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ÍNDICE

INTRODUÇÃO...............................................................................................................................1

CONCEITO.....................................................................................................................................2

CONTEXTUALIZAÇÃO...............................................................................................................3

RITO COMO APRENDIZAGEM PARA SER HOMEM” E “SER MULHER”...........................4

REAJUSTES DA PRÁTICA...........................................................................................................6

RITOS PROPRIAMENTE DITOS.................................................................................................8

Ritos de iniciação.............................................................................................................................8

Preparação para os Rapazes.............................................................................................................9

As Proibições Rituais (MWIKHO)..................................................................................................9

Iniciação para as Raparigas (IMWALI)........................................................................................10

Ritos preliminares (Raparigas)......................................................................................................11

Ritos pós-liminares (Ritos de Prenda)...........................................................................................13

ASPECTOS NEGATIVOS DOS RITOS DE INICIAÇÃO..........................................................13

CONCLUSÃO...............................................................................................................................14

BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................................15

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INTRODUÇÃO
 

Os povos sempre tiveram hábitos que os identificam. Para a iniciação cada sociedade tem seus
hábitos. Há os que preferem usar a experiência dos mais velhos. Estes transmitem aos mais
novos de modo que estejam preparados para a vida adulta sem precisar de rito. Mas há, também,
os que optam pelos ritos, que consideram como sendo uma etapa sem a qual o jovem não pode
ser considerado adulto.

Ainda que algumas sociedades façam ritos, cada uma tem suas características particulares. Com
este trabalho, que tem como tema “RITOS DE INICIAÇÃO DO POVO MACUA”, pretendemos
analisar este grupo (macua) através das suas manifestações culturais, com enfoque para os ritos
de iniciação para a vida adulta.

Para melhor compreensão do trabalho optamos por discutir primeiro o próprio conceito de
“ritos” ao que se segue uma breve contextualização e revisão da literatura que aborda esta
temática. Temos ainda um capítulo dedicado à apresentar a forma como os ritos são feitos por
sexo.

Entretanto, durante a elaboração do trabalho deparamos com situações que consideramos como
sendo aspectos negativos desta prática e enumeramos antes de apresentar a nossa conclusão e
referências bibliográficas.

Gostaríamos, no entanto, de ter entrevistado algumas pessoas que passaram pelos ritos,
sobretudo, mulheres, contudo as que contactámos não se mostravam abertas a abordar este
assunto alegando que “é coisa da nossa tradição e não vemos necessidade de partilhar convosco”
e assim ficaram goradas as tentativas de cruzar as fontes escritas com as orais.

Uma das coisas que dificultou esta missão é o facto de existirem na cidade de Xai-Xai, pelo que
percebemos, poucas mulheres que passaram por estes ritos.

  

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CONCEITO
Eptimologicamente ritos vem do latim “ritos”, que é um costume ou uma cerimónia que se repete
de forma invariável de acordo com conjunto de normas previamente estabelecidos.

Já por Ritos de Iniciação entende-se um conjunto de cerimónias pelo qual se inicia alguém, tendo
observância dos mistérios de uma dada região, PEREIRA (1998).

De acordo com SILVA (2000), os ritos de iniciação são rituais que celebram a passagem de um
indivíduo para a maturidade, para a fraternidade ou sociedade reservada.

Ou seja, entende-se, como bem descreve CISCATO (1989, pág. 73), os ritos como sendo a
celebração colectiva que exprime a tomada de consciência de um aspecto fundamental da
existência ou o sentimento de pertencer a um universo.

CONTEXTUALIZAÇÃO
Segundo OSÓRIO & MACUÁCUA (2013, pág. 66), os ritos têm como objectivo produzir
sujeitos definidos e desejáveis dentro de uma ordem sócio-cultural, operando como processos
que regulam e constrangem as práticas dos sujeitos e, neste sentido, estão de acordo com uma
ordem mais geral, sendo determinados por processos de socialização que percorrem diferentes
etapas da vida.

