encerramento de suas atividades

Exemplo: João e Regina eram casados. João era sócio de uma sociedade empresária. Houve separação de fato. João
continuou administrando a sociedade empresária por mais algum tempo, até que houve o encerramento das
atividades da empresa. No momento do divórcio, foi reconhecido que Regina tinha direito à metade do valor
integralizado das cotas empresariais que pertenciam a João. Considerando que houve o encerramento das atividades
da empresa após a separação do então casal o objeto partilhado consiste, em última instância, no próprio capital
investido na sociedade à época do relacionamento, devidamente atualizado.

Considerando que a empresa encerrou suas atividades e que ela ficou sendo administrada exclusivamente por João,
não se pode impor a Regina o ônus de arcar com os prejuízos decorrentes dessa administração exclusiva. Logo,
Regina tem direito de receber o valor que as cotas tinham acrescido de juros e correção monetária.

Aplica-se ao caso o art. 389 do Código Civil:

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1689220-RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

13. A prova documental é o único meio apto a demonstrar a existência da sociedade de fato entre os sócios

A prova escrita constitui requisito indispensável para a configuração da sociedade de fato perante os sócios entre si.

Caso concreto: Daniel e Alessandra casaram-se sob o regime da separação convencional de bens. Durante o
casamento, Daniel montou um restaurante. Apesar de não ser sócia, Alessandra trabalhava no restaurante,
auxiliando o marido. Quando se divorciaram, Alessandra ajuizou ação pedindo para ser reconhecida a existência de
sociedade de fato (sociedade em comum) no restaurante, ou seja, que ela fosse tida como sócia de Daniel. O pedido
foi negado em razão da ausência de qualquer prova escrita dessa sociedade de fato. Além disso, também se
considerou que não havia affectio societatis entre as partes e que não restou demonstrado que a mulher praticasse
atos de gestão ou que tivesse assumido os riscos do negócio juntamente com o ex-marido.

STJ. 3ª Turma. REsp 1706812-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 03/09/2019 (Info 656).

14. No CC/1916, o cônjuge viúvo que casasse de novo ou constituísse união estável perdia o direito real de
habitação; no CC/2002, não mais existe essa causa de extinção
Se o cônjuge sobrevivente casar novamente ou constituir uma união estável, ele perderá o direito real de habitação?
Ex: João era casado com Maria. Faleceu, deixando quatro filhos e, como herança, um único apartamento, que estava
em seu nome e onde morava com a esposa. Diante desse cenário, Maria passou a ter direito real de habitação sobre
o imóvel. Suponhamos que 10 anos após a morte de João, Maria passou a viver em união estável com Pedro. Ela
perderá o direito real de habitação sobre o imóvel?

• Se a morte do autor da herança ocorreu na vigência do CC/1916: SIM.

A constituição de união estável superveniente à abertura da sucessão, ocorrida na vigência do Código Civil de 1916,
afasta o estado de viuvez previsto como condição resolutiva do direito real de habitação do cônjuge supérstite.

• Se a morte do autor da herança ocorreu na vigência do CC/2002: NÃO (posição majoritária da doutrina).

O Código Civil de 1916 previa que o direito real de habitação seria extinto caso o cônjuge sobrevivente deixasse de
ser viúvo, ou seja, caso se casasse ou iniciasse uma união estável (art. 1.611, § 2º). Como o CC-2002 não repetiu essa
regra, entende-se que houve um silêncio eloquente e que não mais existe causa de extinção do direito real de
habitação em caso de novo casamento ou união estável.

STJ. 3ª Turma. REsp 1617636-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/08/2019 (Info 655).

15. Coabitação por duas semanas não significa estabilidade capaz de caracterizar união estável

O Código Civil definiu a união estável como entidade familiar entre o homem e a mulher, “configurada na
convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família” (art. 1.723).

Em relação à exigência de estabilidade para configuração da união estável, apesar de não haver previsão de um
prazo mínimo, exige a norma que a convivência seja duradoura, em período suficiente a demonstrar a intenção de
constituir família, permitindo que se dividam alegrias e tristezas, que se compartilhem dificuldades e projetos de
vida, sendo necessário um tempo razoável de relacionamento.

No caso concreto, o STJ afirmou que não havia união estável. Isso porque o relacionamento do casal teve um tempo
muito exíguo de duração. Foram apenas dois meses de namoro, sendo duas semanas em coabitação, período que
não permite a configuração da estabilidade necessária para o reconhecimento da união estável.

STJ. 4ª Turma. REsp 1761887/MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 06/08/2019.

16. Ação de partilha posterior ao divórcio deve tramitar no juízo que decretou o divórcio, mesmo que um dos
ex-cônjuges tenha mudado de domicílio e se tornado incapaz

A incapacidade superveniente de uma das partes, após a decretação do divórcio, não tem o condão de alterar a
competência funcional do juízo prevento.

Assim, a ação de partilha posterior ao divórcio deve tramitar no juízo que decretou o divórcio, mesmo que um dos
ex-cônjuges tenha mudado de domicílio e se tornado incapaz.

Não se aplica, no caso a regra do art. 50 do CPC/2015, que prevê a competência do domicílio do incapaz
(competência territorial especial). Isso porque a competência funcional, decorrente da acessoriedade entre as ações
de divórcio e partilha, possui natureza absoluta. Por outro lado, a competência territorial especial conferida ao autor
incapaz, apesar de ter como efeito o afastamento das normas gerais previstas no diploma processual, possui
natureza relativa.
As regras de competência absoluta preponderam em relação às das de competência relativa.

STJ. 2ª Seção. CC 160329-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/02/2019 (Info 643).

17. A ação de divórcio não pode, em regra, ser ajuizada por curador provisório

Em regra, a ação de dissolução de vínculo conjugal tem natureza personalíssima, de modo que o legitimado ativo
para o seu ajuizamento é, por excelência, o próprio cônjuge.

Excepcionalmente, admite-se que o divórcio seja proposto pelo curador, na qualidade de representante processual
do cônjuge.

Justamente por ser excepcional o ajuizamento da ação de dissolução de vínculo conjugal por terceiro em
representação do cônjuge, deve ser restritiva a interpretação da norma jurídica que indica os representantes
processuais habilitados a fazê-lo, não se admitindo, em regra, o ajuizamento da referida ação por quem possui
apenas a curatela provisória.

Assim, em regra, a ação de divórcio não pode ser ajuizada por curador provisório. Isso pode ser admitido em
situações excepcionais, quando houver prévia autorização judicial e oitiva do Ministério Público.

STJ. 3ª Turma. REsp 1645612-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 16/10/2018 (Info 637).

18. O simples fato de a mulher ter sido revel na ação de divórcio não significa que o pedido de retirada do
patronímico do ex-marido de seu nome tenha que ser deferido

A revelia em ação de divórcio na qual se pretende, também, a exclusão do patronímico adotado por ocasião do
casamento não significa concordância tácita com a modificação do nome civil.

Ex: João da Silva Maier casou-se com Gabriela Ferreira. Gabriela adotou o patronímico de João e passou a se chamar
Gabriela Ferreira Maier. O relacionamento chegou ao fim e João ajuizou ação de divórcio contra Gabriela pedindo: a)
que fosse decretado o divórcio; b) que Gabriela fosse condenada a retirar o patronímico “Maier” de seu nome.
Gabriela foi devidamente citada, mas não respondeu a ação. Correta a decisão do juiz que julga o pedido
parcialmente procedente decretando o divórcio, mas mantendo o sobrenome da ré.

Principais argumentos:

• o fato de o réu ter sido revel não significa, necessariamente, que o juiz tenha que acolher o pedido do autor;

• o nome é considerado direito indisponível, tendo em vista ser direito da personalidade;

• para que houvesse a retirada do sobrenome, seria necessária a manifestação expressa da vontade da mulher;

• a utilização do sobrenome do ex-marido por mais de 30 trinta anos pela ex-mulher demonstra que há tempo ele
está incorporado ao nome dela, de modo que não mais se pode retirá-lo, sem que cause evidente prejuízo para a sua
identificação.

STJ. 3ª Turma. REsp 1732807-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 14/08/2018 (Info 631).
19. Ao fim de um casamento ou união estável, é possível que o juiz reconheça o direito de visita a animal de
estimação adquirido durante a constância do relacionamento

Na dissolução de entidade familiar, é possível o reconhecimento do direito de visita a animal de estimação adquirido
na constância da união, demonstrada a relação de afeto com o animal.

Na dissolução da entidade familiar em que haja algum conflito em relação ao animal de estimação,
independentemente da qualificação jurídica a ser adotada, a resolução deverá buscar atender, sempre a depender
do caso em concreto, aos fins sociais, atentando para a própria evolução da sociedade, com a proteção do ser
humano e do seu vínculo afetivo com o animal.

STJ. 4ª Turma. REsp 1713167-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/06/2018 (Info 634).

20. No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que
comprovado o esforço comum para sua aquisição

No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento, desde que
comprovado o esforço comum para sua aquisição.

Esse esforço comum não pode ser presumido. Deve ser comprovado.

O regime de separação legal de bens (também chamado de separação obrigatória de bens) é aquele previsto no art.
1.641 do Código Civil.

STJ. 2ª Seção. EREsp 1623858-MG, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador Convocado do TRF 5ª Região),
julgado em 23/05/2018 (recurso repetitivo) (Info 628).

21. Mesmo já havendo um acordo homologado sobre a partilha de bens, é possível que seja feito um novo
ajuste posteriormente

Ementa Oficial

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIVÓRCIO CONSENSUAL. ACORDO SOBRE PARTILHA DOS BENS. HOMOLOGAÇÃO POR
SENTENÇA. POSTERIOR AJUSTE CONSENSUAL ACERCA DA DESTINAÇÃO DOS BENS. VIOLAÇÃO À COISA JULGADA.
INOCORRÊNCIA. PARTES MAIORES E CAPAZES QUE PODEM CONVENCIONAR SOBRE A PARTILHA DE SEUS BENS
PRIVADOS E DISPONÍVEIS. EXISTÊNCIA, ADEMAIS, DE DIFICULDADE EM CUMPRIR A AVENÇA INICIAL. APLICAÇÃO DO
PRINCÍPIO DA AUTONOMIA DA VONTADE. AÇÃO ANULATÓRIA. DESCABIMENTO QUANDO AUSENTE LITÍGIO, ERRO
OU VÍCIO DE CONSENTIMENTO. ESTÍMULO ÀS SOLUÇÕES CONSENSUAIS DOS LITÍGIOS. NECESSIDADE. 1- Ação
distribuída em 14/09/2012. Recurso especial interposto em 20/10/2015 e atribuído à Relatora em 15/09/2016. 2- Os
propósitos recursais consistem em definir se houve negativa de prestação jurisdicional e se é possível a homologação
de acordo celebrado pelas partes, maiores e capazes, que envolve uma forma de partilha de bens diversa daquela
que havia sido inicialmente acordada e que fora objeto de sentença homologatória transitada em julgado. 3-
Ausentes os vícios do art. 535, II, do CPC/73, não há que se falar em negativa de prestação jurisdicional. 4- A coisa
julgada material formada em virtude de acordo celebrado por partes maiores e capazes, versando sobre a partilha
de bens imóveis privados e disponíveis e que fora homologado judicialmente por ocasião de divórcio consensual,
não impede que haja um novo ajuste consensual sobre o destino dos referidos bens, assentado no princípio da
autonomia da vontade e na possibilidade de dissolução do casamento até mesmo na esfera extrajudicial,
especialmente diante da demonstrada dificuldade do cumprimento do acordo na forma inicialmente pactuada. 5- É
desnecessária a remessa das partes à uma ação anulatória quando o requerimento de alteração do acordo não
decorre de vício, de erro de consentimento ou quando não há litígio entre elas sobre o objeto da avença, sob pena
de injustificável violação aos princípios da economia processual, da celeridade e da razoável duração do processo. 6-
A desjudicialização dos conflitos e a promoção do sistema multiportas de acesso à justiça deve ser francamente
incentivada, estimulando-se a adoção da solução consensual, dos métodos autocompositivos e do uso dos
mecanismos adequados de solução das controvérsias, tendo como base a capacidade que possuem as partes de
livremente convencionar e dispor sobre os seus bens, direitos e destinos. 7- Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 1623475/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 17/04/2018, DJe 20/04/2018)

 BEM DE FAMÍLIA

1. Admite-se a penhora do bem de família para saldar o débito originado de contrato de empreitada global
celebrado para promover a construção do próprio imóvel

Exemplo hipotético: João tinha um terreno vazio e contratou uma construtora para edificar uma casa no local. O
contrato celebrado foi do tipo “empreitada global”, ou seja, a empresa foi contratada para construir a casa
fornecendo todo o material necessário. A casa foi entregue, mas João deixou de pagar as últimas parcelas do
contrato. Diante disso, a empresa ajuizou execução contra o devedor e o juiz determinou a penhora da casa, mesmo
sendo bem de família. Isso é permitido com base na inciso II do art. 3º da Lei nº 8.009/90:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou
de outra natureza, salvo se movido: (...) II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à
construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo
contrato;

O intuito do legislador ao prever a exceção legal ora tratada foi o de evitar que aquele que contribuiu para a
aquisição ou construção do imóvel ficasse impossibilitado de receber o seu crédito . Nesse cenário, é nítida a
preocupação do legislador no sentido de impedir a deturpação do benefício legal, vindo a ser utilizado como artifício
para viabilizar a aquisição, melhoramento, uso, gozo e/ou disposição do bem de família sem nenhuma contrapartida,
à custa de terceiros.

