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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Ciências de Educação


Curso de Licenciatura em Ensino de Biologia

Rituais de chuva entre os diferentes grupos étnicos de Moçambique

Laudino Tomás Macarringue: 31220112

Magude, Fevereiro de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Ciências de Educação


Curso de Licenciatura em Ensino de Biologia

Rituais de chuva entre os diferentes grupos étnicos de Moçambique

Trabalho de Campo a ser


submetido na Coordenação do
Curso de Licenciatura em Ensino
de Biologia da UnISCED.
Tutor: Cibrino Ivan Simões Raúl

Laudino Tomás Macarringue: 31220112

Magude, Fevereiro de 2023


Índice
1. Introdução…………………………………………………………………………….4
2. Antropologia cultural: ensaios etnográficos em Moçambique…………………...…..5
3. Rituais de chuva em etnias de Moçambique…………………………………….……7
4. Conclusão…………………………………………………………………………….9
5. Referência Bibliográfica…………………………………………………………….10
1. Introdução.
Os ritos constituem a essência do ser e estar africano, por extensão, moçambicano. A história
de Moçambique confunde-se com as cerimónias magico-religiosas; este facto é evidente,
inclusive, para olhos mais inadvertidos – por via da história (entenda-se a fundação dos
principais estados e impérios). Compreender esses fenómenos, tal como postulou o sociólogo
francês Émile Durkheim é o critério-chave para a compreensão das sociedades. Por isso, a
presente pesquisa à luz do tema: Rituais de chuva entre os diferentes grupos étnicos de
Moçambique.

Esta modesta exposição – comunicação propõem um debate de natureza critica positivista e


subsidiaria da pratica dos diferentes ritos em Moçambique na sua diversidade étnica, no como
estes rituais responde as necessidades do desenvolvimento sociocultural da população da em
respectiva etnia. Esse debate vem sendo discutido a muito tempo, entre variados filósofos,
sociólogos e mais especialmente os antropólogos, pois o estudo do tema em pesquisa é de
natureza antropóloga, onde se pesquisa as etnografias e cultura do povo ou etnia no seu mais
amplo modo de viver e conceber a vida e – ate mesmo à sobrevivência.

Entretanto, a análise do discurso do tema em estudo subjaz ao nosso conhecimento, na


perspectiva metamorfótica da sociedade. Aliás, do ponto de vista cultural, estes valores
respondem ao nosso conhecimento porque são os ensinamentos que vem – se tendo, desde
criança inclusive à velhice. Isto, compõem a tradição moçambicana, tida a partir dos
provérbios, mitos, historias, comunicação escrita e sobretudo oral; que é a mais predominante
na africanidade.

À título disto, o ensaio elabora – se sob objectivo geral: Construir um pensamento crítico
sobre os rituais de chuva em Moçambique. Liga – se ao estudo, com pretensão do alcance do
objectivo geral sob os objectivos específicos: i. Interpretar os estudos antropológicos –
etnográficos de Moçambique; ii. Caracterizar os rituais de chuva na etnia moçambicana; e iii.
Explicar os procedimentos para a realização dos rituais de chuva em Moçambique. A
metodologia a usar é bibliográfica, “quando elaborada a partir de um material já publicado,
constituído principalmente de livros, artigos…” (SILVA e MENEZES, 2008, P. 21).

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2. Antropologia cultural: ensaios etnográficos em Moçambique.

O termo antropologia, eflui da palavra grega anthros, Homem e logos ciência. Evidentemente
antropologia é a ciência que estuda o Homem. De acordo com Barreiros e António (2016:11),
antropologia, organiza os saberes sobre os humanos, seus valores culturais em diferentes
modos de interação social. Ainda que a definição do autor pareça estar um pouco longe da
etimologia, esta disciplina das ciências humanas, lida com pesquisas sobre a essência do
homem, no seu todo. Na tendência etimológica, (JAPIASSÚ e MARCONDES, 2001: 15),
antropologia é o “conjunto das ciências naturais que estudam o Homem…”. Esta ciência
humana tem como objecto de estudo as culturas diversas do homem na sua sociedade desde o
seu primitivismo, abrangendo etnograficamente e etnologicamente, as culturas em referência
ao seu enquadramento social, as suas faculdades, princípios e vida. Que como ciência, surge
na idade clássica com o Heródoto, já considerado o pai da Antropologia. Porem, os estudos
da antropologia só ganham peso nos meados do seculo XVIII.

