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DOS RECURSOS
I
Em Geral
1. Noções Gerais
1
O presente texto tem na sua origem a gravação e posterior transcrição das aulas teóricas dadas no ano
lectivo 2012/2013. Aos alunos que procederem à gravação e transcrição aqui ficam os agradecimentos.
Devidos. Importa ter bem presente que estes apontamentos não dispensam, de forma alguma, a
leitura e estudo da bibliografia indicada, designadamente as lições do Conselheiro J.O Cardona
Ferreira (Guia dos Recursos em Processo Civil, 5º Edição, Coimbra Editora, 2010), do Conselheiro
Fernando Amâncio Ferreira ( Manual dos Recursos em Processo Civil, 8º Edição), do Conselheiro
António Santos Abrantes Geraldes, Recursos no Novo Código de Processo Civil, Almedina, 2013.
4
Idem
5
Como sublinham GOMES CANOTILHO e VITAL MOREIRA, na sua Constituição Anotada, 4ª Edição, Vol I,
Coimbra Editora, pág. 418, “Não existe, porém, um preceito constitucional a consagrar a “ dupla
instância” ou o duplo grau de jurisdição em termos gerais...Todavia, o recurso das decisões judiciáis que
afectem direitos fundamentais, designadamente direitos, liberdades e garantias, mesmo fora do âmbito
penal, pode apresentar-se como garantia imprescindível desses direitos. Em todo caso, embora o
legislador disponha de liberdade de conformação quanto à regulação dos requisitos e graus de recurso, ele
não pode regulá-lo de forma discriminatória, nem limitá-lo de forma excessiva.”. Em sentido semelhante,
JORGE MIRANDA e RUI MEDEIROS, escrevem, em anotação ao art.º 20.º da CRP o seguinte: As limitações
ou restrições ao direito de recurso, estão, por isso, sujeitas aos limites constitucionais gerais e, de modo
especial, aos princípios da igualdade e da proporcionalidade, pelo que as diferenciações legais não podem
ser arbitrárias e as medidas restritivas do direito de recorrer não devem ser excessivas.”. Constituição
Portuguesa Anotada, Tomo I, Coimbra Editora, 2005, pág. 202.
6
MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, Estudos Sobre o Novo Provesso Civil, 2º Edição, Lex, Lisboa, 1997,
pág.372
7
Idem págs 372-373
Exemplo: “A” propõe uma acção contra “B” pedindo que este seja
condenado a entregar-lhe o automóvel x. “B” sem qualquer reserva
entrega, após a sentença, o automóvel a A – não pode deixar de se
entender que renunciou ao recurso.
(ii)
Os recursos mistos são aqueles em que tal como ocorre acontece nas
reclamações, o juiz pode alterar a decisão recorrida.
(i) Art.º 662.º, n.º 2, al. c). A Relação pode anular, mesmo
oficiosamente, a decisão proferida em 1ª instância, quando,
não constando do processo todos os elementos que permitam a
alteração do julgamento da matéria de facto, considere
deficiente, obscura ou contraditória a decisão sobre pontos
determinados da matéria de facto, ou quando considere
indispensável a sua ampliação.
(ii) Art.º 662.º, n.º 2, al. d) . O tribunal de recurso (ad quem) pode
mandar baixar os autos, para que o tribunal de 1ª instância
fundamente a decisão proferida sobre algum facto essencial
para o julgamento da causa.
10
Sobre esta classificação, vide com muito interesse o texto do Desembargador António Abrantes
Geraldes, “ Cassação ou Substituição? Livre Escolha ou Determinismo Legislativo” in As recentes
Reformas na Acção Executiva …, ob. cit. págs. 163 e segs
2.1 Generalidades:
10
o pedido e a causa de pedir”.12 Como bem recorda este autor, neste recurso
visa-se “apenas” a “anulação da decisão proferida em processo
anterior…”13 e já não a obtenção de um juízo rescisório.
2.2. O Tribunal
11
- Tribunais da Relação
- Tribunais de 1ª instância
12
Quid iuris se, por exemplo, for interposto um recurso de uma decisão
de um tribunal da comarca de Lisboa, dirigindo-se o mesmo para o
Supremo Tribunal de Justiça, ou para a Relação de Coimbra.
