Você está na página 1de 18

Resumo

Os ritos de iniciação por vezes são também denominados de ritos de passagem. Os ritos
de iniciação marcam a passagem de um status social para outro, os ritos de iniciação
podem ser entendidas como morte e renascimento mas de uma forma simbólica, pois a
criança que está sendo iniciada “morre” e “renasce” uma pessoa adulta.

Para cada grupo étnico, existem critérios para que uma criança participe nos ritos de
iniciação, os Macuas, por exemplo, a aparição da menstruação é o indício de
maturidade, porem o povo Yao, a criança que tiver 8 -12 anos já pode participar dos
ritos, dependendo das condições e vontade dos pais.

Nestas cerimónias as crianças são ensinadas a ser e agir como adultos, ensinando-lhe
regras que regem naquela sociedade e a cuidar de lares, respeitar os mais velhos,
ocorrendo nesta cerimónia, a circuncisão e o corte do clitóris das raparigas, para o início
da vida sexual.

Com isso vários são os aspectos negativos, tal como a perda de interesse na educação
formal, casamentos prematuros e gravidez precoce, pois as crianças começam a se
comportar como adultos e a viver como os adultos vivem.

Outros problemas causados por esta prática é o risco de contrair o Vírus do SIDA, no
processo de corte do prepúcio (para rapazes) e clitóris (para meninas) pois muitas das
vezes as facas ou lâminas não são esterilizadas posteriormente. Em poucas vezes, esta
prática conduz à morte dos menores devido a dores e aos sustos que os mesmos são
submetidos.

i
Índice
Resumo...............................................................................................................................i

1. Introdução..................................................................................................................1

1.1 Objectivos................................................................................................................3

1.1.1 Geral..................................................................................................................3

1.1.2 Específicos...................................................................................................3

1.2 Metodologia.........................................................................................................3

1.3. Justificativa.............................................................................................................3

2. Revisão bibliográfica.................................................................................................4

2.1 Definição..................................................................................................................4

2.2 O povo Yao e sua gênese no Niassa........................................................................5

2.3 Descrição dos ritos de iniciação praticados pelo povo Yao.....................................6

2.2.1 ritos de iniciação para rapazes-djando..............................................................6

2.2.2 Rito de iniciação para as raparigas- Nsondo.....................................................8

2.3 Aspectos negativos decorrentes dos ritos de iniciação............................................9

2.4 Aspectos positivos verificados ao se praticar os ritos de iniciação.......................11

2.5 Impacto da cultura do yao na educação formal.....................................................11

2.6 Importância da prática dos ritos de iniciação para a sociedade Yao.....................12

3. Conclusão.................................................................................................................14

Referências bibliográficas...............................................................................................15

ii
RITOS DE INICIÇAO

1. Introdução
Segundo as ideias de (Boudon, 1990:272), os ritos de iniciação são conjunto dos actos
repetitivos e codificados, muitas vezes solenes, de ordem verbal, gestual e postural de
forte carga simbólica, fundado na crença na actuante de seres ou de poderes sagrados,
com os quais o homem tenta comunicar em ordem a obter um efeito determinado. O
mesmo autor sugere dois aspectos analíticos sob os quais devem ser vistos e analisados
nos ritos: a construção e afirmação das funções sociais dos indivíduos que eles
participam; e a segunda análise refere-se a organização na qual se assenta a prática de
ritos.

Em geral é possível encontrar determinadas características simbólicas e materiais nos


ritos: os trajes, a linguagem, os cânticos, as relações inter-individuais, os alimentos, as
marcas físicas (escarificações, modificações no formato dos dentes, perfuração no nariz,
os lábios, tatuagens entre outros). Para Medeiros (2005) os ritos de iniciação são
mecanismos de educação não formal de valores e normas

Nestes ritos são transmitidos às raparigas os conhecimentos relacionados com os seus


papéis e noções de sexualidade, sempre realçando as suas obrigações para com os
homens. No entanto, pode se verificar que entre estes dois autores os conhecimentos
sobre a vida conjugal ocupam maior espaço dentro dos ritos de iniciação.

