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Constantino Mussa

Guilherme Neves

Rogério Fernando

Trabalho em Grupo

Curso de licenciatura em Ensino Básico

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo delgado

2021
Constantino Mussa

Guilherme Neves

Rogério Fernando

Trabalho em Grupo

Curso de licenciatura em Ensino Básico

Trabalho em grupo de carácter avaliativo a


ser entregue ao docente da cadeira de
Antropologia cultural de Moçambique,
leccionado no curso de licenciatura em
Ensino Básico, 3oAno, 1o semestre sob
orientação por: Dr: Titos Paulo Leveque

Universidade Rovuma

Extensão de Cabo delgado

2021
Introdução

O presente trabalho em grupo abordara alguns conceitos sobre o clã, Fratria, tribo,
primos cruzados e primos paralelos e por ultimo fazer-se-á apresentação gráfica dos
laços de parentesco. Moçambique possui uma rica e longa tradição cultural de
coexistência de diferentes raças, grupos étnicos e religiões, ora isto reflecte a
diversidade de valores culturais que em conjunto criam as identidades do Moçambique
moderno. Apesar de possuir uma diversidade cultural e religiosa diferente de outros
lugares raramente serve de razão para gerar conflitos entre os povos de Moçambique.
Outrossim, efectivamente, a cultura deve ser entendida como um componente
determinante da personalidade dos moçambicanos e considera-se a sua valorização
como um elemento fundamental para a consolidação da unidade Nacional, da identidade
individual e do grupo.
Os povos que habitam actualmente Moçambique são incluídos no grande grupo dos
Bantu, que povoa quase toda a África a Sul do Sahara. Dentro deste grupo há muitas
subdivisões, ou etnias.
Conceito de Clã e suas características
De acordo com Bernardi (1974), um clã constitui-se num grupo de pessoas unidas por
parentesco e linhagem e que é definido pela descendência de um ancestral comum.
Mesmo se os reais padrões de consanguinidade forem desconhecidos, ainda assim, os
membros do clã reconhecem um membro fundador ou ancestral maior. Como o
parentesco baseado em laços pode ser de natureza meramente simbólica, alguns clãs
compartilham um ancestral comum "estipulado", o qual é um símbolo da unidade do
clã. Quando este ancestral não é humano, é referenciado como um totem animal. Em
geral, o parentesco difere da relação biológica, visto que este também
envolve adopção, casamento e supostos laços genealógicos. Os clãs podem ser descritos
mais facilmente como subgrupos de tribos e geralmente constituem grupos de 7 mil a 10
mil pessoas

Etimologicamente

Clã vem da palavra gaélica clann, que significa "filhos", "descendência", "progênie" ou


"descendentes".

An Chlann Aoidh, o nome em gaélico escocês para o Clã Mackay, significa literalmente
"Os Filhos do Fogo" (sendo "fogo" uma tradução literal do nome gaélico Aodh –; caso
genitivo e vocativo, hAoidh –; o qual pode ser traduzido foneticamente para
o escocês e inglês como Eth, Y, Hy, Heth, Huey e Hugh).

Clannad é uma forma estendida da palavra clann, e que pode ser traduzida por
"família".

Classificação

Para Tomas (n/d), alguns clãs são patrilineares, significando que seus membros são
vinculados à linhagem masculina; por exemplo, os clãs da Armênia. Outros
são matrilineares; seus membros são vinculados à linhagem feminina. Ainda existem
clãs "bilaterais", consistindo de todos os descendentes do ancestral maior, tanto da
linhagem masculina quanto feminina; os clãs da Escócia são um exemplo. Se um clã é
patrilinear, matrilinear ou bilateral, depende das regras e normas de parentesco que
regem a sociedade onde ele se insere.

Em diferentes culturas e situações, um clã pode significar a mesma coisa que outros
grupos baseados em parentesco, tais como tribos e bandos. Frequentemente, o factor
distintivo é que o clã se constitui na parte menor de uma sociedade maior, tais como
uma tribo ou um estado. Exemplos incluem clãs irlandeses,
escoceses, chineses e japoneses, os quais existem como grupos de parentesco dentro de
suas respectivas nações. Observe-se, todavia, que tribos e bandos podem também ser
componentes de sociedades maiores. Tribos árabes são grupos menores dentro da
sociedade árabe, e bandos Ojibwa são partes menores da tribo Ojibwa.