As pesquisas sobre o homem, vem sendo desenvolvidas desde o período socrático, entre os
seculos V a IV, antes do Cristo. Este período, também denominado período antropológico,
envolvia questões que ate hoje emergem a humanidade; o posicionamento do homem na
sociedade, a sua relação com os outros e o homem enquanto um ser social, entretanto, surgiu
o termo antropocentrismo, o homem é a centralidade. Por via disto, Protágoras, afirmara que
o “O Homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas
que não são, enquanto não são”. Apesar de que se opunha à filosófica do Sócrates que
defendia os valores morais, esta máxima, permite hoje, estabelecer o valor e a centralidade do
Homem no universo, assim, surge a cultura que, de acordo com Barros (2007: 2) é o
momento onde o Homem realiza a sua humanidade, através da concepção dos valores morais,
ética. Assim sendo, Antropologia cultural, segundo BATES (apud MIRASSE, 2019: 52) ”é o
estudo detalhado de culturas tomadas individualmente, designado por etnografias…”. Ou
seja, a antropologia cultural, coloca à mercê a etno – historia, que estuda os povos e os seus
descendentes.

Esses pormenores culturais, que também dissemos etnografia, segundo (BARREIROS e


ANTONIO, 2016: 23) “define – se como um método de investigação por meio do qual se
apreende a complexidade da determinada vida social”. Concebe –se como um método da

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antropologia, a qual, se estuda as diferentes etnias. E por outro lado, a etnologia é a ciência
que analisa diferentes e descreve varias etnias de um povo, interpretando – o afim de
estabelecer uma relação ou comparação entre culturas. Portanto, etnia, é um grupo de
indivíduos que partilham da mesma história, origem, línguas, costumes e hábitos.

Em Moçambique, possuímos vários grupos étnicos, como denuncia Nhampulo e Bila (2006),
Macondes; Macuas; Chuabos; Yao; Shona; e Tsongas, distribuídos em região norte, centro,
sul do país, respetivamente. Estes grupos, são a base da elaboração deste ensaio, pois, quer –
se compreender como afinal, a etnografia moçambicana desencadeia – se ao do tempo face as
mudanças actuais? A etnografia moçambicana trabalha com a demanda de respostas de como
a vida social dos Homem vivem entre si sob prática dos ritos, que constituem a essência do
homem, ou seja, da moçambicanidade e suas implicações históricas, desde a humanidade ate
então. A tradição e a cultura moçambicana, fortemente influenciado pela fonte oral, vem
sendo fortificada pela crença dos mitos e realização dos rituais, na fé de que à sua demanda
será ouvida e realizada pelos espíritos e por um outro lado, pela invasão árabe – persa do a
partir do seculo VI n.e., e a penetração portuguesa no final do seculo VI. Afinal, toda a
tradição moçambicana é baseada na experiencia religiosa que os seus atos não divergem
muito dos todos os mitos ou rituais que se realizam com um certo fim.

Essas penetrações, de certa forma, ajudaram a escrever a nova dinâmica cultural do povo e
que levou também a formação de etnias, culturas, hábitos, costumes, entre outros. Hoje,
portanto, temos variadas formas de realizar os rituais, assim como tem vários tipos de rituais
em diferentes etnias. À titulo de exemplo divergente, no sul, na etnia tsonga, realiza – se os
rituais de sumo ou bebida de canhú nos meses de Fevereiro ou Março, o que não é comum
noutras etnias; ocorre igualmente rituais de iniciação feminina rigorosamente realizada na
etnia macua; rituais de lobolo, em que a mulher vai lobolar o homem, isto, comum nas etnias
do norte e centro de Moçambique; rituais de viagem; rituais de caça tipo no distrito de
Magude (Mapulangune, Mahel, Panjane), onde outrora, realizou se efetivamente na era de
caça furtiva de rinoceronte e ouros animais; rituais de casamento, etc. portanto, o ser africano,
em particular moçambicano, envolve uma dimensão tradicionalista que assegura o andamento
da vida e de todas as actividades diárias que andem bem, depois da consulta aos espíritos que
se venera.

