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Universidade Aberta ISCED

Faculdade de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia

Antropologia cultural Moçambicana

Delfina Samuel Velemo-71220919

Quelimane, Maio de 2023.


Universidade Aberta ISCED

Faculdade de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia

Antropologia cultural Moçambicana

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura em
Ensino de Geografia da UnISCED.
Tutor: Eugénio Feliciano Cossa, MSc.

Delfina Samuel Velemo-71220919

Quelimane, Maio de 2023


ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 4

1.1. Objectivos.................................................................................................................... 4

1.1.1. Geral ..................................................................................................................... 4

1.1.2. Especifico ............................................................................................................. 4

2. METODOLOGIA ............................................................................................................... 5

3. O LOBOLO ........................................................................................................................ 6

3.1. Conceito e história ....................................................................................................... 6

3.2. Práticas do lobolo em Moçambique ............................................................................ 6

3.3. Importância do lobolo no contexto simbólico e social................................................ 8

3.4. Consequências do labolo ............................................................................................. 9

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 10

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 11
1. INTRODUÇÃO

A abordagem sobre o lobolo insere discussões teóricas que influenciaram a sua concepção. A
pretensão é discutir sobre o conceito de lobolo à luz de algumas perspectivas antropológicas.
Com efeito, a teoria evolucionista predominante nos finais do século XIX moldou uma
abordagem vincada na origem das relações de parentesco inerentes a este ritual, sendo que
uma das preocupações foi o papel do tio materno na cerimônia de casamento.

As definições do conceito de lobolo, neste âmbito, realçavam a questão econômica como o


elemento explicativo e determinante do ritual. Porém, a abordagem estruturo-funcionalista –
Radcliffe-Brown é uma das figuras centrais – sublinha a dimensão social como o fundamento
para a compreensão das lógicas que norteiam o lobolo.

Posteriormente, estruturalistas como Lévi-Strauss reforçam a existência de lógicas de


reciprocidade e compensação social entre os grupos como fatores importantes na análise do
conceito. Esta é a súmula de uma discussão mais complexa sobre o casamento e o parentesco
em África.

Em Moçambique o histórico do lobolo remota desde o período antes da dominação colonial,


como já fez menção Bagnol (2008), e desde então até aos dias que correm foi se revestindo
de novas formas de procedimento, como consequência das inúmeras motivações e condições
externas que envolvem cada situação e momento histórico, porém mantendo o seu valor
sociocultural que se traduz na legitimação conjugal, no controlo e regulação da descendência,
dignificação das partes envolvidas e a relação com os antepassados, como assim demonstra
Granjo (2005).

1.1. Objectivos
1.1.1. Geral
 Estudar o lobolo em Moçambique
1.1.2. Especifico
 Falar da história, do costume e prática do lobolo;
 Mencionar a importância do lobolo;
 Apresentar as consequências do loblo;
2. METODOLOGIA
Para a elaboração do presente trabalho, foram feitas pesquisas bibliográficas na biblioteca
escolar assim como, foram feitas buscas em manuais e artigos científicos disponibilizados
pela internet
3. O LOBOLO
3.1. Conceito e história

Vários conceitos foram usados por diversos autores para definirem o lobolo. De acordo com
Jeffreys (1951) lobolo é o preço da criança ou seja, é o meio através do qual o pai tem a
guarda dos filhos, por esse facto considerou o lobolo igual a filhos.

Numa perspectiva diferente Radcliffe-Brown (Sd) defendeu que lobolo é a compra da mulher
pela família do homem. Esta cerimónia consiste no pagamento de um valor em dinheiro ou
em género, à família da mulher, como forma de compensar o vazio causado pela sua saída da
casa dos pais.

Seguindo a lógica de Radcliffe-Brown, Junod (1996) referiu que a festa do lobolo é toda
cerimónia relacionada com o pagamento do lobolo que se faz na aldeia da noiva. Esse estudo
foi desenvolvido a quase uma centena de anos no ceio da comunidade tshonga do sul do
Save, onde Junod viveu e vivênciou os factos.

Para Cipire (1992) lobolo é a troca de serviços entre as famílias do noivo e da noiva, e
consiste na observância das regras tradicionais sobre o casamento. Por seu turno Granjo
(2005) vem dizer que lobolo é uma relação mutua entre duas pessoas e um grupo de parentes.
Esta conclusão foi tomada após o acompanhamento de uma cerimónia de lobolo num dos
bairros periféricos da cidade de Maputo, onde desenvolveu o seu trabalho de campo e por fim
colheu as experiências dos participantes

