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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO


Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia
Disciplina: Antropologia Cultural de Moçambique

Lobolo em Moçambique: História do Costume, Significado e suas Consequências

Mónica Lucas Paulo Nankwanga: 91220300

Pemba Maio 2023


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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO


Curso de Licenciatura em Ensino de Geografia
Disciplina: Antropologia Cultural de Moçambique

Lobolo em Moçambique: História do Costume, Significado e suas Consequências

Trabalho de Campo a ser submetido


na Coordenação do Curso de
Licenciatura em Ensino de
Geografia da UnISCED

Mónica Lucas Paulo Nankwanga: 91220300

Pemba Maio 2023


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Índice
Introdução..........................................................................................................................3

Objectivos..........................................................................................................................3

Geral...............................................................................................................................3

Especifico.......................................................................................................................3

Metodologia.......................................................................................................................3

Conceitos de Lobolo..........................................................................................................4

História do costume do lobolo em Moçambique...............................................................5

Funções do lobolo..........................................................................................................5

Formas da prática do lobolo...........................................................................................6

Consequências do lobolo...................................................................................................6

Conclusão..........................................................................................................................9

Referência bibliográfica..................................................................................................10
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Introdução
O presente trabalho tem como tema, Lobolo em Moçambique: História do Costume,
Significado e suas Consequências. Desta feita, o lobolo é entendido como um
casamento costumeiro e recorrente no sul de Moçambique. Constitui basicamente no
pagamento do dote, no qual a família do noivo dá para a família da noiva bens em troca
do casamento. Entretanto, o dote, como é conhecido na Europa, ocorre de forma
contrária, onde a família da noiva é quem entrega os bens para a família do noivo. Para
além da questão do pagamento em si, o lobolo compreende não apenas uma forma de
agradar a família da noiva ou de mostrar poder, mas também um modo de se fechar
alianças, bem como de reconciliar tanto problemas do presente quanto do passado em
relação aos ancestrais.

Objectivos

Geral
 Analisar sobe a temática de lobolo em Moçambique;

Especifico
 Conceituar o lobolo;
 Descrever a história de lobolo em Moçambique;
 Indicar as consequências do lobolo;

Metodologia
A metodologia emprega para este trabalho foi pesquisa bibliográfica. A pesquisa
bibliográfica consiste na colecta de informações a partir de textos, livros, artigos e
demais materiais de carácter científico. Esses dados são usados no estudo sob forma de
citações e referências, e servem de embasamento para o desenvolvimento do assunto
pesquisado.
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Conceitos de Lobolo
Segundo Lévi-Strauss (2009, p. 509), o lobolo é conhecido nos casamentos africanos,
como “casamento por compra”. No entanto, adverte ao fato de que esse contrato social
não deve ser visto como uma forma de compra propriamente dita, uma vez que: “[...]
não será nunca consumido, excepto ocasionalmente e parcialmente, para fins
sacrificiais”.

Por outro lado, Lobolo pode ser entendido como um casamento costumeiro e recorrente
no Sul de Moçambique, uma prática tradicional que envolve o kulovola (significa dar
bens à família da noiva para realizar uma união reconhecida entre os parentes do noivo
e os parentes da noiva). Esta é uma cerimónia tradicional africana praticada em quase
toda região sul do Sahara. Em Moçambique, onde existem três regiões culturais
diferentes: Norte do Zambeze; Sul do Save os dois rios. Cada uma dessas regiões, o
lobolo é feito de maneira diferente, e na região norte, quase não existe esta pratica,
apesar de haver outros rituais que a substituem Bagnol 2008).

Na tradição moçambicana, de acordo com o etnólogo Rita-Ferreira (1975), o lobolo


representava uma cerimônia que legitimava uma união conjugal, extremamente
tradicional. A família do noivo presenteava com o que possuía de melhor, uma forma de
retribuir o fato da noiva ter sido devidamente educada.

No caso específico de Sarnau (uma personagem do romance de Paulina Chiziane), as


vacas recebidas concretizam a garantia de outros lobolos, condições para a prosperidade
e continuidade de seu grupo familiar, algo que a jovem interpreta como uma
compensação ao referir que “Vou agora pertencer à outra família, mas fiquem estas
vacas que me substituem. Que estas vacas lobol em mais almas, que aumentem o
número da nossa família, que tragam esposas para este lar de modo que nunca falte
água, nem milho, nem lume” (Chiziane, 1990: p. 43).

Deste modo, o fato do lobolo ter sido pago em troca de vacas servirá para a retomada do
argumento utilizado por Lévi-Strauss (2009): o “casamento por compra” é um processo
de “reinvestimento”. Ou seja, no caso de Sarnau, o seu lobolo (vacas) podem ser
reinvestido no aumento da família, com as mulheres e filhos gerados a partir dessas
uniões. Entretanto, as mulheres loboladas, entre os Tsonga, são imputadas
responsabilidades e obrigações –envolvendo dívida, honra e prestígio – que não se
limitam ao mero papel de reprodução. Neste sentido, justifica -se, pelo menos neste
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grupo, a relação entre o lobolo e a união conjugal. O exemplo dos Bavenda citado por
Jeffreys ilustra uma variação das regras e a complexidade do conceito, duas
características aplicáveis aos subgrupos Tsonga do Sul de Moçambique.

