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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Ciências de Educação


Curso de Licenciatura em Ensino de Biologia

Rituais de Chuva entre os diferentes grupos étnicos de Moçambique

Marília Filipe Mathevuie: 21220911

Magude, Março de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED
Faculdade de Ciências de Educação
Curso de Licenciatura em Ensino de Biologia

Rituais de Chuva entre os diferentes grupos étnicos de Moçambique

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura
em Ensino de Biologia da UnISCED.

Tutor:

Marília Filipe Mathevuie: 201520222

Magude, Março de 2023


Índice

1. Introdução…………………………………..……………….………………….4
1.1.Objectivo geral………………………………………………………………….4
1.2.Objectivos específicos…………………………………………………………..4
2. As ambiguidades Etnográficas entre os diferentes grupos étnicos de Moçambique:
fundamentação teórica…………………………………………………………..5
2.1.Os grupos étnicos e culturais…………………………………………………..6
3. As aporias dos rituais de chuva entre os diferentes grupos étnicos…………….6
4. A critica existencial de rituais de chuva na actualidade……………………….7
5. Conclusão……………………………………………………………………..9
6. Referencia bibliográfica………………………………………………………10
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1. Introdução

Moçambique é um pais que possui uma variedade de línguas. São mais de 40 línguas que se
fala; possuindo um vasto grupo étnico diferente. A temática proposta nesta pesquisa é: Rituais
de Chuva entre os diferentes grupos étnicos de Moçambique.

Aqui queremos trabalhar com diferentes etnias e refletir sobre o uso dos rituais para comunicar
com os antepassados, pedindo chuva. O Moçambique a muito tempo, vem praticando os rituais
para pedir chuva e proteção as suas famílias; desde os habitantes mais antigos ate a civilização
se pratica os diferentes rituais como é o caso de rituais de iniciação, masculina (feita em quase
todo o pais) e feminina (predominante no centro e sobretudo, norte do pais), rituais de ukanyi,
bebida de canhú (predominante no sul).

Assim, separamos esta pesquisa para falarmos sobre os rituais de chuva em Moçambique, a
cultura e o seu impacto. Onde iremos perceber o impacto histórico na modificação da cultura
desde antes da colonização ate depois e agora. Portanto, traremos alguns temas já
desenvolvidos sobre o tema em estudo.

1.1.Objectivo geral.

Refletir sobre os rituais de chuva entre os diferentes grupos étnicos.

1.2.Objectivos específicos.

Caracterizar as ambiguidades etnográficas entre diferentes regiões de Moçambique;

a. Descrever os rituais de chuva em Moçambique; e


b. Explicar as implicações etnográficas à contra crença actualmente.
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2. As ambiguidades Etnográficas entre os diferentes grupos étnicos de Moçambique:


fundamentação teórica.

Neste subtema, vamos compreender como a cultura em Moçambique influencia bastante os


povos e – sobretudo no como diverge entre os diferentes grupos: norte, centro e sul. Todavia,
é preciso lembrarmos que todo tipo de ritual, inclusive de chuva, já era praticada entre os
primeiros habitantes de Moçambique: os Khoisan e o povo Bantu nos anos 300. E, por
conseguinte, todos os povos que viriam depois praticavam o mesmo ofício; estamos a falar dos
Khoisan, Reinos e Impérios antigos. Na sua organização social, a população Bantu venerava
os antepassados “pedindo chuva, proteção e saúde para si e para todos os seus membros da
sua aldeia ou comunidade”, (LANGA e JEMUCE, 2021: 45). Essas cerimónias que realizavam
eram rituais outras cerimónias religiosas.

“Os chefes das linhagens orientavam as cerimonias magico – religiosa. Nessas cerimónias,
estes chefes invocavam a chuva, pedindo os antepassados a fertilidade do solo, a proteção para
caca e para viagens, a estabilidade pratica e o sucesso das actividades económicas. Os chefes
eram considerados ligação entre os vivos e os mortos” (Ibidem: 46).

Os povos que inicialmente habitaram em Moçambique, tinham como ponte dos céus, os chefes.
Aqui não existia necessariamente alguma forma de religiosidade, ou, se existisse era ainda na
sua forma primitiva. Ate porque faltara muito anos para a penetração árabe – persa e
portuguesa. Antes disso, podemos dizer que a cultura entre os povos era basicamente a mesma.
Ate que os árabes invadem Moçambique. Tendo como um dos factores da invasão a religião,
pois a “religião islâmica defendia que eles devam expandir para vários lugares com o
objectivo de conseguir mais fiéis” (Ibidem: 57). Sendo assim, a sua religião teria se instalado
em Moçambique.

