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CRIME DE LESÃO CORPORAL

Art. 129, CP
1. Introdução
Conceito: ofensa humana direcionada a integridade corporal ou saúde de outrem, todo e qualquer
dano ocasionado à normalidade funcional do corpo humano, quer do ponto de vista anatômico,
quer do ponto de vista fisiológico ou mental;
Prova de materialidade: retém de exigência de exame de corpo de delito e laudo pericial, relato
profissional daquilo demonstrado, ou, ao menos, prova testemunhal, quando os vestígios tiverem
desaparecido, para comprovação do fato devido;
OBS! Em regra, Código Penal não incrimina autolesão (agente que se auto mutila ou lesiona),
apenas lesão em terceiros. Em exceção, caso de agente, por meio da lesão da própria integridade
física, fraudar ou prejudicar interesses alheios (crime de estelionato);
Consentimento do ofendido: causa supralegal de exclusão de ilicitude, em que a vítima, em
domínio do bem jurídico violado, permite ou concorda com lesão corporal praticada por agente,
exemplo: lesões consentidas decorrentes da atividade sexual entre adultos;

2. Classificação

2.1. Leve
Conceito: crime de baixo potencial ofensivo, determinado por exclusão de tipicidade, caso
conduta não seja especificada pela norma, isto é, toda lesão corporal dolosa que não seja definida
nem como grave nem gravíssima nem violência doméstica contra mulher, exemplo: danos
superficiais na pele, edemas;
Art. 88 da Lei 9099/95 – crime de lesão corporal leve ou culposa retém de ação penal pública
condicionada, por isso, exige representação, isto é, manifestação do ofendido;
OBS! Em exceção, STF determinou que lesão corporal, mesmo leve, envolvendo violência
doméstica contra a mulher, a ação penal será pública incondicionada (não exige representação);
Pena – detenção de 3 meses a 1 ano;
2.2. Grave
Conceito: infração penal de médio potencial ofensivo, em face do maior desvalor do resultado
(dano suportado pela vítima);
Pena – reclusão de 1 a 5 anos;
2.2.1. Incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 (trinta) dias
Conceito: quando existe impossibilidade do indivíduo, em decorrência da lesão, de realizar
atividades cotidianas, ou seja, qualquer atividade concreta, física ou mental, exemplo: andar,
tomar banho, ler jornais, praticar esporte, incapacidade de realização de ocupações por mais de
um mês;
OBS! Não se resume apenas a trabalho, isto é, não tem importância se comportamento é
lucrativo ou não;
2.2.2. Perigo de vida
Conceito: possibilidade grave, concreta e imediata de a vítima morrer em consequência das lesões
sofridas, de êxito letal, exemplo: lesão não prejudicou intensamente o indivíduo, mas perfuração
chegou próximo de região vital;
Importante! Conforme raciocínio adotado pelo STF, não basta mera presunção ou risco em
potencial, mas sim indicação, comprovado por pericia medica, em critérios objetivos, de perigo
concreto e real;
2.2.3. Debilidade permanente de membro, sentido ou função
Conceito: diminuição ou o enfraquecimento da capacidade funcional, por tempo permanente, isto
é, duradoura e de recuperação incerta, ofensa prejudicial sem previsão para retorno, ou seja, que
dura certo período extenso de tempo;
OBS! Não se exige, contudo, perpetuidade, já que a perda ou inutilização de membro, sentido ou
função caracteriza lesão corporal gravíssima;
2.2.4. Aceleração de parto
Conceito: antecipação do parto, o parto prematuro, que ocorre quando o feto nasce antes do
período normal estipulado pela medicina, em decorrência da lesão corporal produzida na gestante,
porém criança permanece viva, apesar do perigo;
Conhecimento do fato: exige-se o conhecimento, pelo sujeito, da gravidez da vítima, se o agente
ignorava essa condição (não sabia), deve responder somente por lesão corporal leve, pressupõe
que o agente saiba que vítima estaria grávida (seja por condição visível, seja por conhecimento
geral) e mesmo assim mantém agressão física;
OBS! Se, todavia, em consequência da lesão corporal praticada contra a gestante, o feto for
