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No âmbito jurídico, a relação extraconjugal, em regra, não gera efeitos

jurídicos ou patrimoniais, no entanto existem exceções à regra, por exemplo, nos casos

em que a relação se torna uma união estável paralela, podendo assim gerar direitos

para a Amante.

O (a) amante e os tribunais

Longe de ser pacífica a questão do (a) amante seja na doutrina, ou até nos

tribunais; ainda o tema carece de estudos mais robustos, logo há escassez de publicações

por parte da comunidade científica nesse sentido.

No âmbito do TRF Tribunal Regional Federal, já existe decisão concedendo o

rateio da pensão por morte deixada pelo de cujus entre a mulher e a amante. Chegou a

ser mencionado pelo Douto Relator que a relação a qual o finado mantinha com a

amante caracterizou uma união estável. Segundo o Desembargador Federal Rubens

Canuto:

(...) provada a existência de relação extraconjugal

duradoura, pública e com a intenção de constituir família, ainda que

concomitante ao casamento, deve ser conferida a ela a mesma

proteção dada à relação matrimonial e à união estável, mas desde

que o cônjuge não faltoso com os deveres do casamento tenha

efetiva ciência da existência dessa outra relação fora do

casamento. (Tribunal Regional Federal da 5ª Região (Apelação

0802803-23.2016.4.05.8200, PJe: 0802803-23.2016.4.05.8200)


No tocante ao amante na visão do (STF) Supremo Tribunal Federal, embora

sejam parcos os casos levados a Suprema Corte, em um litígio envolvendo a partilha de

bens a uma concubina, firmou-se a tese de que:

(...) para a comprovação da sociedade de fato necessária a

partilha de bens em favor da concubina, é necessária a

demonstração da colaboração desta na formação do acréscimo

patrimonial do concubino. (RE 91121, Relator(a): Min. MOREIRA

ALVES, Segunda Turma, julgado em 24/08/1979, DJ 05-11-1979 PP-

08270 EMENT VOL-01151-03 PP-00859 RTJ VOL-00095-01 PP-

00391).

O caso em testilha, enquadra-se naquelas situações que, não obstante a ciência

da viúva da existência da amante, tendo esta última colaborado com o acréscimo

patrimonial do concubino, oportuno se torna dizer, repita-se, seja até mesmo com

benfeitorias no imóvel; justifica-se o direito da amante a partilha de bens.

Lado outro, temos julgados do (STF) Supremo Tribunal Federal proclamando

que o concubinato não gera direitos entre parceiros e dura o tempo que a vontade de

cada um quiser. (RE 83155, Relator(a): Min. CORDEIRO GUERRA, Segunda Turma,

julgado em 25/05/1976, DJ 16-08-1976 PP-07082 EMENT VOL-01029-01 PP-00214

RTJ VOL-00078-02 PP-00619).

Corroborando com o posicionamento acima, chegou a ser mencionado pelo

Ministro do (STF) Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio em determinado

julgado que por ser o direito uma ciência, acaba sendo impossível confundir os

institutos, vocábulos e expressões, sob pena de prevalecer a babel.(STF, RE nº

590779,2009).
De outra banda, embora também sejam parcos os parcos os casos levados ao

(STJ) Superior Tribunal de Justiça, em um dos casos levados a Corte em que o de

cujus manteve uma relação de 30 anos com a concubina, mencionou o brilhante

Ministro José Arnaldo da Fonseca que:

(...) o magistrado não pode se manter inerte considerando o

princípio de que, na aplicação da lei, deve se atender os fins sociais,

uma vez que o caso se tratava de benefício meramente assistencial,

embora o Ministro entendesse que não constituiu entidade familiar.

(RECURSO ESPECIAL Nº 742.685 - RJ (2005/0062201-1).

Em relação aos requisitos da pensão por morte elencados na Previdência

Social, com efeito, dispõe o artigo 16 da Lei da Previdência Social (BRASIL,1991) que

são beneficiários do regime geral de Previdência Social na condição de dependentes do

segurado o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de

qualquer condição, menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ou que tenha deficiência

intelectual ou mental ou deficiência grave .