Embora os ritos de iniciação marquem socialmente a transição da vida infantil para a


fase adulta, Tvedten, Margarida etal (2009), consideram que o casamento pode aparecer
como um indicador dessa transição. A realização do casamento na visão destes autores
seria para marcar a entrada do indivíduo no grupo dos adultos embora o mesmo já tenha
sido iniciado.

Quando estudamos os ritos de iniciação constatámos que pelo que ensinam e pelo modo
como são transmitidas as aprendizagens, as crianças do sexo feminino e do sexo
masculino aprendem a distinguirem-se e a adoptar práticas que lhes condicionam o
acesso a direitos. Ou seja, os ritos de iniciação têm uma primeira função que é de formar
identidades, de nos dizer o que está certo e errado no nosso comportamento. Neste
sentido, os ritos são apresentados como verdades que não podemos questionar sob pena
de estarmos a violar “a nossa cultura”.

16
RITOS DE INICIÇAO

Os ritos de iniciação caracterizam diferentes sociedades do mundo, embora a maneira


de praticar varie de contexto para contexto. Por exemplo os ritos de iniciação macua são
diferentes dos ritos de iniciação yao, para que uma menina macua seja iniciada é
necessário que a mesma tenha experimentado o seu primeiro ciclo menstrual, enquanto
para os yaos basta que os pais se sintam economicamente organizados e a sua filha
tenha uma idade maior a 9 anos. Entretanto estes ritos muitas vezes são aproveitados na
educação dos indivíduos.

16
RITOS DE INICIÇAO

1.1 Objectivos
1.1.1 Geral
 Estudar de forma descritiva os ritos de iniciação

1.1.2 Específicos
 Descrever como acontece os ritos de iniciação para os rapazes e para as
raparigas;
 Mencionar os aspectos negativos dos ritos de iniciação;
 Mencionar os aspectos positivos dos ritos de iniciação
 Indicar os impactos que essa prática tem sobre a educação formal.

1.2 Metodologia
Este trabalho consiste em uma pesquisa bibliográfica com o intuito de mostrar como é
decorre os ritos de iniciação na provincia de Niassa, na tribo dos Yao. Para tal, Foram
identificados os principais estudos sobre o tema. Para isso, foram utilizadas as seguintes
bases de dados na internet: dissertações, revistas, em artigos e relatórios disponíveis nas
páginas da internet e algumas fontes próximas credíveis.

1.3. Justificativa
Sabe-se que nas zonas centro e norte do país ainda são decorrentes os ritos de iniciação,
onde na provincia de Niassa ainda são usadas as doutrinas mais antigas destas práticas.
Por se tratar de uma provincia em que os ritos de iniciação são praticados na sua maioria
antes da puberdade me levou a ideia de querer saber como os mesmos acontecem, pois
normalmente é antes da criança ver o seu primeiro período menstruar.

16
RITOS DE INICIÇAO

2. Revisão bibliográfica
2.1 Definição
A palavra iniciação provém do latim tardio iniciatio que significa acto ou efeito de
iniciar-se. É uma introdução ao conhecimento de coisas desconhecidas, uma preparação
pela qual se inicia alguém nos mistérios de alguma religião ou doutrina e a cerimónia
dela decorrente. O indivíduo é purificado da impureza moral, isto é, acredita-se que
antes de serem iniciados, os jovens tem um comportamento anti-social, que
precisa ser submetido aos ritos para sua purificação (Cipire, 1996)

Os ritos de iniciação são instituições culturais praticadas nas zonas centro e norte de
Moçambique. Portanto, é comum afirmar-se que são constituintes dos direitos culturais,
que são uma das importantes dimensões dos direitos humanos.
As instituições culturais organizam os lugares e os papéis e as funções sociais que cada
um deve ocupar na sociedade. Nesse sentido, a cultura é determinante para a construção
das identidades sociais. Isto é, numa determinada cultura as pessoas aprendem a
reconhecer-se e a reconhecerem os outros em termos de partilha de representações e
práticas, desde a forma como se cumprimentam, como mostram hospitalidade, como
partilham uma refeição e, para ir mais a fundo, como pensam acerca da vida, do amor e
da amizade.

