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Índice

I. INTRODUÇÃO.................................................................................................................................2

II. REVISÃO DA LITERATURA.........................................................................................................3

Fonte......................................................................................................................................................4

III. Fontes do Direito.............................................................................................................................4

IV. PRINCIPAIS FONTES DO DIREITO............................................................................................7

IV.1 Lei.................................................................................................................................................7

IV.2. Jurisprudência...............................................................................................................................9

IV.3. Costume.....................................................................................................................................10

IV.4. Doutrina......................................................................................................................................11

V. FONTES DO DIREITO EM MOÇAMBIQUE..............................................................................12

V. 1 Órgãos emanadores do Direito.....................................................................................................13

V. 2. O lugar privilegiado da lei..........................................................................................................14

V. 3. Formação da lei..........................................................................................................................15

Acto legislativo....................................................................................................................................17

VI. CONCLUSÃO..........................................................................................................................18

VI. BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................................18

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I. INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende debruçar a respeito das Fontes do Direito, um tema que está inserido
no plano temático da disciplina de Introdução ao Direito e ao Pensamento Jurídico I, que é
uma das cadeiras iniciais mais importantes da nossa formação, na medida em que cabe a ela o
papel de “despertar” o interesse do aluno pelo Direito.

Para a elaboração deste trabalho tomámos como principal método a pesquisa bibliográfica.
Como base recorremos às obras que constam do plano temático, bem como na Internet onde
pudemos dispor de variadíssima biografia através de livros em formato electrónico.

Com este trabalho pretendemos, de forma geral, identificar as principais fontes do Direito.
Em termos específicos a nossa abordagem incidirá na demonstração de como cada uma das
“Fontes do Direito” funciona ou contribui na questão do Direito e qual é a realidade das
Fontes do Direito Moçambicano sem esquecer de apontar como se procede no processo de
formação de uma lei no País.

Para atingir estes objectivos optamos primeiro por trazer abordagem dos conceitos do
“Direito”, “fontes” e por fim o significado do termo “Fontes do Direito”.

O trabalho está dividido em quatro partes fundamentais. Na primeira temos a introdução e a


revisão da literatura que é seguida pela análise das principais fontes. Depois abordamos a
principal questão do trabalho: as Fontes do Direito no geral. No terceiro capítulo abordamos
de forma particular as Fontes do Direito em Moçambique, bem como o processo da
elaboração duma lei (terceiro capítulo). No quarto capítulo apresentámos as cossas
conclusões e por fim (quinto capítulo) as referências bibliográficas que orientaram a
produção deste trabalho e que estão devidamente citadas.

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II. REVISÃO DA LITERATURA

Neste capítulo vamos apresentar os principais conceitos que orientaram o desenvolvimento


deste trabalho, nomeadamente Direito e a fonte.

Garcia (2005, p.15) afirma que ao se procurar apresentar uma definição do Direito,
primeiramente, deve-se ter em mente que o vocábulo “direito” compreende enfoques e
significados diversos. Exemplificando, o termo em questão pode ser utilizado para significar
o justo, ou o conjunto de normas jurídicas, ou a prerrogativa que tem a pessoa de fazer valer
determinada posição jurídica.

O conceito de Direito em seu aspecto objectivo é entendido como a realidade, presente na


vida social, que regula as relações entre as pessoas. “O Direito pode ser definido como o
conjunto de normas imperativas que regulam a vida em sociedade, dotadas de coercibilidade
quanto à sua observância” (Garcia, 2005, p.15).

Max Weber, citado por de Carvalho et al, define Direito como sendo “um conjunto de
normas que decorrem de uma base sociológica. Quer isto dizer que têm, na sua génese
formativa, a influência de aspectos religiosos, morais e outros que resultam de contingências
geopolíticas.

Os seres humanos, por viverem em sociedade, necessitam de regras e princípios que


possibilitem o convívio entre as pessoas, permitindo a evolução, a harmonia e a paz nas
relações sociais, sendo o Direito justamente esse conjunto de normas, estabelecidas com essa
finalidade, como refere Garcia (2005, p.15).

Raele (2003, p. 16) o Direito é um facto ou fenómeno social. Não existe senão na sociedade e
não pode ser concebido fora dela. Uma das características da realidade jurídica é, como se vê,
a sua socialidade, a sua qualidade de ser social.