STJ. 3ª Turma. REsp 1976743-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/03/2022 (Info 728).

2. A penhorabilidade de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação também se aplica no caso
de locação de imóvel comercial

É constitucional a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação, seja residencial, seja
comercial.

STF. Plenário. RE 1307334/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 8/3/2022 (Repercussão Geral – Tema
1127) (Info 1046).

3. O benefício da impenhorabilidade do bem de família deve ser concedido ainda que o imóvel tenha sido
adquirido no curso da demanda executiva, salvo na hipótese do art. 4º da Lei 8.009/90

Para o bem de família instituído nos moldes da Lei nº 8.009/90, a proteção conferida pelo instituto alcançará todas
as obrigações do devedor, indistintamente, ainda que o imóvel tenha sido adquirido no curso de uma demanda
executiva. STJ. 4ª Turma. REsp 1792265-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 14/12/2021 (Info 723).

4. A impenhorabilidade não pode ser afastada só porque o imóvel familiar foi dado em garantia a outro credor
Não incide a regra excepcional do artigo 3°, V, da Lei n° 8.009/90 sobre bem de família dado em garantia hipotecária
em favor de instituição financeira diversa para garantia de contrato representado pela emissão de uma cédula de
crédito bancário. STJ. 3ª Turma. REsp 1.604.422-MG, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 24/08/2021.

5. A exceção à impenhorabilidade do bem de família, prevista para o crédito decorrente do financiamento


destinado à construção ou à aquisição do imóvel, estende-se ao imóvel adquirido com os recursos oriundos
da venda daquele bem

Exemplo hipotético: João contraiu empréstimo para a aquisição de um apartamento. Ele conseguiu obter o dinheiro
com o Banco e se comprometeu a pagar o mútuo em 60 prestações mensais.Com os recursos obtidos, João comprou
o referido apartamento e nele passou a viver com a sua família. Algum tempo depois, João alienou o apartamento e,
com o dinheiro, comprou uma casa. Se o devedor atrasar as parcelas, será possível que o banco execute o contrato e
consiga a penhora da casa com base na autorização excepcional prevista no inciso II do art. 3º da Lei nº 8.009/90.

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou
de outra natureza, salvo se movido:(...)II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à
construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo
contrato;

STJ. 3ª Turma. REsp 1935842-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/06/2021 (Info 702).

6. É possível a penhora de fração ideal do bem de família?

É possível a penhora de fração ideal de bem de família, nas hipóteses legais, desde que possível o desmembramento
do imóvel sem sua descaracterização.

Isto é, torna-se possível a penhora de fração ideal de bem de família, desde que o imóvel possa ser desmembrado
sem ser descaracterizado (não inviabilize a residência da família). STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1704667/SP, Rel.
Min. Raul Araújo, julgado em 22/03/2021. STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1655356/SPS, Rel. Min. Ricardo Villas Boas
Cueva , julgado em 19/04/2021.

7. É possível a penhora de fração ideal de bem de família nas hipóteses legais, desde que o imóvel possa ser
desmembrado sem ser descaracterizado

É possível a penhora de fração ideal de bem de família nas hipóteses legais, desde que o imóvel possa ser
desmembrado sem ser descaracterizado.STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1655356/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, julgado em 19/04/2021.

É possível a penhora de parte do imóvel caracterizado como bem de família, quando desmembrável, e desde que o
desmembramento não prejudique ou inviabilize a residência da família. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1679373/SP,
Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 30/11/2020.

Admite-se, excepcionalmente, a penhora de parte do imóvel quando for possível o seu desmembramento em
unidades autônomas, sem descaracterizá-lo, levando em consideração, com razoabilidade, as circunstâncias e
peculiaridades do caso. Situação não demonstrada no caso dos autos. STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1146607/SP,
Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 04/05/2020.

8. Imóvel bem de família oferecido como caução imobiliária em contrato de locação não pode ser objeto de
penhora
Caso concreto: em um contrato de locação de terceiro, João ofereceu sua casa como caução (garantia) da relação
locatícia (art. 37, I, da Lei nº 8.245/91). O terceiro (locatário) não pagou os aluguéis e a empresa locadora executou o
locatário e João pedindo a penhora da casa objeto da caução. Ocorre que se trata de bem de família onde João
reside. Será possível a penhora?

Não. As hipóteses excepcionais nas quais o bem de família pode ser penhorado estão previstas, taxativamente, no
art. 3º da Lei nº 8.009/90. Tais hipóteses não admitem interpretação extensiva.

A caução imobiliária oferecida em contrato de locação não consta como uma situação na qual o art. 3º da Lei
autorize a penhora do bem de família.

Assim, não é possível a penhora do bem de família mesmo que o proprietário tenha oferecido o imóvel como caução
em contrato de locação. STJ. 3ª Turma. REsp 1873203-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 24/11/2020 (Info
683).

9. Para a incidência da exceção à impenhorabilidade do bem de família, prevista no art. 3º, VI, da Lei nº
8.009/90, é imprescindível a sentença penal condenatória transitada em julgado

O inciso VI do art. 3º da Lei nº 8.009/90 afirma que é possível a penhora do bem de família caso ele tenha “sido
adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou
perdimento de bens”.

Para a incidência da exceção prevista no art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90, é indispensável que a sentença penal
condenatória já tenha transitada em julgado, por não ser possível a interpretação extensiva. STJ. 3ª Turma. REsp
1823159-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/10/2020 (Info 681). STJ. 4ª Turma. REsp 1021440/SP, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, julgado em 02/05/2013.

Em sentido contrário:

A exceção, na hipótese de bem adquirido com produto de crime, não pressupõe a existência de sentença penal
condenatória, sendo suficiente a prática de conduta definida como crime e que o bem tenha sido adquirido com
produto da ação criminosa. No caso concreto, faz-se possível a penhora do bem de família, nos moldes do artigo 3º,
inciso VI, primeira parte, da Lei 8.009/90, haja vista que o imóvel em questão fora adquirido com produto de crime.
STJ. 4ª Turma. REsp 1091236/RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/12/2015.

Diante da divergência, resta-nos aguardar um posicionamento mais sólido do STJ sobre o tema.

10. Não se pode penhorar o bem de família com base no inciso IV do art. 3º da Lei 8.009/90 se o débito de
natureza tributária está relacionado com outro imóvel que pertencia ao devedor

Para a aplicação da exceção à impenhorabilidade do bem de família prevista no art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90 é
preciso que o débito de natureza tributária seja proveniente do próprio imóvel que se pretende penhorar.

Exemplo: João celebrou com Pedro contrato de “permuta de imóveis urbanos”. Ficou acertado que João transmitiria
a propriedade de sua casa para Pedro e, em troca, Pedro faria a transferência de seu apartamento a João. Ficou
consignado que cada parte iria transmitir o imóvel sem quaisquer dívidas tributárias. Depois da permuta e da
transferência da posse, Pedro constatou que a casa cedida por João possuía débitos de IPTU. Para regularizar a
situação, Pedro quitou essas dívidas. Em seguida, Pedro ajuizou ação contra João pedindo o ressarcimento desses
valores considerando que houve um descumprimento do contrato neste ponto. O pedido foi julgado procedente. No
cumprimento de sentença, Pedro pediu a penhora do apartamento que, depois da permuta, passou a pertencer a
João e que é seu bem de família. Essa penhora não pode ser deferida porque não se enquadra no inciso IV do art. 3º
da Lei:

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou
de outra natureza, salvo se movido:

IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;

Pode-se apontar três argumentos principais:

• A dívida era referente a outro imóvel (e não ao que se pretende penhorar).

• Não se está cobrando um imposto devido em função do imóvel; o que se está pleiteando é o ressarcimento
decorrente de inadimplemento contratual.

• As hipóteses de exceção à regra da impenhorabilidade do bem de família são taxativas, não comportando
interpretação extensiva.

STJ. 3ª Turma. REsp 1332071-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 18/02/2020 (Info 665).

11. Proprietário que aceita que seu bem de família sirva como garantia de um contrato de alienação fiduciária
em garantia não pode, posteriormente, alegar que esse ato de disposição foi ilegal

A proteção legal conferida ao bem de família pela Lei nº 8.009/90 não pode ser afastada por renúncia do devedor ao
privilégio, pois é princípio de ordem pública, prevalente sobre a vontade manifestada.

A despeito disso, o bem de família legal não gera inalienabilidade. Logo, é possível que o proprietário pratique atos
de disposição dele, podendo, por exemplo, oferecê-lo como objeto de alienação fiduciária em garantia.

A utilização abusiva do direito à proteção do bem de família viola o princípio da boa-fé objetiva e, portanto, não
deve ser tolerada. Assim, deve ser afastado o benefício conferido ao titular do bem de família que exerce o direito
em desconformidade com o ordenamento jurídico. STJ. 4ª Turma. REsp 1595832-SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 29/10/2019 (Info 664).

12. O crédito oriundo de contrato de empreitada para a construção, ainda que parcial, de imóvel residencial,
encontra-se nas exceções legais à impenhorabilidade do bem de família

O crédito oriundo de contrato de empreitada para a construção, ainda que parcial, de imóvel residencial, encontra-
se nas exceções legais à impenhorabilidade do bem de família.

Ex: João comprou uma casa antiga para reformar e passar a morar ali com a família. Ele contratou a empresa FB
Engenharia para fazer a reforma. A empresa terminou o serviço e João passou a residir no local. Ocorre que ele não
pagou as últimas parcelas do contrato com a empresa e ficou devendo R$ 40 mil, materializado em notas
promissórias. O imóvel onde João reside poderá ser penhorado para pagar a dívida, sendo essa uma exceção à
impenhorabilidade do bem de família. Fundamento: art. 3º, II, da Lei nº 8.009/90.

Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou
de outra natureza, salvo se movido: (...) II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à
construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo
contrato; STJ. 4ª Turma. REsp 1221372-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 15/10/2019 (Info 658).

Ainda sobre o tema:


Admite-se a penhora do bem de família para saldar o débito originado de contrato de empreitada global celebrado
para promover a construção do próprio imóvel.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.976.743-SC, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 08/03/2022 (Info 728).

13. Os imóveis residenciais de alto padrão ou de luxo não estão excluídos, em razão do seu valor econômico, da
proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 aos bens de família

O simples fato de o imóvel ser de luxo ou de elevado valor, por si só, não afasta a proteção prevista na Lei nº
8.009/90.

Assim, prevalece a proteção legal ao bem de família, independentemente de seu padrão. O intérprete não pode
fazer uma releitura da lei a fim de excluir o imóvel da proteção do bem de família pelo simples fato de ela ser de
elevado valor. STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 1199556/PR, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/06/2018.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.482.724/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 14/11/2017. STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp
1669123/RS, Rel. Min. Lázaro Guimarães (Desembargador convocado do TRF 5ª Região), julgado em 15/03/2018.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.505.028/SP, Rel. Min. Raul Aráujo, julgado em 19/09/2017.

14. Bem de família dado em garantia hipotecária

O bem de família é IMPENHORÁVEL quando for dado em garantia real de dívida por um dos sócios da pessoa
jurídica, cabendo ao credor o ônus da prova de que o proveito se reverteu à entidade familiar.

O bem de família é PENHORÁVEL quando os únicos sócios da empresa devedora são os titulares do imóvel
hipotecado, sendo ônus dos proprietários a demonstração de que não se beneficiaram dos valores auferidos . Assim,
é possível a penhora de bem de família dado em garantia hipotecária pelo casal quando os cônjuges forem os únicos
sócios da pessoa jurídica devedora. STJ. 2ª Seção. EAREsp 848498-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em
25/04/2018 (Info 627).

15. A impenhorabilidade do bem de família pode ser alegada em qualquer momento processual até a sua
arrematação, ainda que por meio de simples petição nos autos

A impenhorabilidade do bem-de-família não pode ser arguida, em ação anulatória da arrematação, após o
encerramento da execução. STJ. 2ª Seção. AR 4.525/SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 13/12/2017.

Não é possível alegar a impenhorabilidade do bem de família após concluída a arrematação. STJ. 4ª Turma. AgInt no
AREsp 196.236/SP, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 03/04/2018.

A impenhorabilidade do bem de família pode ser alegada a qualquer tempo, até mesmo por petição nos autos da
execução. STJ. 3ª Turma. REsp 1114719/SP, Rel. Min. Sidnei Beneti, julgado em 23/06/2009.

16. Afasta-se a proteção conferida pela Lei nº 8.009/90 ao bem de família, quando caracterizado abuso do
direito de propriedade, violação da boa-fé objetiva e fraude à execução

A regra de impenhorabilidade do bem de família trazida pela Lei nº 8.009/90 deve ser examinada à luz do princípio
da boa-fé objetiva, que, além de incidir em todas as relações jurídicas, constitui diretriz interpretativa para as
normas do sistema jurídico pátrio.
Assim, se ficou caracterizada fraude à execução na alienação do único imóvel dos executados, em evidente abuso de
direito e má-fé, afasta-se a norma protetiva do bem de família, que não pode conviver, tolerar e premiar a atuação
dos devedores em desconformidade com a boa-fé objetiva. STJ. 3ª Turma. REsp 1575243/DF, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 22/03/2018. STJ. 2ª Turma. AgRg no AREsp 510970/SC, Rel. Min. Aussete Magalhães, julgado
em 18/04/2018.

