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DIREITO DE FAMILIA

PROFESSOR: CHRISTIAN GALVÃO

BEM DE FAMÍLIA E UNIÃO


ESTÁVEL

APOSTILA 06

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PARTE 1 — BEM DE FAMÍLIA

1. CONCEITO

Bem de família voluntário é aquele instituído por ato de vontade, podendo qualquer
entidade familiar reservar parte de seu patrimônio que não exceda a um terço do patrimônio
líquido.

Bem de família legal é aquele reconhecido por lei, independente de registro em


cartório, conforme determinado pela Lei n° 8.009/1990.

2. BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO

É aquele instituído por ato de vontade de toda forma entidade familiar, mediante
escritura pública, doação ou testamento, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio
líquido existente, e registro no cartório de imóveis, resultando em uma impenhorabilidade
limitada e uma inalienabilidade relativa.

Poderá recair sob bens urbanos e rurais, com seus acessórios, desde que sejam
destinados ao domicílio familiar. Também poderão ser os bens móveis desde que não excedam
o valor do imóvel, devendo ser todos individualizados no instrumento de instituição.

Não se aplica a impenhorabilidade do bem em casos de dívidas de condomínio ou


dívidas do próprio prédio, por exemplo, IPTU ou ITU.

3. BEM DE FAMÍLIA LEGAL

Determina impenhorável o único bem da entidade familiar utilizado como residência,


valendo para qualquer forma de entidade familiar.

No caso de dois bens utilizados como residência, será considerado como bem de
família o de menor valor.

Poderá recair sobre imóvel rural, mas a impenhorabilidade ficará restrita a sede de
moradia, com os bens móveis, e limitada como pequena propriedade rural. Não caberá a
impenhorabilidade nos seguintes casos:

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I - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à
aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do
respectivo contrato;

II - pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu


coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as
hipóteses em que ambos responderão pela dívida;

III - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em


função do imóvel familiar;

IV - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real;

V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal
ou pela entidade familiar;

VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal
condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens;

VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação.

A lei que institui o bem de família legal não revogou nem prejudicou o bem de família
voluntário.

4. IMPENHORABILIDADE DE BENS MÓVEIS

A Lei 8.009/1990 determinou que a impenhorabilidade atingira os bens moveis que


guarnecem a residência.

O STJ considerou impenhoráveis: televisão, máquina de lavar, freezer, ar-


condicionado, computador, antena parabólica e até mesmo instrumentos musicais .

5. FRAUDE

Somente o solvente poderá transferir a residência familiar para bem de maior valor,
desfazendo-se de outro bem em menor valor.

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6. EXTINÇÃO DO BEM DE FAMÍLIA

O bem de família se extingue com a morte de ambos os cônjuges e com a maioridade


dos filhos, desde que capazes.

7. SÚMULAS E ENUNCIADOS

8.1. Súmulas do STJ

134. Embora intimado da penhora em imóvel do casal, o cônjuge do executado pode


opor embargos de terceiro para defesa de sua meação.

205. A Lei 8.009/1990 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência.

251. A meação só responde pelo ato ilícito quando o credor, na execução fiscal, provar
que o enriquecimento dele resultante aproveitou ao casal.

364. O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel


pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

449. A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não
constitui bem de família para efeito de penhora.

486. É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a


terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência
ou a moradia da sua família.

8.2. Enunciados da Jornada do CFJ

325. É impenhorável, nos termos da Lei Nº 8.009/1990, o direito real de aquisição

do devedor fiduciante.

PARTE 2 — UNIÃO ESTÁVEL

8. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS

Serão essenciais para o reconhecimento de uma união estável: publicidade,


temporariedade e intenção de constituir família, entre outros (filhos, coabitação,

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aquisição de bens). Os casos elencados no artigo 1.521 do Código Civil, que impedem o
casamento, também impedirão o reconhecimento da união estável, sendo a única
exceção os casais que estiverem separados de fato ou judicialmente.

Não serão reconhecidos os efeitos da putatividade na união estável. Os casais


conviventes que infringem os impedimentos matrimoniais serão chamados de
concubinos e não terão seus direitos resguardados.

O poliamorismo, em que todos se conhecem e respeitam a situação, tem sido


reconhecido por alguns juristas, atribuindo a divisão patrimonial ao triângulo amoroso.

9. EFEITOS SUCESSÓRIOS DO COMPANHEIRO

Em 2017 o STF reconheceu ao companheiro os mesmos direitos do cônjuge,


conforme preceitua o artigo 1.829 (item 8.1.1, capitulo VIII).

10. A CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO

Os conviventes deverão ingressar com ação judicial, demonstrando os


elementos indispensáveis para o reconhecimento, ou seja, convivência pública,
duradoura, com o intuito de constituir família.

11. DISTINÇÕES ENTRE UNIÃO ESTÁVEL E SOCIEDADE DE FATO

O conceito de sociedade de fato não protege a entidade familiar, além de dar


uma configuração patrimonial às relações.

12. DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL

Será necessária a propositura de ação de reconhecimento c/c dissolução de união


estável para que fiquem resguardados os direitos dos conviventes, como partilha de bens e
alimentos, podendo ser consensual ou litigiosa.

13. UNIÃO HOMOAFETIVA

Com base no princípio da dignidade da pessoa humana, da liberdade, entre outros, o

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Supremo Tribunal Federal, em 2012, julgou procedente o reconhecimento da união estável
entre pessoas do mesmo sexo, acabando com o dilema jurídico existente entre os tribunais.

14. SÚMULAS E ENUNCIADOS

9.1. Súmulas do STF

35. Em caso de acidente do trabalho ou de transporte, a concubina tem direito de ser


indenizada pela morte do amásio, se entre eles não havia impedimento para o
matrimônio.

380. Comprovada a existência da sociedade de fato entre os concubinos, é cabível sua


dissolução judicial com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço comum.

382. A vida em comum sob o mesmo teto, more uxório, não é indispensável à
caracterização do concubinato.

9.2. Súmulas das Jornadas do CFJ

261. Art. 1.641: A obrigatoriedade do regime da separação de bens não se aplica a


pessoa maior de sessenta anos, quando o casamento for precedido de união estável
iniciada antes dessa idade.

263. Art. 1.707: O art. 1.707 do Código Civil não impede seja reconhecida válida e eficaz
a renúncia manifestada por ocasião do divórcio (direto ou indireto) ou da dissolução
da "união estável". A irrenunciabilidade do direito a alimentos somente é admitida
enquanto subsista vínculo de Direito de Família.

269. Art. 1.801: A vedação do art. 1.801, inc. III, do Código Civil não se aplica à união
estável, independentemente do período de separação de fato (art. 1.723, § 1°).

296. Art. 197. Não corre a prescrição entre os companheiros, na constância da união
estável.

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