2.3 As Partes
13
Por parte vencida deve entender-se a parte que podia obter uma
decisão mais favorável face às pretensões formuladas. Não basta atentar
na sucumbência (diferença entre a pretensão formulada pelo próprio e a
decisão), importa considerar ambas pretensões.
O réu ainda que julgado à revelia (i.e sem deduzir qualquer pretensão
de absolvição) pode recorrer se a decisão proferida lhe podia ser mais
favorável face à pretensão formulada (pelo autor).
14
15
2.4.1 Admissibilidade
Valor da acção
14
A Lei De Organização do Sistema Judiciário, mantém o valor das alçadas € 30.000,00 ( art. º 44).
16
Exemplo:
“ A intenta contra “B” acção declarativa pedindo a condenação do
réu no pagamento de € 10.000,00. “ B” é condenado a pagar € 8.000,00.
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15
Assim, entre outros, Abrantes Geraldes, Recursos No Novo Código de Processo Civil, Almedina, 2013,
pág. 40.
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16
Estudos sobre o Novo Processo Civil, 2º Edição, pág. 557. No mesmo sentido Abrantes Geraldes,
Recursos…, ob. cit. pág. 44
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Natureza da decisão
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Delimitação objectiva
A regra geral está prevista no art. 635.º, n.º 2, onde se estatui que se a
parte dispositiva, contiver decisões distintas é lícito restringir o recurso a
qualquer delas desde que o recorrente assim o especifique no requerimento
de interposição.
Na falta de especificação, o recurso abrange tudo o que na parte
dispositiva for desfavorável ao recorrente, a menos que o contrário resulte
das conclusões apresentadas pelo recorrente no fim das suas alegações (
art.ºs 635.º nº 4 e 639.º). A restrição do objecto do recurso pode ocorrer
tacitamente, como consequência da falta de correspondência entre o
requerimento de interposição ou a motivação do recurso expressa nas
alegações e as conclusões finais apresentadas. Se do conteúdo das
conclusões resultar que o recorrente não inclui questões anunciadas no
requerimento ou tratadas na motivação (alegações), pode entender-se que o
recorrente não pretende que as mesmas sejam apreciadas. Vezes sem conta
se sublinha, nos arestos proferidos nos tribunais superiores, que são as
conclusões que definem o objecto do recurso17
17
Cfr, entre outros os Acs STJ de
24
Delimitação subjectiva
25
3. Interposição do recurso
E,
conter, obrigatoriamente, a alegação do recorrente, em cujas
conclusões deve ser indicado, o fundamento específico de
recorribilidade, isto é a razão da especial admissibilidade do recurso
( situações previstas nos nºs 2 e 3 do art.º629.º, nº 2 do art.º 671.º,
672.º, 688.º Sempre que este fundamento consista na invocação de
um conflito jurisprudencial, o recorrente deve juntar, sob pena de
rejeição, cópia do acórdão fundamento.
Não vemos razão para que a indicação do fundamento específico de
recorribilidade não seja efectuada de preferência no início do
requerimento de interposição, que é dirigido ao juiz que proferiu a
decisão, ao passo que as conclusões do recurso têm, essencialmente,
como destinatário o tribunal ad quem.
26
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Vide a propósito o Acórdão do STJ de 18-06-2013, processo nº 483/08.0TBLNH.L1.S1 (GARCIA
CALEJO), assim sumariado: “ I - O recorrente deve terminar as suas alegações de recurso com conclusões
sintéticas (onde indicará os fundamentos por que pede a alteração ou anulação da decisão recorrida).II -
Essas conclusões devem ser idóneas para delimitar de forma clara, inteligível e concludente o objecto do
recurso, permitindo apreender as questões de facto ou de direito que o recorrente pretende suscitar na
impugnação que deduz e que o tribunal superior cumpre solucionar. III - Não devem valer como
conclusões arrazoadas longas e confusas em que se não discriminam com facilidade as questões
invocadas. IV - No caso, o recorrente não reduziu a complexidade nem a inteligibilidade das alegações.
Além disso, em grande parte das chamadas conclusões, introduz matéria não referenciada no corpo das
alegações, o que significa que essas apeladas conclusões extravasam a matéria do alegado.V - Porque o
recorrente não cumpriu o ónus que lhe é imposto pelo dito art. 685.º-A, n.º 1, do CPC (apresentar
conclusões sintéticas), o douto acórdão recorrido merece confirmação.”
