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1. Introdução
Obviamente que para os fins aqui estabelecidos foi feito um recorte do projeto
de tese, já em andamento. Assim buscou-se à luz da teoria da organização compreender
como Luhmann explica a irritação entre os sistemas do direito e da política, em nosso
caso específico, no tocante à Lei 13.964/19, que entre tantas reformas em esfera penal e
processual penal, trouxe o instituto do juiz das garantias, a implementação da audiência
de custódia, a revisão periódica da prisão preventiva etc.
1
trabalho, a AMB, AJUFE e a Associação dos membros do MP. O próprio Poder
Judiciário, usando um mecanismo jurídico de oposição as irritações advindas do sistema
político. O outro caso é a revisão periódica da prisão preventiva, que teve outro modo de
esvaziamento de sua eficácia, aqui não tivemos uma oposição questionando a sua
constitucionalidade, simplesmente os tribunais superiores, STF e STJ neutralizaram a
eficácia contida no parágrafo único do art. 316 do CPP através de decisões judiciais
(jurisprudência).
De todo modo, não deixaremos de fazer uma análise dentro dos limites deste
trabalho da estrutura processual penal brasileira à luz do dever ser e do ser, pois como se
sabe, o processo penal brasileiro não sofreu a ruptura idealizada pela Constituição de
1988. É evidente que a Carta Magna desenhou a estrutura acusatória mas não tivemos um
trabalho sério de Constitucionalização do processo penal brasileiro, tampouco a reforma
global do CPP que teve início do Senado Federal (PL 156/09) que segue em tramitação
na Câmara até os dias atuais. Assim, mostra-se importante definir, no plano da realidade
em que patamar evolutivo encontra-se o processo penal e seus operadores, para desse
modo compreender quais são os mecanismos de resistência às reformas de cunho
democrático advindas após a Constituição de 1988.
1
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 16ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva. 2009. p. 41;
MIRABETE, Julio Fabrini. Processo penal. 8ª Ed. São Paulo: Editora Atlas. 1998. p. 41.
2
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 15ª Ed. Editora Saraiva: São Paulo. 2018. p. 47.
3
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. “O papel do novo juiz no processo penal”. In Observações
sobre os sistemas processuais penais. Vol. 1. Org. Leonardo Costa de Paula; Marco Aurélio Nunes da
Silveira. Observatório da mentalidade inquisitória: Curitiba. 2018. p. 37
2
inspiração para os modelos jurídicos contemporâneos, permanecendo vigente em tempos
atuais4. As características essenciais desse sistema segundo o autor são: “a exclusão do
contraditório, pela ausência de ampla defesa e pela inversão da presunção da inocência”5.
Concentram sua estrutura em denúncias anônimas, a busca da verdade material, a prisão
processual como regra, tudo com o objetivo de obter a confissão, denominada rainha das
provas6.
4
CARVALHO, Salo de. Penal e garantias: uma releitura do Garantismo de Luigi Ferrajoli no Brasil.
Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. 2001. p. 18.
5
CARVALHO, Salo de. Antimanual de criminologia. 6ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva. 2015. p. 136.
6
CARVALHO, Salo de. Antimanual de criminologia. 6ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva. 2015. p. 141.
7
BOLDT, Rafael. Processo penal e catástrofe: entre as ilusões da razão punitiva e as imagens utópicas
abolicionistas. Tese (doutorado em Direito) Faculdade de Direito de Vitória. Vitória. 2017. p. 63.
8
CORDERO, Franco. "Linhas de um processo acusatório”. In Mentalidade inquisitória e processo penal
no Brasil: o sistema acusatório e a reforma do CPP no Brasil e na América Latina. Vol. 4. Org. Jacinto
Nelson de Mirando Coutinho; Leonardo Costa de Paula; Marco Aurélio Nunes da Silveira. Observatório
da mentalidade inquisitória: Curitiba. 2019. p. 21.
9
Foucault alude que “o inquérito deriva de um certo tipo de relações de poder, de uma maneira de exercer
o poder”. (FOUCAULT, Michel. A verdade e as formas jurídicas. 4ª Ed. Editora Nau: Rio de Janeiro.
2013. p. 75). Para o autor, “la forma secreta y escrita del procedimiento responde al principio de que, en
materia penal, el establecimiento de la verdad era para el soberano y sus jueces un derecho absoluto y un
poder exclusivo”. (FOUCAULT, Michel. Vigilar y castigar. Nacimiento de la prisión. 2ª Ed. Editores
Siglo XXI: Buenos Aires. 2009. p. 45.
10
ZAFFARONI, Eugenio Raúl; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SKOLAR, Alejandro. Direito
penal brasileiro- I. 4ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Revan. 2015. p. 87.
11
BINDER, Alberto. Fundamentos para a reforma da justiça penal. Editora Empório do Direito.
Florianópolis. 2017. p. 17.
12
PASTANA, Debora Regina. Justiça penal no Brasil contemporâneo: discurso democrático, prática
autoritária. Editora UNESP: São Paulo. 2009. p. 16.
3
Boldt nos ensina que a doutrina alemã revigorou o conceito de verdade material,
depositando efetivo crédito na atuação judicial e nas práticas punitivas para a busca desta
verdade. Para o autor, essa vontade de verdade que está enraizada na dogmática
processual penal, corresponde a um dos principais obstáculos na concretização de um
efetivo sistema acusatório, orientado à resolução de conflitos13.
