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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA ____________________ DA


COMARCA DE (CIDADE/ESTADO)

Autos nº XXXXXXXXXXXXXXXX

(NOME), (naturalidade, estado civil ou união estável), (profissão), portador do


RG (XXXX) e inscrito sob o CPF nº (XXX.XXX.XXX-XX), endereço eletrônico
(XXXX), residente e domiciliado na (endereço completo), neste ato representado por
seu advogado infra-assinado, com endereço profissional (endereço completo) e
endereço eletrônico (XXXX), vem perante Vossa Excelência, requerer a

REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA

com fundamento no art. 316 do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e
de direito a seguir expostas:

I. DOS FATOS:

O requerente foi acusado pela suposta prática do crime previsto no art. 248, qual
seja, Induzimento a Fuga, Entrega Arbitrária ou Sonegação de Incapazes.
A denúncia foi recebida em XX/XX/XXXX, tendo o acusado sido citado por
edital em face da sua não localização.
Em virtude de o réu não ter sido encontrado para ser citado, o Ministério Público
requereu a decretação da prisão preventiva com fundamento no art. 366 do Código de
Processo Penal, alegando que o fato de o réu não ter sido encontrado para ser citado e de
não ter constituído advogado implicaria, por si só, em risco para a aplicação da lei
penal, o que seria motivo bastante para a decretação da prisão preventiva.
II - DA NÃO-OBRIGATORIEDADE DA DECRETAÇÃO DA PRISÃO
PREVENTIVA QUANDO DA APLICAÇÃO DO ART. 366 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL

O requerente faz jus à revogação da prisão preventiva, ante a inexistência, no


caso em tela, dos requisitos do art. 312 do CPP bem como à inconsistência dos motivos
que levaram à decretação da custódia cautelar.
Isto porque a redação do art. 366, quando dispõe sobre a decretação da prisão
preventiva, não está criando a obrigatoriedade de sua decretação no caso de o réu ser
citado por edital e não constituir advogado. A redação da lei, por meio da expressão “se
for o caso, decretar a prisão preventiva”, constitui mera remissão às hipóteses
autorizadoras da prisão cautelar, previstas no art. 312 do diploma processual penal.

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir
advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional,
podendo o juiz determinar a produção antecipada de provas consideradas
urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto
no art. 312.

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou
para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria.

Sobre o tema, o ensino de Aury Lopes Junior:

Interessa-nos agora, a previsão do art. 366, no sentido de que pode o juiz


determinar a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for
o caso, decretar a prisão preventiva, nos termos do art. 312, mas isso não
significa uma ampliação das hipóteses autorizadoras da prisão preventiva.
Mais, não existe prisão cautelar obrigatória nem tampouco qualquer tipo de
presunção de fuga que conduza, automaticamente, à legitimidade de uma
medida cautelar pessoal.
Quando o artigo diz “se for o caso”, está remetendo para os casos do art. 312,
não ampliando ou facilitando a adoção da (excepcionalíssima) prisão
preventiva. Em suma: a inatividade processual ficta não autoriza, por si só, a
decretação da prisão preventiva.
Há que se demonstrar e fundamentar, com argumentos cognoscitivos e
robustos e suporte probatório real, a necessidade da prisão preventiva, em
igualdade de condições com os demais casos do art. 312 do CPP.
Melhor teria andado o legislador se não tivesse feito qualquer menção no art.
366 à prisão preventiva. Isso porque, ao dizer que cabe prisão preventiva se
for o caso, nos termos do art. 312, nada mudou, apenas confundiu. Trata-se
de lembrança inteiramente desnecessária, como definiu PACELLI, pois é
elementar que a prisão preventiva sempre terá cabimento nos casos previstos
em lei, ou seja, se presente o fumus comissi delicti e o periculum libertatis
exigidos pelo art. 312.
(Aury Lopes Junior, Direito Processual Penal e sua Conformidade
Constitucional, Volume II, PP. 30-31, Lumen Juris, 2009)
É de se dizer que, na hipótese, o juízo considerou como suficiente para a
decretação de medida tão enérgica o simples fato de o acusado não ter sido encontrado
para ser citado e não ter constituído advogado. O próprio art. 366 do CPP, quando
dispõe sobre a suspensão do processo e do prazo prescricional nestas hipóteses, o faz
presumindo que o réu não tem ciência da acusação que lhe é dirigida, concedendo-lhe a
benesse da suspensão do processo, para que não responda à revelia. Admitiu o
legislador a ineficácia da citação por edital para efeito de cientificação do réu,
permitindo o prosseguimento do processo somente em caso de aparecimento do
acusado.
Todavia, a decretação da prisão preventiva pelo fato de o réu não ter sido
encontrado para ser citado é medida demasiadamente enérgica, porquanto presume que
o réu estaria agindo de má-fé, quando na verdade ele apenas não tomou conhecimento
da acusação que lhe é proposta. Não pode o réu ser punido por não adivinhar que existe
uma acusação formal contra ele, não é esta a lógica de um Estado Democrático de
Direito.
O requerente possui residência fixa na cidade de (XXXX), conforme
documentos em anexo, e não tem a intenção de se furtar da aplicação da lei penal. As
tentativas frustradas de citação pessoal, analisadas separadamente, não fazem presumir
que o acusado tenha agido de má-fé, pois, como dito, ele apenas não sabia da existência
de uma acusação formal contra ele. Não poderia ser punido por isso por meio da
decretação de uma custódia cautelar.
Quando o art. 312 do Código Penal dispõe sobre os requisitos da prisão
preventiva, tem-se por óbvio que os riscos previstos para a ordem pública, para a ordem
econômica, para a conveniência da instrução criminal e para garantir a aplicação da lei
penal estão associados a alguma conduta maliciosa praticada pelo acusado, seja pela
repercussão social do crime na população, seja em virtude de ameaças a alguma
testemunha, o que, definitivamente, não é o caso.
No caso em tela, entretanto, verifica-se que não houve qualquer atuação de má-
fé por parte do réu. Tal situação não autoriza a que se pense que o propósito do acusado
era o de se furtar à aplicação da lei penal.
Verifica-se, por toda a narrativa, que não é justo manter o acusado preso
unicamente por não ter sido encontrado para ser citado. Não houve intenção de se
esquivar da aplicação da lei, motivo pelo qual o requerente fornece comprovante de
residência fixa para que possa ser intimado a comparecer a todos os atos em juízo,
conforme documento em anexo. O art. 366 não obriga a decretação da prisão
preventiva, apenas a recomenda se houver a presença dos requisitos autorizadores
constantes do art. 312 do Código de Processo Penal.
Vale ressaltar as recentes decisões do nosso Egrégio Tribunal de Justiça de
(ESTADO):