17. A preclusão consumativa atinge a alegação de impenhorabilidade do bem de família quando houver decisão
anterior acerca do tema

A impenhorabilidade de bem de família pode ser arguida em qualquer tempo ou fase do processo, desde que não
tenha havido pronunciamento judicial anterior. STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1373654/RS, Rel. Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, julgado em 06/03/2018.

Opera-se a preclusão consumativa quanto à discussão acerca da penhorabilidade ou impenhorabilidade do bem de


família quando houver decisão definitiva anterior acerca do tema, mesmo em se tratando de matéria de ordem
pública. STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 1039028/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
09/11/2017.

A impenhorabilidade de bem de família pode ser alegada a qualquer tempo e grau de jurisdição. No entanto, uma
vez decidido o tema, não pode ser reeditado, pois acobertado pela preclusão. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp
1518503/PE, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 21/09/2017.

18. É possível a penhora do bem de família para assegurar o pagamento de dívidas oriundas de despesas
condominiais do próprio bem

É possível a penhora de bem de família quando a dívida é oriunda de cobrança de taxas e despesas condominiais
com base no art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/90. STJ. 2ª Seção. AR 5.931/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado
em 09/05/2018.

Por outro lado, não cabe a penhora de bem de família para a cobrança de contribuições criadas por associações de
moradores (condomínio de fato). Isso porque tais débitos ostentam natureza de dívida fundada em direito pessoal,
oriunda do ato associativo ou de concordância com a despesa, não possuindo vinculação com o bem, mas sim com o
serviço contratado, posto à disposição do associado. STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1688721/DF, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 20/02/2018.

19. A impenhorabilidade do bem de família hipotecado não pode ser oposta nos casos em que a dívida garantida
se reverteu em proveito da entidade familiar

Em regra, o bem de família não pode ser penhorado (art. 1º da Lei nº 8.009/90).

O inciso V do art. 3º diz, contudo, que o bem de família pode ser penhorado se o imóvel foi oferecido em hipoteca
como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar.

A hipoteca é uma espécie de direito real de garantia, disciplinada nos arts. 1.473 a 1.505 do Código Civil. Se a parte
que deu o bem em hipoteca não cumprir a sua obrigação, o credor poderá executar a hipoteca, hipótese na qual o
imóvel dado em garantia será alienado e o valor obtido utilizado para pagar o débito.

Assim, em regra, é possível a penhora do imóvel que tiver sido oferecido como garantia real pelo casal ou pela
entidade familiar.
O STJ, contudo, ao interpretar esse inciso, faz a seguinte observação: a penhora do bem de família somente será
admitida se o imóvel foi dado em garantia de uma dívida que beneficiou o casal ou entidade familiar.

Desse modo, a exceção prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90 não se aplica aos casos em que a hipoteca é dada
como garantia de empréstimo contraído em favor de terceiro. A possibilidade de penhora somente se aplica quando
o empréstimo foi tomado em favor do próprio devedor.

A exceção prevista no art. 3º, V, da Lei nº 8.009/90, que deve ser interpretada restritivamente, somente atinge os
bens que foram dados em garantia de dívidas contraídas em benefício da própria família, não abrangendo bens
dados em garantia de terceiros. STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl no AREsp 665.233/SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti,
julgado em 06/02/2018.

20. Bem adquirido com produto de crime é penhorável mesmo que tenha havido extinção da punibilidade pelo
cumprimento do sursis processual

Na execução civil movida pela vítima, não é oponível a impenhorabilidade do bem de família adquirido com o
produto do crime, ainda que a punibilidade do acusado tenha sido extinta em razão do cumprimento das condições
estipuladas para a suspensão condicional do processo. STJ. 4ª Turma. REsp 1091236-RJ, Rel. Min. Marco Buzzi,
julgado em 15/12/2015 (Info 575).

Fique atenta(o) para este outro julgado:

Para a incidência da exceção à impenhorabilidade do bem de família, prevista no art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90, é
imprescindível a sentença penal condenatória transitada em julgado

O inciso VI do art. 3º da Lei nº 8.009/90 afirma que é possível a penhora do bem de família caso ele tenha “sido
adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou
perdimento de bens”.

Para a incidência da exceção prevista no art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/90, é indispensável que a sentença penal
condenatória já tenha transitada em julgado, por não ser possível a interpretação extensiva. STJ. 3ª Turma. REsp
1.823.159-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/10/2020 (Info 681).

21. Possibilidade de penhora do bem de família do fiador

Súmula 549-STJ: É válida a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação.

STJ. 2ª Seção. Aprovada em 14/10/2015, DJe 19/10/2015.

É possível penhorar a casa do fiador por dívidas decorrentes do contrato de locação?

SIM. É legítima a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação. Isso porque o art. 3º, VII,
da Lei 8.009/90 afirma que a impenhorabilidade do bem de família não se aplica no caso de dívidas do fiador
decorrentes do contrato de locação.

O STF decidiu que esse dispositivo é constitucional e não viola o direito à moradia.

STJ. 2ª Seção. REsp 1363368-MS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 12/11/2014 (recurso repetitivo) (Info
552).

A penhorabilidade de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação também se aplica no caso de
locação de imóvel comercial.
É constitucional a penhora de bem de família pertencente a fiador de contrato de locação, seja residencial, seja
comercial. STF. Plenário. RE 1.307.334/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 8/3/2022 (Repercussão Geral
– Tema 1127) (Info 1046).

22. Executado que aliena o bem de família pratica fraude à execução?

Existe fraude à execução quando o devedor, ciente de que existe execução contra si proposta, aliena o bem de
família?

O tema é polêmico, havendo decisões do STJ nos dois sentidos:

SIM.

STJ. 2ª Turma. AgInt-AREsp 1.473.003/RS, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 20/08/2019.

STJ. 3ª Turma. REsp 1364509/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/06/2014 (Info 545).

STJ. 4ª Turma. AgInt-REsp 1.365.737/RS, Rel. Ministro Marco Buzzi, julgado em 20/03/2018.

STJ. 4ª Turma. AgInt-AREsp 1.455.826/DF, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 30/09/2019

NÃO.

STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 255799/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 17/09/2013;

STJ. 2ª Turma. AgInt-REsp 1.486.437/PR, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 08/05/2018.

STJ. 2ª Turma. AgInt-REsp 1.719.551/RS, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 21/05/2019.

STJ. 4ª Turma. REsp 976.566/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 20/04/2010.

 PARENTESCO
1. Os efeitos jurídicos das paternidades biológica e socioafetiva devem ser equivalentes

A possibilidade de cumulação da paternidade socioafetiva com a biológica contempla especialmente o princípio


constitucional da igualdade dos filhos (art. 227, § 6º, da CF).

Não se deve admitir que na certidão de nascimento conste o termo "pai socioafetivo", bem como não é possível
afastar a possibilidade de efeitos patrimoniais e sucessórios quando reconhecida a multiparentalidade. Caso
contrário, estar-se-ia reconhecendo a possibilidade de uma posição filial inferior em relação aos demais
descendentes do genitor socioafetivo, violando o disposto nos arts. 1.596 do CC/2002 e 20 da Lei n. 8.069/1990.

Portanto, reconhece-se a equivalência de tratamento e dos efeitos jurídicos entre as paternidades biológica e
socioafetiva na hipótese de multiparentalidade.

STJ. 4ª Turma. REsp 1487596/MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 28/09/2021.

2. É intransmissível ao cônjuge sobrevivente a pretensão de ver declarada a existência de relação avoenga com
o de cujus

É intransmissível ao cônjuge sobrevivente a pretensão de ver declarada a existência de relação avoenga com o de
cujus.
A impossibilidade do julgamento do pedido declaratório de relação avoenga não acarreta, necessariamente, a
impossibilidade do julgamento do pedido de petição de herança.

STJ. 3ª Turma. REsp 1868188-GO, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. Acd. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/09/2021 (Info 713).

3. É possível a existência de multiparentalidade, existindo equivalência entre os vínculos biológico e


socioafetivo

Na multiparentalidade deve ser reconhecida a equivalência de tratamento e de efeitos jurídicos entre as


paternidades biológica e socioafetiva.

STJ. 4ª Turma.REsp 1487596-MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 28/09/2021 (Info 712).

4. Habeas corpus não é via adequada para questionar decisão fundamentada que fixou guarda unilateral

A deliberação judicial acerca da regulamentação da guarda dos filhos, no bojo de uma ação de divórcio - passível,
naturalmente, de questionamentos e irresignações por parte de um dos genitores, ou de ambos, a serem veiculados
pela via recursal adequada -, não importa, por si, em cerceamento do direito de locomoção da criança, sobretudo
porque, de acordo com o regime de convivência e de visitas, especificamente estabelecido pelo Juízo para a família,
a criança não estará privada da companhia do outro genitor com quem não resida.

STJ. 3ª Turma. HC 636744/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/06/2021.

5. Somente será permitida a implantação post mortem de embriões fertilizados in vitro se houve autorização
expressa por testamento ou instrumento que o valha em formalidade e garantia

A declaração posta em contrato padrão de prestação de serviços de reprodução humana é instrumento


absolutamente inadequado para legitimar a implantação post mortem de embriões excedentários, cuja autorização,
expressa e específica, deve ser efetivada por testamento ou por documento análogo.

STJ. 4ª Turma. REsp 1918421-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/06/2021
(Info 706).

6. Irmãos unilaterais possuem legitimidade ativa e interesse processual para propor ação declaratória de
reconhecimento de parentesco natural com irmã pré-morta, ainda que a relação paterno-filial com o pai
comum, também pré-morto, não tenha sido reconhecida em vida

Exemplo hipotético: Pedro e Paulo são irmãos. Eles são filhos de João e Regina. João já faleceu há alguns anos.
Determinado dia, Regina estava assistindo televisão com Pedro e Paulo e viu uma reportagem noticiando a morte de
uma mulher chamada Laís. Regina, então, contou que Laís era filha de João, apesar de ele não a ter registrado. Desse
modo, Regina afirmou que Pedro e Paulo seriam irmãos unilaterais de Laís. Vale ressaltar que Laís nunca ajuizou
qualquer ação contra João pedindo o reconhecimento de sua condição de filha. Diante disso, Pedro e Paulo
ajuizaram ação declaratória de reconhecimento de parentesco natural em face de Laís (irmã pré-morta), a fim de
que fosse declarada a relação de irmandade biológica entre eles e Laís. A ação foi proposta contra o espólio de Laís.

STJ. 3ª Turma. REsp 1892941-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2021 (Info 699).
7. A divergência entre a paternidade biológica e a declarada no registro de nascimento não é apta, por si só,
para anular o ato registral, dada a proteção conferida à paternidade socioafetiva

A anulação de ato registral, com base na divergência entre a paternidade biológica e a declarada no registro de
nascimento, apenas será possível se preenchidos os seguintes requisitos:

a) Existência de prova robusta de que o pai foi induzido a erro ou coagido a efetuar o registro: o registro de
nascimento tem valor absoluto, de modo que não se pode negar a paternidade, salvo se existentes provas de erro ou
falsidade.

b) Inexistência de relação socioafetiva entre pai e filho registrado: para que a ação negatória de paternidade seja
julgada procedente, não basta apenas que o DNA prove que o “pai registral” não é o “pai biológico”. É necessário
também que fique provado que o “pai registral” nunca foi um “pai socioafetivo”, ou seja, que nunca foi construída
uma relação socioafetiva entre pai e filho.

A mera comprovação da inexistência de paternidade biológica através do exame do DNA não é suficiente para
desconstituir a relação socioafetiva criada entre os indivíduos.

A filiação deve ser entendida como elemento fundamental da identidade do ser humano, da própria dignidade
humana. O nosso ordenamento jurídico acolheu a filiação socioafetiva como verdadeira cláusula geral de tutela da
personalidade humana.

STJ. 3ª Turma. REsp 1829093-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2021 (Info 699).

8. É possível a fixação de guarda compartilhada mesmo que um dos genitores possua domicílio em cidade
distinta

A guarda compartilhada é a modalidade de guarda mais adequada para preservar os interesses do menor, quando
ambos os genitores estiverem aptos.

A lei 13.058/2014, que alterou o §2º do art. 1.584 do CC, esclareceu que a guarda compartilhada não é apenas
prioritária ou preferencial, mas sim obrigatória, só sendo afastada quando:

a) um genitor declarar que não deseja a guarda; ou

b) um genitor não estiver apto ao exercício do poder familiar.

A residência do genitor em outra cidade, outro Estado ou outro país, não se enquadra entre as exceções para a não
fixação da guarda compartilhada.

Tanto isso é verdade que o Código Civil, no art. 1.583, §3º, estabelece um critério para a definição da cidade que
deverá ser considerada como base da moradia dos filhos na guarda compartilhada, qual seja, a que melhor atender
aos interesses da criança ou do adolescente. Portanto, o próprio Código Civil previu a possibilidade da guarda
compartilhada com um dos genitores residindo em cidade distinta.

Com o avanço tecnológico, passa a ser plenamente possível que os genitores compartilhem as responsabilidades
referentes aos filhos, mesmo que à distância.

Desse modo, o fato de os genitores possuírem domicílio em cidades diversas, por si só, não representa óbice à
fixação de guarda compartilhada.