De acordo com este é necessário desde logo observar que durante milénios o homem viveu
ou cumpriu o Direito, sem se propor o problema do seu significado lógico ou moral. É
somente num estágio bem maduro da civilização que as regras jurídicas adquirem estrutura e

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valor próprios, independente das normas religiosas ou costumeiras e, por via de
consequência, é só então que a humanidade passa a considerar o Direito como algo
merecedor de estudos autónomos. Essa tomada de consciência do Direito assinala um
momento crucial e decisivo na história da espécie humana, podendo-se dizer que a
conscientização do Direito é a semente da Ciência do Direito.

Fonte

Desde a Grécia Antiga (Cícero) a palavra fonte significava nascedouro, nascente, origem,
causa, motivação para varias manifestações do Direito.

Assim, a palavra “fonte” tem origem do latim “fontis”, que significa nascente de água. No
âmbito do Direito é empregada como metáfora, como observa o pensador Du Pasquier, citado
por João dos Santos na sua obra Fontes do Direito, “remontar à fonte de um rio é buscar o
lugar de onde as suas águas saem da terra; do mesmo modo inquirir sobre a fonte de uma
regra jurídica é buscar o ponto pelo qual sai das profundidades da vida social para aparecer na
superfície do Direito”.

III. Fontes do Direito

Quando utilizamos a expressão “Fontes do Direito” estamos nos referindo ao nascer do


Direito, às formas em que se faz presente em nossa sociedade, materializando-se na vida
sociais.

A expressão “Fontes do Direito” apresenta sentidos diversos. Há entendimento de que por


Fontes do Direito devem ser entendidos os “processos de produção de normas jurídicas”,
destacando-se que tais processos “pressupõem sempre uma estrutura de poder”, aponta
Garcia (2005, p. 71).

Miguel Reale (2003) considera Fontes do Direito como sendo os “processos ou meios em
virtude dos quais as regras jurídicas se positivam com legítima força obrigatória”. Já para
Hans Kelsen (2009) é “o fundamento de validade da norma jurídica, decorre de uma norma
superior, válida”.

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Ainda de acordo com este, Fontes do Direito é uma expressão utilizada no meio jurídico para
se referir aos componentes utilizados no processo de composição do Direito, enquanto
conjunto sistematizado de normas, com um sentido e lógica própria, disciplinador da
realidade social de um estado. Em outras palavras, fontes são as origens do Direito, a matéria-
prima da qual nasce o direito.

A expressão Fontes do Direito remete-nos ao que se ouve pela primeira vez, a diferentes
sentidos, nomeadamente histórico, instrumental, sociológico ou material, orgânico e técnico-
jurídico.

Entretanto, de acordo com Garcia (2005, p. 71) é corrente fazer-se menção às fontes
materiais do Direito, diferenciando-as das fontes formais do Direito. Considerando-se as
fontes materiais do Direito como sendo os motivos éticos, morais, históricos, sociológicos,
económicos, religiosos e políticos que deram origem à norma jurídica. Envolvem, assim, os
factores reais que condicionaram o aparecimento da norma jurídica, as razões (económicas,
sociais, políticas etc.) que influenciaram a criação da norma do Direito.
As fontes formais do Direito podem ser entendidas como os modos de manifestação das
normas jurídicas. Nessa perspectiva, as fontes formais do Direito são as formas de expressão
do Direito, ou seja, os meios de exteriorização das normas jurídicas.

No sentido histórico traduz a ideia do sistema que sob o ponto de vista histórico inspirou ou
deu origem a um determinado Direito. Por exemplo, o nosso Direito tem como fonte histórica
o Direito Romano.

No sentido instrumental refere-se ao instrumento onde se encontra redigido ou compilado o


Direito. Exemplo, o Boletim da República, a Constituição da República, a Bíblia Sagrada, são
fontes instrumentais do Direito.

No sentido sociológico entende-se como fonte do Direito o conjunto de factos sociais que
norteiam a actividade criadora de Direito. Por exemplo, o aumento do parque automóvel
numa determinada cidade pode obrigar a alterações ao vigente Código de Estrada. O surto de
certa epidemia ou actos criminais hediondos, pode impulsionar a criação de leis específicas
para fazer face a esses cenários assistidos numa determinada sociedade. Podemos citar como
exemplo o que aconteceu no mundo por conta da pandemia da Covid-19.

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No sentido orgânico dá a ideia da origem orgânica do Direito. O órgão que emanou o Direito
é a fonte orgânica desse Direito. Por exemplo, no nosso país, o Presidente da República, a
Assembleia da República e o Governo, são fontes orgânicas do Direito.