Ademais, assevera o artigo 217 da Lei (Regime Ùnico dos Servidores Públicos

Cíveis da União) que são beneficiários de pensão por morte o cônjuge, o companheiro

ou companheira que comprove união estável como entidade familiar.

Assim, em que pese não haver a expressa nomenclatura do amante nos citados

artigos, por analogia, verifica-se que uma vez que o amante hoje vem sendo equiparado

a companheiro e configurando até mesmo união estável (putativa), razão assiste aos

amantes em serem considerados dependentes do de cujus fazendo jus a eventual pensão

por morte. Transcreve-se o artigo 4º da Lei de Introdução ás Normas

do Direito Brasileiro (BRASIL, 1942): ´´ Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o

caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.´´


É imprescindível avançar nas indagações sobre os demais direitos por

vindouros que decorram do reconhecimento da figura do (a) amante, para além dos já

reconhecidos (rateio de pensão por morte e parcela do patrimônio se contribuiu com a

formação deste), isto é, a (o) amante terá direito por exemplo: a tornar-se dependente

para fins de imposto de renda? Será inclusa no plano de saúde? Fará jus ao direito de

utilizar o sobrenome e os direitos de imagem recorrentes deste?

Por fim, é cediço que não tem sido fácil a vida dos amantes nos tribunais,

primeiro porque ainda existe um preconceito da sociedade; segundo porque há carência

de publicações sobre o assunto acaba interferindo nas decisões dos julgadores; terceiro

porque são ínfimas as demandas no judiciário considerando o medo dos amantes de

demandá-los.

Os Efeitos Jurídicos e Direitos Amante:

A jurisprudência nacional argumenta que os efeitos jurídicos só podem ocorrer caso haja

a família paralela, e para isso, é necessário que a união seja considerada "pública,

contínua e duradoura". Sendo necessário essa averiguação, para que sejam gerados os

direitos.

Porém, o amante vai ser caracterizada como um companheiro, não possuindo direito a

metade do patrimônio do falecido da mesma forma que a esposa. O direito deste atingirá

somente a cota da parte dos bens que pertencem ao falecido e que foram adquiridos a

título oneroso na constância da união paralela, devendo ignorar não alcançando os bens

que anteriores a formação dessa união estável.


Conforme se posicionou a jurisprudência Pátria no julgado do Tribunal de Justiça do

Rio de Janeiro abaixo:

"APELAÇÃO CÍVEL. Ação de reconhecimento e dissolução de união estável. Sentença

de procedência, com reconhecimento da entidade familiar entre 1985 e janeiro de 2008.

Apelo do autor visando à declaração do término do vínculo familiar em outubro de

2006. Conjunto probatório que confere suporte bastante seguro para o reconhecimento

da união até janeiro de 2008. Sentença que, todavia, declara comuns os bens

onerosamente adquiridos até janeiro de 2009, merecendo reforma neste ponto, a fim de

retificar-se o termo final para um ano antes. MEAÇÃO SOBRE S BENS

ADQUIRIDOS DURANTE O CONCUBINATO. RECURSO A QUE SE DÁ PARCIAL

PROVIMENTO."

E no mesmo sentido, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul julgou caso similar:

Onde o desembargador José Antônio Daltoé Cezar reconheceu o direto da amante,

fundamentando da seguinte forma:

"Deixando de lado julgamentos morais, certo é que casos como o presente são mais

comuns do que pensamos e merecem ser objeto de proteção jurídica, até mesmo porque

o preconceito não impede sua ocorrência, muito menos a imposição do 'castigo' da

marginalização vai fazê-lo".

Ainda no mesmo caso, o desembargador Rui Portanova se posicionou pelo

reconhecimento da união, votando:


"Não vejo como justo que um relacionamento que durou décadas, e que era de todos

conhecido, pode simplesmente ser apagado do mundo jurídico (...) A partir desse ponto

de vista, é preciso buscar a interpretação da regra que melhor se aproxima do direito

posto sem, contudo, permitir que qualquer das partes obtenha vantagem em detrimento

do direito da outra".