STJ. 3ª Turma. REsp 1878041-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/05/2021 (Info 698).
9. A averbação de sentença proferida em ação negatória de filiação não consubstancia, em si, um direito
subjetivo autônomo das partes litigantes, tampouco se confunde com o direito personalíssimo ali discutido

Exemplo hipotético: João tinha três filhos registrados em seu nome (Antônio, Bento e Carlos). João ajuizou ação
negatória de filiação contra Carlos. A sentença julgou o pedido procedente declarando que João não era pai de
Carlos. Ocorre que essa sentença não foi averbada no registro civil de Carlos. Não se tomou essa providência. Assim,
em todos os assentos civis de Carlos continuou constando que João seria seu pai. Mais de 30 anos depois do trânsito
em julgado, João faleceu. Carlos habilitou-se no processo de inventário utilizando sua certidão de nascimento, na
qual ainda consta que João seria seu pai. Os herdeiros de João não concordaram e pediram ao juízo onde tramitou a
ação negatória que expedisse o mandado de averbação. O juízo acatou o pedido e, contra esta decisão, Carlos
impetrou mandado de segurança alegando que com o falecimento de João a averbação da sentença não mais
poderia ser feita, porque seria um direito personalíssimo do falecido. Além disso, afirmou que houve decadência do
direito de fazer a averbação.

Em um caso semelhante a esse, o STJ não concordou com os argumentos do impetrante.

A averbação da sentença, neste caso, constitui consequência legal obrigatória, destinada a conferir publicidade e
segurança jurídica ao desfecho que restou declarado e reconhecido judicialmente. Isso se dá, inclusive,
normalmente, de ofício.

Não existe nenhuma faculdade conferida às partes envolvidas a respeito de proceder ou não à referida averbação,
como se tal providência constituísse, em si, um direito personalíssimo.

Não se pode confundir o exercício do direito subjetivo de ação de caráter personalíssimo, como o é a pretensão de
desconstituir estado de filiação, cuja prerrogativa é exclusiva das pessoas insertas nesse vínculo jurídico (pai/mãe e
filho), com o ato acessório da averbação da sentença de procedência transitada em julgado, que se afigura como
mera consequência legal obrigatória.

Mesmo que essa providência (averbação) não tenha sido feita na época oportuna, ela poderá ser realizada depois,
não se submetendo a prazo decadencial ou prescricional.

STJ. 3ª Turma. RMS 56941/DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 19/05/2020 (Info 672).

10. O juiz deve adotar as medidas do art. 139, IV, do CPC para superar a resistência da pessoa que deveria
fornecer o material para exame de DNA, mas está se recusando a fazê-lo

O juiz deve adotar todas as medidas indutivas, mandamentais e coercitivas, como autoriza o art. 139, IV, do CPC,
com vistas a refrear a renitência de quem deve fornecer o material para exame de DNA, especialmente quando a
presunção contida na Súmula 301/STJ se revelar insuficiente para resolver a controvérsia.

STJ. 2ª Seção. Rcl 37521-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/05/2020 (Info 673).

Atualização legislativa posterior

A Lei nº 14.138/2021 acrescentou um parágrafo ao art. 2º-A da Lei nº 8.560/92 positivando o entendimento no
sentido de que a presunção de paternidade também se aplica aos sucessores do suposto pai.

Veja a redação do dispositivo inserido:

Art. 2º-A (...) § 2º Se o suposto pai houver falecido ou não existir notícia de seu paradeiro, o juiz determinará, a
expensas do autor da ação, a realização do exame de pareamento do código genético (DNA) em parentes
consanguíneos, preferindo-se os de grau mais próximo aos mais distantes, importando a recusa em presunção da
paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.

11. A concessão de guarda do menor não implica automática destituição do poder-dever familiar dos pais para
representá-lo em juízo

A representação legal do filho menor é uma das vertentes do poder familiar e deverá ser exercida, em regra, pelos
pais, conforme prevê o art. 1.634, VII, do Código Civil.

Assim, somente em algumas hipóteses é que o menor poderá deixar de ser representado pelos seus pais.

O fato de ter sido concedida a guarda do menor para uma outra pessoa que não compõe o núcleo familiar não
significa que tenha havido a destituição automática do poder familiar.

Logo, mesmo em tais casos, a competência para representar este menor em juízo é do pai ou da mãe (e não da
guardiã).

STJ. 3ª Turma. REsp 1761274-DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

12. Determinada pessoa ajuizou ação de investigação de paternidade contra o suposto pai e esta foi julgada
improcedente; transitou em julgado; o suposto pai morreu; eventual ação rescisória contra esta sentença
deve ser proposta contra os herdeiros (e não contra o espólio)

A ação rescisória de sentença proferida em ação de investigação de paternidade cujo genitor é pré-morto deve ser
ajuizada em face dos herdeiros, e não do espólio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1667576-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/09/2019 (Info 656).

13. É possível a inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de criança concebida mediante as
técnicas de reprodução assistida heteróloga e com gestação por substituição, não configurando violação ao
instituto da adoção unilateral

Situação hipotética: Daniel e João, que convivem em união estável homoafetiva, almejaram ter um filho. Procuraram
uma clínica de fertilização na companhia de Martha, irmã de João, para um programa de inseminação artificial.
Daniel e Martha se submeteram ao ciclo de reprodução assistida, culminando na concepção de um embrião. Martha
foi a “barriga de aluguel”. Este embrião deu origem, então, à Letícia. Martha, mãe de substituição, por meio de
escritura pública, renunciou ao seu poder familiar em relação ao nascituro. Daí, Daniel e João ajuizaram a ação
pedindo que ambos fossem declarados pais da criança recém-nascida. Postulam o reconhecimento do pai biológico e
do pai socioafetivo, mantendo em branco os campos relativos aos dados da genitora, pois a concepção ocorreu
mediante inseminação artificial heteróloga e a gestação por substituição.

O pedido foi acolhido pelo STJ.

É possível a inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de criança concebida mediante as técnicas de
reprodução assistida heteróloga e com gestação por substituição.

A reprodução assistida e a paternidade socioafetiva constituem nova base fática para incidência do preceito “ou
outra origem” do art. 1.593 do Código Civil.
Os conceitos legais de parentesco e filiação exigem uma nova interpretação, atualizada à nova dinâmica social, para
atendimento do princípio fundamental de preservação do melhor interesse da criança.

Vale ressaltar que não se trata de adoção, pois não se pretende o desligamento do vínculo com o pai biológico, que
reconheceu a paternidade no registro civil de nascimento da criança.

STJ. 3ª Turma. REsp 1608005-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/05/2019 (Info 649).

No mesmo sentido é o Enunciado 111 da I Jornada de Direito Civil: A adoção e a reprodução assistida heteróloga
atribuem a condição de filho ao adotado e à criança resultante de técnica conceptiva heteróloga; porém, enquanto
na adoção haverá o desligamento dos vínculos entre o adotado e seus parentes consanguíneos, na reprodução
assistida heteróloga sequer será estabelecido o vínculo de parentesco entre a criança e o doador do material
fecundante.

14. Necessidade de consentimento do indivíduo maior de 18 anos para que possa ser reconhecido como filho

É imprescindível o consentimento de pessoa maior para o reconhecimento de filiação post mortem.

STJ. 3ª Turma. REsp 1688470-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 10/04/2018 (Info 623).

15. Discussão sobre a possibilidade de o filho ajuizar ação de exigir contas em relação aos valores recebidos
pelos pais em nome do menor

O pai e a mãe, enquanto no exercício do poder familiar, são usufrutuários dos bens dos filhos (usufruto legal), bem
como têm a administração dos bens dos filhos menores sob sua autoridade, nos termos do art. 1.689, incisos I e II,
do Código Civil.

Por essa razão, em regra, não existe o dever de prestar contas acerca dos valores recebidos pelos pais em nome do
menor, durante o exercício do poder familiar. Isso porque há presunção de que as verbas recebidas tenham sido
utilizadas para a manutenção da comunidade familiar, abrangendo o custeio de alimentação, saúde, vestuário,
educação, lazer, entre outros.

Excepcionalmente, admite-se o ajuizamento de ação de prestação de contas pelo filho, sempre que a causa de pedir
estiver fundada na suspeita de abuso de direito no exercício desse poder.

Assim, a ação de prestação de contas ajuizada pelo filho em desfavor dos pais é possível quando a causa de pedir
estiver relacionada com suposto abuso do direito ao usufruto legal e à administração dos bens dos filho.

STJ. 3ª Turma. REsp 1623098-MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/03/2018 (Info 622)

 ALIMENTOS
1. O alimentante pode propor ação de exigir contas contra a guardiã do menor/alimentado para obtenção de
informações acerca da destinação da pensão paga mensalmente?

O alimentante pode propor ação de exigir contas contra a guardiã do menor/alimentado para obtenção de
informações acerca da destinação da pensão paga mensalmente?

4ª Turma do STJ: SIM


O genitor pode propor ação de prestação de contas em face do outro genitor relativamente aos valores decorrentes
de pensão alimentícia.

O Código Civil prevê que, após cessar a coabitação dos genitores pela dissolução da sociedade conjugal, os pais
continuam com o dever de sustentar os filhos.

O pai ou a mãe que não ficar na companhia dos filhos cumprirá esse dever por meio da prestação de alimentos (art.
1.703).

Por outro lado, o pai ou a mãe que não ficar com a guarda do filho tem o direito-dever de fiscalizar a manutenção e a
educação de sua prole (art. 1.589).

O poder-dever fiscalizatório do genitor que não detém a guarda com exclusividade tem por objetivo evitar que
ocorram abusos e desvios de finalidade no que tange à administração da pensão alimentícia. Para isso, esse genitor
poderá verificar se as despesas e gastos estão sendo realizados para manutenção e educação da prole.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.911.030-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/06/2021 (Info 699).

3ª Turma do STJ: NÃO

O alimentante não possui interesse processual em exigir contas da detentora da guarda do alimentando.

A ação de prestação de contas tem a finalidade de declarar a existência de um crédito ou débito entre as partes.

Nas obrigações alimentares, não há saldo a ser apurado em favor do alimentante, porquanto, cumprida a obrigação,
não há repetição de valores.

A ação de prestação de contas proposta pelo alimentante é via inadequada para fiscalização do uso de recursos
transmitidos ao alimentando por não gerar crédito em seu favor e não representar utilidade jurídica.

O alimentante não possui interesse processual em exigir contas da detentora da guarda do alimentando porque,
uma vez cumprida a obrigação, a verba não mais compõe o seu patrimônio, remanescendo a possibilidade de
discussão do montante em juízo com ampla instrução probatória.

STJ. 3ª Turma. REsp 1767456-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/11/2021 (Info 720).

2. No atual momento da pandemia causada pelo coronavírus, é admissível a retomada da prisão civil do
devedor de alimentos em regime fechado

No atual momento da pandemia causada pelo coronavírus, é admissível a retomada da prisão civil do devedor de
alimentos em regime fechado.

Considerando que houve a autorização de retomada, pelas autoridades públicas, de atividades econômicas,
comerciais, de entretenimento e de lazer de maneira muito próxima aos níveis pré-pandemia, não há mais
razoabilidade e proporcionalidade em manter abertos os bares, os restaurantes, as festas, os shows, as boates e os
estádios e, paradoxalmente, manter fechadas as prisões aos devedores de alimentos.

A pandemia ainda não está inteiramente superada no Brasil, mas não mais subsistem as razões que justificaram a
excepcional suspensão do cumprimento de ordens de prisão em regime fechado. STJ. 3ª Turma. HC 706.825-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 23/11/2021.
3. A impossibilidade da prestação de alimentos não está configurada pelo simples fato de o genitor se
encontrar preso

O fato de o devedor de alimentos estar recolhido à prisão pela prática de crime não afasta a sua obrigação alimentar,
tendo em vista a possibilidade de desempenho de atividade remunerada na prisão ou fora dela a depender do
regime prisional do cumprimento da pena.

STJ. 3ª Turma. REsp 1882798-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/08/2021 (Info 704).

4. Mesmo após o STJ ter homologado a decisão estrangeira sobre alimentos, o devedor poderá ajuizar ação
pedindo a revisão do valor da pensão alimentícia

Exemplo: a sentença estrangeira condenou o pai a pagar pensão alimentícia fixada em 290 euros por mês. O pai se
mudou para o Brasil. O filho ingressou, no STJ, com pedido de homologação da sentença estrangeira. Ocorre que,
comprovadamente, o salário do pai é inferior ao valor da pensão. Mesmo assim, se estiverem preenchidos os
requisitos formais, o STJ deverá homologar a sentença estrangeira, não podendo examinar aspectos relacionados
com o mérito, como, por exemplo, a capacidade econômica do devedor.

O ato de homologação é meramente formal, por meio do qual o STJ exerce tão somente um juízo de delibação, não
adentrando no mérito da disputa original, tampouco averiguando eventual injustiça da sentença estrangeira.

Vale ressaltar, contudo, que, mesmo após a homologação, o devedor poderá ingressar com ação pedindo a revisão
do valor da pensão. Isso porque a homologação da decisão estrangeira sobre alimentos não subtrai do devedor a
possibilidade de ajuizar ação revisional do valor da pensão alimentícia.

STJ. Corte Especial. HDE 4289-EX, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 18/08/2021 (Info 707).

5. Se o credor de alimentos ingressou com execução pedindo a prisão civil, mas esta não pode ser realizada em
virtude da pandemia da Covid-19, deve ser autorizada a expropriação de bens do devedor, mesmo sem a
mudança do rito

É possível a penhora de bens do devedor de alimentos, sem que haja a conversão do rito da prisão para o da
constrição patrimonial, enquanto durar a impossibilidade da prisão civil em razão da pandemia do coronavírus.

