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CAPÍTULO II

DAS LESÕES CORPORAIS

Lesão corporal

Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:

Pena - detenção, de três meses a um ano

Conceito: O crime de lesão corporal consiste em qualquer dano ocasionado


por alguém, sem animus necandi, à integridade física ou saúde (fisiológica ou
mental) de outrem. Lesão corporal compreende toda e qualquer ofensa ocasionada
à normalidade funcional do corpo ou organismo humano, seja do ponto de vista
anatômico, seja do ponto de vista fisiológico ou psíquico. Mesmo a desintegração
da saúde mental é lesão corporal, pois a inteligência, a vontade, a vontade ou a
memória dizem com a vontade funcional do cérebro que é um dos mais
importantes órgãos do corpo.

A dor não constitui crime de lesão como anteriormente definia o velho


código. Aníbal Bruno arguia que “a dor para ser tomada como lesão corporal
oferece realmente a desvantagem do seu caráter subjetivo que, quando ela não vem
acompanhada de sinais objetivamente constatáveis, permite a simulação”.

Objeto material: o ser humano vivo. Crime impossível: se o agente tentar


causar lesão num cadáver.

Meios: podem ser diretos contra o corpo da vítima, bem como em sua
forma omissiva, deixar de alimentar, medicar, tratar pessoa de sua
responsabilidade.

Exclusão de ilicitude: legítima defesa; estrito cumprimento do dever legal e


consentimento do ofendido, sendo esta última a mais delicada do ponto de vista
doutrinário, pois colide com o interesse do Estado em preservar a integridade
física do corpo humano. (ex: esportes UFC; cirurgias inclusive estéticas)

Lesão corporal de natureza grave

§ 1º Se resulta: (grave)

I - Incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;

II - perigo de vida;

III - debilidade permanente de membro, sentido ou função;


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É uma redução persistente da eficácia de membro, sentido ou função.
Então não se pode determinar, previamente, mesmo por aproximação, se e quando
terá fim.

IV - aceleração de parto:

É importante algumas considerações acerca dessa modalidade: se o feto


morre em consequência das lesões teremos uma lesão corporal seguida de morte.
Havendo o dolo de causar lesão pouco importa se o autor sabia que a vítima estava
grávida.

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 2° Se resulta: (gravíssima)

I - Incapacidade permanente para o trabalho;

Para qualquer gênero de trabalho e não apenas aquele que a vítima exercia.
Deixa de existir agravante se a vítima pode exercer outra atividade. Essa
incapacidade, embora não se possa afirmar irremovível, se prolongue numa
duração indefinida, que não seja possível prever se findará, ou que se só se
configure curável.

II - enfermidade incurável;

Interessante ressaltar que a incurabilidade é um juízo de probabilidade,


que se conclui segundo recursos de que ora dispõe a medicina em relação àquela
doença. A vítima não estará obrigada a submeter-se a tratamentos incertos ou
penosos ou a operações arriscadas, na tentativa de curar-se, do mesmo modo que
não terá o direito de embaraçar propositadamente a cura, para agravar a situação
do réu.

III perda ou inutilização do membro, sentido ou função;

Se a lesão se considera grave com a debilidade de membro, sentido ou


função, gravíssima será quando resultar em dia perda ou inutilização. A
debilidade implica numa redução, enquanto que aqui, nos remete a total
inutilização, ex: amputar as pernas, perder totalmente a visão etc. Aqui também
não há previsibilidade de recuperação.

IV - deformidade permanente;

Aqui essencialmente nos referimos ao dano estético. Desse conceito de


deformidade resulta logo que ela deve ser aparente, quer consista em marca ou
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cicatriz de região visível do corpo, quer alteração esteticamente desfavorável da
conformação normal de uma parte importante do organismo. Ex: desvio de
espinha.

V - aborto:

Pena - reclusão, de dois a oito anos.

Lesão corporal seguida de morte

§ 3° Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quís o


resultado, nem assumiu o risco de produzí-lo:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Diminuição de pena

§ 4° Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social


ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta
provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.

