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DIREITO PENAL ESPECIAL E LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE1

PROF. ALEX RIBEIRO CABRAL

AULA 04.1 – LESÃO CORPORAL

1 – CONCEITO e PREVISÃO LEGAL

Trata-se do crime a partir do qual o agente, com consciência e vontade de


ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem, adota conduta hábil à consecução de
tal objetivo.

O crime traz subdivisão entre lesões dolosas e culposas.

No tocante à modalidade dolosa, pode obter quatro resultados diferentes:


leve, grave, gravíssima ou seguida de morte.

Lesão corporal

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de


outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de


trinta dias;

II - perigo de vida;

III - debilidade permanente de membro, sentido ou


função;

IV - aceleração de parto:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 2° Se resulta:

1
Elaborado com base, precipuamente, nas obras: I. SANCHES, Rogerio. Manual de Direito Penal: Volume
Único. II. ROQUE, Fabio. Direito Penal Didático. III. GONÇALVEZ, Victor Eduardo Rios. Direito Penal
Esquematizado: Parte Especial. IV. GRECO, Rogério. Código Penal Comentado; V. CAPEZ, Fernando. Curso
de Direito Penal; VI. DA COSTA, Álvaro Mayrink. Direito Penal: Parte Especial.
I - Incapacidade permanente para o trabalho;

II - enfermidade incuravel;

III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;

IV - deformidade permanente;

V - aborto:
Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Lesão corporal seguida de morte

§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o


agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Diminuição de pena

§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de


relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção,
logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a
pena de um sexto a um terço.

Substituição da pena

§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda


substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a
dois contos de réis:

I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo


anterior;

II - se as lesões são recíprocas.

Lesão corporal culposa

§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)

Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Aumento de pena

§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer


qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do art. 121 deste Código.
(Redação dada pela Lei nº 12.720, de 2012)

§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art.


121.(Redação dada pela Lei nº 8.069, de 1990)

Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de


2004)

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente,


descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva
ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela
Lei nº 11.340, de 2006)

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.


(Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as


circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a
pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)

§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será


aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa
portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)

§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente


descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do
sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no
exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão
dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído
pela Lei nº 13.142, de 2015)

§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões


da condição do sexo feminino, nos termos do §2º-A do art. 121 deste
Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela


Lei nº 14.188, de 2021)

2 – OBJETO JURÍDICO TUTELADO

A integridade física e a saúde das pessoas (inclusive saúde mental).

3 – LESÃO CORPORAL LEVE

De início, importante observar que a lei não conceitua o que seria uma lesão
leve. Teremos, portanto, a presença da lesão leve por mera exclusão, afinal as lesões
corporais que NÃO se enquadrarem dentre as graves (art. 129, §1º) ou gravíssimas (art.
129, §2º), serão consideradas leves.

Advém, portanto, a necessidade de o perito, diante da análise de lesão, atestar


em laudo se há ou não a presença de lesões graves ou gravíssimas. Se o legista não identificar
as hipóteses de lesão grave ou gravíssima, estaremos diante de lesão leve.
Eis o que ocorre na prática. São esses os quesitos a serem respondidos pelo
perito (legista) quando lhe é encaminhada vítima que sofreu lesão corporal:

Também devemos lembrar que a ofensa à integridade física caracterizadora


da lesão corporal somente será aferível diante da presença de escoriações, equimoses
(manchas roxas/azuis ou vermelhas), cortes, fraturas, fissuras, hematomas, queimaduras
etc, isto porque é necessário que a agressão resulte em rompimento ou dilaceração do
corpo da vítima, seja externa, seja internamente.

Os chamados eritemas (vermelhidão na pele) decorrentes de beliscões, tapas


etc não são considerados típicos de lesão corporal, pois não há rompimento ou dilaceração
do corpo da vítima, mas sim um breve deslocamento sanguíneo que se desfaz na sequência.

Os eritemas podem configurar vias de fato (art. 21, da Lei das Contravenções
Penais (Decreto-Lei 3.688/41))2 ou tentativa de lesão corporal, a depender da intenção do
agente.