13
BOLDT, Rafael. Processo penal e catástrofe: entre as ilusões da razão punitiva e as imagens utópicas
abolicionistas. Tese (doutorado em Direito) Faculdade de Direito de Vitória. Vitória. 2017. p. 64.
14
FOUCAULT, Michel. La verdad y las formas jurídicas. Barcelona: Editorial Gedisa. 1996. p. 74
15
BOLDT, Rafael. Processo penal e catástrofe: entre as ilusões da razão punitiva e as imagens utópicas
abolicionistas. Tese (doutorado em Direito) Faculdade de Direito de Vitória. Vitória. 2017. p. 72.
16
Importante destacar que a nova redação do art. 311 do CPP, introduzida pela Lei 13.964/19 suprimiu a
possibilidade do juiz converter a prisão em flagrante em preventiva. Entendimento consolidado a partir do
voto do Ministro Relator Celso de Mello no HC 188888/ MG. Segundo Celso de Mello: “a interpretação
do art. 310, II, do CPP deve ser realizada à luz dos arts. 282, §§ 2º e 4º, e 311, do mesmo estatuto processual
penal, a significar que se tornou inviável, mesmo no contexto da audiência de custódia, a conversão, de
ofício, da prisão em flagrante de qualquer pessoa em prisão preventiva, sendo necessária, por isso mesmo,
para tal efeito, anterior e formal provocação do Ministério Público, da autoridade policial ou, quando for o
caso, do querelante ou do assistente do MP. Magistério doutrinário”. (https://www.conjur.com.br/dl/celso-
mello-flagrante-preventiva-oficio.pdf. Acesso 23/12/202).
4
13.964/19 retira do juiz o poder de converter de ofício a prisão em flagrante em
preventiva, por outro lado não retirou o mesmo poder na produção das provas17.
17
GIACOMOLLI, Nereu José. “Algumas marcas inquisitoriais do Código de Processo Penal brasileiro e a
resistência às reformas”. In Revista Brasileira de Direito Processual Penal. Porto Alegre, vol. 1, n. 1, p.
143- 165. 2015.
5
modelo próprio. Nesse sentido, assevera o autor que o Código Processual Modelo para
Iberoamérica, produto do Instituto Ibero-americano de Direito Processual que apesar de
ter influência das bases alemã e italiana propunha um sistema acusatório que era o
resultado de um trabalho de processualistas Latino-americanos, ou seja, um produto
regional, democrático e que tenha a potencialidade de colocar no passado a tradição
inquisitorial18.
Não faremos aqui por razões de espaço uma análise histórica da estrutura
processual acusatória21, no entanto cabe aclarar que esse modelo antecede o sistema
18
BINDER, Alberto. Fundamentos para a reforma da justiça penal. Florianópolis: Empório do Direito.
2017. p. 59.
19
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón. Teoría del garantismo penal. 9ª Ed. Madrid: Editorial Trotta.
2009.
20
CARVALHO, Salo de. “Crítica e contracrítica dos movimentos de crítica à dogmática jurídica: ensaio
sobre as transições da escola do direito livre e do movimento do direito alternativo em homenagem a
Amilton Bueno de Carvalho”. In Revista de direitos e garantias fundamentais. FDV, v. 17, n.1, pp. 9-
48, jan/jun. 2016.
21
Para aprofundar o estudo histórico dos sistemas processuais remetemos o leitor para: MAIER, Julio.
Derecho procesal penal. Tomo I. Fundamentos. 2ª Ed. Buenos Aires: Editores Del Puerto. 1996;
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Observações sobre os sistemas processuais penais. Vol. 1 e 2.
Org. Leonardo Costa de Paula; Marco Aurélio Nunes da Silveira. Curitiba: Observatório da mentalidade
inquisitória. 2018; PRADO, Geraldo. Sistema acusatório. A conformidade constitucional das leis
processuais penais. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. 2005.
6
inquisitório e foi dominante em boa parte do mundo antigo 22. A característica
fundamental do sistema acusatório de acordo com Maier reside na divisão dos poderes
exercidos no processo, recaindo às partes os poderes de produção da prova e ao juiz o
poder de decidir. Para Ferrajoli: “la separación de juez y acusación es el más importante
de todos los elementos constitutivos del modelo teórico acusatorio, como presupuesto
estructural y lógico de todos los demás”23.
22
SIQUEIRA, Galdino. Curso de processo criminal. 2ª Ed. São Paulo: Livraria Magalhães. 1930. p. 8.
23
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón. Teoría del garantismo penal. 9ª Ed. Madrid: Editorial Trotta.
2009. p. 567.
24
MAIER, Julio. Derecho procesal penal. Tomo I. Fundamentos. 2ª Ed. Buenos Aires: Editores Del
Puerto. 1996. p. 444.
25
ROXIN, Claus. Derecho procesal penal. 2ª reimp. Trad. Gabriela E. Córdoba y Daniel R. Pastor. Buenos
Aires: Editores Del Puerto. 2003. p. 86.
26
PRADO, Geraldo. Sistema acusatório. A conformidade constitucional das leis processuais penais. 3ª
Ed. Editora Lumen Juris. Rio de Janeiro. 2005. p. 43.
27
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón. Teoría del garantismo penal. 9ª Ed. Madrid: Editorial Trotta.