Além destas diferentes tradições de parentesco, uma confusão conceitual adicional


emerge do uso coloquial do termo. Em países pós-soviéticos, por exemplo, é muito
comum falar-se em clãs referindo-se a redes informais dentro da esfera económica e
política. Este uso reflecte a suposição de que seus membros ajam uns em relação aos
outros de modo particularmente próximo e mutuamente colaborativo, aproximando-se
da solidariedade entre parentes. Já entre os clãs da Escandinávia, o termo ätter não pode
ser traduzido em "tribo" ou "bando", e consequentemente são frequentemente traduzidos
como "casa" ou "linhagem".

 Conceito de etnia
Historicamente, a palavra etnia significa “gentio”, proveniente do adjectivo grego
ethnikos. O adjectivo se deriva do substantivo ethnos, que significa gente ou nação
estrangeira. É um conceito polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo
resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade,
além da aparência física
Um grupo étnico é um grupo de indivíduos que têm uma certa uniformidade cultural,
que partilham as mesmas tradições, conhecimentos, técnicas, habilidades, língua e
comportamento.
A sociologia Africana, considera que uma etnia  ou um grupo étnico é grupo de pessoas
que têm uma herança sociocultural comum, como uma língua e tradições comuns.

Encontramos uma diferença enorme entre Etnia, Tribo, Clã e Linhagem. A sua
diferença com a Tribo, surge no facto de que a Tribo referir-se a um conjunto humano
que reúne várias famílias sob a autoridade de um mesmo chefe e num espaço territorial
dado. A Etnia difere do Clã, visto que este último refere-se a um grupo de pessoas que
têm um ancestral comum. Finalmente difere de linhagem, uma vez que esta é uma
descendência.
Noutras palavras, os povos ou as populações de ascendência comum constituem etnias;
as etnias subdividem-se em tribos, as tribos em clãs e os estes em linhagens. Em todos
os países, cada pessoa tem origens étnica, tribal, clânica e de linhagem
Antes da Conferencia de Berlim (Alemanha) de 1885, África era subdivida em Nações
verdadeiras cada uma das quais habitadas por pessoas de ascendência comum. Os países
africanos resultantes da Conferência de Berlim são compostos de várias etnias, quer
dizer de várias nações, culturas e tradições.