Ritos de iniciação Martinez (1989), em seu livro “O povo Macua e a sua Cultura”1 ,
analisou a sociedade macua e descreveu os ritos ali praticados. Segundo este autor, os
ritos de iniciação na sociedade macua, inicia na primeira menstruação e termina com o
casamento.

16
RITOS DE INICIÇAO

O contexto social em que as crianças crescem tem uma grande influência na visão que
elas constroem do mundo. Na perspectiva do autor supracitado, o casamento decorrente
dos ritos de iniciação marca o crescimento da rapariga uma vez que, o acompanhamento
por parte dos pais termina assim que a adolescente contrai o matrimónio. Segundo
Tvedten, Margarida et al (2009), as raparigas passavam por estes ritos logo que
atingissem a puberdade.

Cipire (1996:34) diz que a sociedade moçambicana pratica ritos de passagem de uma
fase da vida para outra preparando desta forma os seus jovens para enfrentar a vida
adulta e a encarar os problemas que lhe esperam nesta fase de vida. De todos os ritos
praticados pela sociedade, considera se a circuncisão para os rapazes e os de iniciação
feminina para as raparigas. Isto realiza-se após da primeira menstruação.

Tvedten (2009) vai de acordo com as ideias de Cipire quando diz que rito de iniciação é
uma cerimónia especial elaborada para a introdução de novos membros na sociedade.
Nesta cerimónia o iniciado recebe sérios questionamentos e explanação da matéria
preparada pelas entidades mais velhas e o iniciado assume um compromisso como
membro dessa sociedade com objectivo de provocar um impacto marcante no novo
membro e fazer assim com que ele melhor se integre a esta sociedade.

2.2 O povo Yao e sua gênese no Niassa


Para compreendermos o povo Yao temos de fazer uma descrição histórica. Segundo
Pascuali (2013), O WaYao, ou Yao, é um dos principais grupos étnicos e linguísticos
no Sul do Lago Niassa, que desempenhou um papel importante na história da África
Oriental durante os anos de 1800.

Os Yaos são predominantemente um povo que professa a fé do Islamismo, constituído


por cerca de 2 milhões, espalhados por três países, Malawi, Moçambique e Tanzânia e
são um dos grupos mais pobres do mundo. O povo Yao tem uma forte identidade
cultural, que transcende as fronteiras nacionais (PascualI, 2013).

Segundo a autora, a tradição que o povo yao possui, tem sua origem no monte Muembe
ao norte de Moçambique, na Província do Niassa, precisamente no Distrito de Muembe,
mas o grande Régulo Mataka tem sua residência no vizinho Distrito de Mavago, limite
com a Tanzânia.

16
RITOS DE INICIÇAO

2.3 Descrição dos ritos de iniciação praticados pelo povo Yao


A iniciação tradicional africana é essencialmente um rito de passagem cuja
intenção fundamental é transformar um membro de uma dada comunidade. Assim ele
vai assumir o modo de ser e viver dessa comunidade (Gwembe, 2004:16).

O Djando e o Nsondo são os ritos que são mais praticados na Província do Niassa, estes
são característicos nas tribos influenciados pela religião muçulmana.

O Djando é o rito praticado nos rapazes o qual consiste na operação cirúrgica do


prepúcio, removendoo da glande do pénis.

Ao contrário do Nsondo é praticado para às meninas que consiste na preparação da


abertura vaginal da menina, introduzindo ovo de pombo no órgão sexual, incitando a
menina fazer movimentos como se tivesse introduzido órgão sexual masculino. Assim
depois de algumas semanas de preparação algures numa casa da aldeia, a rapariga é
reconhecida como ser humano completo.