Meira, citado por OSÓRIO & MACUÁCUA (2013, pág. 66), defende os ritos como tendo uma
função de padronização de comportamentos e valores com o fim de reforçar a pertença ao grupo.
Prossegue afirmando que os ritos ordenam, classificam, orientam, salvam do caos e da desordem,
tendo assim um papel de harmonização, cumprindo ao mesmo tempo uma função terapêutica. Ao
romper, por vezes, por meio de sofrimento e de sevícias, com o passado, o iniciado fica “curado”
da infância e prepara-se para viver e pensar em função de um novo estatuto que o qualifica como
adulto. Por essa razão, as sociedades, para sua sobrevivência, adaptam e ajustam os antigos
rituais numa procura de coesão que lhes dá sentido.

Rodolpho, citado por OSÓRIO E MACUÁCUA (2013, pag.67) acrescenta que os ritos de
iniciação não significam apenas um “rito de transição de um estatuto para outro (morte e
renascimento simbólicos) (…) mas a iniciação é um rito de formação que vai diferenciar os

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participantes ou o círculo de neófitos (novatos) dos de fora, daqueles exactamente não-
iniciados”.  

Os ritos significam uma passagem que contém uma sequência: separação, margem e agregação.
Cada um destes momentos tem um significado diferente, conforme o momento da vida a que se
referem.

No geral, como afirma CISCATO (1989, pág.74), a finalidade dos ritos de iniciação é de tornar
homem adulto (puro, responsável, autêntico, consciente, autorizado a transmitir a vida) aquele
que antes era um rapaz, que, passará, depois, a fazer parte do grupo de homens.

Van Gennep, citado por OSÓRIO & MACUÁCUA (2013, 67 e 68), considera que o sagrado e o
profano, embora separados, estão articulados nos ritos de iniciação: o mundo sagrado existe nas
cerimónias (através das quais se realiza a aprendizagem), pois, ao situar simbolicamente as
pessoas num ou noutro campo, as torna sagradas em relação às outras.

“Por exemplo, os jovens iniciados são sagrados relativamente às mulheres e a todos os que não
se encontram na mesma condição. Penetrar no mundo dos iniciados é um sacrilégio, é uma
violação do sagrado, marcado pelo lugar para onde se deslocam e pelas cerimónias que
realizam. Pela integração, os jovens entram no mundo profano, mas profano que não é
independente do sagrado”, OSÓRIO & MACUÁCUA (2013, 67 e 68).

Os ritos conformam comportamentos e valores que determinam a integração dos indivíduos no


grupo, em que a circuncisão, por exemplo, como fenómeno biológico e social se inscreve na
passagem de um estatuto para outro, como se de um nascimento se tratasse. A iniciação deve ser
vista do ponto de vista individual, da socialização do adolescente para o homem adulto, e do
ponto de vista colectivo, em que através de práticas a sociedade garante a sua continuidade e
coesão.

A iniciação traduz, para além da passagem de uma idade a outra (e de um estatuto), uma
estratificação social, manifesta na hierarquização política e na preservação da diferença entre
estatutos, seja na mesma classe de idade, seja geracional e de linhagem. Isto é, os rituais de

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iniciação eram/são centrais para a preservação, para a coesão comunitária e para a manutenção
da estrutura social.   

O tempo de duração dos ritos pode variar muito de região para região, de um grupo
etnolinguístico para outro, sendo que, nas famílias com melhores condições financeiras, se
fazem ritos mais prolongados e mais fortemente “tradicionalizados”, na crença de que, ao
procederem assim, estes se tornam mais autênticos. (OSÓRIO & MACUÁCUA, 2013, 22)

RITO COMO APRENDIZAGEM PARA SER HOMEM” E “SER MULHER”


Com o nascimento e os ritos correspondentes, a criança macua, não fica completamente
integrada na sociedade, o seu verdadeiro nascimento social, ocorrera com participação dos ritos
de iniciação, que, na língua macua, recebe o nome genérico de ‘’WINELIWA’’. MARTINEZ
(2009 pág.93)

A sociedade macua ritualiza a passagem de adolescência para o estado adulto para ambos os
sexos, havendo ritos próprios para os rapazes chamados ‘’MASOMA’’, e ritos de incitação para
as raparigas, Chamadas ‘’EMWALI’’.