3.2. Práticas do lobolo em Moçambique

Às mulheres loboladas, entre os Tsonga, são imputadas responsabilidades e obrigações –


envolvendo dívida, honra e prestígio – que não se limitam ao mero papel de reprodução.
Neste sentido, justifica-se, pelo menos neste grupo, a relação entre o lobolo e a união
conjugal. O exemplo dos Bavenda citado por Jeffreys ilustra uma variação das regras e a
complexidade do conceito, duas características aplicáveis aos subgrupos Tsonga do Sul de
Moçambique.
António Rita-Ferreira reforça a perspectiva coletiva de compensação entre os grupos
afirmando que o lobolo “era considerado como uma troca de serviços entre duas famílias
pertencentes a clãs diferentes; uma delas cedia à outra, a capacidade procriadora de uns dos
seus membros, e para ser compensada pela perca, recebia determinados bens (lobolo) que,
normalmente, eram destinados a aquisição de uma noiva para um dos irmãos da recém-
casada” (Rita-Ferreira, 1971: 1). No entanto, Rita-Ferreira não compactua com a perspectiva
meramente econômica do ritual demonstrando o que designou de “funções múltiplas do
lobolo”:
 Em primeiro lugar representava uma compensação (no sentido lado) e não um `dote´
nem um `preço de compra´ como erroneamente alguns o têm considerado.
 Em segundo lugar, legalizava a transferência da capacidade reprodutora da mulher
para o grupo familiar do marido, de que passava a fazer parte. Em terceiro lugar dava
caráter legal e estabilidade à união material.
 Em quarto lugar tornava o marido e a respectiva família responsáveis pela
manutenção e bem-estar da esposa.
 Em quinto lugar, legitimava os filhos gerados que se consideravam sempre
pertencentes à família que havia pago o lobolo.
 Em sexto lugar representava um meio de aquisição de outra unidade reprodutora para
o grupo enfraquecido pela cedência de uma das suas mulheres (Ibid.).

Apesar dessas diferentes formas de ver este fenómeno, grande parte das famílias ainda faz
pressão para que o lobolo seja efectivado em pleno, seguindo todos os trâmites
convencionados e aplicados ao longo de gerações, ignorando aquilo que são as percepções
individuais ou de determinados grupos minoritários. O lobolo tem valor simbólico para os
seus praticantes, e esse valor pode ser encontrado nos pressupostos tradicionais,
socioculturais e de procedimento que as famílias sempre fizeram passar ao longo dos tempos,
e isso não é extensivo aos que não o praticam.

O lobolo tem componente tradicional que vai passando de geração em geração em forma de
legado cultural, onde o seu abandono pressupõe uma ruptura com o passado, um desprezo da
nossa história, perda de identidade cultural e a sociedade não quer se sentir a trair a sua
história e os seus antepassados. Portanto, o lobolo é importante dentro do seu contexto de
produção.
Em estudos relativamente recentes como os de Welch (1982) e Loforte (2000) encontra-se
associada a ideia de lobolo o valor da compensação matrimonial. Trata-se de um valor que a
família do homem entrega para família da mulher, como condição para que está mulher então
transaccionada passe a pertencer a família do homem. O ritual de entrega de uma mulher à
outra família visando uni-los como homem e mulher não é algo recente e nem exclusivo de
um contexto, ele ocorre em todas as formas de organização social, segundo os padrões de
representação que cada contexto adoptou ao longo do seu processo de socialização.

No contexto de Moçambique, com particular destaque para a região sul do Save, atribui-se a
essa prática sociocultural o nome de lobolo, entretanto dentro deste vasto território existem
regiões onde este tipo de união conjugal tem outras designações e, eventualmente, outras
formas de procedimento. É importante retermos que as famílias precisam umas das outras
para se edificarem e construírem uma sociedade almejada.

3.3. Importância do lobolo no contexto simbólico e social

O lobolo inseri-se no conjunto de práticas sócio-culturais de alguns contextos do sul de


Moçambique, e desde sempre foi sofrendo algumas transformações, em função de mudanças
a nível social, económico, politico e religioso, porém, como já referiu Granjo (2005) o seu
valor simbólico e cultural nunca foi posto em causa.

Apesar das transformações que o lobolo vem sofrendo ao longo dos tempos, ele ainda
desempenha, dentro das cidades e no meio rural, um papel social de regulador e garante da
estabilidade conjugal, familiar e social dos indivíduos em sociedade, assim defende Bagnol
(2008) e tantos outros autores, dentro das suas perspectivas de abordagem.

Neste contexto os indivíduos são socializados a pensarem o lobolo como uma máquina de
organização social e que a sua recusa é a razão de um série de infortúnios no meio conjugal,
que se traduzem em problemas físicos, mentais e espirituais das crianças nascidos dessa
relação, que depois se transformam em discussões e troca de acusações entre o casal as
famílias.