Substituição da pena

§ 5° O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de


detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis:

I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;

II - se as lesões são recíprocas.

Lesão corporal culposa

§ 6° Se a lesão é culposa: (Vide Lei nº 4.611, de 1965)

Pena - detenção, de dois meses a um ano.

Aumento de pena

§ 7o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se ocorrer qualquer das hipóteses


dos §§ 4o e 6o do art. 121 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 12.720, de
2012)

§ 8º - Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121.(Redação dada


pela Lei nº 8.069, de 1990)

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Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004)

§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge


ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de 2006)

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei nº 11.340,
de 2006)

§ 10. Nos casos previstos nos §§ 1o a 3o deste artigo, se as circunstâncias são as


indicadas no § 9o deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3 (um terço). (Incluído pela
Lei nº 10.886, de 2004)

§ 11. Na hipótese do § 9o deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o


crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. (Incluído pela Lei nº
11.340, de 2006)

§ 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts.
142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força
Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou
contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em
razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. (Incluído pela Lei
nº 13.142, de 2015)

CAPÍTULO III
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE

É importante salientar que os crimes elencados neste capítulo constituem


essencialmente os crimes de perigo, ou seja, não temos o resultado naturalístico
ofensivo a um bem jurídico. Segundo Nelson Hungria, “toda a ação penalmente
relevante corresponde um efeito objetivo, seja ou não perceptível pelos sentidos.
Todo crime produz uma situação de fato, seja de dano (dano real, concreto,
efetivo), seja de perigo (possibilidade de dano, dano potencial)”.

Em regra temos uma ação ou omissão, um sujeito ativo e passivo e


normalmente um resultado.

Aqui o que temos não é necessariamente um resultado, mas sim uma


situação em que haja um risco que faça prever a probabilidade de ocorrência de
um resultado. Em síntese, a conduta é punível só porque, com a sua ação ou
omissão, expôs a perigo o interesse tutelado.

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É importante salientar o dolo do crime de perigo: aqui temos o mesmo
dolo, ou seja, daquele que causa o perigo ou o resultado. Podemos dizer que
aquele que cause o dano tem o mesmo dolo daquele que somente expôs a perigo
de determinado dano (ex: art. 130 CP).

Perigo de contágio venéreo

Art. 130 - Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato
libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está
contaminado:

Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

§ 1º - Se é intenção do agente transmitir a moléstia:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

§ 2º - Somente se procede mediante representação.

Perigo de contágio de moléstia grave

Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que
está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:

Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Perigo para a vida ou saúde de outrem

Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:

Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais
grave.

Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição


da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a
prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo
com as normas legais. (Incluído pela Lei nº 9.777, de 1998)

Abandono de incapaz

Art. 133 - Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou
autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes
do abandono:

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Pena - detenção, de seis meses a três anos.

§ 1º - Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

Aumento de pena

§ 3º - As penas cominadas neste artigo aumentam-se de um terço:

I - se o abandono ocorre em lugar ermo;

II - se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador


da vítima.

III – se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (Incluído pela Lei nº 10.741, de


2003)

Exposição ou abandono de recém-nascido

Art. 134 - Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos.

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - detenção, de um a três anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena - detenção, de dois a seis anos.

Omissão de socorro

Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco
pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao
desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da
autoridade pública:

Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

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Parágrafo único - A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão
corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.

Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial (Incluído


pela Lei nº 12.653, de 2012).

Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem


como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para
o atendimento médico-hospitalar emergencial: (Incluído pela Lei nº 12.653, de
2012).

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa. (Incluído pela Lei nº
12.653, de 2012).

Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de


atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a
morte. (Incluído pela Lei nº 12.653, de 2012).

Maus-tratos

Art. 136 - Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade,
guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer
privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a
trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou
disciplina:

Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

§ 1º - Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:

Pena - reclusão, de um a quatro anos.

§ 2º - Se resulta a morte:

Pena - reclusão, de quatro a doze anos.

§ 3º - Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado contra pessoa


menor de 14 (catorze) anos. (Incluído pela Lei nº 8.069, de 1990)

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