2009. p. 564.
7
Nos ensina Galdino Siqueira que o processo acusatório corresponde à noção
mesma do processo, que supõe uma luta (no campo das ideias) entre dois adversários,
tendo como termo a decisão do juiz28. Neste sentido, aludindo a ideia de um processo em
que a paridade de armas se respeita e o juiz se mantém distante da gestão da prova, o
contraditório é uma consequência lógica do sistema. O maior compromisso do juiz com
a verdade não reside na sua busca, pois o princípio básico do sistema adversarial é de
exigir a verdade dos acusadores e não das partes. A igualdade das partes não é uma mera
bilateralidade, mas a exigência de provar as alegações feitas pelo titular da ação penal.
Dessa forma, o acusador precisa superar os estândares probatórios mínimos e o princípio
do indubio pro reo para que o juiz admita a pretensão punitiva, do contrário é dever do
magistrado aplicar a Constituição29. Adverte Prado que no estado de direito a lei
processual deve ser a lei de execução da Constituição30.
28
SIQUEIRA, Galdino. Curso de processo criminal. 2ª Ed. São Paulo: Livraria Magalhães. 1930. p. 8.
29
BINDER, Alberto. Elogio de la audiencia oral y otros ensayos. Monterrey: Consejo de la Judicatura
del Estado de Nueva León. 2014. p. 21.
30
PRADO, Geraldo. Prova penal e sistema de controles epistêmicos. A quebra da cadeia de custódia
das provas obtidas por métodos ocultos. Editora Marcial Pons: São Paulo. 2014. p. 16.
31
PRADO, Geraldo. Prova penal e sistema de controles epistêmicos. A quebra da cadeia de custódia
das provas obtidas por métodos ocultos. Editora Marcial Pons: São Paulo. 2014. p. 17.
8
Constituição32. Não tendo a gestão da prova o magistrado possibilita a imparcialidade,
pois somente em uma estrutura processual adversarial é possível esse afastamento33.
Ferrajoli defende que: “la imparcialidad, más allá de las garantías institucionales, es un
hábito intelectual y moral, que no difiere del que debe presidir cualquier forma de
investigación y conocimiento”34. Ademais, a adesão ao sistema acusatório definido na
Constituição de 1988 impõe segundo Pacelli e Costa, o afastamento em definitivo da
atuação judicial na fase de investigação, salvo quando no regular exercício da tutela dos
direitos fundamentais, daí a difundida expressão “juiz de garantias” 35. Nessa toada
Gabriel Divan sustenta que:
32
“A legitimidade democrática do juiz deriva do caráter democrático da Constituição, e não da vontade da
maioria. O juiz tem uma nova posição dentro do Estado de Direito e a legitimidade de sua atuação não pe
política, mas constitucional, e seu fundamento é unicamente a intangibilidade dos direitos fundamentais. É
uma legitimidade democrática, fundada na garantia dos direitos fundamentais e baseada na democracia
substancial”. (LOPES JR. Aury. introdução crítica ao processo penal (fundamentos da
instrumentalidade garantista). Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. 2004. p. 73)
33
LOPES JR. Aury. Fundamentos do processo penal. Introdução crítica. 4ª Ed. São Paulo: Editora
Saraiva. 2018. p. 178 e 179.
34
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón. Teoría del garantismo penal. 9ª Ed. Madrid: Editorial Trotta.
2009. p. 580.
35
PACELLI, Eugênio; COSTA Domingos Barroso da. Prisão preventiva e liberdade provisória. A
reforma da Lei nº. 12.403/11. São Paulo: Editora Atlas. 2013. p. 23.
36
DIVAN, Gabriel. Processo penal e política criminal. Uma reconfiguração da justa causa para a ação
penal. Porto Alegre: Elegantia Juris. 2015. p. 119.
9
política do direito e do processo penal é responsável pelo tipo de técnica empregada nos
tribunais. Sem entender isso, tal seja, sem compreender as técnicas em direito são
informadas por critérios ideológicos, corre-se o risco de se persistir acreditando em uma
neutralidade axiológica dos instrumentos do poder punitivo37.
De todo modo, com advento da Lei 13.964/19 temos o art. 3º-A que de forma
clara expressa que o processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz
na fase de investigação e a substituição da atuação probatória do órgão de acusação. É
inquestionável que o art. 3º-A representa um significativo avanço para a efetividade do
processo acusatório, de todo modo, como já mencionamos, a epistemologia processual
penal opera pela lógica de inquérito como epistemologia da verdade, dessa forma é
possível que o referido artigo tenha um discurso democrático, mas a prática siga sendo
autoritária39.
37
PRADO, Geraldo. Sistema acusatório. A conformidade constitucional das leis processuais penais. 3ª
Ed. Editora Lumen Juris. Rio de Janeiro. 2005. p. 56.
38
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 17ª Ed. Editora Saraiva: São Paulo. 2020. p. 65.
39
PASTANA, Debora Regina. Justiça penal no Brasil contemporâneo: discurso democrático, prática
autoritária. Editora UNESP: São Paulo. 2009.
40
BOLDT, Rafael. Processo penal e catástrofe: entre as ilusões da razão punitiva e as imagens
utópicas abolicionistas. Tese (doutorado em Direito) Faculdade de Direito de Vitória. Vitória. 2017. p. 66.