Até mesmo por isso, podemos verificar nos quesitos acima que o primeiro
deles é voltado a responder se houve, de fato, ofensa à integridade física ou à saúde da
vítima. Se o perito responder negativamente, estaremos diante de fato atípico ou de vias de
fato, que serão explicadas mais adiante.

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Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o
fato não constitui crime.
Ademais, não podemos nos esquecer de que lesão corporal também pode ser
aquela que afeta a saúde da vítima, causando-lhe perturbações fisiológicas ou mentais.

Ex.: ministração de dose elevada de laxante para a vítima a fim de provocar-


lhe diarreia.

3.1 Distinção entre Lesão Leve e Vias de Fato

Quando se trata de lesão corporal, o agente tem o dolo de lesionar a vítima,


isto é, afetar a sua integridade física ou saúde.

Por outro lado, nas vias de fato (art. 21, do Decreto-Lei 3.688/41), o agente
não tem a intenção de machucar/ferir a vítima, mas não de lesioná-la no sentido jurídico
acima apontado. As vias de fato, na grande maioria das ocasiões, equivalem aos casos de
empurrão, beliscão, tapa, ou seja, incapazes de produzir dilaceração ou rompimento no
tecido da vítima.

3.2 Distinção para Injúria Real

Na injúria real (art. 140, §2º, CP3), o agente tem a intenção de humilhar a
vítima, não de lesioná-la. O caráter humilhante da ação decorre da natureza do ato (raspar
o cabelo / cuspir no rosto da vítima) ou do meio empregado pelo agente (atirar tomate ou
ovos em pessoa que está discursando / jogar um copo de água no rosto da vítima para
causar vexame).

3
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
[...].
§ 2º - Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado,
se considerem aviltantes:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência.
Importante: se da injúria real decorre lesão leve, o agente responderá pelos
dois crimes, haja vista a parte final do §2º do art. 140 do CP. No caso de injúria real praticada
mediante vias de fato (ex: empurrão da vítima em piscina para causar-lhe embaraço), as vias
de fato ficam absorvidas pela injúria real.

3.3 Ação Penal

Os crimes de lesão corporal leve e lesão culposa são de Ação Penal Pública
Condicionada, vide art. 88, Lei 9.099/954.

Caso se trate de lesão corporal leve no âmbito de violência doméstica ou


familiar contra a mulher, passa a ser crime de Ação Penal Pública Incondicionada, haja vista
a redação do artigo 41, da Lei Maria (11.340/2006)5.

*Atenção: as vias de fato são objeto de Ação Penal Pública Incondicionada,


segundo o artigo 17 da Lei das Contravenções Penais (Decreto-Lei 3.688/41), o que, de
certo modo, gera um aspecto contraditório, pois trata-se de fato de menor gravidade em
relação à lesão leve, mas o Estado não precisa da representação da vítima para denunciar o
agente, diferentemente do que ocorre com a lesão corporal leve, na qual é necessária a
manifestação de interesse do ofendido.

3.4 Consentimento do Ofendido

Segundo parte minoritária da doutrina, a incolumidade física é bem jurídico


indisponível, não havendo possibilidade de consentimento da vítima para a prática de lesão
contra si.

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Art. 88. Além das hipóteses do Código Penal e da legislação especial, dependerá de representação a
ação penal relativa aos crimes de lesões corporais leves e lesões culposas.

5
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher, independentemente
da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995.

ADI 4424 – STF.


Todavia, o posicionamento que vem sendo adotado pela maior parte da
doutrina é de que é possível o consentimento da vítima, desde que maior de idade e capaz,
em se tratando de lesões leves, tanto que, como visto acima, a ação penal relacionada ao
crime de lesão corporal leve é de natureza condicionada, ou seja, a existência de inquérito
policial para apuração do fato e da própria ação penal dependem de expressa manifestação
da vítima.

Ex.: realização de tatuagens, colocação de piercings etc.

3.5 Elemento Subjetivo

Dolo direto ou eventual.

