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Apontamentos recursos 2015

Direito processual civil executivo e recursos (Universidade Lusíada de Lisboa)

A Studocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade


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DIREITO PROCESSUAL CIVIL EXECUTIVO E RECURSOS


APONTAMENTOS1

DOS RECURSOS

I
Em Geral

1. Noções Gerais

1.1 Ideia geral de recurso (e reclamação).

Atento o disposto no art.º 20.º da Constituição da Répública


Portuguesa, não pode duvidar-se que a todos deve ser assegurado, para
além do mais:

(i) O acesso ao direito e aos tribunais para defesa dos seus


direitos e interesses legalmente protegidos;
(ii) O direito a que as causas em que intervenham sejam objecto
de decisões em prazo razoável, mediante processos
equitativos;
(iii) O direito (em suma) a uma tutela jurisdicional efectiva.

Ora, o acesso aos tribunais, o direito a um processo equitativo, a


uma tutela jurisdicional efectiva, demandam o reconhecimento às partes da
possibilidade de obterem uma reapreciação das decisões judiciais. Um
ordenamento processual que impossibilitasse a reapreciação das decisões
não poderia deixar de se caracterizar pela sua total iniquidade.

A dignidade da pessoa humana (art.º 1º CRP) e a sua falibilidade


impõem que os destinatários das decisões judiciais não fiquem na posição
de nada poder fazer a não ser conformar-se com as mesmas, atenta a sua

1
O presente texto tem na sua origem a gravação e posterior transcrição das aulas teóricas dadas no ano
lectivo 2012/2013. Aos alunos que procederem à gravação e transcrição aqui ficam os agradecimentos.
Devidos. Importa ter bem presente que estes apontamentos não dispensam, de forma alguma, a
leitura e estudo da bibliografia indicada, designadamente as lições do Conselheiro J.O Cardona
Ferreira (Guia dos Recursos em Processo Civil, 5º Edição, Coimbra Editora, 2010), do Conselheiro
Fernando Amâncio Ferreira ( Manual dos Recursos em Processo Civil, 8º Edição), do Conselheiro
António Santos Abrantes Geraldes, Recursos no Novo Código de Processo Civil, Almedina, 2013.

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autoridade ( arts. 202.º e 205.º CRP). Como sublinha CARDONA FERREIRA, “ o


direito a uma segunda opinião é, hoje, um dado adquirido de carácter
jurídico-cultural, no mundo em que nos inserimos.”2.

Importa ter presente que proibição da impugnação não reforça a


autoridade apenas o autoritarismo, e nem sempre reforça a segurança
jurídica, podendo, pelo contrário, constituir a maior fonte de insegurança.
Se a proibição da impugnação conduzir, por exemplo, ao desleixo, à
fragilidade da sustentação das decisões, ao desrespeito pela argumentação
apresentada de forma sustentada, mas ignorada, não poderá deixar de se
concluir que as limitações ao direito à reapreciação pode contribuir,
decisivamente, para o aumento da insegurança e incerteza. A
inalterabilidade de uma má decisão causará certamente maior mossa à
segurança e certeza jurídica do que a resultante do aumento da natural
morosidade processual decorrente da impugnação.

A reapreciação de uma decisão por um tribunal superior dá sempre


maiores garantias de acerto quanto à regulação dos interesses em causa,
mas este importante valor não é o único a ponderar. Cabe conciliar o
mesmo com o interesse da celeridade processual e ainda com os meios que
o Estado tem ao seu dispor para administrar a justiça.

Importa, e muito, que o legislador saiba ponderar as exigências da


segurança e certeza inerentes ao trânsito em julgado das decisões, com as
exigências de segurança e certeza inerentes ao exercício ponderado, recto,
diligente, difícil, em suma competente, do poder jurisdicional.
Entre o risco de uma decisão injusta por tardia e o risco de uma
decisão injusta pelo exercício incompetente do poder jurisdicional, o
legislador não pode ter dúvidas quanto a opção a tomar.

Não constitui tarefa fácil conjugar a exigência constitucional do


direito de acesso aos tribunais e ao processo equitativo, com as limitações
ou restrições estatuídas na lei ordinária quanto ao direito de recorrer,
maxime as resultantes da relação entre o valor das ações e das alçada dos
tribunais ( art.º 629.º CPC).
O Tribunal Constitucional foi chamado, vezes sem conta, a
pronunciar-se sobre a conformidade destas restrições com os preceitos da
Lei fundamental, existindo uma vasta e uniforme jurisprudência no sentido
de que o legislador ordinário tem uma “ampla margem de conformação do
direito ao recurso em processo civil”, bem que a Constituição não consagra
o direito a um “ duplo grau de jurisdição”, ou seja o direito ao recurso3.
2
Guia..., cit. pág. 104
3
Por todos, vide Acórdão nº 328/2012, de 27 de Julho, 2012, DR, 2º série de 16 de novembro de 2012.

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Incontroverso é o entendimento de não ser “constitucionalmente


tolerável que o legislador ordinário elimine pura e simplesmente a
faculdade de recorrer em todo e qualquer caso“.4

A doutrina tem acompanhado este entendimento, afastando a


possibilidade de o legislador ordinário excluir de modo arbitrário ou
ferindo os princípios da proporcionalidade ou igualdade, o direito de
recorrer de determinadas decisões, quer de forma directa, quer
indirectamente através da relação entre o valor das acções e alçadas dos
tribunais.5

Os recursos, importa ter bem presente, não são a única forma de


impugnação das decisões judiciais. Para além dos recursos as decisões
podem ser impugnadas pelas partes através de reclamações. Cabe
distinguir as duas figuras.

O recurso é um procedimento processual que, tendo por fim


impugnar uma decisão, submete esta a uma nova apreciação jurisdicional
por um tribunal de categoria superior àquele que a proferiu. A
reclamação, enquanto meio de impugnação das decisões judiciais, consiste
num pedido de reapreciação dirigido ao tribunal que proferiu a decisão
impugnada.

Exemplos de reclamações previstas na lei:

(i) Reclamação contra erros materiais da sentença (614.º).


(ii) Reclamação contra erros decorrentes de manifesto lapso na
elaboração da sentença ( 616.º, nº 2).
(iii) Reclamação contra o despacho que identifica o objeto do
litigio e enuncia os temas da prova (art.º 596.º, n.º 2).

4
Idem
5
Como sublinham GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, na sua Constituição Anotada, 4ª Edição, Vol I,
Coimbra Editora, pág. 418, “Não existe, porém, um preceito constitucional a consagrar a “ dupla
instância” ou o duplo grau de jurisdição em termos gerais...Todavia, o recurso das decisões judiciáis que
afectem direitos fundamentais, designadamente direitos, liberdades e garantias, mesmo fora do âmbito
penal, pode apresentar-se como garantia imprescindível desses direitos. Em todo caso, embora o
legislador disponha de liberdade de conformação quanto à regulação dos requisitos e graus de recurso, ele
não pode regulá-lo de forma discriminatória, nem limitá-lo de forma excessiva.”. Em sentido semelhante,
JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS, escrevem, em anotação ao art.º 20.º da CRP o seguinte: As limitações
ou restrições ao direito de recurso, estão, por isso, sujeitas aos limites constitucionais gerais e, de modo
especial, aos princípios da igualdade e da proporcionalidade, pelo que as diferenciações legais não podem
ser arbitrárias e as medidas restritivas do direito de recorrer não devem ser excessivas.”. Constituição
Portuguesa Anotada, Tomo I, Coimbra Editora, 2005, pág. 202.

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Nem sempre é fácil concluir qual o meio de impugnação a adoptar.


Certo é que, a reclamação só pode ser utilizada quando a lei o preveja
especialmente. A reclamação é um meio de impugnação especial
relativamente ao meio geral ou comum que é o recurso ordinário.6

Como sublinha o Professor Teixeira de Sousa7:

(i) Não estamos perante meios de impugnação concorrentes. Se a


reclamação for admissível tal significa que não é possível o
recurso.

(ii) Perante a rejeição da reclamação por parte do tribunal é


possível continuar a impugnação através do recurso ordinário
(se o juiz desatender aquele pedido pode recorrer-se daquela
decisão).

Importa, no entanto, ter presente as situações em que a reclamação


não prevalece como previsão especial perante o recurso, como sucede na
reclamação para arguição das nulidades da sentença referidas no nº 4 do
art.º 615.º Estando em causa alguma das referidas nulidades, a reclamação
só é possível se a sentença não admitir recurso.

A reclamação para além de meio de impugnação de decisões


judiciais, constitui o procedimento apropriado à arguição de nulidades
processuais, não “cobertas” por uma decisão judicial. Quando a nulidade
cometida não se possa reconduzir a um erro de decisão, as partes têm o
ónus de invocar a nulidade através de reclamação. Se, por exemplo, autor
replicar em violação do disposto no 584.º, o réu poderá reagir arguindo
(reclamando) a nulidade desse acto praticado pelo autor, nos termos do art.º
195.º

1.2 Espécies de recursos

1.2.1 Classificações legais

Os recursos podem ser ordinários ou extraordinários (art. 627.º, n.º


2).

6
MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, Estudos Sobre o Novo Provesso Civil, 2º Edição, Lex, Lisboa, 1997,
pág.372
7
Idem págs 372-373

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(i) O recurso ordinário consiste num pedido de reapreciação de


uma decisão ainda não transitada em julgado (art. 628.º)
dirigido ao tribunal de hierarquia superior.

(ii) O recurso extraordinário é um recurso que recai sobre uma


decisão já transitada em julgado, que, no caso da revisão, se
desdobra, por regra, em dois pedidos8:

- Um pedido de revogação da decisão já transitada (juízo


rescindente);
- Um pedido de repetição dos actos inválidos e de nova
decisão (juízo rescisório).

O conceito de trânsito em julgado encontra-se no art.º. 628.º - O


trânsito em julgado é a situação da decisão judicial que já não admite
recurso nem reclamação e que adquire como tal a qualidade de caso
julgado. Perfilhamos e sustentamos o entendimento de que o caso julgado
não é verdadeiramente um efeito da sentença mas uma qualidade da
mesma.
Ao contrário do que sucede com os recursos ordinários que têm
sempre um efeito devolutivo (são julgados por um tribunal superior) os
recursos extraordinários são julgados pelo mesmo tribunal que proferiu a
decisão.

São ordinários os recursos de apelação e de revista, e extraordinários


o recurso para uniformização de jurisprudência e a revisão (nº2 do art.º
627.º). 9

Com a importante reforma do sistema recursório, operada pelo Dec-


Lei nº 303/07, de 24 Agosto, o legislador abandonou o dualismo recursório
já com secular tradição, caracterizado pela existência de duas espécies de
recursos quer para as decisões de 1ª instância (apelação e agravo) como
para as decisões de 2º instância (revista e agravo em 2º instância). A opção
recaiu no sistema monista, com a eliminação do agravo e do agravo em 2º
instância.
A abolição do agravo como espécie de recurso de determinadas
decisões proferidas em 1ª instância (por regra das decisões sobre a relação
processual, ou seja de decisões que não conheciam do mérito da causa),
8
Como sublinha Cardona Ferreira, o recurso extraordinário de revisão é, “ genericamente, um “misto” de
recurso e de acção, o que se reflecte, nas fases rescindente e rescisória.” Guia…, cit. pág. 343.
9
As reclamações têm em comum com os recursos extraordinários a circunstância de serem meios de
impugnação de decisões judiciais dirigidas ao tribunal que as proferiu. Distingue-os o facto de os recursos
extraordinários terem como condição o trânsito em julgado da decisão.

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teve como consequência (e certamente por motivação) a inadmissibilidade


de recurso autónomo de um grande número de decisões, denominadas
decisões interlocutórias ou intercalares, que assim ganharam
invulnerabilidade, pelo menos até à prolação da sentença final. Como a
eliminação do recurso de decisões intermédias não podia ser absoluta, o
legislador afastou o regime recursório dualista, mas teve de aceitar uma
espécie de disciplina dualista para a apelação. Conforme artigo 644.º,
importa distinguir as “apelações autónomas” previstas nos nºs 1. e 2., da
impugnação não autónoma prevista no nº 3 da mesma disposição.
Relativamente aos recursos extraordinários, a Reforma de 2007
eliminou o recurso de oposição de terceiro como categoria autónoma
(passando a integrar o recurso de revisão – art.º 696.º, al. g ) e recuperou o
recurso para uniformização de jurisprudência ( art.º 688.º).

Os recursos podem ser independentes ou subordinados (art.º 633.º).


Os subordinados, são aqueles que podem ser interpostos após a notificação
da interposição de recurso pela parte contrária.

No caso de ambas as partes ficarem vencidas, cada uma poderá


interpor recurso na parte em que a decisão lhe é desfavorável, podendo no
entanto manifestar a sua intenção de impugnar a decisão imediatamente, no
prazo concedido, ou (apenas) após a notificação de que foi interposto
recurso pela parte contrária. O legislador dá assim guarida à motivação de
impugnar uma decisão desfavorável, pelo facto de a contraparte a contestar.
A parte que inicialmente se conforma com uma decisão ao tomar
conhecimento de que a mesma não irá de imediato transitar em julgado,
mantendo-se viva a controvérsia, poderá por ter esta circunstância presente
ficar motivada e procurar alterar a decisão na parte que lhe foi
desfavorável.
Se o recorrente principal desistir do recurso, ou o mesmo ficar sem
efeito ou o tribunal não o apreciar, caduca o recurso subordinado, ficando
todas as custas da responsabilidade daquele ( n.º 3 do art.º 633.º).
Importa notar que, se o recurso independente for admissível o
subordinada também o será, ainda que o valor da sucumbência o não
permitisse por ser igual ou inferior a metade da alçada do tribunal de que
se recorre ( nº 5 da mesma disposição):

1.2.2 Classificações doutrinais dos recursos/ sistemas recursórios

1.2.2.1 Recursos de reexame e recursos de reponderação.

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(i) Recursos de reexame. O objecto do recurso ou da reclamação


coincide com o objecto da instância, sendo o tribunal superior
chamado a apreciar e a julgar novamente a acção. A lei
permite, verdadeiramente, um novo julgamento da causa.
(ii) Recursos de reponderação: O objecto do recurso, ou seja a
matéria a decidir pelo tribunal superior não coincide com o
objecto do processo como ele se apresenta ao decisor em 1º
instância (atento o pedido a causa de pedir e a contestação por
excepção), é essencialmente constituído pela decisão
impugnada. O tribunal superior é chamado a apreciar se face à
prova produzida na primeira instância, a decisão foi
correctamente proferida. Têm por finalidade essencial
controlar a lógica decisória, a aplicação do direito à realidade
demonstrada Não é concedida às partes, como regra, a
faculdade de alegar novos factos, apresentar novos meios de
prova ou modificar as suas pretensões

O sistema processual português é, essencialmente, de


REPONDERAÇÃO, como certamente se compreenderá ao longo da exposição
da matéria. Adianta-se no entanto que:

a) O objecto do recurso é a decisão ( 627.º, 635.º)


b) Os recorrentes e os recorridos estão impedidos de invocar factos
novos, a menos que se verifique acordo das partes (arts 264.º e
265.º).

Quanto a factos supervenientes com relevância em sede de recurso


relevantes, importa atentar na lição do Professor Miguel Teixeira de Sousa,
que sublinha as seguintes situações:

a) Aceitação (expressa ou tácita) da decisão proferida (art.º 632.º, n.º 2


e 3).

Exemplo: “A” propõe uma acção contra “B” pedindo que este seja
condenado a entregar-lhe o automóvel x. “B” sem qualquer reserva
entrega, após a sentença, o automóvel a A – não pode deixar de se
entender que renunciou ao recurso.

b) Expressa admissibilidade da impugnação da decisão, com


fundamento em factos (objectiva ou subjectivamente)
supervenientes. Assim sucede no recurso extraordinário de Revisão (
art.º 696.º).

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c) Circunstâncias supervenientes que influenciam a regularidade da


instância. Admita-se, por exemplo que um dos mandatários renuncia
ao mandato.

Sendo um sistema caracterizado pela reponderação, a disciplina


processual portuguesa apresenta aproximações ao sistema de reexame.
Vejamos algumas:

(i) A Relação, nos termos do n.º 2 do art. 662.º, pode determinar a


renovação da produção da prova, ou mesmo a produção de novos
meios de prova. Nestes casos, o tribunal superior não estará
“apenas” a apreciar se face à prova produzida a decisão foi
correctamente produzida, vai mais além

(ii)

1.2.2.2 Recursos puros e recursos mistos

Os recursos puros, são aqueles em que, de acordo com o princípio


consagrado no art.º 613.º, n.º 1, o juiz que proferiu a decisão sobre o mérito
da causa fica impedido de a alterar, apesar da impugnação.

Os recursos mistos são aqueles em que tal como ocorre acontece nas
reclamações, o juiz pode alterar a decisão recorrida.

Esta classificação reflectia, sobretudo, a importante distinção entre a


apelação e o agravo. A apelação apresentava-se como um recurso
tendencialmente puro, ao passo que o agravo se caracterizava como um
recurso misto. A diferença encontrava-se, naturalmente, na diferente
natureza dos recursos. A apelação cabia, por regra, das decisões que
conheciam do mérito da causa ao passo que o agravo se apresentava como
o recurso adequado às demais decisões, designadamente de decisões sobre
pressupostos processuais. A diferença dos efeitos dos dois tipos de
decisões, explicava, e a nosso ver justificava, a desigualdade dos regimes.

No sistema monista, como o actual, são mistos os recursos de


Apelação e Revista, sempre que os mesmos tenham como fundamento as
nulidades mencionadas nas alíneas b) a e) do no 1 do art.º 615.º. Conforme
resulta do disposto no art. 617.º, n.ºs 1 e 2, o juiz que proferiu a decisão
pode apreciar a arguição de nulidade e suprir a mesma.

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1.2.2.3 Recursos de cassação e recursos de substituição10

Os recursos de cassação caracterizam-se por apenas conferir ao


tribunal ad quem o poder de revogar a decisão impugnada.
Os recursos de substituição caracterizam-se por conferir ao tribunal
ad quem o poder de revogar, mas também o de substituir a decisão
impugnada

Nos recursos de cassação é privilegiada a qualidade da interpretação


e aplicação da lei, a coerência lógica e argumentativa da decisão. No
recurso de substituição a finalidade é também a de administrar a justiça no
caso concreto.

Nos sistemas Espanhol, Francês e Italiano está consagrado o modelo


de cassação ao passo que no Alemão o de substituição.

No sistema português prevalece o sistema da substituição. Assim


resulta, desde logo, do disposto nos arts, 662.º, n.º 1, nº2, als. a) e b), 665.º,
682.º. nº 1 e 3 ( a contrario), 684.º, n.º1.

Contudo o nosso sistema admite situações excepcionais - em que


por falta de elementos essenciais para a decisão da causa o processo é
reenviado para o tribunal a quo - Assim:

(i) Art.º 662.º, n.º 2, al. c). A Relação pode anular, mesmo
oficiosamente, a decisão proferida em 1ª instância, quando,
não constando do processo todos os elementos que permitam a
alteração do julgamento da matéria de facto, considere
deficiente, obscura ou contraditória a decisão sobre pontos
determinados da matéria de facto, ou quando considere
indispensável a sua ampliação.

(ii) Art.º 662.º, n.º 2, al. d) . O tribunal de recurso (ad quem) pode
mandar baixar os autos, para que o tribunal de 1ª instância
fundamente a decisão proferida sobre algum facto essencial
para o julgamento da causa.

(iii) Art.º682.º, n.º 3. O Supremo aplica definitivamente o regime


jurídico que considere adequado, mas pode o tribunal superior

10
Sobre esta classificação, vide com muito interesse o texto do Desembargador António Abrantes
Geraldes, “ Cassação ou Substituição? Livre Escolha ou Determinismo Legislativo” in As recentes
Reformas na Acção Executiva …, ob. cit. págs. 163 e segs

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determinar a baixa dos autos quando entender que a decisão de


facto pode e deve ser ampliada de modo a constituir base
suficiente para a decisão, ou quando se verifiquem
contradições na decisão da matéria de facto que inviabilizam a
decisão jurídica do pleito.