No sentido técnico jurídico refere-se aos diferentes modos de formação e revelação das
regras jurídicas.

A doutrina jurídica não se apresenta uniforme quanto ao estudo das Fontes do Direito. Entre
os doutrinadores do Direito, há uma grande diversidade de opiniões, distinguindo-se três
espécies de fontes do Direito: históricas, materiais e formais.

a) Fontes históricas: Apesar de o Direito ser um produto em constante transformação contém


muitas ideias permanentes, que se conservam presentes na ordem jurídica. A evolução dos
costumes e o progresso induzem o legislador a criar novas formas de aplicação para esses
princípios. As fontes históricas do Direito indicam a génese das modernas instituições
jurídicas: a época, local, as razões que determinaram a sua formação. A pesquisa pode
limitar-se aos antecedentes históricos mais recentes ou se aprofundar no passado, na busca
das concepções originais. Esta ordem de estudo é significativa não apenas para a
memorização do Direito, mas também para a melhor compreensão dos quadros normativos
atuais.
b) Fontes materiais: Por fontes materiais ou genéticas entendem-se os factores que criam o
Direito (Executivo, Legislativo, Judiciário, etc...), dando origem aos dispositivos válidos. São
apontados como fontes materiais todas as autoridades, pessoas, grupos e situações que
influenciam a criação do direito em determinada sociedade. O Direito não é um produto
arbitrário da vontade do legislador, mas uma criação que se lastreia no querer social. É a
sociedade, como centro de relações de vida, como sede de acontecimentos que envolvem o
homem, quem fornece ao legislador os elementos necessários à formação dos estatutos
jurídicos. Como causa produtora do Direito, as fontes materiais são constituídas pelos fatos
sociais, pelos problemas que emergem na sociedade e que são condicionados pelos chamados
factores do Direito, como a Moral, a Economia, a Geografia etc.
- Directas: são representadas pelos órgãos elaboradores do Direito Positivo, como a
sociedade, que cria o Direito consuetudinário, o Poder Legislativo, que constrói as leis, e o
Judiciário, que produz a jurisprudência.
- Indirectas: são identificadas com os factores jurídicos.

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c) Fontes Formais: O Direito Positivo apresenta-se aos seus destinatários por diversas formas
de expressão, nomeadamente pela lei e costume. Fontes formais são os meios de expressão do
Direito, as formas pelas quais as normas jurídicas se exteriorizam, tornam-se conhecidas.
Para que um processo jurídico constitua fonte formal é necessário que tenha o poder de criar
o Direito. Criar o Direito significa introduzir no ordenamento jurídico, novas normas
jurídicas.

As fontes imediatas e mediatas do Direito são, segundo o artigo 1º do Código Civil, fontes
imediatas do direito as leis e as normas corporativas”.

IV. PRINCIPAIS FONTES DO DIREITO

1 - Lei

2 - Costumes

3- Jurisprudência

4- Doutrina

IV.1 Lei

A lei sempre esteve presente na história do Direito, entretanto, apenas no século XIX, com a
complexidade da sociedade. Ela surgiu para fornecer segurança jurídica.

As leis são as normas ou o conjunto de normas jurídicas criadas através de processos


próprios, estabelecidas pelas autoridades competentes, compreendendo-os nessa definição a
Constituição, as leias ordinárias da Assembleia da República, as Leis de revisão
constitucional, e os decretos da lei do Governo, entre outros, como refere Benigno Nunes
Novo.

A lei é a forma moderna de produção do Direito Positivo. É o acto do poder legislativo que
estabelece normas de acordo com os interesses sociais. Ou seja, a fonte material da lei são os

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próprios fatos e valores da sociedade (DINIZ, 2004). Toda legislação possui um poder,
advindo do Estado, um poder soberano.