Principiais grupos étnicos de Moçambique

Em Moçambique, existem diversos agrupamentos humanos com características


socioculturais específicas. Ainda não há unanimidade no que se refere a uma designação
genérica desses grupos. Por razões óbvias, durante o período colonial esses grupos eram
designados por tribos, etnias ou grupos étnicos. O termo povo, embora fosse utilizado
por alguns antropólogos e historiadores, não teve um uso sistemático referido a essas
entidades.
De acordo com essa informação (MINED, 1986:36), os povos de Moçambique agrupar-
se-iam de acordo com uma característica cultural que se apresenta mais ou menos
comum em algumas regiões do País: os regimes de parentesco. O rio Zambeze constitui-
se numa fronteira natural desses regimes em Moçambique.
A norte daquele rio localizam-se os povos matrilineares: Makonde, Yao, Makhuwa,
Nyanja e outros localizados no Zambeze superior, como os Nsenga e os Pimbwe, por
exemplo. A sul, encontram-se os povos patrilineares congregados nos seguintes grupos:
Shona, Tsonga, Chope e Bitonga. Entre os povos patrilineares figura também o grupo
Nguni, cujos núcleos se encontram espalhados pelo País.
No Vale do Zambeze, uma zona de transição, situam-se povos de simbiose das
influências matrilinear e patrilinear, dos quais se destacam: Chuwabo, Sena e Nyungwe.
Para além dos grupos identificados, existem outros localizados na costa norte, cuja
característica particular é a influência patriarcal islâmica que apresentam: são os Mwani.
 Os makondes
Os Makonde localizam-se no extremo norte, junto ao rio Rovuma. Encontram-se
igualmente no sul da Tanzânia, em número maior que em Moçambique. Apresentam
como traços culturais particulares a escultura em madeira, o uso de máscaras nas
cerimónias relacionadas com os ritos de iniciação e a execução da dança tradicional
conhecida por “mapico”. Foi em Mueda, centro dos Makonde, que em 16 de Junho de
1960 as autoridades portuguesas reprimiram uma manifestação política da população
local assassinando várias centenas de pessoas, fenómeno que passou a ser conhecido na
história por Massacre de Mueda. Foi na região dos Makonde, no posto administrativo de
Chai, que em 25 de Setembro de 1964 é desencadeada a Luta Armada de Libertação
Nacional, 47 anos depois que essa mesma região se constituiu no último foco da
submissão à ocupação militar portuguesa.
Os Yaos
Os Yao, também conhecidos por Ajaua, ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte
da província com o mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da
Tanzânia. Fontes históricas revelam que os Yao eram bastante activos o comércio à
longa distância, ligando as regiões do interior com a costa do Índico: Quílua, na
Tanzânia, e Ilha de Moçambique. Antes dos finais do século XVIII eram os principais
fornecedores de marfim. Segundo Rita-Ferreira (1982:124) os Ajaua transitaram para as
formas de comércio internacional com Quílua e Ilha de Moçambique de uma forma
gradual, a partir de trocas regionais restritas e regionais de peles, produtos agrícolas e
utensílios de ferro até atingir o nível de uma florescente e bem organizada exportação de
marfim, nos finais do século XVIII. Rita-Ferreira diz ainda que no primeiro quartel do
século XIX os Ajaua tinham-se transformado nos maiores fornecedores de escravos
exportados para Mossuril (ibid.:285). Dado o seu contacto regular com a costa de
influência muçulmana, os Ajaua islamizaram-se mais cedo que os outros povos do
interior. Entretanto, uma islamização significativa viria a acontecer depois de 1890, em
resposta à pressões trazidas pela ocupação colonial (Cf. Ibid.:289).
Makuwa
Os Makhuwa, por vezes considerados como duas entidades diferentes, constituem a
etnia de Moçambique dispersa por um vasto território que no passado se estendia, do rio
Zambeze ao rio Messalo, a Sul e Norte, respectivamente, do Oceano Índico, a Este, até à
actual fronteira com o Malawi, a Oeste;
Na actualidade, com o centro em Nampula, os Makhuwa-Lomwe espalham-se para
partes das províncias de Cabo Delgado, Niassa e Zambézia. Importantes agrupamentos
Makhuwa encontram-se também no Madagáscar, no sul da Tanzânia e no Malawi,
também a sul. Os Makhuwa reclamam, segundo a tradição, uma origem mítica comum,
como comuns são também a sua organização sócio-familiar e a língua que falam.
Alguns estudos advogam ser este o grupo bantu mais antigo desta parte da África
Austral.
Entre os makuwas, as linhagens familiares estão extensivamente representadas em todo
o território [étnico], levando-nos à conclusão do íntimo parentesco existente entre as
gentes que constituem aquilo a que tem sido uso apodar de “tribos” Macuas.
Igualmente, se encontram as mesmas linhagens familiares (mahimo) em todas as
“tribos” Macuas e Lomues, cada qual reportando-se ao mesmo fundador antepassado. O
que nos permite reconhecer que todas as chamadas “tribos” Macuas e Lomues são afinal
um mesmo povo, embora por vezes assumindo variações regionais (1970:106).