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De rejeição
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De admissão
Convite ao aperfeiçoamento.
Para além do efeito devolutivo o recurso pode ter (ou não) efeito
suspensivo, pode suspender quer a marcha do processo, quer a eficácia da
decisão recorrida.
Se ao efeito devolutivo não acrescer o suspensivo – diz-se que o
recurso tem efeito meramente devolutivo.
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II
Dos recursos em especial
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do mérito da causa, ao passo que o agravo, por regra, cabia das decisões
em que o tribunal decidia “apenas” sobre a relação processual.
Exemplos:
Exemplos
19
A propósito dos sistemas dualistas e monista, da eliminação dos recursos de agravo na reforma de 2007,
vide A. Ribeiro Mendes in As Recentes Reformas …, ob. cit. págs. 273 e segs
20
Idem pág. 326
21
Reflexões sobre a reforma dos recursos em processo civil in Cadernos de Direito Privado, n.º 20 (2007)
págs. 13
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Exemplo:
Exemplos:
Exemplos:
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A propósito, vide a decisão da Relação de Lisboa de 16.10.2009 (Relator Luís Correia Mendonça),
assim sumariada “1.O novo regime dos recursos, aprovado pelo DL n.º 303/2007, de 24 de Agosto,
apenas admite, como regra, a impugnação diferida e concentrada das decisões interlocutórias, com o
recurso interposto da decisão final ou em recurso único, interposto depois do trânsito daquela decisão
final. 2. Casos há, porém, em que se continua a admitir o recurso autónomo dessas decisões, como
acontece com o recurso das decisões cuja impugnação com o recurso da decisão final seria absolutamente
inútil (art. 691.º nº 2, alínea m), CPC). 3. Perante o disposto na alínea f) do n.º 2, do artigo 691.º, CPC,
passa a ser residual a possibilidade de haver absoluta inutilidade com a impugnação apenas no recurso da
decisão final. 4. O requisito da absoluta inutilidade deve continuar a significar que a falta de autonomia
do recurso interlocutório deverá traduzir-se num resultado irreversível quanto a esse recurso, não
bastando uma mera inutilização de actos processuais, ainda que contrária ao princípio da economia
processual. (Sumário do Relator)”
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os elementos de prova que serviram de base à decisão sobre a matéria de facto, nomeadamente contém a
gravação dos depoimentos prestados em audiência. Encontram-se, assim, verificados os pressupostos
processuais legais para a reapreciação da prova (artºs 712º, n.º 1, alínea a) e b), e 690º-A, ambos do
Código de Processo Civil).
A impugnação da decisão sobre a matéria de facto é efectuada com fundamento nos depoimentos de
testemunha e no relatório pericial. Nos termos do artigo 655º, n.º 1, do Código de Processo Civil, o
tribunal aprecia livremente as provas produzidas, decidindo o Juiz segundo a sua prudente convicção
acerca de cada facto. Tal preceito consagra o princípio da prova livre, o que significa que a prova
produzida em audiência (seja a prova testemunhal ou outra) é apreciada pelo julgador segundo a sua
experiência, tendo em consideração a sua vivência da vida e do mundo que o rodeia. De acordo com
Alberto dos Reis prova livre “quer dizer prova apreciada pelo julgador segundo a sua experiência, sem
subordinação a regras ou critérios formais preestabelecidos, isto é, ditados pela lei” (Código de Processo
Civil, Anotado, vol. IV, pág. 570).Também temos de ter em linha de conta que o julgador deve “tomar em
consideração todas as provas produzidas” (art.º 515º do Código de Processo Civil), ou seja, a prova deve
ser apreciada na sua globalidade. “A prova testemunhal, atenta a sua falibilidade, impõe cuidados
acrescidos na sua avaliação afim de poder ser devidamente valorada. Ponderando este princípio da prova
livre deve o julgador motivar os fundamentos da sua convicção, por forma a permitir o controlo externo
das suas decisões.” (Acórdão da Relação do Porto no processo 5592/04, 5ª secção – Relator:
Desembargador Sousa Lameira). A partir destes princípios passaremos a analisar a situação concreta.
De acordo com a fundamentação da decisão, o tribunal formou a sua convicção para responder aos artigos
em causa e objecto da presente impugnação nos depoimentos das testemunhas e no depoimento do réu.