(JURISPRUDÊNCIA DO TRIBUNAL DO ESTADO)


(EXEMPLO)
Processo: Rec em Sentido Estrito 1.0105.12.001474-8/001
Relator(a): Des.(a) Alexandre Victor de Carvalho
Data de Julgamento: 11/09/2012
Data da publicação da súmula: 17/09/2012
Ementa:
EMENTA: RECURSO EM SENTIDO ESTRITO - CONCESSÃO DE
LIBERDADE PROVISÓRIA - COMPARECIMENTO EM JUÍZO COM
APRESENTAÇÃO DE ENDEREÇO E CONSTITUIÇÃO DE DEFENSOR -
PRISÃO PREVENTIVA PAUTADA NO ART. 366 CPP - REVOGAÇÃO -
CABIMENTO - DECISÃO MANTIDA - RECURSO DESPROVIDO.

Processo: Habeas Corpus 1.0000.12.002780-0/000


Relator(a): Des.(a) Alberto Deodato Neto
Data de Julgamento: 16/03/2012
Data da publicação da súmula: 23/03/2012
Ementa:
EMENTA: HABEAS CORPUS - TENTATIVA DE HOMICÍDIO
QUALIFICADO - PACIENTE EM LUGAR INCERTO E NÃO SABIDO -
REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA - COMPROVAÇÃO DE
ENDEREÇO FIXO - AUSENTES OS REQUISITOS DO ART. 312 DO CPP
- CONSTRANGIMENTO ILEGAL CARACTERIZADO - CONCEDIDO O
HABEAS CORPUS.
- Diante da comprovação de residência fixa e tendo sido a preventiva
decretada apenas com base no art. 366, do CPP, necessária é sua revogação.

III - DA INEXISTÊNCIA DOS REQUISITOS AUTORIZADORES DA


MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR PREVISTOS NO ART. 312 DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

A prisão por conveniência da instrução criminal há de entender-se como a prisão


decretada em razão de perturbação ao regular andamento do processo, o que ocorrerá,
por exemplo, quando o acusado, ou qualquer outra pessoa em seu nome, estiver
intimidando testemunhas, peritos ou o próprio ofendido, ou ainda provocando qualquer
incidente do qual resulte prejuízo manifesto para a instrução criminal.

Art. 312 . A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem
pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou
para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria.

No que tange à conveniência da instrução criminal, não há nada que indique que
o requerente está intimidando testemunhas, peritos, ou o próprio ofendido. Não se pode
extrair nenhuma destas situações dos depoimentos, tanto ao longo do inquérito policial,
quanto em juízo.
A prisão para a aplicação da lei penal contempla as hipóteses em que haja risco
real de fuga do acusado, e decorrente risco de não-aplicação da lei na hipótese de
decisão condenatória. É bem de ver, porém, que semelhante modalidade de prisão há de
se fundar em dados concretos da realidade, não podendo revelar-se fruto de mera
especulação teórica dos agentes públicos. Neste diapasão, não se revela presente
qualquer indício de que, uma vez libertado, o requerente irá empreender fuga. A
situação de o acusado não ter sido encontrado decorre do fato de que mora em (Cidade),
não se podendo presumir que o acusado visava se esquivar da aplicação da lei penal
pelo simples fato de não ter conhecimento da acusação que lhe era proposta.
No que tange ao perigo à ordem econômica, não há nada que indique a
necessidade da manutenção da prisão preventiva do acusado.
Quanto ao perigo à ordem pública, frise-se que não há nada que indique possível
reiteração da conduta criminosa, que, por sinal, não gerou repercussão social passível de
uma custódia cautelar.
Ademais, deve-se ressaltar que a gravidade da conduta eventualmente realizada,
por si só, não é elemento suficiente para justificar a manutenção da prisão preventiva,
mormente em caso em que haja real probabilidade de absolvição ao final do processo,
como parece ser o caso dos autos.
Ressalta-se, ainda, a inconstitucionalidade da prisão preventiva fundamentada na
manutenção de ordem pública, pois a custódia cautelar tem função tão-somente
instrumental, não podendo, em hipótese alguma, representar antecipação de culpa.

IV - DO PEDIDO

Ante o exposto, pleiteia o requerente a revogação da prisão preventiva, com


fulcro no art. 316 do Código de Processo Penal, mediante termo de comparecimento a
todos os atos do processo, quando intimado, conforme art. 321 do CPP e art. 5º, LXV e
LXVI, da Constituição Federal.
Termos em que, ouvido o i. representante do Ministério Público, expedindo o
alvará de soltura, pede deferimento.

Termos em que,
Pede-se deferimento.

(Cidade/Estado), (XX) de (mês) de 20(XX).

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(NOME)
OAB/XX (XXXX)

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