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Domingos Henriques António Taiar

Lobolo (Casamento Tradicional)

(Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos)

Universidade Rovuma
Extensão de Pemba
2023
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Domingos Henriques António Taiar

Lobolo (Casamento Tradicional)

Trabalho recomendado na faculdade pelo


Docente da cadeira de Antropologia
cultural de moçambique, curso de
licenciatura em Gestão de Recursos
Humanos, pós-laboral, IIº Ano, 20
Semestre, carácter avaliativo, locionado
por:
Dr. Frederico Leonardo

Universidade Rovuma

Extensão de Pemba
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2023 ii

Índice
CAPITULO I:....................................................................................................................3

1. Introdução......................................................................................................................3

1.1 Objectivo do Trabalho.............................................................................................3

1.1.1 Geral..................................................................................................................3

1.1.2 Específicos........................................................................................................3

CAPITULO II: Lobolo......................................................................................................4

2.1 Conceitos Básicos....................................................................................................4

2.1.1 Lobolo...............................................................................................................4

2.1.2 O casamento......................................................................................................7

2.2 Evolução do lobolo no sul de Moçambique.............................................................7

2.3 Funções do Lobolo...................................................................................................8

2.4 O objectivo do lobolo..............................................................................................9

2.5 Características do lobolo........................................................................................10

2.6 Os requisitos de lobolo..........................................................................................10

2.7 Cerimónia do lobolo nas comunidades Rongas.....................................................11

2.8 A Persistência Da Prática Do Lobolo No Sul De Moçambique............................12

CAPITULO III:...............................................................................................................14

3.1 Conclusão...............................................................................................................14

4. Referencias Bibliográficas...........................................................................................15
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CAPITULO I:
1. Introdução

O presente trabalho tem como objectivo de abordar questões relacionadas com O


“lobolo” em Moçambique como sendo uma das modalidades do casamento muito
comum na região sul do país.

Com este presente trabalho, abordarei o tema desde a fase inicial do processo de
celebração do lobolo sem esquecer - se da formalidade, o significado social, objecto, e
citar relações bibliográficas que servirão de suporte para a investigação, não me
esquecerei também a realização da técnica de entrevista em algumas individualidades
abalizadas da matéria. Na metodologia de pesquisa deste trabalho será realizada,
segundo Gil (2002), Caracteriza-se por ser Descritiva e exploratória pois, para atingir os
objectivos deste estudo, será empregada uma abordagem de pesquisa mista, que
combinará métodos qualitativos. Para se desenvolver o tema usou se varias técnicas de
coleta desde as pesquisas na internet até as consultas bibliográficas de manuais, livros e
materiais em digital. Constitui a estrutura organizacional deste trabalho: Capa,
Contracapa, Índice, Introdução, Desenvolvimento, Conclusão e Referencias
Bibliográficas.

1.1 Objectivo do Trabalho


1.1.1 Geral

O objectivo geral deste trabalho é de compreender os mecanismos que levam o


lobolo ou lobolo a perdurar ao longo, apesar das mutações quem vem sofrendo ao longo
do tempo.

1.1.2 Específicos

Constitui os objectivos específicos deste trabalho os seguintes objectivos:

 Conceitualizar o lobolo concretamente no sul de Moçambique;

 Explicar a evolução do lobolo em Moçambique;

 Apresentar os objectivos, características, e requisitos do lobolo.

 Descrever as cerimónias do lobolo em comunidade Ronga.


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CAPITULO II: Lobolo


2.1 Conceitos Básicos
2.1.1 Lobolo (Casamento Tradicional)
De acordo com o autor José Ibraimo Abudo, a celebração do casamento
tradicional em Moçambique com exigência ao lobolo são regidos por normas
costumeiras, entretanto do sistema de direito moçambicano é mitigado de dualidades
judiciais matrimoniais.

O lobolo é um costume cultivado até hoje no Sul de Moçambique. Segundo esta


tradição, a família da noiva recebe dinheiro pela perda que representa o seu casamento e
a ida para outra casa.