Em se tratando de lesão culposa, veremos mais adiante o art. 129, §6º.

4 – LESÃO CORPORAL GRAVE

Voltemos ao artigo 129, §1º, do CP para passar a analisar as lesões


consideradas graves pelo legislador, as quais são tidas como circunstâncias qualificadoras e
merecerão pena mais severa:

Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta:

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de


trinta dias;

II - perigo de vida;

III - debilidade permanente de membro, sentido ou


função;

IV - aceleração de parto:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.


4.1 Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias

O legislador trata ocupações habituais como qualquer ocupação do ofendido;


não há necessidade de se verificar incapacitação necessariamente para o trabalho. Portanto,
cabe a presença de lesão corporal grave se a vítima fica sem praticar esportes, andar, correr,
trabalhar ou qualquer outra atividade rotineira que exerça.

Lembra-se que não é necessário que o agente tenha o dolo de causar essa
específica condição ao ofendido (ficar longe das ocupações habituais por mais de 30 dias).
Logo, trata-se de crime que pode ou não ser preterdoloso.

O crime é questão também é conhecido como crime a prazo, pois será


necessária a realização de laudo pericial complementar no 31º dia após a lesão, a fim de se
verificar se a lesão ainda incapacita o ofendido para suas ocupações habituais.

Atenção ao art. 168, §§2º e 3º, do CPP:

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o


primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-
á a exame complementar por determinação da autoridade
policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do
Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu
defensor.

[...].

§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a


classificação do delito no art. 129, § 1º, I, do Código Penal,
deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado
da data do crime.

§ 3º A falta de exame complementar poderá ser


suprida pela prova testemunhal.

Por fim, registra-se que a doutrina exige que as ocupações habituais das quais
a vítima se afasta devem ser lícitas. Logo, se indivíduo que se dedica a uma vida de crimes
fica impossibilitado de cometê-los por mais de 30 dias em virtude de ter sofrido lesão
corporal, não será possível a aplicação da qualificadora sob análise (a lei não pode proteger
aqueles que atentam contra ela).
Por outro lado, admite-se a configuração do art. 129, §1º, I, se a vítima, por
exemplo, é prostituta, deixando de exercer o meretrício por mais de 30 dias, isto porque,
não obstante tratar-se de atividade considerada imoral, não é ilícita.

4.2 Se resulta perigo de vida

Perigo de vida deve ser entendido como a possibilidade concreta de morte


da vítima, a qual deve ser atestada por laudo médico, devendo ser especificado no
documento o motivo pelo qual o ofendido esteve sob real risco de vida, evitando-se análise
genérica por parte do legista.

Ex.: grande perda de sangue; ferimento de órgão vital; necessidade de cirurgia


de emergência.

Trata-se de hipótese, necessariamente, preterdolosa. Afinal, se ficar


verificado que a intenção do agente era, efetivamente, tirar a vida do ofendido, teremos
homicídio tentado.

4.3 Se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou função

Debilidade deve ser lida como a redução na capacidade de utilização do


membro, sentido ou função, a qual, todavia, mantém-se, parcialmente, em uso.

Necessário que a debilidade seja irreversível, isto é, permanente.

Se a lesão resultar em inutilização de membro, sentido ou função, teremos a


lesão corporal gravíssima, prevista pelo art. 129, §2º, III.

Membros: braços e pernas. Ex. de lesão grave: perda de um dedo; diminuição


na mobilidade de braço; diminuição na mobilidade das pernas, fazendo com que a vítima
passe a andar mancando. Atenção: caso a vítima fique paraplégica, falar-se-á em lesão
gravíssima, pois em tal caso não terá ocorrido a debilidade, mas sim a inutilização de
membro. Em se tratando de perda do dedo polegar, a doutrina também defende que se
trata de lesão gravíssima, pois o ofendido ficará impossibilitado de segurar ou pegar objetos.

Sentidos: são os mecanismos sensoriais (visão, audição, paladar, olfato, tato).