STJ. 3ª Turma. REsp 1914052-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/06/2021 (Info 702).

6. O valor recebido a título de horas extras integra a base de cálculo da pensão alimentícia fixada em
percentual sobre os rendimentos líquidos do alimentante

O valor recebido pelo alimentante a título de horas extras, mesmo que não habituais, embora não ostente caráter
salarial para efeitos de apuração de outros benefícios trabalhistas, é verba de natureza remuneratória e, portanto,
integra a base de cálculo para a incidência dos alimentos fixados em percentual sobre os rendimentos líquidos do
devedor.

STJ. 3ª Turma. REsp 1741716-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 25/05/2021 (Info 698).

STJ. 4ª Turma. REsp 1098585/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/06/2013.
7. É cabível o ajuizamento de ação de alimentos, ainda que exista acordo extrajudicial válido com o mesmo
objeto, quando o valor da pensão alimentícia não atende aos interesses da criança

Situação concreta: mãe e pai da criança firmaram acordo extrajudicial de alimentos no centro judiciário de solução
de conflitos. Cerca de 2 meses depois, a criança, representada pela mãe, ajuizou ação de alimentos contra o pai
pedindo um valor maior. O juiz extinguiu o processo sem resolução do mérito, decisão que, na visão do STJ, foi
incorreta, não estando de acordo com a teoria da asserção, adotada em nosso ordenamento jurídico.

O arrependimento e a insatisfação com os termos da avença realizada, porque não atenderia interesse indisponível e
teria sido prejudicial, em tese, para a criança, caracteriza, sim, potencial interesse processual e o alegado prejuízo se
confunde com o próprio mérito da ação, mostrando-se adequada a pretensão buscada.

STJ. 3ª Turma. REsp 1609701-MG, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 18/05/2021 (Info 697).

8. O valor percebido pelo alimentante a título de participação nos lucros e resultados não deve ser incluído à
prestação alimentar fixada em percentual sobre a remuneração

A participação nos lucros e resultados deve ser desvinculado do salário ou da remuneração habitualmente recebida.

Trata-se de uma bonificação de natureza indenizatória, eventual e que depende do desenvolvimento e do sucesso
profissional no cumprimento das metas estabelecidas.

Essa é a conclusão que se chega a partir da interpretação do art. 7º, XI, da Constituição Federal e do art. 3º da Lei nº
10.101/2000.

O recebimento, pelo alimentante (devedor), de valores adicionais e eventuais não impacta, em regra, na redefinição
do valor dos alimentos a serem prestados, ressalvadas as situações em que as necessidades do alimentado não
foram inicialmente satisfeitas ou sofreram alterações supervenientes que justificam a readequação do valor.

Não há relação direta e indissociável entre as eventuais variações positivas nos rendimentos auferidos pelo
alimentante (como na hipótese da participação nos lucros e resultados) e o automático e correspondente acréscimo
do valor dos alimentos, ressalvadas as hipóteses de ter havido redução proporcional do percentual para se ajustar à
capacidade contributiva do alimentante ou de haver superveniente alteração no elemento necessidade, casos em
que as variações positivas eventuais do alimentante deverão ser incorporadas aos alimentos a fim de satisfazer
integralmente às necessidades do alimentado.

STJ. 2ª Seção. REsp 1854488/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/12/2020.

Cuidado com a exceção das horas extras:

O valor recebido pelo alimentante a título de horas extras, mesmo que não habituais, embora não ostente caráter
salarial para efeitos de apuração de outros benefícios trabalhistas é verba de natureza remuneratória e, portanto,
integra a base de cálculo para a incidência dos alimentos fixados em percentual sobre os rendimentos líquidos do
devedor.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.741.716-SP, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 25/05/2021 (Info 698).

STJ. 4ª Turma. REsp 1098585/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 25/06/2013.

9. A oferta de pagamento espontâneo em audiência de conciliação em execução de dívida alimentar pelo


devedor perante o Judiciário e com a concordância do representante da parte contrária apto a tanto tem
caráter vinculante em relação ao proponente
Caso concreto: “M” ajuizou ação de execução de alimentos contra seu pai (“J”) pedindo para receber as parcelas
correspondentes aos meses de maio/2007 a abril/2009. O juiz designou audiência de conciliação. “M” não
compareceu. “J” se fez presente e propôs o pagamento da dívida relativa aos 2 últimos meses da pensão alimentícia
perante o Magistrado e o Promotor de Justiça, tendo a proposta sido homologada com a concordância do advogado
de “M”.

Essa proposta feita pelo genitor/executado pode ser considerada como reconhecimento parcial da dívida?

Sim. A proposta de pagamento parcial por devedor de alimentos em audiência de conciliação já na fase de
cumprimento de sentença, perante o patrono da parte contrária, vincula o devedor no limite da proposta, restando
assegurada nova negociação quanto ao valor remanescente.

STJ. 3ª Turma. REsp 1821906-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 20/10/2020 (Info 682).

10. É ilegal/teratológica a prisão civil do devedor de alimentos, sob o regime fechado, no período de pandemia,
anterior ou posterior à Lei nº 14.010/2020

Como ficou a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19?

Antes da Lei nº 14.010/2020:

• 4ª Turma do STJ e CNJ: entendiam que a prisão civil por dívida alimentar deveria ser cumprida em prisão
domiciliar.

• 3ª Turma do STJ: afirmava que, durante a pandemia de Covid-19, deveria ser suspensa a prisão civil dos devedores
(e não assegurar a prisão domiciliar).

Depois da Lei nº 14.010/2020:

A Lei nº 14.010/2020 adotou a mesma solução jurídica da 4ª Turma do STJ e do CNJ e previu o seguinte:

Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob a
modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.

Desse modo, o certo é que, seja antes ou depois da Lei nº 14.010/2020, o devedor de alimentos não poderia
permanecer preso no regime fechado durante a pandemia da Covid-19.

STJ. 3ª Turma. HC 569014-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/10/2020 (Info 681).

11. Não pode ser decretada a prisão civil do devedor de alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito

Os alimentos devidos em razão da prática de ato ilícito possuem natureza indenizatória (arts. 948, 950 e 951 do
Código Civil) e, portanto, não se aplica o rito excepcional da prisão civil como meio coercitivo para o adimplemento.

Exemplo: João cometeu homicídio contra Pedro e foi condenado a pagar pensão mensal de 3 salários mínimos aos
filhos da vítima. Caso ele se torne inadimplente, o juiz não poderá decretar prisão civil como meio coercitivo para o
pagamento. STJ. 4ª Turma. HC 523357-MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 01/09/2020 (Info 681).

12. O alcance da maioridade pelo alimentando não implica a redução ou o afastamento automático da
obrigação alimentar
A redução de pensão alimentícia a filho que alcançou a maioridade não é automática, dependendo da prova da
redução das suas necessidades ou da diminuição das possibilidades do seu genitor.

STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1852422/MG, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 22/06/2020.

A obrigação alimentar do pai em relação aos filhos não cessa automaticamente com o advento da maioridade, a
partir da qual subsiste o dever de assistência fundada no parentesco sanguíneo, devendo ser dada a oportunidade
ao alimentando de comprovar a impossibilidade de prover a própria subsistência ou a necessidade da pensão por
frequentar curso técnico ou universitário.

STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp n. 970461/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/2/2018.

Súmula 358-STJ: O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão
judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.

13. É possível a realização de acordo com a finalidade de exonerar o devedor do pagamento de alimentos
devidos e não pagos

É irrenunciável o direito aos alimentos presentes e futuros (art. 1.707 do Código Civil). O credor pode, contudo,
renunciar aos alimentos pretéritos devidos e não prestados. Isso porque a irrenunciabilidade atinge o direito, e não o
seu exercício.

STJ. 3ª Turma. REsp 1529532-DF, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 09/06/2020 (Info 673).

14. Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19?

Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19?

4ª Turma do STJ e CNJ: prisão domiciliar

Durante a pandemia de Covid-19, deve-se assegurar prisão domiciliar aos presos em decorrência de dívidas
alimentícias.

O contexto atual de gravíssima pandemia devido ao chamado coronavírus desaconselha a manutenção do devedor
em ambiente fechado, insalubre e potencialmente perigoso.

Assim, diante do iminente risco de contágio pelo Covid-19, bem como em razão dos esforços expendidos pelas
autoridades públicas em reduzir o avanço da pandemia, é recomendável o cumprimento da prisão civil por dívida
alimentar em prisão domiciliar.

STJ. 4ª Turma. HC 561257-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

3ª Turma do STJ: suspensa

Durante a pandemia de Covid-19, deve-se suspender a prisão civil dos devedores (e não assegurar a prisão
domiciliar).

Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19), admite-se, excepcionalmente, a suspensão da prisão
dos devedores por dívida alimentícia em regime fechado.

Assegurar aos presos por dívidas alimentares o direito à prisão domiciliar é medida que não cumpre o mandamento
legal e que fere, por vias transversas, a própria dignidade do alimentando.
Por esse motivo, não é plausível substituir o encarceramento pelo confinamento social, o que, aliás, já é a realidade
da maioria da população, isolada em prol do bem-estar de toda a coletividade.

A excepcionalidade da situação emergencial de saúde pública permite o diferimento provisório da execução da


obrigação cível enquanto pendente a pandemia.

A prisão civil suspensa terá seu cumprimento no momento processual oportuno, já que a dívida alimentar
remanesce íntegra, pois não se olvida que, afinal, também está em jogo a dignidade do alimentando, em regra,
vulnerável.

STJ. 3ª Turma. HC 574495-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

Depois das decisões acima expostas, foi sancionada a Lei nº 14.010/2020, que adotou a mesma solução jurídica da 4ª
Turma do STJ e do CNJ e previu a seguinte regra:

Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob a
modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.

Diante disso, a 3ª Turma do STJ também teve que se curvar ao entendimento: STJ. 3ª Turma. HC 578.282/SP, Rel.
Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 25/08/2020.

Logo, depois da Lei nº 14.010/2020, não há mais dúvidas: o cumprimento da prisão civil por dívida alimentar, até
30/10/2020, é feito exclusivamente sob a modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas
obrigações.

15. Existência de proposta escrita dispensa presença física de devedor preso em audiência de conciliação sobre
dívida alimentar

A discussão acerca do percentual fixado a título de alimentos é objetiva e, portanto, passível de ser formulada por
escrito, sendo desnecessária a presença física do alimentante em audiência para tanto.

STJ. 3ª Turma. REsp 1708334/RJ, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 12/05/2020.

16. Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19?

Como fica a prisão civil do devedor de alimentos durante a pandemia da Covid-19?

4ª Turma do STJ e CNJ: prisão domiciliar

Durante a pandemia de Covid-19, deve-se assegurar prisão domiciliar aos presos em decorrência de dívidas
alimentícias.

O contexto atual de gravíssima pandemia devido ao chamado coronavírus desaconselha a manutenção do devedor
em ambiente fechado, insalubre e potencialmente perigoso.

Assim, diante do iminente risco de contágio pelo Covid-19, bem como em razão dos esforços expendidos pelas
autoridades públicas em reduzir o avanço da pandemia, é recomendável o cumprimento da prisão civil por dívida
alimentar em prisão domiciliar.

STJ. 4ª Turma. HC 561257-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 05/05/2020 (Info 671).

3ª Turma do STJ: suspensa


Durante a pandemia de Covid-19, deve-se suspender a prisão civil dos devedores (e não assegurar a prisão
domiciliar).

Em virtude da pandemia causada pelo coronavírus (covid-19), admite-se, excepcionalmente, a suspensão da prisão
dos devedores por dívida alimentícia em regime fechado.

Assegurar aos presos por dívidas alimentares o direito à prisão domiciliar é medida que não cumpre o mandamento
legal e que fere, por vias transversas, a própria dignidade do alimentando.

Por esse motivo, não é plausível substituir o encarceramento pelo confinamento social, o que, aliás, já é a realidade
da maioria da população, isolada em prol do bem-estar de toda a coletividade.

A excepcionalidade da situação emergencial de saúde pública permite o diferimento provisório da execução da


obrigação cível enquanto pendente a pandemia.

A prisão civil suspensa terá seu cumprimento no momento processual oportuno, já que a dívida alimentar
remanesce íntegra, pois não se olvida que, afinal, também está em jogo a dignidade do alimentando, em regra,
vulnerável.

STJ. 3ª Turma. HC 574495-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

Depois das decisões acima expostas, foi sancionada a Lei nº 14.010/2020, que adotou a mesma solução jurídica da 4ª
Turma do STJ e do CNJ e previu a seguinte regra:

Art. 15. Até 30 de outubro de 2020, a prisão civil por dívida alimentícia, prevista no art. 528, § 3º e seguintes da Lei
nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil), deverá ser cumprida exclusivamente sob a
modalidade domiciliar, sem prejuízo da exigibilidade das respectivas obrigações.

17. A desoneração dos alimentos fixados entre ex-cônjuges deve considerar outras circunstâncias, além do
binômio necessidade-possibilidade, tais como a capacidade potencial para o trabalho e o tempo de
pensionamento

O dever de prestar alimentos entre ex-cônjuges é transitório, devendo ser assegurado alimentos apenas durante
certo tempo, até que o ex-cônjuge consiga prover o seu sustento com meios próprios.