Segundo Taibo (2012) lobolo pode ser entendido como um casamento


costumeiro e recorrente no Sul de Moçambique, uma prática tradicional que envolve o
ku‟lobola (significa dar bens à família da noiva para realizar uma união reconhecida
entre os parentes do noivo e os parentes da noiva). Apoia-se na dinâmica,
transformando-se e reinventando-se ao longo dos tempos pelas interacções sociais dos
indivíduos decorrentes dos processos socioeconómicos. Uma prática que se generalizou
culturalmente na sociedade moçambicana e que hoje, de acordo com as famílias que o
praticam e a região do país, assume diversos contornos, podendo estar inserido no
conflito entre a “tradição”, o sincretismo religioso e os valores ocidentais “modernos”.

De acordo com o trabalho de Taibo (2012), diz que:

O lobolo é caracterizado hoje por sua diversidade e variação,


transitando em perspectivas novas, adoptadas mediante as outras
práticas culturais presentes na sociedade moçambicana e as antigas,
consideradas como fundamentais em uma cerimónia, que devem ser

respeitadas.

Na óptica de Granjo (2006) o lobolo deve ser definido como sendo uma prática
que nos permite compreender e salientar de que forma as representações tradicionais
subjacentes a ele podem ser apropriadas para resolver preocupações conjugais
marcadamente inovadoras. Portanto, nos permite de igual modo, compreender de que
forma se joga nela a significação de todas as partes envolvidas, num quadro em que o
acesso aos antepassados e o controle sobre os descendentes é manipulável em função de
interesses e igualdade de estatutos.
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O Lobolo como uma forma pela qual a união entre um homem e uma mulher é
socialmente reconhecida (Malinowski, 1975). Por seu turno, Junod (1974) vê o lobolo
como troca entre as unidades colectivas que compõem um clã. Uma unidade adquire
novo membro (mulher) e a unidade doadora exige a recomposição através de uma
compensação que lhe permita adquirir outra mulher.

Neste contexto, Furaquim (2016) no âmbito conceptual, supõe que é necessário


definir o lobolo buscando compreender de que forma ele foi instituído, mas também
como foi modificando-se e, especialmente, a maneira como é encarado pela sociedade
moçambicana nos dias que correm. O conceito de lobolo torna-se pertinente neste
trabalho. Pois é parte de universo da cultura, é cultural, institucional, social e simbólico.

O lobolo como sendo uma prática passada de geração em geração, sem influência
ocidental não é a compra da mulher e como prova disso e pela sua relevância resistiu
desde a era colonial, assim como na pós-independência.

O lobolo mantém até hoje o conteúdo social e dizer que ele seja compra, agride
aquilo que é os costumes e a crença e práticas culturais do sul de Moçambique.
Hoje em dia o valor do lobolo depende também das qualidades da rapariga
porque se for uma mulher formada pode custar muito mais carro cobra-se as
qualidades, os investimentos em educação que não aconteciam antigamente.

O lobolo para zona sul de Moçambique, variando de família para a família no


lobolo entram cabeça de gado, galinhas, cabritos, ferramentas valor monetário e outros
bens para os pais, tio, avós da noiva.

O lobolo inseri-se no conjunto de práticas sócio-culturais de alguns contextos do


sul de Moçambique, e desde sempre foi sofrendo algumas transformações, em função de
mudanças a nível social, económico, politico e religioso, porém, como já referiu Granjo
(2005) o seu valor simbólico e cultural nunca foi posto em causa.

O facto é que algumas das características que fazem que o lobolo continue de
modo expressivo hoje são, principalmente: o seu instrumento para superação de
problemas espirituais; a busca pela harmonia social entre vivos e antepassados; e a
inscrição do indivíduo numa relação de redes de parentesco que faz parte de sua
identidade social (Bagnol 2008). Em síntese, o lobolo mantém-se e, aparentemente,
reforça-se de acordo com as situações sociais, “reproduzindo-se hoje num contexto em
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que o discurso público generalizadamente aceita (e por vezes enfatiza) a tradição”


(Granjo 20).

Fonte: chegada da família do noivo (pelo autor 2023)

Fonte: Recepção da família do noivo, (pelo autor, 2023)


7

Fonte: Iniciando a cerimônia: apresentação e ordenação dos bens (pelo autor, 2023)
Segundo Taibo citando Jeffreys, lobolo é o substantivo que designa a
transferência de gado entre os negros sul- africanos, transferência que dá poderes
paternais, a posse das crianças, o lobolo legitima a manutenção e controle da
descendência patrilinear mas não estabelece, necessariamente, a união entre um homem
e uma mulher. Jeffreys justifica o seu posicionamento: a minha insistência de que o
`lobolo´ é preço da criança e a única definição verdadeira e correta, baseia-se no facto
de que durante trinta anos de magistratura na Nigéria, iniciados em 1915, depressa
aprendi que dote, como o `lobolo´ é ali chamado, comprava o direito aos filhos da
mulher (…) pelo pagamento do dote, o noivo adquire o direito de reter os filhos da
mulher, mas não paga o direito de reter a mulher” (Ibid.: 10).