Maraves
A norte do rio Zambeze, na província de Tete e na parte ocidental da província do
Niassa, encontram-se os Marave. Os de Moçambique tomam a designação de Nyanja,
enquanto os de Malawi são chamados Chewa.  Para além do Malawi, importantes
sectores do povo Nyanja se localizam na Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe. Os Marave
são associados ao império do mesmo nome que se desenvolveu nas regiões onde hoje é
Zambézia e Nampula, por volta dos séculos XVI e XVIII e que, tal como os Ajaua, se
envolveu no comércio de marfim e de escravos. Possuem uma organização matrilinear e
tradições culturais particulares.
Junto ao rio Zambeze concentram-se inúmeras etnias com características específicas e
exteriores aos grupos étnicos referidos, como são os casos dos Chuwabo, Sena e
Nhnungwe, designados habitualmente como “Povos do Baixo Zambeze”.
Shonas
Os Shona ocupam os territórios entre os rios Save e Zambeze, subdividindo-se em três
grupos distintos: Ndau, Manyka e Tewe. De uma forma geral, surgem espalhados pelas
províncias de Manica, Tete e Sofala e, ainda, por algumas províncias do Zimbabwe.
Esta etnia está associada às ruínas do grande Zimbabwe, entre outros amuralhados de
pedra da região.
Shonas ou Xonas são um grupo de povos de línguas bantu que habitam o Zimbábue, a
norte do rio Lundi, e no sul de Moçambique. Foram notáveis por suas peças de ferro,
cerâmica e música, dentre os quais podem ser destacados os zezuru, karanga, manyika,
tonga-korekore e ndau. Com numeração cerca de nove milhões de pessoas, que falam
uma série de dialetos relacionados cuja forma normalizada é também conhecida como
Shona (Bantu). Um pequeno grupo de imigrantes falando Shona dos anos 1800 também
vivem na Zâmbia, no vale do rio Zambeze, na área de Chieftainess Chiawa. O Shona era
tradicionalmente agrícola cultivando feijão, amendoim, milho, abóboras, e batata doce.
Os ndaus são um grupo étnico que habita o vale do rio Zambezi, do centro de
Moçambique até o seu litoral, e o leste do Zimbábue, ao sul de Mutare. Os ancestrais
dos ndaus eram guerreiros da Suazilândia que se misturaram com a população local,
constituída etnicamente por manikas, barwes, tewes, nas províncias moçambicanas de
Manica e Sofala. A população local do Zimbábue, antes da chegada dos Gaza Nguni,
descenderia primordialmente de Mbire, próxima à actual Hwedza. Os ndaus falam um
idioma que pertence à família linguística xona, o ndau.
Bitonga e Chope
Os Bitonga e os Chope concentram-se no sul do país, junto à costa, e nos arredores da
cidade de Inhambane, os primeiros, e numa faixa que vai para mais a sul, os segundos
que também povoam parte de Gaza, mantiveram ao longo dos séculos uma proximidade
cultural com os Tsonga.
Os chopes são dos distritos de Zavala e Inharrime, na província de Inhambane. Este
povo viveu tradicionalmente da agricultura de subsistência. Historicamente, alguns
chopes foram escravizados e outros tornaram-se trabalhadores migrantes na África do
Sul. Os chopes são conhecidos internacionalmente pelo instrumento musical mbila e
dança associada, uma manifestação cultural conhecida desde o tempo de Gungunhana,
que foi considerada pela Unesco, como Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade. Os
chopes identificam-se culturalmente, como povo, com o elefante.
Os Tsongas
Os Tsongas subdividem-se em três grupos particulares: os Ronga (do extremo Sul até ao
rio Limpopo), os Changane (junto ao rio Limpopo) e os Tswa (a norte do rio Limpopo e
até ao rio Save). Possuem uma organização patrilinear. Os Tsonga constituem o grupo
que, durante os três últimos quartéis do século XIX estiveram sob influência directa do
império nguni de Gaza.
Landins ou Vátuas, era o nome genérico dado aos indígenas de Moçambique, a sul do
rio Save. Tinham tradições guerreiras sendo o seu último grande imperador,
Gungunhana o Leão de Gaza, sido destronado pelos portugueses depois de grandes
combates entre 1894 e 1895.
O grupo Tsonga tem continuidades nos territórios da África do Sul e da Suazilândia
O Tribo (NIHIMO) e suas características
De acordo com BERNARDI tribo é um conjunto de pessoas unidas por descendência,
ou é um grupo de população distinto, por parte dos seus membros e dos outros com base
em critérios culturais regionais. Na sociedade Macua-Lomué todos os membros de
unidades uterinas (NLOKO) usam o mesmo apelido familiar, chamado (no plural,
MAHIMO) que deriva do antepassado fundador e transmite-se matriliarmente.
Ter o mesmo NIHIMO significa pertencer ao mesmo NLOKO que implica
fundamentalmente três coisas:
 Um aspecto afectivo entre os membros: as relações de respeito íntimo;
 Etiqueta própria: leis convencionais e procedimentos assumidos pela
comunidade;
 Aspectos jurídicos: deveres e direitos positivos e negativos, que orientam as
mutuas relações.
Exemplos: Arrope, Erio, Asselege, Amiransi, Aphoreni, etc.
Primos cruzados e primos paralelos

