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LESÃO CORPORAL

1. CONCEITO

Lesão corporal consiste em todo e qualquer dano produzido por


alguém, sem animus necandi, à integridade física ou à saúde de outrem. Ela
abrange qualquer ofensa à normalidade funcional do organismo humano tanto
do ponto de vista anatômico quanto do fisiológico ou psíquico.

É impossível uma perturbação mental sem um dano à saúde, ou um


dano à saúde sem uma ofensa corpórea. O objeto da proteção legal é a
integridade física e a saúde do ser humano. (BITENCOURT, 2012, p. 186 ).

2. O crime de lesão corporal pode ocorrer por meio de oito


modalidades diferentes

a) Lesão corporal de natureza leve – art. 129, caput, do CP

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano.

b) Lesão corporal grave


§ 1º Se resulta:
I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
II - perigo de vida;
III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;
IV - aceleração de parto:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.

c) Lesão corporal de natureza gravíssima

§ 2º Se resulta:
I - Incapacidade permanente para o trabalho;
II - enfermidade incurável;
III- perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
IV - deformidade permanente;
V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
d) Lesão corporal seguida de morte

§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não


quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

e) Diminuição de pena

§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o
domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a
pena de um sexto a um terço.

Substituição da pena

§ 5º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de


detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II - se as lesões são recíprocas.

f) Lesão Corporal Culposa

§ 6º Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Aumento de pena
 § 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das
hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código.

- Art. 121. Matar alguém: Aumento de pena

§ 4o No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o


crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou
se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo
doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 (um terço) se o crime é
praticado contra pessoa menor de 14 (quatorze) ou maior de 60 (sessenta)
anos

§ 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for


praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de
segurança, ou por grupo de extermínio.

 § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.


Art. 121, § 5º - Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de
aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de
forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.

g) Violência doméstica

§ 9º - Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge


ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos

h) Lesão qualificada praticada contra a mulher, por razões de condições


do sexo feminino

§ 13 - Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões da condição do


sexo feminino
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).

3 – Sujeito ativo e sujeito passivo


 Sujeito ativo - Qualquer pessoa
 Sujeito passivo –

No que diz respeito ao sujeito passivo, à Exceção do inciso IV do § 1º e


do inciso V do § 2º do artigo 129 do Código Penal, que preveem, como
resultado qualificador das lesões corporais a aceleração de parto e o aborto
bem como §§ 9º e 13, que preveem também a modalidade qualificada relativa
à violência doméstica e a lesão praticada contra mulher, por razões de
condições do sexo feminino, qualquer pessoa pode figurar como sujeito
passivo.

Nas exceções apontadas – aceleração de parto e aborto -, somente a


gestante pode ser considerada sujeito passivo vivo bem como aquele que seja
ascendente, descendente irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem
conviva ou tenha convivido, ou, ainda, quando se prevalece o agente das
relações domésticas de coabitação ou de hospitalidade, ou quando a lesão for
praticada contra a mulher, por razões de condições do sexo feminino, sendo os
crimes, nesses casos, entendidos como próprios com relação ao sujeito
passivo, pois os tipos penais os identificam.

 Objeto material e bem jurídico protegido


Bens juridicamente protegidos, segundo o art. 129 do Código Penal, são
a integridade corporal e a saúde do ser humano.

Objeto material é a pessoa humana mesmo que com vida intrauterina,


sobre a qual recai a conduta do agente no sentido de ofender-lhe a integridade
corporal ou a saúde.

 Exame de corpo de delito

Sendo um crime que deixa vestígios, há necessidade de ser produzida


prova pericial, comprovando-se a natureza das lesões, isto é, se leve, grave ou
gravíssima.

Artigo 168 do Código de Processo Penal:


Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido
incompleto, proceder-se-á a exame complementar por determinação da
autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do Ministério
Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.

§ 1º No exame complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de


delito, a fim de suprir-lhe a deficiência ou retificá-lo.

§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º,
I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias,
contado da data do crime.
(§ 1º Se resulta, I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de
trinta dias)

§ 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova


testemunhal.

Os peritos, ao avaliarem a vítima, devem confeccionar um diagnóstico


correspondente ao estado em que ela se encontra no momento em que é
submetida ao exame de corpo de delito. Os peritos devem retratar a realidade
daquilo que efetivamente for verificado como lesões corporais sofridas pela
vítima não se podendo, contudo, produzir prognósticos.

A ausência do exame de corpo de delito, nos crimes que deixam


vestígios configura-se caso de nulidade conforme determina a alínea “b” do
inciso III do art. 564 do Código de Processo Penal, que ressalva o fato de que
não sendo possível a sua realização, em razão do desaparecimento dos
vestígios, a sua falta poderá ser suprida por prova testemunhal, nos termos do
artigo 167 do CPP.
 Modalidades comissiva e omissiva

O crime de lesões corporais pode ser praticado de forma comissiva ou


omissiva. Omissivamente, o agente deverá possuir o status de garantidor,
amoldando-se a qualquer uma das alíneas previstas no § 2º do art. 13 do
Código Penal. Nesse caso, trata-se de “crime comissivo por omissão ou
omissivo impróprio, o dever de agir é para evitar um resultado concreto”.

Goza da condição de garantidor quem tem o dever de agir a fim de evitar


o resultado, podendo, ainda, fazê-lo fisicamente, sendo que esse dever de agir
surge de acordo com as alíneas a, b e c do § 2º do art. 13 do Código Penal
quando o agente:

Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é


imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem
a qual o resultado não teria ocorrido.

§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir


para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem:

a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância;


b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado;
c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do
resultado.

 Consumação e tentativa

A lesão corporal se consuma com a efetiva produção da ofensa à


integridade corporal ou á saúde da vítima incluindo-se, também, os resultados
qualificadores previstos pelos §§ 1º, 2º e 3º, que preveem, respectivamente as
lesões graves, gravíssimas e seguidas de morte.
A tentativa é perfeitamente admissível na hipótese de lesão corporal de
natureza leve.
Sendo graves ou gravíssimas as lesões, somente se admitirá a
tentativa nos casos em que o delito não for classificado como preterdoloso.
Assim, não há tentativa nas hipóteses de lesão corporal qualificada pelo: 1)
perigo de vida; 2) aceleração de parto; 3) aborto.
Da mesma forma não se admitirá a tentativa no crime de lesão corporal
seguida de morte em face da sua natureza preterdoloso.

Conduta dolosa com resultado agravado culposo (crime preterdoloso):

Ocorre quando um agente quer praticar um crime, mas acaba se


excedendo e provocando um resultado mais grave do que o resultado
pretendido. Ex.: lesão corporal seguida de morte onde o autor pretende
apenas ferir, mas acaba matando.

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