Assim, ao se analisar se o ex-cônjuge ainda deve continuar recebendo os alimentos, deve-se examinar não apenas o
binômio necessidade-possibilidade, devendo ser consideradas outras circunstâncias, tais como a capacidade
potencial para o trabalho e o tempo decorrido entre o seu início e a data do pedido de desoneração.

STJ. 3ª Turma. REsp 1829295-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 10/03/2020 (Info 669).

18. Não incide desconto de pensão alimentícia sobre as parcelas denominadas diárias de viagem e tempo de
espera indenizado

Não incide desconto de pensão alimentícia sobre as parcelas denominadas diárias de viagem e tempo de espera
indenizado.

STJ. 3ª Turma. REsp 1747540-SC, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

19. Se foi celebrado um acordo na ação de investigação de paternidade, mas não se estipulou o termo inicial dos
alimentos, estes serão devidos desde a data da citação
Na ausência de expressa previsão no acordo de alimentos a respeito do seu termo inicial, deve prevalecer o disposto
no § 2º do art. 13 da Lei nº 5.478/68 (Lei de Alimentos), segundo o qual, em qualquer caso, os alimentos fixados
retroagem à data da citação.

Art. 13 (...) § 2º Em qualquer caso, os alimentos fixados retroagem à data da citação.

Se a lei diz expressamente que “em qualquer caso” os alimentos retroagem, não cabe ao intérprete fazer restrições
onde o legislador não o fez, de modo que não há justificativa para que os alimentos fixados em acordo celebrado em
ação investigatória de paternidade não receba o mesmo tratamento, sob o singelo argumento de que ajuste foi
omisso a respeito do seu termo inicial.

STJ. 3ª Turma. REsp 1821107-ES, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 10/03/2020 (Info 667).

20. O fato de o representante legal do menor, autor de execução de alimentos, possuir atividade remunerada
não pode, por si só, servir de empecilho à concessão da gratuidade de justiça

Em ação judicial que versa sobre alimentos ajuizada por menor, não é admissível que a concessão da gratuidade de
justiça esteja condicionada a demonstração de insuficiência de recursos de seu representante legal.

Caso concreto: uma criança, representada por sua mãe, ingressou com execução de alimentos contra o pai; o juiz
indeferiu o pedido de gratuidade de justiça porque a mãe do autor (representante do menor) não provou a sua
insuficiência de recursos.

O direito ao benefício da gratuidade de justiça possui natureza individual e personalíssima.

Assim, os requisitos para a concessão ou não do direito à gratuidade deverão ser preenchidos, em regra, pela
própria parte, e não pelo seu representante legal.

É evidente que, em se tratando de menores representados pelos seus pais, haverá sempre um forte vínculo entre a
situação desses dois diferentes sujeitos de direitos e obrigações, sobretudo em razão da incapacidade civil e
econômica do próprio menor. Isso não significa, contudo, que se deva automaticamente examinar o direito à
gratuidade a que poderia fazer jus o menor à luz da situação financeira de seus pais.

Assim, em se tratando de direito à gratuidade de justiça pleiteado por menor de 18 anos, deve o juiz, inicialmente,
aplicar a regra do §3º do art. 99, deferindo o benefício em razão da presunção de sua insuficiência de recursos.
Existe, todavia, a possibilidade de a outra parte demonstrar, com base no § 2º, a ausência dos pressupostos legais
que justificam a gratuidade, pleiteando, em razão disso, a revogação do benefício concedido.

21. No acordo ficou ajustado que o devedor pagaria a pensão durante certo tempo; passado esse período, o
indivíduo, por mera liberalidade, continuou pagando; isso não significa, contudo, que ele passou a ter o
dever de pagar para sempre a pensão

Obrigação alimentar extinta, mas mantida por longo período de tempo por mera liberalidade do alimentante, não
pode ser perpetuada com fundamento no instituto da surrectio.

STJ. 3ª Turma. REsp 1789667-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Rel. Acd. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
julgado em 13/08/2019 (Info 654).

22. A genitora do menor alimentando pode prosseguir, em nome próprio, com a execução de alimentos, a fim
de receber os valores referentes aos débitos alimentares vencidos, mesmo após a transferência da
titularidade da guarda da criança para o pai executado?
A mãe tem legitimidade para prosseguir na execução de pensão alimentícia proposta à época em que era guardiã do
filho menor, ainda que depois disso a guarda tenha sido transferida ao pai executado?

4ª Turma do STJ: SIM.

A genitora que, ao tempo em que exercia a guarda judicial do filho, representou-o em ação de execução de débitos
alimentares possui legitimidade para prosseguir no processo executivo com intuito de ser ressarcida, ainda que, no
curso da cobrança judicial, a guarda tenha sido transferida ao genitor (executado).

STJ. 4ª Turma. REsp 1410815-SC, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 9/8/2016 (Info 590).

3ª Turma do STJ: NÃO.

A genitora do alimentando não pode prosseguir na execução de alimentos, em nome próprio, a fim de perceber os
valores referentes aos débitos alimentares vencidos, após a transferência da titularidade da guarda do menor ao
executado.

Não se pode falar em sub-rogação no caso, considerando que o direito aos alimentos possui caráter personalíssimo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1771258-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 06/08/2019 (Info 654).

23. O prazo para a interposição de recurso ordinário em habeas corpus contra decisão do TJ que nega liberdade
para devedor de alimentos é de 5 dias (não é 15 dias)

O prazo para interposição de recurso ordinário em habeas corpus, ainda que se trate de matéria não criminal,
continua sendo de 5 dias, nos termos do art. 30 da Lei nº 8.038/90, não se aplicando à hipótese os arts. 1.003, §5º, e
994, V, do CPC/2015.

Ex: recurso ordinário contra decisão do TJ que negou habeas corpus a indivíduo que se encontra preso em razão de
dívida de alimentos.

STJ. 3ª Turma. RHC 109.330-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 09/04/2019 (Info 646).

24. Somente incidirá correção monetária para atualização do valor da pensão alimentícia combinada no acordo
se isso estiver expressamente previsto no pacto

O acordo que estabelece a obrigação alimentar entre ex-cônjuges possui natureza consensual e, portanto, a
incidência de correção monetária para atualização da obrigação ao longo do tempo deve estar expressamente
prevista no contrato.

Os alimentos acordados voluntariamente entre ex-cônjuges, por se encontrarem na esfera de sua estrita
disponibilidade, devem ser considerados como verdadeiro contrato, cuja validade e eficácia dependem
exclusivamente da higidez da manifestação de vontade das partes apostas no acordo.

Não confundir:

• acordo de alimentos entre ex-cônjuges não prevê atualização monetária da pensão alimentícia ao longo do tempo:
o valor da obrigação se mantém pelo valor histórico (valor original).

• decisão judicial não prevê atualização monetária da pensão alimentícia: mesmo assim a prestação deverá ser
corrigida, atualizando-se o valor historicamente fixado.
Observação: a correção monetária explicada acima diz respeito à atualização da obrigação original fixada no contrato
e paga na data do vencimento. Não se estava tratando sobre correção monetária de parcelas pagas em atraso.
Mesmo que o contrato não preveja, haverá incidência de correção monetária caso o alimentante pague a pensão
alimentícia após a data do vencimento.

STJ. 3ª Turma. REsp 1705669-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/02/2019 (Info 642).

25. Súmula 621-STJ

Súmula 621-STJ: Os efeitos da sentença que reduz, majora ou exonera o alimentante do pagamento retroagem à
data da citação, vedadas a compensação e a repetibilidade.

STJ. 2ª Seção. Aprovada em 12/12/2018, DJe 17/12/2018.

26. É admissível o uso da técnica executiva de desconto em folha de dívida de natureza alimentar ainda que haja
anterior penhora de bens do devedor

É admissível o uso da técnica executiva de desconto em folha de dívida de natureza alimentar ainda que haja
anterior penhora de bens do devedor.

STJ. 3ª Turma. REsp 1733697-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2018 (Info 640).

27. Em ação de alimentos, quando se trata de credor com plena capacidade processual, cabe exclusivamente a
ele provocar a integração posterior no polo passivo

O Código Civil prevê o seguinte:

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o
encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos,
todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as
demais ser chamadas a integrar a lide.

Neste julgado, o STJ entendeu que este artigo possui natureza jurídica de “litisconsórcio facultativo ulterior simples”.

Trata-se, contudo, de litisconsórcio com uma particularidade: em regra, a sua formação pode ocorrer não apenas por
iniciativa do autor, mas também por provocação do réu ou do Ministério Público.

Vale ressaltar, contudo, uma exceção: se o credor dos alimentos (autor da ação) for menor emancipado, possuir
capacidade processual plena e optar livremente por ajuizar a demanda somente em face do genitor, não pode o réu
provocar o chamamento ao processo da genitora do autor (codevedora).

Em ação de alimentos, quando se trata de credor com plena capacidade processual, cabe exclusivamente a ele
provocar a integração posterior no polo passivo.

STJ. 3ª Turma. REsp 1.715.438-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/11/2018 (Info 638)STJ. 3ª Turma. REsp
1807216-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 04/02/2020 (Info 664).
 GUARDA

1. O alimentante pode propor ação de exigir contas contra a guardiã do menor/alimentado para obtenção de
informações acerca da destinação da pensão paga mensalmente?

O alimentante pode propor ação de exigir contas contra a guardiã do menor/alimentado para obtenção de
informações acerca da destinação da pensão paga mensalmente?

4ª Turma do STJ: SIM

O genitor pode propor ação de prestação de contas em face do outro genitor relativamente aos valores decorrentes
de pensão alimentícia.

O Código Civil prevê que, após cessar a coabitação dos genitores pela dissolução da sociedade conjugal, os pais
continuam com o dever de sustentar os filhos.

O pai ou a mãe que não ficar na companhia dos filhos cumprirá esse dever por meio da prestação de alimentos (art.
1.703).

Por outro lado, o pai ou a mãe que não ficar com a guarda do filho tem o direito-dever de fiscalizar a manutenção e a
educação de sua prole (art. 1.589).

O poder-dever fiscalizatório do genitor que não detém a guarda com exclusividade tem por objetivo evitar que
ocorram abusos e desvios de finalidade no que tange à administração da pensão alimentícia. Para isso, esse genitor
poderá verificar se as despesas e gastos estão sendo realizados para manutenção e educação da prole.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.911.030-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 01/06/2021 (Info 699).

3ª Turma do STJ: NÃO

O alimentante não possui interesse processual em exigir contas da detentora da guarda do alimentando.

A ação de prestação de contas tem a finalidade de declarar a existência de um crédito ou débito entre as partes.

Nas obrigações alimentares, não há saldo a ser apurado em favor do alimentante, porquanto, cumprida a obrigação,
não há repetição de valores.

A ação de prestação de contas proposta pelo alimentante é via inadequada para fiscalização do uso de recursos
transmitidos ao alimentando por não gerar crédito em seu favor e não representar utilidade jurídica.

O alimentante não possui interesse processual em exigir contas da detentora da guarda do alimentando porque,
uma vez cumprida a obrigação, a verba não mais compõe o seu patrimônio, remanescendo a possibilidade de
discussão do montante em juízo com ampla instrução probatória.

STJ. 3ª Turma. REsp 1767456-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 25/11/2021 (Info 720).

2. É possível a fixação de guarda compartilhada mesmo que um dos genitores possua domicílio em cidade
distinta

A guarda compartilhada é a modalidade de guarda mais adequada para preservar os interesses do menor, quando
ambos os genitores estiverem aptos.
A lei 13.058/2014, que alterou o §2º do art. 1.584 do CC, esclareceu que a guarda compartilhada não é apenas
prioritária ou preferencial, mas sim obrigatória, só sendo afastada quando:

a) um genitor declarar que não deseja a guarda; ou

b) um genitor não estiver apto ao exercício do poder familiar.

A residência do genitor em outra cidade, outro Estado ou outro país, não se enquadra entre as exceções para a não
fixação da guarda compartilhada.

Tanto isso é verdade que o Código Civil, no art. 1.583, §3º, estabelece um critério para a definição da cidade que
deverá ser considerada como base da moradia dos filhos na guarda compartilhada, qual seja, a que melhor atender
aos interesses da criança ou do adolescente. Portanto, o próprio Código Civil previu a possibilidade da guarda
compartilhada com um dos genitores residindo em cidade distinta.

Com o avanço tecnológico, passa a ser plenamente possível que os genitores compartilhem as responsabilidades
referentes aos filhos, mesmo que à distância.

Desse modo, o fato de os genitores possuírem domicílio em cidades diversas, por si só, não representa óbice à
fixação de guarda compartilhada.

STJ. 3ª Turma. REsp 1878041-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 25/05/2021 (Info 698).

3. Habeas corpus não é via adequada para questionar decisão fundamentada que fixou guarda unilateral

A deliberação judicial acerca da regulamentação da guarda dos filhos, no bojo de uma ação de divórcio - passível,
naturalmente, de questionamentos e irresignações por parte de um dos genitores, ou de ambos, a serem veiculados
pela via recursal adequada -, não importa, por si, em cerceamento do direito de locomoção da criança, sobretudo
porque, de acordo com o regime de convivência e de visitas, especificamente estabelecido pelo Juízo para a família,
a criança não estará privada da companhia do outro genitor com quem não resida.

STJ. 3ª Turma. HC 636744/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 15/06/2021.

