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Anatoly Olímpio

Belfim Martinho Colete

Norberto Daima Agostinho

O Domínio do simbólico

(Licenciatura Em Ensino de Matemática)

Universidade Rovuma

Nampula

2022
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Anatoly Olímpio

Belfim Martinho Colete

Norberto Daima Agostinho

O Domínio do simbólico

(Licenciatura Em Ensino de Matemática)

Trabalho em grupo de carácter avaliativo da


cadeira de Antropologia Cultural de
Moçambique, 9º grupo, do curso de
Licenciatura em Ensino de Matemática, 2º ano,
2º semestre, leccionada pelo docente: Msc.
Henriques Luís Namuera

Universidade Rovuma

Nampula

2022
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Índice
Introdução 4

1. O domínio do simbólico 5

2. Estudo de rituais em antropologia 6

3. Ritos de passagem 7

4. Rituais como Mecanismo de Produção social 7

5. Os ritos de iniciação nas zonas rurais 7

5.1. primeira cerimónia 8

5.2. A segunda cerimónia 8

5.3. A terceira cerimónia “O casamento” 8

5.4. Quarta cerimónia 8

6. Feitiçaria, Ciência e Racionalidade 8

6.1. Feitiçaria 8

6.2. Ciência 9

6.3. Racionalidade 9

Conclusão 11

Bibliografia 12
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Introdução
O presente trabalho enquadra-se na cadeira de Antropologia Cultural de Moçambique,
com o tema o domínio do simbólico, este que é de extrema importância, pois aborda
sobre os ritos, estes que têm um impacto muito grande na produção social em
particular em Moçambique concretamente nas zonas rurais.

Tendo em conta que rituais são variedade de comportamentos repetitivos que podem
ser observados em praticamente todas as sociedades e culturas, relacionados às mais
diversas situações: cerimónias religiosas, ritos de passagem, funerais, geralmente
com um claro sentido simbólico, com a finalidade de solicitar a protecção da divindade
invocada ou de afastar perigos ou desgraças, ou ainda para garantir sorte (por
exemplo, os rituais realizados na passagem do ano ou na cerimónia do casamento).

Fazendo o uso de uma pesquisa bibliográfica, o trabalho contém quatro partes, em


que a primeira aborda sobre os rituais em antropologia, a segunda aborda sobre os
ritos de passagem, a terceira sobre os rituais como mecanismo de reprodução social,
a quarta e a última sobre a feitiçaria, ciência e racionalidade.
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1. O domínio do simbólico

Segundo Canadart (1997), o simbólico repousa sobre um conjunto de representações


que nós fazemos do mundo e através das quais nós o compreendemos. Nossa
inteligência não tem acesso directamente ao mundo real; a este só temos acesso
através da mediação das representações. A língua constitui uma, entre outras, das
representações do mundo; adicionaremos a esta as diversas formas de narração
(literária, fílmica, televisual), mais amplamente, as histórias, as imagens, as vozes
transmitidas pela média, etc.

Os valores que definem uma cultura são baseados sobre tais representações. Estas
representações são amplamente colectivas embora elas sejam vividas individualmente
na nossa compreensão e na nossa análise dos fatos e das coisas do mundo.

Para que os valores sociais, baseados nas representações, consigam uma certa
permanência, devem ser constantemente reiterados; daí a importância que tomam,
nas nossas culturas, as diversas formas de representação. Refiro-me aqui tanto ao
que diz respeito à literatura, às artes, às comunicações mediáticas quanto a todos os
rituais que marcam a nossa vida colectiva. Uma integração à sociedade pressupõe um
conhecimento dos valores fundamentais que a definem, portanto, das representações.
E tem mais: uma plena integração à sociedade pressupõe também um conhecimento e
uma certa habilidade no que concerne aos processos e mecanismos de constituição
destas representações. É preciso reconhecer que, na medida em que estas
representações são sempre mutantes, todos os membros da sociedade estão
constantemente colocados em uma situação de aprendizagem da formação do
simbólico. Não existe aquisição definitiva. Aceder aos valores estabelecidos para
conquistar seu espaço na sociedade e compreender os processos de constituição
destes valores ou representações é uma única e mesma tarefa, é participar da vida
social.

Para Durkheim:

[...] há na religião algo de eterno destinado a sobreviver a todos os símbolos


particulares nos quais o pensamento religioso se envolveu sucessivamente. Não
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pode haver sociedade que não sinta a necessidade de conservar e reafirmar, a


intervalos regulares, os sentimentos colectivos e as ideias colectivas que
constituem a sua unidade e a sua personalidade (DURKHEIM, 1989, p.504-505).