(iv) Art.º 684.º, n.º 2. Em caso de se verificarem algumas nulidades


em acórdão da relação, o Supremo deve mandar baixar o
processo a fim de se fazer a reforma da decisão anulada, pelos
mesmos juízes quando possível.

2. A instância dos recursos

2.1 Generalidades:

Pergunta-se: O recurso constitui uma nova instância ou uma fase da


instância do processo declarativo ou executivo?

A “instância” é a relação jurídica processual que se inicia com a


proposição da acção, ou seja no momento em que é recebida na secretaria a
respectiva petição inicial ( art.º 259.º).

Acompanhando o entendimento maioritário, entendemos que com a


interposição do recurso não surge, por regra, uma nova instância, mas uma
segunda fase da acção. A instância mantém-se a mesma quanto às partes e
à relação material controvertida. É certo que nos recursos ordinários
intervêm um novo tribunal (ad quem) com requisitos específicos, mas tal
não é suficiente para se considerar que estamos perante uma nova instância.
A instância modifica-se, mas não é uma nova instância
Nos recursos extraordinários apesar do trânsito em julgado da
decisão, com a consequente extinção da instância (art.º 277.º), não há
igualmente, uma “nova instância”, mas uma renovação da mesma. A
instância extinta ressurge em consequência da interposição de recurso.11
No sentido de que só não é assim no recurso de revista com fundamento em
litígio assente sobre ato simulado das partes (art.º 696.º, al. g), pronuncia-se
Fernando Amâncio Ferreira. Tendo presente que neste caso o recurso é
sempre precedido da “acção de simulação” e da necessidade de demonstrar
o prejuízo de terceiro, sustenta este autor, que “não é possível encarar esta
acção como o renascimento da acção anterior, por serem diversas as partes,
11
Assim, entre outros, Fernando Amâncio Ferreira, Manual dos Recursos em Processo Civil, 8ª Edição,
Almedina, pág. 85.

10

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o pedido e a causa de pedir”.12 Como bem recorda este autor, neste recurso
visa-se “apenas” a “anulação da decisão proferida em processo
anterior…”13 e já não a obtenção de um juízo rescisório.

Vejamos, muito sumariamente, alguns aspectos quanto aos


elementos desta nova fase da instância, ou seja quanto aos sujeitos (tribunal
e partes) e seu objecto.

2.2. O Tribunal

Nos recursos ordinários, intervêm dois tribunais: (verifica-se uma


alteração subjectiva da instância). O tribunal a quo, ou seja o tribunal que
proferiu a decisão recorrida e perante o qual recurso é interposto; O
tribunal ad quem, ou seja o tribunal a quem cabe o julgamento do recurso

Competência do tribunal ad quem.

Já sabemos que a competência é a fracção do poder jurisdicional


atribuído a cada tribunal, bem que o poder jurisdicional é o poder de aplicar
o Direito ao caso concreto.

A repartição do poder jurisdicional na ordem interna reparte-se,


segundo a matéria, valor da causa, hierarquia judiciária e território (art.
60.º) Para a aferição da competência do tribunal ad quem interessa ter
presente a competência em razão de matéria, hierarquia e território.

(i) Competência em razão da matéria.

- Supremo Tribunal de Justiça:

(i) Funcionando em plenário, julga os recursos de decisões


proferidas pelo pleno das secções criminais. Art.º 52.º, da Lei
da Organização do Sistema Judiciário ( Lei 62/2013 de 26 de
agosto).
(ii) Ao pleno das secções e de acordo com a sua especialização
compete julgar os recursos de decisões proferidas em 1º
instância pelas secções e uniformizar a jurisprudência (art.º
53.º, als b) e c) da LOSJ).
12
Idem págs 85-86.
13
Ibidem

11

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(iii) Às secções, segundo a sua especialidade, compete julgar os


recursos que não sejam da competência do pleno das secções (
art. 55.º al. a) da LOSJ, assim como por intermédio do relator,
os termos dos recursos a este cometidos ( al.g). Recorda-se que
o Supremo Tribunal de Justiça integra secções em matéria
cível, penal e social (art.º 47.º, n.º 1, LOSJ), assim como uma
secção para julgar os recursos das deliberações do Conselho
Superior da Magistratura ( n.º 2 art.º 47.º).

- Tribunais da Relação

Compete às secções, segundo a sua especialização, julgar recursos (


art.º 73.º, al. a), assim como por intermédio do relator, os termos dos
recursos a este cometidos ( al. f). Conforme os nº3 e 4 do art.º 67.º da
LOSJ, os tribunais da Relação compreendem secções em matéria cível e
penal, podendo compreender ainda secções social, de família e menores,
de comércio, de propriedade intelectual e de concorrência, regulação e
supervisão, dependendo do volume ou da complexidade do serviço.

- Tribunais de 1ª instância

Ao tribunal da propriedade intelectual, compete julgar os recursos das


entidades referidas nas alíneas d, e, g, i do art.º 111.º da LOSJ.
Ao tribunal da concorrência, regulação e supervisão, compete conhecer
dos recursos das entidades referidas no nº 1 do art.º 112.º da LOSJ.
Ao tribunal marítimo, compete julgar os recursos das decisões do
capitão do porto proferidas em processo de contraordenação marítima.

Às secções de comércio de instância central, compete julgar as


impugnações dos despachos dos conservadores do registo comercial, assim
como das decisões proferidas pelos conservadores no âmbito dos
procedimentos administrativos de dissolução e de liquidação de sociedades
comerciais. (art.º 128.º, n.º 3, LOSJ).
Às secções de competência genérica da instância local, compete julgar
os recursos das decisões das autoridades administrativas em processos de
contraordenação, salvo os recursos atribuídos às secções de competência
especializada de instância central ou a tribunal de competência territorial
alargada (art.º 130º, nº 1, al. e).

(ii) Competência em razão da hierarquia e do território

12

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Ao Supremo Tribunal de Justiça compete conhecer dos recursos


interpostos de decisões proferidas pelas Relações, assim como, nos casos
especialmente previstos na lei (recurso per saltum), de decisões proferidas
pelo tribunais de 1ª instância ( art.º 69.º).

Às Relações compete o conhecimento dos recursos interpostos de


decisões proferidas pelos tribunais de 1ª instância ( art.º 68.º).

Aos tribunais de 1ª instância compete o conhecimento dos recursos


das decisões dos notários, dos conservadores do registo e de outros, que por
força da lei, para eles devam ser interpostos (art.º 67.º).

Relativamente à competência em razão do território importa ter


presente que a hierarquia só existe no âmbito de uma certa circunscrição
territorial, pelo que os dois critérios se fundem no art.º 83.º, onde se estatui
que os recursos devem ser propostos para o tribunal a que está
hierarquicamente subordinado aquele de que se recorre.

Qual a consequência da violação desta última regra?

Quid iuris se, por exemplo, for interposto um recurso de uma decisão
de um tribunal da comarca de Lisboa, dirigindo-se o mesmo para o
Supremo Tribunal de Justiça, ou para a Relação de Coimbra.

Tendo presente a inserção sistemática do art.º 83.º, assim como o


disposto no art.º 104.º e 108.º, nº 2, o regime a aplicar é o da incompetência
relativa, pelo que a consequência da incompetência deve ser a remessa do
processo para o tribunal competente conforme artigo 105.º, n.º 3

2.3 As Partes

2.3.1 Legitimidade (para recorrer)

O poder de condução do processo, na interposição e


desenvolvimento do recurso, segue regras diferentes das estabelecidas para
a fase declarativa ou fase executiva. Vejamos:

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O art.º. 631.º estatui como regra geral que a legitimidade para


recorrer pertence às partes principais que tenham ficado vencidas (total ou
parcialmente).

Por parte vencida deve entender-se a parte que podia obter uma
decisão mais favorável face às pretensões formuladas. Não basta atentar
na sucumbência (diferença entre a pretensão formulada pelo próprio e a
decisão), importa considerar ambas pretensões.

O réu ainda que julgado à revelia (i.e sem deduzir qualquer pretensão
de absolvição) pode recorrer se a decisão proferida lhe podia ser mais
favorável face à pretensão formulada (pelo autor).

O réu absolvido da instância pode recorrer pois a decisão podia ser


mais favorável: absolvição do pedido com caso julgado material.
No entanto, caso o reú em sede de contestação requeira a sua
absolvição e o tribunal em despacho saneador julgue procedente a
excepção invocada e, em consequência, extinga a instância sem apreciação
de mérito, haverá abuso de direito se o mesmo réu impugnar a decisão por
si reclamada.
Se a decisão de absolvição for proferida após a produção de prova,
ou seja, na sentença final não haverá então qualquer obstáculo à
interposição de recurso.

Para além das partes principais têm legitimidade recursória os


terceiros ou partes acessórias desde que sejam directa e efectivamente
prejudicadas pela decisão ( nº 2, art.º 631.º)
Importa ter em conta que, por regra, a sentença só vincula as partes
principais (princípio da eficácia relativa do caso julgado) pelo que, as
demais pessoas, por regra, não são directa e efectivamente prejudicadas.

Não basta um prejuízo meramente económico ou indirecto.

Exemplo, “ A” intenta com êxito acção de reivindicação do imóvel x


contra “B”. “ C”, terceiro, não poderá interpor recurso ordinário com
o fundamento ser o verdadeiro proprietário.

Poderão recorrer, por exemplo, as testemunhas ou outros


intervenientes condenados em multa, ou terceiros cuja intervenção no
processo seja recusada (art.º 311.º).

O recurso de revisão interposto com fundamento em simulação


processual (al.g, art. 696.º), pode ser interposto por qualquer terceiro

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prejudicado com a sentença. Caso o sujeito prejudicado pela simulação seja


um incapaz, representado por “ representante legal”, o mesmo (apesar de
parte) tem legitimidade recursória ( nº3, art.º 3.º).

2.3.3 Legitimidade nas situações de pluralidade de partes

Em caso algum, a lei exige como condição de admissibilidade do


recurso a sua interposição por mais do que um sujeito. No entanto:

(i) Nos casos de litisconsórcio necessário, o recurso interposto por


uma das partes aproveita sempre os seus compartes - 634.º, n.º
1. Assim é na medida em que o litisconsórcio necessário se
caracteriza, precisamente, pela exigência de uma
regulamentação unitária dos interesses, que se revelam
incindíveis;
(ii) No caso de litisconsórcio voluntário - o recurso, em regra,
interposto por uma das partes, não aproveita as restantes, com
as excepções estabelecidas no 634.º, n.º 2.

a) Com a adesão ao recurso a parte acessória (n.º 4 art.º 634)


não pode praticar actos que ponham em causa os actos
praticados pela parte principal; Se o recorrente principal
desistir do recurso a parte aderente adquire a posição
principal;
b) Quando existe uma relação de dependência ou
subsidiariedade dos interesses em causa (Ex: “A” arrenda
uma casa a “B” sendo “C” o fiador) - A decisão que vier a
ser produzida em sede de recurso aproveita também as
compartes;
c) Condenação dos réus como devedores solidários.

O nosso legislador, quanto à extensão subjectiva da decisão proferida


na fase de recurso, adoptou o chamado princípio da realidade. De acordo
com este princípio a eficácia do recurso estende-se a todas as compartes
vencidas. A este princípio opõe-se o da relatividade ou personalidade - de
acordo com o qual esta eficácia não se comunica às partes não recorrentes,
afectando apenas aquele que intentou o recurso.
O princípio da realidade é indiscutivelmente aquele que melhor se
adapta à concepção publicista do processo civil. Incentiva a indivisibilidade
da instância e desta maneira contribui para a paz pública.

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2.4 Objecto do recurso

O objecto do recurso, incluindo-se nesta expressão, quer a sua


admissibilidade que o seu âmbito ou extensão, é determinado pela lei, mas
também pela vontade das partes ou seja pelo recorrente e recorrido.

2.4.1 Admissibilidade

Apesar de enunciar como regra geral que as decisões judiciais podem


ser impugnadas por meio de recursos (art.º 627.º), a lei faz depender a
admissibilidade dos mesmos, do valor das ações, da natureza da decisão e
ainda da vontade das partes. Vejamos:

Valor da acção

Importa ter em boa conta o valor da acção, da alçada e da


sucumbência (art.º 629.º, nº 1).

O recurso ordinário só é admissível:

- Quando a causa tenha valor superior à alçada do tribunal de que


se recorre; E
- a decisão impugnada seja desfavorável ao recorrente em valor
superior a metade da alçada desse tribunal.

Recorda-se que por alçada se entende, o limite de valor até ao qual o


tribunal julga sem admissibilidade de recurso, bem que o actual valor das
alçadas é de € 5.000,00 para os tribunais de 1º instância e de € 30.000,00,
para os tribunais da Relação (art.º 31.º da Lei nº 51/2008 de 28 de
Agosto)14. A determinação do valor das ações deve obedecer à disciplina
estatuída nos arts 296.º e segs, cabendo ao juiz fixar o valor da causa, por
regra, no despacho saneador, sem prejuízo do dever que impende sobre as
partes de o indicar. Se for interposto recurso antes da fixação do valor da
causa o juiz deve então fixar o mesmo no despacho a proferir sobre o
requerimento de interposição ( art. 306.º nº 1.º).

14
A Lei De Organização do Sistema Judiciário, mantém o valor das alçadas € 30.000,00 ( art. º 44).

16

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Exemplo:
“ A intenta contra “B” acção declarativa pedindo a condenação do
réu no pagamento de € 10.000,00. “ B” é condenado a pagar € 8.000,00.

“B” pode recorrer, pois verificam-se os dois requisitos legais supra:


O valor da acção (€ 10.000,00) é superior à alçada dos tribunais de 1ª
instância (€ 5.000,00) e sucumbiu em € 8.000,00.

“A” não pode interpor recurso, pois apesar de se verificar o primeiro


requisito ( o valor da acção é superior à alçada do tribunal de que se
recorre) sucumbiu “apenas em € 2.000,00, ou seja, em valor inferior a
metade da alçada dos tribunais de 1ª instância.
Note-se, ainda que em caso de fundada dúvida acerca do valor da
sucumbência, deve apenas atender-se ao primeiro requisito, ou seja ao
valor da causa e da alçada. (art. 629.º, nº 2), bem que no caso do recurso
subordinado o mesmo será admissível independentemente do valor da
sucumbência.

No n.ºs 2 e 3º do artigo 629.º, enumeram-se importantes excepções à


regra da inadmissibilidade dos recursos por conta do valor da causa e da
sucumbência, que importa ter presente.

É sempre admissível recurso:

(i) Das decisões que sejam impugnadas com fundamento em


incompetência absoluta (preterição das regras da competência
internacional, em razão da matéria ou da hierarquia), ou na
ofensa de caso julgado.

A razão de ser desta admissibilidade absoluta, prende-se com o


interesse público da boa administração da justiça inerente aos critérios da
repartição do poder jurisdicional em causa, assim como ao interesse
publico da segurança jurídica associada à estabilização das decisões já
transitadas em julgado.
Em qualquer caso, esta recorribilidade não pode ser aproveitada pelo
recorrente para impugnar a apreciação do mérito ou de outras questões
objecto da decisão impugnada com tal fundamento.
Como igualmente sublinham os autores a recorribilidade não abrange
todas as situações referentes ao caso julgado, mas tão só à sua ofensa.
Subsumível à previsão em causa é a situação em que o recorrente invoca
que a decisão contraria caso julgado anterior, mas não a situação em que,

17

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por exemplo, o julgador julga procedente a excepção do caso julgado e


absolve o réu da instância. 15

(ii) Das decisões respeitantes ao valor da causa ou dos incidentes,


com fundamento de que o seu valor excede a alçada do tribunal
de que se recorre.

Fixando o juiz à causa, ao incidente ou a um procedimento cautelar,


um valor inferior ao da alçada do tribunal, tal decisão, não fosse a excepção
em causa, não poderia ser objecto de censura por via de recurso, o que de
facto não seria aceitável, atentas as repercussões que a fixação do valor tem
entre as quais, precisamente, a admissibilidade do recurso.

(iii) Das decisões proferidas, no domínio da mesma legislação e


sobre a mesma questão fundamental de direito, contra
jurisprudência uniformizada do Supremo Tribunal de Justiça.

Por jurisprudência uniformizada do Supremo Tribunal de Justiça


entende-se a que resulta de um acórdão decorrente de um recurso ampliado
de revista (arts 686.º e 687.º) ou de recurso extraordinário para
uniformização de jurisprudência (arts 688.º e segs). Em qualquer caso trata-
se de um acórdão que não tendo força obrigatória geral dispõe de uma força
persuasiva reforçada por ser proferido pelo pleno das secções cíveis do
Supremo Tribunal de Justiça.

Assim, no caso de uma sentença da 1º instância ou acórdão da


Relação, contrariar um acórdão de uniformização, sobre a mesma questão
fundamental de direito, no domínio da mesma legislação, é admissível
recuso, independentemente do valor da causa e da sucumbência.
A divergência, para ser relevante, deve consubstanciar uma oposição
frontal ou directa e verificar-se relativamente à mesma questão de direito,
não sendo necessária uma total identidade entre os objectos em que foram
proferidos os acórdãos. A questão de direito, relativamente à qual se
verifica uma oposição directa deve demonstrar-se essencial em ambas
decisões.
A oposição de decisões deve ocorrer no domínio da mesma
legislação ou seja, e nas palavras de TEIXEIRA DE SOUSA, é necessário que

15
Assim, entre outros, Abrantes Geraldes, Recursos No Novo Código de Processo Civil, Almedina, 2013,
pág. 40.

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entre as decisões não se verifique “qualquer modificação legislativa com


relevância para a resolução da questão de direito neles apreciada”.16

(iii) Do acórdão da Relação que esteja em contradição com outro,


dessa ou de diferente Relação, no domínio da mesma
legislação e sobre a mesma questão fundamental de direito, e
do qual não caiba recurso ordinário por motivo estranho à
alçada do tribunal, salvo se tiver sido proferido acórdão de
uniformização de jurisprudência com ele conforme

Prevê-se, com o mesmo propósito de uniformização, a


admissibilidade de recurso, a despeito do valor e da sucumbência, quando o
acórdão proferido esteja em contradição (oposição directa) com acórdão já
transitado da Relação, do qual não seria, em princípio, admissível recurso
por motivo estranho à alçada do tribunal.

Nesta disposição o legislador afasta, simultaneamente, a


inadmissibilidade de recurso resultante das restrições impostas pelo valor e
sucumbência, e de outras restrições de ordem legal, sempre que se revela a
existência da contradição sublinhada. Pretende-se assegurar a intervenção
do Supremo na eliminação de contradições na jurisprudência susceptíveis
de se manterem nas situações em que não é admissível recurso apesar do
valor ser superior à alçada da Relação.
Não será, porém, admissível recurso se o acórdão em causa for
conforme a jurisprudência de acórdão de uniformização.

Admita-se, por exemplo que a Relação profere acórdão num


procedimento cautelar cujo valor foi fixado em € 40.000,00.
Independentemente do valor, o acórdão proferido não admite, por
regra, recurso para o Supremo (art.º 370.º), no entanto, se o fundamento for
a oposição entre acórdãos, nos termos da al.d), nº 2, do art.º 629.º o recurso
(de Revista) poderá ser admitido. A mesma admissibilidade ocorreria,
ainda que o valor do procedimento fosse inferior aos € 30.000,00.

É admissível recurso para a Relação, independentemente do valor da


causa e da sucumbência, nas três situações elencadas no nº 3, da disposição
em causa, ou seja:

16
Estudos sobre o Novo Processo Civil, 2º Edição, pág. 557. No mesmo sentido Abrantes Geraldes,
Recursos…, ob. cit. pág. 44

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-Nas ações em que esteja em causa a validade, a subsistência ou a


cessação de contratos de arrendamento, a menos que o arrendamento seja
para habitação não permanente ou para fins especiais transitórios.

Estando em causa o direito à habitação e considerando que o valor


destas acções pode ficar abaixo da alçada dos tribunais de que se recorre ( a
fixar de acordo com o valor da renda, nos termos do art.º 298.º), o
legislador pretendeu garantir a existência de, pelo menos, o recurso para a
Relação.

- Das decisões relativas ao valor da causa nos procedimento


cautelares, desde que o recurso se fundamente na alegação de que o seu
valor excede a alçada do tribunal de que se recorre.

