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JUÍZO DE DIREITO DA VARA DO ÚNICO OFÍCIO DA COMARCA DE PILAR/AL

Autos nº 0700288-02.2019.8.02.0068

ALAN VICENTE LIMA DA SILVA, já qualificado nos autos da ação


penal em epígrafe, por conduto deste advogado legalmente habilitado
mediante instrumento procuratório em anexo (Doc. 01), vem mui
respeitosamente à presença de Vossa Excelência formular o presente
PEDIDO DE REVOGAÇÃO DE PRISÃO PREVENTIVA com fundamento nos Art. 5º,
inciso LXV, da Constituição Federal c/c o Art. 310, parágrafo único e Art. 316,
ambos do vigente Código de Processo Penal, sendo tudo consubstanciado
nos motivos fáticos e fundamentos jurídicos expostos a seguir:
1
DOS FATOS
Ínclita magistrada, o postulante foi preso em flagrante delito no
dia 25/10/2019, sendo acusado de ter cometido o suposto crime de tráfico
de drogas (Art. 33, da Lei nº 11.343/06) e posse de munições (Art. 12, da Lei nº
10.826/03) conforme auto de prisão em flagrante delito estampado nas fls. nº
01/20.

Acontece que, o requerente é réu primário, sem nenhum


histórico de antecedentes criminais, não faz parte de qualquer organização
criminosa, muito menos, se dedica a atividades ilícitas, implicando assim, em
última hipótese, no denominado tráfico privilegiado (Art. 33, § 4º, Lei de
Drogas), haja vista, ter o mesmo confessado ser usuário habitual.

Sabe-se que o tráfico privilegiado não é crime hediondo,


conforme decisão do Supremo Tribunal Federal, sendo sustentado o
tratamento diferenciado em audiência de custódia, contudo no caso em tela
sequer houve a realização do ato formal de custódia.

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Contudo, distante de atender aos princípios da legalidade,
necessidade, proporcionalidade e razoabilidade e, principalmente, o
caráter de ultima ratio da prisão preventiva, a autoridade judicial plantonista
assim converteu a prisão em flagrante em preventiva, contribuindo para a
ineficácia das normas jurídicas e sem indicar qual o requisito que
fundamentou a sua genérica decisão, o que enfraquece a alegação de
cumprimento à regra disposta no Art. 312, do CPP.

Desta forma, Vossa Excelência, data vênia, a prisão preventiva


deve ser revogada, na forma do Art. 316 do CPP, eis que ausentes os motivos
para a subsistência da respectiva prisão cautelar de urgência.

Isto, pois, conforme se comprova nos documentos anexos, o


acusado é primário e de bons antecedentes, isto é, jamais foi condenado
por quaisquer crimes, conforme se constata nos antecedentes criminais 2
anexos – estadual e federal (Doc. 02 e 03); detentor de razoável conduta
social, uma vez que se trata de pessoa com bom comportamento em seu
meio social e em suas atividades concernentes ao trabalho.

Além disso, o requerente possui residência fixa junto com sua


mulher, filhos e netos (Doc. 04) e tem ocupação lícita, visto que o mesmo é
autônomo. Assim, conforme ficará demonstrado, a decretação da prisão
preventiva deve ser devidamente revogada, devendo o requerente ser
posto imediatamente em liberdade, uma vez que se encontra recolhido –
sem necessidade, visto que não restaram preenchidos os requisitos
constantes no Art. 312 do CPP.

DO DIREITO
É bem sabido que a prisão no ordenamento jurídico brasileiro
somente pode ser decretada em última hipótese; a prisão tem caráter de
última razão. Quanto à prisão preventiva, tem-se que esta somente pode ser

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decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei
penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de
autoria, Art. 312 do CPP.

Observa-se que na decretação da prisão preventiva, o juízo não


deve se ater, simplesmente, na gravidade do delito hipoteticamente
imputado, mas sim nos requisitos enumerados taxativamente pelo Art. 312 do
CPP. Conforme será demonstrado a seguir, não restou configurado os
requisitos para a decretação da prisão preventiva.

Todavia, a autoridade judicial converteu a prisão em flagrante


em preventiva, sem qualquer fundamentação plausível. Sua Excelência,
simplesmente, fundamentando a conversão, limitou-se a afirmar que estão
presentes os requisitos da prisão preventiva, quais sejam: o fumus comissi 3
delicti e o periculum libertatis. Além disso, aduziu que a prisão preventiva é
necessária para garantia da ordem pública e passou a concluir que outras
medidas cautelares alternativas à prisão seriam inadequadas e inócuas no
caso concreto.

Observa-se, que a magistrada apenas repetiu a letra fria da lei,


não demonstrando razões objetivas, tampouco motivos concretos, que
justificassem a respectiva decisão.

Sobre o tema, é uníssono o entendimento jurisprudencial no


sentido de que a decretação da prisão preventiva deve fundar-se em razões
objetivas, demonstrativas da existência de motivos concretos. Não basta
como fundamento dizer que é para garantia da ordem pública, por
conveniência da instrução criminal e/ou para assegurar a aplicação da lei
penal, repetindo a letra fria da lei.

Vejamos o que já decidiu a jurisprudência pátria:

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“PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO
PREVENTIVA. PRESSUPOSTOS. FUNDAMENTAÇÃO
INSUFICIENTE. A prisão preventiva, medida
extrema que implica sacrifício à liberdade
individual, concebida com cautela à luz do
princípio constitucional da inocência presumida,
deve fundar-se em razões objetivas,
demonstrativas da existência de motivos
concretos, suscetíveis de autorizar sua
imposição. Meras considerações sobre a
periculosidade da conduta e a gravidade do
delito, bem como à necessidade de combate à
criminalidade não justificam a custódia
preventiva, por não atender aos pressupostos
inscritos no Art. 312, do CPP. Recurso ordinário
provido. Habeas Corpus concedido.” (RHC nº
5747-RS, Relator Ministro Vicente Leal, in DJ de
02.12.96, p. 47.723). 4

Conforme já citado, não se vislumbra neste caso concreto, de


antemão, quaisquer motivos autorizadores da custódia preventiva.

