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Sistema de administração tradicional

              

                   Este sistema tem duas grandes caraterísticas que facilmente ajudam a reconhecê-lo:

- A indiferenciação das funções administrativa e jurisdicional.

-A não subordinação da Administração Pública ao princípio da legalidade.

Como consequência da indiferenciação das funções administrativa e jurisdicional, não existe


separação rigorosa entre os órgãos do poder executivo e do poder judicial.

O rei e as autoridades públicas podiam exercer as duas funções, por não existir separação de
poderes. Quanto a não aplicação do princípio da legalidade, esse aspeto gera insuficiências no
sistema de garantias jurídicas dos particulares face a Administração. Durante a monarquia,
época em que o sistema tradicional vigorou, não existia uma subordinação da Administração à
Lei, por isso, não existiam normas jurídicas com caráter obrigatório e externo que regulassem a
sua atividade que fossem efetivamente respeitadas em todas as situações. Podiam existir
certas normas jurídicas que vinculavam a Administração mas, tento um caráter de regras
avulsas, eram facilmente afastadas por razões de conveniência administrativa, utilidade
politica ou por simples vontade do Rei. Existiam diretivas e instruções internas, que não
vinculavam o poder soberano mas simplesmente se aplicavam aos funcionários subalternos
perante superiores hierárquicos. As normas não conferiam direitos aos particulares face à
Administração, tal significa que os particulares não se podiam queixar da violação dos seus
direitos por parte da Administração Pública. Até às revoluções liberais (inglesa-1688 e
francesa-1789) vigorou o sistema tradicional, em que não existia separação de poderes nem
Estado de Direito.

Sistema administrativo de tipo britânico

                Este sistema é também conhecido como sistema de administração judiciária dado o
papel preponderante exercido pelos tribunais, que assunta na igualdade de todos perante a lei
e na sujeição da Administração Pública ao direito comum, definido e aplicado pelos tribunais
comuns.

Caraterísticas:

Separação de poderes

O rei foi impedido de resolver questões de natureza contenciosa.

Estado de Direito
O poder soberano ficou subordinado ao Direito, com especial preferência do Direito
consuetudinário que resulta de costumes sancionados pelos tribunais (common law). O Direito
comum seria aplicável a todos os ingleses, o que decorre da consagração do império do Direito
( rule of law).

Descentralização

É fortemente descentralizado, ocorre a distinção entre administração central e administração


local. As autarquias locais gozam de uma ampla autonomia face à administração central, por
serem encaradas como entidades independentes e não simples instrumentos do governo
central. Contrariamente ao que aconteceu em França (prefeitos) e em Portugal (governadores
civis), na Inglaterra nunca existiu delegados gerais do poder central nas circunscrições locais.

Sujeição da Administração aos tribunais comuns

 A Administração Pública encontra-se submetida ao controlo jurisdicional dos tribunais comuns


(courts of law) por não existir jurisdição especializada, consequência da não existência de um
ramo de Direito especializado. Nenhuma autoridade pode invocar privilégios por só existir um
sistema de direitos para todos. São aplicados os mesmos meios processuais às relações entre
particulares e Administração ou só entre particulares, por outras palavras, os tribunais comuns
não são levados a procurar soluções jurídicas diferentes das da vida privada.

Subordinação da Administração ao Direito comum

Como consequência do império de Direito todos os órgãos e agentes da Administração Pública


estão submetidos ao Direito comum, sendo que, por regra, não dispõem de privilégios, a não
ser alguns poderes de decisão unilateral que lhes são conferidos por lei. A administração
encontra-se subordinada ao Direito privado, mas apesar de não existir um ramo e tribunais
especializados, existe procedimento administrativo. 

Execução judicial das decisões administrativas

Os poucos poderes exorbitantes da Administração são encarados como exceção a common


law. A Administração não pode executar os seus próprios atos, tem de recorrer a um juiz que
reconheça autoridade à sua decisão. Quer dizer que se um órgão da Administração tomar uma
decisão desfavorável a um particular e se esse não a executar voluntariamente, esse órgão não
pode usar meios coativos para impor o respeito da sua decisão. As decisões unilaterais da
Administração não têm força executória própria, não podendo serem impostas pela coação
sem prévia intervenção do poder judicial.