Depois de analisados todos os depoimentos prestados em audiência de discussão e julgamento e que se
encontram gravados em suporte digital, consideramos não existirem razões para alterar a decisão sobre a
matéria de facto. O depoimento da testemunha “E”, casada com o autor, com um interesse, ainda que não
do ponto de vista processual, semelhante ao dos réus, não pode ser valorado de forma isolada, pelo que o
mesmo perante os demais depoimentos e perante os documentos (cheques a que se referem os autor) não
justifica a alteração da decisão de facto. Com efeito, os depoimentos juntamente com os cheques juntos
aos autos valorados no seu conjunto revelam que a decisão quanto às respostas dadas aos artigos e
questionadas nos autos foi a adequada. O depoimento do réu, ainda que não contendo matéria confessória,
revela-se em consonância com o depoimento produzido pela testemunha “F” e com os documentos dos
autos. No que respeita ao relatório pericial o mesmo não justifica qualquer alteração à decisão sobre a
matéria de facto, porquanto se trata de um relatório inconclusivo, na medida em que as conclusões de
“pode não ter sido”, “pode ter sido” e “provável”, não permitem extrair com segurança se as assinaturas
em causa foram ou não escrita pela pessoa a quem são imputadas. Tal significa que o relatório
isoladamente não permite concluir por uma ou outra versão dos factos, sem recurso aos demais meios de
prova produzidos nos autos. Consideramos, assim, que a decisão da matéria de facto valorizou
devidamente os depoimentos prestados em audiência de julgamento, juntamente com os documentos em
que fundamentou tal decisão. Por tal razão, a decisão sobre a matéria de facto não merece censura. Cabe
referir, por último, que os depoimentos não têm que ser produzidos de forma mecânica e automática e não
têm que descrever o conteúdo exacto dos factos alegados, apenas têm que permitir dos mesmos extrair a
factualidade dada como provada, ainda que se utilizando expressões diversas.Importa recordar que a
gravação sonora não permite captar todos os elementos que influenciaram a decisão do julgador.
Na verdade, as testemunhas por vezes têm reacções e comportamentos que apenas podem ser
percepcionados e valorados por quem os presencia, não sendo possível ao Tribunal da Relação através da
gravação (ou transcrição) reapreciar o processo como o julgador formulou a sua convicção.
“Há, na verdade, uma profunda diferença entre a posição do Juiz que, dirigindo a audiência, assiste à
prestação dos depoimentos, ouvindo o que as testemunhas dizem e vendo como se comportam enquanto
ouvem as perguntas que lhes são feitas e a elas respondem, e a outra, bem diversa, daquele que apenas
tem perante si a transcrição, nas alegações, do teor dos depoimentos e a possibilidade de ouvir as
respectivas gravações sonoras” (cfr. Miguel Teixeira de Sousa, “Estudos dobre o Novo Código de
Processo Civil”, LEX, 1997, págs. 399-400; António Abrantes Geraldes, “Temas da Reforma do Processo
Civil”, vol. II, 2ª ed., págs. 270-271; Acórdão do STJ de 19-04-2001, procº. n.º 435/01; e Acórdão do STJ
de 12-03-2002, procº. n.º 697/01). O Juiz da 1ª instância é quem se encontra na melhor situação para
avaliar e decidir quanto ao valor a atribuir a determinado depoimento. Essencial é o modo e a forma como
os factos provados ou não provados se encontram fundamentados. Os depoimentos das testemunhas
foram acompanhados de elementos visuais que a gravação não consegue transmitir.”
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Neste acórdão pode ler-se “3. 5. - Resta, respondendo mais concretamente à objecção da Recorrente no
sentido de que “os princípios da imediação e da oralidade devem prevalecer no julgamento da matéria de
facto”, dizer, como no recente acórdão de 10-01-2011 (proc. n.º 1452/04.5TVPRT.P1.S1), em que o ora
relator interveio como 1º adjunto, que “é fácil verificar que foi intenção do legislador, aliás
expressamente confessada no relatório do DL. 39/95 e reafirmada no preâmbulo do DL 329-A/95, criar
um verdadeiro duplo grau de jurisdição em sede de matéria de facto … desiderato (que) só pode ser
completamente conseguido se a Relação, perante o exame e análise crítica das prova produzida a respeito
dos pontos de facto impugnados, puder formar a sua própria convicção (coincidente ou não com a
formada pelo julgador da 1ª instância), no gozo pleno do princípio da livre apreciação da prova, sem
estar, de modo algum, limitada pela convicção que serviu de base à decisão recorrida.