Ainda de acordo com MARTINEZ (2009, pag.93), o indivíduo passa da infância para a idade
adulta, participando de ritos de iniciação. O jovem adquire a maioridade e toma consciência da
própria identidade e do lugar que lhe compete na comunidade. Depois da iniciação o jovem pode
tomar parte do pleno direito da sociedade, pode casar se, participar nos sacrifícios tradicionais,
sentar se  no meio dos adultos, falar publicamente nas reuniões, tomar parte activa nas festas e ir
aos funerais. Todas essas actividades pertencem só aos iniciados.

Entretanto, os ritos de passagem de idade podem ser tomados como modelos legitimadores da
desigualdade entre mulheres e homens. Na realidade, é pela iniciação na idade adulta que se
fixam as prescrições que orientam e estruturam as formas de reconhecimento de si e dos outros
face à inclusão no colectivo. Isto significa que a aprendizagem para “ser homem” e “ser mulher”
se realiza em função de valores e de práticas fundadoras de uma estrutura de dominação assente
numa ordem social que define, segundo o sexo e a idade, o acesso e o exercício de direitos.
OSÓRIO E MACUÁCUA (2013, 68 e 69).

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Bhaba, citado por OSÓRIO & MACUÁCUA (2013, 77), os ritos de iniciação são um objecto
nuclear para a produção de constatações que permitem observar como a vivência da sexualidade
feminina e masculina é diferenciada pela acção que se exerce sobre a domesticação dos corpos,
de que os ritos são um momento alto, e como essas vivências são experimentadas e/ou rejeitadas
durante o processo de construção identitária.

As raparigas aprendem os procedimentos para limpeza da genitália masculina no final do


intercurso sexual, necessariamente os movimentos favoráveis em função do objectivo a alcançar,
técnicas de sedução e desvio, disposições de agradecimento, refere INGUANE (2020).

Os ritos de passagem de idade são, pelo que ensinam, construtores de identidades de género e de
identidades sexuais discriminadas. Os mecanismos de inculcação identitária são realizados com
extremo sofrimento.

Os castigos e as provas a que os jovens são sujeitos, tendo como finalidade regular
comportamentos, devem ser vistos também, e não apenas simbolicamente, como a legitimação
da violência sobre aquelas e aqueles que, estando na margem, são não pessoas, mas sobretudo
devem ser compreendidos num contexto que se quer impermeável à mudança, ou seja, em que
qualquer mudança constitui uma ameaça à ordem estabelecida.

Para o povo macua a iniciação é tão importante que mesmo vivendo no sul não deve deixar de
participar. Nesse caso a preparação é feita de modo que as cerimónias sejam realizadas nas
outras zonas, ou seja, têm de viajar para o Centro e Norte (principalmente) em busca deste ritual.
Portanto verifica-se por um lado o quanto é valorizado este rito, por outro lado o sacrifício e o
investimento que se vem a realizar em busca desta prática, como refere INGUANE (2020).

REAJUSTES DA PRÁTICA   
Segundo admitem OSÓRIO & MACUÁCUA (2013, 19), os rituais de iniciação foram sendo
“sujeitos a reajustamentos e até a possíveis rupturas dos dispositivos da aprendizagem, já que,
ao longo dos últimos 50 anos, se produziram mudanças a nível político, económico e social, às
quais a guerra civil e a mudança de regime político não são alheios, determinando a
desestruturação/recomposição das instituições, como a família, ao mesmo tempo que, de forma

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mais ou menos acelerada, os elementos da modernidade foram alterando (em conflito ou não) os
sentidos de pertença anteriormente existentes”.

Segundo alguns estudos, em muitas regiões do país, ou já não se realizam os ritos como outrora,
ou estes foram muito simplificados, havendo, contudo, tentativas de os renovar, seja através da
introdução de questões ligadas à saúde sexual/reprodutiva, seja colocando-os fora do calendário
escolar (BONNET, 2002). Há indicações de que em algumas regiões se verifica a substituição
dos ritos, tal como eram concebidos na tradição, por cerimónias realizadas em igrejas.