Pode-se observar que para Durkheim, os símbolos não são propriamente o que produz
a
coe são nos agrupamentos, mas o sentimento produzido pela manipulação desses
símbolos através dos rituais; os sentimentos e ideias colectivas que são os elementos
de coesão, se conservam e se reafirmam em intervalos regulares. A colectividade ao
reafirmar seus sentimentos através dos rituais pode renovar ou incorporar outros
símbolos através da dinâmica social, mas o sentimento e as ideias permanecem.

2. Estudo de rituais em antropologia

O rito designa-se “um conjunto de actos repetitivos e codificados, por vezes solenes,
de ordem verbal, gestual ou de postura, com forte carga simbólica, fundado sobre a
crença actuante de seres ou de poderes sagrados, com os quais o homem tenta
comunicar, visando obter um determinado efeito” (Rivrère, 2000, p.154).

Segundo Titiev (2009), há muitos anos, surgiu entre os antropólogos culturais a


opinião de que todas as praticais que envolviam uma crença no sobrenatural eram de
carácter idêntico. A fim de exprimir essa diferença, algumas actividades foram
denominadas religiosas e outras classificadas como magia. Contudo, em breve se
tornou claro que não se podia fazer nenhuma distinção rápida e nítida entre religião
e magia e no presente um certo número de estudioso está de tal modo convencido que
não há entre elas qualquer linha divisória que desistiu de distingui-las. Um dos pontos
divergentes que primeiro atraio atenção dos estudiosos foi o facto de certos rituais
revestirem aparentemente o carácter mais obrigatório. A religião, tal como
argumentavam alguns, deixa a decisão última relativa a qualquer acção nas mãos de
divindade que pode ou não actuar conforme ache conveniente.

Segundo Mello (2013) ao dos grandes ritos que a comunidade toda é chamada a deles
participar activamente ou como espectadores, existem pequenos rituais particulares
também de uso colectivo. Os antropólogos concordam geralmente em afirmar que o
ritual é uma prescrita, respectiva, pela qual a prescrição pode caminhar desde a
rigorosa afirmação da forma e da sequência até a possibilidade de escolher entre um
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número de assoes. O carácter respectivo e de prescrição assumindo pelo ritual,


denota claramente a sua condição social. Isto não impediu a Van Gennep de toma-lo
como expressão mágica “por tratar-se de prática” e crença como expressão religiosa.
É uma função do ritual realçar a importância social de algo que é mantido como um
valor na sociedade que tem um ritual. Se o ritual é um tipo de linguagem, um modo de
dizer coisas.

Os ritos e permeiam todo o agrupamento social desde sociedades primitivas até as


modernas. Os antropólogos contemporâneos afirmam que temos um comportamento
ritual quando amamos e fuzilamos, quando nascemos e morremos, quando noivamos ou
casamos, quando ordenamos ou oramos. Os rituais revelam os valores mais profundos
do comportamento humano e o estudo dos ritos tornou-se a chave para compreender-
se a constituição essencial das sociedades humanas.

3. Ritos de passagem

Segundo Mello (2013). De modo geral, os ritos de passagem denotam a sensibilidade


das pessoas com relação ao dinamismo da própria existência humana. O peregrinar do
homem através da sua existência envolve uma gama enorme de situações,
transformações, de passagem, de metamorfose. No plano biológico o endividou nasce,
cresce, se reproduz, envelhece e morre. No plano social acontece algo semelhante. As
ocupações de em várias posições sociais implicam modificações substanciais das
pessoas. De resto, o dinamismo e o movimento-a vida-atinge todo o cenário em que
tenha lugar a vida social dos povos. Por isso adquire-se significados a própria
transformação cíclica do ambiente: o movimento da lua e do sol, a mudança dos
estacões climáticos (prima vera, verão, Outono e inverno). Como actos sagrados, os
ritos de passagem comportam a prática de tabus a troca de bens, a reciprocidade, a
confraternização, comensalidade e outras práticas. Os ritos de passagem são como
os
sacramentos tais como o baptismo, o matrimónio, a confirmação, a eucaristia, são
ritos de passagem.
Ritos de passagem são celebrações que marcam mudança de estado de uma pessoa no
seio de comunidade. Os ritos de passagem podem ter carácter social, comunitário ou
religioso. Os mais comuns são os ligados a nascimento, mortes, casamento. Em nossa
sociedade, os ritos ligados a nascimento, morte e casamento são praticamente
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monopolizados pelas religiões.

