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Diolinda Ábias João Chinhama

Ritos de iniciação feminina na zona norte (Macua)


Licenciatura em química

Universidade Pedagógica

Beira

2021
Diolinda Ábias João Chinhama

Ritos de iniciação feminina na zona norte (Macua)

Trabalho, a ser apresentado ao departamento de


Química, para avaliação na cadeira de
Antropologia Cultural de Moçambique,
Delegação da Beira.

Msc: João Guerra

Universidade Pedagógica

Beira

2021
Índice

Capitulo I. Introdução.................................................................................................................3

Capitulo II. Desenvolvimento.....................................................................................................4

2.1. Ritos de iniciação feminina

2.2. Objectivos dos ritos de iniciação..................................................................................5

2.3. Ritos de iniciação feminina..........................................................................................5

2.4. Impacto dos ritos de iniciação no sistema educacional................................................6

2.5. Aspectos positivos........................................................................................................8

2.6. Aspectos negativos.......................................................................................................8

2.7. Factores que podem interferir nos ritos de iniciação....................................................8

Conclusão..................................................................................................................................10

Referencias................................................................................................................................11
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Capitulo I. Introdução

O presente trabalho que tem como tema “Ritos de Iniciação feminina”. Os ritos, sejam
de passagem de idade, sejam de nascimento, matrimónio ou morte, têm sido estudados
enquanto objecto autónomo pelas disciplinas que constituem as ciências sociais, sobretudo
desde as últimas décadas do século passado, quando, principalmente a antropologia e a
sociologia sobrelevam a importância da contextualização cultural e a sua relação com as
esferas de ordem política, económica e social. Isto é, as novas abordagens interferem na
“perda de inocência” dos ritos como expressão de uma cultura essencial, original e imóvel,
deslocando o olhar para a estrutura de poder que influencia e orienta as suas funções,
organizando as representações e as práticas dos actores sociais.
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Capitulo II. Desenvolvimento

2.1. Ritos de iniciação feminina


Ritos de iniciação

Ritos de iniciação são celebrações que marcam mudanças de status de uma pessoa no
seio de sua comunidade1.

Segundo MACUÁCUA e OSÓRIO (2013:81), Rito é um conjunto de cerimónias


religiosas diferentemente regulados, segundo as diversas comunhões ou em diversas
sociedades.

Visam essencialmente a integração pessoal, social e cultural do individuo, permite ao


Individuo reunir múltiplas influencias do seu meio para em seguida integra-la, na sua maneira
de

Pensar, de agir e de si comportar, o endividou participa ativamente nas atividades e na vida do


grupo que pertence.

Na sociedade moçambicana, os ritos de iniciação não se manifestam de maneira homogénica.


Eles variam de província para província, de religião para a religião e de sexo pra sexo.

Portanto, segundo o autor supracitado, os ritos de iniciação são cerimónias de carácter


tradicional e cultural praticado nas sociedades africanas que visa preparar o adolescente para
encarar a outra fase da vida, isto é, a fase adulta.

Visam essencialmente a integração pessoal, social e cultural do indivíduo, permite ainda


ao indivíduo reunir múltiplas influências do seu meio para em seguida integrá-la na sua
maneira de pensar, de agir e de si comportar.O indivíduo participa ativamente nas actividades
e na vida do grupo que pertence.

Nas sociedades moçambicanas, os ritos de iniciação não se manifestam de maneira


homogénica. Eles variam de província para província, de região para região, de religião para
religião, e de sexo para sexo.

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http://pt.wikipedia.org/wiki/Ritos_de_iniciação
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2.2. Objectivos dos ritos de iniciação

De acordo com MACUÁCUA e OSÓRIO (2013:81), os ritos têm como objectivo


produzir sujeitos definidos e desejáveis dentro de uma ordem socio-cultural, operando como
processos que regulam e constrangem as práticas dos sujeitos. Neste sentido, estão de acordo
com uma ordem mais geral, sendo determinados por processos de socialização que percorrem
diferentes etapas da vida.No bairro de Mutauanha-central verifica-se o contrário dos
objectivos acima referenciados.

MEIRA (2009:28), num trabalho sobre ritos de passagem, defende os ritos como tendo
uma função de padronização de comportamentos e valores com o fim de reforçar a pertença
ao grupo. Os ritos ordenam, classificam e orientam, salvam do “caos” e da desordem, tendo
assim um papel de harmonização, cumprindo ao mesmo tempo uma função terapêutica.

Ao romper, por vezes, por meio de sofrimento e de sevícias, com o passado, o iniciado
fica curado da infância e prepara-se para viver e pensar em função de um novo estatuto que o
qualifica como adulto. Por essa razão, as sociedades, para sua sobrevivência, adaptam e
ajustam os antigos rituais numa procura de coesão que lhes dá sentido. Como afirma Para
MEIRA (2009: 192), os ritos contêm em si a cooperação entre os iniciados, o
reconhecimento de uma autoridade colectiva e a “determinação de responsabilidades”.
2.3. Ritos de iniciação feminina
Uma rapariga só é reconhecida como ser completo depois de ter passado pelos ritos de
iniciação, este tem como objectivos a formação de mulheres para enfrentar as múltiplas
tarefas do lar nos aspectos de uma futura esposa, mãe e produtoras de bens materiais em
beneficio do marido e dos filhos. As mestras ensinam que a menstruação nada tem de
anormal, antes pelo ao contrario de quem em breve pode procriar.