Na cultura yao é praticado Djando, nos homens e Nsondo nas mulheres os quais
recebem o nome de Unhago que é a junção dos dois rituais. Em ambos se ensina o valor
da vida; o respeito; a sexualidade; temperança; o amor, o namoro e o casamento; a
responsabilidade; o valor de trabalho; o valor do sofrimento; a coragem; ser social, amor
e amizade; os antepassados e a morte, apesar dos momentos actuais assumir outras
realidades.

2.2.1 ritos de iniciação para rapazes-djando

Os ritos de iniciação masculina ocorrem normalmente durante os meses de inverno


(julho, agosto, setembro), quando não é necessário muito esforço nos campos, quando
as famílias ainda têm estoques de alimentos no celeiro e dinheiro ganhado com a
colheita; os ritos de fato requerem uma grande quantidade de dinheiro, tanto para pagar
os especialistas dos rituais quanto para pagar as festas e cerimônias ligadas aos mesmos.
Por esta razão, normalmente se realiza o rito quando se consegue reunir na aldeia, pelo
menos dez crianças entre oito e doze anos de idade, e todos os membros das famílias
dos iniciados contribuem para os custos.

Os pais e ou encarregados de educação esperam a convocação dos ritos de iniciação em


que os seus filhos serão confirmados homens, onde terão a instrução que serão incutidos

16
RITOS DE INICIÇAO

de atitudes que servirão para a sua formação pessoal ao longo da vida. O lugar escolhido
para a iniciação tem sido isolamento da comunidade para evitar contato com as pessoas,
com exceção das ligadas aos ritos. Ali, os pais com filhos a iniciar constroem palhotas
de capim, para acolher os iniciados.

Segundo Wegher (1995), o lugar é constituído por uma palhota comprida do tipo
retangular, sem subdivisões, onde são colocados e circuncidados todos os iniciados.
Circundam a palhota principal as palhotas dos padrinhos e as dos mestres encarregados
de todos os serviços da iniciação. Dentro do recinto é reservada uma área de
determinado raio que em seguida é vedada pelo poder mágico contra feiticeiros que
queiram se aproveitar do momento para semear o seu terror.

O Djando começa quando os pais com filhos de idade para o efeito se reúnem entre si,
examinam as condições da presença de iniciados, e no encerramento, cabe ao régulo,
convocar os mestres que fazem as cerimônias - os Ngaliba e Nakanga , tornando o
processo legítimo.

Momentos seguintes, no dia prévio à entrada ao ritual, convive-se entre mestres,


meninos à iniciação, familiares convidados e amigos, ao som do batuque, ao redor de
uma lareira os iniciados vão cantando e dançando, despedindo aos parentes e amigos

Amide (2008), na sua obra, descreve o seguinte: “esta é a chamada dança vespertina,
que entre os ayaawoé conhecida como Manganje. Ao amanhecer, anuncia-se que é
chegado o dia de entrada aos ritos e, em seguida, os candidatos são levados ao local
preparado para o decurso do processo. Mas antes de seguirem, para coroar de êxito o
processo, os pais que assim acharem conveniente fazem limpeza e súplicas nos túmulos
dos seus entes queridos e em seguida fazem uma cerimônia de chá. Por sua vez, o
régulo põe farinha nos iniciados antes de seguirem à sessão de dança de despedida,
como forma de desejar sucessos a cada um.

Tal como explicaram os mestres da iniciação, depois da sessão de despedida, o padrinho


da cerimônia faz o mesmo com todos os convocados, como forma de desejar boas-
vindas à iniciação. Geralmente o processo começa em casa quando os pais do candidato
à iniciação o concentram e mostram a importância de participar dos ritos de iniciação.
Também lhe antecipam a atitude que deve tomar durante o processo, informando-lhe a
consideração que deve ter com os seus mestres e a submissão devida às orientações
deles”.