Os ritos de iniciação são também muito violentos para os rapazes, em que com castigos
inomináveis eles aprendem a ser dominadores, aprendem que depois de iniciados devem
começar a preparar-se para serem homens e para proverem uma família.

São, também, violentos para os rapazes, em que com castigos inomináveis eles aprendem a ser
dominadores, aprendem que depois de iniciados devem começar a preparar-se para serem
homens e para proverem uma família.

Para as raparigas os ritos de iniciação autorizam os pais a “casarem-nas” prematuramente. Com


muita frequência este “casamento” foi combinado com anos de antecedência, sendo a sua
realização determinada pelo aparecimento da primeira menarca e pela realização dos ritos.

As consequências são normalmente o abandono da escola, a gravidez precoce e o surgimento de


doenças e de lesões graves, como a fístula obstétrica.

Nos ritos as jovens aprendem a subordinar-se, seja pela instrução em estratégias de


apaziguamento do homem, seja através da relação sexual e da aplicação das técnicas aprendidas,
seja através da paciência e da tolerância nos casos em que, mesmo ignorando as razões da zanga
masculina, devem “aceitar.

Usamos da Revista Científica da UEM, passa afirmar que “as raparigas, por exemplo, aprendem
das conselheiras como fazer os movimentos copulatórios através dos movimentos das ancas,
cintura e nádegas e após a demonstração, as iniciadas, acompanhadas pelas respectivas
madrinhas, são convidadas a imitar as conselheiras/matronas.

No contexto actual os ritos de iniciação são configuradores de identidades sexuais submissas e


esse poder aparente da mulher conferido pelo conhecimento do seu sexo e do outro na realidade
é uma manifestação de brutal submissão.

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Entretanto, o contacto próximo com a modernidade, o maior acesso à escola e a vivência num
ambiente mais cosmopolita, gera a criação de oportunidades que potenciam escolhas, permitindo
novas formas de identificação, e a rejeição, ou, pelo contrário o aproveitamento da aprendizagem
ritual para pôr em jogo, e de forma mais sofisticada, os dispositivos de poder e também de
contrapoder nas relações sociais, particularmente as relações sociais de género, (OSÓRIO &
MACUÁCUA, 2013, 375)

RITOS PROPRIAMENTE DITOS

Ritos de iniciação
O nascimento (OYARIWA)

Os ritos

 A Vida Continua

Para MARTINEZ (2009 pág.79) o nascimento de uma criança é um dos acontecimentos mais
importantes da sociedade macua. A criança é desejada e esperada pelos pais, pelos responsáveis
e membros da família e, finalmente, por todos membros da sociedade, porque todos amam a vida
e desejam que esta continue. Cada vez que nasce uma criança, este ideal se realiza
concretamente. Um outro filho significa, para a família e para a sociedade, a esperança concreta
de que a vida não acaba.  

Segundo Martinez (2009.Pag.94), os ritos de iniciação são, em primeiro lugar:

a)      Ritos de separação

Com os quais o indivíduo abandona o seu interior estado social “a infância”;

b)      Em segundo lugar são ritos Liminares, pelos quais o indivíduo vive uma
particular transformação da sua personalidade em clima de separação física e social;
c)       Ritos de incorporação

Na situação normal da sociedade, pelas quais o iniciados, ao deixar atrás de si o período


marginal e ambíguo, se agrega a vida social na nova condição de adulto, membro da
comunidade para todos efeitos.

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Todas essas ideias sobre o significado global da iniciação estão presentes na mente do povo
macua e exprime-se em bastantes provérbios.

PREPARAÇÃO PARA OS RAPAZES


A iniciação dos rapazes ocorre entre 8-12 anos de idade. Para tal, os responsáveis dos rapazes
apresentam a questão aos chefes do povoado, que sua vez reúne se com o chefe mais importante,
cabendo a este o último anunciar oficialmente a celebração dos ritos.