Segundo Santos (2002), a diferença entre primos paralelos e primos cruzados


desempenha um papel importante em algumas culturas, pois tem implicações nos
casamentos. Antes de olhar para isso sob o ângulo do casamento, vamos primeiro ver
quem são esses primos paralelos e cruzados. Quando se trata de relacionamentos,
podemos identificar dois tipos de relacionamento. Todos nós temos parentes
consanguíneos, bem como parentes que se juntam a famílias como resultado de
casamentos. Parentes de sangue são chamados relações consanguíneas enquanto outros
são chamados relacionamentos de afinidade.

Neste trabalho, nos referimos a primos que são parentes de alguém por conexão de
sangue.

De acordo com Tomas (n/d), Primos paralelos são os irmãos da família das irmãs da
mãe ou da família dos irmãos do pai. Assim, primos paralelos vêm de irmãos do mesmo
sexo dos pais. Por outro lado, primos cruzados vêm de irmãos do sexo oposto dos pais.
Isso é da família dos irmãos da mãe ou da família das irmãs do pai. No entanto, esses
relacionamentos desempenham papéis importantes nas culturas, especialmente no que
diz respeito aos costumes do casamento. Neste artigo, vamos examinar os dois termos e
as diferenças entre primos paralelos e primos cruzados em detalhes.

Quem são primos paralelos?

Vilanculo (n/d), Primos paralelos vem dos irmãos do mesmo sexo de um dos pais.
Irmãos do pai ou, em outras palavras,  filhos do tio paterno tornam-se primos paralelos.
Além disso, irmãs da mãe ou, em outras palavras,  filhos da tia materna são
considerados primos paralelos. Quando se trata de terminologias de parentesco, quase
todas as sociedades chamam o primo paralelo masculino de “irmão” e a prima paralela
feminina de “irmã”. É evidente que primos paralelos são considerados semelhantes aos
próprios irmãos ou irmãs. Além disso, a maioria das sociedades considera os
casamentos entre primos paralelos um tabu do incesto. Visto que primos paralelos são
considerados semelhantes aos próprios irmãos, isso pode ser considerado um tabu. Mas,
existem algumas pessoas pastorais que permitem casamentos entre primos paralelos.
Eles acham que esses casamentos ajudarão a manter as propriedades da família dentro
de uma linhagem.

Quem são os primos cruzados?

Vilanculo (n/d), Primos cruzados são os Filhos de irmãos do sexo oposto de um dos
pais. Isso significa irmãs do pai ou, em outras palavras,  filhos da tia paterna podem ser
chamados de primos cruzados. Além disso, os irmãos da mãe ou, em outras palavras,
filhos do tio materno são considerados primos cruzados. Nas terminologias de
parentesco, os primos cruzados do sexo masculino são chamados de “cunhado” e as
primas do sexo feminino são chamadas de “cunhada”. Isso ocorre porque eles são
considerados diferentes de um sistema de linhagem. Mesmo que os casamentos entre
primos paralelos sejam considerados tabus do incesto, a maioria das culturas encoraja os
casamentos entre primos cruzados. Aqui também, as pessoas pensam nisso como uma
forma de manter as propriedades da família dentro da unidade da família. Porém, hoje
em dia os casamentos entre primos cruzados não são incentivados, pois existe a
possibilidade de propagação das doenças genéticas para os filhos

Parentesco, casamento e família em Moçambique

Na perspectiva de Levi-Strauss (1982), O estudo das relações de parentesco dentro da


Antropologia ocupa um lugar privilegiado. Nesta parte pretendemos introduzir um
conjunto de terminologias técnicas muito frequentemente usadas no estudo do
parentesco, ei-las:

Para Ivala (2002), Parentesco  no sentido restrito refere-se aos laços de sangue, mas
num sentido mais amplo, também aplica-se aos laços de afinidade ou de casamento
(parentesco por afinidade ou por casamento)

Segundo De Mello (n/d), laços de Parentesco é a relação que decorre da posição


ocupada pelo sujeito no sistema de parentesco. Pode-se falar de três tipos de laços de
parentesco:

 Laço de sangue (descendência)


 Laço de afinidade (matrimónio ou casamento)
 Laço fictício (adopção).