16
RITOS DE INICIÇAO

O corte do prepúcio marca o fim do processo pré-liminar e abre espaço à fase liminar,
caracterizada por vários aspectos de preparação para a vida pessoal e comunitária. Cabe
os mestres incutir nos rapazes atitudes, conhecimentos e virtudes que caracterizam o seu
meio social. Para esse efeito, eles imitam, recitam, enumeram os códigos, princípios,
signos e interpretam a linguagem secreta. Os iniciados ficam numa nudez até prestes a
cicatrização da ferida.

Como descreveu Wegher (1995), durante o processo de instrução, toda falha é punida e
nada de incorreto é perdoado. Os iniciados são ensinados à resistência, à obediência, à
virilidade, à paciência, à submissão e educação, sendo ainda instruídos sobre as
tradições, instituições e ritos sagrados da tribo, para melhor assumirem o seu papel na
vida adulta.

O fim do processo de isolamento do iniciado com a comunidade é ditado principalmente


pela cicatrização de todos os circuncidados.

As canções, danças, os mitos, os provérbios e ditados populares são os meios usados


para a transmissão dos saberes populares por vezes, para encobrir os choros dos
iniciados quando são castigados. É a partir deles que são transmitidos os conselhos,
histórias, virtudes da vida, valores morais, princípios éticos e tudo aquilo que se
relaciona com o ser e estar na sociedade.

A norma é de que o iniciado depois de sua saída no djando tem de seguir as orientações
alcançadas do djando. Portanto, de regresso ao convívio familiar em algumas famílias o
iniciado toma outro nome, uma das orientações no djando.

Uma das matérias da iniciação é o respeito e consideração. Após o regresso à casa, não
devem dormir no mesmo quarto com suas irmãs. Para além de que de princípio não
deviam dormir na mesma casa com os seus pais, são orientados para construir as suas
cabanas, onde podem receber livremente as suas visitas e amigos. Este é o princípio de
autonomia e liberdade

2.2.2 Rito de iniciação para as raparigas- Nsondo


Enquanto a iniciação dos rapazes sucede à noite e num lugar isolado da convivência da
comunidade, os ritos de iniciação das meninas sucedem durante o dia numa casa duma
avó munida de profundo conhecimento da matéria dos ritos e de longa experiência na
área, e por outras mestras em fase de aprendizagem que, embora ajudantes, são de

16
RITOS DE INICIÇAO

reconhecido talento e exercem o papel ao lado da mestra principal que podem realizar as
tarefas em casos de ausências da mestra indicada para o processo dentro da povoação,
onde as iniciadas estarão durante uma ou duas semanas antecipando a saída dos rapazes
do Djando.

O Nsondo assim como Djando não se diferencia tanto, somente na constituição dos seus
agentes e outros aspectos, como o lugar de realização, e pessoas encarregues, como já
foi referido, aqui são mulheres de reconhecido mérito que escolhem o período de
duração do ritual. Até a data da iniciação, a única responsável pela educação da menina
tem sido a mãe. É a mãe que a ensina a ser na família e na comunidade levando-a à
descoberta do mundo da mulher. A idade das iniciadas no se diferem da dos rapazes que
variam de 6 a 12 anos.

Segundo Amide (1998), nos ritos de iniciação masculina, assim como nos de iniciação
feminina, para assinalar a separação dos pais e familiares, no primeiro dia dos ritos,
promovem danças.

Durante a cerimônia é proibida a frequência de pessoas não autorizadas no recinto,


somente os irmãos mais velhos já iniciados e o pai da iniciada, durante o dia, período
em que decorre o ritual feminino em casos de ter atividades pontuais no recinto da casa.

A iniciação feminina envolve assuntos relacionados ao bem-estar na comunidade, a


sexualidade, instruindo a iniciada a conhecer melhor o seu corpo, como se comportar na
comunidade enquanto mulher, qual é o seu papel e lugar, o que lhe é ou não permitido
fazer na sociedade, como se manifestar diante das circunstâncias de vida como doença e
morte, o que lhe espera no futuro na sua qualidade de mulher, entre outras matérias de
importância social.