(…) O que a Relação não deve é limitar-se a procurar determinar se a convicção (alheia) formada pelo
julgador da 1ª instância tem suporte na gravação, ou limitar-se a apreciar, genericamente, à
fundamentação da decisão de facto, para concluir, sem base suficiente, não existir erro grosseiro ou
evidente, na apreciação da prova, tudo em homenagem ao princípio da imediação das provas, erigido em
princípio absoluto (…). Uma tal prática impede o real controlo da prova pela 2ª instância, transformando
a garantia do duplo grau de jurisdição em sede de matéria de facto numa garantia puramente virtual,
praticamente inútil”.
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7. Recurso de Revista
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Para além das situações previstas no art.º 671.º, a Revista pode ter
por objecto acórdãos interlocutórios da Relação, ou seja acórdãos
proferidos na pendência do recurso de apelação, mas quanto a estes importa
distinguir, os acórdãos que por regra, só podem ser impugnados
conjuntamente com a revista das decisões finais ( da apelação), nos termos
daquela disposição, das situações previstas nas duas alíneas do art.º 673.º,
ou seja:
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Atenta esta regra, sem prejuízo dos casos em que o recurso é sempre
admissível, não é admitida revista do acórdão da Relação que confirme,
sem voto de vencido e sem fundamentação essencialmente diferente,27 a
decisão proferida na 1ª instância.
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Idem pág. 24
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Ibidem pág. 26
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anualmente pelo presidente de entre os mais antigos das secções cíveis), diz
“apenas” respeito a verificação dos pressupostos da Revista Excecional, e
entre estes o próprio requisito da “ dupla conforme” pelo que, concluindo
esta formação pela inexistência da dupla conforme,31 o processo deve ser
remetido ao juiz relator do acórdão da relação para que este se pronuncie
sobre a Revista ( “normal”).
31
Cfr nesse sentido o Ac. STJ, de 09.04.2013, processo nº 433682/09.2YIPRT.L1.S1 (SEBASTIÃO
PÓVOAS) assim sumariado a) A revista excepcional não é um recurso extraordinário mas apenas, e tão-
somente, uma revista ordinária que só difere da revista - regra por esta ser desde logo admissível uma vez
que o Acórdão recorrido julgou nos precisos termos em que o fez a 1.ª Instância. b) Perfila-se, então, uma
situação de dupla conformidade caracterizada pela coincidência do segmento decisório perante o mesmo
pedido e causa de pedir, sobreposição alcançada por unanimidade embora sem que se exija concordância
quanto à fundamentação. c) Se a Relação não confirmou, tal qual, o julgado pela 1.ª Instância, antes o
alterando/revogando, inexiste a dupla conformidade. d) Esta é o pressuposto atributivo da competência
do Colectivo a que se refere o n.º 3 do artigo 721-A do Código de Processo Civil, já que sem dupla
conformidade não há que buscar qualquer dos requisitos do n.º 1 do mesmo preceito pois que o recurso, a
ser admitido não o será como revista excepcional mas sim como revista regra. e) E a verificação dessa
admissibilidade compete ao Conselheiro Relator a quem o recurso venha a ser distribuído.
32
O mesmo se estatui no art.º 26º da LOFTJ, em vigor, ou seja da Lei 3/99, de 13 de janeiro
55
33
Cfr. A titulo de exemplo, o recente Ac STJ de 24.03.2013, processo nº 362333/10. 7YIPRT.L1.S1 (
MARIA DOS PRAZERES BELEZA), em cujo sumário se pode ler “4. A apreciação de depoimentos de
testemunhas, sujeitos à regra da livre apreciação da prova (artigo 396º do Código Civil), está fora do
âmbito possível do recurso de revista”
56
34
Ac. STJ-4ªde 4.12.1997 in S.ASTJ, 15º, 16º pág. 250
35
Ac. STJ 27.09.2009, BMJ, 494º-192
36
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Assim, entre outros, Antunes Varela, Manual..., cit.pág 406 nota 2
38
Direito Processual Civil Declaratório, Vol III, Almedina, 1982, pág. 270
39
Vide Antunes Varela, Manual De Processo Civil, págs. 406 e segs
58
40
Estudos Sobre o Novo Processo Civil, Lex, Lisboa, 1997, pág. 422
59
Requisitos:
a) Necessidade ou conveniência de assegurar a uniformidade da
jurisprudência.
b) Determinação do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça
nesse sentido.