10
importante salientar que o inquérito impede o exercício de garantias constitucionais,
inerentes ao sistema acusatório, como ampla defesa, contraditório.
5. Juiz de Garantias?
De acordo com o art. 3-B da Lei 13.964/19 “O juiz das garantias é responsável
pelo controle da legalidade da investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos
individuais cuja franquia tenha sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário.
41
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 17ª Ed. Editora Saraiva: São Paulo. 2020. p. 188.
42
LANFREDI, Luís Geraldo Sant’Ana. El “juez de garantías” y el sistema penal. (Re) plantamientos
socio-criminológicos críticos hacia la (re)significación de los desafíos del poder judicial frente a la
política criminal brasileña. Editora Empório do Direito: Florianópolis. 2017. p. 205.
43
MAYA, André Machado. “O juizado de garantias como fator determinante à estruturação democrática
criminal: o contributo das reformas processuais penais latino-americanas à sua reforma processual penal
brasileira”. In Revista Novos Estudos Jurídicos- Eletrônica, vol. 23- n. 1- jan.-abr. 2018. p. 82.
11
É importante salientar que inúmeros países latino-americanos adotaram a figura
do Juiz de Garantias, a partir do movimento reformista de cunho acusatório impulsionado
principalmente por Binder e Maier e pela necessidade de adequação das legislações
processuais a partir do paradigma humanitário desenhado pela Convenção Interamericana
de Direitos Humanos. A província de Córdoba na Argentina, em 1939 representou um
marco na superação da tradição inquisitorial. Além do mais, constituiu a base para a
elaboração do Código processual penal modelo ibero-americano. Os países que
protagonizaram reformas democráticas na esfera processual penal, foram Costa Rica em
1973, Guatemala em 1992, Costa Rica em 1996, El Salvador em 1996, Venezuela em
1998, Paraguai em 1998, Bolívia em 1999 Chile em 2000, Uruguai em 201744.
44
MAYA, André Machado. “O juizado de garantias como fator determinante à estruturação democrática
criminal: o contributo das reformas processuais penais latino-americanas à sua reforma processual penal
brasileira”. In Revista Novos Estudos Jurídicos- Eletrônica, vol. 23- n. 1- jan.-abr. 2018. p. 78.
45
CORDERO, Franco. Ideologie del processo penale. Giuffrè Editore. 1966. p. 201.
46
RIBEIRO, Diógenes Vicente Hassan; MARTINS, Michelle Fernanda. “Tribunais, autorreferência e
evolução do sistema do direito: o art. 212 do Código de Processo Penal e os Tribunais”. In Temas
polêmicos da jurisdição do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, volume IV. Porto Alegre. 2018.
p. 105
47
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Observações sobre os sistemas processuais penais. Vol. 1.
Org. Leonardo Costa de Paula; Marco Aurélio Nunes da Silveira. Observatório da mentalidade inquisitória:
Curitiba. 2018. p. 49.
48
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Observações sobre propedêutica processual penal. Vol. 2.
Org. Leonardo Costa de Paula; Marco Aurélio Nunes da Silveira. Observatório da mentalidade inquisitória:
Curitiba. 2018. p. 127.
12
partes49. Dessa forma para Lanfredi50, em um sistema adversarial, a atividade do juiz que
antecede o processo (Juiz de Garantias) não pode somar-se as consequências drásticas
que o poder punitivo estatal já pode produzir nessa fase, deve posicionar-se como um
dique de contenção entre a pessoa e as agências do sistema penal, fazendo valer as
garantias constitucionais do imputado.
49
CORDERO, Franco. "Linhas de um processo acusatório”. In Mentalidade inquisitória e processo penal
no Brasil: o sistema acusatório e a reforma do CPP no Brasil e na América Latina. Vol. 4. Org. Jacinto
Nelson de Mirando Coutinho; Leonardo Costa de Paula; Marco Aurélio Nunes da Silveira. Observatório
da mentalidade inquisitória: Curitiba. 2019. p. 18
50
LANFREDI, Luís Geraldo Sant’Ana. El “juez de garantías” y el sistema penal. (Re) plantamientos
socio-criminológicos críticos hacia la (re)significación de los desafíos del poder judicial frente a la
política criminal brasileña. Editora Empório do Direito: Florianópolis. 2017. p. 203.
51
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Observações sobre os sistemas processuais penais. Vol. 1.
Org. Leonardo Costa de Paula; Marco Aurélio Nunes da Silveira. Observatório da mentalidade inquisitória:
Curitiba. 2018. p. 129.
52
SENADO FEDERAL, PLS 156/09. p. 27.
53
COUTINHO, Jacinto Nelson de Miranda. Observações sobre os sistemas processuais penais. Vol. 1.
Org. Leonardo Costa de Paula; Marco Aurélio Nunes da Silveira. Observatório da mentalidade inquisitória:
Curitiba. 2018. p. 246.
13
Social Liberal- PSL propõe a ADI 6300 e a Associação Nacional dos Membros do
Ministério Público- CONAMP propõe a ADI 6305. A suspensão valerá até que o plenário
do STF decida se as novas regras estão em conformidade com a Constituição (pautado
para novembro de 2021). Para Streck, “em que exatamente contraria a Constituição uma
figura — o Juiz das Garantias — que materializa a própria principiologia processual-
constitucional em âmbito criminal?”54
54
STRECK, Lenio. “O juiz de garantias: do neoconstitucionalismo ao neo-inconstitucionalismo. In
Consultur Jurídico. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jan-02/senso-incomum-juiz-
garantias-chegamos-neo-inconstitucionalismo. Acesso dia 02/01/2020.