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Isto, constitui uma aliança entre os homens do mesmo grupo étnico, a identidade cultural; por
exemplo, os rituais de iniciação, são feitas para integrar os indivíduos a juventude. Rito como
este, é mais considerado no sul, como simples circuncisão, não como acto que deva ser
convocados os espíritos. Ou seja o caso dos Macondes ou Macuas, que convocam os espíritos
para o mesmo efeito.

3. Rituais de chuva em etnias de Moçambique.

De acordo com Japiassú e Marcondes (2001: 168), rito é uma celebração de um ritual que é
realizada segundo regras baseadas na tradição religiosa ou sociocultural. Já, ritual, segundo
Rodolpho (2009: 141) é um sistema cultural de comunicação simbólica, constituída de
sequências ordenadas e padronizadas de palavras e atos. Essa padronização é que marca
realmente os ritos, ou seja, antes da realização de um certo ritual, este ainda não pode
acontecer, pois os espíritos neste sentido, ainda não se manifestaram a favor. Devendo,
portanto, realizar o ritual para acontecer. Assim, pretende se desviar o ritual da estrutura
social encarrada como um sistema secreto de inter – relações sociais em relação ao mito.

Aqui, deve – se prestar atenção a distinção entre ritual e mito; mito “é uma mensagem
cifrada, que não é entendida facilmente por quem não esta dentro da cultura de que o mito
faz parte”, (MIRASSE, 2019: 20). E o ritual, “é uma parte essencial da crença religiosa da
fé no facto de que essa narrativa sobrenatural proporcionar ao homem uma garantia de
salvação…”. (idem). Ora, como pertencente de uma determinada etnia, sabe – se qual
significado o mito tem sob o ritual. Estes rituais são essencialmente fazedores da cultura de
Moçambique, uma vez que determinam e identificada cada grupo étnico do outro através dos
seus costumes e hábitos. Realiza se como crença a religião especifica, dependendo de cada
etnia ou também do tipo de ritual porque há rituais que podem ser realizados sem a
necessariamente a intervenção da experiência religiosa, não obstante a isso, crê – se de que o
rito feito, será realizado, pois, segundo Tosta (1997), DEUS é o centro da experiencia
religiosa que vigora a fé de que o rito será concretizado pelas divindades.

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Os rituais de chuva, são conjunto de procedimentos tradicionais ou religiosas realizadas por
um grupo étnico em que se pede chuva aos antepassados; geralmente realizados uma vez ao
ano somente quando se verifica períodos longos de seca. Este procedimento obedece em
todas as etnias umas regras já predispostas para que tudo ocorra bem; mas a principal regra é
que é feita pelo chefe da terra, dito regulo. Pois tem seus ancestrais que ligam – se com
DEUS e que atendem o seu pedido. Os rituais são realizados ate mesmos nos períodos das
primeiras povoações de Moçambique. De acordo com Nhampulo e Bila (2006), os chefes,
pediam chuva, proteção e saúde a sua família e a comunidade. Pediam também a fertilidade
do solo. Em etnias tsonga, a realização dos rituais é coletiva, podendo participar qualquer um,
porem, deve ser realizada pelo chefe da terra e alguns casos, participando os curandeiros
tradicionais; geralmente feita numa árvore e que pode ser também numa palhota.

Em algumas etnias como Maconde, Elonwe, os rituais de chuva são realizados em lugares
específicos, em arvores bastantes raras, que geralmente encontra com ofícios de barros e
vinho ou bebida tradicional que o ritual ou os espíritos forem a recomendar, porque não é
sempre ou em todas as etnias que se realiza os rituais usando vinho. Mas, no caso dos macuas
e Elonwe, realizam geralmente no final do dia numa arvore e muitas das vezes é feita no final
do dia, acreditando – se que é porque os espíritos ficando mais concentrados para revelarem
os problemas da seca.