História do costume do lobolo em Moçambique


O lobolo envolve três principais fases e, cada uma está subdividida em vários
acontecimentos. A primeira consiste na intenção do noivo de criar laço com uma
mulher, realizada por parentes e amigos, num encontro chamado hikombela mati. Nesta
ocasião ou após esta cerimônia, os familiares da noiva dão aos representantes do noivo
um documento no qual são especificados os pedidos para o lobolo.

Após alguns meses ou anos dependendo da capacidade do noivo de adquirir os


presentes, o lobolo é realizado. A noiva passa assim a fazer parte do grupo do marido e
o noivo e um mokon'wana (genro). As duas cerimônias são realizadas por
representantes do noivo e da noiva. Geralmente são parentes próximos como tios, tias
paternos e maternos e os irmãos e as irmãs.

São também incluídos os vizinhos, conhecidos da igreja ou amigos com boa capacidade
de argumentação. Realizado o lobolo, o casal vai viver com os familiares do noivo ou
numa residência independente. A noiva é levada para a sua nova casa numa cerimónia
chamada xiguiyane onde levam com eles os pertences da noiva (vestuário) e presentes
da família da mesma. Actualmente o xiguiyane é realizado após o casamento civil ou
lobolo e religioso.

Funções do lobolo
Segundo Granjo (2004), o lobolo tem entre outras as seguintes funções:

Unir os antepassados das duas famílias (a da noiva com a do noivo); rezar aos
antepassados que dêem sorte ao novo lar e sobretudo a fertilidade da noiva; Garantir
protecção da mulher na família do seu marido, passando a pertencê-la mesmo depois da
morte do seu marido; Garantir o direito a noiva de continuar na casa do marido a cuidar
de seus filhos, caso este morra, bem como continuar a ter filhos com irmão do marido.
O mesmo permite com se a esposa morrer ainda jovem (sobretudo se deixar filhos
menores), a família dela ofereça ao seu genro uma menina para cuidar de seus sobrinhos
que serão agora seus filhos e ela passará a ocupar o lugar da sua falecida irmã no lar.
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Formas da prática do lobolo


Apesar das influências trazidas de culturas estrangeiras que são assimiladas rapidamente
por camadas jovens, na hora de tratar assuntos da família, os hábitos aparecem e cada
um procura recordar se da nossa cultura tradicional.

Segundo Honwana (2002), o lobolo pratica-se da seguinte forma:

O noivo apresenta se ou a menina apresenta seu noivo e este mais tarde manifesta
mesmo o desejo de viver com ela e pede as condições para formalizar a sua situação
marital, a família, a qual remete lhe a três casamentos: Tradicional ou lobolo; civil e
religioso. Todavia, o Lobolo é imprescindível, razão pela qual o governo reconhece
como legitimas as famílias constituídas neste casamento, desde que as estruturas
comunitárias de base assistam e enviem relatório á administração local, esta por sua vez
manda assentar no registo civil que três meses depois os noivos podem ir assinar o
registo do seu casamento, desde que autorizados pelos seus pais.

Estando o genro disposto a lobolar a menina, trata de organizar todas dádivas que
consistem em vestuários para Pai da Noiva, sua mãe, Suas tias materna e paterna, seus
avos maternos e paternos, cinco litros de vinho, tabaco, algumas bebidas tradicionais e
um valor de 1000 Meticais, podendo ser muito mais elevado. Há famílias que, com a
pobreza e economia do mercado, querem ser compensadas as despesas feitas para o
crescimento, saúde e educação da menina, já que uma vez formada, vai trabalhar e
render para a família do seu marido. O momento culminante é a recepção da família do
noivo que vem carregado de bens em tons de cantos na língua local, conhecida também
pelos defuntos.

Consequências do lobolo
Em Moçambique, a prática do lobolo foi geralmente entendida como sendo uma
expressão da «tradição» e, consequentemente, um conjunto de práticas, crenças e
conhecimentos passados de uma geração para outra deforma imutável. As tradições
foram vistas durante muito tempo como imóveis, incluindo pelas ciências sociais.
Porém, estudos recentes mostram que as tradições nunca foram estáticas e constituem
um recurso maleável constantemente adaptado (Spiegel e McAllister, 1991), uma vez
que resultam de processos sócio-económicos, são determinadas por eles e demonstram
grande capacidade de adaptação.
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Na África austral, sob a influência de factores históricos, de políticas administrativas e


religiosas e de mudanças económicas, observou-se uma variedade de alterações nas
práticas de compensação matrimonial (Kuper,1982; Schapera, 1941). Em Moçambique
podem igualmente ser observadas modificações significativas. Devido a factores como
epidemias do gado bovino, seca, fome e tipo de comércio, os bens utilizados para o
lovolo foi celebrado através da doação de bois, esteiras, objectos de palha, anéis de
ferro, tecidos, missangas, ouro, dinheiro e roupa manufacturada (Harries,1994; Junod,
1996; Santos, 1891).