Santos (2002), Descendência  relação do sujeito com os seus parentes de sangue.


Embora o critério de descendência seja biológico, em Moçambique a descendência
obedece há critérios culturais (de descendência unilateral).

Por exemplo, um indivíduo é sempre filho de uma mãe e um pai, mas na zona norte de
Moçambique leva-se em consideração a descendência matrilinear, enquanto no sul
considera-se a descendência patrilinear. Nas sociedades europeias a descendência é dos
dois progenitores (descendência bilateral).
A descendência matrilinear é também conhecida como descendência uterina, a
patrilinear tem também a designação de descendência agnática, enquanto a
descendência bilateral (de ambos os progenitores) é denominada cognática.

Descendência unilateral dupla acontece em sociedades que não consideram como


preponderante a linhagem matrilinear nem a patrilinear, porém, orientam-se pela
linhagem patrilinear para uns propósitos (ex: realização de funerais, delegação da
herança, etc.), e orientam-se pela linhagem matrilinear para outros propósitos (ex: o
cuidado de crianças, a atribuição de apelidos, etc.)

Nomenclatura de parente ou terminologia de parentesco

 Bernardi (1982), É o sistema de denominações das posições relativas aos laços de


sangue e de afinidade. Exemplos de nomenclaturas de parentesco:  pai, mãe, irmão,
primo, esposa, cunhado, sogra, enteado, filho, neto, sobrinha, etc.  Importa significar
que a nomenclatura de parentesco pode ser descritiva e classificatória.

A nomenclatura de parentesco descritiva é aquela em que se usa um termo diferente


para designar a cada um dos parentes.

Exemplo: papá (pai biológico), mamã (mãe biológica), mana (irmã biológica mais


velha), etc.

A nomenclatura de parentesco classificatória é aquela em que se emprega


indistintamente o mesmo termo para designar a um grupo de pessoas com quem se tem
um laço de parentesco. Por exemplo, quando se aplica o termo “mamã” para designar à
mãe biológica, à irmã da mãe, ou à madrasta. Também estamos perante a nomenclatura
de parentesco classificatória quando se trata como irmão, ao próprio irmão biológico, ao
primo ou ao filho de uma madrasta.

Clã:  grupo de pessoas dotado de nome e de descendência unilateral, isto é, que deriva
de um ancestral comum e que segue regras de descendência matrilinear/uterina ou
patrilinear/agnática e jamais de ambas simultaneamente.
Os clãs do sul de Moçambique que seguem a descendência agnática ou patrilinear são
designados patriclãs, enquanto os do norte do país que se orientam pela descendência
uterina ou matrilinear denominam-se matriclãs.

De acordo com Ferreira (n/d), Família no sentido mais restrito é o conjunto de pessoas
que vivem sob o mesmo tecto. Mas no sentido lato, a família é o conjunto das
sucessivas gerações descendentes de antepassados comuns; já na linguagem do senso
comum costuma dizer-se que a família é a célula básica da sociedade. Por família,
também, pode-se entender como o conjunto de parentes por consanguinidade ou por
aliança ou afinidade.

No entanto, existe um tipo de classificação da família que se vale dos seguintes


critérios:  regras de residência, número de cônjuges, relação de poder e parentesco.

Quanto às regras de residência,  a família pode ser:

 Patrilocal: aquela que estabelece uma residência conjunta entre um casal e os pais
do homem. Geralmente nas sociedades meridionais de Moçambique há uma
tendência de as famílias estabelecerem residências patrilocais devido à estrutura e
natureza do poder que se centra nas mãos dos homens.
 Matrilocal:  aquela que estabelece residência conjunta entre o casal e os pais da
mulher. Com frequência acontece nas sociedades setentrionais de Moçambique onde
há uma tendência de as famílias estabelecerem residências matrilocais.
 Neolocal:  é a família cujo casal tem uma residência independente da dos pais de
ambos os cônjuges. Este tipo de residência é mais frequente em sociedades
urbanizadas onde o estilo de vida exige uma autonomia das famílias.