O acórdão pode:
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Requisitos:
- Valor da causa superior à alçada da Relação;
- Valor da sucumbência superior a metade da alçada da Relação
- O objecto do recurso diga apenas respeito a questões de direito.
-As partes não impugnem quaisquer decisões interlocutórias.
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10 Recursos extraordinários
Requisitos de admissibilidade:
a) Trânsito em julgado da decisão recorrida.
b) Trânsito em julgado do acórdão fundamento. Este trânsito
presume-se, podendo o recorrido ilidir a presunção ( 350-2 do
Código Civil)
c) Oposição ou contradição entre os julgados.
d) Inexistência de jurisprudência uniformizada no sentido do
acórdão recorrido
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“g) O litígio assente sobre acto simulado das partes e o tribunal não
tenha feito uso do poder que lhe confere o artigo 612.º, por não
se ter apercebido da fraude.”
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Estando em causa um revisão interposta com base nas alíneas a), c),
e), f) e g) do art. 696.º, o Tribunal após a resposta do recorrido ou ao
termo do prazo para o efeito, deverá conhecer do fundamento da
revisão.
No caso de o fundamento ser o constante nas demais alíneas, seguir-
se-ão os termos do processo sumário.
42
Admitindo esta alternativa, mas relativamente aos terceiros titulares de direitos afectados na sua
consistência jurídica, JOSÉ JOÃO BAPTISTA, Dos Recursos, Lisboa, 1997, pág. 145-146.
43
Bem andou, pois, o legislador quando no artigo 778.º, agora revogado, se referia à sentença e não ao
caso julgado prejudicial .
44
Limites subjectivos do caso julgado e intervenção de terceiros.
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Fase rescisória
Se o fundamento da revisão for julgado procedente:
Nos casos previstos nas alíneas a) a f) do art.º 696.º, é revogada a
decisão e deverá observar-se o regime previsto no n.º 1 do art.696.º.
Na situação prevista na alínea g) anula-se a decisão recorrida. (n.º 2)
68
TEXTOS DE APOIO
69
Hipóteses de trabalho
I
António intentou, em 2008, contra Bento e Carlos, uma acção declarativa,
pedindo a condenação de ambos réus na obrigação solidária de € 40.000,00.
Bento contestou por impugnação e excepção (invocando a caducidade do direito
invocado) e concluiu o seu articulado requerendo a sua absolvição do pedido. Carlos
contestou invocando a sua ilegitimidade.
No despacho saneador, o juiz julgou (i) procedente a excepção de ilegitimidade
absolvendo Carlos da instância e (ii) improcedente a excepção de caducidade, invocada
por Bento.
Perguntas:
1. Bento podia recorrer das decisões proferidas? Admitindo que sim qual
o recurso adequado. Justifique.
2. Após ter conhecimento da sentença final, Carlos pretende interpor
recurso. Pode fazê-lo? Justifique.
3. Admitindo que na sequencia do recurso interposto por Carlos, a
Relação confirmava a decisão sobre a sua ilegitimidade, poderia ser
interposto recurso para o Supremo Tribunal de Justiça? Justifique.
4. Caso fosse aplicável o antigo regime recursório, as resposta dadas à
questões anteriores seria diferente? Em que medida?
II
António intentou contra Bento uma acção declarativa pedindo:
Questões:
1. Bento pretende impugnar a decisão proferida. Elabore o requerimento
de interposição de recurso.
2. Admita que Bento era absolvido da instância na sentença final?
Poderia, ainda assim, interpor recurso
3. Admita que em sede de recurso de apelação, o tribunal da relação,
julgava a mesma procedente e absolvia Bento da instância. Esta decisão
poderia ser impugnada?