2.1.2 O casamento
O casamento é a união voluntária e singular entre um homem e uma mulher, com
propósito de constituir uma família mediante a comunhão plena de vida, nos termos do
artigo 7 da Lei de Família.

Casamento, matrimônio ou matrimónio é um vínculo estabelecido entre duas


pessoas, mediante o reconhecimento governamental, cultural, religioso (vide casamento
religioso) ou social e que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, cuja
representação arquetípica é a coabitação, embora possa ser visto por muitos como
um contrato. Normalmente, é marcado por um ato solene.

2.2 Evolução do lobolo no sul de Moçambique


Dados históricos apontam para modificações significativas na maneira como o
lobolo foi realizado ao longo do tempo em Moçambique. No período pré-colonial, o
lobolo era realizado com esteiras e objectos de vimes. Com o início do comércio
costeiro foram introduzidos novos objectos. Frei João dos Santos, missionário em
Moçambique no fim do século XVI, reporta que cafres destas terras compram as
mulheres com que casam a seus pais ou mães, e por elas lhe dão vacas, panos, ou
enxadas, cada um segundo sua possibilidade e segundo a mulher.

No início do século XIX, os bois eram um importante meio de prestígio, de


acumulação de riqueza, de acesso às mulheres e filhos e de garantia de segurança
alimentar. Porém, nos anos 1850, quando os primeiros moçambicanos da Região Sul
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começaram a procurar trabalho na Africa do Sul, o lobolo começou a ser realizado com
recurso a libras esterlinas, em paralelo com o uso de enxadas e bois (Taibo citando
Junod, 1996, pp. 254-256). Contudo, o gado bovino permaneceu a referência na
determinação do valor a ser dado. Durante o período colonial, o governo português
mostrou um interesse particular pelo lobolo. Assim, nos anos 1930, as autoridades
coloniais estabeleceram um valor a ser pago pelo lobolo para controlarem os
movimentos de gado. Era obrigatório comunicar à administração a transferência de gado
de um grupo para outro.

Na mesma altura, a Igreja Católica, visando «civilizar» a população, agiu contra


o lobolo, proibindo os recém-convertidos de o praticarem e encorajando os casamentos
canónicos. Na mesma linha, depois da independência, em 1975, o governo da
FRELIMO definiu uma estratégia que visava erradicar o que chamava «valores
retrógrados da sociedade tradicional», que incluíam o lobolo. A posição da FRELIMO
está claramente expressa na citação seguinte: «A sociedade, compreendendo que a
mulher é uma fonte de riqueza, exige que seja pago um preço. Os pais requerem do
futuro genro o pagamento de um preço, o lobolo, para cederem a filha.

Assim, em 1978, o projecto de Lei da Família, capítulo I, artigo 4, sobre a


consensualidade, define: O casamento não é um negócio e não se destina a obter em
troca qualquer vantagem material para os cônjuges ou seus familiares. O Estado
combate, em particular, a entrega de quaisquer valores ou bens a título de lobolo,
gratificação, apelamento ou indemnização.

2.3 Funções do Lobolo


As funções do lobolo eram por conseguinte, múltiplas. Em primeiro lugar
representava uma compensação (no sentido lato) e não um dote nem um preço de
compra como erroneamente alguns o têm considerado. Em segundo lugar, legalizava a
transferência da capacidade reprodutora da mulher para o grupo familiar do marido, de
que passava a fazer parte. Em terceiro lugar dava carácter legal e estabilidade à união
matrimonial. Em quarto lugar tornava o marido e respectiva família responsáveis pela
manutenção e bem-estar da esposa. Em quinto lugar, legitimava os filhos gerados que se
consideravam sempre como pertencentes à família que havia pago o lobolo. Em sexto
lugar, representava um meio de aquisição de outra unidade reprodutora para o grupo
enfraquecido pela cedência de uma das suas mulheres
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Segundo Ferreira no seu artigo o Problema do Lobolo revela claramente o caráter


do lobolo, na qual divide em três vertentes:

 Obrigação que pendia sobre o grupo familiar da esposa de apresentar uma


substituta no caso de comprovada esterilidade da lobolada;

 A obrigação dos irmãos mais velhos ajudar os mais novos, na obtenção do


lobolo;

 A continuação da viúva no grupo familiar do marido.