A sociedade é composta por um conjunto organizado de indivíduos que comunga dos


mesmos valores, valores esses que vão sendo repassados ao longo das gerações. Esta coesão
faz com que o grupo maior que muitas vezes é “tradicionalista” ou “africanista”, expressão
usada por Welch (1982) para fazer alusão aos grupos que por nada abrem não dos seus
valores históricos e sócio-culturais, tenha mais vantagens em relação ao grupo menor que já
vem com visões “modernizadas”.

Assim, o lobolo é importante dentro do seu contexto de produção, como já fiz menção Granjo
(2005) o lobolo não tem, e ainda esta por vir um rival a altura capaz de o substituir. Este
prática está incorporada dentro do seu contexto de produção e as tentativas de ruptura com
esta instituição resultarão em fracasso, porque esta mesma sociedade, de forma consciente ou
inconsciente, acredita que o lobolo desempenha múltiplas funções dentre as quais a de
garantir a coesão social, a estabilidade conjugal e a harmonia familiar, Bagnol (2008).

3.4. Consequências do labolo

O lobolo é uma prática sociocultural africana. Ele visa compensar a saída da mulher da sua
família para o casamento, sabe-se que na família africana a mulher além de procriar ela
também produz (na agricultura familiar), ora quando ela é subtraída da sua família original há
um déficit. Tal déficit é compensado pelo lobolo, hipoteticamente.

O lobolo é importante porque legitima o matrimónio tradicional e garante a coesão,


protecção, estabilidade na vida conjugal. O lobolo cria harmonia social e garante, ainda, a
descendência e a guarda da mulher na família do noivo.

E, como consequência da prática de especulação no acto do lobolo constatou-se evidências de


violência doméstica que, algumas vezes, resulta na morte da mulher lobolada. Quando assim
acontece surgem relações tensas entre famílias envolvidas no laço matrimonial podendo até
provocar o rompimento de compromissos.

Do mesmo modo, quando o homem julgar que a mulher não está cumprindo seu dever como
esposa o homem tem a prerrogativa de exigir a devolução da esposa aos seus pais ou
familiares. Isto também acontece nos casos em que o lobolo for mal cumprido durante a
união conjugal. O lobolo incompleto implica a obrigatoriedade de se lobolar mesmo após a
morte da esposa. Conclui-se, que o lobolo é uma prática sociocultural importante nas famílias
africanas uma vez que através dele se selam os laços de união e familiaridade entre duas
famílias distintas.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O lobolo é colocado no centro das relações conjugais no contexto da zona sul de


Moçambique, existindo, inclusive, situações em que a família impõe esta forma de união em
detrimento do casamento civil, por considerá-lo mais significativo dentro deste contexto
sócio-cultural. Como já fizemos menção ao longo deste trabalho, o lobolo desempenha no seu
contexto de produção um papel de extrema importância, mesmo de forma inconsciente, ele
funciona como um elemento regulador da estabilidade conjugal e da harmonia familiar, e o
seu não cumprimento pressupõe represarias de âmbito social.

Entendemos neste trabalho que o lobolo ainda estrutura as relações individuais e colectivas,
porém, é necessário pensar em novas formas de olhar para este fenómeno porque a
abordagem estruturalista já começa a se mostrar limitada para dar resposta a determinadas
questões relacionadas com esta prática, a julgar pelo abandono de determinados grupos
sociais que são, igualmente, frutos desta sociedade, deste contexto que pariu o lobolo.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bagnol, Brigitte 2008. Lovolo e espíritos no Sul de Moçambique, in Analise Social V.XLIII
(2º), Lisboa: Revista do Instituto de Ciencias Sociais da Universidade de Lisboa, Pp 251 –
275.

Brown, Radcliffe (Sd). Estruturas e função nas sociedades primitivas. Lisboa: edição 70.
Cipire, Felizardo 1992. A educação tradicional em Moçambique, Maputo: Emedil.

Granjo, Paulo 2005. Lobolo em Maputo: Um velho idioma para as novas vivências
conjugais, Porto: Campo das Letras – Editores, S.A.

Jeffreys, M.D.W 1951. Lobolo é o preço da criança, (Sl): African. Junod, Henri. A, 1996.
Usos e costumes dos bantu-1, Maputo: Arquivo Histórico de Moçambique.

Lévi-Strauss, Claude 1970. Antropologia estrutural dois. Rio de Janeiro: tempo Brasileiro.

Loforte, Ana Maria 2000. Género e poder entre os tsongas de Moçambique, Maputo:
Promédia,.

Martínez, F. Lerma 2003. Antropologia cultural: Guia para o estudo, Paulinas, Maputo: 4ª
edição. Sperber, Dan 1975.

Welch, Gita Bernardo Honwana 1982. O lobolo: Por uma estratégia adequada, tese de
licenciatura, Faculdade de direito, Maputo: Universidade Eduardo Mondlane.

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