E como estes ocorrem?

‘’Normalmente a iniciação dos rapazes faz- se a cada 2 ou 3 anos, conforme o número de


rapazes que existem no chefado em idades de serem iniciados. Como os ritos são complicados e
sua preparação e boa execução exigem muito esforço e tempo, muitas vezes prefere- se atrasar
a celebração da iniciação até haver o número suficiente de iniciados.

O tempo mais indicado para realização dos ritos é o inverno, que este concede com os meses de
Julho, Agosto e Setembro, tempo frio e seco.

Este corresponde ao período de descanso e férias, pois a maior parte das colheitas estão feitas,
e ainda é o tempo de preparar os campos para a nova temporada. É o tempo propicio às festas
de iniciação, porque há milho nos celeiros e as famílias têm dinheiro, adquirido na venda dos
produtos do campo e, por último, há muito tempo a disposição para a realização dos ritos,
porque ainda não começaram os trabalhos do campo” (MARTINEZ, 2009.pág.96)

As Proibições Rituais (MWIKHO)


Para os jovens que participarem nos ritos de iniciação devem observar as seguintes proibições
(MWIKHO) durante todo tempo de ritos de iniciação:

Não podem tomar banho e nem lavar se, com excepção de banhos rituais;
Não podem usar a roupa que usam ordinariamente (roupa formal). Ou seja devem
vestirem-se de farrapos e andam quase nus;
Tem de se se abster de comer alimentos preparados por mulheres, com excepção da
comida do último dia, que é preparada e enviada ao acampamento pelas respectivas mães
- O que comem durante o período de iniciação é preparada no acampamento;

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Não podem comer certos alimentos que, pela sua cor, tamanho ou forma, possam assumir
um valor Simplício, como por exemplo mel, ovos, e outros que, se pareçam com o
determinado, o frágil, o sem forma-Também estão proibidas as comidas com sal, pela
semelhança de sal (cor branca) com espermatozoides (virilidade) e dos outros temperos
com a comida normal uma vez que se está em tempo de segregação (abstinência
alimentar);
Não podem afastar se de acampamento, porque se encontram numa situação de retiro
absoluto em relação ao resto da sociedade;
Pela mesma razão e também para despertar outros sentimentos no ânimo dos jovens, não
podem receber visita de mulheres e também dos homens casados com excepção dos que
foram admitidos aos ritos.

Para os pais:

Durante o período de iniciação os pais não podem:

Tomar banho (i), pentear (ii), manter relações sexuais (iii), vesitir se com elegância (iv) e comer
comida com sal (v).

INICIAÇÃO PARA AS RAPARIGAS (IMWALI)

Que significa jovem que chegou a puberdade

De acordo com MARTINE (2009.pag.115), esses ritos diferenciam-se dos ritos de iniciação dos
rapazes (MASOMAS), pelo conteúdo das extrusões, pelas pessoas que nela participam, pela data
de celebração, e pela sua duração.

Até a realização dos ritos de iniciação a rapariga macua fica estreitamente ligada a mãe, num
ambiente de total confiança e liberdade, sem descriminação sexual e à mais da vida social;

A rapariga desconhece o significado do que se está a passar, pelo facto de não ter sido iniciada.
Por isso os adultos não se preocupam com o seu comportamento. A sabedoria popular lembra-
nos a tal respeito, alguns pontos de particular interesse, por exemplo, a confiança da criança na
mãe;

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A mãe macua sabe que a sua filha, apesar de não ter os direitos e deveres dos adultos é uma
pessoa que, como tal, deve ser tratada desde pequena por isso, progressivamente a ensina a falar,
a andar e a ser mulher, com a sua sensibilidade maternal, vai integrando ao mundo feminino.

Os ritos de iniciação feminina (IMWALI), realiza-se em várias etapas bem definidas, separadas
entre si por longos períodos de tempo. Trata-se de ritos de iniciação no mundo infantil e
assexuada e ritos de agregação à sociedade. Esses ritos coincidem nos momentos mais
importantes, com certos períodos mais característicos do desenvolvimento psicológico da jovem,
sem, todavia, se chegar a uma identificação de uma puberdade física e puberdade social.