Ambos os tribunais não divulgaram o número dos processos.

Por fim, é essencial aos casos que seja provado o esforço comum para aquisição dos

bens em questão, seja no caso da meação ou da herança.

Em suma, entende-se que caso seja configurada essa união estável, o amante

tem sim o direito à meação, que é a parte do patrimônio que cabe aos companheiros,

assim como o direito à herança, desde que esses bens tenham sido adquiridos na

constância do relacionamento.

STF decide que amante não tem direito à pensão por morte

No dia 11/12/2020, o Supremo Tribunal Federal decidiu que amantes não têm

direito à parte de pensão por morte. O tema não era pacífico na jurisprudência e foi

julgado com repercussão geral no plenário virtual e servirá como orientação para os

demais Tribunais.
O recurso extraordinário nº 1045273, tinha como objeto o reconhecimento de

uma união estável e uma relação homoafetiva concomitantes. Discutia-se também o

impacto que uma decisão favorável do Supremo teria sobre as contas da Previdência

Social, considerando a possibilidade de o benefício se prolongar no tempo, já que a

pensão não se encerraria com a morte de um dos beneficiários.

O Supremo Tribunal Federal já havia enfrentado o mesmo tema, no ano de

2008, ao julgar o RE nº 397762, quando a 1ª Turma decidiu, por maioria, que não

poderia haver a divisão da pensão entre amante e cônjuge.

Com base no precedente, o relator da nova ação, o Ministro Alexandre de

Moraes, negou o pedido. Segundo ele, o STF já havia vedado o reconhecimento de uma

segunda união estável – independentemente de ser hétero ou homoafetiva – quando

demonstrada a existência de uma primeira união estável juridicamente reconhecida,

fundamentando o seguinte:

“Subsiste em nosso ordenamento jurídico constitucional os ideais

monogâmicos, para o reconhecimento do casamento e da união estável, sendo,

inclusive, previsto como deveres aos cônjuges, com substrato no regime monogâmico, a

exigência de fidelidade recíproca durante o pacto nupcial”, afirma o relator, no voto.

Com isso, considerou que a existência de uma declaração judicial de existência

de união estável é óbice ao reconhecimento de uma outra união ocorrida durante o

mesmo período. O voto foi seguido pelos ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar

Mendes, Dias Toffoli, Nunes Marques e Luiz Fux.

O ministro Edson Fachin divergiu. E foi acompanhado pelos ministros Luís

Roberto Barroso, Rosa Weber, Cármen Lúcia e Marco Aurélio Mello.


O ministro Edson Fachin destacou que nesses casos a Justiça deve observar se

houve "boa-fé objetiva". Destacou a mesma lei que Moraes para embasar sua posição -

"Aliás, esta é a condição até mesmo para os efeitos do casamento nulo ou anulável, nos

termos do Código Civil: Artigo 1.561 - Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído

de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos,

produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória", descreveu.

Segundo o ministro que apresentou voto divergente, as relações jurídicas

encerraram com a morte da pessoa, mas os efeitos de boa-fé devem ser preservados,

permitindo o rateio da pensão.

No entanto, prevaleceu o entendimento do relator, quanto à impossibilidade de

rateio da pensão por morte entre a companheira e o (a) amante. A decisão foi

acompanhada pela maioria dos ministros.

Entende-se que a incidência das regras do direito de família nas relações

paralelas somente merece ser aplicadas quando estiver “[...] suficientemente

comprovada, ao longo do tempo, uma relação socioafetiva constante, duradoura,

traduzindo inegavelmente, uma paralela constituição de um núcleo familiar [...]”.

(GAGLIANO, 2008).

Frente a omissão legislativa em tutelar a existência de famílias simultâneas,

derivadas de relações paralelas, deve-se proceder a análise caso a caso afim de se

preservar um dos princípios fundamentais da República Federativa do Brasil, qual seja,

o da dignidade da pessoa humana, descrito no art. 1º, III da Constituição Federal de

1988.
[...] o E. STJ já decidiu essa questão do concubinato, em relação ao dever de

indenizar a parte que prestou serviços domésticos ao companheiro, onde se constituiria

uma sociedade de fato, [...].