Assim, ao casar-se, a mulher tornava-se mais do que esposa de determinado


indivíduo. Tornava-se membro da família do marido, não sendo o sentido do termo
“família” aqui confinado às outras mulheres e filhos desse marido, mas englobando
todos os respectivos parentes agnáticos (tios paternos, irmãos filhos do mesmo pai e
filhos por ele havidos).

2.4 O objectivo do lobolo


O objectivo de lobolo é precisamente negar a mulher o controlo direito sobre os
direitos de propriedade. O só se torna simbólico quando o acesso da mulher a
propriedade deixar de ser mediado por um contracto de casamento.

Os autores Isaacman e Stephan (1984:14) concordam de igual modo que o lobolo


não seja uma prática própria das sociedades matrimoniais, mostraram que esta tinha
excepção na algumas populações da região norte sobre tudo aqueles que residem na
zona costeira onde o islamismo teve uma grande aceitação introduzindo uma serie de
mudança nas forma de organização das sociedades matrimoniais, como reforço da
família assim como os casamentos prematuros, na mudança de vestir das mulheres
forçadas a cobrirem mais o corpo.

No extenso artigo mostrou-nos que o lobolo já era um tema de discussão desde o


período colonial, no discurso religioso cristão católico e protestante que o casamento
missionários em exigir dos seus fies em casar com mulher educada nas missões em
abandono da esposa lobolada.
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2.5 Características do lobolo


Entretanto, de acordo com Felisberto Cipiri são vários os aspectos que
caracterizam o lobolo numa sociedade:

 Serve de protector da mulher e dos seus filhos de uma fatalidade, alem de que o
filho do lar fossem trata do com mais carinho, e em caso de morte da mulher os
filhos do casal passem a ser ao encargo dos familiares do marido;
 O lobolo leva maior estabilidade matrimonial pois trata-se de uma
responsabilidade assumida pela família;
 No caso da morte da mulher o marido tem a obrigação de acender a uma das
irmãs da falecida para se tornar sua esposa;
 No caso da morte do marido, para a purificação desta deve manter relações
sexuais com os dois irmãos do falecido no acto cerimonial.

2.6 Os requisitos de lobolo.


Para o casamento os pais da noiva através dos mais velhos elaboram uma lista de
requisitos necessários para o efeito:

 Comida;
 Bebida;
 Dinheiro;
 Vestuário para os pais da noiva, avós e tios. Como ilustra na imagem abaixo:
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Fonte: Apresentação dos presentes destinados à família da noiva (pelo autor, 2023)

2.7 Cerimónia do lobolo nas comunidades Rongas


O lobolo começa com a chegada do noivo a casa da noiva, um pouco antes da
hora marca para o início da cerimónia, segundo Granjo no seu artigo o casamento do
meu amigo Jaime, Isto porque, para além de haver bens a conferir e estratégias a
combinar, essa cerimónia não se faz sem que antes se efectue uma outra, trata-se de uma
invocação e conversa com os espíritos dos antepassados da linhagem, que idealmente
deverá ser realizada antes do nascer do sol.

Fonte: A chegada da noiva e os familiares para a celebração do casamento.

À cerimónia espiritual inicia em volta do dinheiro e restantes bens a oferecer em


lobolo, o noivo traçou um círculo de rapé. Dentro dele, pousou um copo cheio de vinho
tinto e a garrafa de que tinha sido servido. Durante mais de meia hora, conversou-se
amenamente, enquanto se esperava que os espíritos se aproximassem e aceitassem a
dádiva. O seu tio paterno identificou então genealogicamente o noivo e informou os
antepassados de que ele pretendia lobolar hoje a mãe dos seus filhos. Apresentando
desculpas por só agora essa formalidade ser cumprida, pediu a autorização dos
antepassados e a sua protecção para que tudo corresse bem. Ibid