- Das decisões de indeferimento liminar da petição ou do


requerimento inicial de procedimento cautelar,

Tenha-se presente que, em qualquer caso, se o valor da ação exceder


a alçada da Relação, será ainda admissível (não havendo disposição legal
em contrário) recurso para o Suprema. A norma em análise não visa
restringiu o recurso à última instância, mas tão só garantir o recurso para a
Relação.

Cabe ainda notar que a lei estatui expressamente a admissibilidade de


recurso, em um grau (ou seja da 1º instância para a Relação, ou da Relação
para o Supremo Tribunal de Justiça) da decisão que condene por litigância
de má fé, independentemente do valor ( art.º 542.º, n.º 3).

Natureza da decisão

Há situações em que as decisões não são recorríveis atendendo à


natureza do seu conteúdo (art.º 630.º).

Não é admissível recurso dos despachos de mero expediente nem dos


despachos proferidos no uso legal de um poder discricionário (nº 1)

Os despachos de mero expediente, são os que se destinam a prover


ao andamento regular do processo, sem interferir no conflito de interesses
entre as partes (152.º n.º 4), como será o caso do despacho que designa a

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data de julgamento ou o despacho a notificar a parte para juntar o original


de um documento cuja cópia foi junta aos autos

Despachos proferidos no uso legal de um poder discricionário, são os


que decidem matérias confiadas ao prudente arbitrío do julgador. O poder
é discricionário quando é conferido ao juiz a faculdade de escolher entre
uma alternativa de decisão, de acordo com o seu prudente critério.
Assim sucederá, por exemplo, quando nos termos do art.º 452.º, o
juiz determinar a comparência pessoal das partes para a prestação de
depoimento sobre os factos que interessam à decisão da causa. O juiz
“pode” … estamos, pois, perante um despacho discricionário.

Decisões irrecorríveis por disposição especial da lei.

Existem várias situações em que por disposição especial a lei veda


expressamente às partes a faculdade de recurso.
Assim sucede, entre outras situações:

(i) No despacho convite a suprir irregularidades, insuficiências ou


imprecisões dos articulados ( nº 7, art.º 590.º);
(ii) Nas decisões proferidas nos procedimentos cautelares, por não
admitirem, em regra, recurso para o Supremo Tribunal de
Justiça (art.º 370.º, n.º 2).
(iii) Na decisão que, na jurisdição cautelar, indefira a inversão do
contencioso (art.º 370.º, nº1).
(iv) No despacho que manda citar os réus ou requeridos (art.º 226.º
, nº 5).
(v) Do despacho saneador em que se relegue para final a decisão
de matéria que cumprir conhecer no mesmo (595.º, nº 5).

A vontade das partes

A vontade das partes, manifestada antes ou depois de ser proferida a


decisão, pode, igualmente, condicionar a recorribilidade das decisões.
Vejamos como.

As partes podem renunciar aos recursos, nos termos da disciplina


estatuída no art.º 632.º.
(i) A renúncia antecipada, ou seja a que é manifestada antes da
prolação da decisão, só produz efeitos se provier de ambas as
partes.

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(ii) A renúncia posterior é eficaz ainda que unilateral e pode ser


expressa ou tácita.

A aceitação ou renúncia tácita é que resulta da prática de qualquer


facto incompatível com a vontade de recorrer.

Se, por exemplo, o réu condenado a pagar o preço de um bem por si


adquirido, proceder ao pagamento, sem qualquer reserva isto é sem
manifestar expressamente a sua intenção de recorrer, renuncia tacitamente
ao recurso.

A desistência do recurso é livre, conforme 632.º, n.º 5, sem prejuízo,


naturalmente da sua responsabilidade pelas custas a que deu causa.

2.4.2 Delimitação do recurso

O objecto do recurso, a sua extensão, ou âmbito, é delimitado quer


lei quer pela vontade das partes

2.4.2.1 Delimitação legal

O objecto do recurso, conforme resulta, desde logo, dos artigos 627.º


e 621.º (a sentença só constitui caso julgado “nos precisos limites e termos
em que julga”) abrange apenas a decisão.

Aquele objecto inclui apenas, e em regra, a parte decisória


propriamente dita (ou dispositiva) da sentença e não a fundamentação da
mesma.

Conforme decorre do art. 91.º, n.º 2, a decisão das questões e


incidentes suscitados não constitui caso julgado fora do processo
respectivo, excepto se alguma das partes requerer o julgamento com essa
amplitude. Ora importa ter presente que nestes casos excepcionais, em que
o caso julgado inclui também a fundamentação, o recurso abrange tanto a
decisão como a fundamentação consubstanciada na resolução das questões
e incidentes suscitados.

Note-se, ainda, que um recurso pode abranger mais do que uma


decisão. Assim pode acontecer sempre que a sentença final aprecie mais do
que um pedido, ou quando, nos termos do regime estatuído no artigo 644.º
n.º 3, a parte impugne alguma das decisões previstas no nº 1 da mesma

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disposição, conjuntamente (no mesmo recurso) com uma decisão anterior (


interlocutória) que autonomamente não podia ter sido impugnada ( por não
caber no elenco do nº 2).

O tribunal ad quem, por regra, não pode apreciar matérias novas. Se


a parte invocar uma nova questão, como por exemplo a anulabilidade do
negócio que integra a causa de pedir, deve concluir-se que nesse caso não
estará, em bom rigor, a impugnar uma decisão, a censurar a mesma, mas a
procurar um reexame da questão suscitada.

A lei permite a apresentação de documentos na fase de recurso ( art.º


651.º) desde que a parte demonstre que o não podia ter feito até ao
encerramento da discussão da causa em 1º instância, ou no caso de a junção
se ter tornado necessária em virtude do julgamento proferido na 1º
instância, mas importa ter presente os mesmos não podem, por regra, dizer
respeito a novos factos (mesmo que sejam supervenientes) mas sim a
factos já apresentados.
Assim resulta para o recurso de apelação do art.º 662.º (“
Modificabilidade da decisão de facto”, e para a revista do art.º 682.º (
Termos em que julga o tribunal de revista”). Como se estatui no primeiro
dos referidos normativos, a Relação não só pode como deve alterar a
decisão proferida sobre a matéria de facto, se os factos tidos como assentes,
a prova produzida ou um documento superveniente impuserem decisão
diversa.

O tribunal ad quem pode excepcionalmente apreciar questões não


suscitadas ou apreciadas pelo tribunal a quo ou seja matéria nova, nas
seguintes situações:

a) Questões de conhecimento oficioso do tribunal (608.º, n.º 2 –


Exemplo, excepções dilatórias (578.º) como a incompetência
absoluta do tribunal;

b) Questões que envolvam simples construções de direito ou diferentes


qualificações jurídicas dos factos (exemplo: “A” intenta acção de
impugnação pauliana contra “B” e “C”, pedindo a declaração de
nulidade do contrato. O tribunal de recurso ( tal como o tribunal de
1.ª instância) pode julgar procedente a acção não declarando a
nulidade do contrato, mas sim a ineficácia, pois a procedência da
impugnação gera a ineficácia do acto de disposição e não a
invalidade do acto.

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2.4.2.2 Delimitação do objecto do recurso pelo recorrente

O âmbito do objecto do recurso, já o vimos, encontra-se limitado


pela lei à decisão proferida com as questões colocadas no tribunal
recorrido, mas dentro deste limite legal é o recorrente que por regra fixa
nas suas alegações, mais propriamente nas sua conclusões, o objecto do
recurso, a matéria sobre a qual o tribunal ad quem se pode pronunciar.

Esta delimitação pode dizer respeito ao conteúdo da decisão


(delimitação objectiva) ou aos sujeitos da relação processual (delimitação
subjectiva).

Delimitação objectiva

A regra geral está prevista no art. 635.º, n.º 2, onde se estatui que se a
parte dispositiva, contiver decisões distintas é lícito restringir o recurso a
qualquer delas desde que o recorrente assim o especifique no requerimento
de interposição.
Na falta de especificação, o recurso abrange tudo o que na parte
dispositiva for desfavorável ao recorrente, a menos que o contrário resulte
das conclusões apresentadas pelo recorrente no fim das suas alegações (
art.ºs 635.º nº 4 e 639.º). A restrição do objecto do recurso pode ocorrer
tacitamente, como consequência da falta de correspondência entre o
requerimento de interposição ou a motivação do recurso expressa nas
alegações e as conclusões finais apresentadas. Se do conteúdo das
conclusões resultar que o recorrente não inclui questões anunciadas no
requerimento ou tratadas na motivação (alegações), pode entender-se que o
recorrente não pretende que as mesmas sejam apreciadas. Vezes sem conta
se sublinha, nos arestos proferidos nos tribunais superiores, que são as
conclusões que definem o objecto do recurso17

Na restrição do objecto do recurso, o recorrente não pode limitar o


mesmo a uma questão dependente, deixando de fora uma questão
prejudicial. Admita-se por exemplo, que “A” intenta uma acção contra
“B”, pedindo o reconhecimento de que é proprietário do imóvel e a
condenação do réu a indemnizar o autor pelos danos decorrentes da
utilização indevida desse mesmo imóvel. A acção é julgada totalmente
improcedente. O recorrente em princípio não poderá restringir o recurso à
indemnização, pois só sendo reconhecido proprietário poderá ver
reconhecido o direito de obter a indemnização (há uma relação de
prejudicialidade).

17
Cfr, entre outros os Acs STJ de

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Com a interposição do recurso, as decisões por ele abrangidas não


constituem caso julgado, mas o mesmo não sucede com as demais
questões, pelo que importa atentar no nº 5 do art.º 635.º, segundo o qual os
efeitos do julgado, na parte não recorrida, não podem ser prejudicados pela
decisão do recurso nem pela anulação do processo.
Importa ainda ter em boa conta que o recurso ordinário não pode ter
por objecto matéria sob a qual, na própria acção, se tenha formado caso
julgado. Admita-se, por exemplo, que o juiz rejeita um meio de prova. Se o
réu não apelar deste decisão (artigo 644.º n.º 2 alínea d), no recurso que
vier a interpor da decisão final, não poderá requerer a apreciação daquele
despacho

Delimitação subjectiva

O recorrente pode ainda delimitar o objecto do recurso, excluindo do


mesmo algum ou alguns dos vencedores, a menos que exista uma situação
de litisconsórcio necessário, art.º 635.º, n.º 1.

2.4.2.3 Delimitação do objecto do recurso pelo recorrido

O recorrido pode ampliar o âmbito do recurso, nos termos previstos


no art.º 636.º.
Com efeito o recorrido pode, mesmo a título subsidiário, manifestar a
sua pretensão de a decisão recorrida ser confirmada por fundamentos
rejeitados pelo tribunal a quo, ou manifestar a sua pretensão de essa
decisão vir a ser confirmada por fundamentos não apreciados pelo tribunal
a quo.(636.º n.º 1).
Exemplos: (i) “A” intenta contra “B” uma acção de despejo
invocando como causa de pedir a falta de pagamento de rendas e a
realização de obras não autorizadas. O juiz julga procedente a acção
determinando o despejo por falta de pagamento das rendas. O réu interpõe
recurso e o autor como decaiu na causa de pedir relativa às obras não
autorizadas, pode ampliar o objecto do recurso, prevendo a possibilidade de
o recorrente obter vencimento quanto à questão da falta de pagamento das
rendas; (ii) “A” intenta uma acção declarativa contra “B”, invocando ter
vendido o automóvel X ao réu e que este não pagou o preço. “B” contesta
sustentando que procedeu ao pagamento e ainda que pagou mal, pois o
contrato era nulo. O juiz dá por provado o pagamento e não aprecia a
questão da nulidade do contrato. “A” interpõe recurso. “B” pode ampliar o
objecto do recurso para no caso de “A” lograr provar “o não pagamento”,
de modo a que se conheça a segunda questão colocada ou seja a nulidade
do contrato.

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Se o recorrido requerer a ampliação do objecto do recurso, o


recorrente pode responder à matéria da ampliação, no prazo de 15
posteriores à notificação do requerimento ( nº 8 art. 638.º):

3. Interposição do recurso

3.1 O requerimento de interposição de recurso

Os recursos interpõem-se por meio de requerimento dirigido ao


tribunal que proferiu a decisão. Nesta peça processual o recorrente
manifesta a sua vontade de impugnar a decisão, requerendo ao juiz do
tribunal a quo que admita o recurso (art. 637.ºn.º 1).

O requerimento (de recurso) deve indicar (art.º 637.º):

A espécie, efeito e modo de subida;

E,
conter, obrigatoriamente, a alegação do recorrente, em cujas
conclusões deve ser indicado, o fundamento específico de
recorribilidade, isto é a razão da especial admissibilidade do recurso
( situações previstas nos nºs 2 e 3 do art.º629.º, nº 2 do art.º 671.º,
672.º, 688.º Sempre que este fundamento consista na invocação de
um conflito jurisprudencial, o recorrente deve juntar, sob pena de
rejeição, cópia do acórdão fundamento.
Não vemos razão para que a indicação do fundamento específico de
recorribilidade não seja efectuada de preferência no início do
requerimento de interposição, que é dirigido ao juiz que proferiu a
decisão, ao passo que as conclusões do recurso têm, essencialmente,
como destinatário o tribunal ad quem.

Como já sublinhamos, o recorrente pode, no requerimento de


interposição do recurso, limitar ou restringir o âmbito objectivo ou
subjectivo do recurso.

3.2 Prazo de interposição do recurso

Como regra o prazo de interposição de recurso é de 30 dias, a contar


da notificação da decisão.

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Nos processos urgentes, nas situações previstas no nº 2 do art.º 644.º


(apelação de decisões interlocutórias), e art.º 673.º (revista de decisões
interlocutórias), o prazo é reduzido para 15 dias ( art.º 638.º nº1).
(685.º, n.º1)
Se o recurso tiver por objecto a reapreciação da prova gravada, ao
prazo de interposição do recurso e de resposta acrescem 10 dias (n.º 7 art.
638.º).

Nos recursos extraordinários importa ter em conta os seguintes


prazos:
Recurso para uniformização de jurisprudência: 30 dias a contar do
trânsito em julgado do acórdão recorrido (689.º)
Recurso de revisão: Regra geral 60 dias, a contar dos momentos a
que alude o nº 2 do art.º 697.º
Acresce que o recurso, por regra, não pode ser interposto se tiverem
decorrido mais de 5 anos sobre o trânsito em julgado da decisão, salvo se
disser respeito a direitos de personalidade (697.º n.º1).
Cabe ter presente que os prazos em causa são prazos processuais
peremptórios – pelo que á aplicável o regime previsto nos artigos 139.º,
140.º e 141.º.

3.3 Momento de interposição do recurso

A regra geral, já o sublinhamos, está referida no n.º 1 do artigo 685.º.


O dies a quo é o da notificação da decisão. No entanto, com a reforma do
sistema recursório de 2007, ganhou enorme relevância a distinção
estabelecida no artigo 644.º entre decisões interlocutórias (nºs 2 e 3) pois
algumas destas decisões só podem ser impugnadas no recurso que venha a
ser interposto da decisão final (n.º 3 do artigo 691.º). Não havendo recurso
da decisão final cabe ao interessado manifestar o seu interesse na
impugnação da decisão interlocutória, interposto após o trânsito daquela
decisão (final).

O requerimento de interposição de recurso, já o dissemos, deve


conter, separadamente, a alegação do recorrente ( art.º 637.º nº 2),
cumprindo este, logo nesse momento, o importante ónus de alegar e
formular conclusões, estatuído no artº 639.º. Separadamente, pois as
alegações de recurso não tem como destinatário o juiz que proferiu a
decisão.

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O requerimento de interposição é dirigido ao tribunal a quo, as


alegações nele contidas têm como destinatários os julgadores do Tribunal
ad quem.

3.4 Alegações de recurso

As alegações de recurso constituem a exposição dos fundamentos,


ou motivos da impugnação, traduzem as razões pelas quais o recorrente
pede a alteração ou anulação da decisão ( art.º 639.º, nº 1).

Estas razões podem dizer respeito à matéria de facto e/ou à matéria


de direito. Dizem respeito à matéria de facto sempre que o recorrente
impugna as decisões proferidas sobre a prova produzida, sobre os factos
julgados como provados e não provados. Respeitam à matéria de direito
sempre que o recorrente manifeste a sua discordância quanto à
interpretação e aplicação das normas jurídicas.

Em qualquer caso, o recorrente deve formular conclusões, ou seja


terminar as alegações com a indicação sintética dos fundamentos do
recurso (nº1 art.º 639.º). Sempre que estas conclusões se apresentem
deficientes, obscuras, complexas ou insuficientes por faltas de
especificações legais, o relator (juiz do tribunal ad quem) deve convidar o
recorrente a completá-las, esclarecê-las, ou sintetizá-las, no prazo de 5 dias,
sob pena de se não conhecer do recurso, na parte correspondente ( nº 3, art.º
639.º). Note-se que em caso de falta de conclusões não pode haver lugar à
prolação de despacho convite, mas sim ao indeferimento do requerimento
de interposição de recurso ( art.º 641.º, nº 2 al. b).

As conclusões devem constituir uma verdadeira síntese das razões


invocadas e não, como na prática muitas vezes sucede, uma repetição de
toda a argumentação contida nas alegações.18

18
Vide a propósito o Acórdão do STJ de 18-06-2013, processo nº 483/08.0TBLNH.L1.S1 (GARCIA
CALEJO), assim sumariado: “ I - O recorrente deve terminar as suas alegações de recurso com conclusões
sintéticas (onde indicará os fundamentos por que pede a alteração ou anulação da decisão recorrida).II -
Essas conclusões devem ser idóneas para delimitar de forma clara, inteligível e concludente o objecto do
recurso, permitindo apreender as questões de facto ou de direito que o recorrente pretende suscitar na
impugnação que deduz e que o tribunal superior cumpre solucionar. III - Não devem valer como
conclusões arrazoadas longas e confusas em que se não discriminam com facilidade as questões
invocadas. IV - No caso, o recorrente não reduziu a complexidade nem a inteligibilidade das alegações.
Além disso, em grande parte das chamadas conclusões, introduz matéria não referenciada no corpo das
alegações, o que significa que essas apeladas conclusões extravasam a matéria do alegado.V - Porque o
recorrente não cumpriu o ónus que lhe é imposto pelo dito art. 685.º-A, n.º 1, do CPC (apresentar
conclusões sintéticas), o douto acórdão recorrido merece confirmação.”

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3.4 Notificação ao recorrido e alegações do recorrido.

A interposição do recurso deve, naturalmente, ser notificada à parte


recorrida e, sendo caso disso, à co-parte vencedora. Estando em causa uma
acto processual em que a constituição de advogado é obrigatória ( art.º 40.º
, nº 1 al. c) a notificação é efectuada pelo mandatário do requerente ao
mandatário do requerido, nos termos dos arts 221.º e 255.º, cabendo àquele
demonstrar o cumprimento deste dever, sempre que não houver lugar à
certificação informática, como sucede na interposição de recuso para o STJ

O recorrido após a notificação do requerimento de interposição do


recurso pode responder à alegação do recorrente em prazo idêntico ao da
interposição (638.º, n.º 5). Na sua alegação o recorrido para além de
responder às motivações do recurso pode impugnar a admissibilidade ou a
tempestividade do recurso e a legitimidade do recorrente (art. 638.º, nº 6).

3.5 Despacho liminar

Findos os prazos concedidos às partes (para a interposição do recurso


e resposta) o juiz do tribunal a quo deve emitir um despacho sobre o
requerimento de interposição ( art.º 641.º)

De rejeição

O juiz, nos termos do artigo 641.º, n.º 1, deve indeferir o requerimento


de recurso quando:

- A decisão seja irrecorrível;


- O requerimento seja intempestivo;
- O recorrente não tenha legitimidade;
- O requerimento não contenha ou junte a alegação do recorrente, ou a
alegação não tenha conclusões

Em caso de rejeição do recurso, ou de retenção do mesmo ( recusa de


subida imediata) o recorrente pode reclamar, no prazo de 10 dias, para o
tribunal que seria competente para conhecer do recurso (arts 641.º, nº 7 e
643.º).
A reclamação a apresentar na secretaria do tribunal recorrido deve ser
dirigida ao tribunal superior (art.º 643.º, nº 3). Após a sua distribuição e
apresentação ao relator, este deve decidir a mesma no prazo de 10 dias.