expulso morto do ventre materno, o crime será de lesão corporal gravíssima em razão do aborto;
2.3. Gravíssima
Conceito: infração penal de alto potencial ofensivo, elencada como causa de aumento de pena,
em face de resultado caracterizado pela irreversibilidade ou irreparabilidade;
Pena – reclusão de 2 a 8 anos;
2.3.1. Incapacidade permanente para o trabalho
Conceito: comprometimento da atividade laboral do indivíduo, que prejudica, até mesmo, seu
sustento ou mantimento, toda e qualquer incapacidade longa e duradoura, isto é, que não permita
fixar seu limite temporal, que afeta atividade remunerada exercida pela vítima, que resta
prejudicada em seu aspecto financeiro em razão da conduta criminosa;
2.3.2. Enfermidade incurável
Conceito: doença que não tem cura, que medicina atual não retenha de conhecimento, alteração
prejudicial da saúde por processo patológico, físico ou psíquico, que não pode ser eficazmente
combatida com os recursos da medicina à época do crime;
OBS! O fato de no dia do julgamento, após 4 anos de processo, a doença passa a ter cura pode
mudar a pena, mas não muda a classificação do delito;
2.3.3. Perda ou inutilização de membro, sentido ou função
Conceito: ablação, a destruição, privação de membro (exemplo: arrancar uma perna), sentido
(exemplo: destruição dos tímpanos com a eliminação da audição) ou função (exemplo: extirpação
do pênis que extingue a função reprodutora), assim como falta de aptidão, em decorrência da
agressão, do órgão para desempenhar sua função específica, exemplo: o ofendido, em
consequência da conduta criminosa, passa a apresentar paralisia total de uma de suas pernas;
2.3.4. Deformidade permanente
Conceito: dano duradouro de alguma parte do corpo da vítima, que não pode ser retificado por si
próprio por relevante intervalo de tempo, exemplo: normalmente relativo a questões estéticas,
visível não apenas na face, mas pode ser nas pernas e braços;
2.3.5. Aborto
Conceito: interrupção da gravidez, com a consequente morte do feto, sem pretensão, agente, com
conhecimento acerca da gravidez da vítima, porém sem intensão de abortar, insiste na agressão
que resulta em morte do feto;
Importante! O que rege o crime é a intensão do agente – caso este tivesse por vontade o aborto
sem consentimento da gestante, responderia por tal crime;
3. Lesão corporal seguida de morte
Conceito: trata-se de homicídio preterdoloso, no qual existe uma figura híbrida, isto é, misto de
dolo no comportamento do agente (lesão corporal) e culpa no resultado agravador (morte),
exemplo: namorado por ciúmes agride homem com chutes e joelhadas, fazendo o mesmo cair,
batendo a cabeça e vindo a óbito;
Pena – reclusão de 4 a 12 anos;
OBS! Não deve ter risco ou intensão do resultado em morte;
4. Diminuição de pena
Conceito: privilégio concedido unicamente no tocante às lesões dolosas, qualquer que seja sua
modalidade (leve, grave, gravíssima), quando crime cometido sob o domínio de relevante valor
social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da
vítima, pena reduzida de 1/6 a 1/3;
OBS! Não é cabível na lesão corporal culposa;
Elementos

− Relevante valor social – tocante de interesse coletivo, para proteger valioso interesse da
sociedade, exemplo: indignação à um traidor da pátria ou estuprador;
− Relevante valor moral – tocante de interesse individual, particulares do agente;
− Domínio de violenta emoção – o agente estava fora de si, mais intenso que mera
influencia de sentimento;
− Reação imediata –
− Injusta provocação da vítima – o agente passivo, aquele que sofreu a ação ilegítima,
reteve de atitude de ofensa, exemplo: vítima xingou o sentenciado;
5. Substituição de pena
Conceito: concedido obrigatoriedade e somente a lesão corporal leve, não sendo grave, ocorre
substituição da pena de detenção pela de multa, genuína manifestação do privilégio, somente é
aplicável à lesão corporal leve;
5.1. Nas hipóteses do parágrafo anterior – cometido sob o domínio de relevante
valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a
injusta provocação da vítima;