55
SILVEIRA, Felipe Lazzari da; CAMARGO, Rodrigo Oliveira de. “Uma ilha acusatória em meio a um
oceano de inquisitorialidades: perspectivas sobre a introdução do juiz das garantias no processo penal
brasileiro”. In Pacote Anticrime. Reformas processuais: reflexões críticas à luz da Lei 13.964/2019.
Org. Rodrigo Oliveira de Camargo e Yuri Felix. Editora Emais: Florianópolis. 2020. p. 21.
56
Para Maya: “A figura do juiz de garantias, ao estabelecer a competência para julgamento a magistrado
distinto do que atuou na investigação, contribui à maximização da garantia da imparcialidade,
proporcionando que a fase processual destinada à produção probatória se desenvolva perante um juiz isento
de pré-juízos, em condições de assegurar às partes tratamento igualitário e, ao réu, compatível com a
presunção de inocência. (MAYA, André Machado. Juiz de garantias. Fundamentos, origem e análise
da Lei 13.964/2019. Editora Titant lo Blanch: São Paulo. 2020. p. 131).
Segundo o GT do CNJ que tem como objetivo desenvolver estudos relativos ao efeitos do juiz de garantias
no Poder Judiciário: “Devido a sua relevância no contexto das reformas do processo penal e porque ganha
notoriedade na concepção de um modelo adversarial autêntico, o “juiz das garantias” é um instituto-chave
para a percepção de que o processo penal moderno há de corresponder a exigências de uma prestação
jurisdicional que seja, efetivamente, neutra e comprometida com o equilíbrio das partes ao longo de toda a
relação processual”. Disponível em: https://cdn.oantagonista.net/uploads/2020/06/Estudo-GT-Juiz-das-
Garantias.pdf . Acesso 17/11/2020.
14
realidades sociales, de cualquier rango, se encuentran preformadas por formas específicas
de comunicación que las delimita frente a otras”57. Para o mesmo autor:
57
TORRES NAFARRETE, Javier. “Nota a la versión española”. In LUHMANN, Niklas. Sociología del
riesgo. 3ª Ed. Universidad Iberoamericana Biblioteca Francisco Xavier Clavigero. México. 2006. p. 9
58
TORRES NAFARRETE, Javier. “Nota a la versión española”. In LUHMANN, Niklas. Sociología del
riesgo. 3ª Ed. Universidad Iberoamericana Biblioteca Francisco Xavier Clavigero. México. 2006. p. 10.
59
LUHMANN, Niklas. El derecho de la sociedad. Versão 5.0 de 13/01/2003. FORMATAÇÃO
ELETRÔNICA – JOÃO PROTÁSIO FARIAS DOMINGUES DE VARGAS E MARJORIE CORRÊA
MARONA. Texto eletrônico fornecido pela Prof. Dra. Juliana Neuenschwander de Magalhães, com o
auxílio de sua Bolsista Letícia Godinho e outros colegas, na disciplina Sociologia do Direito II, do Programa
de Pós-Graduação em Direito - Mestrado e Doutorado em Filosofia do Direito, durante os 1º e 2º semestres
de 2002, em arquivos de capítulos. A tradução foi feita por um Professor mexicano, amigo da Professora
Juliana, que gentilmente adiantou os seus originais em espanhol, da versão que preparou do original alemão
de Niklas Luhmann. p. 402.
15
membros. Essa distinção é a marca registrada no que se refere a organização. Para o autor,
as organizações só reconhecem como próprias as comunicações de seus membros, e isso
ocorre exclusivamente quando se comunicam entre si60. Rocha e Azevedo nos ensinam
que a teoria da organização vale-se da teoria geral dos sistemas sociais e, com isso, passa
a observar as organizações como instituições do sistema da sociedade, que garante as
condições de possibilidade da comunicação. Ao inserirmos a teoria da organização na
perspectiva luhmanniana, delimitamos como nicho de reflexão uma semântica da
organização como entidade comunicacional, constituída por comunicações, e não por
ações. A organização passa a ser vista como um sistema, e os elementos que o compõem
são decisões. Deve-se diferenciar decisão de ação. A decisão é um evento referente a um
sistema; essa decisão encontra sua identidade na eleição de alternativas, isto é, ela se
define na própria situação de contingencialidade da constituição da organização. As
organizações, na obra de Luhmann, reproduzem- se por meio da comunicação de
decisões, isto é, as organizações são sistemas sociais que se distinguem através de um
fechamento operacional61 efetuado sobre a base de decisões62.
Assevera Luhmann:
60
LUHMANN, Niklas. Sociología del riesgo. 3ª Ed. Universidad Iberoamericana Biblioteca Francisco
Xavier Clavigero. México. 2006. p. 246.
61
Segundo Luhmann, “la clausura operativa trae como consecuencia que el sistema esté determinado a la
autoorganización. Sus propias estructuras pueden construirse y transformarse únicamente mediante
operaciones propias. Por ejemplo, el lenguaje sólo puede modificarse con la comunicación y no de forma
inmediata con el fuego, los terremotos, las radiaciones espaciales, o con las prestaciones perceptivas de una
conciencia particular”. (LUHMANN, Niklas, La sociedad de la sociedad. Universidad Iberoamericana
Biblioteca Francisco Xavier Clavigero. México. 1998. p. 67.