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Trata-se de uma reclamação sui generis pois, como sabemos, o que


caracteriza por regara a reclamação

De admissão

Se não houver motivo para rejeição, o juiz admite o recurso, indica a


espécie e o efeito que lhe compete - 641.º n.º 5 .
Este despacho, que não é susceptível de impugnação ( autónoma) ,
excepto na situação prevista no nº 3 do artigo 306.º (impugnação da decisão
de admissão que, simultaneamente, fixa o valor da causa), não produz caso
julgado formal. O tribunal ad quem não fica vinculado à decisão do juiz do
tribunal a quo ( art. 641.º, n.º 5), ou seja pode rejeitar o recurso ou o efeito
atribuído.
Note-se que o despacho de admissão de recurso que fixa a espécie e
efeito não pode ser objecto de impugnação autónomo, mas pode ser
impugnado nas próprias alegações de recurso.

Convite ao aperfeiçoamento.

Considerando o princípio geral da prevalência da substância sobre a


forma, o dever de gestão processual ( art.º 6.º) e da cooperação ( 7.º) , o juiz
fora dos casos em que a lei impõe o indeferimento deve convidar as partes
a corrigir/esclarecer o requerimento de interposição.

3.6 Efeitos da interposição de recurso

Interposto o recurso há sempre (no recurso ordinário) um efeito a


considerar – o efeito devolutivo ou seja a decisão recorrida é devolvida ao
tribunal superior. Traduz-se na atribuição ao tribunal superior, do poder de
rever a decisão e de a poder revogar.

Para além do efeito devolutivo o recurso pode ter (ou não) efeito
suspensivo, pode suspender quer a marcha do processo, quer a eficácia da
decisão recorrida.
Se ao efeito devolutivo não acrescer o suspensivo – diz-se que o
recurso tem efeito meramente devolutivo.

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Na apelação, a interposição de recurso tem, por regra, efeito


meramente devolutivo ou seja não suspende os efeitos da sentença ( nº 1,
647.º).

Assim não sucede, ou seja haverá efeito suspensivo da eficácia da


decisão ( nºs 2, 3 e 4) na apelação :

(i) Da decisão que ponha termo ao processo em acções sobre o


estado das pessoas.

O estado das pessoas ( casado, divorciado, parente, afim, ,


capaz, incapaz, insolvente, etc) não pode ficar condicionado,
ou dependente das vicissitudes dos processos judiciais.
Careceria certamente de sentido que, por exemplo, a sentença
que decreta o divórcio ou a interdição produzisse todos os
seus efeitos independentemente do seu trânsito em julgado e,
posteriormente, face à procedência do recurso fosse
necessário destruir aqueles efeitos e os actos eventualmente
praticados na sequência dos mesmos.

(ii) Da decisão que ponha termo ao processo nas acções que


digam respeito ao arrendamento para habitação permanente,
ou à posse ou propriedade de casa de habitação.

Estando em causa um direito tão relevante como o direito à


habitação, importa afastar os riscos de afectação do mesmo
por decisões que, à posterior, se venha a verificar não serem
as melhores ou mais consentâneas com os interesses
merecedores da tutela legal. O risco de prejuízos irreversíveis
ou de difícil reparação decorrentes da imediata execução das
decisões, impõe a atribuição do efeito suspensivo.

(iii) Das decisões respeitantes ao valor da causa nos


procedimentos cautelares, com o fundamento de que o seu
valor excede a alçada do tribunal que se recorre.

(iv) Do despacho de indeferimento do incidente processado por


apenso

(v) Do despacho que indefira liminarmente ou não ordena a


providência cautelar.

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A natureza urgente dos procedimentos cautelares, justificada


pelo escopo de se afastarem danos de difícil ou impossível
reparação ou o seu agravamento, resultantes da demora natural
das acções, explica que o recurso das decisões referidas tenha
sempre efeito suspensivo

(vi) Da decisão que condene em multa ou comine outra sanção


processual

(vii) Da decisão que ordene o cancelamento de qualquer registo

(viii) Nos demais casos previstos na lei.

Fora das situações em que a lei atribui efeito suspensivo ao recurso


de apelação, o recorrente poderá alcançar o mesmo efeito se assim o
requerer, ao interpor recurso desde que, cumulativamente (art.º 647.º, nº 4):

a) A execução da decisão lhe cause prejuízo considerável;


b) Se ofereça para prestar caução e a preste no prazo fixado pelo
tribunal

Quanto aos demais recursos:

Na revista, a interposição de recurso só tem efeito suspensivo em


questões sobre o estado de pessoas, podendo o requerido, nesse caso, exigir
a prestação de caução ( art.º 676.º).
O recurso para uniformização de jurisprudência (art.º 693.º) e o
recurso de Revisão ( 699.º), têm efeito meramente devolutivo

4. Expedição (subida) do recurso

A subida do recurso para o tribunal ad quem pode revestir várias


modalidades, a saber.

(i) Subida imediata - quando os autos do recurso são expedidos


ao tribunal ad quem logo após a sua admissão.
(ii) Subida deferida - Quando a expedição do recurso fica (em
regra) dependente da subida (eventual) de um outro recurso à
posteriori.

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(iii) Subida nos próprios autos - Quando todo o processo é


remetido ao tribunal ad quem.
(iv) Subida em separado - Quando se elaboram autos autónomos
remetendo-se para o tribunal superior “apenas” parte do
processo.

Sobem nos próprios autos:

As apelações (art.º 645.º):

a) Das decisões que ponham termo ao processo ( art.º 644.º,


nº1, al.a)
b) Das decisões que suspendam a instância ( )
c) Das decisões que indefiram o incidente processado por
apenso;
d) Das decisões que indefiram liminarmente ou não ordenem a
providência cautelar.

As revistas ( art.º 675.º)

Do acórdão da Relação, proferido sobre decisão da 1º


instância, que conheça do mérito da causa ou que ponha termo ao
processo, absolvendo da instância o réu ou algum dos réus quanto a
pedido ou reconvenção deduzidos.

II
Dos recursos em especial

5. Apelação (arts 644.º a 670.º)

5.1 Objecto do recurso

Após a revisão do sistema recursório português ( 2008) , a apelação


passou a ser o único recurso admissível das decisões proferidas pelo
tribunal de primeira instância.

Na verdade aspecto essencial daquela profunda reforma do sistema


português, foi o apregoado abandono do modelo dualista (apelação/agravo)
pelo modelo monista (apelação). De acordo com aquele primeiro modelo, a
apelação tinha por objecto as decisões de primeira instância que conheciam

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do mérito da causa, ao passo que o agravo, por regra, cabia das decisões
em que o tribunal decidia “apenas” sobre a relação processual.

Não aplaudimos a mudança 19 e como A. Ribeiro Mendes20, não


resistimos, a sublinhar as seguintes palavras de Teixeira de Sousa:

“ … a simplificação obtida através da unificação do antigo agravo


com a nova apelação e a nova revista é, em si mesma, mais teórica do que
prática, dado que a supressão dessa dualidade não conseguiu suprimir a
distinção entre os recursos interpostos das decisões interlocutórias e os
recursos interpostos das decisões finais. A prática encarregar-se-á de
demonstrar que, em relação ao regime anterior, a diferença é mais nominal
do que substancial” 21

Importa distinguir quatro grupos de decisões do tribunal de 1ª


instância.

(i) No primeiro agrupam-se

a) As decisões proferidas em 1ª instância que ponham termo à


causa ou a procedimento cautelar ou incidente processado
autonomamente. (art. 691.º, n.º 1, al.a).

Exemplos:

- Absolvição do réu da instância;


- Absolvição ou condenação do réu;
- Deferimento ou recusa do procedimento cautelar ( art.º
368.º).
- Decisão de procedência ou improcedência da oposição
mediante embargos de terceiro (arts 342 e segs)

b) Os despachos saneadores que, sem pôr termo ao processo,


decidem do mérito da causa, ou absolvam da instância o réu
ou algum dos réus quanto a algum ou alguns dos pedidos.

Exemplos
19
A propósito dos sistemas dualistas e monista, da eliminação dos recursos de agravo na reforma de 2007,
vide A. Ribeiro Mendes in As Recentes Reformas …, ob. cit. págs. 273 e segs
20
Idem pág. 326
21
Reflexões sobre a reforma dos recursos em processo civil in Cadernos de Direito Privado, n.º 20 (2007)
págs. 13

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- Despacho que julga improcedente a excepção de


caducidade ou prescrição invocada pelo réu;
- Saneador sentença que absolve o réu do pedido principal,
mantendo-se a instância para apreciação do pedido
subsidiário;
- Despacho que julga procedente a excepção de
ilegitimidade invocada por um dos réus e o absolve da
instância.

(ii) No segundo, agrupam-se as decisões interlocutórias referidas


nas diversas alíneas ( a) a h), do n.º 2 do art.º 644.º

Exemplo:

- Decisões cuja impugnação com o recurso da decisão final


seria absolutamente inútil ( alínea m)22

(iii) No terceiro, os casos expressamente previstos na lei (alínea i)


do nº 2 do art. 644.º).

Exemplos:

(iv) No quarto, as decisões interlocutórias (só) susceptíveis de ser


impugnadas no recurso interposto das decisões referidas em (i)
(n.º 3 do art. 644.º).

Exemplos:

22
A propósito, vide a decisão da Relação de Lisboa de 16.10.2009 (Relator Luís Correia Mendonça),
assim sumariada “1.O novo regime dos recursos, aprovado pelo DL n.º 303/2007, de 24 de Agosto,
apenas admite, como regra, a impugnação diferida e concentrada das decisões interlocutórias, com o
recurso interposto da decisão final ou em recurso único, interposto depois do trânsito daquela decisão
final. 2. Casos há, porém, em que se continua a admitir o recurso autónomo dessas decisões, como
acontece com o recurso das decisões cuja impugnação com o recurso da decisão final seria absolutamente
inútil (art. 691.º nº 2, alínea m), CPC). 3. Perante o disposto na alínea f) do n.º 2, do artigo 691.º, CPC,
passa a ser residual a possibilidade de haver absoluta inutilidade com a impugnação apenas no recurso da
decisão final. 4. O requisito da absoluta inutilidade deve continuar a significar que a falta de autonomia
do recurso interlocutório deverá traduzir-se num resultado irreversível quanto a esse recurso, não
bastando uma mera inutilização de actos processuais, ainda que contrária ao princípio da economia
processual. (Sumário do Relator)”

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- Despacho que julga improcedente excepções dilatórias


(com exclusão da matéria da competência absoluta,
abrangida no 2.º grupo);

Não havendo recurso da decisão final, as decisões


interlocutórias que tenham interesse para o apelante
independentemente daquela decisão podem ser impugnadas num
recurso único, a interpor após o trânsito da referida decisão. ( n.º 4
art.,º 644.º)

5.2 Fundamentos do recurso de apelação

Quanto aos possíveis fundamentos do recurso de apelação , importa


distinguir: (i) a violação da lei; (ii) do erróneo julgamento de matéria de
facto

(i) Violação da Lei

Na violação da lei inclui-se, naturalmente, a violação da lei


substantiva e a violação da lei processual.
Quanto à violação da lei substantiva e de acordo com o art.º 674.º, ( a
propósito do recurso de revista) a mesma pode consubstanciar-se no erro de
interpretação, de aplicação ou na determinação da norma aplicável, o
mesmo pode naturalmente afirmar-se quanto à lei processual.

Seguindo a lição do Professor Miguel Teixeira de Sousa pode


distinguir-se, na violação da lei, o erro na previsão do erro na estatuição.

Quanto ao erro na previsão podem considerar-se duas situações:

- Erro de qualificação, que pode ocorrer na fase anterior ao


julgamento da matéria de facto.
- Erro de subsunção, que pode ocorre após o julgamento da
matéria de facto, quando o tribunal integra na previsão de uma
norma um determinado facto ou situação que a mesma não
compreende.

Já o erro na estatuição, traduz um erro de aplicação da norma que


resulta de um mau entendimento das consequências impostas pela mesma.

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(ii) Erróneo julgamento da matéria de facto

Quanto ao erro no julgamento da matéria de facto, cabe distinguir o


direito probatório material do direito probatório formal. O direito
probatório formal integra o conjunto de normas que regulam a apresentação
e produção da prova em juízo, arts 410º a 526.º do CPC. O direito
probatório material, por sua vez integra o conjunto de normas que regulam,
o âmbito do objecto de prova, repartição do ónus da prova, admissibilidade
dos meios de prova e a valorização dos meios de prova.

Tipos de erros quanto ao julgamento da matéria de facto:

Erro de apreciação da prova:

- Erro sobre a admissibilidade da prova . O julgador socorre-se


de um meio de prova que o legislador proíbe. Por exemplo:
354.º CC, inadmissibilidade da confissão.

- Erro sobre a valoração dos meios de prova. O julgador viola


uma disposição que atribui determinada força probatória. Por
exemplo 371.º do CC, as escrituras provam plenamente as
declarações emitidas perante o notário. Assim não o
entendendo, ou atribuindo força probatória a tais documentos
sobre os factos declarados, ocorrerá um erro de valoração.

- Erro na avaliação, ponderação da prova. Por exemplo, o


julgador considera provado um facto com base no depoimento
de uma testemunha, quando, objectivamente, a testemunha
depôs em sentido contrário.

Erro sobre a fixação dos factos:

Erro na selecção dos factos que integram o objecto probatório -


erro que se traduz na indicação dos temas da prova.

5.2.1 Das alegações do recorrente e em especial do ónus do recorrente


que impugna o julgamento da matéria de facto.

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No recurso de apelação, ao contrário do que sucede com o recurso de


revista, o recorrente tem uma grande margem de impugnação do
julgamento da matéria de facto. Sendo certo que quanto a este julgamento
não há propriamente uma segunda instância, não deixa de ser verdade que
no actual sistema recursório, as reais possibilidade de o recorrente lograr
obter uma censura daquele julgamento têm vindo a alargar-se.

Caso o recorrente pretenda impugnar a decisão sobre a matéria de


facto, na elaboração das suas alegações deverá dar cumprimento ao ónus
imposto no art.º 640.º, segundo o qual ao mesmo cabe especificar sob pena
de rejeição:

a) Os concretos pontos de facto que considera incorrectamente


julgados

Ou seja, não bastará que o recorrente manifeste a sua genérica


discordância com o julgamento da prova. Não cumprirá o ónus
imposto, o recorrente que se limite a alegar que o “ julgamento da
prova foi errado”, que o tribunal “devia julgar como não provada
a factualidade que integra a causa de pedir do autor ou as
excepções invocadas pelo réu”, etc.

Ao recorrente impõe-se que indique concretamente quais os


factos dados como provados ou não provados, que no seu
entender deviam, respectivamente ser dados como não provados
ou provados.

Com a eliminação da base instrutória e a sua substituição pela


enunciação dos temas da prova (art.º 596.º), o cumprimento deste
ónus pode revelar-se mais difícil, tudo dependendo dos termos em
que na sentença se concretizar aquele julgamento. Nesta e
conforme o disposto no art.º 607.º, nº 3, o juiz deve discriminar os
factos que considera provados e quais os que julga não provados.
É pois, partindo deste discriminação que o recorrente deverá dar
cumprimento ao ónus estatuído no art.º 607.º.

b) Os concretos meios probatórios, constantes do processo ou do


registo ou gravação nele realizada, que imponham decisão sobre
os pontos da matéria de facto impugnados diversa da requerida.

Ao recorrente impõe-se que indique concretamente os meios de


prova que permitem concluir pelo erro de julgamento da matéria

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de facto, nas bastando, referir, por exemplo que “da prova


apresentada pelo recorrente, não pode deixar de se concluir que os
factos invocados deviam ter sido dados como provados”.

Sempre que os meios probatórios indicados, especificadamente,


pelo recorrente, tenham sido gravados, incumbe ao recorrente,
sob pena de rejeição do recurso nessa parte, “indicar com
exactidão as passagens da gravação em que se funda o seu
recurso”, podendo se assim o entender conveniente, proceder à
transcrição dos excertos ou passagens da gravação que considera
relevantes. A indicação das passagens da gravação deve ser feita,
por referência às informações, obrigatoriamente, constantes da ata
da audiência de julgamento, referentes ao momento do início e do
termo de cada depoimento ( art.º 155.º n.º 1).23

c) A decisão que, no seu entender (do recorrente) deve ser proferida


sobre as questões de facto impugnadas.

Ao recorrido, conforme resulta da alínea b) do nº 2 do art.º 640.º,


incumbe designar os meios de prova que infirmem as conclusões do
recorrente e, no caso de os depoimentos tiverem sido gravados, indicar com
exactidão as passagens da gravação em que se funda e proceder, querendo à
transcrição dos excertos que considere importantes.

Ao elaborar as suas alegações, o recorrente não pode deixar de ter


pressente o princípio fundamental da livre apreciação da prova, de acordo
com o qual o julgador deve decidir sobre a matéria de facto segundo a sua
prudente convicção e não de acordo com qualquer valoração prévia dos
diferentes meios de prova24, pelo que, não estando em causa um erro
quanto à admissibilidade dos meios de prova ou um erro de valoração, a
censura do julgamento será sempre mais difícil de alcançar.25
23
Cfr a propósito o Ac. da RL de 14-03-2013, processo nº 20079/12.1YIPRT.L1-2 (MARIA JOSÉ MOURO),
assim sumariado: ” I – A falta de indicação exacta das passagens da gravação em que o recorrente que
impugna a decisão da matéria de facto se funda, quando tenha sido executada pela secretaria a
identificação precisa e separada dos depoimentos, implica a imediata rejeição do recurso no que concerne
à reapreciação da matéria de facto…”
24
A propósito, entre outros, o nosso Direito Processual Civil Declarativo, Quid Juris, 2013, pág. 44
25
Cfr. a propósito, das dificulades referidas o recente Ac. da RL de 24.01.2013, processo nº
3767/06.9TJLSB.L1-2 (JORGE VILAÇA) , que ilustra bem o entendimento dominante nos tribunais
superiores. Pode ler-se, neste acórdão o seguinte: “ O apelante pretende a alteração da decisão sobre a
matéria de facto no que respeita aos artigos 7º a 9º e 29º e 30º da petição inicial, com base nos
depoimentos das testemunhas “E” e “F”, e artigo 9º da contestação da ré, com base no relatório pericial de
fls. 247. Nos termos do artigo 712 do Código de Processo Civil, a decisão do tribunal da 1ª instância
sobre a matéria de facto só pode ser alterada pela Relação nos casos nele previstos. Os autos contêm todos