Segundo MWAMWENDA (1986:78) “ao nascer, o bebê Macua não se encontra ainda
plenamente integrado na sociedade. Seu verdadeiro nascimento social acontece após fazer
parte dos ritos de iniciação”. Crianças não iniciadas são de facto consideradas pessoas
incompletas, um pouco “animaizinhos”, tanto que, no caso de morte de um não-iniciado os
ritos fúnebres serão reduzidos (um pouco como acontecia no passado com as crianças não
batizadas).

As raparigas, em particulares devem participar nos ritos de iniciação, que podemos


considerar como verdadeiros nascimentos sociais, e é somente após esta iniciação que
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poderão participar dos momentos importantes da vida colectiva, tais como cerimônias,
funerais e reuniões da aldeia. As marcas deixadas no corpo do iniciado durante o ritual são os
sinais, sinais físicos de transformação na personalidade e no status do indivíduo.

Os ritos de iniciação sexual são uma prática comum nas zonas rurais de Moçambique e
consistem em preparar as meninas, entre 9 e 13 anos de idade, para satisfazerem sexualmente
os seus maridos, cumprirem os caprichos dos esposos e serem agradáveis para com a sua
futura família.

As meninas são tiradas da escola e da família logo quando têm a primeira menstruação,
às vezes antes, e são fechadas numa casa onde as madrinhas lhes ensinam práticas sexuais
durante duas ou três semanas. De acordo com um relatório da Unicef, agência das Nações
Unidas para a defesa dos direitos humanos nos ritos femininos “São preparadas para alargar
os seus lábios vaginais, que devem ser grandes para dar mais prazer; a usar o sexo
masculino e inclusive a seguir uma prática chamada Othuma, que consiste na dilatação
vaginal. Algumas práticas como a dilatação vaginal começam aos 8 anos”.

Este rito baseia-se na ideia de que a mulher é inferior ao homem. Além dos
ensinamentos sexuais, as meninas devem aprender a limpar o marido após o sexo, para não
sujar a roupa da cama, e a aceitarem desde o início os caprichos do homem para que este não
rejeite a esposa. As crianças devem ainda saber limpar a casa, preparar a comida e agradar à
família do futuro esposo, ponto que contam para o “seu valor futuro, o seu preço”.

Uma rapariga só é reconhecida como ser completo depois de ter passado pelos ritos de
iniciação, estes tem como objectivo a formação de mulheres para enfrentar as múltiplas
tarefas do lar nos aspectos de uma futura esposa mãe e produtora de bens materiais em
benefício do marido e dos filhos. De acordo com MACUÁCUA e OSÓRIO (2013:88), as
mestras ensinam que a menstruação nada tem de anormal, antes pelo ao contrário de que em
breve pode procriar.Esses ensinamentos para raparigas adolescentes não são bem
interpretados.

2.4. Impacto dos ritos de iniciação no sistema educacional

De acordo com MACUÁCUA e OSÓRIO (2013:213) em Moçambique, enquanto


alguns defendem a extinção dos ritos de iniciação, responsabilizando a prática pelas
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desistências nas escolas, outros preferem evitar uma colisão das mensagens com os costumes
das comunidades.

A educação tradicional é uma educação não formal. Ela é dada à criança de uma
maneira que não lhe permite individualizar-se do grupo, visando a formação da personalidade
no sentido de dependência no grupo através do desenvolvimento da sua consciência.

Entre os 7 e os 10 anos inicia-se a separação de sexos, a rapariga dorme ao lado da mãe.


É neste período que a criança começa progressivamente a participar nas actividades
produtivas da família. A medida que a criança, a separação conforme sexos torna-se cada vez
mais nítida, a rapariga começa a se mergulha no misterioso mundo das mulheres.

Os ritos de iniciação têm lugar por volta dos 10/15 anos e são marcados por acções
educativas mais conscientes. É nessa altura que a educação das raparigas são confiadas a
alguns membros designados pela comunidade, compreendendo os fundamentos da vida social,
os valores culturais, costumes e tradições.

Numa estreita ligação com os adultos, as adolescentes aprendem um ofício, são lhes
comunicado os principais segredos da família e da tribo. Assim, a adolescente forjada na
iniciação é umamulher completa, ela tem da sua vida e da sua comunidade uma ideia clara e
corrente, sabre o que ou outros esperam e o que delas pode esperar.

Segundo MACUÁCUA e OSÓRIO (2013:412), a educação tradicional dá ao jovem,


um conjunto de conhecimentos utilitários que lhe permitem enfrentar com eficácia e sem
frustrações as dificuldades da vida futura.