Ritos preliminares (Raparigas)


Segundo MARTINEZ (2009.Pág.117) a iniciação da rapariga inicia desde pequenina e é
progressiva. Para participar nos ritos propriamente ditos de iniciação (EMWALI), não é
necessariamente obrigatório que tenha tido a menstruação, por vezes junta se as raparigas que
ainda não tiveram a primeira menstruação com outras já menstruadas, neste caso, durante as
instruções (IKAMO) são divididas em dois grupos.

Por regra, com o primeiro sintoma da menstruação a rapariga comunica a sua mãe o que se está a
passar e esta (mãe) imediatamente comunica à madrinha da sua filha o acontecimento e como
prova mostra a roupa interior da sua filha manchada de sangue. A partir deste momento
organiza-se os ritos de iniciação da rapariga, os quais nesta primeira fase serão feitos só para ela.

Esta primeira fase consiste nos ensinamentos, na explicação facto (menstruação), os cuidados
higiénicos, como deve se comportar durante a menstruação na comunidade, forma de vestir e de
se alimentar durante o ciclo menstrual e bom como restringir possíveis prática das relações
sexuais.

Período de margem

Segundo MARTINEZ (2009.Pag.118), alguns meses após a realização dos ritos da 1ª fase e
depois de arranjar se um número suficiente (20 raparigas), constrói-se, fora da povoação uma
casa própria (chamada ETXIKUTTA) para a realização dos ritos da 2ª fase. Uma vez reunidos
esses requisitos (casa, número de raparigas, mestras e instrutoras), no dia determinado para o
início, logo na madrugada em casa de cada rapariga faz se um sacrifício tradicional para pedir

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aos antepassados o êxito dos ritos a serem realizados. O ritual usado para a entrada é o mesmo
que se usa para os rapazes.

Após o sacrifício tradicional, organiza se na casa de cada uma delas uma festa com danças, onde
a noite cada grupo acompanha a rapariga que irá participar do rito à casa de iniciação
(ETXIKUTTA), onde ali passam sete a dez dias isoladas do resto da sociedade.

De acordo com MARTINEZ (2009.Pag.119-120), a instrução começa com a 1ª fase de iniciação


e que continuará  após a conclusão dos ritos, especialmente em gravidez e na celebração de
casamento. Esta 2ª fase, é a mais intensiva, abrange a educação em todos os aspectos da vida.
Para além de preparar as jovens para assumirem a sua responsabilidade na sociedade, promovem
nelas a lealdade às instituições comunitárias. Nesta ordem de ideia as mestras (ANAMUKO),
com os seus esforço educativo, usam uma linguagem simbólica, acompanhada de gestos,
representações mimicas e dancas.

As instruções para além de iniciarem as jovens na vida sexual, educam-nas e preparam-nas para
a vida familiar e social. Estas são ensinadas as várias tarefas  da vida de casa; os trabalhos de
cultivo nos campos; a sementeira; trabalhos femininos de construção de uma casa, as raparigas
(ATXIMWALI), aprendem a cumprimentar os adultos, os superiores e todas as outras pessoas.
Ensinam também que não se pode casar com um homem da mesma linhagem; como se
comportar durante a menstruação, pois é proibido, pela tradição. Aprendem sinais que devem
usar para avisar os maridos que estão menstruadas (deixam na cama uma pulseira de sementes
vermelhas e quando acaba a menstruação deixam na cama pulseira de sementes brancas). Desta
forma o marido saberá como se comportar para não transgredir as leis tradicionais.