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Esta censura, porém, justificar-se-á sempre que da fundamentação do


julgamento e da concreta apreciação dos meios de prova a efectuar pela

os elementos de prova que serviram de base à decisão sobre a matéria de facto, nomeadamente contém a
gravação dos depoimentos prestados em audiência. Encontram-se, assim, verificados os pressupostos
processuais legais para a reapreciação da prova (artºs 712º, n.º 1, alínea a) e b), e 690º-A, ambos do
Código de Processo Civil).
A impugnação da decisão sobre a matéria de facto é efectuada com fundamento nos depoimentos de
testemunha e no relatório pericial. Nos termos do artigo 655º, n.º 1, do Código de Processo Civil, o
tribunal aprecia livremente as provas produzidas, decidindo o Juiz segundo a sua prudente convicção
acerca de cada facto. Tal preceito consagra o princípio da prova livre, o que significa que a prova
produzida em audiência (seja a prova testemunhal ou outra) é apreciada pelo julgador segundo a sua
experiência, tendo em consideração a sua vivência da vida e do mundo que o rodeia. De acordo com
Alberto dos Reis prova livre “quer dizer prova apreciada pelo julgador segundo a sua experiência, sem
subordinação a regras ou critérios formais preestabelecidos, isto é, ditados pela lei” (Código de Processo
Civil, Anotado, vol. IV, pág. 570).Também temos de ter em linha de conta que o julgador deve “tomar em
consideração todas as provas produzidas” (art.º 515º do Código de Processo Civil), ou seja, a prova deve
ser apreciada na sua globalidade. “A prova testemunhal, atenta a sua falibilidade, impõe cuidados
acrescidos na sua avaliação afim de poder ser devidamente valorada. Ponderando este princípio da prova
livre deve o julgador motivar os fundamentos da sua convicção, por forma a permitir o controlo externo
das suas decisões.” (Acórdão da Relação do Porto no processo 5592/04, 5ª secção – Relator:
Desembargador Sousa Lameira). A partir destes princípios passaremos a analisar a situação concreta.
De acordo com a fundamentação da decisão, o tribunal formou a sua convicção para responder aos artigos
em causa e objecto da presente impugnação nos depoimentos das testemunhas e no depoimento do réu.
Depois de analisados todos os depoimentos prestados em audiência de discussão e julgamento e que se
encontram gravados em suporte digital, consideramos não existirem razões para alterar a decisão sobre a
matéria de facto. O depoimento da testemunha “E”, casada com o autor, com um interesse, ainda que não
do ponto de vista processual, semelhante ao dos réus, não pode ser valorado de forma isolada, pelo que o
mesmo perante os demais depoimentos e perante os documentos (cheques a que se referem os autor) não
justifica a alteração da decisão de facto. Com efeito, os depoimentos juntamente com os cheques juntos
aos autos valorados no seu conjunto revelam que a decisão quanto às respostas dadas aos artigos e
questionadas nos autos foi a adequada. O depoimento do réu, ainda que não contendo matéria confessória,
revela-se em consonância com o depoimento produzido pela testemunha “F” e com os documentos dos
autos. No que respeita ao relatório pericial o mesmo não justifica qualquer alteração à decisão sobre a
matéria de facto, porquanto se trata de um relatório inconclusivo, na medida em que as conclusões de
“pode não ter sido”, “pode ter sido” e “provável”, não permitem extrair com segurança se as assinaturas
em causa foram ou não escrita pela pessoa a quem são imputadas. Tal significa que o relatório
isoladamente não permite concluir por uma ou outra versão dos factos, sem recurso aos demais meios de
prova produzidos nos autos. Consideramos, assim, que a decisão da matéria de facto valorizou
devidamente os depoimentos prestados em audiência de julgamento, juntamente com os documentos em
que fundamentou tal decisão. Por tal razão, a decisão sobre a matéria de facto não merece censura. Cabe
referir, por último, que os depoimentos não têm que ser produzidos de forma mecânica e automática e não
têm que descrever o conteúdo exacto dos factos alegados, apenas têm que permitir dos mesmos extrair a
factualidade dada como provada, ainda que se utilizando expressões diversas.Importa recordar que a
gravação sonora não permite captar todos os elementos que influenciaram a decisão do julgador.
Na verdade, as testemunhas por vezes têm reacções e comportamentos que apenas podem ser
percepcionados e valorados por quem os presencia, não sendo possível ao Tribunal da Relação através da
gravação (ou transcrição) reapreciar o processo como o julgador formulou a sua convicção.
“Há, na verdade, uma profunda diferença entre a posição do Juiz que, dirigindo a audiência, assiste à
prestação dos depoimentos, ouvindo o que as testemunhas dizem e vendo como se comportam enquanto
ouvem as perguntas que lhes são feitas e a elas respondem, e a outra, bem diversa, daquele que apenas
tem perante si a transcrição, nas alegações, do teor dos depoimentos e a possibilidade de ouvir as
respectivas gravações sonoras” (cfr. Miguel Teixeira de Sousa, “Estudos dobre o Novo Código de
Processo Civil”, LEX, 1997, págs. 399-400; António Abrantes Geraldes, “Temas da Reforma do Processo
Civil”, vol. II, 2ª ed., págs. 270-271; Acórdão do STJ de 19-04-2001, procº. n.º 435/01; e Acórdão do STJ
de 12-03-2002, procº. n.º 697/01). O Juiz da 1ª instância é quem se encontra na melhor situação para
avaliar e decidir quanto ao valor a atribuir a determinado depoimento. Essencial é o modo e a forma como
os factos provados ou não provados se encontram fundamentados. Os depoimentos das testemunhas
foram acompanhados de elementos visuais que a gravação não consegue transmitir.”

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Relação, se possa concluir pela existência de erros no julgamento,


incompreensão da decisão proferida, ou ainda quando ao tribunal ad quem
seja possível formar uma diferente convicção. Esta última possibilidade,
que dispensa a existência de erros manifestos, tem vindo a ser admitida
nos tribunais superiores, com base na ampliação dos poderes da Relação
que tem vindo a caracterizar as mais recentes reformas processuais e que
culminou na actual redação do art.º 662.º.

A titulo de exemplo, sublinha-se o Ac. STJ de 16.10.2010, processo


2401/06.1 TBLLE E1.S1( GARCIA CALEJO) assim sumariado, para o que aqui
releva:

“... V - Quando exista gravação dos depoimentos prestados em


audiência, a Relação reapreciará e reponderará a prova produzida sobre que
assentou a decisão impugnada, atendendo aos elementos indicados, de
modo a formar a sua própria convicção. Só assim se assegurará o duplo
grau de jurisdição. VI - A reapreciação da prova que compete à Relação
deve ultrapassar o mero controlo formal da motivação da decisão da 1.ª
instância em matéria de facto, pelo que tendo o recorrente indicado os
depoimentos em que funda a sua pretensão de alteração da matéria de facto,
transcrevendo inclusivamente o teor desses testemunhos, cabe ao tribunal
proceder a uma análise e observação deles e de outros elementos de
probatórios, para formar a sua própria convicção (art. 655.º do CPC).VII -
Não tendo o tribunal a quo procedido a uma correcta reavaliação da matéria
de facto, procurando a sua própria convicção, não cumpriu o que estipula
sobre o tema o disposto no art. 712.º, n.º 2, do CPC, não se tendo
assegurado o duplo grau de jurisdição, pelo que é de anular o acórdão
recorrido e determinar que os autos baixem à Relação para que proceda à
reapreciação da matéria de facto impugnada. “ Sublinhados nossos. As
legais do texto reportam-se ao anterior CPC.

Bem como o Ac STJ de 14.02.2012 processo nº 6823/09.3TBBRG.G1.S1 (


ALVES VELHO), assim sumariado:

“ No uso dos poderes relativos à alteração da matéria de facto,


conferidos pelo art. 712º do CPC, a Relação deverá formar e fazer reflectir
na decisão a sua própria convicção, na plena aplicação e uso do princípio
da livre apreciação das provas, nos mesmos termos em que o deve fazer a
1ª Instância, sem que se lhe imponha qualquer limitação, relacionada com

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convicção que serviu de base à decisão impugnada, em função do princípio


da imediação da prova.”26

5.3 Da tramitação e julgamento do recurso no tribunal ad quem

Uma vez admitido o recurso e enviado o mesmo para o tribunal


superior, procede-se à sua distribuição, nos termos do arts 213.º e segs.
Nas Relações e no Supremo a distribuição é feita diária e automaticamente,
por meios electrónicos. Os mandatários judiciais podem obter informação
acerca do resultado da distribuição, através da página informática de acesso
público do Ministério da Justiça (art.º 204.º n.º 3).
Sublinha-se que se tiver de ser proferida nova decisão no tribunal
recorrido, em consequência de anulação ou revogação da decisão recorrida
ou ainda da determinação da baixa do processo para ampliação da decisão,
e da mesma for interposta e admitida nova apelação ou revista, o recurso é,
sempre que possível distribuído ao mesmo relator (art. 218.º).

O juiz a quem for distribuído o processo fica a ser o relator,


incumbindo ao mesmo deferir todos os termos do recurso, designadamente
praticar os actos elencados no nº 1 do art.º 652.º.

É ao relator que cabe, entre outros actos:

- Corrigir o efeito atribuído ao recurso e o respectivo modo de


subida;
Se o relator entender que deve alterar-se o efeito do recurso, deve
ouvir as partes - ou apenas a parte contrária que não tenha tido

26
Neste acórdão pode ler-se “3. 5. - Resta, respondendo mais concretamente à objecção da Recorrente no
sentido de que “os princípios da imediação e da oralidade devem prevalecer no julgamento da matéria de
facto”, dizer, como no recente acórdão de 10-01-2011 (proc. n.º 1452/04.5TVPRT.P1.S1), em que o ora
relator interveio como 1º adjunto, que “é fácil verificar que foi intenção do legislador, aliás
expressamente confessada no relatório do DL. 39/95 e reafirmada no preâmbulo do DL 329-A/95, criar
um verdadeiro duplo grau de jurisdição em sede de matéria de facto … desiderato (que) só pode ser
completamente conseguido se a Relação, perante o exame e análise crítica das prova produzida a respeito
dos pontos de facto impugnados, puder formar a sua própria convicção (coincidente ou não com a
formada pelo julgador da 1ª instância), no gozo pleno do princípio da livre apreciação da prova, sem
estar, de modo algum, limitada pela convicção que serviu de base à decisão recorrida.
(…) O que a Relação não deve é limitar-se a procurar determinar se a convicção (alheia) formada pelo
julgador da 1ª instância tem suporte na gravação, ou limitar-se a apreciar, genericamente, à
fundamentação da decisão de facto, para concluir, sem base suficiente, não existir erro grosseiro ou
evidente, na apreciação da prova, tudo em homenagem ao princípio da imediação das provas, erigido em
princípio absoluto (…). Uma tal prática impede o real controlo da prova pela 2ª instância, transformando
a garantia do duplo grau de jurisdição em sede de matéria de facto numa garantia puramente virtual,
praticamente inútil”.

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oportunidade de se pronunciar - antes de decidir, no prazo de


cinco dias (art. 654.º).

- Convidar as partes a aperfeiçoar as conclusões das alegações;

- Verificar se alguma circunstância obsta ao conhecimento do


recurso.
Se o relator entender que não pode conhecer do objecto do
recurso, deve ouvir as partes, antes de decidir, pelo prazo de 10
dias, (art.º 655.º)

- Julgar sumariamente o objecto de recurso, em decisão liminar,


atenta a simplicidade do mesmo (arts 652.º,nº 1, al. c) e 656.º).
A questão a decidir pode considerar-se simples: a) quando a
mesma já foi jurisdicionalmente apreciada de modo uniforme e
reiterado; b) quando o recurso é manifestamente infundado.

Das decisões do relator pode reclamar-se para a conferência (órgão


colegial composto por 3 juízes – o juiz relator e dois juízes adjuntos),
conforme estatui o art.º . 652.º, n.º 3.
Só não será assim quanto à decisão do relator que não admita ou
retenha o recurso (interposto do acórdão proferido), pois nesse caso o
recorrente poderá reclamar para o tribunal que seria competente para dele
conhecer, ou seja para o Supremo Tribunal de Justiça.

Do acórdão da conferência, a parte que se considera prejudicada


pode (art.º 652.º, n.º 5):
a) Reclamar, da decisão proferida sobre a competência relativa da
Relação, para o presidente do Supremo Tribunal de Justiça
b) Recorrer, nos termos gerais.

Não se verificando as situações previstas no art.º 656.º (caso em que


o juiz relator pode proferir decisão sumária) e no art.º 655.º ( não
conhecimento do objecto do recurso), e decididas as questões prévias que
o processo possa suscitar, o relator deverá elaborar um projecto de acórdão
no prazo de 30 dias ( art.º 657.º).
Elaborado o projecto de acórdão o processo vai com vista simultânea
aos dois juízes- adjuntos, pelo prazo de 5 dias, nos termos dos n.º 2 e 3 do
artigo 657.º. Os vistos podem ser dispensados quando a natureza das
questões em causa ou a necessidade de celeridade do julgamento o
aconselhem ( n.º 4), como sucede no caso de procedimentos cautelares.

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Com a revisão de 2007, a vista do processo aos juízes-adjuntos passou a ser


antecedida da elaboração do projecto de acórdão. Ganhou-se celeridade
com risco de prejuízo da qualidade das decisões.
Decorrido o prazo para elaboração do projecto de acórdão o processo
é inscrito (automaticamente i.e. sem necessidade de despacho nesse
sentido) em tabela para julgamento (659.º, nº 1).

O julgamento é efectuado pela conferência (juiz relator e dois juízes


adjuntos). No dia do julgamento, o relator deve fazer sucinta apresentação
do projecto de acórdão e de seguida dão o seu voto os juízes-adjuntos.

A decisão pode ser tomada por unanimidade ou por maioria (2 votos


conformes), sendo a discussão dirigida pelo presidente da secção. Em caso
de empate (situação rara atendendo a que a conferência é composta por três
juízes) caberá ao presidente da secção desempatar (art.º 659.º, nº 3). Assim
sucederá, por exemplo, com o seguinte resultado: Procedência total da
apelação, improcedência total, procedência parcial.

5.4 Da elaboração e conteúdo do acórdão do tribunal ad quem

5.4.1 Elaboração do acórdão (art.º 663.º).

O acórdão definitivo deve ser elaborado, naturalmente, de acordo


com a orientação que tenha prevalecido no julgamento, sendo que, não
havendo unanimidade, o vencido quanto à decisão ou aos simples
fundamentos deve assinar em último lugar, com a sucinta menção das
razões de discordância ( voto de vencido),
Se o relator ficar vencido, quanto à decisão, ou a todos os seus
fundamentos, o acórdão deverá ser lavrado pelo primeiro adjunto vencedor.
Se ficar vencido apenas quanto a algum dos fundamentos ou relativamente
a uma questão acessória, o acórdão será lavrado pelo juiz que presidente da
secção designar.

No acórdão deve distinguir-se, o relatório onde e enunciam


sucintamente as questões a decidir, a fundamentação onde, por regra, se
procede à subsunção da matéria de facto e a decisão

5.4.2 Quanto ao julgamento da matéria de facto

Quanto à matéria de facto, o tribunal ad quem, pode, nos termos do


artigo 662.º, tomar uma de cinco decisões:

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(i) Alterar a decisão


(ii) Ordenar a renovação dos meios de prova
(iii) Ordenar a produção de novos meios de prova
(iii) Anular a decisão e determinar a ampliação da matéria de facto
(iv) Ordenar a fundamentação da decisão

A Relação deve alterar a decisão sobre a matéria de facto se os factos


tidos como assentes, a prova produzida ou um documento superveniente
impuserem decisão diversa ( nº 1 art.º 662.º, nº 1)

E, mesmo oficiosamente, a Relação deve ( nº 2 art.º 662º):

- Ordenar a renovação da produção da prova quando houver


dúvidas sérias sobre a credibilidade do depoente ou sobre o
sentido do seu depoimento ( al.a).
A renovação da prova implica a repetição da prova produzida,
agora perante o tribunal ad quem

- Ordenar a produção de novos meios de prova, em caso de dúvida


fundada sobre a prova realizada ( al. b);

- Anular a decisão da 1º instância: (i) quando o tribunal ad quem


considere deficiente, obscura ou contraditória a decisão sobre
pontos determinados da matéria de facto, ou (ii) quando
considere indispensável a ampliação deste.
A anulação só deve ter lugar quando não constem do processo
todos os elementos que permitam a alteração ( al.c)

- Determinar a fundamentação da decisão proferida sobre algum


facto essencial para o julgamento da causa, tendo em conta os
depoimentos gravados ou registados ( al.d)

As decisões supra referidas não admitem recurso para o STJ,


conforme n.º 4 do 662.º. Com esta disposição o legislador procurou
resolver a antiga controvérsia sobre a admissibilidade de recurso para o
Supremo em matérias que, ainda que indirectamente, digam respeito ao
julgamento da matéria de facto.

A regra geral quanto à competência do STJ sobre esta matéria


encontra-se no nº 2 do art.º 682.º que remete para o n.º 3 do artigo 674.º,
onde se estatui que:

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O erro na apreciação das provas e na fixação dos factos materiais da


causa não pode ser objecto de recurso de revista, salvo havendo ofensa de
uma disposição expressa na lei que exija certa espécie de prova para a
existência do facto ou que fixe a força de determinado meio de prova.

Ou seja, excepcionalmente o Supremo pode exercer poderes relativos


à matéria de facto, como resulta do referido nesta última disposição e do
nº3 do art.º 682ª, onde se estatui que pode mandar baixar o processo ao
tribunal recorrido quando:

(i) Entender que a decisão de facto pode e deve ser ampliada


de modo a constituir base suficiente para a decisão de
direito;
(ii) Ocorram contradições na decisão sobre a matéria de facto
que inviabilizam a decisão jurídica da acção.

5.3 Quanto ao julgamento da matéria de direito - art.º 664.º e 713/2

A Relação tem plena liberdade de análise da matéria de direito - não


tem restrições. Não pode conhecer questões que não estejam no objecto do
recurso (conclusões); Mas pode:

(i) Julgar o recurso procedente por razões jurídicas diversas das


indicadas pelo recorrente;
(ii) Julgar o recurso improcedente por razões jurídicas que não
coincidam com os fundamentos da sentença.

A decisão final pode traduzir-se:

- No procedimento ou provimento total do recurso


- Na improcedência total, mantendo ou alterando a
fundamentação.
- Na procedência parcial

7. Recurso de Revista

7.1 Objecto da revista

Após a revisão do sistema recursório português (DL 303/2007), a


Revista passou a ser o único recurso admissível das decisões proferidas nos

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tribunais da Relação para o Supremo Tribunal de Justiça. A disciplina


processual deste recurso está estatuída nos arts. 671.º a 687.º.

Com a eliminação do agravo interposto em 2.º instância, o recurso de


revista não cabe apenas de decisões de 2.ª instância sobre o mérito da
causa. Na verdade, como estatui o nº 1 do art.º 671.º, podem ser objecto do
recurso, os acórdãos da Relação, proferidos, por via de recurso, sobre
decisões da 1º instância que conheçam do mérito da causa ou ponham
termo ao processo, absolvendo da instância o réu ou algum dos reús quanto
ao pedido ou reconvenção deduzidos.

Não estando em causa decisões que ponham termo ao processo, mas


decisões interlocutórias que recaiam unicamente sobre a relação processual
processual, as mesmas só podem ser objecto de revista, verificado algum
dos requisitos estatuídos na alíneas a) e b) do nº 2 do art.º 671.º:

- Nos casos em que o recurso é sempre admissível.


Por exemplo, da decisão da Relação que julgue improcedente a
excepção de incompetência absoluta, invocada pelo Réu recorrente
(al. a) do nº 2 do art.º 629.º)

- Quando a decisão proferida esteja em contradição com acórdão, já


transitado em julgado, proferido pelo Supremo Tribunal de Justiça,
no domínio da mesma legislação e sobre a mesma questão
fundamental de direito, salvo se estiver em conformidade com
acórdão de uniformização de jurisprudência.

Para além das situações previstas no art.º 671.º, a Revista pode ter
por objecto acórdãos interlocutórios da Relação, ou seja acórdãos
proferidos na pendência do recurso de apelação, mas quanto a estes importa
distinguir, os acórdãos que por regra, só podem ser impugnados
conjuntamente com a revista das decisões finais ( da apelação), nos termos
daquela disposição, das situações previstas nas duas alíneas do art.º 673.º,
ou seja:

- Acórdãos interlocutórios cuja impugnação com o recurso de


revista seria absolutamente inútil.
Como sucederá, por exemplo, com o acórdão que determine a
suspensão da instância.
- Nas situações expressamente previstas na lei

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Note-se que à luz do art.º 673.º, por regra os acórdãos interlocutórios


não são impugnáveis autonomamente, mas apenas no recurso de revista que
venha a ser interposto da decisão final, com a ressalva de que não havendo
recurso da decisão final, será aplicável o disposto no n.º 4 do art.º 671.º, ou
seja aqueles acórdãos poderão então ser impugnados no prazo de 15 dias,
após o trânsito das decisões finais.

7.2 Regra da dupla conforme

Importante, mas não necessariamente boa, inovação da revisão do


sistema recursório (DL 303/2007 de 24 de Agosto) foi a adopção da regra
da dupla conforme agora estatuída , no n.º 3 do art.º 671.º, com um
requisito adicional.

Atenta esta regra, sem prejuízo dos casos em que o recurso é sempre
admissível, não é admitida revista do acórdão da Relação que confirme,
sem voto de vencido e sem fundamentação essencialmente diferente,27 a
decisão proferida na 1ª instância.