Nas mulheres aconselham como encarar a primeira menstruação, são lhe ensinados os
tabus relativos ao período das regras, instrução sexual, deformação sistemática dos
pequenos lábios, as danças eróticas, e recebe instruções sobre os assuntos da
maternidade quando a menina se casar e congrega os ritos de parto e ritos de primeiro
bebé; das restituição do direito das relações sexuais entre os casais, outros tabus das
mulheres.

2.3 Aspectos negativos decorrentes dos ritos de iniciação


 Violação psicológicos:

16
RITOS DE INICIÇAO

Psicologicamente os iniciados são violados na medida que os assaltantes mascarados


lançam gritos tenebrosos para assustar os garotos. Quando um dos iniciados morre,
ninguém comunica a família até que saíam das cabanas. Carrilha e Mondlane (1990:95-
99), disse que todos os iniciados devem aceitar os mitos e tabus. Se por ventura,
alguém rejeitar isto é penalizado e chicoteado. Em caso da fuga de informação de
sofrimento, os iniciados são amedrontados à morte de um dos parentes mais
importante da família ( mãe, pai, irmão, tio...).

 Riscos de contrair HIV-SIDA

Ciscato (1996:32), menciona que os iniciados são cortados com a mesma faca e sem
anestesia, isto é, os iniciados devem sentir a verdadeira dor (NDJANDO). E parece que
acredita-se que a dor prepara os jovens a serem homens.O processo de circuncisão
pode possibilitar a infecção de HIV-SIDA. Isso porque a maioria dos operadores
(NGALIBAS) não esterilizam os seus instrumentos.

 A circuncisão é feita a sangue frio e de forma violenta

De acordo com Cipre (1996:36) chegados no acampamento, os rituandos são


imediatamente submetidos à circuncisão. Esta, sendo acto doloroso, acarreta
inevitavelmente choros e gritos. Para impedir que aqueles sejam ouvidos por pessoas
alheias aos ritos, o que provavelmente causariam medo nas crianças não iniciadas,
os Alombwes fazem todo quanto esteja ao seu alcance: tocam tambores com
maior rigor, dançam e cantam alto. Também tem sido prático tapar os olhos dos
iniciandos para impedir que estes vejam o material usado na circuncisão. Como
tratamento das feridas causadas pela circuncisão, utilizam a seiva da parte inferior do
cacho da banana ou cinza de algumas plantas. Esse tratamento é feito só no primeiro
dia, após a circuncisão.

 Corte de clitóris e a introdução de ovo de pombo no órgão sexual

As raparigas são violadas quando são cortadas os clitóris ou então na forma como untam
a vagina da menina de oito a nove anos com óleo de rícino para introduzir um ovo
quente, de pombo, no órgão sexual da menina Yão, e as meninas macuas conforme os
antropólogos europeus dizem, em vens de ovo os macuas usam o “pau” para servir
como órgão sexual masculino, para assim poder mexer o sexo da menina (Martinez,
citado por Amide 2008:74)

16
RITOS DE INICIÇAO

 Submissão da mulher ao homem

Para além de ensinam à jovem a obedecer ao marido e nunca lhe responder de má


vontade, ela deve aceitar tudo quanto o marido lhe mandara, sem que ela opine nem o
repreenda, pois o homem é tido como o dominador, nos ceio do lar, obrigando-à a
manter relações sexuais mesmo contra a vontade dela.

 Maturidade precoce

Tal com citado anteriormente, quando se falava da descrição dos ritos de iniciação, os
ritos de iniciação são efectuados na fase da puberdade, em idades compreendidas entre
os oito e doze anos de idade para o povo Yao, e nesta idade eles são ensinados a serem
maduros, assumindo assim, papéis de adultos abandonado as práticas infantis

 Casamentos prematuros

Um número maior de meninas em Moçambique casa ou casou com idade inferior à18
anos. Acredita-se que algumas práticas tradicionais, nomeadamente os ritos de
iniciação, o incesto e a poligamia, contribuem para o surgimento do casamento em
idades consideradas inferiores à luz da lei vigente na sociedade moçambicana.