A lei não constitui, como outrora, a expressão de uma vontade individual, pois traduz as
aspirações colectivas. Apesar de uma elaboração intelectual que exige técnica específica, não
tem por base os artifícios da razão, pois se estrutura na realidade social. A sua fonte material
é representada pelos próprios factos e valores que a sociedade oferece.
E porquê se diz que a lei é fonte do Direito? A lei é fonte do Direito porque dela se extrai a
regra jurídica a ser aplicada num determinado caso concreto. A lei em si não resolve a
questão suscitada, mas a regra nela contida ao ser extraída para ser aplicada ao caso concreto
faz da lei a fonte dessa regra. (DINIZ, 2017)
De acordo com Jean Patrício da Silva no sistema romanista, a lei prepondera como o centro
gravitador do Direito. Tal tradição preponderou definitivamente após a Revolução Francesa,
quando a lei passou a ser a única expressão do direito nacional. Neste sistema, a codificação
tem um papel fundamenta.
O mesmo autor aponta que no sistema Commow Law, que é dominante principalmente em
países de língua ou influência Inglesa (Inglaterra, Austrália, etc.), a lei é vista como apenas
uma dentre as várias fontes. Seu papel não se sobrepõe às demais modalidades.
Em Moçambique, segundo artigo 2º do Código Civil, é considerado como lei “todas as
disposições genéricas provindas dos órgãos estaduais competentes. São normas corporativas
as regras ditadas pelos organismos representativos das diferentes categorias morais, culturais,
económicas ou profissionais, no domínio das suas atribuições, bem como os respectivos
estatutos e regulamentos internos.”
São várias as espécies de leis e não há uniformidade quanto à sua apresentação.
Lei em sentido material: coincide com o sentido amplo do termo lei, toda e qualquer
disposição proveniente de uma entidade estadual competente.
Lei em sentido formal: é aquela que acarreta para a sua emanação a observância de
formalidades próprias por seu turno previstas na lei, sem as quais será havida por Inválida.
Lei em sentido orgânico é a que provem de específicos órgãos legislativos, mormente a
Assembleia da República e o Governo.
Existem ainda a lei geral e lei especial.
Lei geral é aquela que se aplica a generalidade das pessoas sobre que certa matéria se refere.

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Lei especial é aquela que se destina a certas pessoas. Mas porque a especialidade é algo
relativo pode ser em relação as pessoas, material e lugar.
Havendo conflito entre a lei geral e a lei especial aplica-se a lei especial porque a lei geral
não afasta a lei especial ou a lei especial prevalece sobre a lei geral.
As leis podem também ser vistas no âmbito geográfico e político. Nestas circunstâncias,
temos: leis federais, estaduais, nacionais, regionais, locais, autárquicas e/ou municipais
conforme os casos.
Podem também ser aferidas quanto ao tempo. Assim, se diz leis novas, antigas ou
transitórias. A lei nova afasta a lei antiga.

IV.2. Jurisprudência

Para Silva (2014, p.16) a palavra Jurisprudência é derivada do latim jus (direito) e prudentia
(sabedoria), ou seja aplicação do Direito com sabedoria, devendo ser entendida como a forma
de revelação do Direito através do exercício da jurisdição, mediante uma sucessão de
decisões harmónicas (em um mesmo sentido) dos tribunais, aplicadas a casos concretos que
apresentem.
A Jurisprudência é o conjunto de relevantes decisões proferidas normalmente por tribunais de
escalão superior que podem ser usadas para extracção da regra jurídica a aplicar num caso
concreto.
Para o autor Miguel Reale, o Direito jurisprudencial não se forma por meio de uma ou três
sentenças, mas exige uma série de julgados que guardem, entre si, uma linha essencial
de continuidade e coerência. Tal deve-se ao facto de existirem casos em que a Jurisprudência
traz inovação no que se refere à matéria jurídica apreciada, estabelecendo parâmetros
normativos não contidos, de forma estrita e expressa, em uma lei determinada, mas que são
estabelecidos mediante conexão de dispositivos legais aplicáveis ao caso concreto. Nessas
oportunidades, o julgador faz uma espécie de composição de normas a serem aplicadas ao
caso concreto estabelecendo uma complementação ao sistema objectivo do Direito.
Entretanto, há autores que não consideram esta como fonte do Direito. “Uma vez que os
juízes são independentes na sua actuação custa afirmar com categoria que a jurisprudência é
verdadeira Fonte de Direito a não ser que seja costume jurisprudencial, jurisprudência
uniformizada e precedente afirma Castro Mendes (1984, p.114).

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Contudo, não há como não alistá-la se a generalidade dos autores a indicam como fonte de
Direito.
Da Silva considera que a jurisprudência tem sido usada como verdadeira fonte de Direito nos
países anglo-saxónicos onde se aplicam as regras dos casos precedentes. Há também
propensão para o uso da jurisprudência em países onde reina o conservadorismo legal, facto
que mantém os respectivos códigos intactos. Nessas circunstâncias a jurisprudência acaba por
ser a solução para os casos omissos.
Da jurisprudência pode resultar numa regra que fixe doutrina com força obrigatória geral a
que se chama assento nos termos do artigo 2 do Código Civil. Essa regra tem a mesma força
vinculativa que a lei.