Trata-se de uma enorme limitação ao acesso ao STJ, com o


anunciado propósito de racionalização do acesso a este tribunal superior e
acentuação das suas funções de orientação e uniformização da
jurisprudência.

A verificação da existência da “dupla conforme” pode levantar


algumas dificuldades, já sublinhadas na doutrina. 28 Entre as várias
dificuldades, sublinham-se as relativas a obrigações pecuniárias em que a
diverência no conteúdo das decisões não é suficiente para se poder concluir
pela inexistência da “ dupla conforme”.

Considere-se, a propósito, o exemplo do Professor TEIXEIRA DE


SOUSA:
“ a 1º instância condenou o réu em € 80.000 e a Relação condenou o
réu em € 85.000 ou em €75.000.

Nestes casos, como sublinha, aquele autor, “ coloca-se o problema da


admissibilidade da revista com base na seguinte ordem de considerações:
27
No regime estabelecido no anterior art.º 721.º n.º 3 ( redação dada pelo DL 303/2007), o recurso não
seria admitido ainda que a Relação confirmasse a decisão da 1º instância por “diferente fundamento”,
hoje se o fundamento fôr “ substancialmente diferente” não opera a regra da dupla conforme.
28
Sobre estas dificuldades vide com muito interesse TEIXEIRA DE SOUSA, “ Dupla conformidade”: critério
e ambito da conformidade” , in Cadernos de Direito Privado, nº 21 janeiro/março, 2008, págs 21 e segs.

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se a Relação tivesse condenado exactamente nos mesmos € 80.000 a que o


réu foi condenado em 1º instância, nem o réu, nem o autor poderia interpor
recurso de revista, porque se trata de duas decisões “ conformes”; sendo
assim, tendo a Relação condenado o réu em menos de € 5 000 ou em mais
de € 5 000, não é coerente admitir a interposição de revista,
respectivamente, pelo réu ou pelo autor, porque afinal a sentença tem para
eles um conteúdo mais favorável do que aquele da qual eles não poderiam
recorrer”29.

Comungamos o critério proposto por TEIXEIRA DE SOUSA, ou seja:

“ sempre que o apelante obtenha uma procedência parcial do recurso


na Relação, isto é, sempre que a Relação pronuncie uma decisão que é mais
favorável – tanto no aspecto quantitativo, como no aspecto qualitativo –
para esse recorrente do que a decisão recorrida proferida pela 1ª instância,
está-se perante duas decisões “conformes” que impedem que essa parte
possa interpor recurso de revista para o Supremo Tribunal de Justiça”30

7.3 Revista excepcional.

A regra da dupla conforme é afastada nas situações previstas no art.º


672º., ou seja quando:

- Esteja em causa uma questão cuja apreciação, pela sua


relevância jurídica, seja claramente necessária para uma melhor
aplicação do direito.

- Estejam em causa interesses de particular relevância social;

- O acórdão da Relação esteja em contradição com outro já


transitado em julgado, proferido por qualquer Relação ou pelo
Supremo, desde que:

a) Ambos acórdãos tenham sido proferidos no domínio da


mesma legislação.
b) Sobre a mesma questão fundamental de direito.

29
Idem pág. 24
30
Ibidem pág. 26

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Salvo se tiver sido proferido acórdão de uniformização de de


jurisprudência em conformidade com a decisão que se
pretende impugnar.

Verdadeiramente inovador no processo civil é, nesta sede, o recurso


a duas cláusulas gerais com conceitos indeterminados (“relevância
jurídica” , “ claramente necessária para uma melhor aplicação do direito”
“interesses de particular relevância social…”), para delimitar o âmbito do
recurso de revista.

Atentas as dificuldades que se adivinhavam quanto à verificação de


tais pressupostos de recorribilidade, estatuiu-se que a competência para
assim o decidir pertence ao Supremo Tribunal de Justiça, “ devendo ser
objecto de apreciação preliminar sumária, a cargo de uma formação
constituída por três juízes escolhidos anualmente pelo presidente de entre
os mais antigos das secções cíveis” n.º 3 do art. 672.º

Impõe-se perguntar: Quando é que nos encontramos perante uma


questão cuja apreciação pela sua relevância jurídica é claramente necessária
para uma melhor aplicação do direito? Quando é que nos encontramos
perante interesses de particular relevância social?
Como já foi sublinhado só através de um esforço jurisprudencial será
possível enunciar critérios indicativos seguros para o preenchimento destes
conceitos indeterminados.

Atenta a jurisprudência, e doutrina já existente sobre a


admissibilidade da revista excepcional pode concluir-se:

(i) Que para decidir sobre a justificação da intervenção do STJ para


uma melhor aplicação do direito, importa atentar nos seguintes
aspectos

a) A complexidade jurídica da questão;


b) A possibilidade da sua repetição num número indeterminado de
situações;
c) A necessidade de uma intervenção clarificadora;
d) A inexistência de jurisprudência sobre a matéria;
e) A errada ou má aplicação do direito “ em termos extremos”.

(ii) Que para decidir sobre a existência de interesses de particular


relevância social, importa considerar os seguintes aspectos:

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a) A projecção dos efeitos da questão para além da esfera jurídica


do recorrente.
b) A possibilidade de repetição da questão
c) A existência de “ interesses comunitários de grande relevo ou
de largo alcance.
d) A importância mediática da questão.
e) A existência de situações novas decorrentes de uma nova
legislação A repercussão social da questão, com a insolvência
de uma empresa com muitos trabalhadores.

Vejam-se, a propósito os seguintes sumários, ainda proferidos ao


abrigo do anterior CPC:

Acórdão STJ de 17.12.2009 (Relator Mário Ferreira)

I - Para ser admissível a revista excepcional é, antes de mais,


necessário que em causa esteja uma decisão que admita recurso, nos
termos do art.678.º, n.º 1, do CPC (ou que se trate de uma decisão
em que o recurso é sempre admissível, por força do n.º 2, do mesmo
preceito); e importa, ainda, que o recurso seja interposto de
Acórdão da Relação proferido sobre decisão da 1.ª instância que
tenha posto termo ao processo ou sobre despacho saneador que,
sem pôr termo ao processo, decida do mérito da causa, pois o
recurso de revista só nestes casos é admissível (art. 721.º, n.º 1, do
CPC)II - Só verificados estes requisitos – os requisitos da “revista
normal” – e se ocorrer ainda qualquer uma das situações prevista no
n.º 1, do art. 721.º-A, do CPC, é que, nos casos de dupla conforme,
é admissível a revista excepcional. III - A decisão sumária a que
alude o art. 721.º-A, n.º 3, do CPC, atentas as suas natureza e
finalidade, não contém um qualquer juízo, ainda que meramente
indiciário, sobre o mérito ou demérito da posição defendida pelas
partes, nomeadamente pelo recorrente de revista, na alegação ou
contra-alegação, antes se limitando a aferir da verificação, ou não,
dos pressupostos a que alude o n.º 1, do citado preceito.IV - O
requisito previsto na al. a), do n.º 1, do art. 721.º-A, do CPC,
pressupõe, dada a sua letra e escopo finalístico, em que sobressai a
ideia de excepcionalidade, que a questão jurídica a que se reporta,
não obstante a conforme decisão das instâncias sem voto de
vencido, deve envolver a particularidade, independentemente do
quadro do litígio desenvolvido entre o recorrente e o recorrido, de a
sua reapreciação pelo STJ ser essencial para a futura aplicação do

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direito a núcleos de facto essencialmente idênticos. V - A questão


de ter sido, também, atendida, no Acórdão da Relação, anterior
sanção disciplinar aplicada à ora recorrente cuja licitude estava
pendente de apreciação em acção judicial, não envolve, clara ou
manifestamente, a necessidade ou importância da sua apreciação
por este Supremo Tribunal, quer na sua projecção na solução do
caso concreto em apreço, quer no quadro de futura aplicação a
situações fácticas essencialmente idênticas. VI - A simples natureza
laboral das questões, abrangendo as que se prendem com a extinção
unilateral dos contratos e dos créditos dela emergentes, não dita,
sem mais, que se esteja perante “interesses de particular relevância
social”, para efeitos do pressuposto a que alude
a al. b), do n.º 1, do art. 721.º-A, do CPC. VII - O simples facto de
estar em causa um despedimento individual, com os inerentes
efeitos desfavoráveis para o trabalhador, não pode, sem mais, ditar,
no domínio laboral, o entendimento de que estão em causa
interesses de particular relevância social, sob pena de se frustrar o
objectivo ínsito à dupla conforme, consistente na limitação das
revistas para o STJ, racionalizando o acesso a este e acentuando as
suas funções de orientação e uniformização de jurisprudência.

Ac STJ de 20.01. 2010 (Relator Sousa Peixoto)

1. Invocando o recorrente, nas conclusões das alegações, dois


fundamentos para o recurso de revista excepcional, mas nada
tendo alegado no corpo das alegações relativamente a um
desses fundamentos, o recurso deve ser rejeitado no que toca a
esse fundamento. 2. A alínea b) do n.º 2 do art.º 721.º-A do
CPC deve ser interpretada restritivamente, ou seja, no sentido
de que a particular relevância social dos interesses em causa
no recurso só constitui fundamento de revista excepcional
quando sobre a questão que integra o objecto do recurso ainda
não haja jurisprudência firmada do Supremo. 3. Restringindo-
se o objecto do recurso à questão de saber se as actualizações
salariais das remunerações mínimas acordadas entre a PT
Comunicações e um dos sindicados representativos dos seus
trabalhadores, no decurso do processo negocial de revisão do
AE, são aplicáveis ou não aos trabalhadores filiados noutra
associação sindical que ainda não tenha concluído aquele
processo negocial, os interesses subjacentes à referida questão
assumem particular relevância social, por se tratar de uma
questão cujo desfecho interessa a todos os trabalhadores em
geral e, em particular, aos filiados no sindicato recorrente, e

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por se tratar de uma questão que diz respeito às retribuições


salariais mínimas. 4. Apesar disso, a revista excepcional não
deve ser admitida com aquele fundamento, uma vez que o
Supremo Tribunal de Justiça tem afirmado, repetida e
uniformemente, que a diferenciação salarial assente no
princípio da filiação não constitui violação do princípio da
igualdade, na vertente de para trabalho igual salário igual,
salvo se a razão dessa diferenciação residir apenas no facto de
o trabalhador, não beneficiado pelos aumentos em condições
idênticas às desfrutadas por outros, não ser associado da
organização sindical ou das organizações sindicais que
outorgaram o acordo de empresa, ou no facto de ele não ser
sindicalizado, cabendo, neste caso, ao trabalhador que se julga
alvo de discriminação alegar e provar que o trabalho por si
prestado é igual, em natureza, quantidade e qualidade, ao
prestado pelos trabalhadores pertencentes à organização ou
organizações sindicais que subscreveram a convenção
colectiva cujas tabelas salariais pretende que lhe sejam
aplicadas.

Ac STJ de 05-01-2012, processo n.º 1099/08.7TBFAF.G1.S1 (Sebastião


Póvoas)

I - Este Colectivo não pode sindicar a bondade intrínseca (por


ausência de erro de julgamento) da deliberação recorrida,
papel da Conferência julgadora se a revista excepcional for
admitida.
II - O requisito da al. a) do n.º 1 do art. 721.º-A do Código de
Processo Civil implica a controvérsia da questão jurídica na
doutrina e na jurisprudência, a sua complexidade, ou,
finalmente a sua natureza inovadora, em termos de se justificar
a intervenção do STJ para evitar dissonâncias interpretativas a
porem em causa a boa aplicação do direito.
III - O requisito da al. b) do n.º 1 do art. 721.º-A do Código de
Processo Civil tem ínsita a aplicação de preceito ou instituto a
que os factos sejam subsumidos e que possa interferir com a
tranquilidade, a segurança, ou a paz social, em termos de haver
a possibilidade de descredibilizar as instituições ou a aplicação
do direito.

Ac STJ de 12-01-2012, porocesso n.º 816/09.2TBAGD.C1.S1 Silva Salazar

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I - Cabe recurso de revista para o STJ do acórdão da Relação


proferido ao abrigo do n.º 1 e da al. h) do n.º 2 do art. 691.º do
CPC (art. 721.º, n.º 1, do mesmo diploma), ou seja, do acórdão
da Relação proferido em recurso da decisão do tribunal de 1.ª
instância que ponha termo ao processo e do acórdão da
Relação proferido sobre despacho saneador que, sem pôr
termo ao processo, decida do mérito da causa.
II - Havendo conformidade entre o decidido na 1.ª instância e
o decidido na Relação, por unanimi-dade, passa a revista, se
sem essa conformidade era admissível, a ser inadmissível, com
as ex-cepções consagradas no art. 721.º-A do CPC (art. 721.º,
n.º 3, do CPC).
III - Excepcionalmente, cabe recurso de revista do acórdão da
Relação referido no n.º 3 do art. 721.º do CPC quando esteja
em causa uma questão cuja apreciação, pela sua relevância
jurídi-ca, seja claramente necessária para uma melhor
aplicação do direito (art. 721.º-A, n.º 1, al. a), do CPC).
IV - O conceito genérico da referida al. a) do n.º 1 do art.
721.º-A do CPC implica que a questão sub judice surja como
especialmente complexa e difícil, seja em razão de inovações
no quadro legal, do uso de conceitos indeterminados, de
remissões condicionadas à adaptabilidade a ou-tra matéria das
soluções da norma que funciona como supletiva e, em geral,
quando o quadro legal suscite dúvidas profundas na doutrina e
na jurisprudência, a ponto de ser de presumir que gere com
probabilidade decisões divergentes.
V - O acórdão recorrido baseou-se essencialmente na
caracterização do instituto do caso julgado, do efeito
preclusivo do caso julgado e da autoridade do caso julgado
(nomeadamente sobre se incide apenas sobre a parte decisória
propriamente dita ou também sobre a decisão de questões
preliminares integradas na respectiva fundamentação,
estendendo-se a situações de ausência formal de identidade de
sujeitos, de pedido ou de causa de pedir), matérias que
revestem grande dificuldade e cuja análise, espelhada no
acórdão recorrido, implica profundo estudo, inclusive
doutrinário, que revela também a existência de dúvidas e da
probabilidade de sobre a mesma questão poderem ser
produzidas decisões divergentes.

Importa notar que a competência do colectivo do STJ a que se refere


o nº 3 do art.º 672.º(formação constituída por três juízes escolhidos

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anualmente pelo presidente de entre os mais antigos das secções cíveis), diz
“apenas” respeito a verificação dos pressupostos da Revista Excecional, e
entre estes o próprio requisito da “ dupla conforme” pelo que, concluindo
esta formação pela inexistência da dupla conforme,31 o processo deve ser
remetido ao juiz relator do acórdão da relação para que este se pronuncie
sobre a Revista ( “normal”).

7.4 Fundamentos da revista

A regra geral a ter presente é a de que o Supremo Tribunal de justiça


só conhece matéria de direito.
Assim resulta, desde logo, da CRP, ao estatuir que o Supremo
Tribunal de Justiça funcionará como tribunal de instância nos casos que a
lei determinar ( art. 210.º, nº 5) e do art.º 46.º da LOSJ ( Lei 62/2013) ” 32,
onde se estatui que, fora dos casos previstos na lei, o Supremo Tribunal de
Justiça apenas conhece de matéria de direito.
Por assim ser se sublinha que STJ é um tribunal de Revista e não de
3.º instância, não há 3.º grau de jurisdição em matéria de facto.

Ao STJ compete fiscalizar a aplicação do direito aos factos fixados


pelos tribunais de 1.ª e de 2.ª instância (art.º 682.º nº 1)

A revista só pode ter por fundamento ( art.º 674.º) :


(i) A violação da lei substantiva, que pode consistir no erro de
interpretação ou de aplicação, como no erro de determinação
da norma aplicável
(ii) A violação ou errada aplicação da lei do processo
(iii) As nulidades das sentenças e acórdãos, previstas nos arts 615.º
e 666.º.

31
Cfr nesse sentido o Ac. STJ, de 09.04.2013, processo nº 433682/09.2YIPRT.L1.S1 (SEBASTIÃO
PÓVOAS) assim sumariado a) A revista excepcional não é um recurso extraordinário mas apenas, e tão-
somente, uma revista ordinária que só difere da revista - regra por esta ser desde logo admissível uma vez
que o Acórdão recorrido julgou nos precisos termos em que o fez a 1.ª Instância. b) Perfila-se, então, uma
situação de dupla conformidade caracterizada pela coincidência do segmento decisório perante o mesmo
pedido e causa de pedir, sobreposição alcançada por unanimidade embora sem que se exija concordância
quanto à fundamentação. c) Se a Relação não confirmou, tal qual, o julgado pela 1.ª Instância, antes o
alterando/revogando, inexiste a dupla conformidade. d) Esta é o pressuposto atributivo da competência
do Colectivo a que se refere o n.º 3 do artigo 721-A do Código de Processo Civil, já que sem dupla
conformidade não há que buscar qualquer dos requisitos do n.º 1 do mesmo preceito pois que o recurso, a
ser admitido não o será como revista excepcional mas sim como revista regra. e) E a verificação dessa
admissibilidade compete ao Conselheiro Relator a quem o recurso venha a ser distribuído.
32
O mesmo se estatui no art.º 26º da LOFTJ, em vigor, ou seja da Lei 3/99, de 13 de janeiro

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Quanto à matéria de facto, estatui o nº 3 do art.º 674.º, que:

O erro na apreciação as provas e na fixação dos factos materiáis da


causa não pode ser objecto de recurso de revista, salvo havendo ofensa de
uma disposição expressa da lei que exija certa prova para a existência do
facto ou que fixe a força de determinado meio de prova.

E o nº 3 do art.º 682.º, que:

O processo só volta ao tribunal recorrido quando o Supremo


Tribunal de Justiça entenda que a decisão de facto pode e deve ser
ampliada, em ordem a constituir base suficiente para a decisão de direito,
ou que ocorram contradições na decisão sobre a matéria de facto que
inviabilizam a decisão jurídica do pleito.

Haverá erro no julgamento da matéria de facto, susceptível de


fundamentar o recurso de revista, por ofensa de disposição expressa da lei:

(i) Que exige certa prova para a existência do facto se as


instâncias, por exemplo, derem como provado a
(ii) Que fixe a força de determinado meio de prova, se por
exemplo,

Fora do objecto do recurso de revista ficam todos os meios de prova


relativamente aos quais prevalece o princípio da livre apreciação. 33

As limitações sublinhadas quanto ao julgamento da matéria de facto


em sede de Revista, não obstam a que o Supremo Tribunal de Revista
possa censurar a alteração da matéria de facto efectuada pela Relação.
O Supremo pode apreciar o uso que a Relação faz dos poderes de
alteração, a legalidade do exercício dos poderes de modificação, previstos
no art.º 662º. Importa distinguir a questão de saber se a Relação pode
alterar a matéria de facto, da questão de saber se a alterou ou não
correctamente.

Quanto à primeira questão, importa ter em conta a orientação


jurisprudencial dominante, ilustrada nos seguintes sumários de acórdãos do
STJ, por referência ao então artigo 712.º.