Em algum momento, para realizar o ritual de chuva, em condições normais, tinha que se
preceder de um rito de purificação da terra, que geralmente é feita na etnia tsonga; libertando
a terra dos maus espíritos, e demais ações contra as normas propostas pela estrutura de
liderança tradicional. As etnias, Shonas, Yao, Sena, entre outras, seguem a mesma linha.
Agora, um faco bastante interessante, é que os rituais devem mesmo seres feitas com base na
língua local de cada etnia, não sendo necessário, realizar os ritos com recurso à língua
Portuguesa, pois pressupõem – se que os rituais ouvidos pelos nossos antepassado são
igualmente respondidas em língua local. Tal como era feito outrora, hoje também os rituais
de chuva devem ser feitas na mesma época por cada chefe da terra em cada terra e por fim, se
realizar em concomitância com o chefe máximo da terra desse mesmo distrito, porque limitar
se a fazer o ritual de chuva apenas com o chefe da terra de uma localidade, não è o suficiente.
Realizar as cerimónias de ritos em todas localidades ou povoações do mesmo distrito, e por

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fim, no mesmo distrito reunindo esses régulos juntamente com o chefe máximo, estaria – se a
convocar na íntegra, todos os antepassados e assim, o pedido de chuva será respondido com
pontualidade.

4. Conclusão.

Os rituais de chuva, são parte de uma extensão dos ritos que realiza – se em todas as etnias de
Moçambique; são parte da identificação cultural. Apesar da variedade de confissões
religiosas que abrangem o país, aponta – se a fé como elo entre os vivos e Deus na
perspectiva de que a realização do rito nos coloca. Graças a fonte histórica, transporta – se
esses costumes ou hábitos desde gerações ate hoje. Assim, pode – se afirmar que a
moçambicanidade é bastante resistente mesmo com a invasão do colono que deixou de certa
forma a sua cultura, a prática dos rituais é a que realmente identifica o ser africano, por
extensão o ser moçambicano.

Hoje, pode – se identificar algumas controvérsias porque estamos em uma época em que a
religiosidade, a cultura, não é necessariamente parte da vida da juventude; muito mais a
realização desses cultos, pois, esta cada vez mais sumindo pela forte invasão da cultura norte
americana, asiática, europeia. Assim, urge a necessidade de contornar esse desafio face a
realidade actual perante um outro inimigo fortíssimo que é o assustador avanço científico.
Porque somente vive – se afrente do computador, smartphone, televisor, etc. descartando a
prática dos rituais e sobretudo aceitar a nossa cultura. Portanto, este é um desafio enorme ao
qual os antropólogos procuram compreender o ser humano e a sua interação social
actualmente, só assim, poderá propor os caminhos para contornar este desafio.

À critica da consistência dos rituais, compreende – se como uma identificação cultural,


todavia, emerge problemas de integração social do individuo, como em casos de migração,
que depois da instalação do migrante, começa a ocorrer choques étnicos e linguísticos até
adaptar – se à nova realidade. Bem, isto é incorrigível, pois esta vida já os identifica como
praticantes daquela cultura ou rito. Esta crítica é justamente por haver várias etnias que
noutra dimensão atrapalham seriamente na unidade nacional. Agora, o que deve ser feito a
fortificar esta unidade em prol da cultura e os ritos, sendo que a variedade linguística e
cultural é uma facto já imutável?

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5. Referência Bibliográfica.

BARROS, J. (2006), Cultura, Mudança e Transformação: A Diversidade Cultural e os


Desafios de Desenvolvimento e Inclusão, UFBA

BARREIRO, E e ANTONIO, M. (2016), Antropologia Social e Cultural, Londrina: Editora

Distribuidora Educacional

JAPIASSÚ, H e MARCONDES, D. (2001), Dicionário Básico de Filosofia, Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Editor

MIRASSE, J. (2019), Antropologia Geral, Beira: ISCED

NHAMPULO, T e BILA, H. (2006), Eu e os Outros: Ciências Sociais, Maputo: Longman

SILVA, E e MENEZES. E, (2008), Metodologia da Pesquisa e Elaboração de Dissertação,


4ª. ed., Florianópolis

RODOLPHO, A. (2009), Rituais, Ritos de Passagem e de Iniciação, v. 44.

TOSTA, P. (1997), Missa e o Culto Visto do Lado de Fora do Altar, São Paulo: USP.

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