62
ROCHA, Leonel Severo; AZEVEDO, Guilherme de. “Notas para uma teoria da organização da decisão
jurídica autopoiética. In Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito
(RECHTD), 4(2):193-213, julho-dezembro 2012.
16
Usualmente, no se analiza mayormente lo que significa elección, o se
interpreta como un tipo de acción. Aquí se llega, sin embargo, a una
clasificación más exacta. En primer lugar, tiene que ser válido como
alternativa de todo lo que hubiera podido ser decisión. Por el concepto
de alternativa resulta esencial que ella no puede ser valorada
inmanentemente, es decir como si ella misma ya fuera la decisión, o
conducente a la decisión63.
63
LUHMANN, Niklas. Organización y decisión. Autopoiesis, acción y entendimiento comunicativo.
Editorial Anthropos. Barcelona. 1997. p. 9.
64
“El concepto de riesgo se refiere a la posibilidad de daños futuros debido a decisiones particulares. Las
decisiones que se toman en el presente condicionan lo que acontecerá en el futuro”. Por outro lado, estamos
diante de um perigo quando o dano é provocado externamente, ou seja, não precede de uma decisão. Por
exemplo, o perigo e irritar-se com um dia chuvoso. (CORSI, Giancarlo; ESPOSITO Elena; BARALDI,
Claudio. Glosario sobre la teoría social de Niklas Luhmann. Universidad Iberoamericana. Lomas de
Santa Fe. 1996. P. 142).
65
LUHMANN, Niklas. Sociología del riesgo. 3ª Ed. Universidad Iberoamericana Biblioteca Francisco
Xavier Clavigero. México. 2006. p. 248.
66
LUHMANN, Niklas. Sociología del riesgo. 3ª Ed. Universidad Iberoamericana Biblioteca Francisco
Xavier Clavigero. México. 2006. p. 251.
17
Para poder provocar decisões, Luhmann nos explica que é necessário especificar
expectativas. Dessa forma podemos afirmar que o sistema encontra sempre soluções para
os problemas a que sua própria autopoiese enfrenta, ou seja, os problemas que o próprio
sistema contribuiu a gerar67.
¿En qué terreno adentra una sociedad que permite que sean las
organizaciones las que cada vez en mayor medida, tomen decisiones
riesgosas: organizaciones que se reproducen a sí mismas en virtud de
las decisiones que toman y que están obligadas a incorporar los
resultados de sus decisiones en otras decisiones? Bajo tales
condiciones, es claro que no puede existir un equilibrio calculable entre
oportunidades y riesgos68.
67
LUHMANN, Niklas. Sociología del riesgo. 3ª Ed. Universidad Iberoamericana Biblioteca Francisco
Xavier Clavigero. México. 2006. p. 252.
68
LUHMANN, Niklas. Sociología del riesgo. 3ª Ed. Universidad Iberoamericana Biblioteca Francisco
Xavier Clavigero. México. 2006. p. 257.
69
RIBEIRO, Diógenes H. “A constituição federal e a ascensão do supremo tribunal federal: os tribunais no
sistema jurídico” In Revista da AJURIS – Porto Alegre, v. 46, n. 147, Dezembro, 2019. p. 101.
18
estão conforme o direito (ilícitas)70. De todo modo, ainda que recaia ao STF essa decisão,
nossa crítica reside nos limites de tal decisão, em outras palavras, é inconcebível dizer
que uma lei aprovada pelo sistema político que traga em seu bojo uma garantia processual
seja considerada um não direito com base em argumentos, como por exemplo, falta de
estrutura do Poder Judiciário em implementar tal instituto, em nosso caso, o juiz das
garantias. A Corte Constitucional tem como paradigma a guarda da Constituição, no
entanto, àquelas reformas que são progressistas no sentido de assegurar direitos não
podem ser repelidas pela Corte sob pena de estarmos reduzindo os poderes
Constitucionais, sobretudo das garantias e direitos fundamentais previstos em nossa
Constituição.
Nesse sentido, segundo Ribeiro, “na Teoria dos Sistemas Sociais Autopoiéticos
de Niklas Luhmann, os tribunais ocupam uma posição destacada – e central – no sistema
jurídico, tal como ocorre, por exemplo, com as universidades no sistema da educação,
com os hospitais no sistema da saúde, com as instituições financeiras no sistema
econômico com o Estado, no sistema político, entre outras organizações”71.
70
SCWARTZ, Germano; RIBEIRO, Douglas. “Teoria dos sistemas autopoiéticos e Constituição:
Luhmann e o Supremo Tribunal Federal. In Revista da Faculdade de Direito UFG, v. 41, n. 3,
p.206-229, set/dez. 2017.
71
RIBEIRO, Diógenes H. “A constituição federal e a ascensão do supremo tribunal federal: os tribunais no
sistema jurídico” In Revista da AJURIS – Porto Alegre, v. 46, n. 147, Dezembro, 2019. p. 98.