Em primeiro lugar, tem-se que a ordem pública não se encontra


comprometida em uma provável soltura do acriminado. Sabe-se que este
fundamento consiste em buscar impedir que o agente continue a delinqüir,
pondo em risco a segurança da sociedade. Ora, não é razoável pensar que
um cidadão com exatos 39 (trinta e nove) anos de idade que jamais foi
preso em qualquer outro processo, sendo, portanto, réu primário e de bons
antecedentes, venha por em risco a ordem pública.

De mais a mais, é notável o entendimento de que a


manutenção da prisão pelo argumento da ordem pública não pode e não
deve ser definida por um critério subjetivo e temerário de “gravidade de
delito”, mas sim por critérios objetivos que garantam que o acusado voltará
a cometer outros delitos, pondo em risco a segurança da sociedade.

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Ademais, o entendimento do STJ é no sentido de que “a prisão
para garantir a ordem pública tem por escopo impedir a prática de novos
crimes (…) clamor popular, isoladamente, e gravidade do crime, com
proposições abstratas, de cunho subjetivo, não justificam o ferrete da prisão,
antes do trânsito em julgado de eventual sentença condenatória”.

Assim, pode-se concluir que no caso em análise não há que se


falar em manutenção da prisão pelo argumento da ordem pública, uma vez
que se trata de réu primário e de bons antecedentes, que jamais foi
condenado por qualquer outro crime. Excelência, o judiciário não pode
manter detido ao nosso lamentável sistema prisional – reconhecido pela
contínua violação de direito humanos – indivíduos sem qualquer histórico de
violação da paz social e de prática de outros crimes.

Tampouco se afigura razoável fundamentar a prisão do 5


requerente ao argumento legal da conveniência da instrução criminal. Este
fundamento visa impedir que o agente perturbe ou impeça a produção de
prova, como, por exemplo, ameaçar testemunhas.

Ora, excelência, como já relatado por diversas oportunidades, o


requerente não tem qualquer histórico criminal, nunca praticou qualquer
crime, e contra ele não pode militar, sem qualquer evidência séria e
concreta – devidamente demonstrada nos autos – mera presunção de que,
talvez em liberdade, venha a obstruir a instrução criminal.

Caso contrário, todo cidadão que, por algum motivo, vier a


cometer algum delito teria que ficar detido preventivamente, uma vez que
recairia sobre ele a dúvida quanto à obstrução da instrução criminal, o que
não se mostra razoável em nosso Estado Democrático de Direito que tem
como princípio fundamental o da Presunção de Inocência.

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Deste modo, neste caso concreto, também não há que se falar
em manutenção da prisão do requerente pelo argumento da conveniência
da instrução criminal, uma vez que o acusado jamais foi condenado, sempre
tendo uma conduta social exemplar, não podendo presumir que este
acusado – réu primário – obstruirá a instrução criminal.

É de bom alvitre ressaltar que não há na decisão impugnada a


indicação de qualquer fator que leve a concluir que o acusado oferece
risco para a instrução criminal, sendo irregular a prisão de uma pessoa se o
decreto não estiver convincentemente motivado, limitando-se em meras
conjecturas.

Por fim, o CPP apresenta como eventual fundamento para a


decretação da prisão preventiva, a devida aplicação da lei penal. Este
fundamento busca impedir que o agente obste a aplicação da lei, como, 6
por exemplo, o risco de evasão, inviabilizando futura execução da pena.

Neste caso concreto, também não se mostra razoável a


manutenção da prisão do requerente pelo argumento da garantia da
aplicação da lei penal, uma vez que não se pode presumir que o acusado
oferece riscos para a aplicação da lei penal, visto que possui residência fixa,
convive com a companheira e seus filhos e netos, sendo o único responsável
pela manutenção de sua família.

Ademais, não há quaisquer elementos objetivos que indicam a


possibilidade de o requerente burlar a aplicação da lei penal.

Assim, conclui-se pela evidente falta de fundamentação para a


manutenção da prisão cautelar, visto que não há qualquer conduta do
requerente que autorize o decreto preventivo, restando como medida da
mais lídima justiça a aplicação das medidas cautelares diversas da prisão.

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DOS PEDIDOS
Ante ao breve exposto requer:

(i) com base nos fatos e fundamentos demonstrados, seja, com urgência,
após o parecer do representante do Ministério Público, revogada a decisão
que decretou a prisão preventiva, pelo reconhecimento da ausência
absoluta de qualquer dos fundamentos que a justifiquem, devendo ser
concedida a liberdade provisória do requerente para defender-se solto do
delito que lhe é imputado, comprometendo-se, desde logo, a comparecer a
todos os atos processuais, sem criar qualquer obstáculo ou embaraço ao
regular andamento da persecução penal;

(ii) supletivamente, acaso, este juízo não entenda restituir integralmente o


status libertatis do suplicante, pugno pela aplicação das medidas cautelares
diversas da prisão; 7

(iii) por fim, que, em conseqüência, seja expedido o competente alvará de


soltura.

Termos em que pede e espera deferimento.

Maceió/AL, 22 de novembro de 2019.

VICTOR CAVALCANTE NASCIMENTO JÚNIOR


OAB/AL nº 7.757

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