A conferência do dinheiro e objectos (a que se juntam figuras importantes da


família que não irão à é também a altura para combinar pormenores e funções, já antes
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propostas individualmente às pessoas respectivas). A delegação será apresentada pelo


padrinho de casamento dos pais do noivo, cabendo a uma respeitada “tia” (a filha do tio-
avô paterno) entregar os bens do lobolo. A filha do irmão do pai vestirá a noiva.
Segundo Granjo

Findos os acertos, a delegação põe-se a caminho em direcção à casa da mãe da


noiva. Juntam-se agora a nós a irmã mais nova do noivo, a irmã da sua mãe e uma
vizinha, que serve de testemunha popular da cerimónia. Ao aproximarmo-nos do nosso
destino, iniciam os cantos que anunciam a chegada do noivo.

2.8 A Persistência Da Prática Do Lobolo No Sul De Moçambique


Em Moçambique, a prática do lobolo foi geralmente entendida como sendo uma
expressão da «tradição» e, consequentemente, um conjunto de práticas, crenças e
conhecimentos passados de uma geração para outra de forma imutável. As tradições
foram vistas durante muito tempo como imóveis, incluindo pelas ciências sociais.
Porém, estudos recentes mostram que as tradições nunca foram estáticas e constituem
um recurso maleável constantemente adaptado (Spiegel e McAllister, 1991), uma vez
que resultam de processos sócio-económicos, são determinadas por eles e demonstram
grande capacidade de adaptação (Bagnol, 2008:268).

De salientar que podem igualmente ser observadas modificações significativas.


Devido a factores como epidemias do gado bovino, seca, fome e tipo de comércio, os
bens utilizados para o lobolo passaram de produtos agrícolas para produtos industriais.
As mudanças económicas não só modificaram o tipo de presentes dados, como as
relações de poder entre os indivíduos. O lobolo providenciado pelos familiares do noivo
criava uma dependência dos jovens em relação aos mais idosos relativamente à
aquisição de mulheres.

Aspectos políticos e religiosos tiveram igualmente impacto significativo sobre as


práticas matrimoniais. As conversões cristãs, visando «civilizar» a população local,
agiram contra o lobolo. O governo da FRELIMO manteve uma posição similar e lutou
pela emancipação da mulher e contra a sua dominação exercida pelo homem. Para
serem membros da FRELIMO, os indivíduos tinham de demonstrar um comportamento
politicamente correcto. Por exemplo, durante a II Conferência da OMM, em 1976, foi
13

definido que uma mulher que aceitasse o lobolo não poderia ser escolhida para uma
posição de liderança na organização (Bagnol citando Welch, 1982, p. 23).

As cerimónias do lobolo com o passar do tempo há muitas adaptações que vem


sofrendo ao longo do tempo. Segundo Bagnol (2008: 269) uma delas é a tendência no
sentido do aumento do número de casais que combinam diferentes tipos de casamentos,
considerada uma prática relativamente nova, e demonstrando o contínuo processo de
inovação e sincretismo.

Uma das maiores modificações que registei relativamente ao sistema descrito na


literatura colonial sobre o Sul de Moçambique é que, actualmente, o lobolo é
providenciado pelo noivo e não pela sua família. O lobolo recebido por uma irmã já não
é utilizado para adquirir uma mulher para o filho (Bagnol citando Kuper, 1981 e 1982,
pp. 108-121).

Os motivos para a realização do lobolo revelam também diferenças profundas. Se


para alguns são o resultado de uma ligação a modelos de crenças, valores e
comportamentos, não o são para todos.

Bagnol trás um exemplo concreto de modificações numa cerimónia de lobolo,


“Paulo e Cecília deram um lenço e uma bebida a uma tia que se tinha sentido ofendida
quinze anos antes por não ter recebido o presente no lobolo da mãe de Cecília. No caso
de Amélia e José, o casal foi alvo de pressões exercidas quer pelas famílias, quer pelos
espíritos. José foi forçado pelos irmãos da namorada a realizar a cerimónia de
hikombela mati e a morte de um dos fetos, provocada pelos antepassados, obrigou-o a
realizar o ritual do lobolo. Muzondi pagou uma dívida contraída cem anos antes pelo
seu antepassado quando raptou a senhora Ntivane. Para pagar a dívida, ele deu o lobolo
a uma mulher em nome dos espíritos Ntivane. Estas situações ilustram tanto o lugar que
estas cerimónias de lobolo ocupam no universo cosmológico dos indivíduos e grupos
sociais como os tipos de pressões sofridas”.
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CAPITULO III:
3.1 Conclusão
Concluindo e de uma forma resumida embora com dificuldades na pesquisa da
matéria a abordar, que o lobolo legitima a subordinação e discriminação contra a
mulher. Conseguiu retirar alguns aspectos essenciais que focaram relevância
importância na investigação.