4. Rituais como Mecanismo de Produção social

Os rituais efectuam uma mudança ontológica no homem, transforma-o. Pelo rito, o


homem entra num novo modo de ser, é inserido no sagrado através da representação
do modelo exemplar. É de salientar que os ritos têm um impacto muito grande na
produção social em particular em Moçambique concretamente nas zonas rurais.

5. Os ritos de iniciação nas zonas rurais

São cerimónias especiais de aceitação na sociedade rural, estruturados por


simbolismo forte, em Moçambique existem cerimónias que são muito semelhantes, mas
com procedimentos distintos virados as culturas locais. Cerimónias secretas, longe do
olhar de estranhos, de uma forma geral os ritos têm como base os seguintes
procedimentos:

5.1.primeira cerimónia

Está ligada ao nascimento, os pais apresentam a criança aos seus antepassados


directos para serem reconhecidos como parte da linha dos seus ancestrais. Onde o
nome escolhido será pronunciado de forma solene.

5.2.A segunda cerimónia

São os ritos de iniciação, é feita após os rapazes e as raparigas se tornarem aptos


para a
procriação, estes ritos tem como regra fundamental, o juramento de manter em
segredo toda a aprendizagem. As danças, os cantos e as músicas tradicionais são uma
obrigação permanente durante o tempo em que a cerimónia é realizada.

Em relação a mulher, acontece no surgimento da primeira menstruação, a rapariga


torna-se apta para a procriação. Para a realização desta cerimónia, há todo um
ensinamento desde o questionário da madrinha que obtém as informações detalhadas
da jovem. Em relação aos rapazes, acontece no início da puberdade, a passagem de
infância para a idade adulta.

5.3.A terceira cerimónia “O casamento”


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Em relação aos rapazes, há todo um processo da escolha da rapariga, após isso, dá-se
início as reuniões demoradas entre familiares, negociações seriam e com
testemunhas. Em relação as raparias, há todo um processo que já vem desde a
segunda cerimónia.

5.4.Quarta cerimónia

Está ligada aos momentos fúnebres, que são considerados como momentos da última
transição, ou seja, aquela que leva a entrada no reino dos mortos, é respeitado e
louvada ao longo dos tempos.

6. Feitiçaria, Ciência e Racionalidade

6.1.Feitiçaria

A feitiçaria pode ser descrita como uma acção maliciosa, levada a cabo através do
recurso a forças místicas ou mesmo pela violência, resultante de ódios e tensões
intensas presentes na sociedade, e que as pessoas interpretam como actuam sobre si
independentemente da sua vontade (Ashforth, 2005: 87).

Sendo a feitiçaria uma linguagem de poder (Kapferer, 1997), os supostos feiticeiros,


como a maioria dos médicos tradicionais em Moçambique, operam de acordo com
normas que assentam em pilares referenciais que não foram integrados nas políticas
do estado, que emprega termos de análise e instrumentos políticos na resolução de
problemas e conflitos gerados pelo ‘oculto’ que não têm ligação alguma com estes
sistemas epistémicas.

As acusações de feitiçaria são uma forma de controlo social face à turbulência das
relações sociais provocadas pelo aumento da mobilidade, o êxodo rural, o colapso das
expectativas no papel facilitador do Estado e na estabilidade do emprego, com o
consequente aumento da insegurança, a desestruturação das relações familiares, a
exclusão social, o enriquecimento e o empobrecimento rápidos, a emergência dos
valores do individualismo e da autonomia em conflito com os valores da família e da
comunidade (um conflito que é muitas vezes geracional), o aumento da concorrência
na luta pela ascensão social ou pela promoção no interior dos aparelhos de Estado,
etc. (Gimbel-Sherr e Augusto, 2007).
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Sendo um processo dinâmico, o terreno de poder revela-se em permanente mudança,


onde os atores que nele se movem estão constantemente sujeitos a uma avaliação
social. As novas forças económicas e sociais podem exacerbar tensões e hostilidades
entre os seus membros, que se tornaram suspeitos de não só causar, mas também
beneficiar dos problemas e aflições dos outros. Nestes contextos extremamente
voláteis, a feitiçaria emerge como uma forma persuasiva que justifica as doenças,
infortúnios ou até mesmo a morte (Meneses, 2000, 2004, 2007).

6.2.Ciência

Ciência (lat. scientia: saber, conhecimento). Em seu sentido amplo e clássico, a


ciência é um saber metódico e rigoroso, isto é, um conjunto de conhecimentos
metodicamente adquiridos, mais ou menos sistematicamente organizados, e
susceptíveis de serem transmitidos por um processo pedagógico de ensino.