IV.3. Costume
Nas sociedades primitivas, antes da escrita, as normas se traduziam pela repetição de práticas
que se entranhavam no espírito social e passavam a ser entendidas como obrigatórias ou
normativas.
No Direito Romano, que é a fonte do nosso Direito, desde a fundação de Roma (753 a.C data
presumível) até meados do século V a.C, o costume foi a única fonte do direito. A Lei das XII
Tábuas surge como uma representação dos costumes. A partir de então os costumes passam a
desempenhar um papel menor no Direito Romano, como refere Silva (2014, p.15).
Apesar da predominância da lei como fonte, o costume desempenha papel importante,
principalmente porque a lei não tem condições de predeterminar todas as condutas e todos os
fenómenos. O uso reiterado de uma prática integra o costume. Este (costume) é a fonte que
consiste na prática reiterada assistida de convicção de obrigatoriedade. Daqui resulta que há
dois elementos fundamentais para que se verifique o costume. Isto visa evitar que se
considere qualquer prática como sendo costume. É necessário que decorra do uso, que é a tal
prática social reiterada. Mas a referida prática reiterada deve ser juridicamente relevante e
assistida de convicção de obrigatoriedade (V. OLIVEIRA ASCENSÃO, 1983:p. 264-268).
Tal como tecemos em relação a lei, o costume em si mesmo não é Fonte do Direito, oferece
uma regra ou dele é extraído para ser aplicada a um caso concreto.
Há três espécies de costumes quando confrontados com a lei. Costume secundum legem é
aquele que é de acordo com lei que a interpreta. Costume praeter legem (para além da lei).

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Regula hipóteses e aspectos de que a lei não trata. Costume contra legem é contrário a lei. É
um tipo de costume que não vale.

IV.4. Doutrina

Segundo Silva (2014, p. 16) o termo “doutrina” também é proveniente do latim, no caso
docere (ensinar, instruir, mostrar). Em sentido jurídico a doutrina é entendida como sendo o
conjunto de princípios explanados nos livros do Direito, onde se materializam teorias e
analisam interpretações quanto às ciências jurídicas.

A doutrina, que é uma importante fonte auxiliar do Direito, consiste no estudo científico do
Direito, compondo-se de estudos e teorias desenvolvidas por juristas, com o objectivo de
interpretar e sistematizar todo o Direito e de conceber novas teorias capazes de contribuir
para sua evolução.

São exposições e soluções teóricas apresentadas pelos estudiosos ou cultores do Direito,


também chamados de jurisconsultos. Por natureza a doutrina não é vinculativa, não é aplicada
na apreciação dos casos embora exerça uma grande influência na actividade legislativa. Por
isso é que muitos autores tal como o costume e a jurisprudência a consideram de fonte
mediata do Direito face a lei que é tida como fonte imediata do Direito.

Entretanto, alguns autores não consideram a doutrina como fonte do Direito sob a alegação
de que, por mais sabedoria que possua um mestre (doutrinador/escritor) jamais seus
ensinamentos terão força para revelar a norma jurídica a ser cumprida pelos juízes
(julgadores) e jurisdicionados.

No entanto, boa parte dos autores considera a Doutrina como fonte do Direito, em razão de
sua relevância no desenrolar da experiência jurídica e da aplicação do Direito.

Entretanto, alguns doutrinadores como admitem que a analogia e a equidade, também possam
ser consideradas fonte.

Usar a analogia significa aplicar ao caso em concreto uma solução já aplicada a um caso
semelhante (um caso que possui mais semelhanças do que divergências).

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Equidade é normalmente entendida como a “justiça do caso concreto”. Por meio dela, o juiz
suaviza o rigor da norma jurídica abstracta, tendo em vista as peculiaridades do caso
concreto. É conhecida no Direito Romano a célebre frase de Cícero: “summum jus, summa
injuria” Garcia (2015, p. 84).

V. FONTES DO DIREITO EM MOÇAMBIQUE

Agora vamos abordar a nossa ordem jurídica existem dois tipos de fontes do Direito. As
legais formais e as costumeiras- práticas.

