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TÍTULO I

DOS CRIMES CONTRA A PESSOA


CAPÍTULO II
DAS LESÕES CORPORAIS

Fernanda Fisher
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a
saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Bem jurídico protegido
É incolumidade pessoal do indivíduo,
protegendo-o na sua saúde mental, corporal e
fisiológica.

.
O QUE É OFENSA A INTEGRIDADE
FÍSICA?
É qualquer alteração anatômica prejudicial ao corpo humano.
Exemplo: fraturas, cortes, escoriações, luxações, queimaduras, etc.
Equimose constitui lesão. Trata-se de rouxidão decorrente do
rompimento de pequenos vasos sanguíneos sob a pele ou sob as
mucosas.
Hematomas também são considerados lesões. É uma espécie de
equimose com inchaço e, portanto, mais grave.
ATENÇÃO !!!
Eritemas não constituem lesão corporal, já que se trata de mera
vermelhidão passageira da pele. A simples dor não constitui lesão.
LESÃO CORPORAL LEVE, CULPOSA e
grave
• São crimes de menor potencial ofensivo cabe transação penal
• LESÃO GRAVE – CABE o art. 89 da lei 9.099/95

ATENÇÃO – NOS §§§ 9º, 10º, 11º - crimes praticados no âmbito da


violência domestica ou familiar não cabe nenhum benefício e a vítima
for mulher – não se aplica qq beneficio da lei 9.099/95
SUJEITO ATIVO E PASSIVO
• Sujeito ativo – qualquer pessoa pode ser sujeito
ativo do crime de lesão corporal.
• Sujeito passivo – homem vivo
• ATENÇÃO – art. 129,§ 1º, inciso IV e § 2º, inciso V –
a vítima deve ser mulher grávida
CONDUTA
AÇÃO OU OMISSÃO - ofender a integridade
corporal ou saúde de uma pessoa ( direta ou
indiretamente) – causando uma enfermidade.
ELEMENTO SUBJETIVO
DOLO – caput e §§ 1º e 2º
Culpa - § 6º
PRETERDOLOSO - §§ 1º, 2º e 3º
O crime preterdoloso é uma espécie de crime
agravado pelo resultado, no qual o agente pratica
uma conduta anterior dolosa, e desta decorre um
resultado posterior culposo. Há dolo no fato
antecedente e culpa no consequente
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de
outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
LESÃO CORPORAL LEVE
O conceito chega-se pela exclusão dos §§§ 1º ao
3º - ou seja, se não ocorrer nenhuma das lesões
dos parágrafos, configura-se a lesão do caput.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por
mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou
função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
LESÕES CORPORAIS QUALIFICADAS
PELO RESULTADO
INCISO I - Incapacidade para as ocupações habituais, por
mais de trinta dias –
Incapacidade pode ser física ou mental. Segundo a
doutrina, ocupação habitual é aquela que é corporal
tradicional, não precisa ser ligada ao trabalho ou
ocupação lucrativa, devendo ser legal, não importando se
é moral ou imoral, podendo ser intelectual, econômica,
esportiva, etc.
Continuação
INCISO II - Perigo a vida –
Significa quando a perícia consegue provar que houve uma
probabilidade séria, concreta e imediata de êxito para morte.
Esta qualificadora só admite a elemento subjetivo preterdolo.
Continuação do § 1º
INCISO III - Debilidade permanente de membro, sentido ou função –
“Membros são as partes do corpo que se prendem ao tronco: braço,
antebraço e mão (superiores) e coxa, perna e pé (inferiores).”
“Sentidos são os mecanismos sensoriais através dos quais percebemos o
mundo exterior: visão, audição, paladar, tato e olfato.”
“Função é a atuação própria de um órgão, ou seja, função respiratória,
circulatória digestiva, secretora, locomotora, reprodutora e sensitiva.”
Neste inciso debilidade significa enfraquecimento, redução, diminuição,
de capacidade cuja recuperação deve ser incerta e por tempo
indeterminado, não, porém perpétua.
Continuação § 1º -
INCISO IV - aceleração de parto:
Neste caso a lesão corporal expulsa o feto prematuramente, ou
seja, ocorre uma antecipação do parto.
ATENÇÃO !!! o fruto da concepção deve nascer vivo e
continuar a viver, pois caso contrário, ocorreria a hipótese do
inciso V, § 2º (lesões gravíssimas).