E também no julgamento sobre o abandono de ex-amante, o Tribunal de Justiça

do Rio Grande do Sul entendeu que a mulher deveria ser indenizada por ter investido

dinheiro na relação, onde durante 12 anos, a concubina dividiu o parceiro com a sua

mulher oficial. Separado da mulher, o parceiro passou a ter com a ex-concubina uma

relação estável, [...].

Em relação ao regime de bens, entende-se que deve abranger somente o

patrimônio adquirido na constância da relação, devendo ser provado, bem como não

existir uma presunção de que todo patrimônio foi adquirido conjuntamente.

(VARELLA, 2016).

Nessa toada, é possível que seja admitido os direitos de família em

benefício da (o) amante, desde que sejam comprovados alguns aspectos, como “uma

relação socioafetiva constante, duradoura, traduzindo, inegavelmente, uma paralela

constituição de um núcleo familiar. ” De modo, a aparentemente caracterizar como se

união estável fosse, levando ao intérprete a aceitar, de modo excepcional, “a aplicação

das regras do Direito de Família, a exemplo da pensão alimentícia ou do regime de bens

(restrito, claro, ao patrimônio amealhado pelos concubinos). ” (STOLZE, 2008).

[...] registre-se que, no que diz respeito ao regime de bens, a interpretação deva

ser restrita ao patrimônio amealhado pelos concubinos, o que deve ser objeto de prova

específica, não devendo militar a presunção de que todo o patrimônio posterior à


constituição da relação foi obtido com a força de trabalho da (o) concubina (o).

(GAGLIANO, 2019, p. 514).

[...] por tratar-se de relação adulterina ou extraconjugal, teria de ter provado a

chamada sociedade de fato entre os concubinos, ou seja, feito a prova de que contribuiu

com dinheiro ou trabalho para que a sua amante adquirisse um determinado patrimônio.

Isto porque o esforço em forma de capital ou de trabalho, desde que provado, gera

direitos obrigacionais, em que é vedado o enriquecimento de um às custas do outro.

(SILVA, 2018).

[...] o que o STJ está reafirmando é que a relação de adultério não pode ser

protegida pelo direito de família porque não pode ser caracterizada como família.

Quando muito, aplicam-se ao adultério as regras relativas ao direito das obrigações e à

sociedade de fato, na qual só se admite divisão de bens com a comprovação de que

ambos contribuíram para a sua aquisição. Em suma, o simples vínculo afetivo, que

presumidamente existe entre os amantes, não gera direitos de família. (SILVA, 2018).

Ressalta-se que embora existam inúmeras dúvidas quanto ao fato da

existência de uma relação paralela (união estável putativa) de anos em que não se sabe

estar vivendo uma relação paralela, por não ter conhecimento de que o outro é casado,

nesses casos, se comprovado, é devidamente plausível a aplicação das regras do direito

de família.
[...] no campo previdenciário, e sem pôr fim definitivamente à controvérsia no

âmbito do Direito de Família, a 1.ª Turma do Supremo Tribunal Federal, no julgamento

do Recurso Extraordinário 397.762-8, negou à concubina de homem casado (com quem

manteve relação afetiva por 37 anos) o direito de dividir pensão previdenciária com a

viúva.

Referencia:

https://jus.com.br/artigos/87940/amante-nao-tem-lar-nem-pensao-como-assim

https://conteudojuridico.com.br/consulta/Artigos/55352/direitos-do-a-amante

https://www.migalhas.com.br/depeso/359837/os-direitos-do-amante-na-heranca

http://zoroastroteixeira.adv.br/artigo/stf-decide-que-amante-nao-tem-direito-a-pensao-
por-morte/77

https://mimigirlshtinha.jusbrasil.com.br/artigos/945272164/os-direitos-da-amante-no-
ordenamento-juridico-brasileiro

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