Assim como ocorrera nos seculos mais tarde, no final da segunda metade do seculo XV, quando
o navegador Português, Vasco da Gama invade também Moçambique e tendo começado a fixar
as suas feitorias em Sofala em 1505; mas a partir de 1300 começaram a surgir povoações
islâmicas (Sancul, Songage) e com a chegada dos portugueses em 1498, deu inicio a guerras
entre ambos, segundo Nhampulo e Bila (2006: 39), onde os portugueses vem a vencer. Mas,
afinal, o que tem que ver a penetração mercantil árabe e portuguesa na edificação da cultura
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em Moçambique? A penetração árabe, em particular, teve, segundo Nhampulo e Bila (2006),


no norte dos pais influencia na cultura, na língua e costumes das populações locais, surgindo
ocasionalmente também as línguas faladas no norte como: Swahili; Kimwani; Ekoti; Echuabo;
Esakagi. Influenciou também na religião e tradição. E os portugueses nesse contexto, deixaram
o cristianismo sobretudo no sul.

2.1. Os grupos étnicos e culturais.

Moçambique é um pais multilingue, com vários hábitos culturais que formam grupos étnicos.
Onde temos: Macondes; Macuas; Chuabos; Yao; Shona; Marave; Tsongas. Estes grupos,
formam variadas culturas entre os povos. Aliás, cultura do latim, colere, no entendimento de
(LANDGRAF, 2014: 4) “colere significa cultivar, criar”. E, por sua vez, (BARROS, 2007: 2),
afirma que “cultura é a instancia onde o homem realiza a sua humanidade”, fornecendo uma
identidade a um determinado povo; em que, a região nortenha e centro desenvolveram-se no
meio de uma diferença em relação ao sul, no âmbito da religião, costumes e praticas dos rituais.
Por exemplo, os makuwas e outros, praticam os ritos de iniciação como forma de identidade
de género; esse ritual é feito também nas mulheres, Osório e Macuacua (2013). Esse tipo de
ritual na zona sul é menos praticado nas mulheres, sobretudo em Gaza e Maputo. Ocorre
também divergência entre habitus alimentares e danças. E agora, é possível contornar e
uniformizar a cultura?

3. As aporias dos rituais de chuva entre os diferentes grupos étnicos.

De acordo com Meira (2009: 99) os ritos tem como principal objectivo padronizar o
comportamento e valores morais, com fim de reforçar a integridade do grupo. Ao passo que,
Rodolpho (2009) refere – se ritual como um sistema cultural de comunicação simbólica que
compõem uma cerimonia, que pode ser de natureza religiosa ou não. Todos os grupos étnicos
realizam rituais, não obstante, há diferença nas abordagens de veneração dos antepassados. No
sul, em especial no Distrito de Magude o pedido da chuva é realizada por régulos no local
tradicional “ntumbuluku” que é Nkanyine (uma arvore de canhú) em que a liderança tradicional
invoca os antepassados que fundaram o distrito, usando vinhos, e outras coisas, a qual; todo
ritual é denominado “kuphalha”.
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Nas outras províncias do sul, o ritual é basicamente o mesmo, apenas cada local povoado tem
locais específicos para realizarem o ritual. Note que, os ritos funcionam como um conjunto de
regras estabelecidas pelo culto, sendo de adoração e veneração coletiva a uma divindade, Lima
– Mesquitela (1991). À semelhança disso, Tosta (1997), coloca Deus como centro da
experiencia religiosa, pois se partilha da fé; de que cairá a chuva. Apesar de ser uma veneração
coletiva, não entre qualquer individuo. No distrito de Limpopo, os rituais de chuva são feitas
quando se verifica escassez de chuva, sobretudo para a prática de agricultura e geralmente é
feita uma vez por ano e realiza – se na Mata – sagrada (Xirindzeni), participando curandeiros
tradicionais “tinyanga” em xichangana, régulo e outras entidades tradicionais onde se
convocam os de fundos pedindo chuva.

Ainda que os rituais de chuva para a região norte ou centro, nos grupos étnicos de Macuas,
chonas, senas, etc., a identificação cultural em particular da etnia Elonwe, o ritual de chuva é
feita usando bebida tradicional katsasu em árvores específicas como musolo, raras por sinal; a
árvore é sagrada na região e – geralmente encontra – a debaixo, panelas de barro, copos,
garrafas, como sinal de que é um lugar sagrado para a realização dos rituais que na maioria dos
casos é feita no final do dia.

E apesar de hoje em dia ser pouco difícil a realização o ritual por razoes a explicar no título
ulterior, o retorno à tradição através da utilização dos rituais significa o próprio resgate à
consolidação do habitus social, segundo Costa e Cassea (2009). Bourdieu (1989) diz que é
essencial no processo de identificação cultural de um povo, pois o individuo traduz cultura a
identidade de um grupo no exercício do seu quotidiano. E assim acreditando, a experiencia do
rito, vai caindo a chuva em resposta do pedido da povoação. E pode se abrir caminho para o
resgate cultural.