Também é necessário que o agente saiba que a mulher está


grávida.
Lesão corporal de natureza gravíssima
§ 2° Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
§2º
INCISO I - Incapacidade permanente para o trabalho

O legislador aqui fala em trabalho e não em ocupações


habituais como no parágrafo anterior. Logo, profissão,
emprego ou ofício, lucrativo, excluindo-se, pois, a criança
ou o aposentado. Permanente (não mais temporário),
duradoura no tempo e sem previsibilidade de cessação.
CONTINUAÇÃO § 2º
INCISO II - enfermidade incurável;
- alteração permanente da saúde por processo
patológico que não tem cura; transmissão intencional
de uma doença para a qual não existe cura no estágio
atual da medicina.
A enfermidade também é considerada incurável se a
cura somente é possível através de cirurgia, posto que
ninguém é obrigado a se submeter a intervenção
cirúrgico; a lei compreende tanto a enfermidade do
corpo com a da mente.
CONTINUAÇÃO § 2º
INCISO III - perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
A perda pode ocorrer por mutilação ou amputação.
A mutilação ocorre no momento da ação delituosa: com um machado, ou
serra elétrica, alguém secciona o braço, ou a mão, de outrem.
A amputação se apresenta na intervenção cirúrgica imposta pela
necessidade de salvar a vida do ofendido, ou para impedir consequências
mais funestas, nocivas ou graves: o seccionamento cirúrgico de um braço
gangrenado pela faca que o ofendido recebeu.
Na inutilização, o membro permanece ligado ao corpo, mas incapaz de
sua atividade própria ou função, como, por exemplo, quando a vítima
passa a ter paralisia total de um braço ou perna.
CONTINUAÇÃO § 2º
INCISO IV - se resulta deformidade permanente.
É o dano estético, de certa monta, permanente, visível e
capaz de provocar impressão vexatória.
A deformidade deve ser permanente; não basta que o dano
estético seja visível ou de certo vulto, porque deve ser
também indelével (que não se pode apagar) ou irreparável.
O dano estético pode ter sido causado por qualquer forma.
As mais comuns são queimaduras com fogo ou com ácido,
provocação de cicatrizes através de cortes profundos,
arrancamento de orelha ou parte dela
Inclui deformidades no rosto, pernas, braços etc.;
CONTINUAÇÃO § 2º
INCISO V – aborto
Trata-se de crime preterdoloso, ou seja, o agente
queria somente agredir a vítima e não quer
causar o aborto, mas o provoca de maneira
culposa;
O agente deve saber que a vítima está grávida
Lesão corporal seguida de morte
§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que
o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de
produzi-lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
Falta o animus necandi –apenas teve a intenção de ofender a
integridade corporal ou a saúde da vítima

Trata-se, também, de crime (exclusivamente)


preterdoloso, em que o agente apenas quer
lesionar a vítima e acaba provocando sua morte
de forma não intencional, ou seja, culposa.
Diminuição de pena

§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de


relevante valor social ou moral ou sob o domínio de
violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação
da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um
terço.
ATENÇÃO!!! - CHAMADA DE FORMA PRIVILEGIADA –
CAUSA DE DIMINUIÇÃO DE PENA
Substituição da pena
§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda
substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos
mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.
SUBSTITUIÇÃO DE PENA
• LESÕES MÚTUAS DO INCISO II –
a) Os 2 se ferem e um agiu em legítima defesa – absolve
um e condena o outro com privilégio.
b) Os dois se ferem e alegam ambos legítima defesa não
sabendo quem começou agressão – 2º entendimento
da doutrina ambos devem ser absolvidos.
c) Ambos são culpados e nenhum agiu em legítima defesa
– ambos devem ser condenados com o privilegio
Lesão corporal culposa
§ 6° Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
– imprudência, imperícia da eia, negligência
AÇÃO PENAL PUBLICA CONDICONADA A REPRESENTAÇÃO -
art. 88 da lei 9.099/95
Aumento de pena
§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer
qualquer das hipóteses dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste
Código.

§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art.


121
PERDÃO JUDICIAL
Violência Doméstica

§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente,


irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha
convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos


• ascendente, descendente – parentesco legítimo ou
ilegítimo – não precisa coabitar
• Cônjuge ou companheiro -
• Com quem conviva ou tenha convivido - A lesão
corporal tenha sido provocada em razão da
vivência , atual ou pretérita.
• prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade
§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as
circunstâncias são as indicadas no § 9o deste artigo,
aumenta-se a pena em 1/3 (um terço).

§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será


aumentada de um terço se o crime for cometido contra
pessoa portadora de deficiência.
CAUSA DE AUMENTO DE PENA
§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou
em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau,
em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a
dois terços
§13. Se a lesão for praticada contra a mulher,
por razões da condição do sexo feminino, nos
termos do § 2º-A do art. 121 deste Código:
(Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).
Art. 121, §2º A, incisos I e II do CP – norma
explicativa

§ 2ºA - Considera-se que há razões de condição de sexo


feminino quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
IMPORTANTE LEMBRAR
Menosprezo à condição feminina – mata por
desprezar o gênero da vítima.
Ex. motorista que mata uma condutora que realizou
manobra imperita que acarretou abalroamento no seu
carro, desqualificando-a por ser mulher.
Discriminação à mulher – o sujeito ativo mata, pois tem
preconceito ao gênero feminino, ou seja, acha que a vítima
é inferior por ser mulher

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