Quanto ao número de cônjuges,  a família pode ser:

 Monogâmica:  quando a união é de um só homem com uma só mulher.


 Poligâmica: é a união de um só marido com várias esposas ou de uma mulher com
vários maridos.
 Poligínica:  é a família em que o homem é quem pratica a poligamia, isto é, a união
de um marido com várias esposas.
 Poliândrica: é a família em que a mulher é quem pratica a poligamia, ou seja, a
união de uma mulher com vários esposos.

 Quanto à relação de poder,  a família pode classificar-se em:

 Patriarcal ou patrilinear:  é a família cujo poder é exercido pelo marido. As


famílias patriarcais abundam no sul de Moçambique, sendo que o patriarcado como
uma relação de poder incide também no casamento, na sucessão, na herança e na
estrutura social das famílias.
 Matriarcal ou matrilinear: é a família cujo poder é exercido pela mulher. As
famílias matriarcais abundam no norte de Moçambique, sendo que a mulher exerce
o poder indirectamente através do seu irmão do sexo masculino. É este a quem cabe
zelar pela orientação da vida dos filhos da irmã, cuidar pela iniciação desses filhos e
legar-lhes a sua herança em caso de morte. O papel do pai biológico é quase que
passivo, pelo que quando o filho porta-se mal ou comete uma infracção, o pai
remete a solução dessa situação ao tio materno do filho, isto é, ao irmão da mãe do
filho.

Quanto ao parentesco,  a família pode adquirir as seguintes classificações:

 Nuclear:  é a família constituída pelo marido, esposa e os filhos resultantes dessa


união, todos morando juntos numa residência neolocal. A família nuclear pode ser
de orientação, aquela da qual cada um de nós proveio e a família nuclear
de procriação, que é a que cada um de nós funda ou estabelece.
 Alargada ou extensa:  este tipo de família constitui-se por um casal, os filhos e os
familiares colaterais (sobrinhos, netos, primos, irmãos, etc.), todos vivendo numa
mesma residência patrilocal, matrilocal ou neolocal.
 Reconstituída: composta por um homem divorciado ou viúvo com os filhos e uma
mulher (a madrasta), ou por uma mulher divorciada ou viúva com os filhos e um
homem (o padrasto), ou ainda, por um homem e uma mulher, ambos divorciados ou
viúvos vivendo juntos com os respectivos filhos.
 Monoparental: aquela composta só pelo pai solteiro ou viúvo e os filhos, ou só pela
mãe solteira ou viúva e os filhos.
Referências bibliográficas

BERNARDI, Bernardo.  Introdução aos estudos etno-antropoloógicos, p. 289-294.

Bernardi, B. Introdução aos estudos etno-antropológicos. Lisboa: Edições 70, 1974.


DE MELLO, Luiz Gonzaga. Antropologia cultural, p. 316-339.

FERREIRA, Antonio Rita.  Agrupamento e Caracterização Étnica dos Indígenas de


Moçambique. Disponível em: http://www.malhanga.com/flipbook/estudos.documentos/
IVALA. Adelino Zacarias. O ensino de História e as relações entre os poderes autóctone
e moderno em Moçambique, 1975-2000. Doutorado em Educação/Currículo. Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. São Paulo. 2002

Levi-Strauss, C. El futuro de los estudios de parentesco. Barcelona: Anagrama, 1982.


TOMÁS, Adelino Esteves. Manual de Antropologia Sócio-Cultural. Universidade
Pedagógica Sagrada Família, s/d. p. 47-57.

SANTOS, Armindo dos.  Antropologia Geral: etnografia, Etnologia, Antropologia


Social.  Universidade Aberta, 2002. pp. 123-170.

VILANCULO, Gregório Zacarias.  Manual de Antropologia Cultural de Moçambique.


Universidade Pedagógica: Maxixe, s/d.

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