4. Não cabe HC para questionar decisão fundamentada que fixou guarda unilateral no âmbito de ação de
divórcio

A definição do regime de guarda, no âmbito de ação divórcio, não tem nenhuma repercussão, propriamente, no
direito de locomoção da criança, desde que preservado o direito de visita e, assim, a convivência com o genitor com
quem não resida.

Assim, o habeas corpus não se presta a imiscuir no modo como tais responsabilidades serão, a partir do divórcio,
partilhadas entre os pais.

Logo, o HC não é a via adequada para que um dos genitores discuta o específico propósito de manter ou não o
regime de guarda unilateral estabelecida em decisão judicial.

STJ. 3ª Turma. HC 636.744/SP, Rel. Min. Marco Aurelio Belizze, julgado em 15/06/2021.
5. Competência da Vara de Violência Doméstica para decidir guarda de criança e autorização para viagem se a
causa de pedir estiver relacionada com a violência praticada contra a genitora

A Vara Especializada da Violência Doméstica ou Familiar Contra a Mulher possui competência para o julgamento de
pedido incidental de natureza civil, relacionado à autorização para viagem ao exterior e guarda unilateral do infante,
na hipótese em que a causa de pedir de tal pretensão consistir na prática de violência doméstica e familiar contra a
genitora.

STJ. 3ª Turma. REsp 1550166-DF, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 21/11/2017 (Info 617).

 DANO MORAL NAS RELAÇÕES FAMILIARES

1. Abandono afetivo e dano moral

O abandono afetivo decorrente da omissão do genitor no dever de cuidar da prole constitui elemento suficiente para
caracterizar dano moral compensável?

Há um dever jurídico de cuidar afetivamente?

SIM.

Nos julgamentos da 3º Turma prevalece o entendimento de que, em hipóteses excepcionais, de gravíssimo descaso
em relação ao filho, é cabível a indenização por abandono afetivo. Esta conclusão foi extraída da compreensão de
que o ordenamento jurídico prevê o "dever de cuidado", o qual compreende a obrigação de convivência e "um
núcleo mínimo de cuidados parentais que, para além do mero cumprimento da lei, garantam aos filhos, ao menos
quanto à afetividade, condições para uma adequada formação psicológica e inserção social."

STJ. 3ª Turma. REsp 1.557.978-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 03/11/2015.

STJ. 3ª Turma. REsp 1887697/RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 21/09/2021.

NÃO.

Nas hipóteses julgadas pela 4ª Turma, entende-se que não cabe indenizar o abandono afetivo, por maior que tenha
sido o sofrimento do filho. O Direito de Família é regido por princípios próprios, que afastam a responsabilidade civil
extracontratual decorrente de ato ilícito. No plano material, a obrigação jurídica dos pais consiste na prestação de
alimentos. No caso de descumprimento dos deveres de sustento, guarda e educação dos filhos, a legislação prevê
como punição a perda do poder familiar, antigo pátrio-poder.

STJ. 4ª Turma. REsp 1.579.021-RS, Relª Minª Isabel Gallotti, julgado em 19/10/2017.

STJ. 4ª Turma. REsp 492.243-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 12/06/2018.
 TUTELA, CURATELA E TOMADA DE DESCISÃO APOIADA

1. O laudo médico, previsto no art. 750 do CPC/2015 como necessário à propositura da ação de interdição,
pode ser dispensado na hipótese em que o interditando resiste em se submeter ao exame

Caso concreto: Regina é filha de João e cuida do seu pai idoso e enfermo. Com o objetivo de melhor gerenciar os
atos da vida civil de seu genitor, Regina propôs ação de interdição com pedido de tutela provisória de curatela.
Ocorre que o seu pai se nega a realizar tratamento com especialista. Assim, Regina não conseguiu juntar o laudo
médico necessário para a ação de interdição (art. 750).

O art. 750 do CPC ressalva, expressamente, a possibilidade de o laudo médico ser dispensado na hipótese em que for
impossível colacioná-lo à petição inicial: “O requerente deverá juntar laudo médico para fazer prova de suas
alegações ou informar a impossibilidade de fazê-lo.”

No caso, a justificativa apresentada para a ausência do laudo é plausível. Vale ressaltar que a juntada do laudo
médico na petição inicial não tem a finalidade de substituir a prova pericial que ainda será produzida em juízo,
conforme expressamente prevê o art. 753 do CPC/2015.

STJ. 3ª Turma. REsp 1933597-RO, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 26/10/2021 (Info 717).

2. O rol de legitimados para propor a ação de levantamento de curatela, previsto no art. 756, § 1º do
CPC/2015, não é taxativo

O motivo que levou o juiz a decretar a curatela pode deixar de existir. Neste caso, deverá ser ajuizada uma ação para
levantamento da curatela.

É o que prevê o art. 756 do Código de Processo Civil:

Art. 756. Levantar-se-á a curatela quando cessar a causa que a determinou.

§ 1º O pedido de levantamento da curatela poderá ser feito pelo interdito, pelo curador ou pelo Ministério Público e
será apensado aos autos da interdição.

O rol de legitimados para propor a ação de levantamento de curatela, previsto no art. 756, § 1º do CPC/2015, não é
taxativo.

Exemplo: João foi atropelado por um veículo conduzido por funcionário da empresa “X”. Em razão das sequelas
sofridas, João foi interditado. Em ação de indenização movida por João contra a empresa, a ré foi condenada a pagar
pensão mensal vitalícia em virtude de, supostamente, o autor não poder mais trabalhar. Passados alguns anos, a
empresa “X” ajuizou ação de levantamento da curatela em face de João ao fundamento de que há prova, posterior à
sentença de interdição, que atestaria que o interdito não possui mais a enfermidade que justificou a sua interdição.
Por entender que existem elementos probatórios suficientes para demonstrar que o interdito não possui mais a
patologia que resultou em sua interdição, o que poderia gerar também a cessação da pensão vitalícia, o STJ concluiu
que a empresa, mesmo não estando no rol do art. 756, § 1º do CPC/2015, possui legitimidade para o ajuizamento da
ação de levantamento da curatela.

STJ. 3ª Turma. REsp 1735668-MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/12/2018 (Info 640).
3. Situações nas quais o magistrado deverá decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador

O art. 1.783 do CC prevê que se o curador for o cônjuge do curatelado e eles forem casados sob o regime da
comunhão universal, em regra, ele não será obrigado à prestação de contas dos bens administrados durante a
curatela, “salvo determinação judicial” que o obrigue a prestar.

O STJ identificou duas situações nas quais o juiz poderá determinar a prestação de contas.

Assim, o magistrado poderá (deverá) decretar a prestação de contas pelo cônjuge curador, resguardando o interesse
prevalente do curatelado e a proteção especial do interdito quando:

a) houver qualquer indício ou dúvida de malversação dos bens do incapaz, com a periclitação de prejuízo ou desvio
de seu patrimônio, no caso de bens comuns; e

b) se tratarem de bens incomunicáveis, excluídos da comunhão, ressalvadas situações excepcionais.

STJ. 4ª Turma. REsp 1515701-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 02/10/2018 (Info 637).

 BIOÉTICA E BIODIREITO

1. Salvo disposição contratual expressa, os planos de saúde não são obrigados a custear o tratamento médico
de fertilização in vitro

O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98, ao excluir a inseminação artificial do plano-referência de assistência à saúde,
também excluiu a técnica de fertilização in vitro.

A inseminação artificial compreende a fertilização in vitro, bem como todas as técnicas médico-científicas de
reprodução assistida, sejam elas realizadas dentro ou fora do corpo feminino.

Isso significa que não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de saúde, do tratamento de
fertilização in vitro, quando não houver previsão contratual expressa.

Salvo disposição contratual expressa, os planos de saúde não são obrigados a custear o tratamento médico de
fertilização in vitro.

STJ. 2ª Seção. REsp 1851062-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 13/10/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1067)
(Info 714).

2. Somente será permitida a implantação post mortem de embriões fertilizados in vitro se houve autorização
expressa por testamento ou instrumento que o valha em formalidade e garantia

A declaração posta em contrato padrão de prestação de serviços de reprodução humana é instrumento


absolutamente inadequado para legitimar a implantação post mortem de embriões excedentários, cuja autorização,
expressa e específica, deve ser efetivada por testamento ou por documento análogo.

STJ. 4ª Turma. REsp 1918421-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 08/06/2021
(Info 706).
3. Não se admite a declaração de incapacidade absoluta às pessoas com enfermidade ou deficiência mental

Depois do Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), que alterou os arts. 3º e 4º do Código Civil, não é
mais possível declarar como absolutamente incapaz o maior de 16 anos que, em razão de enfermidade permanente,
encontra-se inapto para gerir sua pessoa e administrar seus bens de modo voluntário e consciente.

A Lei nº 13.146/2015 teve por objetivo assegurar e promover a inclusão social das pessoas com deficiência física ou
psíquica e garantir o exercício de sua capacidade em igualdade de condições com as demais pessoas.

A partir da entrada em vigor da referida lei, só podem ser considerados absolutamente incapazes os menores de 16
anos, ou seja, o critério passou a ser apenas etário, tendo sido eliminadas as hipóteses de deficiência mental ou
intelectual anteriormente previstas no Código Civil.

O instituto da curatela pode ser excepcionalmente aplicado às pessoas com deficiência, ainda que agora sejam
consideradas relativamente capazes, devendo, contudo, ser proporcional às necessidades e às circunstâncias de
cada caso concreto (art. 84, § 3º, da Lei nº 13.146/2015).

STJ. 3ª Turma. REsp 1927423/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 27/04/2021 (Info 694).

4. A operadora de plano de saúde não é obrigada a custear o procedimento de fertilização in vitro associado ao
tratamento de endometriose profunda

O STJ possui entendimento consolidado no sentido de que, se não houver previsão contratual expressa, o plano de
saúde não é obrigado a custear o tratamento de fertilização in vitro.

Existe julgado no qual o STJ afirmou que é devida a cobertura, pelo plano de saúde, do procedimento de
criopreservação de óvulos de paciente fértil, até a alta do tratamento quimioterápico, como medida preventiva à
infertilidade (STJ REsp 1.815.796/RJ). No entanto, nesse acórdão, foi feita a seguinte distinção aplicável aqui:

• tratamento da infertilidade: não é de cobertura obrigatória pelo plano de saúde;

• prevenção da infertilidade, enquanto efeito adverso do tratamento prescrito ao paciente: é coberto pelo plano de
saúde.

No caso concreto, o procedimento de fertilização in vitro não foi prescrito à mulher para prevenir a infertilidade
decorrente do tratamento para a endometriose. O procedimento foi prescrito como tratamento da infertilidade
coexistente à endometriose. Logo, não há cobertura do plano.

STJ. 3ª Turma. REsp 1859606-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Turma, julgado em 06/10/2020 (Info 681).

5. É devida a cobertura, pelo plano de saúde, do procedimento de criopreservação de óvulos de paciente fértil,
até a alta do tratamento quimioterápico, como medida preventiva à infertilidade

Caso concreto: mulher, que estava fazendo quimioterapia, corria o risco de se tornar infértil em razão do tratamento
que gera falência ovariana. A forma de preservar a capacidade reprodutiva, nestes casos, é o congelamento dos
óvulos (criopreservação). Diante disso, ela pleiteou junto ao plano de saúde que custeasse esse procedimento, o que
foi negado.

Para o STJ, é devida a cobertura, ou seja, o plano de saúde tem que arcar com esse tratamento.
O objetivo de todo tratamento médico, além de curar a doença, é não causar mal. Esse é um dos princípios
milenares da medicina conhecido pela locução “primum, non nocere” (primeiro, não prejudicar). Esse princípio está
consagrado no art. 35-F da Lei nº 9.656/98, segundo o qual a cobertura dos planos de saúde abrange também a
prevenção de doenças, no caso, a infertilidade.

Vale ressaltar que, depois de obter alta do tratamento quimioterápico, caberá à mulher custear o tratamento de
reprodução assistida, considerando que isso se encontra fora da cobertura do plano.

STJ. 3ª Turma. REsp 1815796-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/05/2020 (Info 673).

Cuidado para não confundir:

• usuária é infértil e busca tratamento para a infertilidade (ex: inseminação artificial): plano de saúde não é obrigado
a custear.

• usuária é fértil e busca a criopreservação como forma de prevenir a infertilidade: plano de saúde é obrigado a
custear.

6. Se não houver previsão contratual expressa, o plano de saúde não é obrigado a custear o tratamento de
fertilização in vitro

O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98, ao excluir a inseminação artificial do plano-referência de assistência à saúde,
também excluiu a técnica de fertilização in vitro.

A inseminação artificial compreende a fertilização in vitro, bem como todas as técnicas médico-científicas de
reprodução assistida, sejam elas realizadas dentro ou fora do corpo feminino.

Isso significa que não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de saúde, do tratamento de
fertilização in vitro, quando não houver previsão contratual expressa.

STJ. 3ª Turma. REsp 1794629/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em
18/02/2020 (Info 667).