As fontes de natureza legal e formal resultam da própria lei que revela o Direito Positivo a ser
aplicado dentro da ordem juridical nacional, conforme número 3 do artigo 2 da Constituição
da República de Moçambique (CRM) e artigo 1 do Código Civil. Portanto, a lei é a principal
fonte do Direito em Moçambique.

O costume é também Fonte do Direito em Moçambique é principalmente na resolução de


conflitos por via dos tribunais comunitários e também nas transacções correntes da vida
social.

O reconhecimento do costume como fonte do Direito em Moçambique consta da Constituição


da República no seu artigo 4, que estabelece que “O Estado reconhece os vários sistemas
normativos e de resolução de conflitos que coexistem na sociedade moçambicana, na medida
em que não contrariem os valores e os princípios fundamentais da Constituição”.

Ao dizer que o Estado reconhece os “vários sistemas normativos” e de resolução de conflitos,


este admite que as normas do sistema costumeiro, que não sejam contrárias a Constituição,
são reconhecidas.

A doutrina e a jurisprudência são também fontes de Direito em Moçambique, mas fontes


mediatas porque não são directamente aplicadas aos casos concretos que demandam soluções
jurídicas. O costume também é assim considerado. Interessa a nós falar das fontes imediatas
que quanto a nós são a lei e o costume e não das fontes mediatas cujo tratamento é do
domínio das generalidades das Fontes do Direito.

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Entende-se que a doutrina e a jurisprudência são fontes mediatas e doutrinárias do Direito.
Doutrinárias porque inevitavelmente devem ser referidas no estudo doutrinário das Fontes do
Direito. Porém, quando se pretende estudar as fontes do Direito em Moçambique, julgamos
ser curial apontar àquelas que o são sob o ponto de vista legal e prático.

Quando a actividade jurisprudencial produz decisões cujo teor se torna vinculativo para casos
análogos futuros em toda a ordem jurídica, como os assentos, assumem o mesmo valor
jurídico da lei, v. artigo 2º do Código Civil. “Nos casos declarados na lei, podem os tribunais
fixar, por meio de assentos, doutrina com forca obrigatória geral”.

V. 1 Órgãos emanadores do Direito

Os órgãos emanadores do Direito são de natureza colegial ou individual. No caso de


Moçambique os órgãos que emanam o Direito são: A Assembleia da República, o Governo, o
Presidente da República, e o Ministro. A nível do poder local, criam Direito que vincula
localmente as Assembleias Municipais.

A Assembleia da República é o mais alto órgão legislativo da República de Moçambique,


conforme número 1 do artigo 169º da C.R.M, é da sua exclusive competência aprovar leis
conforme artigo 179º da CRM. A designação lei é exclusiva dos actos legislativos da
Assembleia da República conforme o artigo 182 da C.R. M. Os demais actos deste órgão
revestem a forma de resolução conforme o mesmo artigo na sua parte final.

O Governo também emana normas jurídicas tecnicamente chamadas de Decretos e Decretos-


Leis.

Os Decretos são legítimos actos normativos do Governo conforme artigo 210 da C.R.M parte
final. Ao passo que os Decretos-Leis são aprovados pelo Governo mediante autorização
legislativa da Assembleia da República conforme alínea d) do artigo 204. Isto significa que o
Governo não pode aprovar Decretos-Leis sem a devida autorização da Assembleia da
República que à posterior o deve ratificar de acordo com o artigo 181 da C.R.M. Os actos não
normativos do Governo revestem a forma de resolução conforme número 4 do artigo 210 da
C.R.M.

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O Presidente da República por sua vez emana normas jurídicas cuja designação é decreto
presidencial nos termos do disposto no artigo 158 da Constituição da República.

As demais decisões deste órgão revestem a forma de despacho.

O Ministro no exercício das suas funções cria normas a que se chamam de diplomas
ministeriais. Essas normas são normalmente de carácter regulamentar.

As autarquias locais, que constituem uma das manifestações do poder local nos termos do
número 1 parte final do artigo 135 da C.R.M conjugado com a Lei 2/97 de 28 de Maio (Lei
das autarquias locais) nos seus artigos 6 e 11 conjugados, tem competência de aprovar
regulamentos (posturas camarárias também se chamam) que visam organizar a vida na
autarquia local.