Porém, na visão da Rede da sociedade Civil para os Direitos das Crianças (2013), os
ritos de iniciação ocupam o lugar de destaque na contribuição para os casamentos
prematuros pois considera-se que esta prática cultural, ao tomar as crianças como
adultas, incita ao casamento na adolescência.

2.4 Aspectos positivos verificados ao se praticar os ritos de iniciação

 A circuncisão, devido a higiene pessoal que evita possíveis doenças de


transmição sexual;
 Integração social e formação da pessoalidade do indivíduo;
 Educação cívica moral (respeito aos mais velhos, aos lugares sagrados, aos
mortos);
 Educação sexual e matrimonial.

2.5 Impacto da cultura do yao na educação formal


No que diz respeito a educação formal, Amimo (2018), na entrevista cedida pelo Diretor
Provincial de Educação e Desenvolvimento Humano da Província do Niassa, entende

16
RITOS DE INICIÇAO

que a nível da província teve uma prevalência de 58% de analfabetismo, cujo maior
índice incide nas mulheres, nas zonas rurais.

Na óptica do pesquisador (Amimo, 2018), pela experiência vivida, a fraca escolaridade


se origina pelo enraizamento da cultura yao através dos fenômenos de ritos de iniciação
e casamentos prematuros, associados ao nomadismo da população no período chuvoso,
onde emigram para o cultivo no campo, nas atividades de agricultura familiar.

Na saída da iniciação, há grande festa na aldeia. O segundo momento é a escola alcorão,


onde o Mwalimo6 ensina os fundamentos do livro sagrado, o Alcorão. É a escola mais
concorrida quando os meninos saem dos ritos de iniciação, já as meninas ficam mais aos
cuidados das mães, preparando-as para futuras esposas e mães. No terceiro e último
momento é a escola, o povo yao considera a escola como um acessório dispensável.

A autora entende que quem insiste na frequência à escola tem sido o Governo, a Igreja e
as organizações não-governamentais.

Nestes prováveis descrições, nos bairros periféricos da cidade de Lichinga e nos


distritos limítrofes, praticam sem limites os ritos de iniciação, lesando muitas vezes a
educação formal. Em alguns momentos, povo só adere a educação com a intervenção
dos Régulos. Partindo dos pressupostos apresentados no que toca a pedagogia,
atualmente, os ritos de iniciação são momentos de grande festa, onde famílias seduzem
filhos com idade ainda menores para entrar no Djando.

Os ritos em muitos casos entram em choque com o período letivo, prejudicando a vida
escolar das crianças. Percebe-se que só neste período a população tem cereais para
suportar as despesas. Por isso, a população realiza os ritos no tempo de colheita, período
em que as atividades do campo entram em repouso.

2.6 Importância da prática dos ritos de iniciação para a sociedade Yao

Nos ritos de iniciação, de modo geral, ensinam o Valor da vida; o respeito; a


sexualidade; temperança; o amor, o namoro e o casamento; a responsabilidade; o valor
de trabalho; o valor do sofrimento; a coragem; ser social, amor e amizade; os
antepassados e a morte.

16
RITOS DE INICIÇAO

É interessante notar o que diz o autor a que estamos fazendo menção. Isso só para
reforçar a posição de que os ritos, em geral, e de iniciação, em particular, fazem parte
dos mais diversos processos de educação. Em suas palavras, ele refere que:

“ Uma cerimônia existente num grande número de sociedades, põe em evidência este
traço distintivo de educação humana, e mostra-nos mesmo que o homem teve dela,
desde logo, o sentimento.

Uma vez submetido a ela, o indivíduo tomava o seu lugar na sociedade; deixava a
companhia das mulheres, no meio das quais tinha passado a infância; tinha, então, lugar
indicado entre os guerreiros; ao mesmo tempo tomava consciência do seu sexo, de que
passava a ter todos os direitos e deveres. Tornava-se homem e cidadão” citado por
(Durkheim, 1965).