Garantias jurídicas dos particulares

Os cidadãos dispõem de um sistema de garantias contra as ilegalidades e abusos da


Administração Pública. Se as leis conferem poderes de autoridade pública aos órgãos
administrativos, estes são ainda considerados como tribunais inferiores, se excederem os seus
poderes, o particular pode recorrer a um tribunal superior. Os tribunais comuns gozam de
plena jurisdição face à AP, o que a coloca na mesma posição que um particular ou empresa
pública.  Como consequência da sujeição da Administração a common law, a administração e
os funcionários são responsáveis pelas suas ações.
 

Sistema administrativo de tipo francês

                Este sistema é também conhecido por sistema de administração executiva, por causa
da autonomia reconhecida ao poder executivo relativamente aos tribunais. O mesmo
pressupõe uma desigualdade que beneficia a Administração e que cria a favor dela um direito
especial, definido e aplicado por tribunais especiais.

Caraterísticas:

Separação de poderes

A administração ficou separada da justiça, por conseguinte, o poder executivo diferencia-se do


poder judicial.

Estado de Direito

Torna-se possível invocar os direitos subjectivos públicos dos particulares contra a


administração pública.

Centralização

Este sistema é caraterizado como sendo muito centralizado, todos os serviços e órgãos não são
responsabilizados pelo que fazem, visto que o Estado responde pelos seus agentes e
funcionários na prática do ato administrativo. Com a chegada de uma nova classe social ao
poder foi necessário alterar o funcionamento da Administração, para ser possível impor novas
ideias, reformas que nasceram durante a Revolução. Os funcionários da administração central
são organizados segundo o princípio da hierarquia. As autarquias locais, apesar de dotadas de
personalidade jurídica própria, não passam de instrumentos administrativos do poder central.

Sujeição da Administração aos tribunais administrativos

Os tribunais comuns eram controlados pela nobreza, que tenta impedir a aplicação do novo
regime e das novas ideias. O poder político teve de tomar medidas para impedir intromissões
do poder judicial no normal funcionamento do poder executivo. Ocorre a separação de
poderes, justificada pelo facto de se o poder executivo não poder intrometer-se nos assuntos
da competência dos tribunais, o poder judicial também não poderia interferir no
funcionamento Administração Pública. São criados tribunais administrativos, que não eram
verdadeiros tribunais, mas órgãos da administração pública independentes e imparciais.
Tinham como funções a fiscalização da legalidade dos atos da Administração e julgar o
contencioso dos seus contratos e da sua responsabilidade civil.
 

Subordinação da Administração ao Direito Administrativo

Pelo facto de a administração exercer funções de interesse público e de utilidade geral deve
dispor de poderes de autoridade (ou poderes exorbitantes), que lhe permite impor as suas
decisões aos particulares, por não estar na mesma posição que eles. Os poderes exorbitantes
permitem que a administração consiga sobrepor as necessidades e interesses coletivos aos
interesses particulares. A sujeição ao interesse público também submete a Administração
Pública a deveres e restrições impostos pelo Direito Administrativo, que cria uma jurisdição
especializada de tribunais próprios para executar esse Direito. Os tribunais administrativos só
têm poder de anulação, não podem definir efeitos ou condenar, só podem anular –
Contencioso de anulação- por esse motivo a garantia dos direitos do particular é mais fraca.

O privilégio da execução prévia

O direito administrativo confere a Administração um conjunto de poderes exorbitantes sobre


os particulares, diferente dos poderes normais reconhecidos pelo direito civil aos particulares.
Um exemplo de poder exorbitante do sistema francês é o privilégio de execução prévia, que
permite a Administração Pública executar as suas decisões por autoridade própria, sem
recorrer a um tribunal. Quando um particular não executa voluntariamente uma decisão de
um órgão administrativo, o órgão pode recorrer a meios coativos para impor o respeito da sua
decisão. As decisões unilaterais da Administração Pública têm força executória própria que
possibilita a imposição pela coação aos particulares, sem necessidade de qualquer intervenção
prévia do poder judicial.

Garantias jurídicas dos particulares

O Estado de direito oferece aos particulares um conjunto de garantias jurídicas contra os


abusos e ilegalidades da Administração Pública. As garantias são efetivadas através dos
tribunais administrativos, mas os tribunais administrativos não gozam de plena jurisdição face
a Administração Pública, visto que o tribunal só pode anular o ato praticado se for ilegal, não
podendo declarar consequências dessa anulação, nem proibi-la de proceder de certa maneira
ou condená-la a tomar certa decisão. Justifica-se pelo facto dos tribunais serem independentes
perante a administração, o que possibilita que ela também o seja. As garantias presentes neste
sistema de administração são menores que no sistema britânico.

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