72
LUHMANN, Niklas. El derecho de la sociedad. Versão 5.0 de 13/01/2003. FORMATAÇÃO
ELETRÔNICA – JOÃO PROTÁSIO FARIAS DOMINGUES DE VARGAS E MARJORIE CORRÊA
MARONA. Texto eletrônico fornecido pela Prof. Dra. Juliana Neuenschwander de Magalhães, com o
auxílio de sua Bolsista Letícia Godinho e outros colegas, na disciplina Sociologia do Direito II, do Programa
de Pós-Graduação em Direito - Mestrado e Doutorado em Filosofia do Direito, durante os 1º e 2º semestres
de 2002, em arquivos de capítulos. A tradução foi feita por um Professor mexicano, amigo da Professora
Juliana, que gentilmente adiantou os seus originais em espanhol, da versão que preparou do original alemão
de Niklas Luhmann. p. 404.
19
uma obrigação legal para a ação, similar à obrigação para uma declaração testemunhal e
sujeita ao controle e à sanção por parte do Tribunal73.
A teoria de Luhmann a nosso sentir se mostra muito clara, pois há irritações entre
os sistemas, mas as decisões ficam circunscritas dentro do seu próprio sistema. Nos parece
73
LUHMANN, Niklas. “A posição dos tribunais no sistema jurídico”. In Revista da AJURIS - n. 49 -
Julho/1990. p. 7.
74
SIMIONI, Rafael Lazzarotto. “Organização do Poder Político: o estado constitucional em Niklas
Luhmann. In Prismas: Dir., Pol. Publ. e Mundial., Brasília, v. 6, n. 2, p. 329-349, jul./dez. 2009.
75
FERNANDES, Ignácio. “A revisão periódica da prisão preventiva em face do autoritarismo dos Tribunais
Superiores: uma análise crítica. In Jurisdição Constitucional e Direitos Sociais: realidades, desafios e
perspectivas. Org. Marcelo Nunes Apolinário. São Paulo: Editora Max Limonad. 2022.
76
Luhmann explica que “a separação estrita de legislação e jurisprudência desde o séc. XIX cria a
possibilidade de sujeitar um lado à vontade política e o outro à vontade privada; com isso ela cria, portanto,
a possibilidade de operar com distintos acoplamentos estruturais do sistema jurídico ao sistema político,
através das constituições, e ao sistema econômico, através da propriedade e do contrato. A separação de
legislação e jurisprudência é então formulada paradoxalmente como não-separação, como 'vinculação do
Juiz à lei', e isso possibilita na prática a intervenção politicamente motivada na propriedade”. (LUHMANN,
Niklas. “A posição dos tribunais no sistema jurídico”. In Revista da AJURIS - n. 49 - Julho/1990. p. 4).
77
Para Ribeiro e Martins: “a não aplicabilidade das reformas de processo penal, e principalmente do art.
212 do CPP, identifica-se como um problema a ser enfrentado, pois não há respeito pela tradição, pela
herança histórica e pela aquisição evolutiva da sociedade”. Neste caso, os tribunais superiores reverteram
as decisões proferidas em primeiro grau e garantiram a aplicabilidade do referido artigo, ou seja,
responderam à sociedade o que era direito. (RIBEIRO, Diógenes Vicente Hassan; MARTINS, Michelle
Fernanda. “Tribunais, autorreferência e evolução do sistema do direito: o art. 212 do Código de Processo
Penal e os Tribunais”. In Temas polêmicos da jurisdição do Tribunal de Justiça do Rio Grande do
Sul, volume IV. Porto Alegre. 2018. p. 105).
20
que em determinados casos o Sistema jurídico ignora as irritações advindas de outros
sistemas, como por exemplo, do sistema político. É importante destacar que:
No entanto, o que nos gera um incomodo é pensar como o poder judiciário pode
dizer, por exemplo, que o instituto do juiz das garantias é um não direito, considerando
que o referido instituto materializa a espinha dorsal do sistema acusatório desenhado na
Constituição e recentemente positivado na norma infraconstitucional. Quais os limites
decisionais que um sistema pode adotar? As decisões do sistema jurídico não devem
seguir como paradigma a Constituição? Se a Constituição é vista como uma aquisição
evolutiva da sociedade, se as garantias previstas no texto constitucional, em especial no
que diz respeito a matéria penal e processual penal correspondem a uma conquista, elas
não podem ser suprimidas, elas devem ser respeitadas e por isto não pode ser eliminada79.
Nos parece, até certo ponto confortável que o sistema jurídico, como sistema
fechado tome suas decisões e em última instância diga o que é e o que não é direito,
considerando que ainda temos um Poder Judiciário composto por atores conservadores e
78
ROCHA, Leonel Severo; AZEVEDO, Guilherme de. “Notas para uma teoria da organização da decisão
jurídica autopoiética. In Revista de Estudos Constitucionais, Hermenêutica e Teoria do Direito
(RECHTD), 4(2):193-213, julho-dezembro 2012.
79
RIBEIRO, Diógenes Vicente Hassan; MARTINS, Michelle Fernanda. “Tribunais, autorreferência e
evolução do sistema do direito: o art. 212 do Código de Processo Penal e os Tribunais”. In Temas
polêmicos da jurisdição do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, volume IV. Porto Alegre. 2018.
p. 104).
21
que lutam pela permanência autoritária/inquisitória do sistema penal. Nesta linha ao
discorrer sobre a ideia de justiça jurídica Teubner80 sintetiza como:
80
TEUBNER, Gunther. “Justiça autosubversiva: fórmula de contingência ou de transcendência do direito?.