4. À crítica existencial dos rituais de chuva na actualidade.

Esta crítica baseia – se na análise das implicações etnográficas à contra rituais. Ora, a sociedade
moçambicana, hoje em dia, diríamos que esta perdendo a sua cultura, ou seja, os seus valores
rituais estão na iminência de desaparecer, pois a juventude sobretudo, que constitui a maior
parte da população, já não se identifica com a sua cultura. Isto é, são poucos que ainda zelam
pela realização dos ritos. Isso deve – se, por um lado, ao avanço tecnológico, que, de certa
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forma impacta negativamente. Veja, somente precisamos de ligar – na internet e podermos


prever o estado do tempo, anulando assim, a prática dos rituais de chuva. Precisamos é de um
resgate cultural. Agora, como proceder com esse resgate face aos desafios do avanço
tecnológico? Por outro lado, o que nos falta é aquela dimensão tradicionalista: respeito a
aqueles mitos e crenças, contos e provérbios e talvez a implementação do estudo dos rituais
nos currículos locais.

Apesar da variedade cultural em Moçambique, Paulina diz que “as culturas são fronteiras
invisíveis construindo a fortaleza do mundo” (CHIZIANE, 2006: 42). Nos temos a missão de
edificar o murro/fortaleza da cultura única e prendermos à nossa cultura, isso, inclui a prática
de rituais, inclusive de chuva. Como também denuncia Dias (2010) que a sociedade precisa da
juventude para assumir ações no futuro; mas que viva o presente.
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5. Conclusão.

A história é feita por homens; a cultura é feita e modificada por homens. Pois bem, como
podemos modificar a e unificar a cultura moçambicana tendo em conta a diversidade étnica?
Fora isso, a cultura moçambicana é demasiadamente complexa, considerando isso, os rituais
feitos em cada etnia, certamente que ira variar, mas tendo alguns factos em comum, como a
participação e a realização das cerimonias por régulos, chefes ou lideres locais, como assim era
feito desde as primeiras povoações a habitarem em Moçambique.

A complexidade da cultura, porem, não impede o seu estudo e o entendimento. Ate hoje, há
vários antropólogos e sociólogos que estudam as culturas em diferentes etnias. Assim sendo,
os rituais são uma forma de falar com os antepassados através dos chefes, acreditando – se que
eles são a ponte entre os mortos e os vivos. Agora, qual é a posição desta crença nos dias de
hoje em que a cultura local não nos identifica, mas sim a cultura estrangeira é o nosso guia?
De facto, estamos diante de uma controversa.

Bom, a proposta da pergunta acima, deve – se ao facto, muitas vezes já vivenciado muitas
vezes, o tribalismo entre as etnias; por exemplo, quando um nortenho chega a região sul é
ridicularizado e chamado de “xingondo”, alias, mesmo de região para região, por exemplo, um
de Inhambane chega a Maputo é chamado de “manhembane” em um tom de ridicularização.
Por tanto, é preciso muito mais do que assumir a cultura, respeitar a diversidade cultural que
temos. Só assim, talvez, podemos estar a caminho de restar a cultura, ainda que seja cada região
ou povoação, sua cultura e valorização.
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6. Referencia Bibliográfica.

BARROS, J. (2006), Cultura, Mudança e Transformação: A Diversidade Cultural e os Desafios


de Desenvolvimento e Inclusão, UFBA
BOURDIEU, P. (1989), O Poder Simbólico, Rio de Janeiro: Ed. Bertrand
CHIZIANE, P. (2006), Niketche, 4 ed., Maputo: Ndjira
COSTA, C e CASSEB, B. (2009), Modernidade X Tradição. A Questão dos Rituais No
Processo da Cura em Moçambique, São Paulo.
DIAS, P. (2010), Ritos e Rituais – Vida, Morte e Marcas Corporais: Importância Desses
Símbolos Para a Sociedade, Santa Maria
LANDGRAF, F. (2014). Politicas Culturais em Moçambique: Do Estado Socialista Aberto à
Economia do Mercado, São Paulo.
LANGA, A e JEMUCE, D. (2021), O Nosso Pais: Ciências Sociais, Maputo: Porto
LIMA-MESQUITELA, A, MARTINEZ, B, et al., (1991), Introdução a Antropologia Cultural,
Lisboa: Presença.
MEIRA, M. (2009), Sobre Estruturas Etárias e Ritos de Passagem, Brasil.
NHAMPULO, T e BILA, H. (2006), Eu e os Outros: Ciências Sociais, Maputo: Longman
Moçambique
OSÓRIO, C e MACUCUA, E. (2013), Ritos de Iniciação no Contexto Actual, Maputo
RODOLPHO, A. (2009), Rituais, Ritos de Passagem e de Iniciação, v. 44.
TOSTA, P. (1997), Missa e o Culto Visto do Lado de Fora do Altar, São Paulo: USP.

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