V. 2. O lugar privilegiado da lei

Como se sabe, a lei é a principal fonte formal do Direito nos países que usam o Direito
escrito. Durante muito tempo o Direito escrito era tido como característico do sistema
jurídico romano germânico, facto que actualmente está a perder terreno uma vez que mesmo
em países anglo-saxónicos, em que a principal fonte de Direito é o costume, hoje já usam o
Direito escrito em muitos casos. A lei ocupa um lugar privilegiado na ordem jurídica face as
demais normas jurídicas nela emanadas. No entanto elas conhecem por sua vez algumas
especificidades que reconduzem a certa hierarquia. Há as que são mais solenes e respeitáveis
que as outras. Assim, as leis constitucionais estão acima das leis ordinárias formais e estas
acima das leis ordinárias comuns ou não solenes, refere Oliveira Ascensão, citado por
Salomão Viagem (sd. pag.26) (OLIVEIRA ASCENSÃO, ob. cit., pp. 584-585).

As leis constitucionais são as que constam da Constituição da República de


Moçambique. São na sua essência leis mas de nível superior pela sua natureza e
pressupostos para a sua aprovação. Há mais solenidades na aprovação de uma lei
constitucional que na aprovação de uma lei ordinária formal ou solene.
A lei ordinária formal solene é a que é normalmente aprovada pela Assembleia da
República no exercício das suas funções ordinárias. Exige uma maioria de 2/3 dos 250
deputados para a sua aprovação. São as leis no sentido restrito da palavra “lei” ou
propriamente ditas.

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As leis ordinárias comuns ou não solenes são as emanadas pelos órgãos centrais do
Estado (decretos, decretos presidenciais, diplomas ministeriais), órgãos locais (se os
houverem), entidades autónomas (como é o caso das autarquias locais). Estas são leis
em sentido material ou amplo.

O princípio áureo na hierarquia das leis é o de que as leis de escalão inferior não devem
contrariar as de escalão superior.

Uma importante questão coloca-se em sede da hierarquia das leis, que é a de saber em que
posição se encontram os Tratados e Acordos Internacionais face as leis internas.

Porque ractificados (recepcionados) pela Assembleia da República, entende-se que os


Tratados Internacionais encontram-se na mesma posição hierárquica que as leis ordinárias
formais e solenes. E os Acordos porque celebrados pelo Governo são do mesmo nível
hierárquico que algumas leis ordinárias comuns ou não solenes. Temos como exemplo os
Decretos.

Esquematicamente teríamos a seguinte hierarquia:

1. Leis constitucionais (Constituição da República de Moçambique).

2. Leis ordinárias formais ou solenes-Tratados Internacionais

3. Leis ordinárias comuns ou não solenes (decretos, decretos presidenciais, diplomas


ministeriais, posturas camarárias, regulamentos) - Acordos internacionais (estão em paralelo
apenas com os decretos).

V. 3. Formação da lei

Vejamos agora como é que a lei é formada.

O processo de formação da lei (em sentido formal solene, restrito ou propriamente dita)
obedece etapas necessárias sem as quais o acto normativo enferma de desvalores.

Há que saber primeiro a quem cabe a iniciativa de lei. Nos termos do disposto no artigo 183
da CRM, a iniciativa de lei pertence:

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a) Aos deputados,

b) Às bancadas parlamentares;

c) Às comissões da Assembleia da República;

d) Ao Presidente da República,

e) Ao Governo.

A iniciativa de lei prevista nas alíneas a) e c) do artigo 183 da C.R.M, isto é, de dentro da
Assembleia da República, chama-se- projecto de lei conforme reza o estabelecido no número
2 do mesmo artigo ao referir que “ os deputados e as bancadas parlamentares não podem
apresentar projectos…”.

As restantes iniciativas de lei são designadas de proposta de lei, como se alcança do previsto
na alínea c) do artigo 204 da C.R.M. Compete ao Conselho de Ministros preparar propostas
de lei a submeter à Assembleia da República. Esta fase inicial é chamada de elaboração.

A fase seguinte a submissão do projecto ou proposta de lei à Assembleia da República é a


aprovação, precedida por debates na generalidade e na especialidade. A votação compreende
uma votação na generalidade que corresponde a admissão do projecto ou proposta, uma
votação na especialidade que consiste na apreciação minuciosa a do projecto ou proposta ora
admitidos e finalmente uma votação final global que se traduz na aprovação da lei, nos
termos do disposto nos números 1 e 2 do artigo 184 da C.R.M. A Assembleia da República só
pode deliberar achando-se presentes mais de metade dos seus membros, conforme disposto
no número 1 do artigo 187 da C.R. M. Uma vez aprovada a lei, é submetida ao Presidente da
República para a sua promulgação nos termos do disposto no número 1 do artigo 163 da
C.R.M, seguida da publicação no Boletim da República, confira o nº 1 do artigo 144. A
promulgação é um acto de fiscalização preventiva da lei feita pelo Presidente da República
visando evitar que a mesma fira a Constituição da República ou seja contrária aos anseios dos
cidadãos.