In Revista Eletrônica do Curso de Direito - PUC Minas Serro. n. 4 (2011). p. 35.
81
TEUBNER, Gunther. “Justiça autosubversiva: fórmula de contingência ou de transcendência do direito?.
In Revista Eletrônica do Curso de Direito - PUC Minas Serro. n. 4 (2011). p. 29.
82
MARTINS, Michelle Fernanda. “A evolução do sistema jurídico segundo a teoria dos sistemas sociais
de Niklas Luhmann: a temática da resiliência”. In Revista Brasileira de Sociologia do Direito, v. 7, n. 3,
set./dez. 2020. p. 82
22
operativa para a autopoiese do sistema, requer também a abertura cognitiva, para que o
sistema possa aprender e evoluir com a irritação sofrida do ambiente externo. É nesse
sentido que o sistema do direito precisa pensar de forma resiliente, sendo capaz de
enfrentar o novo83.
8. Considerações finais
83
MARTINS, Michelle Fernanda. “A evolução do sistema jurídico segundo a teoria dos sistemas sociais
de Niklas Luhmann: a temática da resiliência”. In Revista Brasileira de Sociologia do Direito, v. 7, n. 3,
set./dez. 2020. p. 84.
23
enfraquecer a estrutura inquisitória ainda vigente. Os principais responsáveis por essa
permanência inquisitória são aqueles que devem garantir a eficácia das leis penais e
processuais penais, ou seja, o fiscal da lei (MP) e aquele que decide o caso concreto com
base na lei (magistratura). É inegável essa constatação a partir das proposituras de ADI’s
contra o instituto do juiz das garantias.
Assim, a partir da proposta deste ensaio, ou seja, de tentar trabalhar com a teoria
da organização Luhmann dentro do projeto de tese, buscou-se compreender os avanços e
limitações da referida teoria para o avanço do sistema acusatório e o enfraquecimento do
modelo inquisitório ainda vigente.
24
esfera processual. A resistência dos atores contra tal medida denota a resistência em
perder poder, ademais, quais os limites de decidir e consolidar uma jurisprudência contra
a literalidade da lei?
9. Bibliografia
CAPEZ, Fernando. Curso de processo penal. 16ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva. 2009.
CARVALHO, Salo de. Antimanual de criminologia. 6ª Ed. São Paulo: Editora Saraiva.
2015.
25
Paula; Marco Aurélio Nunes da Silveira. Observatório da mentalidade inquisitória:
Curitiba. 2019.
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón. Teoría del garantismo penal. 9ª Ed. Madrid:
Editorial Trotta. 2009.
https://cdn.oantagonista.net/uploads/2020/06/Estudo-GT-Juiz-das-Garantias.pdf .
Acesso 17/11/2020.
https://www.conjur.com.br/dl/celso-mello-flagrante-preventiva-oficio.pdf. Acesso
23/12/2022.
26
LOPES JR. Aury. introdução crítica ao processo penal (fundamentos da
instrumentalidade garantista). Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. 2004.
LOPES JR. Aury. Fundamentos do processo penal. Introdução crítica. 4ª Ed. São
Paulo: Editora Saraiva. 2018.
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 15ª Ed. Editora Saraiva: São Paulo. 2018.
LOPES JR., Aury. Direito processual penal. 17ª Ed. Editora Saraiva: São Paulo. 2020.
MAIER, Julio. Derecho procesal penal. Tomo I. Fundamentos. 2ª Ed. Buenos Aires:
Editores Del Puerto. 1996.
MIRABETE, Julio Fabrini. Processo penal. 8ª Ed. São Paulo: Editora Atlas. 1998.
27
PACELLI, Eugênio; COSTA Domingos Barroso da. Prisão preventiva e liberdade
provisória. A reforma da Lei nº. 12.403/11. São Paulo: Editora Atlas. 2013.
ROCHA, Leonel Severo; AZEVEDO, Guilherme de. “Notas para uma teoria da
organização da decisão jurídica autopoiética. In Revista de Estudos Constitucionais,
Hermenêutica e Teoria do Direito (RECHTD), 4(2):193-213, julho-dezembro 2012.
RIBEIRO, Diógenes H. “A constituição federal e a ascensão do supremo tribunal federal:
os tribunais no sistema jurídico” In Revista da AJURIS – Porto Alegre, v. 46, n. 147,
Dezembro, 2019.
ROXIN, Claus. Derecho procesal penal. 2ª reimp. Trad. Gabriela E. Córdoba y Daniel
R. Pastor. Buenos Aires: Editores Del Puerto. 2003.
SILVEIRA, Felipe Lazzari da; CAMARGO, Rodrigo Oliveira de. “Uma ilha acusatória
em meio a um oceano de inquisitorialidades: perspectivas sobre a introdução do juiz das
garantias no processo penal brasileiro”. In Pacote Anticrime. Reformas processuais:
reflexões críticas à luz da Lei 13.964/2019. Org. Rodrigo Oliveira de Camargo e Yuri
Felix. Editora Emais: Florianópolis. 2020.
28
SIMIONI, Rafael Lazzarotto. “Organização do Poder Político: o estado constitucional em
Niklas Luhmann. In Prismas: Dir., Pol. Publ. e Mundial., Brasília, v. 6, n. 2, p. 329-
349, jul./dez. 2009.
29