Ex.: vítima que perde 30% da capacidade de audição ou visão.

*Importante: segundo majoritária doutrina e jurisprudência, a perda da visão


total de um dos olhos configura debilidade de sentido e não perda de sentido. Trata-se,
portanto, de lesão corporal grave e não gravíssima.

Funções: circulatória, respiratória, mastigatória, reprodutora etc.

A perda parcial de uma dessas funções também resultará em lesão grave.

4.4 Se resulta aceleração de parto

Necessária para a caracterização dessa hipótese que o parto ocorra, de forma


prematura, advindo o nascimento da criança com vida.

Imprescindível que o agente saiba da gravidez da vítima.

Nessa qualificadora, o agente tem a intenção de lesionar, mas surge como


resultado culposo a aceleração do parto, ou seja, o crime é preterdoloso.

Se o agente tivesse a intenção de provocar o aborto e ocasionasse a aceleração


do parto, teríamos o crime de aborto tentado sem o consentimento da mãe (art. 125, CP).

5 – LESÃO CORPORAL GRAVÍSSIMA

Sobre a lesão corporal gravíssima, devemos alertar que tal classificação foi
dada pela doutrina, pois a lei chama de lesões graves tanto aquelas previstas no §1º quanto
as mencionadas no §2º do art. 129 do CP.
A doutrina, no entanto, diferenciou as lesões, chamando de graves as
previstas no §1º e de gravíssimas aquelas citadas no §2º. Tratam-se de expressões já
consagradas.

5.1. Se resulta incapacidade permanente para o trabalho

Quando se trata da presente qualificadora, prevista no art. 129, §2º, I, o


legislador previu incapacidade para o trabalho, não fazendo menção se o trabalho em
relação ao qual a vítima ficou incapacitada era o anterior por ela exercido ou se qualquer
outro trabalho.

Entende-se, majoritariamente, que a lei se refere a qualquer trabalho. Assim,


se a lesão impossibilita que violinista continue a trabalhar em seu respectivo ofício, mas não
lhe retira total capacidade de trabalho, não poderíamos enquadrar o agente na lesão
gravíssima sob análise.

De todo modo, a vítima deve ser avaliada por médico perito, tal qual ocorre
com as pessoas aposentadas por invalidez perante o INSS, e constatando o médico que o
ofendido não mais dispõe de condições de trabalho, poderemos enquadrar o agente nesta
qualificadora.

5.2. Se resulta enfermidade incurável

Enfermidade incurável será aquela para a qual a atual medicina não disponha
de métodos curativos.

Também nesse caso, necessário laudo médico para atestar a presença de


doença incurável decorrente da lesão causada.

* Transmissão Intencional do Vírus da AIDS: lesão corporal gravíssima X


tentativa de homicídio
Atualmente, entende-se que se trata de lesão corporal gravíssima em virtude
da transmissão de enfermidade incurável, haja vista que diante da presença de
medicamentos (coquetéis) que permitem que o portador do vírus viva praticamente de
forma normal, não será possível inferir que o agente tentou matar a vítima ao transmitir o
vírus da AIDS. Na época, todavia, em que a medicina ainda não havia criado os chamados
coquetéis de tratamento da AIDS, a doutrina apontava em direção que permitia concluir
que se tratava de crime de homicídio (tentado ou consumado).

Ainda há, em minoria, doutrinadores que defendem se tratar de homicídio


tentado, pois a não obtenção do resultado morte advém de circunstâncias alheias à vontade
do agente, quais sejam a criação de medicamentos que conseguem controlar a síndrome.

5.3. Se resulta perda ou inutilização de membro, sentido ou função

Trata-se de hipótese mais agravada daquela prevista no art. 129, §1º, III, pois
naquela situação há debilidade de membro, sentido ou função, enquanto na qualificadora
ora estudada há perda efetiva ou inutilização de membro, sentido ou função.

São os casos de mutilação e amputação quanto aos membros e de perda total


da visão ou audição, por exemplo, em relação aos sentidos.