Passado esta fase nos leva directamente a fase do sinal corporal, onde a mestra principal
(NAMUKU MULUPALE) reúne todas iniciadas no pátio da casa, enquanto as outras tocam
tambor, para abafar o choro das raparigas durante a operação, pois esta é feita a sangue frio.
Com o sinal da mestra as raparigas são acompanhadas pelas suas madrinhas. Sentam no chão
assegurando as mãos e tapando-lhes os olhos, enquanto a mestra da iniciação com pauzinhos
bem afiados faz uma pequena incisão no clitores da rapariga, derramando gotículas de sangue,
acabado a operação a madrinha e afilhada entram numa casa onde irão fazer o curativo com
remédio já preparado. Nalguns grupos da zona de maúa, este rito não se realiza, não sendo por
isso, de uso universal, MARTINEZ (2009, Pág.122-123).

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Findo esta fase do rito corporal, são conduzidas a fase da iniciação sexual. As jovens vão sendo
progressivamente instruídas na vida sexual, instrução esta que será completada por altura de
casamento. São lhes ensionadas a anatomia, as relaçoes entre sexos, a proibição do incesto e a lei
isogamia. Esta iniciação dedica-se à prática de alargar os lábios vulvares (OTHUNA) no que
foram iniciadas desde a meninice, MARTINEZ (2009.Pág.123).

Ritos pós-liminares (Ritos de Prenda)


O último rito antes da celebração do encerramento da iniciação é a OVELELA, que consiste em
oferecer à madrinha da jovem iniciada uma prenda em agradecimento pelo seu trabalho ao longo
de todo tempo de iniciação. Este rito serve igualmente para estabelecer o diálogo entre a
madrinha e a afilhada, interrompido durante as cerimónias. A rapariga entrega a prenda a
madrinha dizendo: “ ELAKWOLA (TOMA ESTA GALINHA); NIXAKO OLA-TOMA (ESTE
LENÇO; NKOVA (OLA)”.

ASPECTOS NEGATIVOS DOS RITOS DE INICIAÇÃO

Os ritos de iniciação ainda se estabelecem na sociedade (embora se verifiquem recorrentes


projecções negativas), como um meio válido e necessário para formação social e educação
sexual tanto para o rapaz como a rapariga (pela idade cronológica se incluem meninos e
meninas), tanto que vezes sem conta se denotam casos de famílias que investem consideráveis
somas de dinheiro para que os filhos possam efectivamente participar dessas actividades.

Na verdade, os ritos preconizam e incutam conceitos e comportamentos de inferiorização e


submisão da mulher perante o homem; contaminaçoes de doenças, porque são ensinadas a
praticar o sexo sem proteção (sem preservativos); sexualidade precose; mortes devido aos
instrumentos usados aos ritos; a circuncisao é feita à sangue frio (sem anestesia) o que provoca
sangramentos; não respeita o calendário escolar.

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CONCLUSÃO
 

Os ritos de iniciação constituem uma ruptura simbólica (uma espécie de renascimento) com as
experiências anteriores. Estes determinam um padrão de comportamento que permite a
integração dos jovens na comunidade, ocupando os lugares e desempenhando os papéis sociais
que lhe são reservados na hierarquia social.

Embora os ritos de iniciação tenham uma considerável quantidade de valores, a aplicação do


mesmo, sobretudo considerando a idade cronológica dos implicados, remete a necessidade de
reajustes na forma como são feitos em termo de conjuntura os rituais.

Por outro lado, surge uma necessidade de se buscar, quiçá, a admissão a este ritual de rapazes e
raparigas de idade próxima a um nível no qual não se corrompa, nenhuma das sensibilidades ou
que já respondam por si.  

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BIBLIOGRAFIA
CISCATO, Elia (1989). Ao Serviço Deste Homem: apontamentos de iniciação cultural. Maputo,
Edições Paulistas.

INGUANE, Edgar Djemis (2020). A Tradição cultural dos Ritos de Iniciação nos contornos da
actualidade. MAPUTO.

OSÓRIO, Conceição e Macuácua, Ernesto (2013). Os ritos de Iniciação no Contexto Actual:


Ajustamentos, Rupturas e Confrontos Construindo Identidades de Género. Maputo, Wlsa
Moçambique.
OSÓRIO, C. (2006). “Sociedade matrilinear em Nampula: estamos a falar do passado”? In:
Outras Vozes, nº 16, Agosto.

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