Mais modernamente, é a modalidade de saber constituída por um conjunto de


aquisições
intelectuais que tem por finalidade propor uma explicação racional e objectiva da
realidade. Mais precisamente ainda: é a forma de conhecimento que não somente
pretende apropriar-se do real para explicá-lo de modo racional e objectivo, mas
procura estabelecer entre os fenómenos observados relações universais e
necessárias, o que autoriza a previsão de resultados (efeitos) cujas causas podem
ser detecta das mediante procedimentos de controlo experimental. Japiassú e
Marcondes (2001).

6.3.Racionalidade

A racionalidade é a característica daquilo que é racional, que está de acordo com a


razão Ex.: princípios racionais, decisão racional. Oposto a irracional.

Do ponto de vista epistemológico e antropológico, questiona-se a universalidade do


conceito de racionalidade e os critérios segundo os quais se caracteriza um
procedimento ou uma decisão como racional. Esses critérios seriam sempre, em última
análise, culturais, variáveis e relativos, portanto, ou pertenceriam à própria
natureza da razão humana como tal, Seriam inatos, próprios do homem apenas, ou
corresponderiam a princípios e leis que pertencem à própria realidade, de carácter
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ontológico, portanto, Max Weber (A ética protestante e o espírito do capitalismo,


1904) distingue a acção racional valorativa (Wertrational) da acção racional
instrumental (Zweckrational). A primeira caracteriza uma acção que se realiza de
acordo com certos valores e que se autojustifica, como p. ex., os rituais em certas
culturas. A segunda caracteriza como racional uma acção ou procedimento que visa
fins ou objectivos específicos, procurando realizá-los através do cálculo e da
adequação dos meios a estes fins; dessa forma, os fins justificariam os meios mais
eficazes para sua obtenção. Weber identifica a razão instrumental com o capitalismo
e o desenvolvimento da técnica e da sociedade industrial. Em síntese "a racionalidade
é o estabelecimento de uma adequação entre uma coerência lógica (descritiva,
explicativa) e uma realidade empírica" (E. Morin, Scienceavecconscience). Japiassú e
Marcondes (2001).
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Conclusão

Podemos concluir que para que os valores sociais, baseados nas representações,
consigam uma certa permanência, devem ser constantemente reiterados; daí a
importância que tomam, nas nossas culturas, as diversas formas de representação,
estas representações se caracterizam por uma certa estabilidade (que assegura uma
coerência aos valores sociais); por outro lado, elas estão sempre submissas a
modificações mais ou menos importantes. Os símbolos se envolvem com o processo
social e o desempenho ritual constitui fases distintas no processo social. Através
desses processos, os grupos se ajustam às mudanças internas e se adaptam ao mundo
externo.

O símbolo requer um consenso que o legitime. Nessa perspectiva, entendemos que


dentro do agrupamento tal consenso pode ser alcançado por fatos e pensamentos
comuns ao grupo, para fora do grupo os símbolos são reconhecidos por analogias. No
entanto, torna-se importante salientar que nem sempre o sentido dado aos símbolos
pelo grupo internamente, são o mesmo do observador externo.
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Bibliografia

ASHFORTH, B, E; DUTTON, J, E. Organizational identity. São Paulo :Martins


fontes,2005.
CANADART, Paru. V. Revista do Núcleo de Estudos Canadenses, Universidade do
Estado
de Bahia. Associação Brasileira de Estudos Canadenses - ABECAN. Salvador, Bahia,
1997.

COPANS, J. et al. Antropologia. Ciências das sociedades primitivas? Lisboa, ed.


70,1971, p.307-340
FOREST, Philippe. Termos fundamentais de cultura geral. Gráfica
Europam.Belguique.1991
IVALA, Adelino Zacarias e outros, Tradição e Modernidade. Que Lugar Para a Tradição
Africana na Governação Descentralizada de Moçambique, CIMISAU, Maputo, 1999.
JAPIASSÚ, Hilton. MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de Filosofia.Ed.3.Rio de
Janeiro,2001.
MAGAIA, A. (2010). Moçambique: Raízes, identidade, unidade nacional. Maputo: Ndira.
MARTINEZ, Francisco Lerma. Religiões africanas hoje.Ed.3.PAULINAS.Maputo.2009.
Mello, Luiz, Gonzaga. Antropologia cultural de: iniciação, teoria e
temas.19.ed.petropolis.vozes,2013
SILIYA, Carlos Jorge, Ensaio a Cultura em Moçambique, Maputo, Outubro de 1996.
TITIEV, Mischa. Introdução á antropologia cultural. Ed.10.coimbra,2009.

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