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III
Daniel intentou, em 2009, contra Ernesto e Fernando uma acção declarativa,
pedindo a condenação de ambos réus na obrigação solidária de € 15.000,00
Ernesto contestou sustentando a sua absolvição do pedido. Fernando contestou
invocando a sua ilegitimidade.
Na sentença, proferida em 2010, o réu Ernesto foi condenado a pagar ao Autor €
14.000,00. Fernando foi absolvido da instância.
Questões
Admita que na sequência dos recursos interpostos por Ernesto e Fernando, o Tribunal
da relação mantinha as decisões proferidas.
IV
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V
António, casado, intentou contra Bernardo e Carla acção declarativa pedindo:
(i) a anulação do contrato de compra e venda outorgado com Bernardo, com
fundamento em dolo de terceiro (Carla) (ii) a condenação de Carla em indemnização no
valor € 5.500,00, pelos prejuízos causados pelo dolo. Na petição inicial António
invocava que só adquiriu o bem em causa pelo preço de €50.000,00, por ter sido
enganada por Carla.
Em despacho saneador o juiz julgou improcedente toda a defesa por excepção do réu
Bernardo.
Na sentença final foi julgado procedente o pedido de anulação e Carla foi condenada
no pagamento ao Autor no montante de €4.000.00.
VI
Questões:
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em que é Requerente
.......................... LDA;
Não se conformando (i) com a decisão que decretou o procedimento cautelar de restituição provisória da
posse, (ii) com a decisão relativa à prova produzida em sede de inquirição de testemunhas no âmbito da
oposição deduzida, (iii) nem tão pouco com o douto despacho proferido em sede de julgamento da
oposição, que faz parte integrante daquela, vem interpor recurso de Apelação (art. 691.º) com efeito
meramente devolutivo ( 692.º) e subida imediata nos próprios autos ( 691.ºA) .
O ADVOGADO
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1. Vem o presente recurso interposto do despacho proferido em sede de julgamento da oposição que,
mantendo a providencia cautelar de restituição provisória da posse do imóvel objecto dos autos, constitui
complemento e parte integrante da decisão inicialmente proferida e que por essa via integra, igualmente, o
thema decidendum da presente impugnação
2. O Tribunal a quo decretou a providência cautelar de restituição provisória da posse à ora Recorrida, do
imóvel sito na Rua ……………em Lisboa, fundando a sua decisão nas seguintes premissas de facto:
3. Face àquela factualidade o Tribunal a quo concluiu pela existência de um esbulho violento da posse da
Recorrida.
4. Notificada daquela decisão, a ora Recorrente deduziu oposição, alegando, em síntese, que:
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5. Além disso, a Recorrente impugnou os art.º 3º a 5º, 8º a 16º, 18º, 20º a 22º, 24º, 28º a 32º e 35º a 38º, todos
do Requerimento Inicial, que o Tribunal a quo deu como provados.
6. Realizada a audiência de inquirição das testemunhas arroladas pela Recorrente, decidiu o Tribunal a quo não
ter ficado demonstrado para o que ora releva que:
7. Por outro lado, o Tribunal considerou provado (em sede de oposição), entre outros factos, os seguintes:
• …………….
9. A Meritíssima Juiz a quo considerou como provado que o representante da Requerida tinha as chaves do
imóvel…. …”.
10. Esta convicção foi determinante para que o Tribunal a quo não tivesse considerado como provado que:
11. No entanto, a Requerida não entende nem aceita como o Tribunal a quo pode ter formado tal convicção,
porquanto a mesma não podi ter resultado da prova produzida em juízo. Senão vejamos.
12. A decisão da Meritíssima Juiz a quo foi tomada, essencialmente, com base em depoimentos prestados
pelas testemunhas arroladas e, relativamente a estes factos, no depoimento da testemunha ……….
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De 7:58 e 8:51
“Mandatário da Requerida: Sr. …., o Sr. já tinha mostrado o imóvel a outras pessoas?
Testemunha: Já.
Testemunha: As pessoas, …
Testemunha: Não…”
……
15. Atento o depoimento desta testemunha, maxime os excertos transcritos, o Tribunal não podia
considerar demonstrado que “a requerida, mesmo durante as obras, sempre continuou a ter uma
chave do imóvel”.
16. Podia e devia ter considerado provado que após o termo das obras a Requerida passou a ter uma
chave.
17. ….