As mudanças económicas não só modificaram o tipo de presentes dados, como as


relações de poder entre os indivíduos. O lobolo providenciado pelos familiares do noivo
criava uma dependência dos jovens em relação aos mais idosos relativamente à
aquisição de mulheres

Como de costume o lobolo e realizado na sexta-feira e os dois outros tipos de casamento


(civil e religioso) no dia seguinte. Todas estas cerimónias são encerradas pelo ritual do
xigiyane. No passado, estas cerimónias eram realizadas com um intervalo de tempo
maior. Contudo, actualmente, por motivos financeiros, as famílias procuram realizá-las
umas a seguir às outras.

Enquanto o casamento civil define uma relação entre os casais e o Estado (lei civil) e o
casamento religioso uma conexão com Deus, o lobolo é essencialmente um acto que
estabelece uma relação entre o casal, as famílias e os antepassados. Desta maneira, para
aqueles para quem os laços com as raízes ancestrais são fundamentais, a realização do
lobolo é de importância primordial. Acredito que esta é uma razão pela qual, nas áreas
urbanas, é comum ver pessoas realizarem uma combinação de diferentes formas de
casamento. Isto confere peso ao argumento avançado por Mbembe (1992) segundo o
qual, nos estados pós-coloniais, os indivíduos mobilizam uma multiplicidade de
identidades.

Uma das maiores modificações que registei relativamente ao sistema descrito na


literatura colonial sobre o Sul de Moçambique é que, actualmente, o lobolo é
providenciado pelo noivo e não pela sua família. O lobolo recebido por uma irmã já não
é utilizado para adquirir uma mulher para o filho (Kuper, 1981 e 1982, pp. 108-121).
Portanto este acto designado lobolo, tem como consequência a sujeicao ou dependência
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pelos antepassados isto e, a interferência espiritual na vida dos seres humanos que em
algum momento causa problemas.
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Conclusão
Deste modo, conclui-se que lobolo é prática tradicional que vem sendo observada desde
há muito em Moçambique sobretudo no sul bem como em outros países vizinhos, como
África do Sul. Ela é realizada pelos pais dos noivos a partir dum valor monetário que se
entrega a família da noiva como símbolo de pagamento de aquisição de mais um
membro da família do noivo. Definitivamente, a mulher lobolada, pertence a família do
noivo, onde ela pode ser sujeita a vários hábitos costumeiros da família.

As transformações do ritual do lobolo são abordadas em função de situações históricas


de Moçambique, que podem ser compreendidas tendo em conta as relações comerciais e
a localização geográfica As variações no significado do ritual transitam entre estas
questões assumindo um carácter, cada vez mais, polissêmico e, deste modo, inteligível
sob uma perspectiva dos lobolos e não do lobolo.

O lobolo enquanto um ritual visto no contexto das práticas tradicionais se revela como
uma forma de “poder”. A influência da crença inerente ao ritual é exercida por
indivíduos com uma autoridade socialmente reconhecida por via da sua ligação aos
espíritos dos antepassados. Não se trata de mistério algum, a consciência colectiva de
que é fundamental manter em segredo a continuidade destas práticas, uma vez que
contínua a fazer sentido para os moçambicanos, ou seja, os problemas quotidianos
continuam sendo explicados e solucionados com base nestas práticas.

Quanto as consequências, ajuda a fortificar a família, a patriarcal, o direito do pai.


Marca diferenças entre casamentos legítimos e casamentos ilegítimos e, neste caso,
substitui o registo oficial do casamento. Dificulta a dissolução do casamento, pois a
mulher não pode abandonar o marido sem que a este lhe seja restituído o lobolo. E
Obriga os nubentes a terem atenção, um para com o outro.
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Referência bibliográfica
Bagnol. B. (2008). Lovolo e espíritos no Sul de Moçambique. In: Análise Social, v.
XLIII, pp. 251-272. (Departamento de Antropologia, Universidade de Witwatersrand,
Joanesburgo, África do Sul)

Chiziane, Paulina (1990). Balada de amor ao vento. Lisboa: Caminho.

Granjo, P. (2004). O Lobolo do meu amigo Jaime: um velho idioma para novas
vivências conjugais. Porto: Campo das Letras.

GRANJO, P. (2006), «Wining back our good luck: bridewealth in nowadays Maputo»,
in Ufahamu, 32 (3), pp. 123-162.

GRAY, R. F. (1960), «Sonjo bride-price and the question of African «wife-purchase»,


in American Anthropologist, 62 (1), pp. 34-57.

HARRIES, P. (1994), «Work, culture and identity. Migrant laborers in Mozambique


and South Africa, c. 1860-1910», in A. Isaacman e J. Hay (eds.), Social History of
Africa Series, Joanesburgo, Witwatersrand University Press.

JUNOD, A. H. (1996), Usos e Costumes dos Bantu, Maputo, Arquivo Histórico de


Moçambique, vol. 1.

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