Após a publicação que deve necessariamente ser feita no Boletim da República (BR), artigo
144º da C.R.M, a lei deve entrar em vigor imediatamente ou decorrido que seja determinado

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lapso de tempo. Ao interregno entre a publicação e entrada em vigor da lei chama-se vacation
legis cujo regime jurídico supletivo (que se aplica na falta de fixação de prazo para a entrada
em vigor de certa lei) consta da Lei 6/2006 de 18 de Abril. Em Moçambique a lei entra em
vigor simultaneamente em todo o território nacional. Não é assim em todos os países,
especialmente nos de dimensão territorial maior. Nestes países a lei entra em vigor
sucessivamente, por etapas nas diferentes regiões desses Estados.

Em resumo as fases de elaboração de uma lei são:

Elaboração;
Aprovação;
Promulgação;
Publicação;
Entrada em vigor.

Acto legislativo

O processo de elaboração da lei pode ser afectado por uma acção ou omissão que reconduz a
vícios que se chamam de desvalores do acto legislativo. Aqui nos referimos apenas ao acto de
elaboração da lei e não de qualquer norma.

São três os desvalores do acto legislativo a saber:

Invalidade,
Inexistência,
Ineficácia.

A invalidade é um desvalor que se manifesta em duas vertentes, na possibilidade de o acto


em referência ser tido como nulo (nulidade), por um lado, e por outro, na possibilidade de o
acto ser anulável (anulabilidade). Uma lei não aprovada ou aprovada ilegal ou irregularmente
é nula ou anulável conforme a gravidade do vício que sobre ela recai. Se estiver em causa o
quórum mínimo para a aprovação, entendemos que a lei ora aprovada será nula. Mas se for
violado um procedimento meramente formal de votação em que por exemplo algum dos
votantes (cujo voto era necessário para o quórum necessário) não levantou completamente o
seu branco, essa lei será anulável. Voltaremos às espécies de invalidades infra 12.

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Inexistência é o desvalor do acto legislativo considerado na falta de promulgação da lei. Em
Moçambique a promulgação é um acto exclusivo da competência do Presidente da República
conforme vimos supra 10.

A ineficácia verifica-se quando há um vício relativo a publicação da lei (conforme o número


1 do artigo 144º da CRM) e sua entrada em vigor. Já sabemos que a lei deve ser publicada no
Boletim da República e pode estar sujeita a um lapso de tempo (vacatio legis) para que
comece a vigorar. A matéria da publicação da lei no Boletim da República e o lapso de tempo
para a sua entrada em vigor deve ser entendida na conjugação dos artigos 144º da CRM e
artigo 5 do Código Civil.

VI. CONCLUSÃO

A principal reflexão a ser feita no final deste trabalho é a de que são várias fontes utilizadas
durante a execução do Direito. E o uso de cada uma depende da necessidade que se tem em
preencher eventuais lacunas para solução de um caso concreto.

A análise da norma a ser aplicado a um caso caso concreto depende do processo


metodológico que lhe permite encontrar lacunas e consequentemente supri-las. Assim o uso
das fontes do Direito constitui a garantia da solução do processo, mesmo quando a lei é
omissa. Isso é possível com recurso a várias fontes do Direito que são usadas para completar
as leis que são tidas como principal fonte do Direito Positivo.

Das fontes de Direito apontadas neste trabalho há que destacar o facto de a lei ser escrita
enquanto as restantes apresentadas não são.

Nestes termos, é dada a importância ao estudo das Fontes do Direito porque, como exposto
neste trabalho, contribui ao interpretar à solução do processo com suprimento das lacunas
encontradas a partir da análise e interpretação da norma para o caso concreto.

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VI. BIBLIOGRAFIA

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2011, p.163.

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Coimbra, 1970, pp. 143-148

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Geral do Direito Civil, 4ª ed., reimpressão, Coimbra Editora, Coimbra, 2012, p. 269.

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