Atualmente em Moçambique, a educação tradicional não existe no seu no seu estado


puro, apesar de continuar presente na comunidade. Ao nível das escolas, particularmente nas
zonas rurais a sua presença é notória nas crianças, nas quais se verificam os valores
tradicionais veiculados e defendidos pela família.

Por outro lado, o que se observa atualmente em grande parte das jovens nas cidades ou
vilas, são inúmeros casos, de má conduta nas escolas, centros internatos e lares, falta de ética,
a aderência a atitudes imorais, o consumo de álcool e drogas, a prática de criminalidade, as
infidelidades conjugais, os divórcios ou ainda as insatisfações sexuais dos casais devido a
uma educação sexual deficiente. Isso na opinião da autora deste trabalho, pode ser reflexo da
decadência da educação tradicional pura. É o caso do bairro em causa.
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Com o reconhecimento e valorização da educação tradicional em Moçambique, o sector


de educação vem fazendo respeitar em algumas zonas, a periodização da realização dos ritos
de iniciação de acordo com as zonas, de modo a não chocar intimamente com o calendário
escolar tomando sempre em consideração e respeito que algumas crianças devem participar
nos ritos em pleno período escolar.

2.5. Aspectos positivos

 Integração social e formação da pessoalidade do indivíduo;


 Educação cívica moral (respeito aos mais velhos, aos lugares sagrados, aos mortos);
 Educação sexual e matrimonial.

2.6. Aspectos negativos

 Má preparação da rapariga no que concerne ao aspecto que diz respeito ao valor que
possui o seu sexo perante os homens;
 Os procedimentos para o acto de circuncisão para os rapazes são demasiado dolorosos,
aliado ao uso de instrumentos cortantes não adequados;
 O elevado risco de vida dos iniciados ao mergulhar na água, durante o isolamento
ficam a mercê dos animais ferozes e frio;
 Preparação da mulher para total submissão ao marido, negando-lhe emancipação;
 Educação ao homem para manifestação do poder autoritário;
 Não adequação do programa dos ritos de iniciação com o calendário escolar;
 Longo período de permanência nos ritos de iniciação para os rapazes;
 Separação dos trabalhos caseiros e outros por sexo;
 Limitação da dieta alimentar (não consumo de ovos, fígado, moela, etc.).

2.7. Factores que podem interferir nos ritos de iniciação

A educação tradicional em moçambique através dos ritos de iniciação é complexo e


multiforme devido essencialmente as diversas culturas, como o ilustram as diferentes línguas
que abundam, alicerçado pela vastidão do seu território e influência de culturas dos países
vizinhos. Assim, podem ser apontados alguns factores que podem concorrer negativamente
para a manutenção dos traços culturais tradicionais originais:
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 Os valores culturais tradicionais são transmitidos de geração em geração através dos


mais velhos aos mais novos com base na capacidade de aprendizagem e transmissão
via oral de vido a escassez ou não existência de registos escritos. Em cada fase, cada
tipo de cultura vai se fragilizando, e pouco a pouco a originalidade vai cedendo lugar a
inovações;
 Os interesses relactivos a convicções e crenças religiosas que pululam no país, na
maioria transportadas gratuitamente do estrangeiro;
 O matrimónio conjugal entre uma pessoa que passou pelos ritos de iniciação com
outra que não passou pelo rito;
 O impacto do desenvolvimento económico, sócio-cultural, que origina a
movimentação campo-cidade e vice-versa, devido a implantação de novos projectos de
desenvolvimento;
 O sexo comercial, que pelo qual muitas destas raparigas mais optam, põe-nas em alto
risco de violência relacionada com o género, abuso de substâncias tóxicas, de
contraírem DTS e HIV/SIDA.
 A actual preocupação do governo na divulgação do programa de prevenção e combate
as DTS/HIV/SIDA a todos os níveis e os cuidados básicos a ter em consideração para
não proliferação da doença orientando, por exemplo, aos procedimentos de utilização
de objectos cortantes, até aos médicos tradicionais;
 A livre escolha de parceiro(a), para o casamento (Cristão – Muçulmano, Macua –
Sena, Maconde – Ronga, Nhungue – Machangana, Negro(a) – Branca(o), etc.).
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Conclusão

Após a realização do trabalho, conclui que as cerimónias de ritos de iniciação são


actividades culturais realizadas nas diferentes zonas do Pais. Estas actividades, para as
raparigas têm como objectivo central preparar a rapariga para a vida adulta, no que concerne
como cuidar da casa, do marido e dos filhos. Estas cerimónias foram e continuam a ser a
melhor forma para a população preparar as suas filhas para encararem da melhor maneira a
vida adulta. Os ritos de iniciação são uma prática cultural enraizada que actualmente, nem
sempre reúne consenso quanto aos seus benefícios.
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Referencias
MWAMWENDA, Tuntufye S (2004). Psicologia Educacional. Uma perspectiva Africana.
Texto Editores Maputo: Editora Texto Editores LDA.
OSÓRIO, C. (2006). “Sociedade matrilinear em Nampula: estamos a falar do passado”? In:
Outras Vozes, nº 16, Agosto.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ritos_de_iniciação, a cessado no dia 03 de Mio de 2019

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