STJ. 4ª Turma. REsp 1823077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

7. É possível a inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de criança concebida mediante as


técnicas de reprodução assistida heteróloga e com gestação por substituição, não configurando violação ao
instituto da adoção unilateral

Situação hipotética: Daniel e João, que convivem em união estável homoafetiva, almejaram ter um filho. Procuraram
uma clínica de fertilização na companhia de Martha, irmã de João, para um programa de inseminação artificial.
Daniel e Martha se submeteram ao ciclo de reprodução assistida, culminando na concepção de um embrião. Martha
foi a “barriga de aluguel”. Este embrião deu origem, então, à Letícia. Martha, mãe de substituição, por meio de
escritura pública, renunciou ao seu poder familiar em relação ao nascituro. Daí, Daniel e João ajuizaram a ação
pedindo que ambos fossem declarados pais da criança recém-nascida. Postulam o reconhecimento do pai biológico e
do pai socioafetivo, mantendo em branco os campos relativos aos dados da genitora, pois a concepção ocorreu
mediante inseminação artificial heteróloga e a gestação por substituição.

O pedido foi acolhido pelo STJ.


É possível a inclusão de dupla paternidade em assento de nascimento de criança concebida mediante as técnicas de
reprodução assistida heteróloga e com gestação por substituição.

A reprodução assistida e a paternidade socioafetiva constituem nova base fática para incidência do preceito “ou
outra origem” do art. 1.593 do Código Civil.

Os conceitos legais de parentesco e filiação exigem uma nova interpretação, atualizada à nova dinâmica social, para
atendimento do princípio fundamental de preservação do melhor interesse da criança.

Vale ressaltar que não se trata de adoção, pois não se pretende o desligamento do vínculo com o pai biológico, que
reconheceu a paternidade no registro civil de nascimento da criança.

STJ. 3ª Turma. REsp 1608005-SC, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 14/05/2019 (Info 649).

No mesmo sentido é o Enunciado 111 da I Jornada de Direito Civil: A adoção e a reprodução assistida heteróloga
atribuem a condição de filho ao adotado e à criança resultante de técnica conceptiva heteróloga; porém, enquanto
na adoção haverá o desligamento dos vínculos entre o adotado e seus parentes consanguíneos, na reprodução
assistida heteróloga sequer será estabelecido o vínculo de parentesco entre a criança e o doador do material
fecundante.

8. Compete à Justiça Federal julgar os crimes de violação de direito autoral e contra a lei de software
relacionados com o cardsharing

Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes de violação de direito autoral e contra a lei de software
decorrentes do compartilhamento ilícito de sinal de TV por assinatura, via satélite ou cabo, por meio de serviços de
cardsharing.

STJ. 3ª Seção.CC 150629-SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 22/02/2018 (Info 620).

 MUDANÇA DE NOME E GÊNERO DO TRANSEXUAL

1. Transgênero pode alterar seu prenome e gênero no registro civil mesmo sem fazer cirurgia de
transgenitalização e mesmo sem autorização judicial

O transgênero tem direito fundamental subjetivo à alteração de seu prenome e de sua classificação de gênero no
registro civil, não se exigindo, para tanto, nada além da manifestação de vontade do indivíduo, o qual poderá
exercer tal faculdade tanto pela via judicial como diretamente pela via administrativa.

Essa alteração deve ser averbada à margem do assento de nascimento, vedada a inclusão do termo “transgênero”.

Nas certidões do registro não constará nenhuma observação sobre a origem do ato, vedada a expedição de certidão
de inteiro teor, salvo a requerimento do próprio interessado ou por determinação judicial.

Efetuando-se o procedimento pela via judicial, caberá ao magistrado determinar de ofício ou a requerimento do
interessado a expedição de mandados específicos para a alteração dos demais registros nos órgãos públicos ou
privados pertinentes, os quais deverão preservar o sigilo sobre a origem dos atos.

STF. Plenário. RE 670422/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 15/8/2018 (repercussão geral) (Info 911).
Os transgêneros, que assim o desejarem, independentemente da cirurgia de transgenitalização, ou da realização de
tratamentos hormonais ou patologizantes, possuem o direito à alteração do prenome e do gênero (sexo)
diretamente no registro civil.

O direito à igualdade sem discriminações abrange a identidade ou expressão de gênero.

A identidade de gênero é manifestação da própria personalidade da pessoa humana e, como tal, cabe ao Estado
apenas o papel de reconhecê-la, nunca de constituí-la.

A pessoa transgênero que comprove sua identidade de gênero dissonante daquela que lhe foi designada ao nascer
por autoidentificação firmada em declaração escrita desta sua vontade dispõe do direito fundamental subjetivo à
alteração do prenome e da classificação de gênero no registro civil pela via administrativa ou judicial,
independentemente de procedimento cirúrgico e laudos de terceiros, por se tratar de tema relativo ao direito
fundamental ao livre desenvolvimento da personalidade.

STF. Plenário. ADI 4275/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado em 28/2 e
1º/3/2018 (Info 892).

Para mais informações de como isso se efetua na prática, consulte o Provimento n. 73/2018, do CNJ, que dispõe
sobre a averbação da alteração do prenome e do gênero nos assentos de nascimento e casamento de pessoa
transgênero no Registro Civil das Pessoas Naturais (RCPN).

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. CONVENÇÃO DA HAIA SOBRE ASPECTOS CIVIS DO SEQUESTRO INTERNACIONAL
DE CRIANÇAS.

O pedido de retorno imediato de criança retida ilicitamente por sua genitora no Brasil pode ser indeferido, mesmo
que transcorrido menos de um ano entre a retenção indevida e o início do processo perante a autoridade judicial ou
administrativa (art. 12 da Convenção de Haia), na hipótese em que o menor - com idade e maturidade suficientes
para compreender a controvérsia - estiver adaptado ao novo meio e manifestar seu desejo de não regressar ao
domicílio paterno no estrangeiro. De fato, a autoridade central deve ordenar o retorno imediato da criança quando é
acionada no período de menos de um ano entre a data da transferência ou da retenção indevidas e a data do início
do processo perante a autoridade judicial ou administrativa do Estado contratante onde a criança se encontrar, nos
termos do art. 12 da Convenção da Haia. Contudo, em situações excepcionalíssimas, nos termos da Convenção da
Haia e no propósito de se preservar o superior interesse do menor, a autoridade central poderá negar o pedido de
retorno imediato ao país de origem, como na hipótese de a criança já se encontrar integrada ao novo meio em que
vive e manifestar o desejo de não regressar para o domicílio estrangeiro do genitor. Em tal cenário, deve-se priorizar
o conteúdo da valiosa regra posta no art. 13 da referida Convenção, segundo a qual "A autoridade judicial ou
administrativa pode também recusar-se a ordenar o retorno da criança se verificar que esta se opõe a ele e que a
criança atingiu já idade e grau de maturidade tais que seja apropriado levar em consideração as suas opiniões sobre
o assunto". Cuida-se, certamente, de diretriz de extrema importância e utilidade para a tomada de decisões na área
de interesses de pessoas menores de 18 anos, que, aliás, encontrou plena receptividade no âmbito da posterior
Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança (ONU/1989), cujo art. 12 assim fez preceituar: "1. Os Estados-
parte assegurarão à criança, que for capaz de formar seus próprios pontos de vista, o direito de exprimir suas
opiniões livremente sobre todas as matérias atinentes à criança, levando-se devidamente em conta essas opiniões
em função da idade e maturidade da criança. 2. Para esse fim, à criança será dada a oportunidade de ser ouvida em
qualquer procedimento judicial ou administrativo que lhe diga respeito, diretamente ou através de um
representante ou órgão apropriado, em conformidade com as regras processuais do direito nacional". REsp
1.214.408-RJ, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 23/6/2015, DJe 5/8/2015.
DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE E PROCESSUAL CIVIL. RELAÇÃO DE PREJUDICIALIDADE EXTERNA ENTRE
AÇÃO FUNDADA NA CONVENÇÃO DE HAIA SOBRE SEQUESTRO INTERNACIONAL DE CRIANÇAS E AÇÃO DE GUARDA E
DE REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS.

No caso em que criança tenha sido supostamente retida ilicitamente no Brasil por sua genitora, não haverá conflito
de competência entre (a) o juízo federal no qual tramite ação tão somente de busca e apreensão da criança ajuizada
pelo genitor com fundamento na Convenção de Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de Crianças
e (b) o juízo estadual de vara de família que aprecie ação, ajuizada pela genitora, na qual se discuta o fundo do
direito de guarda e a regulamentação de visitas à criança; verificando-se apenas prejudicialidade externa à ação
ajuizada na Justiça Estadual, a recomendar a suspensão deste processo até a solução final da demanda ajuizada na
Justiça Federal. Com efeito, o objetivo da Convenção de Haia sobre os Aspectos Civis do Sequestro Internacional de
Crianças é repor à criança seu status quo, preservando o foro do país de sua residência habitual como o competente
para julgar pedido de guarda, por configurar o juízo natural onde se pressupõe sejam melhor discutidas as questões
a ela referentes e mais fácil a colheita de provas (art. 1°). Essa presunção, aliás, reforça a ideia de que a decisão
sobre a guarda e regulamentação do direito de visitas não é objeto da ação de busca e apreensão de criança retida
ilicitamente no território nacional. Aliás, os arts. 16, 17 e 19 da referida convenção corroboram esse entendimento e
evidenciam que a competência para a decisão sobre a guarda da criança não é do juízo que vai decidir a medida de
busca e apreensão da criança. Nesse passo, se for determinada a restituição da criança ao país de origem, lá é que se
decidirá a respeito do fundo do direito de guarda e regulamentação de visitas. Por sua vez, caso seja indeferido o
pleito de restituição, a decisão sobre essas questões caberá ao Juízo de Família competente. Desse modo, na ação de
busca e apreensão que tramita na Justiça Federal não será definido o fundo de direito de guarda e regulamentação
de visitas, por se tratar de questão para a qual existe foro próprio e adequado, seja no país de origem da criança,
seja no Brasil. Portanto, a aludida ação de busca e apreensão de criança apresenta-se como uma prejudicialidade
externa à ação de guarda e regulamentação de visitas proposta na Justiça Estadual, a recomendar sua suspensão
desta, nos termos do art. 265, IV, "a", do CPC, e não a modificação da competência. Por fim, convém esclarecer que
há três recentes precedentes do STJ que analisaram hipóteses semelhantes à que aqui se discute. Neles,
reconheceu-se haver conflito e concluiu pela competência da Justiça Federal para o julgamento das causas que
tramitavam na Justiça Estadual (CC 100.345-RJ, Segunda Seção, DJe 18/3/2009; CC 118.351-PR, Segunda Seção, DJe
5/10/2011; e CC 123.094-MG, Segunda Seção, DJe 14/2/2014). Entretanto, ante a inexistência de conexão entre a
ação de busca e apreensão e a ação de guarda e regulamentação de visitas, não há se falar em conflito de
competência entre as demandas em análise. CC 132.100-BA, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
25/2/2015, DJe 14/4/2015.

CONVENÇÃO DE HAIA. INTERESSE PREVALENTE. MENOR.

A questão de que ora se cuida não busca a definir a guarda do menor. Apenas cumpre decidir a respeito do retorno
da criança para a residência de onde foi transferida, no caso, Estado de Nova Jersey, Estados Unidos da América. O
menino, de dupla nacionalidade, está hoje com sete anos de idade. Vivia com os pais nos Estados Unidos e viajou
com a mãe para o Brasil, estabelecendo residência no Rio de Janeiro, no ano de 2004. O pai postula o retorno do
filho aos Estados Unidos, enquanto a mãe procura cercar a criança de todos os cuidados inerentes ao poder familiar,
pugnando para que o filho aqui permaneça. O Tribunal de origem concluiu pela manutenção do menor na
companhia da mãe, com base no delineamento fático do processo. A Min. Relatora ressaltou que não se pode
olvidar que paira sobre a Convenção de Haia o viés do interesse prevalente do menor, até mesmo porque foi
concebida para proteger de condutas ilícitas as crianças. E, exatamente seguindo a linha de proteção maior ao
interesse da criança, a Convenção delimitou as hipóteses de retorno ao país de origem, mesmo diante da conduta
ilícita do genitor em poder do menor, com exceções tais como as existentes nos arts. 12 e 13 do referido diploma
legal. Dessa forma, quando for provado, como o foi neste processo, que a criança já se encontra integrada no seu
novo meio, a autoridade judicial ou administrativa respectiva não deve ordenar o retorno da criança (art. 12), bem
assim se existir risco de a criança, em seu retorno, ficar sujeita a danos de ordem psíquica (art. 13, b), como concluiu
restar provado o acórdão recorrido, tudo isso tomando, na mais alta consideração, o interesse maior da criança.
Com tal delineamento fático dado ao processo, a questão encontra-se solvida, porquanto é vedado, nesta via, o
revolvimento do conjunto de fatos e provas apresentados pelas partes, tendo em vista que este Superior Tribunal
toma em consideração os fatos tais como descritos pelo Tribunal de origem. Ressalte-se que, ao contrário do
alegado pelo recorrente, as decisões, tanto a de primeiro quanto a de segundo grau de jurisdição, firmam-se
fundamentalmente na Convenção de Haia sobre os Aspectos Civis do Seqüestro Internacional de Crianças, em estrita
observância aos ditames constantes do tratado internacional no tocantes às exceções nele previstas, não
preponderando a aduzida violação dos dispositivos legais nele insertos. Assim, a Min. Relatora concluiu que devem,
pois, os genitores, na via judicial ou extrajudicial apropriada, chegar a um consenso, regulando guarda, visitas e
todos os aspectos que possam envolver os interesses do menor, de forma a minimizar os efeitos nocivos causados
pelo rompimento do casal. Isso posto, a Turma, por maioria, não conheceu do recurso. REsp 900.262-RJ, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 21/6/2007.

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