18. Por esse motivo, os factos referidos nas alíneas A) a C) da matéria dada como indiciariamente não
provada devem constar da factualidade provada.
19. Como foi já referido, a Requerida não tinha quaisquer chaves do imóvel enquanto a obra decorria, nem
precisava de ter, uma vez que quando necessitava de se deslocar ao local tinha livre acesso porque
estavam sempre trabalhadores da Recorrida no local.
20. As chaves do imóvel foram-lhe entregues, pela Recorrida, após a obra terminar, i.e., em Outubro de 2009.
Assim, nos termos do disposto nos nºs 2 e 3 do art.º 264º, conjugados com a alínea d), in fine, do n.º 1
do art.º 668º, ambos do CPC, estamos perante uma nulidade que expressamente se invoca para todos
os efeitos legais, devendo as passagens referidas ser retiradas da fundamentação de Direito e, em
consequência, serem tidas por não escritas.
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A Recorrente não vislumbra como pôde o Tribunal a quo dar por “não provada” a entrega do imóvel pela
Recorrida e, como tal, a inexistência da posse ou detenção à data do pretenso esbulho.
Ou seja:
Importa questionar:
21. Se o imóvel não tivesse (já) sido entregue à Requerida se a Recorrida tivesse a sua posse ou
detenção, qual a necessidade de substituir as fechaduras?
22. A entrega ocorreu imediatamente após a conclusão das obras, ou seja, em Outubro de 2009, data em que
entregou as chaves do imóvel tanto à Recorrente como à agência imobiliária, por indicação daquela.
23. O facto de terem mediado oito (!!!) meses entre a data em que se concluíram as obras e a data da
apresentação do requerimento que originou o decretamento da providência indicia claramente a perda da
“posse” do imóvel por parte da Recorrida.
24. Não obstante, a Recorrida pretendeu fazer o tribunal crer, até agora com êxito, que manteve a posse do
imóvel durante 8 meses (??).
25. Mas o certo é que a Requerida, não invocou sequer factos susceptíveis de fazer prova, ainda que
sumária da posse, pretensamente esbulhada.
26. A verdade é que a Recorrida entregou o imóvel logo após a conclusão das obras, pelo que o direito de
retenção caso existisse, ter-se-ia extinto, atento o disposto nos termos do art.º 761º do Código Civil.
27. …….
28. Atento o disposto no art.º 342º do Código Civil àquele que invoca um direito a prova dos factos
constitutivos desse mesmo direito. Assim, incumbia à Requerente a prova dos factos constitutivos do
direito à restituição provisória da posse. Ou seja, a existência de posse, o esbulho e a violência do
esbulho.
29. A Requerente não logrou fazer prova, ainda que sumária, daqueles factos, pelo que não podia ter sido
decretada a presente providência.
30. Mas ainda que assim não se entendesse, o que não se concebe nem concede, sempre importaria ter em
conta a lição do Prof. Antunes Varela (in, Código Civil Anotado, Vol II, 3ª edição revista e actualizada,
Coimbra, pág. 799), segundo a qual o empreiteiro não tem direito de retenção e por isso não tinha o
direito a recorrer à providência em causa.
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CONCLUSÕES
F. Sem prescindir sempre se dirá que não era a Recorrente quem tinha que demonstrar que
a Recorrida entregou o imóvel – prova que, apesar de tudo, consegui fazer – mas sim a
Recorrida quem tinha que alegar e demonstrar os elementos constitutivos da posse, o que por
seu lado não logrou fazer.
H. Entre ……
I. O Tribunal a quo não podia pois dar dado aquele facto …………...
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L. Mal andou o Tribunal a quo ao não dar como indiciariamente provado que ocorreu a
entrega do imóvel, porquanto a Requerida logrou provar que, em Setembro de 2009, a
totalidade das obras acordadas estavam concluídas e que em Outubro as chaves do imóvel
foram entregues à Recorrente.
M. …….
N. Mas ainda que assim não se entendesse, o que não se concebe nem concede, sempre
importaria ter em conta a lição do Prof. Antunes Varela (in, Código Civil Anotado, Vol II, 3ª
edição revista e actualizada, Coimbra, pág. 799), segundo a qual o empreiteiro não tem direito
de retenção e por isso não tinha o direito a recorrer à providência em causa.
O ADVOGADO
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