33
Cfr. A titulo de exemplo, o recente Ac STJ de 24.03.2013, processo nº 362333/10. 7YIPRT.L1.S1 (
MARIA DOS PRAZERES BELEZA), em cujo sumário se pode ler “4. A apreciação de depoimentos de
testemunhas, sujeitos à regra da livre apreciação da prova (artigo 396º do Código Civil), está fora do
âmbito possível do recurso de revista”

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“II. O Supremo pode apreciar o modo como a Relação usou dos


poderes que lhe são conferidos pelo art.º 712º do CPC, quanto à
modificabilidade da matéria de facto, em termos de verificar se
esses poderes foram utilizados em conformidade com os critérios
legais, definidos no preceito. Não pode contudo fiscalizar o não uso
desses mesmos poderes”.34

“...II. É jurisprudência uniforme do Supremo Tribunal de Justiça


que só lhe é lícito sindicar o uso que a Relação faça dos poderes
que lhe são atribuídos pelo art.º 712º e não o não uso desses
mesmos poderes. III. Ao Supremo Tribunal de Justiça, portanto,
só é possível averiguar se a Relação – tendo usado os poderes do
art.º 712º do CPC – agiu dentro dos limites permitidos por essa
norma. IV. Um desses limites, ou seja, um dos casos em que é
permitido à Relação alterar a matéria de facto fixada pela 1ª
instância é justamente quando, tendo ocorrido gravação dos
depoimentos prestados, tiver sido impugnada nos termos do art.º
690º A a decisão com base neles proferida...”.35

“I. A decisão da 1ª instância sobre a matéria de facto não pode


ser alterada pela Relação, salvo se do processo constarem todos
os elementos de prova que sirvam de base a essa fixação, se os
elementos fornecidos pelo processo impuserem decisão diversa,
insusceptível de ser destruída por quaisquer outras provas, ou se
o Recorrente apresentar documento. II. Embora esteja vedado ao
Supremo entrar na apreciação concreta de qualquer das situações
previstas nos nºs 1 e 2 do art.º 712º do CPC, compete-lhe verificar
se a Relação ao usar os poderes nele previstos, agiu dentro dos
limites traçados na lei para os exercer...”. 36

Quanto à segunda questão a resposta, já o dissemos, encontra-se nos


nºs 2 e 3 do art.º 682.º.

Nem sempre é fácil distinguir se nos encontramos perante uma


matéria facto ou de direito. Na doutrina é comum salientar-se que só
perante um excessivo respeito pelo formalismo se pode pretender alcançar

34
Ac. STJ-4ªde 4.12.1997 in S.ASTJ, 15º, 16º pág. 250
35
Ac. STJ 27.09.2009, BMJ, 494º-192
36

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um conceito de matéria de facto ou de matéria de direito, totalmente


esclarecedor.37

Como sublinhou Anselmo de Castro “ a linha divisória entre facto e


direito não têm carácter fixo, dependendo em considerável medida não só
da estrutura da norma, como dos termos da causa: o que é facto ou juízo de
facto num caso, poderá ser direito ou juízo de direito noutro. Os limites
entre um e outro são, assim flutuantes”38

O que é uma questão de facto?

Tendo presente a lição dos autores39 podemos distinguir:

(i) Factos exteriores - Tudo o que diz respeito a ocorrências da vida


real, de quaisquer mudanças no mundo exterior, bem como a
averiguação do estado, qualidade ou da situação real das pessoas
ou das coisas.

(ii) Factos internos (psíquicos e sensoriais) - Realidades que dizem


respeito à vida psíquica e sensorial dos indivíduos, por exemplo
saber se uma pessoa sofreu dores físicas, em consequência de
uma agressão.

(iii) Factos hipotéticos - Realidades referentes a ocorrências virtuais.


Exemplos: causas virtuais, lucros cessantes, vontade conjectural
ou hipotética.

O que são questões de direito?

Consubstanciam-se na determinação da norma aplicável, na sua


interpretação, na determinação dos efeitos derivados de aplicação de uma
norma, na qualificação jurídica dos factos.
Sublinhando que a distinção é possível, mais numa perspectiva
gnoseológica do que ontológica, escreve o Professor Teixeira de Sousa, “ ...
a matéria de facto respeita à averiguação dos factos e o resultado dessa
actividade exprime-se numa afirmação susceptível de ser considerada
verdadeira ou falsa..., a matéria de direito refere-se à aplicaçao das normas

37
Assim, entre outros, Antunes Varela, Manual..., cit.pág 406 nota 2
38
Direito Processual Civil Declaratório, Vol III, Almedina, 1982, pág. 270
39
Vide Antunes Varela, Manual De Processo Civil, págs. 406 e segs

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jurídicas aos factos e o resultado dessa actividade pode ser avaliado


segundo um critério de correcção ou de justificação...”40

Como critério prático para a distinção aponta-se o seguinte:


Há matéria de direito, sempre que para se chegar a uma determinada
solução é necessário recorrer a uma disposição legal.
Há matéria de facto, sempre que a resposta a uma questão não exija
a aplicação da lei.

É comum questionar-se se a interpretação das declarações negociais


é matéria de facto ou de direito.

Quanto ao apuramento da vontade das partes, do sentido atribuído,


ou que seria atribuído por um declaratário normal, estamos perante matéria
de facto. Quanto aos às regras de interpretação impostas pelo art.º 236.º do
CC, ou seja quando aspectos/requisitos a considera estamos perante matéria
de direito.

7.5 Julgamento e tramitação.

Ao julgamento e tramitação do recurso de revista são aplicáveis as


disposições que regulam a apelação, com excepção do que diz respeito
julgamento da matéria de facto ( 662.º) e da regra prevista no artigo 665.º
quanto à substituição do tribunal recorrido ( art. 679.º).

Importa ter em conta as especificidades impostas quanto

- À junção de documentos (680.º);


Com as alegações as partes podem juntar documentos
supevenientes, mas desta faculdade conferida às partes não
resulta qualquer alteração às limitações dos poderes de cognição
do Supremo quanto à matéria de facto.

- Às alegações orais (artº 681.º);

O relator, oficiosamente ou a requerimento fundamentado de


alguma das partes, pode determinar a realização de audiência

40
Estudos Sobre o Novo Processo Civil, Lex, Lisboa, 1997, pág. 422

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para discussão do objecto de recurso. Trata-se de procedimento


pouco habitual.

- Aos termos do julgamento ( art.º 682)º, a que já fizemos


referência.

9.5.1 Julgamento ampliado da revista (arts 686º e 687.º)

Verificados os requisitos estatuídos no artigo 686.º , o julgamento do


recurso de revista é efectuado com a intervenção do pleno das secções
cíveis

Requisitos:
a) Necessidade ou conveniência de assegurar a uniformidade da
jurisprudência.
b) Determinação do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça
nesse sentido.

O julgamento ampliado da revista:

(i) Pode ser requerido por qualquer das partes;


(ii) Deve ser proposto pelo relator, por qualquer dos adjuntos,
pelos presidentes das secções cíveis, ou pelo Ministério
Público.
(iii) É proposto obrigatoriamente pelo relator ou adjuntos, quando
verifiquem a possibilidade de fazer vencimento uma solução
jurídica que esteja em oposição com jurisprudência
uniformizada, no domínio da mesma legislação e sobre a
mesma questão fundamental de direito

As especialidades do julgamento estão previstas no art.º 687.º

O acórdão pode:

(i) Fixar pela primeira vez jurisprudência uniformizada sobre a


matéria
(ii) Firmar jurisprudência existente
(iii) Revogar antiga jurisprudência firmada e fixar nova
jurisprudência.

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Os acórdãos de uniformização de jurisprudência terminam com a


formulação de uma regra interpretativa. Estes acórdãos note-se não são
vinculativos, como sucedia com os assentos. Não são obrigatório, mas tem
uma especial força persuasiva, sendo que o seu não acatamento em outros
processos abre a possibilidade de recurso, independentemente do valor da
acção alçadas (628.º, n.º 2 alínea c).
São, pois, precedente judiciais qualificados com natureza
persuasória, que devem ser publicados ma 1º série do Diário da Républica

9.5.3 Recurso per saltum para o Supremo Tribunal de Justiça

A lei permite (art.º 678.º) que as partes requeiram, nas conclusões da


alegação, que o recurso interposto das decisões finais proferidas pela
primeira instância, suba directamente para o Supremo Tribunal de Justiça,
desde que se verifiquem os requisitos estatuídos nas alíneas a) a d) do n.º 1
daquela disposição.

Requisitos:
- Valor da causa superior à alçada da Relação;
- Valor da sucumbência superior a metade da alçada da Relação
- O objecto do recurso diga apenas respeito a questões de direito.
-As partes não impugnem quaisquer decisões interlocutórias.

Apresentado o requerimento de recurso per saltum caberá ao juiz do


tribunal “a quo” a verificação dos requisitos, admitido o recurso o mesmo é
processado como recurso de revista salvo no que diz respeito aos efeitos, a
que se aplica o regime da apelação ( n.º3).

Admitido o recurso o mesmo subirá ao STJ podendo, então verificar-se


uma de duas situações:
(i) Se o recurso não for admissível, o juiz relator mandará baixar
o recurso para o tribunal da Relação, não podendo esta decisão
ser impugnada (art.º 678.º nº4)
(ii) Se for admitido, a decisão é susceptível de reclamação para a
conferência ( 678.º, nº 5)

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10 Recursos extraordinários

10.1 Recurso para uniformização de jurisprudência (arts 688.º a 695.º)

Sempre que Supremo Tribunal de justiça proferir acórdão que esteja


em contradição com outro anteriormente proferido pelo mesmo tribunal, no
domínio da mesma legislação e sobre a mesma questão fundamental de
direito, as partes podem interpor recurso para o pleno das secções cíveis

O fundamento específico do recurso encontra-se, pois, na existência


de acórdão anterior com trânsito em julgado.

O recurso não deve ser admitido se a orientação perfilhada no


acórdão recorrido estiver de acordo com jurisprudência uniformizada do
Supremo Tribunal de Justiça”

Este recurso extraordinário (por ser apenas admissível após o trânsito


em julgado da decisão recorrida), foi criado com a revisão do sistema
recursório (DL 303/2007) de modo equivalente ao antigo recurso para o
tribunal pleno, criado, como recurso ordinário em 1939 e eliminado com a
revisão de 1995/1996.

O propósito da admissibilidade deste recurso é fácil de entender, tem


em vista, tal como a revista ampliada, a uniformização da jurisprudência.
No entanto, ao passo que a revista ampliada tem natureza preventiva, o
recurso de que agora tratamos visa, a posteriori eliminar, para além do
mais, contradições jurisprudências sobre as mesmas questões fundamentais
no domínio da mesma legislação. É claro que ao eliminar contradições
jurisprudenciais previne-se, na medida do possível, novas contradições.

Requisitos de admissibilidade:
a) Trânsito em julgado da decisão recorrida.
b) Trânsito em julgado do acórdão fundamento. Este trânsito
presume-se, podendo o recorrido ilidir a presunção ( 350-2 do
Código Civil)
c) Oposição ou contradição entre os julgados.
d) Inexistência de jurisprudência uniformizada no sentido do
acórdão recorrido

O recurso é interposto no prazo de 30 dias, sendo que o dies a quo


ocorre com o trânsito em julgado do acórdão recorrido.

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Na instrução do requerimento importa observar o disposto no artigo


690.º. O requerimento deve contar a alegação onde se demonstre a
existência da oposição dos acórdãos e a violação da lei imputada ao
acórdão impugnado, devendo juntar-se cópia do acórdão fundamento

O recurso tem efeito meramente devolutivo, ou seja não suspende a


eficácia da decisão (694.º)

Caso o recurso obtenha provimento é revogado o acórdão recorrido,


que é substituído por outro que decide a questão controvertida ( n.º 2 art.
695.º). Este novo acórdão não é susceptível de afectar as situações
pretéritas constituídas ao abrigo da sentença anterior à que tenha sido
impugnada. ( n.º 3 art. 695º).

10. 2 Recurso de revisão (arts 696.º a 702.º)

Trata-se de um recurso (a interpor no tribunal que proferiu a decisão)


que tem for finalidade permitir a eliminação de um vício ou anomalia,
taxativamente previstos na lei, de especialíssima gravidade.

O trânsito em julgado das decisões e o efeito preclusivo, decorrente


do caso julgado, constituem factor essencial para a certeza e segurança
jurídica. Assim, só excepcionalmente, por razões muito ponderosas é
admissível a alteração de uma decisão que transitou e à luz da qual se
podem ter constituído múltiplas situações jurídicas e legitimas expectativas.

A decisão transitada em julgado só pode pois ser objecto de revisão,


nos termos do art.º 696.º, quando:

“a) Outra sentença transitada em julgado tenha dado como provado


que a decisão resulta de crime praticado pelo juiz no exercício
das suas funções”;

“b) Se verifique a falsidade de documento ou acto judicial, de


depoimento ou das declarações de peritos ou árbitros, que
possam, em qualquer dos casos, ter determinado a decisão a
rever, não tendo a matéria sido objecto de discussão no processo
em que foi proferida;”
Neste caso estamos perante um vício que diz respeita à
produção de prova. A sua verificação não tem que ocorrer em
acção autónoma, como sucedia antes da actual redacção do
preceito.

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O preceito impõe, claramente, a necessidade de existir um nexo


de causalidade entre o vício e o conteúdo da decisão
impugnada, bem que a matéria em causa não tenha sido objecto
de decisão. Sempre que a parte tenha conhecimento do vício na
pendência dos autos terá de suscitar de imediato a questão sob
pena de posteriormente não o poder fazer em sede de recurso.

“c) Se apresente documento de que a parte não tivesse


conhecimento, ou de que não tivesse podido fazer uso, no
processo em que foi proferida a decisão a rever e que, por si só,
seja suficiente para modificar a decisão em sentido mais
favorável à parte vencida;”

Importa que o documento em causa (de existência anterior ou


posterior ao trânsito) seja inconciliável ou incompatível com a
decisão objecto de recurso.

“d) Se verifique nulidade ou anulabilidade de confissão, desistência


ou transacção em que a decisão se fundou;”

Ao contrário do que sucedia com a redacção anterior ao DL


303/2007, o recorrente pode no próprio recurso arguir a
invalidade da confissão, desistência ou transacção., nos termos
gerais. Deixou, também aqui, de ser exigido uma decisão
transitada em julgado obtida em acção autónoma.

“e) Tendo ocorrido a acção e a execução à revelia, por falta


absoluta de intervenção do réu, se mostre que faltou a citação
ou que é nula a citação feita;

f) Seja inconciliável com decisão definitiva de uma instância


internacional de recurso vinculativa para o Estado Português;”

Trata-se de um fundamento introduzido na última revisão, assim


explicado no preâmbulo do DL 303/2007: “ são ampliados os
casos em que é admissível o recurso extraordinário de revisão,
de forma a permitir que a decisão interna transitada em julgado
possa ser revista quando viole a Convenção Europeia dos
Direitos do Homem ou normas emanadas dos órgãos
competentes das organizações internacionais de que Portugal
seja parte.”

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“g) O litígio assente sobre acto simulado das partes e o tribunal não
tenha feito uso do poder que lhe confere o artigo 612.º, por não
se ter apercebido da fraude.”

Nesta alínea está previsto um fundamento que antes da reforma


de 2007, permitia a interposição do recurso (também
extraordinário) de oposição de terceiro.
Também quanto a este fundamento o legislador deixou de exigir
uma sentença transitada em julgado, obtida em acção autónoma,
onde se reconheça a existência de uma simulação processual

Nas palavras do Conselheiro Rodrigues Bastos, existe


simulação processual sempre que “ as partes usam do processo,
não com o fim de resolver um litígio, mas, concretamente, para
obterem um resultado diferente do resultado aparente do
processo”.

Neste caso a revisão só pode ser interposta “por qualquer


terceiro que tenha sido prejudicado com a sentença,
considerando-se como terceiro o incapaz que interveio no
processo como parte, mas por intermédio de representante
legal.” - n.º 3 do art. 631.º.

A circunstância de o legislador atribuir legitimidade a um terceiro


prejudicado com a sentença, obriga a perguntar como é que este meio de
impugnação das decisões judiciais se compatibiliza com o princípio geral
da eficácia relativa do caso julgado41.
Existe na verdade uma implicação recíproca entre as interrogações
resultantes da eficácia, dita relativa, do caso julgado e a admissibilidade
deste recurso, nomeadamente a sua condição de a sentença transitada
implicar um prejuízo para terceiro.

Tendo o caso julgado uma eficácia limitada, pelo menos em regra, às


partes, quando (e como) é que a sentença pode causar prejuízos a quem não
tem tal qualidade?

Considerando que a legitimidade dos terceiros depende de os


mesmos serem abrangidos pela eficácia da sentença, no sentido de se
estender aos mesmos “jurídica ou factualmente, os efeitos do caso
julgado”, pronunciaram-se o Professor Lebre de Freitas e Dr. Armindo
Ribeiro Mendes
41
Sobre esta matéria vide o nosso texto, “ Limites subjectivos do caso julgado e a intervenção de
terceiros”, págs e segs.

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A posição que adoptamos na nossa tese de mestrado é a que agora


aqui reproduzimos.
A actuação simulada das partes faz com que o processo se desvie da
sua finalidade instrumental. A sentença então proferida, ao declarar uma
determinada situação não estará a prosseguir a finalidade com que foi
decretada, ou seja tutelar interesses reconhecidos pelo direito substantivo
aplicável. E se assim ocorre, justifica-se atribuir a quem é prejudicado pela
sentença, mesmo que o conteúdo da situação jurídica de que é sujeito não
seja afectado, o poder de destruir a declaração jurisdicional. O desvio à
finalidade instrumental do processo não explica apenas porque razão quem
não podendo intervir numa determinada acção como parte principal pode
impugnar a sentença mesmo depois do seu trânsito em julgado. Explica
igualmente a atribuição daquela faculdade a quem, podendo dispor do
processo, se manteve na qualidade de terceiro.
As dificuldades de harmonização do princípio da eficácia relativa do
caso julgado, com o recurso de revisão interposto por terceiros,
nomeadamente, com a determinação dos sujeitos legitimados a, por esta
via, impugnar decisões já transitadas, podem superar-se tendo em conta as
conclusões a que fomos chegando ao longo deste nosso estudo.
Traduzindo-se a eficácia do caso julgado, na preclusão do poder de obter a
declaração de uma situação jurídica incompatível com uma definição
anterior, não poderá deixar de se incluir no conceito de terceiros
prejudicados, todos aqueles que, precisamente, suportam tal efeito, ou seja,
e desde logo, quem, podendo intervir no processo, que conduziu a esta
definição, o não fez, mantendo-se na posição de terceiro.
Vimos que, configurando o chamamento a dedução de uma
pretensão contra o terceiro, a sua não intervenção (efectiva) no processo
não obsta à sua qualificação como parte. Cabe nesta sede ter presente, que
a não intervenção não basta para se poder considerar que o mesmo poderá,
posteriormente, intentar o recurso que ora nos ocupa. A não intervenção do
chamado não faz apenas precludir o poder de determinar a decisão de
mérito que irá ser proferida, uma vez transitada esta última, o chamado vê,
igualmente, precludir o poder de obter a declaração de uma situação
jurídica incompatível com aquela definição anterior.
Entre os sujeitos não intervenientes no processo, importa pois
distinguir aqueles que, ainda assim, ficam vinculados ao caso julgado, na
medida em que adquiriram a qualidade de parte, e os que tendo
legitimidade ou o poder de condução do processo, não chegam a adquirir
aquela qualidade. Os primeiros, não se podem socorrer do recurso de
revisão, os segundos, independentemente de serem ou não atingidos pelo
caso julgado, têm legitimidade para o fazer. Neste último caso, sempre que
(os terceiros) não se encontrem vinculados ao efeito do caso julgado, o

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recurso surge como o instrumento processual que lhes permitirá afastar a


oponibilidade da sentença, os seus efeitos declarativos ou constitutivos, em
alternativa à faculdade de se socorrem dos meios comuns.42 Verificando-se
aquela vinculação, a impugnação surge, então, como meio adequado a
afastar aquele efeito preclusivo.
Quanto aos terceiros juridicamente indiferentes, como os credores
não legitimados a intervir, por não serem os sujeitos com interesse directo
em demandar, não restam dúvidas de que a lei lhes permite o recurso
aquele meio de impugnação, mas não para afastar um efeito que, em rigor,
os não atinge. Ao impugnar uma sentença43 alheia, os terceiros que vêem
atingida a consistência prática ou económica dos seus direitos, mas já não o
seu conteúdo, pretendem afastar os efeitos constitutivos ou declarativos da
sentença que, de outro modo, lhes seriam oponíveis, ou seja, afastar a
prevalência da situação jurídica declarada pela sentença.” 44

10.2.1 Admissão e julgamento do recurso

O recurso de revista comporta duas fases:

(i) Fase rescindente que tem por finalidade destruir (“ rescindir”)


a decisão transitada em julgado.
(ii) Fase rescisória, que é posterior à anulação (rescisão) da
decisão e que tem por finalidade retomar o processo e obter
uma nova decisão substitutiva da anteriormente transitada.

Após a admissão do recurso (699.º), a sua tramitação depende dos


fundamentos invocados (701.º).