O lobolo se relaciona principalmente ao controlo do marido sobre os recursos da


casa e mais concretamente com a produção agrícola e a exclusão da mulher dentro do
processo de tomada de decisão na família.

O facto de que o homem é quem lobola a mulher pagando um valor de


compensação permite-lhe assumir de totais responsabilidades sobre ela transformando-a
em sua propriedade.

Retirei também alguns aspectos positivos em que o lobolo legitima que os filhos
nascido do casamento, bem como os filhos que por ventura a mulher tenha fora do
casamento.

Como aspectos negativos do casamento baseando no lobolo em que a não


existência de filhos podem implicar a sua devolução ou a vida de uma outra mulher na
mesma família para cumprir a razão de ser lobolo.

Porem a realização do casamento em cartório inutiliza esta possibilidade mais uma vez
a incoerência.

Deste trabalho é então a de que o lobolo continua a constituir uma prática


importante na sociedade moçambicana mas concretamente nas comunidades sul-
africana do país, na medida em que inscreve o indivíduo numa rede de relações de
parentesco e de aliança tanto com os vivos como com os antepassados. Por este motivo,
apesar da existência de formas de casamento civil e religioso, o lobolo sobrevive e
transcende o casamento enquanto tal, cobrindo áreas que não são abrangidas por outras
formas de união — a relação espiritual com os antepassados. E é precisamente esta
15

característica que torna o lobolo único e que explica grande parte da sua força
ontológica e da sua persistência.

Portanto, o lobolo faz parte da identidade individual e colectiva ligando seres


humanos e mortos numa rede de interpretação do mundo e no conjunto de tradições em
contínuo processo transformação.

4. Referencias Bibliográficas
 Abudo, José Ibraimo. (2005). Direito da família. Maputo, Setembro de 2005.
 Bagnol, Brigitte. 2008. “Lobolo e espíritos no sul de Moçambique”. Análise
Social, n. 187: 251-272. GRANJO, Paulo. 2004. “O lobolo de meu amigo Jaime:
um velho idioma para novas vivências conjugais”. Travessias - Revista de
ciências sociais e humanas em língua portuguesa, n. 4: 47-78.
 Brigitte Bagnol, Lobolo e espíritos no Sul de Moçambique, Análise Social, vol.
XLIII (2.º), 2008, 251-272.
 Dissertação (Mestrado em Antropologia Social): UFPR.
 Dona, Maria da Luz – Macurungo – Machope Ronga.
 Dona, Helena Cassamo – Pioneiros – Maconde.
 Honwana, Alcinda Manuel. (2002). Espíritos vivos, tradições modernas:
possessão de espíritos e reintegração social pós-guerra no sul de Moçambique.
Maputo: Promédia.
 ISAACMAN, Barbara e Stepham, June. (1984). A mulher moçambicana no
processo de libertação, Maputo, Instituto Nacional do livro e disco.
 Sahlins, Marshall. (1990). Ilhas de história. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.
 Santana Jacimara Souza. (2009). Mulheres de Moçambique na revista Tempo: o
debate sobre o lobolo (casamento). Revista de História.
 Taibo, Ruben Miguel Mário. (2012). Lobolo (s) no Moçambique
contemporâneo: mudança social, espíritos e experiências de união conjugal na
cidade de Maputo.
 Taibo, Miguel Mário. (2012). Lobolo (s) no Moçambique contemporâneo:
mudança social, espíritos e experiências de união conjugal na cidade de
Maputo, dissertação de mestrado, Curitiba.

Artigos:
16

 Ferreira António Rita, o problema do Lobolo I parte, In Notícias 14/05/1971


 Ferreira António Rita, o problema do Lobolo II parte, In Notícias 18/05/1971
 Ferreira António Rita, o problema do Lobolo III parte, In Notícias 26/05/1971
 Granjo Paulo, O lobolo do meu amigo Jaime.

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