Sobre as funções, é possível que da lesão sobrevenha, por exemplo, perda de


função reprodutora.

5.4. Se resulta deformidade permanente

Sobre tal qualificadora, a doutrina aponta que devem estar conjugados: dano
estético, de certa monta, permanente, visível, capaz de provocar impressão vexatória

5.5. Se resulta aborto

Sobre a qualificadora em questão, necessário que o agente saiba que a vítima


está grávida e que o aborto seja um resultado culposo decorrente da lesão dolosa.
Se o dolo do agente era de causar o aborto e lesões foram utilizadas para tal,
teremos o crime do artigo 125 do CP (aborto provocado sem o consentimento da gestante).

Temos que ficar, atentos, ainda, para o fato de que podem decorrer lesões
graves ou gravíssimas a partir da prática do aborto, como, por exemplo, incapacidade para
ocupações habituais por mais de 30 dias, perigo de vida etc. Em tais situações, teremos o
crime de aborto com a causa de aumento de pena do artigo 127 do CP.6

6 – LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE

Voltemos ao artigo 129, §3º

Lesão corporal seguida de morte

§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o


agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Temos aqui a denominada lesão corporal seguida de morte, isto é, dolo na


lesão corporal e resultado morte culposo.

Ex.: agente que dá soco no rosto da vítima com intenção de lesioná-la, vindo
a vítima a cair e a bater a cabeça em uma pedra, falecendo em razão do impacto com a
pedra. Agente que atira na perna da vítima, com intenção de lesioná-la, mas acaba atingindo
artéria femoral, ocasionando muito sangramento e a morte da vítima.

*Atenção: se a conduta antecedente equivale a vias de fato, o agente responde


por homicídio culposo. Ex.: agente empurra a vítima que cai, bate a cabeça e morre.

Segundo a jurisprudência, a diferença entre lesão corporal seguida de morte


e homicídio culposo é a de que no primeiro caso há uma conduta antecedente criminosa e

6
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
dolosa da qual resulta uma morte culposa; no segundo a conduta antecedente é indiferente
ou, se muito, a conduta antecedente é enquadrada como mera contravenção.

7 – LESÃO CORPORAL CULPOSA

Lesão corporal culposa

§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)

Pena - detenção, de dois meses a um ano.

O crime em questão traz as mesmas perspectivas do homicídio culposo,


diferenciando-se, é claro, pelo resultado e pena previstos.

Importante dizer que, em se tratando de lesão culposa, não há distinção entre


lesão leve, grave ou gravíssima. Qualquer lesão na modalidade culposa resultará em
reprimenda prevista pelo §6º (detenção de dois meses a um ano).

*Perdão judicial: Art. 129. [...]. § 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no


§ 5º do art. 121.

8 – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de


2004)

§ 9º Se a lesão for praticada contra ascendente,


descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva
ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações
domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela
Lei nº 11.340, de 2006)

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos.


(Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as


circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a
pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)

§ 11. Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será


aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa
portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº 11.340, de 2006)
[...]

§ 13. Se a lesão for praticada contra a mulher, por razões


da condição do sexo feminino, nos termos do §2º-A do art. 121 deste
Código: (Incluído pela Lei nº 14.188, de 2021)

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos). (Incluído pela


Lei nº 14.188, de 2021)

O parágrafo 9º trata da lesão leve praticada no âmbito doméstico, elevando


a pena do caput de 3 meses a 1 anos para 3 meses a 3 anos.
Não se pode esquecer que o §9º protege pessoas do sexo masculino que se
enquadrem na descrição legal. A vítima desse crime, portanto, pode ser pai, avô, filho,
marido ou companheiro da vítima. Se a vítima for mulher, temos a previsão do §13, com
pena de reclusão de 1 a 4 anos.

O parágrafo 10 nos apresenta causa de aumento de pena para lesão grave,


gravíssima ou seguida de morte praticada no âmbito doméstico, podendo ser elevada a pena
de tais lesões em 1/3.

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as


circunstâncias são as indicadas no § 9º deste artigo, aumenta-se a
pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)

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