 Um individuo, que passou pelo rito de iniciação, este torna-se adulto perante a
sociedade, podendo particicpar em todas as reuniões e cerimónias da
comunidade;

 Uma das importâncias mais relevantes desta prática é a circuncisão, que consiste
na remocao do prepúcio, e este corte vai reduzir o risco de contrair o HIV-SIDA
durante os actos sexuais desprotegidas;

16
RITOS DE INICIÇAO

3. Conclusão
Findo a presente pesquisa bibliográfica sobre os ritos de iniciação praticado no povo
Yao, foi possível perceber que este tipo de rito, transforma um ser criança em um ser
adulto, através de ensinamentos de regras e crenças da sociedade em que este está
inserido.

Para o povo Yao, pela vontade dos pais, as crianças compreendidas entre 8-12 anos são
submetidas a ritos de iniciação, onde para os rapazes, a fase mais importante é a
circuncisão, e para as meninas são os ensinamentos que as anciãs transmitem às
iniciadas, sobre como cuidar de lar e sobre como agradar o seu marido. Os rapazes, de
igual forma, eles são ensinados a serem dominadores, a serem forte e corajosos em
todas as fases das vossas vidas.

Estas práticas são acompanhadas por impactos negativos para a saúde e educação. Para
a saúde, estes ritos podem favorecer a contaminação pelo HIV-SIDA, devido às práticas
de circuncisão sem a esterilização dos objectos usados durante os cortes, além disso
estes ritos podem provocar traumas devido aos episódios que vão assistindo durante os
ritos.

Para educação, em algumas localidades, os ritos iniciam no período de inverno, o que


acaba interferindo nas aulas, e alem disso, uma vez que os iniciados são ensinados a
viver como adultos, eles acabam abandonado as escolas para formar suas próprias
famílias.

16
RITOS DE INICIÇAO

Referências bibliográficas
1. Amide, J. B. (2008). Wayao'we' no conhecido Niassa: os valores culturais e a
globalização. Maputo, Diname. ‘

2. Amimo, F. Niassa-vice campeã no índice de desistências escolares em


Moçambique. Jornal Txopela; 2018.

3. Boudon, Raymond et al. Dicionário de Sociologia. Tradução de António J. Pinto


Ribeiro. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990.

4. Ciscato, Elia “Introdução à Cultura da área MAKHUWA/LOMWE” Porto: s.n;


2012.

5. Cipire, F. A.; A educação tradicional em Moçambique. Maputo: EMEDIL,


1996.

6. Pasquali, D; Educação indígena e afro descendente: políticas e práticas.


Reflexão & Ação. 12 (especial): p. 339-349; 2013.

7. Durkheim, Émile. Educação e Sociologia. Tradução de Lourenço Filho. São


Paulo: Melhoramentos, 1965.

8. Martinez, F. O Povo Macua e a Sua Cultura: Analise dos Valores Culturais do


Povo Macua no Ciclo Vital. Maúa, Moçambique 1971-1985, EdiPaulinas,
Ministério da Educação, Maputo, 1989

16
RITOS DE INICIÇAO

9. Medeiros, E; Os senhores da floresta ˗ Ritos de iniciação dos rapazes macua -


Lomué no Norte de Moçambique, Vol. 1.Tese de Doutoramento em
Antropologia pela Universidade de Coimbra. Coimbra; 2005.

10. Mondlane, Eduardo e . Lutar por Moçambique. Maputo: Nosso Chão, 1995.

11. Tvedten, Ige, paulo, Margarida, etal. “ se Homens e Mulheres fossem iguais
todos nós serias simplesmente pessoas”: género e Pobreza no Norte de
Moçambique. 2009;

12. Wegher, Pe. Luís. Um olhar sobre Niassa, 1º Vol. Maputo: Paulinas editora,
1995.

16

Você também pode gostar