Fase rescindente (onde o juiz vai decidir sobre o fundamento da


revisão)

Estando em causa um revisão interposta com base nas alíneas a), c),
e), f) e g) do art. 696.º, o Tribunal após a resposta do recorrido ou ao
termo do prazo para o efeito, deverá conhecer do fundamento da
revisão.
No caso de o fundamento ser o constante nas demais alíneas, seguir-
se-ão os termos do processo sumário.

42
Admitindo esta alternativa, mas relativamente aos terceiros titulares de direitos afectados na sua
consistência jurídica, JOSÉ JOÃO BAPTISTA, Dos Recursos, Lisboa, 1997, pág. 145-146.
43
Bem andou, pois, o legislador quando no artigo 778.º, agora revogado, se referia à sentença e não ao
caso julgado prejudicial .
44
Limites subjectivos do caso julgado e intervenção de terceiros.

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Fase rescisória
Se o fundamento da revisão for julgado procedente:
Nos casos previstos nas alíneas a) a f) do art.º 696.º, é revogada a
decisão e deverá observar-se o regime previsto no n.º 1 do art.696.º.
Na situação prevista na alínea g) anula-se a decisão recorrida. (n.º 2)

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TEXTOS DE APOIO

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Hipóteses de trabalho

I
António intentou, em 2008, contra Bento e Carlos, uma acção declarativa,
pedindo a condenação de ambos réus na obrigação solidária de € 40.000,00.
Bento contestou por impugnação e excepção (invocando a caducidade do direito
invocado) e concluiu o seu articulado requerendo a sua absolvição do pedido. Carlos
contestou invocando a sua ilegitimidade.
No despacho saneador, o juiz julgou (i) procedente a excepção de ilegitimidade
absolvendo Carlos da instância e (ii) improcedente a excepção de caducidade, invocada
por Bento.

Na sentença, Bento foi condenado a pagar ao Autor € 4.000,00.

Perguntas:

1. Bento podia recorrer das decisões proferidas? Admitindo que sim qual
o recurso adequado. Justifique.
2. Após ter conhecimento da sentença final, Carlos pretende interpor
recurso. Pode fazê-lo? Justifique.
3. Admitindo que na sequencia do recurso interposto por Carlos, a
Relação confirmava a decisão sobre a sua ilegitimidade, poderia ser
interposto recurso para o Supremo Tribunal de Justiça? Justifique.
4. Caso fosse aplicável o antigo regime recursório, as resposta dadas à
questões anteriores seria diferente? Em que medida?

II
António intentou contra Bento uma acção declarativa pedindo:

a) A anulação do contrato pelo qual vendeu ao réu, pelo “preço de € 5.000,00”,


um automóvel com fundamento em erro sobre o objecto
b) A condenação do réu a pagar ao autor a quantia de 1.000,00 a título de
indemnização pelos danos decorrentes da sua actuação dolosa

Bento contestou sustentando a sua ilegitimidade e, em conformidade, pediu a sua


absolvição da instância.
O juiz indeferiu a excepção de ilegitimidade e, na sentença final, julgou procedentes
ambos os pedidos.

Questões:
1. Bento pretende impugnar a decisão proferida. Elabore o requerimento
de interposição de recurso.
2. Admita que Bento era absolvido da instância na sentença final?
Poderia, ainda assim, interpor recurso
3. Admita que em sede de recurso de apelação, o tribunal da relação,
julgava a mesma procedente e absolvia Bento da instância. Esta decisão
poderia ser impugnada?
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III
Daniel intentou, em 2009, contra Ernesto e Fernando uma acção declarativa,
pedindo a condenação de ambos réus na obrigação solidária de € 15.000,00
Ernesto contestou sustentando a sua absolvição do pedido. Fernando contestou
invocando a sua ilegitimidade.
Na sentença, proferida em 2010, o réu Ernesto foi condenado a pagar ao Autor €
14.000,00. Fernando foi absolvido da instância.

Questões

1. Ernesto poderia interpor recurso? Qual? Justifique.


2. Fernando poderia recorrer? Justifique.

Admita que na sequência dos recursos interpostos por Ernesto e Fernando, o Tribunal
da relação mantinha as decisões proferidas.

3. O acórdão poderia ser impugnado em recurso interposto para o Supremo


Tribunal de Justiça?

IV

Aníbal intentou, em 2009, uma acção contra Bernardo e Carla pedindo o


reconhecimento da sua qualidade de proprietário de um imóvel e a condenação dos
Réus na entrega do mesmo
Bernardo contestou invocando, para além do mais, a sua ilegitimidade. Carla
não contestou
Bernardo foi absolvido da instância no Despacho Saneador, Carla foi condenada
no pedido após realização da audiência de julgamento.

1 Bernardo pode recorrer? Admitindo que sim, qual o recurso adequado?


Justifique
2 Carla pode recorrer? Admitindo que sim, elabore o Requerimento de
interposição do recurso.
3 Admita que em sede de recurso a Relação revogava o despacho que absolveu
Bernardo da instância., poderia Aníbal interpor recurso desta mesma decisão?
Justifique.
4 Qual a consequência (ou consequência) da incompetência do Tribunal ad quem?
Justifique.
5 Admita que Duarte (terceiro), que sempre se arrogou à titularidade do direito de
propriedade do imóvel, pretende interpor recurso da sentença. Pode fazê-lo?
Justifique

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V
António, casado, intentou contra Bernardo e Carla acção declarativa pedindo:
(i) a anulação do contrato de compra e venda outorgado com Bernardo, com
fundamento em dolo de terceiro (Carla) (ii) a condenação de Carla em indemnização no
valor € 5.500,00, pelos prejuízos causados pelo dolo. Na petição inicial António
invocava que só adquiriu o bem em causa pelo preço de €50.000,00, por ter sido
enganada por Carla.

Bernardo contestou, invocando, para além do mais, que o invocado direito de


anulação já haveria caducado, bem que o autor era parte ilegítima, pois a acção devia ter
sido intentada pelo seu conjugue.

Carla não contestou

Em despacho saneador o juiz julgou improcedente toda a defesa por excepção do réu
Bernardo.

Na sentença final foi julgado procedente o pedido de anulação e Carla foi condenada
no pagamento ao Autor no montante de €4.000.00.

1. António, Bernardo e Carla podem impugnar as decisões proferidas na sentença


final? Justifique.
2. Admitindo que Bernardo pode interpor recuso, bem que o mesmo não se
conforma com as decisões proferidas, elabore o respectivo requerimento de
interposição de recurso.
3. Admita que em sede de recurso, o Tribunal de Relação mantinha todas as
decisões proferidas em primeira instância. Tal acórdão poderia ser impugnado?
Justifique.

VI

Ana, Belmira, Carla e Deolinda, empregadas da sociedade “Texteis


Écomnosco, Lda”, intentaram acção judicial contra esta, pedindo a condenação da ré
no pagamento de € 8.000,00 a cada autora, correspondente a subsídios de férias cuja
suspensão, no seu entender, é ilegal.
A ré contestou, invocando, para além do mais, a existência de caso julgado.

Em despacho saneador o tribunal julgou improcedente aquele meio de defesa.


Proferida sentença, foi a ré absolvida do pedido formulado. Interposto recurso de
apelação, o tribunal ad quem manteve a decisão impugnada.

Questões:

1. A ré (parte vencedora) podia impugnar o despacho saneador, na parte em que


lhe foi desfavorável. Justifique.
2. As autoras podiam impugnar o acórdão do Tribunal da Relação. Justifique?

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Exemplo de Requerimento de interposição de Recurso com


alegações

----- VARA CÍVEL DA COMARCA DE LISBOA


1ª Secção
PROC.º

EXMA. SENHORA JUÍZA DE DIREITO

................SOCIEDADE IMOBILIÁRIA, LDA.


Requerida nos autos à margem referenciados

em que é Requerente
.......................... LDA;

Não se conformando (i) com a decisão que decretou o procedimento cautelar de restituição provisória da
posse, (ii) com a decisão relativa à prova produzida em sede de inquirição de testemunhas no âmbito da
oposição deduzida, (iii) nem tão pouco com o douto despacho proferido em sede de julgamento da
oposição, que faz parte integrante daquela, vem interpor recurso de Apelação (art. 691.º) com efeito
meramente devolutivo ( 692.º) e subida imediata nos próprios autos ( 691.ºA) .

JUNTA: Alegações de recurso e documento comprovativo do pagamento da taxa de justiça.

O ADVOGADO

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE LISBOA

EXMOS. SENHORES JUÍZES DESEMBARGADORES

I – DA PROVIDÊNCIA CAUTELAR DECRETADA

1. Vem o presente recurso interposto do despacho proferido em sede de julgamento da oposição que,
mantendo a providencia cautelar de restituição provisória da posse do imóvel objecto dos autos, constitui
complemento e parte integrante da decisão inicialmente proferida e que por essa via integra, igualmente, o
thema decidendum da presente impugnação

2. O Tribunal a quo decretou a providência cautelar de restituição provisória da posse à ora Recorrida, do
imóvel sito na Rua ……………em Lisboa, fundando a sua decisão nas seguintes premissas de facto:

a) A Recorrente é proprietária do imóvel sito na Rua……………;


b) A Recorrida realizou obras no âmbito de um contrato de empreitada celebrado com a ora
Recorrente, no imóvel supra referido;
c) A Recorrida realizou todas as obras acordadas, não tendo porém a Recorrente pago a
totalidade do montante acordado, constituindo-se devedora da Recorrida no montante de €
………….;
d) O legal representante da Recorrida deslocou-se ao imóvel, no dia …….., para supervisionar e
coordenar os trabalhos preparatórios da retenção pretendida;
e) Tais trabalhos consistiam na mudança das fechaduras principal e secundária do imóvel bem
como do portão de acesso ao mesmo;
f) ”.
g) A Polícia de Segurança Pública, entretanto chamada ao local, lavrou o auto de ocorrência e, a
pedido do representante da Recorrente, acompanhou o legal.

3. Face àquela factualidade o Tribunal a quo concluiu pela existência de um esbulho violento da posse da
Recorrida.

4. Notificada daquela decisão, a ora Recorrente deduziu oposição, alegando, em síntese, que:

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a) A Recorrida…………… não tem a detenção do imóvel e muito menos a posse do mesmo;


b) A Recorrida não sendo possuidora não podia ser esbulhada;
c) A Recorrente não praticou qualquer acto de violência para “desapossar”, “retomar a detenção”
ou para evitar que a Recorrida “tomasse posse” do imóvel…………….;
d) A Recorrente não é devedora da Recorrida;
e) Conforme resulta de prova documental, não corresponde à verdade que a Recorrente e a
Recorrida tenham celebrado, entre si, um contrato de empreitada pelo qual a primeira adjudicou
à segunda trabalhos de remodelação e reconstrução da referida ……..

5. Além disso, a Recorrente impugnou os art.º 3º a 5º, 8º a 16º, 18º, 20º a 22º, 24º, 28º a 32º e 35º a 38º, todos
do Requerimento Inicial, que o Tribunal a quo deu como provados.

6. Realizada a audiência de inquirição das testemunhas arroladas pela Recorrente, decidiu o Tribunal a quo não
ter ficado demonstrado para o que ora releva que:

a) O imóvel tenha sido entregue pela Recorrida à Recorrente;


b) O legal representante da Recorrida não tenha sido agredido pelo legal representante da
Recorrente.

7. Por outro lado, o Tribunal considerou provado (em sede de oposição), entre outros factos, os seguintes:

• …………….

8. Apesar disso, o Tribunal decidiu manter a providência decretada.

II - DA IMPUGNAÇÃO DA MATÉRIA DE FACTO

9. A Meritíssima Juiz a quo considerou como provado que o representante da Requerida tinha as chaves do
imóvel…. …”.

10. Esta convicção foi determinante para que o Tribunal a quo não tivesse considerado como provado que:

11. No entanto, a Requerida não entende nem aceita como o Tribunal a quo pode ter formado tal convicção,
porquanto a mesma não podi ter resultado da prova produzida em juízo. Senão vejamos.

12. A decisão da Meritíssima Juiz a quo foi tomada, essencialmente, com base em depoimentos prestados
pelas testemunhas arroladas e, relativamente a estes factos, no depoimento da testemunha ……….

13. A testemunha supra referida afirmou, em síntese, que:

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14. Que assim foi resulta do depoimento que se reproduz:

De 7:58 e 8:51

“Mandatário da Requerida: Sr. …., o Sr. já tinha mostrado o imóvel a outras pessoas?

Testemunha: Já.

Mandatário da Requerida: Mas não tinha as chaves?

Testemunha: Não. Não era necessário porque …..

Mandatário da Requerida: As pessoas seriam funcionários da ….?

Testemunha: As pessoas, …

Testemunha: Não…”
……

15. Atento o depoimento desta testemunha, maxime os excertos transcritos, o Tribunal não podia
considerar demonstrado que “a requerida, mesmo durante as obras, sempre continuou a ter uma
chave do imóvel”.

16. Podia e devia ter considerado provado que após o termo das obras a Requerida passou a ter uma
chave.

17. ….

18. Por esse motivo, os factos referidos nas alíneas A) a C) da matéria dada como indiciariamente não
provada devem constar da factualidade provada.

III – DA NULIDADE PARCIAL DA DECISÃO

19. Como foi já referido, a Requerida não tinha quaisquer chaves do imóvel enquanto a obra decorria, nem
precisava de ter, uma vez que quando necessitava de se deslocar ao local tinha livre acesso porque
estavam sempre trabalhadores da Recorrida no local.

20. As chaves do imóvel foram-lhe entregues, pela Recorrida, após a obra terminar, i.e., em Outubro de 2009.

Assim, nos termos do disposto nos nºs 2 e 3 do art.º 264º, conjugados com a alínea d), in fine, do n.º 1
do art.º 668º, ambos do CPC, estamos perante uma nulidade que expressamente se invoca para todos
os efeitos legais, devendo as passagens referidas ser retiradas da fundamentação de Direito e, em
consequência, serem tidas por não escritas.

IV – DA MATÉRIA DE FACTO DADA COMO NÃO PROVADA

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A Recorrente não vislumbra como pôde o Tribunal a quo dar por “não provada” a entrega do imóvel pela
Recorrida e, como tal, a inexistência da posse ou detenção à data do pretenso esbulho.
Ou seja:

Importa questionar:

21. Se o imóvel não tivesse (já) sido entregue à Requerida se a Recorrida tivesse a sua posse ou
detenção, qual a necessidade de substituir as fechaduras?

22. A entrega ocorreu imediatamente após a conclusão das obras, ou seja, em Outubro de 2009, data em que
entregou as chaves do imóvel tanto à Recorrente como à agência imobiliária, por indicação daquela.

23. O facto de terem mediado oito (!!!) meses entre a data em que se concluíram as obras e a data da
apresentação do requerimento que originou o decretamento da providência indicia claramente a perda da
“posse” do imóvel por parte da Recorrida.

24. Não obstante, a Recorrida pretendeu fazer o tribunal crer, até agora com êxito, que manteve a posse do
imóvel durante 8 meses (??).

25. Mas o certo é que a Requerida, não invocou sequer factos susceptíveis de fazer prova, ainda que
sumária da posse, pretensamente esbulhada.

26. A verdade é que a Recorrida entregou o imóvel logo após a conclusão das obras, pelo que o direito de
retenção caso existisse, ter-se-ia extinto, atento o disposto nos termos do art.º 761º do Código Civil.

V – DA INEXISTÊNCIA DE ESBULHO VIOLENTO

27. …….

28. Atento o disposto no art.º 342º do Código Civil àquele que invoca um direito a prova dos factos
constitutivos desse mesmo direito. Assim, incumbia à Requerente a prova dos factos constitutivos do
direito à restituição provisória da posse. Ou seja, a existência de posse, o esbulho e a violência do
esbulho.

29. A Requerente não logrou fazer prova, ainda que sumária, daqueles factos, pelo que não podia ter sido
decretada a presente providência.

30. Mas ainda que assim não se entendesse, o que não se concebe nem concede, sempre importaria ter em
conta a lição do Prof. Antunes Varela (in, Código Civil Anotado, Vol II, 3ª edição revista e actualizada,
Coimbra, pág. 799), segundo a qual o empreiteiro não tem direito de retenção e por isso não tinha o
direito a recorrer à providência em causa.

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CONCLUSÕES

A. Vem o presente recurso interposto do despacho proferido em sede de julgamento da


oposição, que mantendo a providencia cautelar de restituição provisória da posse do imóvel
objecto dos autos constitui complemento e parte integrante da decisão inicialmente proferida
e que por essa via integra, igualmente, o thema decidendum da presente impugnação.

B. Constitui ainda objecto do presente recurso a apreciação da prova produzida na


audiência que manteve a providência decretada, designadamente no que respeita à
testemunha Henrique Pedro Sarmento.

C. O Tribunal a quo manteve a providência decretada, sublinhando, em síntese que (i) “ a


requerida não logrou fazer prova de que a requerente havia procedido à entrega voluntária à
requerida, ………….., do imóvel e que, portanto, havia perdido a posse sobre o identificado
prédio …” (ii) bem que “não se afigura que a requerente tenha perdido a posse sobre o
mesmo, porque não logrou provar-se que a requerente tenha procedido à entrega da obra à
requerida, deixando de ter ela própria qualquer chave para aceder à mesma, tendo apenas
resultado provado que a requerida, mesmo durante as obras, sempre continuou a ter uma
chave do imóvel e que a requerente, em Outubro de 2009…”.

D. A fundamentação de facto da Meritíssima Juiz a quo assentou, essencialmente, como


resulta da motivação apresentada, em ilações retiradas da produção de prova testemunhal.

E. Atenta a prova testemunhal produzida, designadamente do depoimento da testemunha


………..(gravação: 7.58 e 8.51, 6.02 e 7.45, de 10:09 a 11:23) o Tribunal a quo devia ter
considerado provado que a Requerente procedeu à entrega do imóvel à Requerida em Outubro
de 2009, deixando de ter assim a posse sobre o mesmo desde pelo menos essa data.

F. Sem prescindir sempre se dirá que não era a Recorrente quem tinha que demonstrar que
a Recorrida entregou o imóvel – prova que, apesar de tudo, consegui fazer – mas sim a
Recorrida quem tinha que alegar e demonstrar os elementos constitutivos da posse, o que por
seu lado não logrou fazer.

G. Ao considerar, na fundamentação de facto, que resultou provado que a Requerida,


mesmo durante as obras, sempre continuou a ter uma chave do imóvel, o Tribunal cometeu
um erro manifesto, grosseiro, de apreciação.

H. Entre ……

I. O Tribunal a quo não podia pois dar dado aquele facto …………...

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J. Violou pois o Tribunal a quo o princípio dispositivo, conhecendo de uma questão/facto de


que não podia ter tomado conhecimento por a mesma não ter sido alegada pelas partes, o que
determina a nulidade parcial da decisão, nos termos da alínea d) do n.º 1 do art.º 668º do CPC.

K. Verifica-se igual nulidade na parte ……………

L. Mal andou o Tribunal a quo ao não dar como indiciariamente provado que ocorreu a
entrega do imóvel, porquanto a Requerida logrou provar que, em Setembro de 2009, a
totalidade das obras acordadas estavam concluídas e que em Outubro as chaves do imóvel
foram entregues à Recorrente.

M. …….

N. Mas ainda que assim não se entendesse, o que não se concebe nem concede, sempre
importaria ter em conta a lição do Prof. Antunes Varela (in, Código Civil Anotado, Vol II, 3ª
edição revista e actualizada, Coimbra, pág. 799), segundo a qual o empreiteiro não tem direito
de retenção e por isso não tinha o direito a recorrer à providência em causa.

Nestes termos, nos demais de Direito aplicáveis, e sem


prescindir do douto suprimento de V. Exas., deve:

A) Ser declarada a nulidade da parte da decisão proferida na qual o


Tribunal a quo decide ..;
B) Dar-se provimento ao presente recurso, revogando a decisão do
Tribunal, substituindo-se a mesma por Acórdão que revogue a
providência cautelar de restituição provisória da posse.

Pois assim se fará JUSTIÇA

O ADVOGADO

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Descarregado por Pedro Francisco Lucas (pedrofranciscolucas3@gmail.com)

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