5.2. Lesões recíprocas – aquelas que ocorrem quando duas pessoas injustamente se
agridem, isto é, o agressor ataca a vítima, e é simultaneamente por ela agredido;
OBS! Lesões recíprocas (pessoas se atacando, podem ser em momentos diferentes) x. Legítima
defesa (pessoa se defendendo, sem cometer crime, no momento da agressão);

6. Lesão corporal culposa


Conceito: trata-se de lesão corporal cometida contra alguém em decorrência de um
comportamento imprudente, negligente ou imperito, ou seja, agente que não tomou cuidado, com
comportamento, seja por ação ou omissão, que gerou dano a vítima;
Pena – detenção de 2 meses a 1 ano;
Espécies (formas de exteriorização)
➢ Imprudência – pressupõe uma ação precipitada e sem cautela, agiu com atitude diversa
da esperada, exemplo: alguém perde o controle do carro por andar em alta velocidade e
atropela alguém;
➢ Negligência – cometeu conduta ilícita por omissão, deixou de tomar conduta esperada na
situação, “não fez algo que deveria fazer”, agiu com descuido, indiferença ou desatenção,
não adotando as devidas precauções, exemplo: médico não estaca artéria aberta de cliente;
➢ Imperícia – constata-se na inaptidão, ignorância, falta de qualificação técnica, teórica ou
prática ou ausência de conhecimentos elementares e básicos para a ação realizada,
exemplo: médico que faz cirurgia errada;
Lei de trânsito 9.503/1997 – lesão cometida em condução ou direção de veículo automotor, em
princípio de especialidade, é utilizado pena elevada, conforme norma, de detenção de 6 meses a
2 anos e suspensão ou proibição de permissão ou habilitação para dirigir;
Importante! Na lesão culposa não há distinção com base na gravidade dos ferimentos, isto é, a
gravidade da lesão não interfere na tipicidade do fato;

7. Aumento de pena
Conceito: hipóteses em que pena é aumentada em 1/3;
Em lesão corporal culposa – se o crime resulta de inobservância de regra técnica de
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não
procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante;
Em lesão corporal dolosa – se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze)
ou maior de 60 (sessenta) anos, ou então se for praticado por milícia privada, sob o
pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio;

8. Perdão Judicial
Conceito: aplicável apenas e somente para lesão corporal culposa, em que o juiz pode deixar de
aplicar a pena quando as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave
que a sanção penal se torne desnecessária;

9. Violência doméstica
Conceito: em hipótese de lesão corporal leve, a conduta que ofenda integridade ou saúde corporal
da mulher, em que o agente utiliza a força, de forma agressiva, para submeter a vítima;
Pena – 3 meses a 3 anos;
9.1. Espécies – formas ou situações para caso de crime;
Violência familiar – contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, sujeito que
se beneficia de relações familiares para produção do crime, em convivência atual ou passada;
Violência doméstica – aquelas que não adentram membros em ligação de parentesco;
9.1.1. Relação doméstica: criadas entre os membros de uma família, exemplo: padrão de
babá de seu filho;
9.1.2. Coabitação: moradia sob o mesmo teto, ainda que por breve período, exemplo:
moradores de uma república, deve ser lícita e conhecida dos coabitantes;
9.1.3. Hospitalidade: recepção eventual, durante a estadia provisória na residência de
alguém, sem necessidade de pernoite, exemplo: receber amigos para um jantar;
Importante! Exige-se prova documental da relação de parentesco ou do vínculo matrimonial ou
prova testemunhal em caso de união estável;
10. Aumento de pena
Conceito: em lesão corporal grave, gravíssima ou seguida de morte, e o crime for praticado com
violência doméstica, pena aumentada em 1/3;
11. Pessoa portadora de deficiência
Conceito: em lesão corporal leve cometida com violência doméstica, pena será aumentada em 1/3
quando vítima for portadora de deficiência, isto é, aquela que, em consequência de alguma
enfermidade, permanente ou transitória, enfrenta debilidade em sua capacidade física ou mental;
12. Agravante genérica
Conceito: pena aumentada de 1/3 a 2/3, em caso de lesão praticada contra vítima autoridade ou
agente policial (arts. 142 e 144 da Constituição Federal), integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra
familiar do mesmo (seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau);

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